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Morreu a mais bela mulher do mundo to bela que no s era assim bela como mais que chamar-lhe marilyn

devamos mas era reservar apenas para ela o seco sbrio simples nome de mulher em vez de marilyn dizer mulher No havia no fundo em todo o mundo outra mulher mas ingeriu demasiados barbitricos uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha ou suspeitou que tinha errado a vida ela de quem a vida a bem dizer no era digna e que exibia vida mesmo quando a suprimia No havia no mundo uma mulher mais bela mas essa mulher um dia disps do direito ao uso e ao abuso de ser bela e decidiu de vez no mais o ser nem doravante ser sequer mulher O ltimo dos rostos que mostrou era um rosto de dor um rosto sem regresso mais que rosto mar e toda a confuso e convulso que nele possa caber e toda a violncia e voz que num restrito rosto possa o mximo mar intensamente condensar Tomou todos os tubos que tinha e no tinha e disse governanta no me acorde amanh estou cansada e necessito de dormir estou cansada e preciso eu descansar Nunca ningum foi to amado como ela

nunca ningum se viu envolto em semelhante escurido Era mulher era a mulher mais bela mas no h coisa alguma que fazer se certo dia a mo da solido pedra em nosso peito Perto de marilyn havia aqueles comprimidos seriam soluo sentiu na mo a me estava to sozinha que pensou que a no amavam que todos afinal a utilizavam que viam por trs dela a mais comum imagem dela a cara o corpo de mulher que urge adjectivar mesmo que seja bela o adjectivo a empregar que em vez de ver um todo se decida dissecar analisar partir multiplicar em partes Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha julgou que a no amavam todo o tempo como que parou quis ser at ao fim coisa que mexe coisa viva um segundo bastou foi s estender a mo e ento o tempo sim foi coisa que passou

Ruy Belo, Poemas de Ruy Belo ditos por Lus Miguel Cintra, Lisboa, Assrio & Alvim, 2. ed., 2004

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