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UNIVERSIDADE DE SAO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIENCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PEDOGENESE NO TOPO DO PLATO DE BAURU (SP): 0 caso da Bacia do Corrego da Ponte Preta LEONARDO JOSE CORDEIRO SANTOS Orientadora: Prof.a Dra. SELMA SIMOES DE CASTRO Tese submetida a0 Departamento de Geografia FFLCH-USP, como Tequisito necessaria obtengio do titulo de Doutor em Geografia Fisica Sao Paulo 2000 AGRADECIMENTOS Esta pesquisa teve como marea principal a multidiseiplinaridade, © que toma extensa a lista de pessoas que me ajudaram no decorrer desta jornada cxaustiva mas também prazerosa. Inicialmente gostaria de agradecer a minha orientadora Prof.a Dra Selma Simoes de Castro que me acompanha desde o Mestrado © nunca mediu esforgos para me auxiliar nas atividades acacémicas, me abrindo as portas para o mundo profissional. Obrigado por esses anos de grande amizade. ‘Ao Dr. Michel Grimaldi, extensivo a sua esposa Catherine, pela ajuda nos trabathos de campo, pela crientagaio nas atividades desenyolvidas no laboratério de Ciéncia do Solo do INRA/Rennes ¢ também pela amizade que foi sendo consiruida ao longo da minha permanéneia da Franga. O meu obrigado também por me fazer conhecer Jacques Bertin e Didier Squiban. Ao Dr. Pierre Curmi pelo auxilio nos trabathos de campo, orientagao na andlise micromorfologica e também pelo apoio na confecgo das liminas delgadas. Ao Prof. Dr. José Pereira de Queiroz Neto ¢ ao Dr. René Boulet (este no inicio) pelos consclhos ¢ indicagdes de grande importéncia para o trabalho. Aos pesquisadores Jeannine Bertier, responsdvel pelo microscépio cletrénico de varredura, Vincent Hallaire responsével pela and ede imagem de lamines de solo ¢ a Laurent Barbietto pelo auxilio nos trabalhos de preparayio das laminas para 0 Raio X. Ao téenico do INRA Yannick Benard pela confeegiio das laminas delgadas de solo, Ao Conselho Nacional de Pesquisa Cientifiea (CNPq) pelo apoio financeiro na forma de bolsa de estudos no Brasil ¢ a0 acordo internacional CAPES-COFECUB que possibilitou a minha permanéneia na Franga com uma bolsa Doutorado-Sanduiche. Ao Dr. Alain Rucllan, em parte, pela minha permanéncia na Franga, 0 ‘A Universidade de Sio Paulo (USP), Departamento de Geogratia, que me acolheu para realizar este doutorado. Ao Institut National de ia Recherche Agronomique (INRA) de Rennes/Franga pelo apoio durante os meus estudos na Franga. Ao Institute de Pesquisas Tecnolégicas (IPT) pelas andlises fisico-hidricos dos solos da regido de estudo. A. Superintendéncia de Desenvolvimento de Recursos Hidricos ¢ Saneamento Ambiental (SUDERHSA-PR) pelo apoio no meu primeiro ano de Tese, ‘Ao men grande amigo mineiro Felicio C. C. Gomes pela boa vontade disposiggo nos trabalhos de campo. Sem a sua ajuda dificilmente este trabalho chegaria ao final. Ao desenhista José Dzadek pela elaboragao dos desenhos ¢ croquis na fase inicial deste wabalho. A Andrea de Castro Panizza pelo apoio no periodo que estive na Franga, A Cecilia Alarsa pela boa vontade com que me acolheu em Sao Paulo Ao companheiro e legionario Pedro C. G. Vianna pela ajuda indireta ¢ as vezes direta no desenvolvimento deste trabalho. ‘Ao meu amigo (super pote) Vincent Chapiot com 0 qual sempre pude contar, me auxiliando nos momentos mais dificeis na Franga, Ao meu amigo Mathurin Zida que com sua incrivel boa vontade me ajudou na aquisigdo ¢ tratamento de imagens das laminas de solo. Aos meus amigos Jerome Molenat, Fred Darboux, Habib Aliabadi, Paulo Oliveira, Christophe Cudennec ¢ Cécile Somarriba pela atengao, paciéncia ¢ boa vontade com que sempre me trataram, deixando ainda mais agradavel a minha passage pela Franga. ‘Aos compsnheiros da equipe de futebol ADAS-INRA com a qual representamos a Bretanha no cempeonato de Sarzeau/97 ¢ tivemos A felicidade de nos consagrarmos campedes (merci a vous les gars). Aos amigos Antonio, Jaqueline, Jucimara ¢ Edézio pela ajuda na reta final deste trabalho. mW Aos meus pais Ceiso e Gilda ¢ ao meu irmao Renato que estiveram sempre ao meu lado. Valeu Mae, Valeu Pai, Valeu irmao!: ‘A minha componheita Sénia Burmester do Amaral pelos adoriveis momentos que passamos juntos (¢ que ainda vamos passar) ¢ também pela valiosa ¢ imprescindivel ajuda na reta final deste trabalho. Vv SUMARIO LISTA DE FIGURAS. LISTA DE FOTOGRAFIAS. LISTA DE QUADROS.. LISTA DE TABELAS.. RESUMO.. ABSTRAC’ RESUME. HISTORICO E OBJETIVOS. CAPITULO 1: REVISAO BIBLIOGRAFIC. 1.1 Questées sobre a génese ¢ as estruturas dos Latossolos. .... salt 1.2. Questdes sobre a génese e as estruturas dos Podzélicos. wooed 1.3 Questées sobre as transigées laterais dos Latossolos a Podzolicos. 7 14 Questdes sobre 0 comportamento ico hii das coberturas com Latossolos e Podzélicos. 1.5 Sintese da reviséo bibliografica. ... CAPITULO 2: ROTEIRO METODOLOGICO E PROCEDIMENTOS EMPREGADOS... 29 2.1 Andlise da documentagao cartografica regional como base para a escolha do compartimento de estudo.. 230 2.2 Selegio da bacia hidrografica e dos eixos para implantagio das topossequénci: 31 2.3. Elaboracao de cartas tematicas detalhadas da area de estudo... 24 Levantamento e representagao dos sistemas pedolégicos estudados.........36 2.5 Realizagio de andlises e estudos em laboratério.. 2.5.1 Estudo micromorfolégico. 2.5.1.1 Fabricagdo das laminas delgadas 2.5.1.2 Descrigdo e interpretagao das 1a ninas delgadas..... 2.5.2 Anilise do sistema poroso ......-.--.-.------- - voce? 2.5.2.1 Porosimetria a merctttio........--eeccee eens 2.5.2.2 Anilise de imagens 2.5.3. Anélise granulométrica... 2.5.4 Determinagées fisico-hidricas. ... 2.5.4.1 Condutividade hidraulica saturada. 2.5.4.2 Retengdo de agua no solo........... 2.5.5 Microscopia eletrénica de vartedura (MEV) ¢ andlise quimica pontual (microsonda)........... a sec 9, 250 2.5.6 Mineralogia das argilas (Difragio de Raios X). CAPITULO 3: CARACTERIZAGAO DO MEIO FISICO REGIONAL E DA BACIA DO CORREGO DA PONTE PRETA. 3.1 Caracterizagao regional... 3.2 Caracterizagao da bavia estudada.... 3.2.1 Relevo..., 3.2.2 Solos 58 3.2.3 Compartimentagdo morfopedologiea da bacia......... 3.2.4 Sintese dos resultados. CAPITULO 4: CARACTERIZACAO DOS HORIZONTES DOS SISTEMAS PEDOLOGICOS. 4.1 Caracterizagdo morfoldgica 4.1.1 Macromorfologia. 4.1.2. Prineipais transigoes observadas 4.1.2.1 Verticais........... ay ai esa eae ere 4.1.2.2 Laterais...... 4.1.3 Micromorfologia.. 4.1.4 Sintese ¢ discusséo dos resultados morfolégicos 4.2 Caracterizagio da porosidade....... 4.2.1 Andlise de imagens da porosidade. vi 4.2.2 Porosimetria a merctirio. ..... 4.2.3 Sintese e discuss4o dos resultados. CAPITULO 5: CARACTERIZACAO ANALITICA pos HORIZONTES.. 5.1 Granulometria.. 5.1.2 Sintese ¢ discussdio dos resultados. 123 5.2. Composigao quimica em Oxidos e relagao Ki dos horizontes. ...............124 5.2.1 Microanilise dos revestimentos argilosos do horizonte Bt. 128 5.2.2 Sintese e discussdo dos resultados. 