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“Eu não sei o que eu possa parecer para o mundo; mas para mim eu pareço ter sido

apenas como um garoto brincando na praia, e me divertindo, de vez em quando


encontrando uma pedra arredondada ou uma concha mais bonita que as comuns,
enquanto o grande oceano da verdade repousa desconhecido perante mim.”

A frase do grande Sir Isaac Newton dá a dimensão da reverência da mente


investigativa do cientista diante do Universo. Recentemente vi no YouTube a
trilogia de vídeos “Intelligent Revolution”, do professor Michio Kaku, do City
College, de Nova Iorque, um dos mais proeminentes físicos de nosso tempo. Para o
professor Kaku, as descobertas das leis fundamentais da Natureza abriram
possibilidades sem precedentes para a Humanidade no século XXI. Segundo ele,
“estamos fazendo a transição histórica da era da descoberta científica para era do
domínio da ciência, em que seremos capazes de manipular e praticamente moldar a
Natureza aos nossos desejos”.

“Mas o que tem isso a ver com um blog de sustentabilidade?”, você pode estar se
perguntando. Bem, caro leitor, tem a ver com a minha profunda decepção com a
perspectiva canhestra, antiquada, em que, na maioria das vezes, é colocada a
discussão sobre as mudanças necessárias à mitigação do desequilíbrio ambiental do
planeta – como as ocorridas na última reunião da cúpula do G8, realizada no Japão,
de 9 a 11 de julho, da qual o presidente George W. Bush, de triste memória,
participou pela última vez como chefe-de-estado. Ora, biocombustíveis, por
exemplo, estão anos-luz distante de representarem uma solução para o problema de
emissão de gases causadores do efeito-estufa, porque servem para propulsionar
motores de máquinas feitas com materiais produzidos de forma eletro-intensivas.
Portanto, o buraco é muito mais embaixo.

Tive oportunidade de ver o filme The 11th Hour (A Última Hora), dirigido por
Leonardo DiCaprio, na Conferência Global 2008 em Sustentabilidade e Transparência,
da Global Reporting Iniative, realizada em Amsterdã, em maio último. Se você ainda
não o viu, veja – mesmo que você, assim como eu, não vá lá muito com a cara do ex-
namorado de Gisele Bündchen. Há entrevistas sobre design sustentável que são
absolutamente fantásticas. Uma das provocações, feitas por não-me-lembro-quem, que
mais me desconcertou foi ser levado a pensar na energia que foi necessária para
sua mãe fabricar esse esqueleto que mantém você sentado enquanto lê este blog e
aquela necessária para fabricar a fibra Kevlar. A Natureza não pode, como nós, se
dar o luxo de consumir energia nessa escala – ridiculamente humana.

E, com isso, volto ao meu desconforto com a perspectiva em que, na maior parte das
vezes, é colocada a discussão sobre sustentabilidade e ao professor Michio Kaku e
à tecnologia - neste caso, à nanotecnologia. Para o professor Kaku, por volta de
2015, 2020, máquinas de escala molecular serão capazes de devorar resíduos tóxicos
de rios, lagos e mares ou de matar, uma a uma, células de tumor. Em seu comentário
"a revolucionária nanotecnologia", em 2 de julho, na rádio CBN, o jornalista
Ethevaldo Siqueira fala da paletra que assistiu sobre o tema, do professor
Henrique Toma, aqui da USP, uma autoridade brasileira no assunto, cujo livro “O
Mundo Nanométrico” estou lendo.

Admirável mundo novo para o qual parecemos ainda não ter olhos, ou, parafraseando
Stanley Kubrik, temos eyes wide closed. Ou, ainda, evocando a imagem de Roberto
Campos, temos a nossa lanterna na popa enquanto o grande oceano da verdade repousa
diante de nós.

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