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AVALIAÇAO SOMATIVA DA “TRILHA DOS GIGANTES” NA EPTEA MATA

DO PARAÍSO – VIÇOSA/MG

Rogéria C. L. de Castro – Universidade Federal de Viçosa


rclcastro@yahoo.com.br – (31) 9305 3523

Gínia César Bontempo – Universidade Federal de Viçosa


giniabt@ultimato.com.br – (31) 3892 7018

Jairo Rodrigues Silva - Universidade Federal de Viçosa


jairocienciasambientais@yahoo.com.br – (31) 9229 8356

Eixo temático: O homem: trilhas interpretativas e educação ambiental.

Introdução
A Interpretação Ambiental permite provocar estímulos, curiosidade e reflexão
através da interação do visitante com o ambiente a ser observado, com vistas à
abordagem da realidade de forma crítica, enfatizando os aspectos que na maioria das
vezes passam despercebidos.
Diante das possibilidades de visita às áreas naturais, sobressai a implantação
de trilhas interpretativas. Estas, além de propiciar o contato com a natureza, o
descanso, a fruição são também meios eficazes na interação homem/natureza e
podem contribuir na formação da consciência ambiental (SIQUEIRA, 2004).
Antes de ter a função educativa, as trilhas tinham como principal função suprir
a necessidade de deslocamento, mas ao longo dos anos, houve uma alteração de
valores em relação às trilhas, que passaram a ser utilizadas como uma nova forma de
ligação com a natureza. As trilhas interpretativas não existem somente para a
comunicação de fatos, datas e conceitos, mas também para compartilhar experiências
que levem os visitantes, sejam alunos, professores ou turistas a apreciar, a entender,
a sensibilizar, a cooperar na conservação de um recurso natural e também a educar
(MENGHINI, F. B. 2005).
Através da interpretação dos aspectos naturais e culturais de um percurso
escolhido, busca-se também despertar os recursos sensoriais e a criticidade do
visitante, num processo que envolve a revalorização dos lugares e a compreensão da
linguagem da natureza (LIMA, F. B. et all 2003).
O monitor, guia ou condutor, ao interagir com o visitante a respeito da relação
homem-natureza, permite questionar-se, provocando-o e estimulando-o à reflexões,
bem como valorizar os conhecimentos prévios do mesmo. O visitante tem a
oportunidade de vivenciar suas próprias experiências buscando a compreensão da
realidade em seus mais diversos aspectos. Espera-se, assim, alcançar
comprometimento, conscientização e modificação de comportamentos, valores e
hábitos sociais do visitante, como cidadão.
É de suma importância a busca incessante pelo conhecimento com base nas
necessidades do homem de compreender, analisar, entender e explicar os fatos e
fenômenos do mundo real através da observação, sentimento, pensamentos e ações
que ocorrem consigo. O conhecimento está sempre a se complementar e/ou
transformar, bem como varia de um indivíduo para outro.
De acordo com TABANEZ et al. (1997), a avaliação de abordagens adotadas
em programas de educação ambiental pode trazer contribuições significativas ao
processo, na medida em que procura aspectos eficazes ou ineficazes, otimizando os
esforços, tempo e recursos despendidos. Essa busca de eficácia pode ser
especialmente importante em um país como Brasil, que reúne ao mesmo tempo uma
diversidade biológica das mais ricas do mundo e uma grande escassez de recursos
disponíveis para assegurar sua proteção.
Ainda para a autora supracitada, a conservação das áreas protegidas, que hoje
concentram a maior parte da biodiversidade, depende grandemente da eficácia das
estratégias adotadas. Daí a grande importância de programas de Educação ambiental
serem planejados, testados e implementados de forma a contribuírem para a proteção
e o manejo dessas áreas.

Caracterização da Área de Estudo


A Mata do Paraíso localiza-se no município de Viçosa, Zona da Mata de Minas
Gerais, a 229 quilômetros da capital Belo Horizonte e a sete quilômetros da
Universidade Federal de Viçosa, possuindo uma área de 194 hectares (Figura 1).