5.3. Caracterizagao mineralégica da fragio argila........ 5.3.1 Sintese e di: stio dos resultados... CAPITULO 6: CARACTERIZACAO FiSICO HiDRICA E DOS FLUXOS HIDRICOS DOS SISTEMAS PEDOLOGICOS.. 6.1 Circulagio hidraulica...... 141 6.2 Retengao de agua 14a 63 Sintese, discussio e interpretagaio dos resultados......... senses NAT CAPITULO 7: CONCLUSOES... CONSIDERACOES FINAIS... ANEXO: DESCRICAO MACROMORFOLOGICA DAS TRINCHEIRAS ESTUDADAS. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: 160 vu LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Limite da area de estudo e localizagio das topossequéncias estudadas... ae Figura 2 - Localizagdio da area de estudo........ Figura 3 - Carta hipsométrica da drea de estudo..... Figura 4 - Carta de declividade da drea de estudo... Figura 5 - Carta dos perfis topogrificos da area de estudo. Figura 6 - Carta morfoldgica da drea de estudo.. Figura 7 - Carta pedologica da area de estudo........ seevavvenvarioerecn dO Figura & - Compartimentagiio morfopedologica da area de estudo. 65 Figura 9 - Topossequéncias estudadas..........:eessesreesss 69 103 Figura 10 - Evolugao hipotéticas das microestruturas.... Figura [1 - Distribuigdio da porosidade (tamanho x forma) a partir da Andlise de LZ imagens de liminas delgadas da Topossequéncia Horto A Figura 12 - Distribuigéo da porosidade (tamanho x forma) a partir da Analise de 113 imagens de Liminas deigadas da Topossequéncia Horto B Figura 13 - Microandlises realizadas ao longo de um revestimento argiloso do horizonte B textural (Bt). 129 Figura 14 - Difratograma da fre Ble sees eannmconsn eereccnes 134 9 argila do horizonte Bwl da trincl Figura 15 - Difratogramas da fragtio argila dos horizontes: Bt (A), Bw/Bt (B) e C (©) da trincheira B2. 135 Figura 16 - Difratogramas da fragao argila dos horizontes: Bt (A), Bw/Bt (B) da trineheira B3 £136 Figura 17 - Difratogramas da fragao argila dos horizontes: Bw1 (A), Bw2 (B) da wineheira A4. wld7 Figura 18 - Curvas de retengao de agua dos horizontes da Topossequen: A Jurvas de retengZo de Agua dos horizontes da Topossequéncia Horto 46 Figura 19 - B vil Figura 20 - Direcdio provavel dos fluxos hidricos das Topossequéncias Horto A e Boe sessenveeseone . 149 Figura 21 - Scqiiéncia evolutiva relacionada a formagéio do horizonte Bh cessceseessseeense soceeceesnies soseecessseeseesseecssetseeensenee ed SA LISTA DE FOTOGRAFIAS. Foto 1 - Detalhe dos volumes milimétricos com arcia clara no horizonte 72 superficial (A) da trincheira A2......c00.s0 Fow 2 - Horizonte superficial (A) com cor cinza escuro (3N) encontrado no final da Topossequéncia Horto B na margem esquerda do Corrego da Ponte Preta . . veer Foto 3 - Horizonte com estrutura microagregada (Bw2) encontrado na base da trincheira Al com cor vermelho-amarelado (2,5¥R 3/4) e textura moderadamente arenosa. .. 2B Foto 4 - Horizonte B textural (Bt) com textura arg poliédrica encontrado na trincheira BS. Foto 5 - Detalhe das manchas acizentadas encontradas na base de horizonte C na eanicanswuneasoueisite 15 Foto 6 - Horizonte hidromorfico (Btg) com cor cinza (10YR 6/1) encontrado na nee mea ncacan ™ 77 wincheira B2.. trincheira BS... os ménicos Foto 7 - Horizonte superficial (A) da trincheira Al com domin (zonas desprovidas de argila) ¢ gefiiricos (pontes de argila entre 05 gros do 83 Foto 8 - Horizonte superficial (A) da trincheira Al com pedotibulo muito esqueleto). Fotomicrografia obtiva no MEV... fissurado apresentando limite extern nitido em relagdo ao fundo matricial € separado deste por poro. Fotomicrografia obtida no MEV... 83 is Foto 9 - Detalhe de um pedotibulo do horizonte superficial (A) com estrutura de base porfirica englobando gréios do esqueleto quartzoso grosseito ¢ 84 predominantemente fino (silte), Fotomicrografia obtida no MEV... Foto 10 - Horizonte superficial (A) da trincheira A3 com pedotibulo se separando em agregados subarredondados menores. Fotomicrografia obtida no MEV... sacar Foto 11 - Horizonte com estrutura em blocos (Bw1) da tincheira B1 com microagregados arredondados a subarredondados, na maioria sem graos do esqueleto no seu interior. Fotomicrografia abtida no MEV 86 Foto 12 - Horizonte com estratura em blocos (Bw) da trincheita BI com microagregados arredondados @ subarredondados, englobando em sew interior gtdios do esqueleto de dimensio préxima ao silte. Note-se ainda o contorno dos pedotibbulos. Fotomicrografia obtida no microscépio dptico sob luz normal ¢ 86 Foto 13 - Horizonte eluvial (£) da trincheira B2 com dominios ménicos, ultra-violeta.... gefiricos © quiténicos. Fotomicrografia obtida no microscépio éptica sob luz normal e ultra-violeta..... f 89 Foto 14 - Horizonte B textural (Bt) da trincheira B3 com dominios porfiricos englobando grios do esqueleto de dimensio variada. Fotomicrografia obtida no MEV.. 89 Foto 15 - Horizonte B textural (BO da trincheira B3 com revestimentos argitosos associados & porosidade cavitéria. O plasma varia do preto a0 vermelho-vivo com forte microlaminayio ¢ zonago, Fotomicrografia obtida no mictoscépio 90 Foto 16 - Idem a foto anterior mostrando a existéncia de forte orientagao, salvo éptico sob luz normal......... onde ha opacidade causada pelo ferro. Fotomicrografia obtida no microscopio Sptico com nicois cruzados en, Foto 17 - Horizonte B textural (Bt) da trincheira B3 com revestimentos argilosos associados & porosidade cavitiria. O plasma varia do preto ao vermelho-vivo com forte microlaminagéo ¢ zonagéio. Fotomicrografia obtida no microseépio 6ptico sob luz normal. aaee Dk Foto 18 - Idem a foto anterior mostrando a existéncia de forte orientagao, salvo ‘onde ha opacidade causada pelo ferro. Fotomicrografia obtida no microscépio ot Foto 19 - Reyestimento argiloso do horizonte B textural (Bt) da trincheira B3 6ptico com nicois cruzados onde percebe-se 0 plasma zonado com limite nitido em relagzo ao fundo matricial, permitindo interpreté-lo como iluvial. Fotomicrografia obtida no MEV... 293 Foto 20 - Detalhe do revestimento argiloso da foto anterior onde nota-se com maior nitidez 0 plasma _—zonado.