Filosofia, educação e conhecimento: subjetividade e intersubjetividade em Kant e Habermas
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Os problemas que surgem dessa relação geram implicações sobre as formulações de propostas teórico-metodológicas e sobre as ciências, especificamente na educação.
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Book preview
Filosofia, educação e conhecimento - Carlos Willians Jaques Morais
CARLOS WILLIANS JAQUES MORAIS
FILOSOFIA, EDUCAÇÃO
E CONHECIMENTO:
subjetividade e intersubjetividade em Kant e Habermas
2ª edição
Logo colorida da Editora UEPGUNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
REITOR
Miguel Sanches Neto
VICE-REITOR
Ivo Mottin Demiate
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E ASSUNTOS CULTURAIS
Maria Salete Marcon Gomes Vaz
EDITORA UEPG
Beatriz Gomes Nadal
CONSELHO EDITORIAL
Beatriz Gomes Nadal
Adilson Luiz Chinelatto
Antonio Liccardo
Augusta Pelinski Raiher
Dircéia Moreira
Giovani Marino Favero
Ivana de Freitas Bárbola
Maria Salete Marcon Gomes Vaz
Névio de Campos
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Coordenação editorial
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Projeto gráfico, diagramação e capa
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Conversão para ePub
Jackson Luiz Caillot
370.1
M827f
Morais, Carlos Willians Jaques
Filosofia, educação e conhecimento: subjetividade e intersubjetividade em Kant e Habermas. 2.ed. Carlos
Willians Jaques Morais. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2013. [Livro Eletrônico].
ISBN: 978-65-86234-49-7
DOI: 10.5212/86234-49-7
1-Educação – filosofia. I.T.
Depósito legal na Biblioteca Nacional
Editora filiada à ABEU
Associação Brasileira das Editoras Universitárias
Editora UEPG
Praça Santos Andrade, n. 1
84030-900 – Ponta Grossa – Paraná
Fone: (42) 3220-3306
e-mail: vendas.editora@uepg.br
2023
Para Regiane (In memoriam)
Cinzenta, caro amigo, é toda teoria /
E verde a árvore dourada da vida.
(Grau, teurer Freud, ist alle Theorie /
Und grün des Lebens goldner Vaum).
[GOETHE, W. Der Urfaust. Leipzig: Insel, s.d. p. 23]
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO EM KANT: o idealismo transcendental
KANT E HABERMAS: da dedução transcendental à pragmática universal
SUBJETIVIDADE E CONHECIMENTO: é realmente falsa a relação sujeito-objeto no desenvolvimento cognitivo?
CONSIDERAÇÕES FINAIS De Kant a Habermas: fundamentação comunicativa de uma educação emancipatória
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
No conflito das racionalidades, muitos pensadores refletem sobre um ponto comum: a ação humana condicionada pela cultura e pela história. O problema investigado trata da compreensão das questões relacionadas à subjetividade e à intersubjetividade presentes na construção do conhecimento. Todo conhecimento se baseia na relação entre sujeitos pensantes e objetos pensados, mas como entender essa relação? Os problemas que surgem dessa relação (como o solipsismo, a reflexão monológica e o dogmatismo) geram implicações sobre as formulações de propostas teórico-metodológicas e sobre as ciências, especificamente na Educação. Superar tais problemas indica um compromisso com outro modelo de conhecimento, de ciência e de educação: como medida de prática cultural voltada para a liberdade e voltada para o desenvolvimento social.
Para uma análise desses aspectos ou âmbitos da construção do conhecimento, é necessário dissertar sobre algumas perspectivas teóricas construídas na história; o idealismo transcendental tratado pela Crítica da Razão Pura(1781), de Immanuel Kant (1724-1804), é um marco da reflexão acerca do problema da relação sujeito-objeto na produção do conhecimento, e produziu fortes influências sobre a filosofia contemporânea, resultando numa ênfase ao sujeito pensante, por parte de expressões filosóficas como a fenomenologia de Edmund Husserl e o existencialismo de Martin Heidegger. Ultimamente, essas perspectivas têm sido contestadas e superadas pela filosofia de Jürgen Habermas, que será o principal arcabouço teórico que sustenta a presente reflexão.
O pressuposto norteador desta obra é que a relação entre Filosofia e Educação (Pedagogia) não deve ser entendida numa perspectiva vertical, fundamentador-fundamentada; mas deve ser entendida, sim, de forma horizontal, ou seja, fundamentador e fundamentador; no conflito das racionalidades, reflete sobre um ponto comum, a ação humana condicionada pela cultura e pela história. Ou seja, entende-se que ambos os saberes se ocupam com problemas de racionalidade. A fundamentação teórica dessa temática busca e defende ideais como: liberdade, autonomia, autodeterminação, emancipação e práxis.
