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ARTE DE ENCADERNAR LIVROS


Noções gerais

Antes de se começar a dizer como se encadernam os livros, é indispensável


conhecer os nomes das diversas partes em que este se compõe.
Um livro é formado por cadernos, designando-se assim as suas folhas dobradas;
o lado onde estas estão dobradas denomina-se festo.
Em cada página há a mancha do texto, ou seja a parte impressa, c as margens, isto é,
os espaços em branco, dos dois lados, em cima e em baixo.
A parte superior chama-se cabeça, e a inferior, pi; o lado esquerdo do livro,
onde os festos dos cadernos estão reunidos, tem o nome de lombo ou lombada; o lado
direito goleira ou caneleira se tem a forma côncava e, se não está aparado, frente.
Denomina-se anterrosto a primeira página, na qual *ó está escrito o título da
obra; na página 2, nada há impresso; na página 3 o rosto ou frontispício, com o título e
o nome do autor, tendo duas partes, uma denominada lado de cima ou frente, onde
está impresso, e outra em branco, o seu reverso, denominada lado de baixo ou costas.
O que ficou escrito é a nomenclatura geral do livro, que toda a gente mais ou
menos conhece.
A nomenclatura técnica do encadernador é a seguinte:
Chama-se serrotagens aos sulcos abertos no lombo, sendo os das extremidades,
serrotagens de remate.
Chama-se guardas brancas às duas folhas de papel branco, dobradas ao meio, que
se põem no começo e no fim do livro. Estas folhas ficam com uma das partes
íoltas, cobrindo o princípio e o fim do livro, sendo a outra parte colada por uma
face a uma folha de papel de cor, dupla, cujo avesso se cola ao interior da capa. Deno-
jnina-se guarda a colada à capa c contra-guarda a que nca unida à guarda branca.
Chama-se encaixe a cavidade feita entre o lombo e a
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frente e aquele e as costas do livro, e nele se alojam os


cartões da capa.
Sobre-cabeceado ou requife é um cordão estreito,
colorido, que encosta ao corte e remata a cabeça e o pé
do lombo.
Pastas são os cartões que protegem os livros, e os seus
quatro cantos denominam-se: exteriores, os do livro pro-
priamente dito, e interiores, os que ficam junto do lombo.
A distância existente entre as folhas do livro e as
margens do cartão (que é maior do que aquelas), tem
o nome de caixa.
Chama-se cobertura o invólucro exterior dos cartões,
c a sua margem voltada para dentro tem a designação
do virado; coifa é a margem em que a cobertura vai de
um cartão a outro, tapando o requife, nas extremidades
do lombo.
As saliências existentes nos lombos denominam-se
nervos e podem ser verdadeiros ou falsos; verdadeiros
quando são formados pelas costuras e falsos se são feitos
depois da costura efectuada.
Em cada folha de papel imprimem-se tantas páginas
quantas comportar a sua superfície, de harmonia com o
formato do livro; isto é, o número de vezes que a folha
deve ser dobrada. Se é ao meio, denomina-se in-fólio;
se em quatro partes, in-quarto; se em oito, in-oitavo.
Os formatos oficiais, adoptados pela Imprensa Na-
cional de Lisboa, são os seguintes, sendo os números
indicados em milímetros:
In-fólio n.<> 2..................................... 290x395
In-fólio n.o 1........................... ........... 210x310
In-quarto n.»2.................................. 195x285
In-quarto n.»l.......................... ......... 170x275
In-oitavo n.o 4.................... ............... 150x230
In-oitavo n.° 3................................... 130x215
In-oitavo n.o 2.................... ............... 120x195
In-oitavo n.° 1................................... 105x155
In-12....................................... ............ 95x160
In-16......................................... .......... 85x130
In-18........................................ ........... 80x120
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É fácil reconhecer o formato pelo número impresso


cm cada folha, no fundo da respectiva primeira página,
número que se designa pelo nome de assinatura. Se ele
se repete de 8 em 8 páginas, o formato é in-quarto, visto
que cada folha tem duas páginas; se a repetição é de
16 em 16 páginas, o formato é in-oitavo e assim sucessi-
vamente.
É por meio da numeração de cada folha, que se colec-
cionam os cadernos para a formação dos livros, e, logo
que se acabam de empilhar os cadernos, conferem-se
para ver se estão bem dispostos, se falta algum ou se
existem em duplicado.
Como é a dobragem das folhas que determina o for-
mato, este pode ser maior ou menor, segundo o tamanho
das folhas impressas, mas a sua denominação é sempre a
mesma, só dependendo do número de vezes em que as
folhas são dobradas.
À medida que se forem descrevendo as diversas
operações que há a executar para encadernar os livros, ir-
se-ão definindo os termos técnicos que seja necessário
empregar.

Oficina e material do encadernadoi

A) — OFICINA — As dimensões da oficina estarão


de harmonia com a intensidade do trabalho a executar
nela. Deve ser bem arejada e iluminada.
O amador poderá utilizar uma sala qualquer que
satisfaça as condições acima indicadas.
B) —MÁQUINAS — Sob este título designamos
todas as máquinas de que uma oficina deste gênero
necessita para a boa execução dos trabalhos de encader-
Qador, tais como: máquinas para prensar e guilhotinar
0
papel e para cortar os cartões, serviço este que, feito
c
om tesouras, é demorado, trabalhoso e pouco perfeito.
Como prensa, pode empregar-se a denominada
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universal, um pouco morosa, mas de execução perfeita;


as de parafuso sem fim são as que mais fortemente aper-
tam. Em vez dela, pode utilizar-se uma prensa de copia-
dor comercial.
A guilhotina, para o amador, pode ser manual, de
braço, com pequenas dimensões e pouco custosa.
A máquina para cortar os cartões, vulgarmente deno-
minada cisalha (corrupção do nome francês cisaille e do
italiano cesoia), deve ser forte e, para o amador, poderá
ser pequena, própria para colocar-se sobre uma mesa.
Deverá poder cortar numa extensão de 0,m70.
É indispensável, ainda, um fogão de petróleo, não
de pressão, mas de torcida.
Nas oficinas de profissionais, para facilitar e apressar
o trabalho, deverá haver, além do material indicado,
máquinas destinadas a coser a fio ou arame, a fazer o
encaixe (»), a serrotar (2), a chifrar (3), a acetinar o papel (4),
a arredondar os cantos, dobrar as folhas, juntá-las e a
empastar (s).
C) - FERRAMENTAS E UTENSÍLIOS - Englo-
bamos neste título as ferramentas e utensílios como:
ágatas, direita e curva, para polir; agulhas para costura
do papel, como as usadas para bordar a lã; alicate de
pontas largas, chatas e polidas, para aperfeiçoar as saliên-
cias sobre o lombo (nervos) ; uma caldeira de cobre, para
grude, a banho-maria; um canivete; uma chifra, para
adelgaçar as peles; dois compassos, um pequeno e utn
grande; dobradeiras para o papel, de buxo, de latão e de
osso; dois esquadros, um dos quais de madeira, aberto,
e outro, de metal, podendo ser de zinco; uma faca de

(*) Caridades abertas ao comprido dos lombos, onde se


aloja a espessura dos cartões da pasta.
(2) Cortar o lombo para, nas ranhuras feitas, alojw
as cordas.
(3) Adelgaçar as peles nas suas extremidades.
(4) Prensar as rolhas de papel para delas eliminar °
relevo resultante da impressão.
(*) Prendei as cordas da costura, passando-as pelas pastas-
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sapateiro, com st lâmina comprida e bem aguçada; ura


ferro de engomar; dois furadores, sendo um vulgar e,
o outro, para a costura sobre fitas; frascos para tintas;
uma grosa; maço de madeira, para assentar as costuras;
um martelo; pincéis para massas; grude e tintas; uma
pedra litográfica ou de mármore para chifrar as peles;
uma placa de ferro para, sobre ela, bater os livros, devendo
ser bem lisa e grossa e podendo substituir-se por um

pedra com as mesmas características; quatro placas de


zinco, sendo duas delas com 0,m50x0,m01, revestida
numa das faces, com lixa branca n.° 4 e, na outra, com
a mesma, mas n.° 2; uma régua de metal e outra graduada;
um raspador de madeira, para o lombo dos livros; serro-
tes, sendo um para abrir os entalhes nos lombos, desti-
nados às cordas e outro para os entalhes das cadeias de
remate (i); tabuleiros de cartão, em quantidade, que se

(') Os serrotes devem ser isentos de trave para que não


'arpem o papel.
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podem fazer grudando bocados de cartão uns aos outros,


prensando e cortando nas medidas dos formatos mais
vulgares do« livros; vedam-se bem aplicando, nos cortes,
goma-laca ou grude; tabuleiros de madeira, de dimensões
um pouco maiores do que os formatos dos livros, que
devem ser de madeira muito lisa e rija; tachos de barro
ou de ferro esmaltado, para fazer as massas; tesouras,
um par forte e grande, para cortes no cartão e, a outra,
pequena, para a costura e requifes (í); tigelas ou pequenas
selhas de madeira, para a massa; uma ou mais tinas de
fotografia, do modelo grande, de ferro esmaltado, louça

ou cartão endurecido, para os


banhos das folhas; uma tira de
folha-de-flandres ou de zinco,
com 0,m35x0,m22, destinada a,
sobre ela, cortar o papel;
diversos vasadores.
Os pincéis, tintas e mais
ingredientes de pequeno volu-
me guardar-se-ão num armário.
Em prateleiras, dispostas ao
longo das paredes, colo-car-se-
ão os cartões e papéis,
agrupados segundo as suas di-
mensões.
Umas cordas, estendidas de parede a parede, como as
usadas para dependurar a roupa a secar, servirão para
estender nelas as folhas dos livros lavadas ou nas quais
se aplicou goma.
É absolutamente indispensável ter, na oficina, uma
mesa grande e estreita, com gavetas, destinadas a acondi-
cionar os utensílios e ferramentas, e com os bordos esqui-
nados em aresta viva.