Figura 1 – Localização Geográfica.


A Mata do Paraíso é um fragmento da Mata Atlântica rico em espécies da flora
e da fauna, algumas em extinção, como o gato mourisco (Felis yagouaroundi) e o
macaco sauá (Calicebus personatus). Tem extrema importância regional já que é uma
das poucas áreas com grande extensão de floresta nativa. Sua vegetação consiste de
matas de topo, de encosta e de baixadas, possibilitando, assim, a conservação de alta
biodiversidade. Estão presentes também, importantes nascentes do ribeirão São
Bartolomeu, fonte de grande parte do abastecimento de água da cidade de Viçosa.
Seu entorno é, em sua maioria, formado por chácaras de lazer e pequenas
propriedades, nas quais predominam a pecuária e lavouras de subsistência.
No passado, a Mata do Paraíso sofreu interferência com exploração de
pedreira e desmatamento. Numa das represas localizadas na Mata era feita, até a
década de 50, a captação de água para abastecimento de todo o município. Hoje a
vegetação encontra-se em estágio médio e avançado de regeneração.
Em 1996, após 30 anos de convênio entre a Prefeitura Municipal de Viçosa e a
Universidade Federal de Viçosa (UFV), a área conhecida como Mata da Prefeitura
passou a pertencer definitivamente à UFV, sob a coordenação do Departamento de
Engenharia Florestal.
Em 2003 foi criada e inaugurada a Estação de Pesquisa, Treinamento e
Educação Ambiental (EPTEA) Mata do Paraíso. Em seu interior localiza-se o Centro
de Educação Ambiental, espaço construído com o apoio do Ministério do Meio
Ambiente, que dispõe de auditório, salas de aula, banheiros, copa/cozinha, além de
uma área gramada.
Apesar da Mata do Paraíso ser uma área protegida, ela não se enquadra em
nenhuma categoria pertencente ao SNUC, mas possui objetivos semelhantes aos das
Unidades de Conservação como proteção da flora e da fauna, preservação, pesquisa,
treinamento e desenvolvimento de atividades de interpretação e educação ambiental.
Em 2004 foram implantadas quatro trilhas para sediar as atividades de
interpretação e educação ambiental, procurando reaproveitar caminhos pré-existentes,
minimizando impactos ambientais: Trilha da Gameleira (200 metros de extensão);
Trilha Caminho das Águas (800 metros); Trilha dos Gigantes (1.225 metros); e
Trilha do Aceiro (7.600 metros).
Iniciaram-se, então, os trabalhos de interpretação e educação ambiental nas
trilhas por meio de uma equipe multidisciplinar formada por estudantes de graduação e
pós-graduação de diferentes cursos da UFV. Foram atendidos nos anos de 2004 e
2005 cerca de 1700 pessoas entre alunos de escolas públicas e particulares,
escoteiros, religiosos e esportistas.
Objetivos
O presente trabalho se desenvolveu com o objetivo de efetuar
sistematicamente uma avaliação somativa na “Trilha dos Gigantes” na EPTEA Mata do
Paraíso como forma de analisar a eficácia das técnicas de interpretação e educação
ambiental empregadas no local.
Mais especificamente visou-se à:
• Organização, sistematização e implementação de uma metodologia de avaliação
da eficiência das técnicas interpretativas empregadas nas trilhas da EPTEA Mata
do Paraíso;
• A geração de dados estatísticos e científicos para analise, discussão e
reformulação ou validação das técnicas de interpretação adotada na trilha dos
Gigantes da EPTEA Mata do Paraíso;
• Conhecer e divulgar os resultados obtidos com as atividades desenvolvidas nas
trilhas (especificamente a dos Gigantes) na EPTEA Mata do Paraíso;
• Estimular a continuidade e aperfeiçoamento daqueles que atuam na EPTEA Mata
do Paraíso, principalmente os monitores das trilhas;
• Incentivar a avaliação periódica das atividades de educação e interpretação
ambiental na EPTEA Mata do Paraíso, bem como a análise e a divulgação dos
resultados;
• Melhorar os serviços e atividades de educação e interpretação ambiental
oferecidos pela EPTEA Mata do Paraíso.

