Madeira
“Quem não tem dinheiro
não alimenta vícios”
Os agentes da PSP estão cansados de mendigar para receber os gratificados. A ASPP/PSP faz reparos às organizações dos ralis.
ASPP LANÇA RECADO
ÀS ENTIDADES QUE
DEVEM AOS AGENTES
E ACUSA O COMANDO
DE SER SUBMISSO
RICARDO DUARTE FREITAS
rfreitas@dnoticias.pt
“Quem não tem dinheiro não ali-
menta vícios”. Jorge Silva lança o
repto a todos os que solicitam grati-
ficados aos agentes e não têm forma
de pagar. O presidente da Delega-
ção Regional da Associação Sindical
dos Profissionais de Polícia
(ASPP/PSP) repudia a “postura de
irresponsabilidade” das entidades
devedoras e não poupa críticas ao
Comando Regional da PSP, acusan-
do-o de ser “submisso e benevolen-
te na gestão do problema”.
O sindicato reclama mais de sete
mil euros em serviços remunerados
extraordinários - os chamados gra-
tificados - realizados por cerca de
40 polícias de várias esquadras, fora
do horário normal de serviço e em
dias de folga.
A maior fatia por liquidar ascen-
de a perto de 3 mil euros e refere-se
ao serviço policial prestado durante
a prova do Rali de Santa Cruz, orga-
nizado pelo Sporting Club Santa-
cruzense, em Maio de 2008. No fi-
nal do ano, os organizadores da
competição contactaram o Coman-
do Regional da PSP, pedindo com-
preensão e dando conta das dificul-
dades financeiras. Mas desde então,
nada em concreto foi garantido.
Hoje, os agentes estão indignados.
Dizem que a paciência tem limites.
“Problema de liquidez” complica
“É do nosso interesse resolver este
assunto o mais rápido possível”,
reage Paulo Rodrigues. Em declara-
ções ao DIÁRIO, o responsável pela
secção de automobilismo do Spor-
ting Club Santacruzense reconhece
a dívida e tranquiliza: “está tudo
contabilizado”. Diz-se consciente
dos transtornos, mas declara-se im-
potente para liquidar a dívida, já
que o clube se depara com “proble-
mas de liquidez e de tesouraria”.
O clube “vive de apoios públicos
e privados” e depara-se com suces-
sivos atrasos na transferência das
verbas (chega a demorar dois anos).
Isso, conjugado com a correcção fis-
cal, tem condicionado em muito a
gestão das despesas.
Paulo Rodrigues evita responsa-
bilizar o IDRAM pela situação e
prefere falar numa “conjuntura de
crise”. De resto, quanto aos gratifi-
cados da PSP, assegura: “está tudo
contabilizado e será pago logo que
possível”.
ASPP: “a crise nasce para todos”
Do lado da ASPP, reina a indigna-
ção. “Os agentes estão revoltadíssi-
mos porque trabalharam, às vezes
debaixo de temporal, para além da
sua hora de serviço e abdicando de
estar com a família, para receberem
quando?”, questiona Jorge Silva. “A
crise quando nasce, nasce para to-
dos”, atira.
Os ventos da contestação chegam
também do quadrante Norte. Os
agentes da esquadra de Santana re-
clamam o pagamento dos gratifica-
dos feitos num evento de desporto
motorizado que decorreu na pista
de karting do Faial: 1.500 euros. A
organização tinha entregue ao Co-
mando da PSP uma caução como
garantia de pagamento, mas o che-
que não tinha cobertura.
O espectáculo de música electró-
nica, ocorrida a 5 de Julho, no porto
de recreio de Santa Cruz (num fim-
de-semana em que a discoteca Ves-
pas montou palco no Faial), soma
mais 2.500 euros ao rol de dívidas
aos agentes. No evento organizado
pela ‘Creatives RAM’, estiveram en-
volvidos agentes no policiamento
ao recinto, no controlo e revista à
entrada e na prevenção de consumo
e tráfico de estupefacientes.
“500 contos é um exagero”
Dário Silva, sócio da empresa, ga-
rante que o valor em dívida “foi pago
hoje (ontem) mesmo”. Justificou o
atraso com as dificuldades em obter
proveitos na organização do festival,
devido ao preço cobrado nas entra-
das - 5 euros por pessoa - e, sobretu-
do, às despesas com o policiamento.
“Quase 500 contos para a Polícia
acho que é um exagero”, aponta.