D) — MATERIAL DE CONSUMO CORRENTE-


Sob este titulo englobaremos o material de consumo

(1) CordSo colocado entre o cairo e o conjunto das folhas,


nas duas extremidades do lombo.
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corrente propriamente dito, isto é, tudo o que se con-


some nas encadernações e que, com estas, fica fazendo
parte integrante dos livros. Como:
1) — CARTÍES — O cartão mais usado nas enca-
dernações baratas é o cinzento, mas ele é tanto melhor
quanto mais claro for; para os trabalhos mais caros, como
as encadernações meio amadora, só deverá empregar-se
o cartão palha, que é o vulgar amarelado.
Os números a empregar são de harmonia com a con-
sistência que se pretende; quanto mais alto é o seu nú-
mero, mais consistente é. Para os lombos falsos usa-se
o n.° 120 ou o 150.
Deve ter-se em atenção que o cartão barato é ordiná-
rio, tornando as superfícies rugosas; é esponjoso e áspero,
ocasionando defeitos que é preciso corrigir. Com a
certeza de boa qualidade, a sua espessura pode ser menor,
dando à encadernação um melhor aspecto e evitando
despesas com a correcção dos defeitos, sempre derivados
do emprego de cartões de má qualidade.
O branco utiliza-se para meter sob as pastas, quando
o livro, pronto, se coloca na prensa, e para acetinar o
papel.
Os números usados são: para o branco, os 50 ou 60,
do denominado marfim, do duplex, ou do couchê; do
cinzento claro, os n.° 17 para os formatos grandes; 20 a
25 para o oitavo vulgar e 30 a 40 para os formatos pe-
quenos.
Nas encadernações comerciais, meia percalina c
outras baratas, pode o cartão ser o cinzento, nacional.
2 — FIOS — Os fios com que se cosem as folhas
podem ser: cordas, fio de linho, fita de Unho c linha espe-
cial.
As cordas deverão ser de linho bom. No comércio,
vendem-se sob o nome de fio de livreiros, em meadas ou
novelos, empregando-se 3, 4 ou 5 ramos, um por cada
entalhe, conforme as serrotagens feitas.
A fita de linho destina-se à costura sobre atas, tendo
^c 8 a 12"" de largura, empregando-se para as obras
▼olumosas; nas menos volumosas, usa-se a fita de nastro,
606 VINTE INDUSTRIAS

de algodão. Para a costura sobre nervos deve usar-se


um fio com poucos cabos, semelhando uma fina corda,
5 ue é de cor branca, quando de algodão, e crua,
quando e unho.
Fio de Unho — A grossura de fio mais usado é a n.° 32.
É um fio de linho branco, com grossura uniforme, polido
e bem torcido.
A linha especial é um pouco cara, resistente,
destinando--se à costura de trabalhos não volumosos, e
vende-se em bobinas.
3 — PAPÉIS — Os papéis empregados nas enca
dernações devem ter todos pelo menos uma face branca,
e são os seguintes:
a)— Coquille, 5 quilos, em folhas grandes: 10 quilos,
para guardas e quartos; 14, para guardas de luxo.
b)— De fantasia — É destinado a guardas; os seus
tons de cores devem harmonizar-se com os dos
coiros
que forram os livros, dando-lhes um aspecto
lindo,
quando bem escolhidos.
c)— Gelatitiado — Destina-se a encadernações caras e
de luxo, constituindo um bom resguardo por ser
trans
parente e fino.
d)— Para guardas — Serve qualquer espécie de papel,
mas a sua escolha deve ser feita ao gosto de cada
um,
de harmonia com o que se pretende gastar. As
suas
características devem condizer com as cores e os
estilos
das capas, o assunto principal da obra, estando
indicados,
para os livros clássicos, os oxidados e platinados, e
para
os de aventuras ou assuntos guerreiros, os doirados
em
relevo, etc.
e) — De seda — O seu único fim é consertar os livros.
f)—Vegetal — Destina-se a proteger as gravuras;
deverá ser lustroso, transparente e calandrado.
4 — PELES — As peles mais empregadas nas enca
dernações são as que se indicam a seguir, por ordem
alfabética.
a) — Capicua — Assemelha-se à pelica e é muito
macia, portanto fácil de trabalhar; as suas cores SÃO
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somente o branco e branco esverdeado, rosa pálido e


bege.
b)— Camurça — Mancha com facilidade e usa-se para
encadernações muito maleáveis, flexíveis.
c)— Carneira — É a pele mais usada, depois de
pintada e lustrada, sendo fácil de trabalhar.
Contudo,
o seu colorido é falso por resistir pouco à acção da
luz
e o seu polimento perde-se com facilidade. A de
pri
meira escolha é muito cara e destina-se a preparar
as
capicuas.
d)— Chagrin — Trata-se de peles de cabra, de burro
ou de cavalo, devidamente preparadas; devem ser
finas
para se poderem trabalhar bem.
e)— Coiro da Rússia — Preserva os livros dos insec-
tos nocivos, devido ao cheiro dos materiais usados
no
seu curtume ou fabrico. É uma pele de luxo,
pelo
que só se emprega em obras de valor.
f)— Marroquim — Só usada em trabalhos de luxo.
As cores mais empregadas são o azul, vermelho
claro
e escuro, castanho e verde.
g) — Pelica — São peles curtidas de cabrito ou gato;
as suas cores são muito resistentes e lindas; não se deve
utilizar a doirada por ser de trabalho difícil e muito cara.
h) — Pergaminho — O melhor é o inglês, por ser o
mais sólido, ao passo que o francês se rompe com muita
facilidade. Forma lindas encadernações.
i) — Vitela — É preciso escolher peles delgadas, pois
que, sendo grossas, dificilmente se trabalham. Usam-se,
em especial, para gravar nelas caracteres ou gravuras
e para imitar as antigas encadernações dos in-fólios.
j) — Outras peles — Podem empregar-se outras peles
como as de porco, serpente, crocodilo, lagarto, foca,
assim como as suas imitações, mais baratas mas de pior
qualidade, e menos resistentes.
Há, ainda, peles de fantasia que se podem usar para
obter efeitos variados, às vezes surpreendentes.
Quanto às cores das peles, as mais resistentes são
° castanho e o vermelho. O verde e o roxo tornam-se
castanhos com o tempo. A cor natural é a que mais
resiste. É preciso ter muito cuidado na aquisição das
60S VINTE INDUSTRIAS

peles pretas porque tingem desta cor. As manchadas


por qualquer motivo e tingidas de preto perdem, por
vezes, a cor, de onde resulta tornarem-se facilmente
ruças.

PREPARAÇÃO DAS PELES — Compradas as


peles, têm de se cortar nelas as peças destinadas a for-
mar as capas dos livros, o que se faz por meio de mol-
des tirados dos livros a encadernar, assentando estes
sobre um papel em que se traceja todo o seu contorno.
Colocam-se os moldes sobre a pele, risca-se em volta
deles e corta-se economizando o mais possível. Havendo
nervos, estes devem ser cortados de modo que fiquem
ao longo dos cartões que formam a capa do livro.
Para que as peles não formem saliências, é preciso
chifrá-las, isto é, adelgaçar as suas arestas.
A chifra só se maneja bem com uma longa prática;
com ela se vão desbastando as peles, a pouco e pouco,
cortando-as de dentro para fora, um pouco obllqua-
mente.
É indispensável que a pedra litográfica ou de már-
more em que a pele assenta esteja sempre completa-
mente limpa para evitar que se lhe façam cortes.
As arestas mais vivas deixadas pela chifra elimi-
nam-se raspando-as com um vidro, dirigido para um só
lado e sempre para a frente; ou com um bocado de
lixa grossa.