Metodologia
Características da Trilha dos Gigantes
A Trilha dos Gigantes apresenta formato elíptico, é de relevo levemente
acidentado e tem 1225 metros de extensão. Foi implantada a partir de um caminho
pré-existente que levava à pedreira, quando ainda existia a atividade na área.
É uma trilha guiada por estagiários capacitados de diferentes cursos da UFV, cujo
público alvo são alunos das séries finais do Ensino Fundamental e alunos do Ensino
Médio.
Devido à presença, no passado, de diversas atividades antrópicas na Mata do
Paraíso, tem-se privilegiado nesta trilha, conteúdos como ação antrópica, mata
primária e secundária, regeneração natural, além de aspectos do ecossistema local,
como a fauna e flora características da Mata Atlântica, a biodiversidade, as inter-
relações presentes no ecossistema e a importância da estação para o município de
Viçosa e região.
Existem 22 pontos previamente marcados na trilha que funcionam como um
cardápio de possibilidades. Ao agendar uma visita à Mata, o interessado é inquirido a
respeito de seus objetivos. A partir dos objetivos levantados, são, então, definidos os
pontos de parada para interpretação ambiental, que geralmente, ficam em torno de 12,
para que se percorra a trilha, com qualidade, num tempo aproximado de 1 hora e 30
minutos.

Descrição da Metodologia Normalmente Adotada na EPTEA


Assim que chegam à Estação, os alunos são encaminhados ao Centro de
Educação Ambiental, onde é feita uma apresentação a respeito da história,
características e importância do local. A seguir, são realizadas dinâmicas de grupo,
com o objetivo de motivar e entrosar os participantes para as atividades seguintes.
Cada estudante prepara seu próprio crachá, feito a partir de uma lâmina de
eucalipto, cortada em bisel, facilitando o contato entre os monitores e alunos. O grupo
é dividido em grupos menores de, no máximo, 15 alunos por monitor para facilitar a
observação e discussão durante o percurso. Só, então, os alunos seguem para a
Trilha dos Gigantes.
Neste momento os participantes são instruídos a respeito de como se
comportarem na trilha e é feito um breve alongamento, em duplas, estimulando a
cooperação mútua.
Durante a trilha, o papel do monitor é intermediar o contato direto dos alunos
com os elementos da natureza, estimulando a observação, comparação e o exercício
dos órgãos dos sentidos, tendo o cuidado de não despejar uma série de informações
desconectadas e, sim, procurando construir conhecimentos significativos com os
participantes.
Após a trilha, é feita uma ‘roda de reflexão’, em que se estimula o
compartilhamento entre os integrantes do grupo, por meio de perguntas como: ‘O que
você mais gostou?’; ‘O que você leva para casa?’. ‘O que você leva para a sua vida?’;
‘Muda alguma coisa?’; ‘O quê?’
A metodologia descrita acima tem sido construída, modificada e adaptada ao
longo dos dois últimos anos, conforme as impressões e discussões do grupo de
atendimento, entretanto, sem uma avaliação formal e sistematizada da eficácia da
trilha como instrumento de educação ambiental. Com o objetivo de obter indicações
mais sólidas, foi realizada a pesquisa descrita a seguir.
Avaliação Formativa e Somativa
A pesquisa foi desenvolvida com alunos da 1ª série do Ensino Médio do
Colégio de Aplicação – COLUNI, órgão da UFV. Essa série foi selecionada por ser a
intermediária entre a 7ª série do Ensino Fundamental e a 3ª série do Ensino Médio,
público-alvo da Trilha dos Gigantes. O COLUNI foi selecionado, justamente por ser
uma escola de aplicação, que no transcorrer de seus 40 anos de existência, tornou-se
referência de um ensino de qualidade, sendo considerado um paradigma para escolas
públicas e privadas.
O COLUNI apresenta quatro turmas de 1ª série, cada uma com 40 alunos.
Para selecionar os participantes da pesquisa, os pesquisadores foram à escola e
apresentaram a proposta de trabalho em todas as turmas, sendo todos os
interessados cadastrados, e posteriormente selecionados através de sorteio.
O pré-teste foi aplicado ao grupo controle e aos três grupos experimentais no
próprio Colégio, quatro dias antes da atividade na Mata do Paraíso. Já o pós-teste foi
aplicado aos grupos experimentais logo em seguida às atividades realizadas, ainda na
sede da Estação. Tanto na aplicação do pré-teste quanto na do pós-teste, tomou-se os
devidos cuidados para que não houvesse comunicação entre os grupos e entre os
integrantes de cada grupo.
Com a necessidade de um grupo controle e de aplicação de diferentes
tratamentos, os pesquisadores decidiram, de antemão, que os alunos do grupo
controle, participariam normalmente das atividades oferecidas. Essa decisão foi
tomada para evitar que os alunos perdessem o interesse em participar da atividade e
também por se considerar redundante a possibilidade de se aplicar pré e pós-teste,
àqueles que não foram submetidos a nenhum tratamento. Desta forma, para o grupo
controle, considerou-se o mesmo resultado do pré-teste, no pós-teste.
Os 60 alunos foram aleatoriamente separados em quatro grupos de 15 alunos,
sendo um grupo controle, que não foi exposto ao programa (não fez pós-teste), e três
grupos experimentais submetidos a tratamentos diferentes: (1) trilha não monitorada;
(2) trilha monitorada; (3) atividade de motivação e trilha monitorada (Figura 2).
PRÉ-TESTE _______________ PRÉ-TESTE

