Relações públicas educativas: Educação para a comunicação nos ambientes organizacionais
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Em seu lugar na sociedade, as organizações precisam ser legitimadas por suas práticas, discurso e diálogos, cenário que destaca os trabalhadores, cujas interações - profissionais e pessoais - ajudam a construir a imagem corporativa. O fato de serem considerados seus representantes preocupa as organizações, levando-as a desenvolver ações que chegam a afetar seu direito à liberdade de expressão.
Esse desafio demanda interligar a comunicação organizacional à educação, o que nesta obra se apresenta por meio da discussão de uma abordagem educativa para as Relações Públicas a partir do desenvolvimento das competências relacionadas com a comunicação nos empregados das organizações, como forma de torná-los sujeitos ativos nos processos comunicacionais.
Suas reflexões partem de dois postulados: a comunicação não é meramente inata, é um direito a ser garantido e precisa ser aprendida para além dos códigos linguísticos e normas do bem dizer. A formação em comunicação fortalece o direito à liberdade de expressão e, em ambientes organizacionais, pode beneficiar a imagem organizacional. Mas, não se trata de empoderar alguém e sim de facilitar processos de negociação e tornar os sujeitos conscientes de seu papel nos espaços dialógicos.
Nesse sentido, a obra articula as competências ligadas à comunicação como norteadoras para a construção de bases teóricas que, a partir da interface entre a comunicação nas organizações e a educação, busca apresentar uma contribuição para as Relações Públicas, como campo científico e como práxis profissional.
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Relações públicas educativas - Fernanda de Almeida
CAPÍTULO 1
COMUNICAÇÃO INTERNA: DESAFIOS EM UM CENÁRIO COMPLEXO
Pensar a comunicação organizacional e as relações públicas pressupõe, primeiramente, refletir sobre o papel que as organizações¹ ocupam na sociedade. Mais do que suprirem as necessidades básicas dos indivíduos, sejam elas sociais, culturais, econômicas ou políticas, pode-se considerar que orientam a dinâmica contemporânea da sociedade, pois são parte integrante da vida das pessoas, nos âmbitos dos setores privado, público ou do terceiro setor (KUNSCH, 2003). Ao considerar que há uma inter-relação entre organizações e sociedade, tem-se a comunicação como inerente ao processo e não como um mero instrumento. Organizações são, portanto, redes de interação social.
Dois são os olhares fundamentais que guiam as reflexões aqui postas. Primeiro, as organizações são atores sociais coletivos, constituídas por sujeitos. Segundo, no contexto organizacional, a comunicação é mediadora e também organizadora dos processos de interação. A partir de França (2001), comunicação pode ser identificada como processo de partilha, no qual há produção de interpretação de sentido entre indivíduos e não polarização entre emissores e receptores, sendo possível identificar marcas simbólicas dos indivíduos e do contexto.
Ao trazer o contexto para pensar a comunicação, desponta uma relação complexa, de interdependência entre organização e sociedade. Segundo Lima e Oliveira (2014) e Almeida e Souza (2014), os discursos organizacionais refletem o contexto histórico e sociocultural em que estão inseridos, podendo influenciar a percepção de mundo dos sujeitos, assim como as organizações se apropriam de elementos sociais do cenário em que estão inseridas para construir significados sobre elas.
Considerando que as práticas de comunicação no contexto organizacional são instituídas pelo social e ao mesmo tempo fundadoras dele, percebe-se que suas intervenções simbólicas (materializadas em discurso) expressam um conjunto de normas e valores correntes em nossa sociedade. Os discursos organizacionais são, portanto, expressão da cultura contemporânea e também elementos que a atualizam. (LIMA e OLIVEIRA, 2014, p. 90)
Assumir a comunicação como locus de produção de sentido pressupõe compreender que, mesmo com o poderio econômico e político de muitas organizações, há certa porosidade nelas: ao mesmo tempo que impactam a sociedade, pelos discursos produzidos, também são impactadas por ela. E, entre os públicos com importante papel na comunicação organizacional, seja a formal ou informal, estão os empregados ou, como tradicionalmente se nomeia, o público interno.
Embora a terminologia público interno, externo e misto seja amplamente utilizada no âmbito da comunicação organizacional, a mesma tem como base critérios geográficos que não atendem mais as complexidades da realidade e, portanto, precisa ser problematizada. O primeiro ponto remete justamente à ideia de localização, assim, o público interno seria constituído por pessoas que vivenciam as rotinas da organização e ocupam seus espaços físicos, ou seja, estão dentro da organização. Modalidades e, consequentemente, contratos de trabalho que, se não novos, aos menos cada vez mais presentes, fazem com que trabalhadores atuem em diferentes ambientes e colocam o virtual como ponto de encontro ou como o momento do estar dentro
das organizações.
Da mesma forma, a dependência jurídica, ao menos do ponto de vista da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), para empresas privadas, ou do regime estatutário, para organizações públicas, também não pode ser critério para amparar a terminologia público interno. A flexibilização de contratos de trabalho aliada às novas demandas do capitalismo, seja por meio contratual, operacional ou mesmo como discurso, trouxe novas realidades ao trabalho quanto à remuneração, jornada, contratação, tempo de duração do contrato, dispensa do trabalhador e até mesmo a possibilidade, ou não, de ter aposentadoria.
Historicamente, o trabalho passa por mudanças diversas, desde a industrialização até a uberização², ou mesmo com a passagem do pós-industrialismo ao informacionalismo, no qual os sistemas de produção giram em torno da maximização da produtividade baseada no conhecimento e desenvolvendo tecnologias de informação (CASTELLS, 1999). Mais do que inovações nos modos de produção, houve mudanças nas relações de trabalho e, entre elas, no papel desempenhado pela comunicação interna, seja enquanto área profissional, ou mesmo como comunicação inerente à existência das