-—-Fotomicrografiaobtida__ no MEV. sesee 2.93 Foto 21 - Argilas orientadas {plano-paralelas) encontradas nas superficies lisas e brilhantes (cerosidade) de pequenos agregados do horizonte B textural (Bt) da 94 Foto 22 - Detalhe da foto anterior onde se observa com maior nitidez a 4 trincheira B3. Fotomicrografia obtida no MEV... orientagao das argilas. Fotomicrografia obtida no MEV. Foto 23 - Argilas sem orientagao referencial encontradas no findo matricial de agregado do horizonte B textural (Bt) da trincheira B3, Fotomicrografia obtida no MEV... -98 Foto 24 - Detalhe das argilas sem orientagdio da foto anterior. Fotomicrografia obtida no MEV... 295 Foto 25 - Horizonte interme: (BwBt) da trincheira B3 onde nota-se a presenga de microagregados com estrutura poliédrica evoluindo para endulica. Fotomicrografia obtida no MEV. 97 Foto 26 - Detalhe dos microagregados da foto anterior. Fotomicrografia obtida no MEV. - 4 af Foto 27 - Pedotibulos do horizonte superficial (A) da trincheira BI fissurados preservados. Fotomicrografia obtida no microsedpio Sptico sob luz normal ¢ 102 Foto 28 - Pedotibulos do horizonte superficial (A) da trincheira BI se separando ultravioleta.. em agregados menores. Fotomicrografia obtida no microscépie éptico sob luz normal € ukiravioleta.. eso 02 xl Foto 29 - Comtorno dos pedotibulos do horizonte superficial (A) da trincheira BL ¢ formagao de microagregados arredondados e subarredondados. Fotomicrografia obtida no microsedpio éptico sob luz normal ¢ ultravioleta..... eB Foto 30 - Horizonte B textural (Bt) com estrutura porfirica. Fotomicrogratia obtida no MEV... 107 Foto 31 - Horizonte com estrutura em blocs (Bw1) ¢ estrutura porf 107 Fotomicrografia obtida no MEV... LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Evolugao das hipéteses sobre a génese dos solos cstudados Quadro 2 - Roteiro metodolégico...... Quadro 3 - Relagao das anilises laboratoriais € dos tipos de amosiragem.........37 Quadro 4 - Principais transigoes verticais observadas..... cesecnnereeeeeTB Quadro 5 - Principais transigies Iaterais observadas. 80 LISTA DE TABELAS Tabela I - Meso e macroporosidade dos horizontes das Topossequéncias Horto A eB obtida a partir da Analise de imagens. i Tabela 2 - Porosidade dos horizontes da Topossequéncia Horto A obtida a partir da Porosimetria a meretrio. el 6 Tabela 3 - Porosidade dos horizontes da Topossequéncia Horto B obtida a partir da Porosimetria a mercurio. waged TF Tabela 4 - Andlise granulometrica dos horizontes da Topossequéncia Horto A. 121 Tabela 5 - Andlise granulométrica dos horizontes da Topossequéncia Horto Bicweosveses ices cose i 122 xi Tabela 6 - Analise quimica dos principais elementos éxidos ¢ do indice Ki dos horizontes da Topossequéncia Horto A........ 125 Tabela 7 - Andlise quimica dos principais elementos éxidos ¢ do indice Ki dos horizontes da Topossequéncia Horto B.. 126 Tabela 8 - Porosidade total, distribuigio dos poros (macro © micro) 142 condutividade hidraulica em solo saturado da Topossequéncia Horto A.. Tabela 9 - Porosidade total, distribuigdéo dos pores (macro ¢ micro) ¢ 143 condutividade hidrdulica em solo saturado da Toposseguéncia Horto B.. xt RESUMO © presente trabalho objetivou identificar os processos pedogencticos responsaveis pela formagiio dos Podz6licos na bacia hidrogrifica do Corrego da Ponte Preta, afluente do Rio Bauru, € suas relagbes com a evolugao das vertentes. A bacia do Cérrego da Ponte Preta est localizada no topo do platé de Bauru, préximo a cidade de mesmo nome, na regio central do Estado de Sio Paulo, sobre arenitos da Formagio Adamantina do Grupo Bauru (Cretéceo), associados @ solos do tipo Latossolo, Podzilico ¢ Glei. Um mapeamento morfopedolégico realizado anicriormente, serviu como base para o entendimento do meio fisioo © a escolha da referida bacia hidrogréfica, bem como dos eixos topogrificos para o estudo morfolégice dos solos, através de trés topossequéncias, conforme a metodologia da Andlise Estrtural da Cobertura Pedolégica 0 estudo enfatizou a descri¢go morfoldgica detalhada de varios perfis a0 Tongo das topossequéncias, onde foram coletadas amostras deformadas e indeformadas para andlises de laboratério, com destaque para as_andlises micromorfolégica, sem prescindir das anilises convencionais ¢ fisico-hidricas Os resultados permitiram constatar que a passagem lateral dos Latessolos para os PodzGlicos, nao estaria relacionada diretamente 4 uma tansformagio lateral, como demonstrado em outros trabalhos, mas a remogao dos horizomees superiores do solo, que teria exposto o substrato rochoso ao contato direto com ‘os agentes do intemperismo, 0 que possibilitou supor que os solos encontrados tenham idades distintas. A cobertura latoss6lica seria a mais antiga, enquanto que a cobertura podzélica seria mais recente. Os resultados mostraram ainda que embora a génese do horizonte Bt seja inicialmente litodependente, ha evidéncias também de transformagao lateral, a partir do horizonte Bw, dando ao Bt uma origem e evolugao poligenética. Tais processos estariam ligados & umidificagdo do clima durante 0 quaternatio. xv ABSTRACT ‘This paper aimed to identify the soilgenesis processes responsible for the initial formation of the Alfisols at the watershed of Ponte Preta Stream, a tributary of Bauru River, and its relations with the slopes evolution. ‘The Ponte Preta Siream watershed is located on the top of Bauru plateau, near the city of the same name, in the central region of S40 Paulo Siate, It's placed over Adamantina Formation sandstones of Baurn Group (Cretaceous), associated to soils of Oxidol, Alfisol and Hydromorphie type. A pre-existent morphopedological mapping served as bese for the understanding of the physical environment, and for the choice of the referred watershed. This mapping was also used to choose the topographical axis for the soils morphological studies, using three toposequences, according 10 the Structural Analysis of the Pedological methodology. ‘The study emphasized the detailed morphological description of several profiles along the toposequences, where it was collected misshapen and non- misshapen samples for laboratory analysis. [t was given emphasis to the micro- morphological analysis, but considering also the conventional and other analysis, for the hydro-physical characterization. The results of the analysis allowed proving that the lateral change of Oxisols into Alfisols wouldn't be directly related to a lateral transformation, as showed in other studies. It would be related to the removal of the soil upper horizons, what would have exposed the bedrock directly to the weathering, actions, leading to suppose that the studied soils have distinct ages. The Oxisol's coverage would be the oldest, while the Alfisol's coverage would be most recent. The results also showed that although the genesis of Bt horizon is initially lithodependent, there are also evidences of lateral transformation from Bw horizon, giving Bt a polygenetic origin and evolution. Such processes would be closely related to the damping of climate during the quaternary. xv RESUME L’objectif de ce travail était d’identifier les processus responsables de la genése des sols podzoliques en relation avec 1’évolution topographique des versants. L'étude a été menée au sein du bassin hydrographique du Cérrego da Ponte Preta, affluent du Rio Bauru. Ce bassin versant est localisé dans le Plateau de Bauru (proche a la ville de méme nom), dans la région centrale de I’état de Stio Paulo, Le substrat géologique est constitué par les grés de la Formation Adamantina du Groupe Bauru (Crétacé), les sols rencontrés sont des sols Ferralitiques, Ferralitiques Lessivés ct Gleys. Une cartographic morphopédologique réalisée au cours dune précédente étude par SALOMAO (1994) a servi de base & la compréhension du milieu physique, au choix du bassin hydrographique et de wois transects oi Ia couverture pédologique a été