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O URSO D CONSELHOS

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

No tempo em que havia ursos a rondar os povoados,


tambm havia homens que lhes davam caa com a ajuda de lanas e flechas, porque as espingardas ainda no tinham sido inventadas. Dois amigos acertaram em ir caa a um grande urso, que andava a assustar os rebanhos. Foram para o mato e ambos prometeram um ao outro que mal vissem o urso o cercariam, um pela frente, outro por trs, porque nisto de ursos brutamontes duas lanas valem mais do que uma. 1
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Nisto, apareceu o urso. Um dos amigos, esquecido do prometido, logo marinhou por uma rvore acima, deixando o companheiro sem ajuda. O que ficara em terra quase desmaiou de susto. Desmaio, no desmaio... Pelo sim pelo no, lanou-se ao comprido para o meio do cho, onde se deixou ficar, muito quietinho. Ouvira uma vez dizer que os ursos se agoniavam com a carne morta. Fazer de conta que tinha morrido talvez resultasse. O urso mirou-o, virou-o com as patonas, cheirou-o dos ps cabea, com especial predileco pelos ouvidos, e, depois, sem lhe fazer um arranho sequer, deixou-o em paz. Abalou. O caador de ursos, por pouco caado, ainda se deixou ficar quieto mais um tempo, at o amigo saltar da rvore e vir ter com ele. No ganhmos para o susto disse-lhe o amigo, limpando da testa o suor do medo. Eu ganhei retorquiu o caador, levantando-se do cho. O outro estranhou: O que que ganhaste? Um conselho do urso disse. O qu? O urso falou-te. Pois falou. No o viste segredar-me ao ouvido? De facto, ele esteve que tempos com o focinho encostado tua orelha. E o que que ele te disse? Disse-me que, daqui para diante, em ocasies de perigo, no me ficasse mais nas promessas de ajuda dos companheiros de caada. Ele disse isso? Garantes? 2
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Garanto. At acrescentou que mais valia caar sozinho do que na companhia de poltres. E, dizendo isto, o caador pegou na lana e avanou pelo caminho do mato. O companheiro, que saltara da rvore, seguiu-lhe os passos, muito enfiado e arrependido. FIM

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