5 — TECIDOS — As quantidades a empregar em


cada encadernação são, em geral, pequenas, pelo que,
a não ser nas grandes oficinas ou em trabalhos em série,
é mais econômico adquirir retalhos.
Os tecidos mais usados são os seguintes:
a)— Chita — Utiliza-se para alguns requifes e com
riscas muito finas.
b)— Cretone — Com desenhos leves, para livros de
leitura infantil, de apontamentos, etc.
c)— Damasco — Só para livros de valor, de cores
apropriadas aos assuntos respectivos.
TRABALHA PARA TI 509

d)— Estopa — Para volumes de consulta quase per


manente, de muito uso.
e)— Flanela — Para livros almofadados e comer
ciais. A espécie usada é a de dois pêlos, ou duas
frentes.
f)— Pano lavado — Usado para reforçar os lombos.
g)— Pano lustroso — Para livros comerciais e car-
tonados.
h) — Pele do diabo — É um pano encorpado com
o qual se forram registos, jornais e revistas, etc. Apesar
do ser encorpado, é bastante flexível.
i) — Pele de ovo — É um pano de algodão, muito
fino, que se emprega na colocação de gravuras e nas
carcelas de reforço.
j) — Percalina — É o tecido mais usado na cober-
tura de livros, imitando todas as espécies de peles.
1) — Tela — Destina-se a colar nela folhas ou mapas
fora do texto e carcelas de mapas.
m) — Cetim — Usa-se para fazer as guardas de tra-
balhos luxuosos. É próprio, quando de boa qualidade,
para nele se fazerem pinturas.
n) — Tarlatana — Emprega-se em reforçar os lom-
bos de volumes de somenos valor e pouco volumosos.
o) — Veludo — Só usado nos trabalhos de grande
luxo.
6 — DIVERSOS MATERIAIS — O restante ma-
terial necessário pouco é.
a) — Requife — Isto é, um pequeno cartão, com
duas ou mais cores, às riscas, montado numa fita, que
se aplica nos extremos do lombo. É de algodão para
os trabalhos baratos e de seda para os de luxo.
Querendo fazer o requife à mão, emprega-se torçal
de casear; querendo matizá-lo, compre-se nas cores
Julgares de preto, azul, roxo, vermelho, branco, para
formar as cabeças.
b) — Fitas para marcação de páginas — Para este fim,
deve usar-se um fitilho de cetim ou seda ou fitas estrei-
^s de moirè, seda ou cetim.
, c) — Colas — É absolutamente preciso que as colas
•ejam anti-sépticas para que os anobídcos, bkbos que
510 VINTE INDUSTRIAS

roem os livros, não sejam por eles transportados, nem


permitam a sua vida.
Passaremos em revisão as tais colas empregada»
habitualmente.
1) — Cola a frio — Vende-se em pacotes nas dro
garias e nas casas especializadas em papéis pintados
para forrar casas. Prepara-se deitando uma porção do
pó em água fria, a pouco e pouco, mexendo sempre para
o mesmo lado, deixando repousar por meia hora; como
engrossa depois de feita, deita-se mais água e toma a
mexer-se.
É translúcida, limpa, não mancha e é fortemente
adesiva.
2) — Cola de amido — Pode fazer-se com o amido
extraído dos cereais, ou com a fécula que se extrai das
leguminosas c principalmente da batata. Deita-se o
pó na vasilha em que irá ao lume, junta-se-lhe água até
se formar uma massa muito espessa; vai-se juntando
mais água até que o líquido fique com a consistência
do leite grosso; mexe-se sempre e vai-se deitando água
com alúmen dissolvido, até que a goma fique translú
cida; deita-se mais água até ficar com a espessura dese
jada. Leva-se ao lume e mexe-se sempre. Junta-se-lhe,
depois de retirada do lume, 5% de aguarrás.
Emprega-se na reparação das folhas rasgadas.
3) — Gelatina — Demolham-se as folhas, depois de
lavadas em água fria; quando estiverem inchadas, escor
re-se a água fria e substitui-se por outra a ferver, na
qual se dissolveu, previamente, algum alúmen.
Os resíduos que houver dissolvem-se a banho-maria
e côa-se por um pano para a libertar de impurezas.
Usa-se no envernizamento de mapas ou na cola-
gem de folhas que tenham sido banhadas.
4) — Goma de carolo — A farinha do carolo de milho
transforma-se em goma muito adesiva, fina e trans
lúcida, pela forma como se indicou para a cola de amido,
e pega melhor quando é de preparação recente.
Como é muito gelatinosa não se deve empregai
muito espessa.
TRABALHA. PARA TI 511

5) _ Cola forte — Uma boa cola forte absorve 5


ou 6 vezes o seu peso de água, ao passo que a cai só
duas ou três vezes.
Prepara-se partindo com um martelo os paus de
Dobragem das folhas do livro
512 VINTE INDUSTRIAS

grude, metendo os bocados numa vasilha de ferro esmal-


tado ou de louça e deixando-os de molho umas 12 horas.
Dissolve-se numa vasilha composta de uma panela
exterior sem tampa, contendo uma outra que não chega
ao fundo, em virtude de ter, em redor, da boca, uma
virola de tal largura, que, colocada dentro da maior,
a tapa por completo. O recipiente mais pequeno'
onde se dissolve a cola, é munido de tampa com um
orifício que dá passagem ao cabo do pincel. Na vasi-
lha exterior deita-se água fria, enchendo-a até dois terços;
a cola deita-se na mais pequena, que se introduz na
maior, leva-se ao lume e mexe-se com uma vara, cons-
tantemente. Em estando dissolvido, junta-se-lhe alú-
men em pó, na razão de 40 gramas por litro. Antes de
retirar do lume, juntam-se mais 50 gramas de ácido
acético.
6) — Grude ou massa — Em linguagem de encader-
nador dá-se este nome à cola de farinha de trigo. Pre-
para-se levando-se ao lume, em vasilhas separadas,
numa, meio quilo de farinha de trigo com um litro de
água morna e, na outra, um litro de água e 50 gramas
de alúmen em pedra.
Em as águas estando bem quentes, misturam-se e
levam-se ao lume de novo, mexendo constantemente.
Quando ferver bem, tira-se do lume c juntam-se 120
gramas de formol, mexendo sempre.

Brochuras
A brochura dos livros só se executa em cadernos
soltos e pode fazer-se a fio de linha ou com arames-
TRABALHA. PARA TI 513

Para a costura a arame utilizam-se umas máquinas


simples, espécie de prensas, accionadas por um pedal,
o que permite a liberdade das mãos do operador.
Para qualquer das costuras, a operação preliminar

indispensável é a da dobragem das folhas, que se fai


por meio de dobradeiras de buxo latão ou osso. As fo-
lhas dobram-se estendendo-as sobre uma mesa plana,
bem lisa, de dimensões proporcionadas ao tamanho das
folhas. É um trabalho muito suiiples, mas que deverá
TRABALH3C PARA TI 515

ser feito com a máxima perfeição e precisão, para que as


partes dobradas fiquem bem iguais, sem saliências, que
tornam os livros feios e abona muito pouco a favor de
quem o executou.
É preciso o máximo cuidado para que a numeração
das páginas fique seguida e não alterada.
Dobradas as folhas, colocam-se os cadernos uns
8-A -Remate da costura dai primeiras duas folha»

em cima dos outros, a começar pelo último, formando-se o


livro.
Põem-se os cadernos de 8, 16, 24 ou 32 páginas,
seguidos — chamados folha 1, folha 2, folha 3, etc., etc.
(cada folha constitui um caderno).
Alceados os cadernos, isto é, ligados pela ordem
acima referida, do primeiro até ao último, e verificada a
sua exactidão, preparam-se para a costura de brochura °u
de encadernação.
Ligados os cadernos, fa2-se a operação de serrotar,
depois de todos os cadernos estarem certos (perfeita-
mente nivelados) à cabeça e ao lombo.
616 VINTE INDUSTRIAS

Para a brochura, usam-se dois e três serrotes no


lombo. Metem-se na prensa (figura 5) de serrotar e
faz-se a operação como indica a figura 6, e começa-se a
coser, caderno por caderno, começando pelo primeiro,
folha 1, e assim sucessivamente até ao último, conforme
figura 7.
A mão esquerda segura o caderno c recebe a agu-
lha que devolve à mão direita; ao coser o segundo ca-
derno, faz-se o remate, dando um nó com a ponta da
linha, conforme a figura 8-A.
Chegando ao último caderno, fecha-se o remate,
formando um nó com a linha de costura, como já se
indicou no princípio da figura 8, e agora nas figuras
11 c 12. Corta-se a linha, deixando dois centímetros de
saída, e fica pronto a meter à capa.
Se o livro a encadernar está ainda em folhas (quer
dizer, ainda não foi brochado nem encadernado), a ope-
ração é a mesma da brochura, porém, a costura é que é
diferente e faz-se conforme se vê nas figuras 9 e 5. A fi-
gura 9 representa já o livro cosido e a figura 5, a mar-
cação dos sítios onde o lombo vai ser serrotado paia
depois ser cosido.
Feito isto, para a brochura, só há que ligar os ca-
dernos uns aos outros, o que se faz por meio de arames,
como se disse, no caso de os cadernos serem, o máximo,
três, ou por meio de costura, se não em número maior,
c pôr-lhes as respectivas capas de papel ou de cartolina.
A ligação dos cadernos uns aos outros faz-se como
as figuras n.°" 11 e 12 indicam.
Como a costura é uma operação comum à brochura
e à encadernação, seja qual for a quantidade de cader-
nos, damos por findo este capítulo.