étudige par la démarche d’analyse structurale de morphologie des sols. Le long de ees transects, des deseriptions morphologiques de profils de sols ont éé réalisées. Ces descriptions ont été complétées au laboratoire par des analyses standards et par une caractérisation physico-hydrique sur les échantillons non remaniés. Les résultats indiquent que la transition latérale entre les sols Ferralitiques et les sols Ferralitiques Lessivés n'est pas directement li¢e @ une transformation latérale, comme ce qui fut montré dans d'autres travaux, mais bien 4 une nouvelle altération du substrat rocheux du fait de l'érosion des horizons supérieurs du sol. Une tellle hypothase permet de supposer que les sols rencontrés se caractérisent par des ages différents ; 1a mise en place de la couverture ferralitique étant plus ancienne que celle de la couverture ferralitique lessivée, Les résultats ont également montré que bien que Phorizon Bt présente des liens génétiques trés Groits avec Paltération du subsirat géologique, une tansformation latérale a partir de horizon Bw, indique une évolution postérieure d age quatemaire lige au climat. XVI HISTORICO E OBJETIVOS Os estudos realizados por SALOMAO (1994), foram os_pioneiros desenvolvidos na area que envolve 0 entorno imediato da cidade de Bauru, denominada de Platé de Bauru, ¢ tiveram como objetivo principal conhecer o comportamento ¢ 0 funcionamento das coberturas pedolégicas da regifio. Estes estudos foram motivados pela necessidade de compreender a dinamica morfopedol6gica associada a intensos processos erosives lineares (ravinas © vogorecas) ¢ foi ainda 0 ponto de partida para outro trabalho, desenvolvido por SANTOS (1995), que buscava comprecnder a questio da génese dos Latossolos e Podzdlicos dispostos em continuidade nas vertentes. Utilizando como base as caracteristicas do substrato geoldgico, do relevo, dos solos, © da ocorréncia de ravinas e vogorocas, aquele autor delimitou trés compartimentos morfopedolégieos na regitio, adaptando proposia de TRICART & KILIAN (1979), descritos resumidamente a seguir. - Compartimento Morfopedolégico 1 (MP-1): com maior abrangéneia sobre o Platé de Bauru, em area da bacia do rio Bauru, corresponde ao dominio de colinas amplas e suavizadas, associadas a cobertura latoss6lica. Essa cobertura ocupa quase a totalidade das vertentes estudadas, com excegao do fundo dos vales, em area de virzea, onde nota-se a presenga de solos Hidromérficos; - Compartimento Morfopedoligica 2 (MP-2): ocorre geralmente nas bordas do Platé de Bauru e caracteriza-se, em linhas gerais, pelo predominio de colinas médias, com relevo mais movi rentado, associado ao aparecimento do Podzélico Vermelho-Amarelo no tergo médio das vertentes. No topo das colinas, quando ligeiramente aplainados, observa. presenga de Latossolo Vermelho- Escuro ¢ na base das vertentes solos Hidromérficos; - Compartimento Morfopedolégico 3 (MP-3): ocorre na extremidade sudoeste ¢ noroeste da regiao de Bauru, caracterizando-se pela presenga de relevo escarpado e morrotes alongados associados aos seguintes solos: solos rasos + afloramento de rochas e Podzolico-Latossolo-HidromOrfico. Este compartimento nGio encontrou nas discusses da presente pesquisa, visto que o nosso objetivo é estudar somente a transigio lateral dos solos do tipo Latossolo e Podzslico. Uma obscrvagao importante ressallada pelo autor ¢ constatada nos trabalhos preliminares realizados nesta pesquisa, relativa a distribuigao desses solos, € que eles se encontram freqdentemente associados com o grau de entalhe da rede de drenagem, ou seja, no relevo de colinas amplas, com dominio dos Latossolos, a rede de drenagem apresenta-se pouco entalhada, enquanto que no relevo de colinas médias, onde 0s Podzélicos ganham expresso, esta rede encontra-se mais densa e entalhada. Isto indica graus de dissecagio do relevo diferentes nas trés situagdes, crescente do compartimento MP-1 para 0 3, que podem estar relacionadas a pedogénese, permitindo supor que a cobertura inicial, antes da dissceagao, seria latossélica. ivel verificar essa certa associagdo entre os solos € as Mesmo sendo pos mudangas observadas para 0 modelado e para a rede de drenagem, ¢ ainda dificil determinar a origem © os mecanismos responsaveis pelas suas formagdes, bem como os diversos estados © estigios de suas evolugies, tanto em termos de hierarquia como de cronologia relativa, visto que o trabalho que tratou desse assunto na regio de Bauru até © momento, SANTOS (1995), limitou-se a solo-Podzilico- estudar a génese de apenas uma das seqiiéncias laterais de Lato: Hidromérfico, disposta de montante para jusante numa yerlente do compartimento morfopedolégico 2 (MP-2), motivado pelo fato de SALOMAO (op. cit.), 1@-Io identificado como o mais suscetivel 4 erosdo linear. Além disso, nessa seqiiéncia os Podzélicos ja se encontravam bem evoluidos e apareciam desde 0 inicio do tergo médio, o que certamente mascarou 0s vestigios do inicio do proc que Ihe deu origem, 0 que motivou a busca de uma situaga0 morfopedolégica em que 0 Podzélico estivesse verdadeiramente no comego de sua formagao. Por outro lado, SALOMAO (1994), havia constatado que no compartimento morfopedolégico 1 (MP-1), onde os Latossolos cram dominantes quase absolutos nas vertentes, ja ocorria na verdade um PodzOlico restrito ao tergo inferior da vertente, no Horto Florestal, fato que orientou o trabalho para a referida busca nesse compartimento. A hipétese inicial que se aventara ao final desses estudos de 1994 e 1995 era a de que os Podzélicos nasciam ¢ evoluiam por transformagdes verticais Iaterais da cobertura latossdlica inieial, por aprofimdamento progressive dos cixos de drenagem, capaz de induzir fluxos hidricos laterais. A medida que as yertentes evoluissem © se convexizassem, promoveriam a formagaio dos Podzdlicos nos tergos inferiores, com evolugao remontante, a exemplo de processos similares aos descritos e interpretados por BOCQUIER (1973), BOULET (1974) e CHAUVEL (1977). Assim, para se compreender melhor as questées relativas A génese & evolugiio dos solos estudados, optou-se por escolher uma bacia de drenagem que apresentasse vertentes com cobertura totalmente latossdlica ¢ vertentes com cobertura latossélica dominante mas j4 com ocorréncia da cobertura podz6lica no tergo médio/inferior, possibilitando a comparagio entre as duas coberturas dentro da mesma bacia de drenagem, de modo a poder validar melhor os resultados. A. anilise da documentagio cartografica e os trabalhos de campo realizados em itineririos de carater exploratorios, indicaram que especificamente na bacia do C6rrego da Ponte Preta, encontravam-se as condigées necessérias para o desenvolvimento dos estudos pretendidos, ou seja, ocorréneia de cobertura totalmente latossélica e de coberturas onde um Latossolo gradasse vertente abaixo para um Podzélico, no citado compartimento morfopedolégico MP-1 A partir da escolha dessa bacia, teve inicio a pesquisa que deu origem & presente