Hoje, na rubrica Entrevistas do Além,iremos

entrevistar D. Anrique, Fidalgo de Solar.

D. Anrique nasceu no ceio de uma família

nobre, em Bragança, tem mulher e sete
filhos, mas neste momento encontra-se no
Inferno para onde se mudou em 1517 após a
sua morte.

Como vai a vida aí, no inferno?

Fidalgo: “Vai um bocado mal, porque nunca pensei que
eu, Fidalgo de Solar, fosse parar ao inferno. Isto é uma
tristeza! De manhã sou açoitado e à tarde torturado com
pingos de azeite a ferver.”
D. Anrique, diga-nos, lá na terra cometíeis muitos
pecados?
Fidalgo: “Eu sempre fui à missa, rezava, é claro que não
tinha pecados. Mas que pergunta tão absurda!”

Fidalgo, como é que caracteriza a sua família?

Por que razão pensou que iria para o paraíso?
Fidalgo: “Porque sou Fidalgo de Solar, ora essa! Não
basta? E por isso deveria ter entrada directamente no
Paraíso.”
O que achou da barca do Inferno da primeira vez que
a viu?
Fidalgo: “Bem, a minha família é muito nobre, tenho 7
filhos muito inteligentes e a minha mulher é muito bonita,
não é como as outras que se vêem por aí. Ela é de uma
classe social muito acima do nível das outras pessoas da
nobreza. Coitada, como chora por mim. Santa mulher.”

Fidalgo: “Eu achei a barca muito bimba e desagradável, Vemos que ficou muito surpreendido com o seu
era pouco asseada. Aquilo não era para mim, eu precisava destino final por ter ido parar à barca do inferno.
de um sítio mais requintado para descansar em paz.” Quer dirigir algumas palavras aos nossos leitores
em sua defesa?

Fidalgo: “Eu sou Fidalgo de Solar, sempre tive um nível de

E encontrou aí alguns conhecidos, outros nobres ou
familiares?
Fidalgo: “Espantosamente sim. Fiquei possesso! Nunca
pensei encontrar aqui meu pai. Onde já se viu, uns
Fidalgos do nosso nível aqui, tão maltratados, no meio do
povinho… Devia de haver um inferno só para nós…
vida muito elevado, acho que era claro que deveria ter ido
para o paraíso. Sempre fui a missas, rezei, sinceramente
nunca pensei que isto poderia acontecer. É óbvio que me
surpreendi! Nunca fiz mal a ninguém, não percebo como é
que estou nesta barca infernal!”
Obrigado por nos permitir realizar esta entrevista.

Fidalgo: “De nada! O prazer foi todo meu!”

In “Chique”, 27-02-2009, Lisboa

Os repórteres do além : Joana Rosado, Marco Moreira, Olga Burdash

9ºD