Encadernação
Qualquer encadernação compreende ts seguintes
operações: preparo, costura, formação do livro, cobef-
tura e acabamento.
TRABALHA PARA TI

617

A) - PREPARO
-O preparo consiste em
pôr os cadernos em con-
dições de serem cosi-
dos, pois que se podem
apresentar em folhas
soltas, brochadas ou
cartonadas ou, ainda,
encadernadas mas com
as capas estragadas.
Quando em folhas
soltas, só há que dobrá-
las; quando brochados, é
preciso desmanchá-los
tirando os cadernos das
capas, se-parando-os e
colocando-os, depois de
limpos, como se
fossem sim- pies
folhas dobradas.
9_Livro CQSldo a COfdào
Começa-se por descer
a capa, puxando-a para a
esquerda, com o livro
colocado cm cima de
uma mesa, com a cabeça para cima e o lombo para o
lado esquerdo. O livro segura-se bem, com a mão
esquerda, e o pole-gar da direita vai deslizando ao longo
da lombada, premindo, para favorecer a descolagem.
Em seguida, actua-se com as duas mãos; o polegar direito
auxilia a aescolagem e a mão esquerda puxa a capa,
simultaneamente, colocando-se os polegares em
seguimento ao outro.
Cortam-se, com um canivete, as costuras e come-
sse a fazer a separação dos cadernos pelo lado de cima
° " v ro. Ter o cuidado de só separar uma folha de
cada vez, evitando que se rompam.
Colocam-se os cadernos uns por cima dos outros,
nnedida que se forem tirando e de forma a que fiquem
* sua ordem. Despega-se-lhes com um canivete ou
toa raspadeira, cautelosamente, a cola ou grude que a
« esteja aderente, para o que é conveniente, com ai-
518 VINTE INDÚSTRIAS

gum cuidado, formar com os cadernos uma espécie de


escada, o que se consegue comprimindo-os entre as mãos
e batendo os seus lombos na mesa, uma ou mais vezes.
No caso de os livros estarem encadernados, procede-se
como se acaba de indicar para os brochados depois de
lhes cortar as pastas pelas charneiras e dê os limpar
bem dos papéis ou panos que tenham ade-

10 — Descolação da costura para novamente encadernar

rentes. Quando a goma tiver endurecido muito, e os


panos e papéis estiverem muito colados, leva-se o livro
a uma prensa, molha-se a lombada, por uma ou mais
vezes, com massa diluída, para amolecer, e, passado
algum tempo, tudo se pode tirar. Depois de secar, tira-se
da prensa e soltam-se os cadernos, com cuidado.
As costuras feitas a arame desfazem-se despren-
dendo os cadernos da seguinte forma: levantam-se as
pontas do arame com um canivete e puxa-se, com este,
do outro lado do festo, o arame saliente.
Após o desmancho do livro, este não fica ainda
apto a ser encadernado; é preciso que tenha todas as
suas folhas abertas, para que não se formem rugas nas
páginas e para facilitar a prensagem, e que a dobra-
gem seja corrigida; finalmente, é preciso consertar e
limpar as páginas rotas, rasgadas ou sujas.
A abertura das folhas faz-se colocando o caderno
TRABALHA PARA TI 519

«obre uma mesa e abrindo-as com uma faca de cortar


papel, operação que só se realiza, é claro, se elas se en-
contrarem ainda fechadas.
A. correcção da dobragem efectua-se colocando os

11 -Como se cosem os livros

números cie folha uns sobre os outros, de modo a que


ts linhas impressas fiquem be-n sobrepostas e que as
margens fiquem bem iguais em todos o> cadernos.
620 VINTE INDUSTRIAS

Marca-se bem a nova dobragem, passando por ela a


dobradeira e carregando-a bem.
É mais delicado e requer extraordinária paciência
o trabalho de eliminar as nódoas existentes e reparar
os rasgões que haja.
As nódoas mais vulgares são as de gordura e de tinta.
As de gordura eliminam-se colocando sobre elas
papel mata-borrão e passando, por cima deste, um ferro
de engomar não muito quente e mudando, sucessiva-
mente, o mata-borrão enquanto as nódoas persistirem,
tantas vezes quantas as precisas para que elas desapa-
reçam por completo. Não dando resultado este tra-
tamento, cobrir as nódoas com um pacho de algodão
cm rama embebido de benzina, deixando-o secar entre
dois papéis de mata-borrão branco.
Outros processos consistem em esfregar as nódoas
com qualquer das seguintes misturas:
a)— Aguarrás, 40 gramas; amónia, 40 gramas.
b)— 20 gramas de uma solução alcoólica de sabão.
<•) — Éter acético, éter sulfúrico e álcool a 90°, 20
gramas de cada.
d) — Acetona, amónia e álcool, em partes iguais.
Sendo as nódoas de tinta, molhá-las com uma solu-
ção de cloreto de cal a 10%, com o que adquirem um
tom avermelhado que se elimina lavando, depois, com
amónia e, por último, com um pouco de água simples.
Enxugar com mata-borrão e deixar secar.
As de tinta de escrever tiram-se humedecendo-as com
algumas gotas de vinagre muito forte, em seguida,
enxugando-as com água simples; sendo antigas, lavam-se
com uma solução aquosa de ácido clorídrico ou sul-
fúrico, a 10%; as recentes, lavam-se com água salgada
ou vinagre branco e, depois, com água e sabão, hume-
decendo-as, cm seguida, com ácido clorídrico diluído em
água, a 1 %, que se deixa cair sobre a nódoa, gota a gota.
As de bolor ou mofo atenuam-se muito, passando--
lhcs por cima uma escova molhada em benzina °u
clorofórmio; ou misturando amido e sabão branco, cfl»
partes iguais, e juntando-lhe sumo de limão. Estender
a mistura sobre a nódoa e deixar secar as* ar livre.
TRABALHA PARA TI 521

A* nódoas de óleo eliminam-se lavando-as com


benzol ou com um soluto aquoso, a 10%, de tetraclo-
reto de carbono.
As manchas produzidas por ácidos minerais desa-
parecem molhando-as e esfregando-as com um pano
embebido em amónia diluída em água.
As nódoas de ferrugem eliminam-se colocando as
partes manchadas sobre uma vasilha com água a fer-
ver em que se dissolveram alguns cristais de ácido cftrico.
A parte manchada deve mergulhar na água; passados

13 —Como se dá goma nas guardas

uns 10 minutos, retira-se e esfrega-se com um pequeno


bocado de madeira bem aplainada; por fim, lavar com
amónia para eliminar os restos de ácido dtrico.
As reparações a efectuar nas folhas consistem, prin-
cipalmente, em aplanar as que estejam dobradas nos
cantos, o que é fácil, pois basta dobrá-las em sentido
contrário, pelos mesmos vincos; o papel das pontas,
a
desfazer-se, consolida-se com goma de carolo, apli-
cada em pouca quantidade.
, Os maiores trabalhos de reparação são os que res-
Peitam aos rasgões, os quais se produzem, as mais das
'ezes, nas folhas exteriores dos cadernos; neste caso,
*para-se do caderno a folha rasgada e colam-se as par-es
ra
sgadas, sem as carregar.
Se os rasgões são extensos, ligam-se as partes ras-
522 VINTE INDUSTRIAS