Tese, cujo objetivo geral é: ~ identificar e caracterizar a passagem lateral Latossolo-Podz6lico na regitio de Bauru (SP), num contexio morfopedol6gico. Para tanto, como objetivos especificos pretende-se: = identi icar os mecanismos de perda, transferéneia ¢ acumulagdo de matéria na passagem lateral Latossolo-Podzético: ~ avaliar as conseqiiéneias desses mecanismos em termos de morfologia, em particular da macro ¢ micromorfologica, com énfase nas estruturas ¢ porosidade; ~ avaliar 0 funcionamento hidrodinamico dessa passagem lateral e suas relagoes com a pedogénese ¢ a morfogénese. Apés apresentar no Capitulo I a revisdo bibliogréfica sobre as caracteristicas gerais © a génese dos solos enfocados, 0 Capitulo 2 desereve 0 rotciro metodolégico ¢ os procedimentos empregados na pesquisa. O Capitulo 3 apresenta @ caracterizagéio geral do meio fisico da regiéo onde se insere a area de estudo © em especial da bacia do Cérrego da Ponte Preta, onde foram implantadas e levantadas as sequéncias de Latossolos e Podzdlicos pesquisadas. © estudo morfoldgico € as discussdes detalhadas dessas seqiténcias, desenvolvida no Capitulo 4, envolveu uma caracterizagio macro e micromorfoldgica dos horizontes dos sistemas pedologicos identificados ¢ da porosidede. Os resultados obtidos nessa caracterizayao orientaram, no Capitulo 5, 05 estudos analiticos subseqi wes quanto a granulometria, composigio quimica ¢ mineralogica da fragao argila, bem como, no Capitulo 6, quanto é caracterizasiio fisico-hidrica ¢ dos fluxos hidricos dos sistemas pedolégivos Finalmente, sao apresentadas no Capftulo 7 as conclusoes € posteriormente as consideragses finais do trabalho. CAPITULO1 REVISAO BIBLIOGRAFICA A revisdo bibliogrfica apresentada a seguir privilegia os materiais de origem, a génese © evolugio das estruturas dos Latossolos ¢ dos Podzélicos, visto que sfo esses 0 alvo relevante ¢ fundamental desta pesquisa Foram selecionados os autores que desenvolveram estudos desses solos, seja através de perfis de solo verticais isolados como também na forma de catenias ou de topossequencias, estes representanda os sistemas pedolégicos constituides por Latossolos e Podzélicos, envolvendo questdes relativas 4s transigdes entre eles e suas relagdes de filiagio genética, seja em termos de material de origem, seja em termos de pedogéneses sucessivas. Ainda que os Podzélicos espeeificos da area do presente estudo néio tenham presenga de bandas onduladas no seu horizonte arenoso, 0 texto a seguir também pontua essa questao, dada a sua freqiente presenga nos horizontes arenosos dos solos Podzolicos ¢ seu significado no processo pedogenttica. Entretanto, esta revisao nao pretende ser exaustiva, mas destaca na forma de tendéncias, assuntos de interesse direto da pesquisa que envolvem as relagoes entre pedogénese & morfogénese, com énfase nas estruturas pedologicas e suas implicagoes. 1.1 A génese e as estruturas dos Latossolos Os Latossolos caracterizam-se como solos minerais, nao hidromérficos, com horizonte diagnéstico B latossélico (Bw) de coloragio vermelha (CAMARGO et al, 1987), geralmente profundos ¢ homogéneos. Morfologicamente podem apresentar estrutura maciga ou em blocos subangulares fracos que se desfazem em granular de grau forte, no caso de apresentarem (extura argilosa (microagregados), f Encontram-se ‘normalmente associados a areas de relevo pouco movimentado, constituido por colinas amplas e em topos aplainadas de colinas médias. Nessas condigdes de relevo sua formagiio esté associada a processos de lixiviagdo acentuada que propiciam o aprofundamento do perfil por drenagem interna vertical dominante ¢ o enriquecimento relativo em sexquidxidas de ferre ¢/ou aluminio, argila caulinitica e graos de quartzo tanto na fregao silte como na fragdo argila (residual). No Brasil, o levantamento pedolégico de reconhecimento dos solos do Fstado de Sao Paulo realizado pela COMISSAO DE SOLOS (1960), definiu a origem dos Latossolos como da decomposi¢io “in situ” das rochas subjacentes, ligada a ambiente de clima tropical. Posteriormente, PENTEADO & RANZANI (1973), CARVALHO (1976), QUEIROZ NETO et al. (1973) ¢ LEPSCH (1977) ao estudarem uma porgiio do osste paulista levantaram a hipétese de que os Latossolos tivessem origem a partir de sedimentos detriticos remanejados (neocenozdivos), muitas vezes sem relagdo direta com o substrato rochoso. A revisio sobre esse assunto feita por COOPER (1996) ressaltou 0 que segue. BEAUDOU (1972) e BEAUDOU & CHATELIN (1979) ao analisarem alguns solos similares (ferraliticos) do continente african, mostraram que a formagaio da estrutura microagregada, caracteristica estes solos, esté namente relacionada a uma pedogéaese “in situ”, determinada por um proceso fisico de fragmentagio inicial do fundo matricial, Segundo cles, a primeira etapa destas modificagdes caracteriza-se pelo aparecimento de Zonas com plasma fortemente orientado (massépico) seguindo uma direeao que delimita os futuros microagregados. A medida que os microagregados se individualizam, devido a concentragZo em hidréxidos de ferro, o plasma torna-se progressivamente menos orientado (assépico). Com relagdo as caracteristicas do espago poral, os mesmos autores mostram que a porosidade fissural, que existia quando 0s microagregados estavam em processo de formagio, se transforma em porosidade de empilhamento quando os microagregados tornam-se bem individualizados. Para CHAUVEL et al. (1976) a formagiio dos microagregados, deseavolvidos sobre 03 basaltos em clima tropical, acontece por um provesso de climinagio dos cations basicos ¢ parte da silica, restando particulas argilosas, Oxidos de ferro ¢ aluminio, associados na forma de pscudoparticulas inativas. A formagao de microagregados passaria primeiro por uma fase em que © plasma macigo softe inchago contragdes, fissurando-se. A ocorréncia de fenémenos secundarios como a lixiviagaio dos céitions ligados anteriormente ao plasma, a acumulagio absoluta do ferro (ferritizagio) e a cristalizago progressiva dos compostos ferriferos, seriam os responsiveis pela formago de um horizonte microagregado tipico. MULLER (1977), ao estudar a organizagao macro ¢ micromorfolégica de um perfil de solo situado na Republica dos Camardcs, interpretou a formagao dos microagregados como resultante de um. proceso inicial de fragmentagZo do fundo matricial, que ocorre nos horizontes compactos mais profundos, acompanhado por uma individualizagao progressiva do plasma em organizagbes elementares tridimensionais (micro-organizagaio) em dire¢do 4 superficie. Para © autor, a auséncia de organizagdes plismicas orientadas no do proceso de fragmentagio do fundo matricial, permite levantar a hipétese de reorganizagio do plasma a partir de um processo fisico, sem que o¢orra nenhuma transformagiio de natureza geoquimica, TRAPNELL & WEBSTER (1986) 20 estudarem diversos tipos de solos ferraliticos no leste e centro da Africa mostraram ser dificil estabelecer uma nitida relagao entre a genese dos