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Meu Pai, Meu Algoz
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Ebook157 pages2 hours

Meu Pai, Meu Algoz

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About this ebook

Se sobreviver para este homem trans foi intenso, lutar contra os abusos e assédios do seu algoz, foi motivo para continuar vivendo. Então não poderia deixar escondido, atrás da cortina da vida, o relato dos fatos verdadeiros dos seus dramas. Para que no futuro outros não venham a se calar.
LanguagePortuguês
Release dateNov 11, 2021
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    Meu Pai, Meu Algoz - Brunno Romão

    BRUNNO ROMÃO

    Meu Pai, Meu Algoz 2

    BRUNNO ROMÃO

    Meu Pai,

    Meu Algoz

    3

    Meu Pai, Meu Algoz PARA:

    SHIRLEY QUEIROZ, a mulher amiga generosa, que me incentivou a escrever esta obra. E me apoiou, em cada etapa e pedacinho, para que esta edição acontecesse. Uma escritora exemplar e um ser maravilhoso; dotada de vários talentos, e com suas obras, Unidos na Solidão, Sala de Aula, Adelaide Carraro no mundo cão de Silvio Santos, Se Freud explicar... A falência da Justiça brasileira; e outras obras da autora, podendo ser encontrados por esta Editora Clube dos Autores

    https://clubedeautores.com.br/livros/autores/3198

    3.

    RITA DE CASSIA CAMPOS, o que dizer da palavra Mãe, é o que encaixa em nossa relação de cuidados e zelo por todos esses anos. Te admiro e sinto orgulho em te ter ao meu lado por toda a nossa trajetória, minha Mãe de coração, gratidão por tudo!

    4

    BRUNNO ROMÃO

    ADRIANA ANGÉLICA NERY, amada e querida por todos. Com tantas dores, nos deixou em 24

    de Julho de 2018. Uma pessoa com uma alegria imensurável, força incomparável, sempre com uma palavra amiga, nunca deixou a tristeza lhe abater. Dotada de sabedoria e inteligência forma-da pela USP, e pós graduada em microbiologia.

    Disse em um vídeo, que um dia, eu contaria a nossa estória. Falando do carinho e amor que lhe tenho, agradeço a cada momento que vivemos, homenageio lhe oferecendo está linda poesia:

    Machado de Assis.

    "Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro.

    Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs o mundo inteiro.

    Trago-te flores – restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos E ora mortos nos deixa e separados.

    Que eu, se tenho nos olhos malferidos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos."

    5

    Meu Pai, Meu Algoz Meu Pai,

    Meu Algoz

    EDITORA CLUBE DE AUTORES

    IMPRESSO NO BRASIL

    2021

    6

    BRUNNO ROMÃO

    Revisão: BRUNNO ROMAO, SHIRLEY QUEIROZ

    Capa: BRUNNO ROMAO

    Digitação: BRUNNO ROMAO

    Diagramação: SHIRLEY DE QUEIROZ

    7

    Meu Pai, Meu Algoz Meu Pai, Meu Algoz

    Andando de bicicleta, onde não podia correr para não amassar os sonhos, uns com creme outros apenas com açúcar. Sempre gostava de andar naquela rua; talvez seria porque lá morava uma menina linda, morena dos cabelos pretos até a cintura, muito bonita e educada; às vezes quando eu passava, tinha a impressão que ela ficava me olhando com aqueles olhos pretos, tinha uma pele que parecia pétalas de rosa branca. Sem que eu percebesse, já estava olhando para ela, fixada em sua figura de uma simplicidade de criança pura e boba, e eu ficava feliz por estar passando por ali, isto sem saber, que ela estaria.

    Mas naquele momento estava, me vinha uma felicidade, que se alguém perguntasse, não saberia explicar, para não perder nenhum momento, daquele sentimento, que me era estranho pois 8

    BRUNNO ROMÃO

    não conseguia decifra-lo bem, era leve e doce como o açúcar por cima do sonho.