gadas com uma pequena c estreita tira de papel da mesma


qualidade e cor. Coloca-se um bocado de papel de
seda debaixo dos rasgões, fazem-se aderir bem os seus
bordos, de forma que as linhas impressas coincidam
exactamente; por cima da folha aplica-se um papel
branco e põe-se-lhe um peso em cima. Passados 2 a
3 dias, puxa-se este último papel, no sentido do com-
primento, e a ligação está feita.
Quando as folhas estão incompletas, faltando-lhes
bocados, cola-se, nas margens rasgadas, um bocado
de papel igual, mas um pouco maior, aplica-se sobre
as margens do lado gomado, cobre-se com papel de
seda e comprimem-se entre duas folhas de papelão.
O papel excedente corta-se, depois de tudo bem
enxuto.
Os furos produzidos pelo roer dos insectos, sendo
pequenos, tapam-se com papel de seda e pó de papel,
colando um de cada lado da folha, e leva-se à prensa;
se os buracos forem grandes, colam-se bocados de papel
igual (pode ser do anterrosto ou das guardas brancas),
aplicando goma nas margens do buraco e do papel,
e procede-se como ficou indicado para os rasgões.
Com o fim de eliminar do papel um tom negro que
adquire pela acção do ar, dó tempo, etc, lava-se com
uma boneca de algodão em rama embebido num soluto
de cloreto de cal a 3 ou 5%, segundo o tom é menos
ou mais escuro. Se o papel é pouco resistente, depois
de lavado mete-se num banho de água em que se dis-
solveram, por cada litro, algumas raspas de sabão, 8 gra-
mas de alúmen e 20 de gelatina, soluto que, previamente,
se côa por um pano. Depois de enxuto, mete-se a folha
entre cartões e leva-se à prensa.
Ainda antes da costura, há a fazer, além das ope-
rações atrás indicadas, mais as seguintes: consolidação
dos cadernos exteriores, prensagem, tosquia, conferên-
cia e serrotagem.
a) — Consolidação dos cadernos exteriores — A conso-
lidação faz-se por meio de duas tiras de pano com mais
de um centímetro que o comprimento do livro e cerca
de um de largura.
TRABALHA PARA TI 523

Na primeira folha do primeiro caderno, aberta,


aplica-sc a massa e cola-se na parte de dentro da folha,
por cima do festo, ficando metade da tira de cada lado
deste. Depois de seca, mete-se-lhe dentro o resto
do caderno e coloca-se no seu lugar; procede-se igual-
mente quanto à folha exterior do último caderno. Chama-
se a esta operação colocar carcelas de reforço, as quais
têm por fim tornar mais resistentes o primeiro c o
último cadernos, que são os que maior pressão sofrem
com o abrir e fechar dos livros.
b) — Prensagem — A prensagem dos cadernos é uma
operação indispensável, pois que, sem ela os cadernos
ficariam muito
soltos
e o livro com um
volume exagerado,
além de que
dificultaria muito a
costura.
Antes de o pren-
sar, sacodem-se
bem os cadernos,
acertan-do-os e
endireitan-do-os
bem. A prensagem
faz-se entre dois tabuleiros, um dos quais, o inferior, colo-
cado sobre o prato da prensa, de cartão; o outro, colo-
cado por cima dos cadernos, também de cartão, mas
tendo por cima um outro de madeira.
A prensa deve ser apertada fortemente e, passadas
umas 10 a 12 horas, reapertar de novo. O tempo que
demora a prensagem depende da altura dos cadernos,
mas, em geral, 24 horas é o bastante. Se os volumes
são grossos, é conveniente dividi-los em maços de,
o máximo, 10 cadernos e, desta forma, a prensagem
pode fazer-se em metade do tempo normal. Neste último
caso, é necessário reunir os cadernos prensados e prensá-
los por mais 12 horas.
c) — Tosquia — A tosquia consiste em aparar as
faces dos livros para evitar que as poeiras se deposi
tem nelas, servindo para os inscctos nelas deporem os
524 VINTE INDUSTRIAS

ovos, além de que o aspecto dos livros fica muito


melhor.
A tosquia não deve ser profunda para não tirar as
margens superiores dos volumes, o que, tecnicamente,
se pode considerar um crime: quer dizer, o tosquiado
não tem por fim prejudicar as margens, mas estabele-
cer o equilíbrio mais perfeito possível entre as margens
propriamente ditas e as margens falsas.
Há quatro maneiras de fazer a tosquia: à faca, à
tesoura, à grosa e à cisalha.
1) — À faca — Mede-se, com o compasso, a dis
tância do lombo a uma folha de largura média, entre as
mais estreitas, medida tomada no sentido da largura,
e marca-se essa medida, com um sinal, no caderno ex
terior. Acertam-se, igualando-as bem, as cabeças e as
lombadas, metem-se entre duas réguas ou tabuleiros
de madeira e levam-se à prensa, colocando a frente do
livro para diante.
Fa2-se, em cartão, um molde com as dimensões
exactas da folha de tamanho médio.
Assenta-se o molde sobre cada um dos cadernos,
e corta-se, a todos eles, a face direita e o pé.
2)— ÍÀ tesoura — O mesmo processo indicado acima,
com a diferença dos cortes serem feitos com uma
tesoura
bem afiada, em vez de se utilizar a faca.
3)— A grosa — O corte é feito estando os cader
nos na prensa, com a frente para cima,
empregando-se
uma grosa de carpinteiro, manejando-a sempre
para o
mesmo lado, até se atingir a marcação feita.
4)— À cisalha — Coloca-se uma ponta do com
passo, depois de ter tirado a medida, junto da
lâmina
fixa na cisalha, puxa-se o guia de forma a que fique
junto
da outra ponta do compasso, e fixa-se.
Põem-se os cadernos, sucessivamente, sobre o prato,
ficando a lombada a rasar com o guia. Corta-se com
uma pancada seca, que se obtém por meio de um movi-
mento rápido com o cabo da faca da cisalha. Cortadas
as frentes, cortam-se os pés, todos com a mesma altura.
Finalmente, aparam-se os cadernos.
É o processo mais rápido < fár»l de tosquiar.
TRABALHA PARA TI 525

<£) _ Conferência — Passam-se os cadernos, depois de


prensados, um a um, para verificar se estão em ordem.
e) — Serrotagem—A serrotagem tem por fim pre-
parar os cadernos para a costura, abrindo sulcos nas
lombadas.
As serrotagens são diferentes segundo se destinam:
à passagem das cordas que ligam o conjunto dos cader-

15—Como se arma uma capa para encadernação

nos aos cartões das capas ou formação dos nervos, para


| ponto de luya e para recortes de jornais, (figuras 5 e 12).
1) — Para cordas — Coloca-se o livro entre dois
suportes sólidos, com a lombada saliente cerca de um
centímetro, e vai à prensa, em sentido vertical, com a
cabeça para a direita e o lombo para fora. Marca-se,
com o auxílio de um esquadro, um traço, a lápis, para-
lelo à direcção da cabeça, na altura do começo da im-
pressão, e um outro traço na altura onde a impressão
termina. Traçam-se, mais, entre os dois traços acima
referidos, outros dois, pelos quais passarão as cordas.
9* primeiros, correspondentes à cabeça e ao pé, des-
tinam-se aos remates. Todos os traços são paralelos
entre si.
526 VINTE INDUSTRIAS

Em geral, fazem-se 5 traços, correspondentes a 5


serrotagens e a 3 passagens de corda, nos livros dos
formatos oitavo ou quarto. Os traços ou serrotagem
devem ser equidistantes, simétricos.
Feitos os traços, começa-se a serrotagem.
2) — Para formação dos nervos — As distâncias entre
os traços têm de ser rigorosas, limitando-se a serro-
tagem a um leve sulco, feito a maior ou menor profun-
didade, segundo a maior ou menor solidez da enca-
dernação
O material indispensável para efectuar a costura
é o seguinte: uma meada de corda de dois cabos, um
novelo de fio, uma meada de algodão branco e uma
agulha de coser lã, grossa.
Colocam-se os cadernos a coser sobre uma mesa,
com o lombo para o lado esquerdo, a frente para cima
e a parte oposta à lombada voltada para a frente. (R-
guras8 e 12).
Segura-se o primeiro caderno com o paginado para
o lado direito.
As figuras 8 e 12 mostram bem claramente como
se procede na costura. A nossa mão direita recebe a
agulha que a esquerda lhe envia, nunca abandonando
esta e o meio do caderno que se cose.
A agulha enfia-se, de fora para dentro, pelo primeiro
golpe, a mio esquerda recebe-a c enfia-a no segundo golpe
Cortam-se dois bocados de corda, tendo a largura
d* lombada acrescida de uns 5 centímetros para cada
lado. Coloca-se um destes bocados, entre o segundo
golpe, de maneira que a agulha, passando nos dois
sentidos — de dentro para fora e de fora para dentro
— fique presa ao fio da costura. Feito isto, a agulha
está do lado inferior do caderno; enfia-se pelo terceiro
golpe c dá-se um outro laço no segundo bocado de
corda, que se colocou de modo semelhante ao primeiro.
E indispensável, para que o trabalho decorra bem, que
o fio não fique ou passe torcido, a fim de a corda não
ficar mais puxada para qualquer dos lados do lombo,
o que tornaria impossível levá-la para o lado onde fosse
necessário.
TRABALHA PARA TT S27

Continua-se t enfiar a agulha, de dentro para fora,


portanto com a mão esquerda. Em se atingindo o
último golpe, toma-sc o outro caderno, cola-se sobre
o primeiro, tendo muito cuidado em que o paginado se
siga e que os cadernos fiquem bem justapostos. A agu-
lha entra no último golpe deste segundo caderno, se-
guindo-se a costura, mas em sentido contrário ao do
primeiro caderno, e assim sucessivamente com os se-
guintes.