No primeiro capítulo, apresenta-se a forma como o Idealismo Transcendental de Kant promoveu uma Teoria do Conhecimento determinada pelas funções cognitivas do sujeito em relação ao objeto. Immanuel Kant (1724-1804), filósofo que nasceu e viveu em Königsberg, marcou a passagem da filosofia moderna para a filosofia contemporânea com seu pensamento crítico acerca do valor do conhecimento e do agir humano. A obra Crítica da Razão Pura (1781) apresenta uma teoria do conhecimento que visa superar as representações metafísicas estabelecidas pelo direcionamento dogmático e as formulações teóricas apresentadas historicamente pelo racionalismo e pelo empirismo, que recaem em problemas de ordem metodológica na construção do conhecimento. Segundo Kant, estes dois sistemas filosóficos não se desvinculam da terminologia da metafísica tradicional.
Kant provocou uma revolução na história da filosofia ao tentar superar o problema da relação entre sujeito e objeto. Já que a metafísica tradicional e o racionalismo afirmam os juízos analíticos a priori, e o empirismo afirma os juízos sintéticos a posteriori, a Crítica da Razão Pura tenta resolver os problemas do solipsismo e do dogmatismo levantados por estas categorias através da analítica transcendental
, que afirma os juízos sintéticos a priori. O conhecimento se constrói por meio dos sentidos que produzem representações que se conformam as estruturas cognitivas do sujeito, capaz de produzir juízos. Sensibilidade (Estética Transcendental) e Entendimento (Lógica Transcendental) ligados na consciência do sujeito cognitivo (Eu Penso) possibilitam a construção do conhecimento válido universalmente.
Ao ver de Kant, provar os juízos sintéticos a priori só é possível se as estruturas cognitivas que permitem ao sujeito enunciar um juízo sejam idênticas às estruturas que permitem fazer a experiência com objetos, e isso apenas o a priori assegura: tem de haver a priori de enunciação e a priori de experiência. A prova sobre os juízos sintéticos a priori leva Kant a formular um sistema filosófico, cujo método transcendental se apóia na sensibilidade e no entendimento do sujeito sobre os conceitos (Estética e Lógica Transcendentais). Kant enuncia, na Dedução Transcendental, as categorias (de quantidade, de qualidade, de relação e de modalidade) que modelam as representações dos princípios sintéticos do entendimento puro.
Kant lança mão de um novo sistema filosófico que ele chama de Filosofia Transcendental, pelo que afirma: "Chamo transcendental todo conhecimento que em geral se ocupe, não dos objetos, mas da maneira que temos de conhecê-los, tanto quanto possível a priori. Um sistema de tais conceitos se denominaria ‘Filosofia Transcendental’ (CRP B 25). O sistema filosófico de Kant se encontra entre o que chamamos de
Filosofia da Consciência, cuja ênfase à subjetividade vem sendo retratada na Modernidade desde Descartes (mas com representações metodológicas distintas entre si). Ao elaborar uma
representação sistemática de todos os princípios sintéticos do entendimento puro", Kant promove uma nova forma de conceber o mundo e nova possibilidade de conhecer os objetos, fato que denota conseqüências sobre a cultura e sobre a ciência, gerando alguns questionamentos sobre a prática da liberdade e a instrumentalização da razão para a construção de conhecimentos representados em processos de fundamentação última.
No segundo capítulo, se verá que Jürgen Habermas sustenta uma crítica relevante a esse esquematismo da razão que apresenta um sujeito o qual nada mais faz do que uma auto-objetivação a partir de suas funções cognitivas. É um sujeito que não alcança os objetos de experiência, mas valida subjetivamente as representações de sua consciência.
Os ideais organizados por Kant e pela filosofia da consciência são colocados sob suspeita quando se trata de sua concretização, ou seja, sua realização enquanto práxis. O problema é que a consciência dos sujeitos não responde a todas as situações concretas. A consciência é falível; a percepção e a dedução são limitadas. Não é possível conhecer a totalidade do real e emitir juízos válidos universalmente. Rompe-se com os paradigmas da filosofia da consciência a partir de algumas contribuições da filosofia da linguagem. A reviravolta lingüístico-pragmática
representa uma nova forma de conceber o problema da relação entre sujeito e objeto, bem como sobre a construção do conhecimento. Com o pensamento do filósofo alemão Jürgen Habermas, é possível sustentar uma crítica ao apriorismo subjetivista de Kant. Segundo Habermas, O paradigma da filosofia da consciência encontra-se esgotado. Sendo assim, os sintomas de esgotamento devem dissolver-se na transição para o paradigma da compreensão
. (HABERMAS, 1998, p.277).
No terceiro capítulo, vê-se que Habermas propõe o fim das pretensões de fundamentação última do saber. A falibilidade do conhecimento representa a posição de sujeitos que não possuem a última palavra, mas buscam dar validade a suas experiências objetivas com base nas vivências cotidianas, produzindo um saber pré-teórico que busca reconhecimento por meio da interação entre os sujeitos. Enfatizando o potencial emancipatório da esfera cultural, onde se dão os processos de interação, em detrimento da esfera do trabalho – regido pelas regras de uma racionalidade instrumental – Habermas aponta para a formação do sujeito, da identidade do eu
, como um processo de aquisição de uma competência interativa que consistiria na capacidade de participar em sistemas de ação cada vez mais complexos, em que se poderiam questionar as pretensões de validade
embutidas na linguagem institucionalizada, através da argumentação,