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Se o mito fruto da mitificao ser que a desmitificao produz um desmito, ou apenas destri um mito?

? Um problema sugerido pela obra de um artista-plstico que tambm filsofo, ou de um filsofo que artista: Jos Neto. Ou simplesmente Z como o Z Povinho, Z o Portugus eterno. Neto como descendente, cmplice, dos velhos da tribo, os Avs, os Sbios, os Fundadores. Sem esoterismos exprime-se atravs de objectos destinados reciclagem, e que ele recicla casando-os, dando-lhes cor, sugerindo outras formas. So pedaos de mveis, restos de aparelhos elctricos, pequenos troncos, objectos familiares; outros, irreconhecveis, protagonizam pequenos volumes, pequenas excrescncias dinamizando superfcies coloridas, numa obra que se quer exuberantemente imperfeita porque, intencionalmente, d a aparncia de inacabada, instvel, interrogativa. Alguns, suspensos, ganham movimento com uma corrente de ar. Paradigmtica a Vida de Artista, instvel e cheia de pregos: quantas promessas no cumpridas, outras tantas dores. Bem presente a imagem do Poder, isto , o Dinheiro figurado numa nota verde que ora surge isolada, ora em cascata, smbolo da Nova Ordem Mundial, ou da Velha Ordem da Inveja e da Ganncia. O Dinheiro, o mecenas, mas tambm o corruptor da Arte, entre outras desventuras. Uma via de interrogao permanente, substituindo a linguagem mtica por uma meta-linguagem tecida numa cumplicidade quase tribal, de uma intimidade sincera, sem pompas, sem atavios. Que outro caminho seno o do ar puro, reaprendendo a respirar, e, numa curva, reencontrar, talvez, a Liberdade, o ltimo Mito? E seguir adiante... Paulo Machado de Jesus
(Antiqurio diletante).

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