16—Como se formam os lombos dos livro»

No primeiro golpe do caderno inicial, deixa-se ficar


uma ponta de fio da costura; no último caderno, a agu-
lha sai fora na altura do primeiro golpe, fazendo-te
o remate e esticando o fio com que se coseram os cader-
nos, sem deixar laçadas pelo meio; remate-se com um
nó que se faz com a ponta deixada no primeiro caderno
e com o fio de que se está servindo. Aperta-se bem
e estica-se o nó, introduzindo-o no primeiro golpe do
segundo caderno.
A costura dos cadernos seguintes vai-se efectuando
como se indicou para os dois primeiros.
O remate final faz-se com diversas passagens do
fio pelos cadernos cosidos, para que a costura se não
desmanche. (Figura 14).
528 VINTE INDUSTRIAS

Quando o fio se quebre ou o novelo acabe, liga-se


o fio novo ao antigo por meio de um nó pouco volu-
moso, nó que se introduz no caderno que se estiver
cosendo % e que nunca se deixa ao longo da lombada.
Terminada a costura, colocam-se as guardas e aplica-
se uma camada de grude no lombo e, quando seque,
bate-se a lombada para assentar bem as saliências que
tenha.
f) — Colar as guardas — No caso de não se terem
colocado as guardas antes, é agora a altura de o fazer.
Aplica-se grude no avesso da folha com que abre o
livro, intercalando uma folha de papel entre as duas
guardas, para que estas se não sujem ao aplicar o grude.
Este deve ser em pequena quantidade mas forte. Em
cima da pasta assentam-se as guardas com grude, e,
com a dobradeka, faz-se com que a guarda cole per-
feitamente, sem que fiquem rugas. Em seguida, puxa-se
a guarda, formando o encaixe. Mete-se, depois, o livro
na prensa, onde se conserva umas 4 ou 5 horas, devendo
haver o máximo cuidado em colocar bem direito, pois
os defeitos adquiridos nesta operação já não se podem
eliminar ou reparar. (Figura 13).
Feito isto, o livro está quase encadernado. Porém,
há operações complementares nem sempre exigidas nem
necessárias como os sinais e o requife, das quais se vai
tratar.
Na costura, pode empregar-se, em vez de corda
de dois cabos, uma fita de nastro. Neste caso, fazem-se
dois golpes, distantes um espaço igual i largura da
fita, em vez de um só golpe da largura da corda. O fio
da costura prende o nastro exteriormente. (Figura 14).
Este processo de costura denomina-se à francesa e exe-
cuta-se segundo as regras indicadas para o processo
anterior.
Cosido o livro e assente o lombo, está pronto a ir à
guilhotina, onde é aparado na cabeça, na frente e nos pés.
Em seguida, cortam-se os cartões destinados às
capas, devendo deixar-se, ao lado do lombo, um espaço,
pelo menos, de meio centímetro e, na frente, pés e ca-
beça, um centímetro a mais.
TRABALHA PARA TI S20

A guilhotinagem tem por fim igualar todos os ca-


dernos por meio de um corte preciso, firme, que deixe
a sua superfície completamente lisa.
Na frente, as margens só se devem cortar o estri-
tamente indispensável para que se igualem, pois que,
se o corte for grande em largura, as margens ficam
pequenas e o livro com mau aspecto, desvalorizado.
Toma-se por guia a folha mais estreita; tira-se a sua
medida e marca-se, com o compasso, no exterior do
'ivro, fazendo dois sinais, um em cima, perto da ca-

17—Aperfeiçoamento do lombo

beca, e o outro junto do pé, e unem-se os sinais por


uma recta. É segundo esta que se faz o corte na gui-
lhotina.
Deve atender-se a que o corte fica tanto mais per-
feito quanto mais lentamente a faca cortante avançar.
Esta deve estar muito bem afiada para evitar que esgarce
o papel. Cortar sempre no sentido da frente e nunca
ao recuar, do que pode resultar as folhas rasgarem-se.
Evita-se que os cartões se esfarelem ou amolguem
colando-lhes, nas margens em que se encontrarem os
lombos, uma fina tira de papel resistente. Colam-se,
ao longo dos cartões, duas tiras de papel que se do-
bram, envolvendo os seus lados, resguardando-os.
Nesta altura, o livro está pronto para nele se ini-
14
530 VINTE INDUSTRIAS

ciar a encadernação propriamente dita, que compreende


as operações seguintes: empastar, encaixar, formação
do lombo, consolidação do lombo e limpar os cartões.
a) — Empastar — Dá-«e este nome à ligação dos
cadernos cosidos e aparados, aos cartões que lhes ser-
virão de capas.
Começa-se por desfiar as cordas, com um canivete,
não as deixando muito grossas nem muito tinas: no
primeiro caso, porque formariam saliências na lombada;
no segundo, porque dariam pouca segurança ao livro.
Um dos cabos das cordas corta-se junto ao lombo do
livro (veja figuras 9 e 21) .
Humedeccm-se os dedos e esfregam-se, com eles, as
cordas e enrolam-se, a partir do meio para cima para
o mesmo lado, entre as palmas das mios, até que as
pontas fiquem tesas e torcidas.
As cordas desfiadas e com pontas torcidas esricam-se,
prendendo um dos seus extremo* a um camarão, pof
exemplo, e puxando-as.
Colocam-se sobre as capas (pastas); com um fura-
dor, faz-se um traço junto de cada corda e a uns dois
centímetros delas, faz-se um furo, no sentido do avesso
do cartão. Volta-se este e fura-se em dois sitio* próxi-
mos do primeiro e à sua direita, era sentido oblíquo.
Enfiam-se as cordas, do lado em que se fizeram os furos,
nos respectivos olhais; enfiam-se, depois, pelos se-
gundos furos, para o lado de fora, isto é, primeiro en-
fiam-se as cordas do direito para o avesso e, em seguida,
em sentido contrário, ficando o empaste feito numa
das pastas; empasta-se a outra de modo idêntico.
Terminada a operação nas duas pastas, passa-se o
lombo com um trapo húmido ou aplica-se-lhe uma ou-
tra camada de cola forte, mais fraca.
O empaste pode fazer-se, além do processo indi-
cado, que se designa por á francesa, pelo processo deno-
minado à inglesa, que se faz como à francesa até ao pri-
meiro furo, mas fazendo-se um outro na linha hori-
zontal daquele, para o lado oposto; fazem-se 3 furos
em forma de triângulo. Entrando a corda no furo C,
TRABALHA PARA TI 531

do direito para o avesso, saindo no furo B, passando


na horizontal, de ai para o furo A e torna a passar o C.
Este empaste só se emprega para obras que exi-
jam muita solidez.
O empaste pode fazer-se com fitas de nastro, em
vez de cordas, marcando nelas, de cada lado, um risco,
indicativo da largura. Colocam-se no cartão e corta-se
o «spaço correspondente à largura da fita.
b) — Encaixar — Introduz-se o livro nas pastas,
voltando, com uma dobradeira, o lombo para cima da

18 e 19-Colocação do forro do lombo

capa, dos dois lados da lombada, tendo o máximo cui-


dado em que a dobradeira não toque na capa, para o
que se desvia esta ao voltar o lombo.
É um trabalho fácil de descrever, mas difícil de
executar com perfeição.
A pressão que se exerce para adaptar o livro à capa
tem de ser forte e tem de ser igual em toda a lombada
para que os cadernos não se separem. Termina-se
com a passagem da dobradeira, algumas vezes, ao longo
do lombo, para que a ligação seja perfeita.
Procede-se da mesma forma dos dois lados do livro.
Est» forma de encaixar denomina-se à francesa.
532 VINTE INDUSTRIAS