microagregados e o tipo de rocha parental, entretanto, chegaram & conclusio de que a formagdo destes solos poderia estar relacionada a processos geoquimicos que incluiriam forte lixiviago das bases trovéveis. PEDRO (1987), a0 fazer uma relagao entre @ evolugdo dos processos pedogenéticos e as condigdes climdticas, mostrou que a estrutura microagregada, caracteristica dos Latossolos, tem secu desenvolvimento re} especificas do meio tais como: ambiente com umidade uniforme ao longo do ano, nao hidromérfico, muito filtrantes e mareados geoquimicamente pela presenga do aluminio e do ferro. BITOM & VOLKOOF (1991), a partir de estudos realizados numa cobertura ferralitica situada na Repiblica dos Camarées identificaram dois processos distinios de formagao dos microagregados nos horizontes mais profundes: microestruturagio e micronodulagic. O primeiro, observado na porgao superior da topossequéncia, é marcado por uma forte separagao plismica (birrefringéncia), no interior de uma matriz argilosa e densa, enquanto que o. segundo, observado mais & jusante, caracteriza-se por apresentar uma matriz sem separagées plismicas. Na interpretagdo desses autores, a explicagdio para esses diferentes modes de microagregagao esta relacionada & variagao dos regimes hidricos na base dos perfis. Assim, na porgao superior, a distancia relativamente grande dos horizontes em relagio ao lengol fredtico, criaria condigdes para 0 desenvolvimento de ciclos altermados de umectagao e dessecagao, responsaveis pelo desenvolvimento da microestruturagiio, 20 passo que, no dominio localizado mais a jusante, 2 proximidade do lengol freético criaria um meio com umidade permanente ¢ formagio de micronédulos por scumulagéo absoluta do ferro. Além dos processos geoquimicos ¢ fisicos, considerados como os mais importantes na formagiio dos microagregados, alguns autores defendem a atuagao da atividade biolégica, para explicar a génese dessas estruturas, Dentro desse grupo destacam-se ESCHENBRENNER (1986), TARDY (1993) € MIKLOS (1992), ao mosirarem a importincia dos cupins e outros organismos da mesofauna como importantes agentes agregadores e/ou fragmentadores que formam os microagregados. Além desses autores resumidos por COOPER (op. cit.), outros ainda merecem destaque. CASTRO (1989), PELLERIN & QUEIROZ NETO (1992) ¢ SANTOS (1995), ao realizar estudos sobre sistemas pedoldgicos no Oeste do Planalto Ocidental do Estado de S20 Paulo, constataram que a formagao da estrutura u microagregada, observada na base dos horizontes B_ latossélicos, estaria relacionada a alterago direta da rocha, sendo considerada a cobertura inicial, ou seja, a partir da qual ocorreram as posteriores transformagdes. VITAL-TORRADO (1994) e COOPER (1996) estudando a génese dos stado de § Latossolos na Depressio Periférica do (0 Paulo, constataram gue sua formagao seria consegiiéncia tanto da microestruturagio, conforme ressaltaram BEAUDOU (1972), MULLER (1977) ¢ BEAUDOU & CHATELIN (1979), como também da prolongada bioturbagao (atividade biolégica) que homogeneiza © material do solo, tornando fraco o pradiente textural e difusa a transi¢ao entre 08 horizontes. Sintese sobre a génese ¢ a estrutura dos Latossolos Em siniese, com relagio A génese dos Latossolos, observam- e divergéncias entre os autores citados quanto ao material de origem e também quanto aos proce 10s responsveis pela sua formagao. Enquanto os trabalhos desenvolvidos nos anos 60 atribuem a sua origem ao res uultado de processos pedogencticos desenvolvidos in situ, na década de 70, parte dos trabalhos destaca a possibilidade dos Latossolos terem sido formados por material transportado, sem relagdo direta com © subsirato rochoso subjacente. ‘Outra parte dos trabathos realizados neste mesmo periodo, e também nas décadas posteriores, relevam um certo consenso entre os autores, quanto a possibilidade de formagiio in situ desses solos, embora tenham certas divergéncias em relagao aos processos € mecanismos responsaveis por essa pedogénese, Dentre as hipdteses levantadas nesse periodo, para a génese dos Latossolos, destacam-st do fundo matricial, (@) processo fisico de fragmenta (b) processo geoquimico de lixiviagao dos cations com acumulagao absoluta do ferro, (¢) bioturbagéo ¢ (d) atus conjunita desses processos. 1.2 Questées sobre a génese e as estruturas dos Podzélicos Os Podzélicos caracterizam-se como solos minerais, nao hidromérficos ¢ com contrastes texturais (gradiéncia) importantes entre os horizontes A ¢ B. O horizonte diagndstico B textural (BO apr semta geralmente uma macroestrutura em blocos ou prismatica bem desenvolvida ¢ a presenga de peliculas de material coloidal (cerosidade) na superficie das unidades estruturais (torrdes) ou nos poros. CASTRO (1989), ao realizar uma reviso dos trabalhos desenvolvidos sobre 0s Podzdlicos no Estado de So Paulo até 0 inicio da década de 80, ressaltou dois periodos, onde as hipdteses relativas a sua génese podem ser agrupadas da seguinte forma: (a) na primeira metade dos anos 70 a génese dos Podzélicos, até entzo reconhecida como autécione (COMISSAO DE SOLOS, 1960), foi questionada por um grupo de pesquisadores, entre eles QUEIROZ NETO et al. (1973), PENTEADO & RANZANI (1973), LEPSCH (1975) e CARVALHO (1976), que se apoiaram em evidéncias morfolégicas ¢ sedimentologicas a favor da hipétese de aloctonia desse material, ou seja, remanejamentos associados aos episédios morfogenétices pés-eretéceos, resultando num empilhamento de colivios QUEIROZ NETO et al. (op. cit) chegam a admi lo nas vertenies; que horizonte A seria coluvial recente em tréns (b) na segunda metade dos anos 70, os novos trabalhos dirigem-se mais ao estudo da dinamiea dos constituintes destes solos © aos processos pedogensticos propriamente ditos, independente do material de origem (PERECIM & CAMPOS, 1976 ¢ LEPSCH et al., 1977 a, b), Destaca-se nesta fase a questiio da c-iluviagdio para a génese dos horizontes A e Bt, eluviagdio em A e iluviagio no Bt, associados a migragdio da argila © do ferro. Posteriormente, 0 proprio QUEIROZ NETO et al. (1981), além de FERNANDES BARROS (1985) © CASTRO (1989), estudando os Podzélicos desenvolvidos na regiao de Marilia (SP), alribuiram a sua origem ao resultado de processos pedogenéticos promovidos pela circulagao vertical ¢ sobretudo lateral (para jusante) da agua no interior dos solos. Segundo eles, 2 dissociagao das ligagdes ferro/argila causada por hidromorfia suspensa na transigao dos horizontes A e B, promoveriam a eluviagao do material argiloso dos horizontes A © a iluviagio nos horizontes B, conforme interpretado anteriormente por LEPSCH (1975). CASTRO (1989), ainda havia chamado a atengZo para 0 falo de que o nicleo do horizome Bt nao era hidromérfico © nao apresentava sinais de iluviagao, que a base dese horizonte apresentava microagregados adensados avangando para 0 B latoss6lico subjacente e que a maior espessura dos horizontes arenosos superficiais para jusante evidenciavam o aumento de energia dos fluxes