Você está na página 1de 249
BIBLIOTHECA UNIVERSAL ANTIGA E MODERNA 0 PASTOR PEREGRINO FRANCISCO{RODE foRIGtnS 1 LOBO, ys pana ae tea COM UMA NOTICIA BIOGRAPHIOA D0 AVOTOR VOLUME I 6.* SERIE — NUMERO 23 LISBOA 32 ~ CASA EDITORA DAVID CORAZZI 40, Rua da Atalaya, 52 FILIAES de D, Pedro, 1° a Brazil, 38, Rua da Quitanda, Rio de Ja Porto; 127, Praca in INN i ers S | lea © 50° NOTICIA BIOGRAPHICA Francisco Rodrigues Lobo 6 un dos mais perfeitos, anienos, conceituosos ¢ elevados lyricos porluguezes. Hombrcia com os nossos maiores potas Wesse ge- nero, com'os maiores do seu tempo, ¢ de todos os tempos, em Malia ¢ Hespanha. Nao Ihe levam a palma, nem o ‘Tasso no genero pastoril, nem Jorge de Montemér, nem Camdes, nem Bernardim Ribeiro, nem Sade Miranda e, portante, nenbum outro dos menofes que estes. Viven, come homem, vida obscura, e d'etla se sabem apenas pouquissimos factos. Nasceu na segunda metade do seculoxw e 6 assim contado na pleiade lyrica do seculo immediato. Moram seus paes André Lazaro Lobo ¢ Joanna de Brilo Gavido, pessoas ricas e nobres, que ¥iviam em Leicia, onde o poeta yiu a fuze onde passou relirado a wajor parte da sua vida, em condiydo dependente na casa dos duques de Caminha. Numa das digressies que costumava fazer até Lishoa, ao descer o Tejo, yindo de Santarem embarcado, perecou desastrosamente afogado no rio, nautra- gando por effeilo de tempestade. © seu cadaver, atrojade 4 praia, foi conduzido Ao anligo conveata de §, Francisco da Cidade (a que se incendiou depois em 40 de navembro de 4744) e ahi sepultado n'uma capella, gue chamarami das Quei- madas. A forma da sua morte ¢ relerida pelo padre Manuel da Esperanga e pelo bispo do Grao Para e celebrada por win poeta postugaez, pouco menos que desco- sheciso, Antonio Lopes da Yega ¢ por D. Thomaz de Noronha, em um soneto ja Phenis. _ Tao indifferente foi para os contemporaneos a biographia d’este, alids gran- dissimo engenho poetico, que nem a dala da sua morte, enbora tao assignalada pelas circamstancias desastrosas que a revesliram, nos foi por elles conservada. A este respeito diz Lonocencio, no seu Diccionario Bibliographico: _+Posto que os biographos n&o assignem a data precisa d’este lamentavel suc- Possvs & certissimo que elle sé podia ter Jogar depois do anno de 1623, em que odrigues Lobo ainda viyia, pois n’esse anno imprimia uma das obras que adeante mencionar. _ Estava, porémn, reservada para o auctor do Diccionario histerica politico ¢ L BIBLIOTHECA UNIVERSAL ANTIGA E MODERNA litteraria de Yortugal (P. Perestrello da Camara) impresso no Rio de Janeird em 1850, tomo. EI, pag. 254, a insigne descoberta de que 0 desastrado fim de Lobu oscorréra em 1558, isto 6, provayelmente bons dea annos antes d'efle vir av mundo t» A primeira obra de Rodrignes Labo, que foi impressa, dala de 4596-¢ intite- large assim < Romanees. Primeira e segunda parte. Coimbra, por Antonio Barreira, 2596, £6.°. Foram reimpressos em Lisboa, por Manuel da Silva, em 4654, 8° Com ex* cepode de dous, esemptos em portuguez, todos os mais o 840 em hespantot. Em 4601 publicou a sna admiravel e formosa Primavera, Sahiy em 4.°, na impressao de Jorge Rodrigues, Esta obra foi reeditada mais duas vezes em vida do auctor. Nao sabemos a data da segunda edicao; a terceira, emendada pelo auctor, coma se adverte no proprie frontispicio, é de 1649, em 4.°, impressin de Aatonio Alyares. Depois loi reimpressa em 1633, 1635, 1650, 1670, 1723, 4774, Todas as edigdes, incluindo esta ultima, se acham completamente exhans- las. Muitas d’ellas, cita-as Innocencio, sol) af de Barbosa; nao porque as visse. +A Primavera, diz um biographo, é um livro no genera a Diana de Jorge de Moutemdr, mas ainda. mais pastoril do que esta. Para nds n&o deixa de ser en- fadonho 0 tecide do enredo, Mas tudo resgatam os deliciosos versos que esmal- tam esta Primavere, e que ainda hoje merecem applauso e deleitain quem lhes sabe apreciar a pla.idez verdadeiratnente campestre ¢ a inexcedivel harmonia.> Eo sr. Theophito Braga diz ; «Na pleiade do seculo xy, Rodrigues Lobo é o tyrico mais completo ¢ apai- s0nado. Nos seus versos, que se resentem jada exuberanciade imageas e abu- so de epithetos, resultantes da admiragdo nado disculida da poesia castelhana, ha ainda a disciplina, quinhentista de quem estudon bastante 9 texto de Cambes @ ao mesmo tempo soube contecer o que ha de bello na tradigao popular, Ro- drigues Labo teve o allo senso artistico de exprimir os seus sentimentos na Jorma das Serranilhas «aquelle outro canto, que ao som do rabi cantam‘os serranos.» (JJesenganade, pag. 323). N’este gener 6 realmente inimitavel; a tradigao commuanica-lhe o seu vigor, ¢ 0 pocta eleva-se 4 Delleza fixada por Chrtstovam Faledo e Bernardim Ribeiro nas suas Ectogas. Elte usa a redondilha cuinaria, a que chama, segundo a designagao antiga, Kudechas. No Pastor Pere- gringo, diz elle o nome da mulher que o inspirava; «Chamava-se ella Luiza. ..* Nas Memorias do Bispo do Gram Pard lé-se qne Redrignes Lobo «tinha cantado nas ribeiras do Liz e Lena, nos loucos amores da ata ou dam do palacio do duque de Caminha, em Leiria...» «Rodrigues Lobo cbedece 4 imitagdo italiana nas prosas insufsas das Pas- toraes;- porém, nas Eclogas, publicadas em 1606, allia a simpticidade popular coma graga do endecasytlabo camoniano. A posi¢ao de inferioridade em que viveu no palacio da duqu¢ de Gammha, em Leiria, no Ihe deixon imprimir nos iy gersas a galante audacia com que Cam@es allucinava as damas da cérle de . Jodo Ai.» Damos em seguida a enumeragdo. das mais obras impressas de Rodrigues Lobo, tanto ppriuguezas como hespanholas, segundo a ordem chronologica da respectiva publicagao + As Eclogas. Lisboa, pot Pedro Craesbeeck, 1603, 4.°. . Q Pastor peregrina ; segunda parte da Primavera, Lisboa, por Antonio Alvares 4608, 4.° Esta obra loi reeditada em 1618, 1654, 4724, 1723, e 4744. Todas aa edigbes esto completamente exgolladas. Hasta citar este facto, para ajuizar do

Você também pode gostar