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A enfermeira Internada num hospital, Celestina, moribunda, implorou que a levassem para longe dali, queria seus ltimos

dias junto dos familiares. Tinha talvez um ms de vida. O possvel foi feito. S resta esperar. O que tem a fazer dar-lhe o mximo de conforto. Os ltimos dias sero difceis. Muitas dores... Mas doutor, no seria melhor que ela ficasse aqui? No. O melhor fazer tudo o que ela quer. Um ms, doutor? Pode ser mais, pode ser menos... Menos? Tem que se acostumar com a idia, senhor Antnio, infelizmente...

O senhor Antnio lamentava e sofria a morte prxima da esposa. Relembrava, de p, no corredor do hospital, o dia em que a conhecera. Chovia forte e Celestina tentava, em vo, abrir o guarda-chuva. A observava de longe, do outro lado da rua. Na verdade, daquela distncia no dava pra ver a estampa da futura esposa do senhor Antnio. Estava escuro. Sem demora, ele a socorreu. Mas no foi o suficiente para uma pneumonia se instalar em seu frgil par de pulmes. Desde l a sade dela nunca mais fora a mesma. Em pouco tempo estava amarrado Celestina. Dos vinte anos de unio, conta-se seis filhos: Clio, Celso, Celeste, Antnio, Antnia e Gorete. Esta ltima outra histria. Quase se separaram por causa dela. Nenhuma combinao de nome os agradava. Como seria a ltima, queriam que tivesse o nome dos dois. Sem chegar em um acordo, foi dado este. Depois da Gorete nunca mais deixaram de brigar, porque quem escolheu foi ele. Antnio sugeriu: Que tal Gorete! E foi com muito entusiasmo. Nem no dia do casamento vira tanto brilho no olhar do senhor Antnio. Desde ento, sempre quando discutiam ela jogava na cara: E a Gorete, tem visto? Estava com a Gorete? Senhor Antnio no podia se atrasar para o jantar, que logo ouvia: No adiantava argumentar. Antnio carregava a cruz pelo batismo da caula. Celestina no deixava de ter razo. Soubera de um namorico do marido com uma tal de Gorete, l do Manauense. Mas ele negava. At jurava. Dona Celestina sempre sofreu por causa disso, e a nica Gorete que tolerava era a filha. Sempre na entrevista para contratao de empregada, iniciava com a afirmativa interrogativa:

Seu nome no Gorete no. Ou ?

Agora, Celestina, coitada, v-se impotente numa cama de hospital, pedindo que a levem para casa, e possa morrer em paz. Tudo porque a enfermeira se chama Gorete. Helenir Nobre

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