PRÉ-TESTE T1 ou T2 ou T3 PÓS-TESTE

______________ = controle
T1 (Tratamento 1) = trilha não monitorada
T2 (Tratamento 2)= trilha monitorada
T3 (Tratamento 3) = atividade de motivação e trilha monitorada
Figura 2 – Desenho experimental.
No T1 os alunos foram diretamente para a Trilha dos Gigantes onde o monitor
fez uma breve apresentação sobre a Estação. Os alunos foram estimulados a
percorrer a trilha com espírito investigativo, procurando fazer observações e
comparações, entretanto, sem a interferência do monitor que os acompanhava.
No T2 os alunos foram para a lagoa da Estação, próxima a entrada da trilha,
onde o monitor apresentou a Estação, fez instruções a respeito de como se
comportarem na trilha e o alongamento conforme já especificado anteriormente, em
seguida, seguiram para a Trilha. Neste tratamento, o monitor guiou o grupo e
estimulou, todo o tempo, a participação de seus integrantes. Foram selecionados,
previamente, 12 pontos de parada e observação.
No T3 os alunos passaram pelo procedimento padrão feito pelos monitores da
Estação. Primeiramente foram para o Centro de Educação Ambiental, onde o monitor
fez a apresentação da Estação, utilizando-se de recursos como maquete da Mata do
Paraíso, além de painéis com o mapa, flora e fauna do local. Em seguida, os alunos
conheceram as instalações internas e participaram da dinâmica do crachá. Após esta
atividade motivacional, o grupo se deslocou para a trilha, onde também foi guiado pelo
monitor e estimulado a participar do processo de interpretação ambiental nos mesmos
pontos de parada e observação do tratamento anterior (T2).
Em todos os tratamentos foi feita uma parada no ponto mais alto da trilha onde
há um mezanino com bancos, para descanso e lanche.
Para evitar ameaças à validade do estudo, usou-se o recurso do sorteio na
composição dos grupos, eliminando dessa forma possíveis co-relações, como por
exemplo, o círculo de amizade, fator bastante significativo entre adolescentes. Os
alunos só tomaram conhecimento do grupo que participariam na saída para a
atividade.
A hipótese nula dessa pesquisa é a de que não há diferença significativa entre
os grupos experimentais e o de controle e entre os tratamentos.
O questionário, como instrumento utilizado na pesquisa, foi testado
previamente entre alunos da 2ª série do Ensino Médio de uma escola particular do
município de Viçosa, que havia agendado a Trilha dos Gigantes com o objetivo de
conhecer o bioma Mata Atlântica e a avaliar a ação antrópica sobre o ambiente
natural. A partir deste teste foram feitas algumas modificações nos questionários para
facilitar na tabulação e interpretação dos dados.
As perguntas giraram em torno do conhecimento dos alunos a respeito de
temas como interpretação ambiental, ação antrópica, Mata Atlântica, mata primária,
mata secundária, processo de regeneração, além de questões relacionadas à
afetividade do estudante pela atividade e pelo local, como por exemplo, seu interesse,
sua opinião e sua sugestão.
Além dos questionários, foi observado o comportamento dos estudantes nos
diferentes tratamentos, o que ajudou a identificar as atividades que os motivaram e
aquelas que deveriam sofre algum tipo de modificação.