Pelo processo à inglesa, depois de colar os cader-


nos, arredonda-se o lombo, por meio de pequenas pan-
cadas dadas com o martelo, faz-se o encaixe e empas-
ta-»e. Para este fim, mete-se o livro na prensa dentro
de dois tabuleiros de cartão, que fa2em de amparos.
Com o cabo do martelo, vão-se empurrando os cader-
noe para os lados, começando no meio e continuando
para as duas pontas, boleando a lombada. Depois, faz-se
o encaixe, nos lugares dos remates.
Aconchegam-se os cadernos (lombo) à capa por
meio de pancadas leves com o martelo e esfregam-se,
depois, para corrigir e aperfeiçoar a fixação, no sentido
do comprimento.
Este processo é mais fácil e rápido do que o pri-
meiro descrito e a figura 16 mostra bem a maneira de
proceder.
É necessário que o encaixe seja feito em ângulo
recto, devendo os cadernos ficar inclinados para os
kdos, em declive suave, e bem direitos no centro.
Se o lombo tiver nervos, tem de se usar um mar-
telo que caiba no espaço entre eles compreendido, para
os não atingir. Neste caso, o livro tem de ficar um
pouco mais saído dos tabuleiros.
Os volumes em cuja costura se empregarem fitas,
devem ser batidos mais violentamente no lombo, para
diminuir a saliência da costura, mas não tanto que corte
as fitas.
c) — Formação do lombo — O boleamento indicado
na operação do encaixe tem por fim único facilitá-lo.
Não se destina a dar ao lombo a forma elegante que,
numa boa encadernação, mais prende e cativa o olhar.
As curvas nas lombadas, mais ou menos pronuncia-
das, têm de ser perfeitas.
Consegue-se isto passando a palma da mão, pre-
viamente humedecida com água, pelo lombo, o que se
faz para tornar o grude brando e para que não estale
com as pancadas que têm de se dar na lombada. Bate-se
o lombo com um maço de madeira, do lado mais afas-
tado para o mais próximo do operador, do meio para
as pontas e com pancadas regulares. Volta-se o livro
TRABALHA PARA TI 633

e repete-se o mesmo no lado que estava para baixo.


Repete-se as vezes precisas para que o lombo adquira
o abaulado desejado.
d) — Consolidação do lombo — Consolida-se o lombo,
aplicando-lhe uma camada de massa. É preciso fazê-
lo cuidadosamente para que a massa não atinja as
folhas, devendo colocar-se um cartão envolto em papel,
entre o livro e os tabuleiros, para que as pastas não
adiram ao cartão e para que o livro não se suje.
Põe-se no meio de dois tabuleiros, rentes aos car-
tões, com o lombo fora dos tabuleiros, e vai à prensa.

20—Colocação do forro da pasta do livro

Aplicam-se 3 camadas de massa, com os intervalos


de 10 a 15 minutos; passados 10 a 15 minutos da apli-
cação da terceira camada, tira-se a que houver em ex-
cesso e esfrega-se até que o lombo fique bem limpo.
A massa restante tira-se com aparas de papel.
Aplica-se em seguida, no lombo, uma tira de tar-
latana, com mais 6 a 8 centímetros que a largura e dois
mais do que o comprimento do livro, faz-se chegar até
perto do encaixe e assenta-se bem para que adira, e
vai assim à prensa, da qual se retira umas 10 a 12 horas
depois, mas de modo a que a tarlatana não se desloque,
para o que se puxa o livro e se empurram os tabuleiros
ao mesmo tempo, utilizando as duas mãos.
e) — Limpar os cartões — Das operações realizadas
resulta ficarem, sempre, bocados de cola ou massa e
fios de tarlatana aderentes aos cartões. A limpeza
faz-se depois do livro ter saído da prensa e estar bem
seco, aparando o loraNs *> cirando dele todos os corpos
534 VINTE INDUSTRIAS

estranhos, só deixando ficar a tarlatana existente entre


as cordas, que se colocará nas pastas, para as fortalecer.
Tem de se passar uma revista rigorosa às pastas, no
encaixe, para o que se abrem e retiram todos os bocados
de massa e impurezas que se encontrem; a cola
poderia actuar ligando partes que deveriam ficar soltas;
as impurezas alteram o aspecto dos livros encaderna-
dos e dificultam as operações finais, que são: forrar o
lombo, pôr cantos, pôr a lombada, os sinais, o requife
e colar as guardas.
1) — Forrar o lombo — Corta-se uma tira larga de
papel forte, que possa cobrir o lombo por completo e
eom mais uns 10 centímetros do que a largura dele.
Aplica-se no lombo do livro, colocado entre dois
cartões velhos, uma camada de grude e outra no papel
som que se deve forrar e coloca-se no livro, rapidamente,
dmm lado e outro do lombo, puxando simultaneamente
dos dois lados, a fim de que a capa não fique a oscilar
debaixo da tira com que se forra o lombo. Depois do
papel ter aderido bem, mete-se o livro numa prensa,
resguardada entre dois bocados de cartão, conservan-
do-o aí uns 10 a 15 minutos.
Entretanto, cortou-se, numa folha de cartolina, uma
tira com a largura cxacta do lombo, a qual se cola à
pele (carneira, percalina ou outra) com que se forra
exteriormente a lombada, para a tornar mais consistente.
É o chamado lombo solto. As figuras 15 e 18 mostram
bem qual a sua função e a forma de o colocar.
Na percalina cortam-se, ainda: a lombada (forro
do lombo); os cantos, que podem ter a forma de um
triângulo rectângulo ou serem sobre o comprimento,
de tamanho proporcional ao do livro que se encaderna.
A largura da lombada deve ser igual à do lombo
c o seu comprimento deve ter mais 3 a 4 centímetros
que o livro, no pé e na cabeça, isto é, de cada lado.
2) — Pôr cantos — Passa-se, pelos cantos, um pincel
moinado em grude e colocam-se depois nestes, os cantos
das pastas, voltam-se e batem-se para não ficarem muito
salientes no interior das pastas. Batem-se, colocando-os
sobre uma pedra ou bocado de madeira rija, interca-
TRABALHA PARA TI 635

lando-lhes um bocado de cartão para que as rugosi-


dades L da pedra ou da madeira (quando nlo forem
bem lisas) produzam mossas na percalina.
Ter cuidado em não sujar a percalina com o grude;
porém, se tal suceder, passar-lhe por cima uma mis-
tura de clara de ovo, batida em castelo, com um pouco
de vinagre.
Praticam-se, a canivete, uns golpes curtos, atingindo
quase os dos remates correspondentes às partes supe-
riores e inferiores dos dois lados das pastas, os quais

21—Ligação da capa do livro

devem ser dados com cuidado, para não cortarem o


fio dos remates. Usa-se, para esse fim, um canivete.
3) — Pôr a lombada — Para a colagem da lombada
ao lombo, empregar uma cola forte, fazendo o possí-
vel por não molhar a percalina, e coloca-se, no seu lugar,
o lombo solto, bem no centro da lombada. Feito isto,
assenta-se a percalina, ajuntando-a bem ao cartão das
pastas, sem que o lombo-solto saia do seu lugar, ficando,
no lombo, entre as duas pastas. As figuras 18 e 19
dispensam mais ampla descrição da maneira de efectuar
este trabalho.
Assente a lombada, metem-se para dentro as oure-
las da percalina e puxa-se o encaixe com o auxilio da
Hobradeini.
53» VINTE INDUSTRIAS

4)— Sinais — São as marcas que se fazem puta.


indicar o ponto onde a leitura foi interrompida.
Con
sistem em fitas ou cartões da cor da capa, tendo o
com
primento do livro, medido na diagonal, mais uns 5
cen
tímetros. Põe-se a fita ou o cordão no meio do
livro,
deixando-a 2 centímetros saliente do lado da
cabeça;
fecha-se e aplica-se, do lado desta, um pouco de
massa,
à qual se faz aderir a fita, espalhando-a.
5)— Requife — Dá-se este nome a um cartão estreito
que há entre a capa e o corte dos livros, nos
extremos
das lombadas e que se destina a consolidá-las.

indicaremos a forma de fazer requife manual, pois
que
o mecânico só interessa aos profissionais e a sua
exe
cução é fácil, não necessitando de ser descrita.
O requife tece-se sobre uns rolos ou cilindros de
papel, achatados, enrolando à sua volta corda de coser,
até ficar com a largura das seixas.
Bate-se a cabeça do livro, põe-se este na ponta duma
prensa, com o lombo para dentro, obliquamente. En-
fia-se uma agulha de bordar a filé, de grossura média,
em fio escolhido, e com ela se vai passando o fio que
volta do rolo. Remata-se passando a agulha por den-
tro do último caderno e prende-se, com um nó, à cadeira
de remate. Acaba-se o trabalho cortando uma tira de
papel de seda, com um comprimento duplo da gros-
sura. Aplica-se massa no lombo, nos sítios dos pontos
que atravessaram os cadernos e nos nós. Disfarçam-se
as saliências que se tenham formado e puxam-se as
pontas dos nós para o meio do lombo, tapam-se os
intervalos entre o lombo e os pontos de requife com
estopa; por cima, uma leve camada de massa e depois,
a tira de papel de seda, saída das extremidades do lombo
cerca de um centímetro. Faz-se aderir o requife bem ao
papel. Finalmente, arranca-se o papel, evitando rasgá-lo,
para o que é preciso actuai com cuidado.
TRABALHA PARA TI 637