    Diminuía a velocidade da bicicleta ainda mais, a ponto de quase parar de pedalar, para ficarmos nos olhando, sentindo algo inexplicável de duas almas puras, com meus doze anos de idade.

    Já estava quase próximo a ela, quando o seu irmão a chamou, pude escutar o seu nome pela primeira vez, Miriam. Sempre senti algo diferente pelas meninas, como um carinho gentil, e muito delicado.

    Aos sete anos de idade, logo no primeiro dia de aula tínhamos que formar fila, para cantar o hino nacional. Naquela época, era muito rígido, porque todos tinham que cantar, ou pelo menos mexer a boca, onde a diretora pudesse ver que estávamos cantando.

    Foi naquele vuco vuco, de empurra pra cá e empurra pra lá para acertar os lugares na fila; como era muito pequena e magricela, ficava na frente ou quase a primeira da fileira; nesse momento enquanto estava indo para o meu lugar dei de ombros com ela, notei seus cabelos compridos, cheios e todo encaracolados até o ombro.

    Uma pele branca e um rosto redondo, lindo de se 9

    Meu Pai, Meu Algoz olhar, com olhos castanhos que brilhavam feito coca cola em garrafa de vidro.

    Fiquei chocada com tanta beleza, creio eu que foi a minha primeira paixão avassaladora e despretensiosa por conta da idade, é obvio. Pedi desculpas, corri para o meu lugar na fila, mas gostei de esbarrar naquela menina, cantei o hino nacional inteiro olhando para ela de rabo de olho, estava muito tímida e com vergonha.

    O hino acabou, fomos para sala de aula.

    Ela não estudava na mesma sala que eu, era umas três salas para frente da minha. Todos os dias ao entrar na sala parava na porta para vê-la passar. Nos intervalos corria para sair o mais depressa possível, porque já queria estar no pátio, para quando ela passasse; poderia dizer:

    - Oi, tudo bem?

    Às vezes, na cantina da escola, comprava bala Juquinha, que naquela época quase todas as crianças gostavam. Entregava para ela na hora do recreio. Assim que ela pegava a bala eu, com jeito de criança, saia correndo, ficava escondida para ver se ela iria abrir e comer; se colocasse a bala na boca era porque gostou de ter ganhado.

    Eu nunca esqueci seu nome, se chamava ou se chama Ana Paula, não sei, pois depois 10

    BRUNNO ROMÃO

    daquele ano nunca mais a vi, com sete anos de idade, em 1977.

    Sempre fui muito de brincar, correr pelo pátio da escola; mas o que mais gostava, era de brincar de bolinha de gude com os meninos.

    Apaixonada por aquelas bolinhas de vidro brilhantes. As azuis eram minhas preferidas, ainda mais as brancas da cor do leite com mancha azul. Toda vez que ganhava uma na disputa do gude, guardava em um saquinho separado, como se fosse parte de uma coleção das mais bonitas.

    Sempre correndo, fazendo estripulias como toda criança saudável, e aparentemente alegre.

    Quase que sempre estava na diretoria tomando bronca ou assinando o livro preto.

    Houve uma certa vez, que Clarice a diretora me pegou pelo braço pois estava correndo muito no pátio, e ela me disse:

    - Venha comigo para a diretoria, quero você hoje na minha sala.

    Como gostava dela, e muito, ia toda feliz da vida, mesmo que fosse para assinar o livro preto, chegando lá eu perguntei:

    - Não vou assinar o livro hoje?

    Ela riu e disse:

    11

    Meu Pai, Meu Algoz

    -Não, mas não vai brincar no pátio, assim é um dia a menos de bagunça, sua mocinha!