PSP NÃO EXCLUI RECURSO A “OUTRAS INSTÂNCIAS”
“O Comando Regional da PSP não
exclui a possibilidade de recurso a
outras instâncias, quanto aos casos
em que a via negocial não se afigure
suficiente à sua resolução tempesti-
va e em relação aos quais não seja
possível outra opção”, adiantou o
porta-voz da PSP-Madeira.
Em declarações ao DIÁRIO, o co-
missário Roberto Fernandes, con-
firma que “uma das dívidas já foi re-
DIÁRIO DE NOTÍCIAS Quarta-feira, 11 de Março de 2009
FOTO PEDRO FREITAS/ASPRESS
Menos expressivos são os valores
devidos pela Junta de Freguesia do
Santo da Serra, alusivos ao policia-
mento envolvido numa festa musi-
cal, barracas de comes e bebes, orga-
nizada por ocasião do Rali Vinho
Madeira, no início de Agosto. O ar-
raial teve um momento de desor-
dem e deu dores de cabeça aos agen-
tes que hoje reclamam 400 euros.
“Comando tem de exigir”
“Dificuldades financeiras todos
têm, até o governo e as câmaras, que
não são excepção e demoram três a
quatro meses a pagar”, regista o re-
presentante da ASPP. Para este ca-
sos, Jorge Silva até é tolerante. Mais
do que isso considera um abuso.
“Eles não pagam juros sobre as
dívidas, mas se for um polícia ou um
cidadão a se atrasar no pagamento,
isso não lhe é poupado”, afiança
Jorge Silva. Por isso, defende que “o
Comando tem a obrigação de, uma
vez por todas, exigir garantias ban-
cárias e cauções, para resolver e
para pôr cobro a estas situações de
fugas” e impedir que os atrasos se
transforme em calotes.
gularizada” e que em relação “às si-
tuações pendentes, o Comando Re-
gional “está a reforçar os contactos
com as entidades devedoras, com
vista à regularização urgente dos
pagamentos em dívida”.
Acrescenta que todos os processa-
mentos dos serviços remunerados
prestados “estão a ser acompanha-
dos, através das sedes próprias e
com o rigor necessário”.
USAM
promove
jornada de luta
para “mudança
de políticas”
TRIBUNA PÚBLICA
DECORRERÁ NA
SEXTA-FEIRA, NA
PLACA CENTRAL,
PELAS 15H30
ZÉLIA CASTRO
zcastro@dnoticias.pt
No mesmo dia em que a CGTP-
IN promove uma jornada de luta
em Lisboa, a União de Sindicatos
da Madeira (USAM) junta-se a
esta iniciativa e realiza uma tribu-
na pública na próxima sexta-fei-
ra, pelas 15h30, na placa central
da Avenida Arriaga, em frente ao
Banco de Portugal.
Segundo José António Jardim,
membro do secretariado da
USAM, a manifestação visa “um
exigência de mudança de políti-
cas, tanto do Governo central
como do Governo Regional”. “É
preocupante que os desemprega-
dos já ultrapassem os 10 mil e
que, em cada agregado familiar,
haja um desempregado”, apon-
tou, frisando que “o GR não go-
verna” e que são necessárias “po-
líticas concretas”.
Nessa tribuna pública será
aprovada uma moção a ser entre-
gue, logo de seguida, na Quinta
Vigia.
Extensões dos
serviços de
emprego no
lugar de clubes
e UNIVA
SÍLVIA ORNELAS
sornelas@dnoticias.pt
Está em curso uma restrutura-
ção da lógica que levou à criação
das UNIVA (Unidades de Inser-
ção na Vida Activa) e dos Clubes
de Emprego. A medida foi anun-
ciada ontem pelo secretário re-
gional dos Recursos Humanos,
na cerimónia de abertura oficial
da UNIVA da Escola da APEL.
Segundo Brazão de Castro, o
objectivo é criar uma “nova es-
trutura que se deseja mais dinâ-
mica, com uma actuação mais
interventiva na sociedade e no
apoio aos desempregados”, de-
vendo as UNIVA e os Clubes de
Emprego funcionar como “ver-
dadeiras extensões dos serviços
de emprego”.
A UNIVA da APEL já recebeu
67 utentes e veio permitir uma
maior abertura da escola à co-
munidade envolvente. Actual-
mente, existem na Madeira sete
UNIVA e 13 Clubes de Empre-
go.