Diversas espécies de cobertura

As encadernações podem ser de percalina, com os


cantos e lombada de carneira, toda em carneira c de
fantasia.
1) — Sé de percalina — É indispensável que o grude
aplicado na percalina não seque antes de se terminar
a sua colocação, sob pena de a percalina se inutilizar ,

22—Como se cola o livro na capa

Para o evitar, procede-se do seguinte modo: toma-»e


o livro com o lombo-solto já cortado, os golpes feitos
no papel que forrou o lombo, e aplica-se grude cm
toda a superfície da percalina, que deve ter um tama-
nho maior do que o livro, cerca de dois centímetros,
voltando-se para dentro este excesso. Coloca-se-lhe
o livro cm cima, deixando, de todos os lados, o espaço
necessário para permitir que se volte. Aplica-se-lhe
o lombo-solto, coloca-se a outra parte da percalina
sobre a outra pasta, voltam-se as ourelas para dentro,
puxa-se o encaixe c colam-se as guardas.
2) — Com cantos e lombada de carneira — Chifra-se a
carneira em toda a sua volta e nela se cortam os canto*,
o lombo-solto e colocam-se estes e a lombada nos seus
lugares, colando-os com goma de farinha e não cota
53* VINTE INDUSTRIAS

cok forte. Os cantos são colados antes das lomba-


das; finalmente cola-se o papel de fantasia ( com grude )
e as guardas e mete-se na prensa.
3)— Toda em carneira — Procede-se como se a enca
dernação fosse toda de pcrcalina. Vai à prensa
antes
óe se colarem as guardas e, depois destas coladas,
leva-se
novamente à prensa.
4)— De fantasia — Os motivos dependem da espé
cie da obra a encadernar e, em grande parte, do
gosto,
njais ou menos requintado, do possuidor do livro
ou
do encadernador.
É um trabalho mais artístico do que de técnica da
eocadernação, em que a pintura, o desenho à pena e
a douradura, as incrustações, desempenham o papel
principal.

Complementos das encadernações


Como complementos das encadernações, embele-
zando-as, usam-se as nervuras ou nervos nas lombadas
e os rótulos, indicando os nomes dos autores e os títu-
los das obras, muitas vezes, as datas, quando se refiram
a colecções de publicações periódicas, como jornais,
revistas, etc.
As nervuras executam-se colando no lombo-solto,
antes de o colocar no livro, um número variável de
tiras de cartão, maior ou menor segundo os nervos
se queiram mais ou menos salientes, mas não deve exce-
der a três, e a largura tem de ser igual à do lombo.
Por cima das tiras coloca-se a carneira, alisando-a
e aconchegando-a em volta das nervuras. É um traba-
lho que requer muito cuidado para que todas fiquem
iguais entre si e equidistantes, devendo as extremas
começar: a da cabeça, onde se inicia a impressão e, a
dos pés, onde termina.
Os rótulos são constituídos por um dourado feito
na pele que forre as capas, ou ainda por bocadinhos
de carneira que se colam na mesma. Uns e outro*
colocam-se na lombada ou na frente.
TRABALHA PARA TI 539

No segundo caso, as carneiras, com inscrições dou-


radas, colocam-se entre as nervuras; são feitos com a
carneira chifrada, para não ficarem salientes, e colam-se,
ao lombo ou na frente, com goma de farinha. Como
enfeites, podem os títulos, na frente, ser escritos a ouro,

23—Prensa para formação dos lombos

com ou sem cercadura dourada e, igualmente, nas lom-


badas; nestas, sem cercadura.
As capas podem ser lisas ou terem gravados dese-
nhos mais ou menos artísticos, na cabeça e pé, assim
como na capa posterior, onde não fica mal gravar, a
ouro ou a preto, o nome dos editores.

Encadernação de pastas de escritório

As pastas para secretárias cortam-se em cartão bem


^rosso, do tamanho mais conveniente, que, sob o ponto
de vista estético nunca deve ser exagerado.
Depois, cortam-se, com as dimensões das pastas
menos 0,5 centímetros em toda a volta, quatro bocados
MO VINTE INDUSTRIAS

de papello muito fino; em seguida, mais um lombo--


solto, com o comprimento da pasta e só uns dois
centímetros de largura, em cartão n.° 120 de papelão
palha.
Escolhe-se um forro apropriado — percalina ou car-
neira chifrada não muito espessa — de tamanho maior
do que o da pasta, pois há a contar com a espessura
do lombo e com as voltas a dar na pasta. Aplica-se
cola forte (sendo percalina) ou goma de farinha (no
caso de ser de carneira), põe-sc-lhe em cima uma das
pastas, depois o lombo-solto e, por fim, a outra pasta.
Alisa-se bem o forro, voltam-se as ourelas para o
avesso da pasta e passa-se a forrar o lombo do lado
para onde se voltaram as ourelas, o que se faz pela forma
seguinte: Corta-§e uma tira de percalina, com o tama-
nho exacto das pastas, no sentido da altura e a largura
do lombo acrescida de mais um pouco, de cada lado,
excessos que se colocam em cima das pastas. Volta-se
a tira, na cabeça e nos pés, cerca de meio centímetro
para o lado de dentro, com o que ficam do tamanho
das pastas, e cola-se, com grude, na parte inferior destas.
A seguir, forram-se as pastas, interiormente, com
papel de fantasia, em harmonia com a cor da percalina,
deixando as ourelas voltadas para dentro.
Para fazer os foles da pasta, corta-se papel forte
no comprimento dos lados da pasta, forram-se, exte-
riormente, de papel de fantasia, que se cortou, previa-
mente, do mesmo tamanho dos foles; colam-se estes
aos cartões menos perfeitos; as partes dos cartões for-
rados com papel de fantasia ficam voltadas uma para
a outra; nos seus avessos colam-se as ourelas deixa-
das na percalina dos foles.
Colam-se os foles aos dois cartões, deixando a maior
largura daqueles para o lado interior da pasta.
Deixa-se, num dos cartões forrados, uma das oure-
las dos lados maiores, que servirá para cobrir os outros
dois depois de se colarem os foles. Estes colam-se
dos dois lados dos cartões, desprezando o cartão cuja
ourela não se cortou; o lado dos foles que foi forrado
com percalina deixa-se ficar para fora do lado dos foles.
TRABALHA PARA TI

541

Colados estes, aplica-se, na parte de cima dos cartões,


uma camada de grude, e liga-se o cartão, cuja ourela
não foi colada, a qual fica para o lado oposto ao da maior
largura dos foles.
Leva-se a uma prensa e aperta-se fortemente.
Só falta tratar dos cantos onde se introduz mata--
borrão, para o segurar.
Cortam-se em papelão fino e forram-se de perca-

lina, voltando as arestas do lado volt?d-> sobre o cartão


forrado, destinando-se as outras a uni-las ao cartão.
Cola-se esta parte à pasta de forma a que as seixas fiquem
iguais em toda a volta e prensa-se.
Volta-se para dentro a ourela desprezada e cola-se
de maneira que, ao voltá-la, ela atinja os outros cartões
colados. Cokm-sc na pasta e vai à prensa para que
adiram fortemente.
643 VINTE INDUSTRIAS

Querendo as pastas acolchoadas, introduz-sc algo-


dSo em rama, empastado, entre a percalina que forra
a pasta e a parte superior desta última.
Evidentemente, em vez de percalina, podem empre-
gar-se peles ou tecidos, tais como a carneira, pele de
porco, detone, perganióidc, etc.

Porta-blocos pata apontamentos

Cortara-se duas capas, de cartão forte, com as di-


mensões que se queiram dar ao bloco e um outro car-
tão mais fino, com comprimento menor (uns dois cen-
tímetros) destinados a colocar no interior, e com menos
meio centímetro nos outros lados, que se destinam à
formação das seixas.
Forram-se os cartões fortes, voltam-se as ourelas
para o lado de dentro, num só dos lados do bloco, e
forra-se o interior do lombo; o lado virado para dentro
forra-se não com percalina ou carneira, mas com papel
de fantasia.
O fole é formado pelo bocado de cartão que se cor-
tou e nele se introduzirá o bloco, ficando preso pelas
ourelas não voltadas; forra-se o outro lado mas, no
local de junção das duas, volta-se para o interior um
bocado de forro.
É conveniente fazer os porta-blocos de harmonia
com as dimensões dos que se vendem já feitos, do que
resulta economia. Forram-se com uma tira de papel
igual ao que se empregou em forrar o porta-blocos, pre-
gando-sc-lhc na cabeça um pedaço de cartolina, o
qual se introduz no cartão deixado no interior da pasta,
que fica preso pelas ourelas de carneira.

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