    Colocou-me sentada em seu colo, e começou a contar uma história. Perguntou se eu sabia a história do pintadinho e do passarinho disse a ela que não, então ela falou:

    - Havia uma igreja amarela, um padre que colecionava passarinhos.Todos os dias, ia um moleque pequeno, magrinho, todo pintadinho na porta da igreja; ele pedia um passarinho para o Padre. O Padre dizia que não podia, pois eram da coleção. Então ele ia embora triste, mas no dia seguinte estava lá novamente, de novo pedia ao Padre o passarinho; que de novo lhe dizia não. E

    no outro dia e no outro dia... e no outro dia também. Até que um dia o Padre não aguentava mais. Então decidiu! Comprou um passarinho, uma gaiola e deu de presente para o menino, que foi embora com seu passarinho, muito feliz da vida!

    Ela nunca explicou essa história para mim, nunca entendi direito o porquê ela me disse aquilo. Só sei uma coisa, que tudo que quero, não desisto até conseguir, será que era isso que ela queria dizer?

    De novo eu na diretoria, só que desta vez quando cheguei lá estava o meu Pai, juro que 12

    BRUNNO ROMÃO

    desta vez não tive culpa nenhuma, ou quase nenhuma.

    Vejam só, estavam todos os moleques brincando na quadra, a bola era uma pedra grande; eu vi aquilo fiquei espantada, achei que não era certo; não saberia explicar.

    A mesma sensação de quando meu Pai me bate, na hora que está me batendo sinto algo que não sei explicar o que é, além da dor, uma estranheza de que tem algo errado ali, algo que vai além do erro de ter cometido por apanhar!!

    Enfim, fiquei com vontade de jogar também e decidi entrar no jogo. Quando estava quase perto da quadra próximo ao gol no momento que já estava entrando para o jogo; o chico deu um chute na pedra em direção ao gol, veio bem encima da minha canela, nossa como doeu aquela pancada. Agachei de tanta dor, na hora fiquei com muita raiva. Peguei a pedra para jogar do outro lado do muro.

    Pois nesse momento percebi que o que estavam fazendo era errado. Pensei, vou jogar esta pedra fora, porque afinal não era mesmo uma bola!! O Rubens veio no momento em que eu estava lançando a pedra, bateu em meu braço fazendo com que perdesse a força; a pedra foi direto no olho do Chico.

    13

    Meu Pai, Meu Algoz Nossa você nem imagina como ficou o olho do Chico... Não foi bem em cima do olho que bateu, foi entre a testa e a sobrancelhas. Ficou um calombo, um hematoma enorme de grande.

    Começou a escorrer sangue pelo rosto, a camisa branca do Chico ficou toda vermelha.

    Estávamos todos na diretoria. Mas ninguém deixava eu falar. Todos diziam coisas ao mesmo tempo e na mesma hora, não conseguia dizer o que realmente aconteceu.

    A diretora me olhava bem dentro dos olhos; eu balançava a cabeça dizendo não, parecia que ela sabia que eu não tinha culpa, essa foi a impressão que tive. Só sei que meu Pai me pegou pelo braço, nervoso; me levou para o carro dele.

    Era um zé do caixão Volkswagen 1600 de 1969 marrom, e era assim que chamávamos o carro.

    Primeiro ele entrou com raiva, abriu a porta do carro; pegou-me pelo colo, apertou-me sobre seu corpo, depois com força me jogou no banco.

    Ligou o carro e saiu para umas ruas a frente, encostou em uma rua de terra, onde tinha poucas casas, tinha muito mato nos dois lados. Ele parou do lado de um matagal, do outro lado era um muro bem grande branco, acho que deveria ser da escola, ou da fábrica que tinha naquele lugar; 14

    BRUNNO ROMÃO

    que se chamava Aliança, não sei dizer bem pois era muito pequena e muito nova.

    Ele disse agora você vai apanhar; eu já estava chorando e dizendo:

    - Pai eu não tive culpa! Estou falando a verdade, pai, por favor!

    Mas ele parecia não querer ouvir. Me pegou colocou-me em cima do seu colo e começou a apertar e dar beliscões que doíam muito.

    Eu chorava muito, ele falava:

    - Engole o choro! Não conseguia engolir, porque os beliscões eram fortes; a dor era muita, e ainda tinha a dor na canela, que

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