hidricos nessa diregio. JIMENEZ RUEDA (1985) ¢ JIMENEZ RUEDA & DEMATTE (1988) também no oeste paulista, em Monte Alto (SP) ¢ TREMOCOLDI & KILIAN. (1987) em Pindorama (SP), sugerem que a génese dos Podzélicos nessas regides lenha se desenvolvido “in situ,” a partir do pacote arenitico com nivel lamitico © explicaram que o gradiente textural e outras feigdes pedolégicas caracteristicas do horizonte B textural, seriam herdedas do material parental, que se tornariam mais nitidas & medida que a pedogénese evoluisse, inclusive com neoformegao de argilas, 0 que thes permitiu interpreti-los como litodependentes. VITAL TORRADO et al. (1991), a0 estudarem um Podzélico Vermelho- Amarelo no distrito de Tupi (Piracicaba-SP), na Depressdio Periférica Paulista, observaram que o mecanismo pedogenétice de degradagae do horizonte Bt ovorria da seguinte forma: iluviagdo de argila, redugao da porosidade, encharcamento temporario © degradagao e/ou remocao das particulas finas do topo do horizonte Bt por dissociagaa do ferro/argila, fato corroborado pelos estudos posteriores de VIDAL TORRADO (1994) ¢ VIDAL TORRADO et al. (1999), ALMEIDA et al. (1997), ao investigarem © horizonte Bt de um Podzélico Vermelho-Amarelo situado na planicic costeira do Rio Grande do Sul, mostraram que © contraste textural cntre os horizontes E ¢ E/Bt foi resultado da agao de essos de lessivagem no horizonte BE. Para os autores, esta hipdtese & justificada pelo aumento da razao argita fina/argila total em profundidade e pela expressiva cerosidade encontrada nos _horizontes iluviais. Os resultados dicaram também a existéncia de um proceso de destruigdo das argilas por ferrdlise, responsavel pela degradagiio quimica do topo do horizonte Bt. A importincia c significado das bandas onduladas na génese desses solos, partiu da sintese da revisdo feita por SANTOS (1995) ¢ OLIVEIRA (1997). Segundo o SOIL SURVEY STAFF (1960), as bandas onduladas ou “lameliaes” constituem-se em finas camadas Ienticulares (geralmente sub- horizontai |, com maior teor em argila do que o horizonte em que se encontram € que se sobressaem em horizontes freqiientemente arenosos, devido a0 contraste textural ¢ sua cor, A sua origem ¢ atribuida a processos de eluviagao das argilas localizadas no topo dos horizontes superficiais com posterior deposigao ¢ acumulago nas partes inferiores desses proprio horizontes. Alguns autores como DIJKERMAN et al, (1967) ¢ SUGUIO & COIMBRA (1976), interpretaram-nas como de origem geoldgica, relacionadas @ variagdes das caracieristicas faviologicas do proprio material de origem, ressaltadas posteriormente pela pedogénese. No Brasil, 0 trabalho da COMISSAO DE SOLOS (1969), foi pioneiro ao identificar sua ocorréneia nos ento denominados solos Podzolizados de Lins ¢ Marilia, contudo, nfo forneceu nenhuma hipétese ou interpretag%o com relagao a sua génese. QUEIROZ NETO (1975) ao estudar um perfil vertical desse solo variagio Lins, interpretou a formagao das bandas onduladas como resuliante de um processo de coluvionamentos continuos € sucessives, desenvolvidos sobre um material bastante homogéneo. A alternancia de deposigdes ligeiramente mais argilosas © mais arenosas promoveria ao longo do tempo a formagao de estratos descontinuos, irregulares e enriquecidos ora em argila ora em areia, sendo posteriormente acentuados pela acumulagdo de bases sobre as ja formadas bandas argilosas, correspondentes aos pequenos extratos argiloso: Posteriormente, QUEIROZ NETO et al. (1981), CASTRO & CURMI (1987) © CASTRO (1989) cm Marilia (SP), SANTOS ct al. (1992) © SANTOS 18 (1995) em Bauru (SP), bem como CUNHA (1996) no Noroeste do Parana, constataram que 2s bandas onduladas situadas no horizonte E apresentam uma ligagao com a base do horizonte Bt na forma de wn pedinculo, que representaria testemunho ou reliquia suspensa de antigos niveis menos profunds desse horizonte antes da sua transformagdo em E e rebaixamento para posigdes mais profundas nos perfis. CASTRO & CURMI (1987} ¢ CASTRO (1989), ressaltam ainda que estas bandas exibem estruturas associadas a uma dupla acumulagio superposta, resultante do processo de c-iluviagdio, Uma situada na parte inferior, herdada dos horizontes com topos hidromorfizados subjacentes (Bt), enquanto que a outra, situada na parte superior, surgiria pelo bloqueio da drenagem da parte inferior € consequiente preenchimento dos poros a partir das argilas mobilizadas de cima. OLIVEIRA (1997), ao estudar um sistema pedolégico lateral entre Areias Quartzosas Latossélicas e Podz6licos, intespretou as bandas onduladas como formadoras do horizonte Bt, por coalescéncia brescente para jusante, sendo um fato significative nesse trabalho ¢ 0 de que as bandas nao apresentam os pediinculos observados pelos outros autores ¢ sim um espessamento © coalescéncia progressiva tanto no sentide vertical como lateral nos perfis. Diferentemente, ROLIM NETO & SANTOS (1994), ao estudarem bandas onduladas nas Areias Quartzosas do agreste de Pernambuco, interpretaram a sua formagdo como consequéncia dos seguintes processos: (1) intensa percolagio da agua que carregaria toda a argila dos horizontes superficiais para as partes mais profundas do perfil; (2) subsequentes precipitagdes pluviométricas formariam um engol fredtico que ao subir de nivel no perfil traria as argilas dispersas em suspenstio de velta para posigdes mais superficiais; (3) parte superficial do lengol fredtico, ao sofrer pequenas evaporagées causaria a formagdo incipicnte de cutas cm alguns poros ou associados a superficie dos graos; (4) a formacdo desses cutis servitia para ativar 0 proceso de peneiramento, facilitande ainda mais 0 crescimento das bandas quando lengéis subsequentes fossem formados, Com relagio as caracteristicas micromorfol6gicas, esses autores ressaltam que a diferenga das bandas para os horizontes que as englobam, é a presenga de argila preenchendo a porosidade de empilhamento simples, principalmente na forma de pontes entre os gréios do esqueleto. Em certas partes, esses preenchimentos apresentam-se intacios e em outras bastante fragmentados na forma de pépulas isoladas, CASTRO & CURMI! (1987) também haviam mostrado esse tipo de ligagio simples em pontes entre gritos do esqueleto ¢ as argilas resirita @ parte superior das bandas, mas interpretaram-nas como de decantagao simples, resultante de novos fluxes descendentes ou de redistribuigio, acima da parte inferior, hidromorfisada ¢ herdada do topo do Bt. Sintese sobre a génese e as estruturas dos Podzolicos Em sintese, a revisio bibliografica realizada para os Podzélicos © para as bandas ondulacas, mostrou que hé uma maior divergéncia entre os autores do que para os Latossolos, no que se refere aos materiais de origem e os processos responsveis pela sua formacao Na década de 60 os trabalhos realizdos apontam para 2 autoctonia do material de origem dos Podzélicos, enquanto que aqueles desenvolvidos. nas décadas subsequeates se dividem nas seguintes hipéteses: (a) de descontinuidade