Resultados e Discussão
Apesar do programa de Educação Ambiental na EPTEA Mata do Paraíso existir
há alguns anos com suas atividades freqüentemente requeridas pelas escolas do
município e da região, conseguiu-se com certa facilidade obter alunos que nunca
tivessem participado de atividades educativas no local. Desta forma, não se correu o
risco de alguém já conhecer as características, espécies do local, tornando possível
manter o rigor científico dada à aleatoriedade na seleção dos participantes. Tal
facilidade está no fato de o COLUNI possuir uma grande quantidade de estudantes em
uma mesma série, bem como e, principalmente, pela diversidade de cidades de
origem destes estudantes.
È importante mencionar, que apesar de alguns alunos não terem sido
sorteados para participarem da atividade, não houve pressão por parte deles nem dos
professores em nenhum momento das atividades realizadas.
O perfil geral dos participantes pode ser assim descrito: 47,3% do gênero
masculino e 53,7% feminino, com idade variando entre 15 (57,4%) e 17 anos (14,8%).
Todos os participantes têm acesso a internet, sendo que para a grande maioria
(69,1%) tal acesso se dá na sua própria casa. A maior parte dos participantes (67,3%)
já esteve em uma área de proteção ambiental, que variou entre hortos e parques.
No que se refere às respostas fechadas do questionário, estas receberam um valor,
resultando em diferentes pontuações de acordo com o rendimento dos alunos.
As médias obtidas foram tabuladas e o resultado segue abaixo na Tabela I que
apresenta a quantidade de participantes (N), a média e o desvio-padrão da média para
cada tratamento no pré e pós-teste. Como é possível notar, a maior média alcançada
no pré-teste foi 16,23 pelo grupo participante do T1; já no pós-teste essa foi de 19,71,
pelo grupo participante do T3.
Tabela I: Médias, números de indivíduos e desvios-padrão da média para cada tratamento nos
pré e pós-testes
TESTE TRATAMENTO N MÉDIA DESVIO PADRÃO DA MÉDIA
PRE T1 13 16,23 2,92
T2 12 15,00 4,00
T3 14 14,64 3,43
CONTROLE 14 14,36 3,63
POS T1 13 15,92 3,73
T2 12 22,33 1,97
T3 14 19,71 3,34
CONTROLE* 14 14,36 3,63
* aplicou-se os mesmos valores obtidos no pré-teste

A análise de significância dos resultados foi feita utilizando o Intervalo de


Confiança (IC) para as médias obtidas em cada tratamento no pré e pós-teste (Tabela
II) e para a média das diferenças obtidas entre os rendimentos dos participantes em
cada tratamento (do – de) (Tabela III). Com isso, foi possível comparar
estatisticamente os resultados obtidos entre os grupos de tratamentos e de controle,
tanto no pré quanto no pós-teste.

Tabela II – Comparação entre pré e pós-teste.

INTERVALOS DE CONFIANÇA (α=5%)


Tratamento Pré-teste Pós-teste
T1 P ( 14,47 ≤ m≤ 17,99) P ( 13,67 ≤ m ≤ 18,17)
T2 P ( 12,46 ≤ m ≤ 17,54) P ( 21,08 ≤ m ≤ 23,58)
T3 P ( 12,67 ≤ m ≤16,61) P ( 17,79 ≤ m ≤ 21,63)
Controle P ( 12,27 ≤ m ≤ 16,45) P ( 12,27 ≤ m ≤ 16,45)

Na comparação entre as médias obtidas no pré-teste, nota-se que não houve


diferença significativa entre os grupos de tratamento, indicando que todos os
participantes partiram do mesmo nível. No pós-teste, os grupos de tratamento T2 e T1;
T3 e T1; T2 e Controle; e T3 e Controle mostraram diferenças significativas quando
comparados entre si. No entanto, os grupos T2 e T3; e T1 e Controle não se
mostraram estatisticamente diferentes.

Tabela III: Intervalos de confiança da média das diferenças entre pós e pré-teste.
INTERVALOS DE CONFIANÇA (α=5%)
Tratamento do – de*
T1 P ( -2,48 ≤ m ≤ 1,86)
T2 P ( 4,8 ≤ m ≤ 9,86)
T3 P ( 7,7 ≤ m ≤ 11,87)
* do – de = média das diferenças obtidas dos valores pós-teste menos pré-teste.
O resultado apresentado na tabela acima mostra que para o T1 a diferença
obtida entre pós e pré-teste é estatisticamente nula, com isso pode-se concluir que
não houve efeito deste tratamento na melhoria da cognição dos participantes. No
entanto, para o T2 e para o T3 o efeito na cognição dos participantes foi positivo, ou
seja, o rendimento após a realização das atividades foi em média, superior ao de
antes destas.
Este resultado sugere que, com a aplicação dos principais tratamentos (2 e 3)
utilizados, houve progresso, melhorando o rendimento dos alunos. Convém mencionar
que o resultado obtido no T1 não correspondeu ao esperado, que era de que os
alunos conseguissem perceber certas características do ambiente e,
conseqüentemente, melhorarem sua pontuação no pós-teste, mesmo sem a atuação
do monitor. Portanto, acredita-se que a desmotivação gerada pelo tipo de tratamento
tenha levado ao desinteresse e descompromisso no preenchimento do pós-teste,
ocasionando tal resultado.
Quando comparados entre si, nota-se que, tanto o T2 quanto o T3, diferem
estatisticamente do T1, gerando resultados melhores, porém o T2 e T3 não diferem
estatisticamente entre si, o que sugere que ambos produzam o mesmo resultado.
Contudo, acredita-se que o T3 por ser mais completo, se não responsável pelo maior
rendimento dos alunos, é eficiente na motivação e participação destes, o que
representa um ganho indiscutível.
O tempo despendido em cada tratamento variou: o grupo não-monitorado
demorou cerca de 50 minutos para percorrer a trilha, apesar de algumas paradas para
descanso devido ao sinal de cansaço apresentado por estes. Também notou-se
insatisfação e desinteresse do grupo, uma vez que não surgiram perguntas e não
ocorreu iniciativa de interação com o acompanhante, que por muitas vezes teve de
solicitar silêncio do grupo que estava agitado. Apesar disso, houve momentos
inesperados que surtiram algum efeito, como o encontro com uma pesquisadora da
área de botânica que coletava dados durante a realização da atividade, sendo possível
a troca de informações no que se refere ao assunto por ela pesquisado.
O grupo monitorado levou aproximadamente 2 horas e 15 minutos, uma vez
que os alunos perguntaram muito, havendo muitas paradas e interação com o monitor.
Por fim, o grupo monitorado, com a atividade de motivação, levou 3 horas, dada a
complementaridade das atividades, e também pela grande participação dos alunos,
paradas e interação com o monitor.
É importante mencionar que não foi observado nenhum sinal de cansaço e
desinteresse entre os participantes dos tratamentos 2 e 3. Pelo contrário, os sinais de
entusiasmo, interesse e a participação foram evidentes com destaque para a
interpretação do ambiente que se deu de forma espontânea, sendo iniciada pelos
próprios estudantes (Figura 3).

Figura 3 – Participantes na trilha e atividade de motivação (confecção crachá).

Após as atividades, o grupo do T1 ficou mais de 1 hora no centro de visitantes,


esperando os demais participantes; com isso demonstraram claramente desmotivação
e chateação por não terem recebido explicações sobre o local. Desta forma, optou-se
por aproveitar o tempo disponível e fazer uma trilha menor, “Trilha Caminho das
Águas”, procurando enfocar os mesmos temas abordados na Trilha dos Gigantes,
pelos demais grupos. Como isso, conseguiu-se obter maior satisfação deste grupo
com relação à visita a EPTEA.
No que se refere à Mata Atlântica identificou-se aspectos curiosos e
conflitantes como, por exemplo, a menção do lobo-guará (62,3%), tamanduá-bandeira
(52,8%) e jabuticabeira (27,3%) como espécies desse ecossistema, enquanto
espécies como palmito, macaco-sauá e o samambaiaçu receberam respectivamente
13,2%, 47,2% e 32,1% dos apontamentos. Outro destaque foi que 9,6% dos
participantes apontaram a presença de grande quantidade, mas pouca diversidade de
espécies, como uma característica desse bioma.
Já em relação à dinâmica florestal, os participantes mostraram-se bem
informados quanto a definição de mata primária, mata secundária e mata em
regeneração, o que foi claramente notado durante o percurso da trilha, quando estes
mencionavam e comentavam a respeito dessa dinâmica.
No geral, a maioria dos estudantes, apontou a ação antrópica como a ação do
ser humano sobre o meio natural, tanto as interferências negativas quanto as
positivas. No entanto ao apontar exemplos, a grande maioria tendeu a indicar efeitos
como desmatamento e queimadas (75%), represamento de rios (73,1%) e extração de
minério (73,1%), apesar de 73,1% apontarem a construção de trilhas também como
exemplo.
A relação entre a EPTEA e o município de Viçosa, mais apontada tanto no pré,
quanto no pós-teste refere-se à sua importância pelo oferecimento de atividades que
estimulam a preservação e conservação da natureza.
Vale destacar que mesmo antes de se visitar a EPTEA Mata do Paraíso,
quando questionados (pré-teste) sobre a possibilidade do local enfrentar algum tipo de
problema, a maior parte dos estudantes reconheceu que áreas de proteção ambiental
sempre têm dificuldades financeiras e interferências humanas indesejadas, seja dos
visitantes, seja das comunidades do entorno ou de agentes não específicos. Depois
das atividades, já no pós-teste houve alteração nas respostas, que em sua maioria
retratou o problema da biopirataria e impacto do homem no local, o que demonstra
que os participantes ficaram realmente sensibilizados com a questão. Acredita-se que
esta modificação derivou-se do fato de um dos pontos de interpretação referir-se a
uma importante pesquisa realizada com uma espécie vegetal peculiar, de propriedade
curativa, que se desenvolve nas proximidades da Trilha dos Gigantes, e que vem
sendo alvo de biopirataria além de se mostrar bastante atrativa à visitação.
Ao enfocar a sugestão de uma espécie símbolo, ficou claro que entre os
participantes do grupo não monitorado a espécie mais apontada foi a Dorstênia sp.,
devido ao encontro com a pesquisadora da espécie durante a trilha. Já entre os
participantes dos grupos monitorados (T2 e T3) a Embaúba, foi a que mais se
destacou, aparecendo também a Painera, a Dorstênia e a Gameleira.
Por fim, a maior parte dos estudantes (65,5%) apontou a sensibilização e a
conscientização sobre a conservação e a preservação da natureza como a principal
importância de se desenvolver uma atividade como esta. Para todos os participantes,
a atividade gerou reflexões importantes, sendo que a maioria mencionou a forma com
que o ser humano se relaciona com o meio natural apontando a importância e a
urgência de mudanças de atitude e de comportamento.
Esses resultados se mostram ainda mais importantes se levarmos em
consideração que a maioria dos participantes apontou como interesse principal em
participar da atividade, a oportunidade de fazer uma trilha (64,2%) ou de conhecer um
lugar diferente (71,7%), e, não, a de refletir sobre os problemas ambientais (37.7%).
Como isso acabou ocorrendo, percebe-se a importante contribuição da EPTEA para
com eles e, consequentemente, deles para com o ambiente.
Conclusões e recomendações
Acredita-se que a decisão de oportunizar as atividades a todos participantes,
após a aplicação do pós-teste, foi um fator importante para uma participação
responsável por parte dos alunos. Da mesma forma, que a atividade de motivação foi
fundamental no estímulo à participação, sendo que o crachá confeccionado pelos
alunos facilita grandemente no relacionamento destes com o monitor, uma vez que
este pôde se dirigir à pessoa e não a um “mero” aluno.
Foi claramente visível a mudança na percepção dos participantes com relação
ao interesse pela visita à EPTEA e a sua importância para o município e região,
Este estudo resultou em respostas diferenciadas devido à variação na
apreciação, compreensão e singularidade do lugar, além da variação no que se refere
ao estimulo das suas várias formas de olhar e aprender o que lhe é estranho.
A dinâmica de trabalho participativo (T2 e T3) estimulou os alunos a
observarem a natureza e trocarem idéias sobre os temas interpretados.
A Interpretação ambiental pode ser comparada a um laboratório vivo, passível
de observação e análise dos aspectos que evidenciam a ação antrópica e a ação da
natureza no que se refere a situação do meio ambiente no passado e nos dias atuais,
contextualizando-se a provável e possível recuperação de áreas degradadas.

Bibliografia Citada

TABANEZ, Marlene Francisca; PADUA, Suzana Machado et al. Avaliação de Trilhas


Interpretativas para Educação Ambiental. In: PADUA, Suzana Machado; TABANEZ,
Marlene Francisca (Orgs.). Educação Ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília:
IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), 1997. p.89-102.

PROJETO DOCES MATAS. 2002. Brincando e aprendendo com a Mata – manual


para excursões guiadas. Belo Horizonte, 407 p.

Folder EPTEA – Mata do Paraíso. DEF/UFV, 2005.

LIMA, F.B.; MACHADO, M. K.; HOEFEL, J.L.M.; FADINI, A.A.B. Caminhada


Interpretativa na Natureza como Instrumento para Educação Ambiental. In: II
Encontro Pesquisa em Educação Ambiental: abordagens epistemológicas e
metodológicas. UFSCar, São Carlos. 2003.

MENGHINI, F.B. As trilhas interpretativas como recurso pedagógico: caminhos


traçados para a educação ambiental. Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade do Vale do Itajaí.
Itajaí-SC 2005, 103p.
SIQUEIRA, L. F. Trilhas interpretativas: Uma vertente responsável do (eco)
turismo. Caderno Virtual de turismo, nº 14, 2004. Disponível em: http://www.ivt-
rj.net/caderno/anteriores/14/siqueira/siqueira.pdf Acessado em 12 de outubro de 2006.

Agradecimentos

Aos Profs do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, Wantuelfer Gonçalves e


Gumercindo Souza Lima, coordenadores da EPTEA, pela liberação e pelo apoio no
desenvolvimento deste trabalho;

À Profa. Eunice Bitencourt Bohnenberger, diretora pedagógica do COLUNI, pela


liberação dos alunos para participação na pesquisa.

Aos Profs. Hélio Paulo Pereira Filho e Moisés Nascimento Soares, professores de
Biologia do COLUNI, pelas sugestões e colaborações.

Aos alunos das 1ª séries do COLUNI que participaram da pesquisa com compromisso
e responsabilidade.

Ao estudante do curso de Engenharia Florestal e monitor da EPTEA, Dênis Alves


Salles, e à estudante de pós-graduação Cecília Felix, pela preciosa colaboração.

Aos funcionários da EPTEA Alair, Vanderli e Fernando por manterem a Mata do


Paraíso sempre linda e aberta a todos.

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