catre 0s horizontes, resultante de remanejamentos associados aos episédios morfogendticos pos-cretdceos erosionais © deposicionais, (b) relacionadas a processes de e-iluviagao desenvolvendo os horizontes E ¢ Bt c (c) heranga do proprio material parental, (litodepéndencia), mais resistentes ¢ por isso realgadas posteriormente pela pedogénese com eluviagao superficial. Com relago as bandas onduladas, percebeu-se que somente os trabalhos desenvolvidos a partir da segunda metade dos anos 80 é que chamaram maior atengio para o fendmeno ¢ aventaram a possibilidade dessas bandas terem se formado por iluviagiio # situ, a partir de degradagtio do topo do horizonte B textural (Bt) por hidromorfia, reforgando a idéia de autoctonia desses solos ¢ cvolugio deste horizonte para um horizonte E, portanto ligadas a mecanismos de e-iluviagao, diferentemente da origem coluvial ou litodependente de trabalhos anteriores ov mesmo contemporaneos dessa fase, bem camo dos trabalhos mais recentes que sugerem fluxos descendentes formando o Bt por espessamento © coalescéneia, ou remontantes, sem relagdo aparente com o Bt. 1.3 Questdes sobre as transigées laterais dos Latossolos a Podzélicos So. relatiyamente recentes os esiudos que aplicam procedimentos demonstrativos do solo como um corpo continuo, organizado e distribuido lateralmente na paisagem. MILNE (1935) foi o primeiro a mostrar, a partir da nogdo de catena, que a distribuigdo ordenada dos sols na paisagem esiaria relacionada diretamente a topografia. Muito tempo se passou até que DELVIGNE (1964) demonstrasse os mecanismos de perda, tansferéncias © acumulagdes que respectivamente ocorriam do topo a base das vertentes, sobre um mesmo material de origem Mes foi a partir dos trabalhos desenvolvides por pedélogos franceses na década de 70 no continente africano, (BOCQUIER, 1973; BOULET, 1974; CHAUVEL, 1977 ¢ HUMBEL, 1978), que se consagrou 0 procedimento que passou a ser conhecido como Andlise Estrutural da Cobertura Pedologica, e, nas décadas de 70 ¢ 80 na Guiana Francesa ¢ de 80 na Franga ¢ no Brasil, neste por um grupo de pesquisadores brasileiros e franceses principalmente no Estado de Sao Paulo, € que se desenvolveu a demonstragao de que a diferenciagao lateral dos solos depende também de mecanismos pedogenéticos préprios, relacionados & adigo, perda, transformagio ¢ translocacao de materias no solo e que estes mecanismos poderiam acontecer a partir de uma cobertura inicial, serem descendentes c/ou remontantes nas vertentes, promover 0 aparecimento de novos solos independentemente do substrato rochoso © até mesmo controlar a evolugio do proprio celevo. Em 1987, durante 0 XX1 Congreso Brasileiro de Ciéneia do Sole (CBCS), BOULET, QUEIROZ NETO, CASTRO & CURMI, RUBLAN ¢ outros, apresentaram importantes trahalhos realizados no Brasil de Sudeste. Esses 18 trabalhos demonstraram claramente que para se estudar a génese e a evolugdo da cobertura pedologica é necessirio observar em detalhe a sucesso vertical Jateral dos horizontes, seus limites e principalmente suas transiges (em especial sua forma ¢ progressividade), além de suas caracteristicas morfoldgicas internas, na perspectiva de uma filiagao genética entre horizontes. BOULET et al. (1982 2, b © ©), ja haviam apresentado 0 método a partir a ¢ na Africa. RUELLAN (1985) € RUEFLLAN ct al. (1989), sistematizaram essas idéias, ressaitando que a cobertura dos estudos desenvelvidos na Guiana Frances pedologica encontra-se organizada € hierarquizada em varios niveis que vao desde as organizagdes clementares (microestratur até os sistemas pedologicos (paisager). Bstudé-la ¢ observar sistematicamente esses viitios niveis de sua organizagao, cujos recursos véo desde imagens de satélite ¢ fotos aéreas até o microsedpio, como havia exposto CHAUVEL (1979). Scgundo os autores, esses niveis correspondem a quatro escalas diferentes de organizacao da cobertura pedoldgica: a) as organizagdes elementares, que se como a expressam sob 2 forma de constituintes do solo, tais fragao argila (plasma), a fragao silte € areia (esqueleto) & os poros que juntos, constituem o fundo matricial; b) as assembléias, que se caracterizam por um certo nimere ou conjunto de organizagses elementares; ¢) os horizontes, que sio descrites pela presenga de um ou vérios tipos de assembléias ¢ d) os sistemas pedolégicos, que representam na escala da unidade do relevo, os horizontes € sua relagiio entre horizontes, ou seja, como cles se superpoem verticalmente ¢ se sucedem latcralmente do topo a base das vertentes, Essa complexidade da cobertura pedologica, expressa pelos _niveis embutidos uns nos outros, é ainda acrescida pelo fato de que cla é atravessada por sohugées que cireulam no interior © sobre o solo e que promovem a redistribuie&o interna do material tanto vertical como lateralmente, modificando- a.com tempo, numa dindmica em acordo com as condigées ambientais em que se encontram. Assim, € possivel afirmar que a cobertura pedoldgica encontra-se em perpétua cvolugao, onde as transformagées dos constituintes, das organizagoes & das propriedades fisico-quimicas ¢ mecinicas permitem reconhecer uma quarta dimensio, a temporal (RUELLAN, 1970). Para BOULET et al, (1984 © 1993), quando as condigdes pedobioclimaticas sio suficientemente cstaveis no tempo ¢ no espago, a evolugaio da cobertura pedolégica se dé conservando uma organizagao constante ¢ sem discordancia entre os horizontes € geram o que chamaram mais recentemente, coberturas em equilibrio (BOULET et al. 1993). Entretanto, quando as condigdes pedobioclimiticas se modificam, as organi: ages elementares tornam-se instiveis e tendem a se transformar, reequilibrando-se de acordo com 2s novas condigdes do meio. Essas transformagées originam novos horizontes lateralmente discordantes em relagiio aos horizontes da cobertura inicial. Sao os chamados sistemas de transformagdo pedolégica lateral que interrompem a um determinado nivel a cobertura inicial, desequilibrando-a ¢ dando lugar a uma outre cobertura com organizagdo © dinamica muites vezes diferente da anterior. As causas que promovem os desequilibrios podem ser tanto climéticas como tecténicas como revelam os trahalhos de BOULET (1974) e CHAUVEL (1977), por exemplo. Em regides de elima tropical com estages elternadas e bem definidas, ou seja, uma seca ¢ outra chuvosa, como é 0 caso daquola onde encontra-se a area de estudo, as passagens laterais Latossolo (Bw)-Podzélico (Bi) sio bastante freqiientes, sendo diversas as hipdteses aventadas para tentar explicar a transigao Bw-Bi ao longo das verientes, conforme exposto a seguir LEPSCH & BUOL (1975) estudando uma seqtiéncia Oxissolo (Latossolo) -Ultissolo (Padzélico) no Estado de Sao Paulo, coneluiram que o horizonte oxido se formava a partir da floculago e compactagZo do plasma formando microagregados, enquanto que 0 desenvolvimento dos horizontes argilicos dos Ultissolos devia-se principalmente ao processo de translocagiio das argilas oriundas dos horizontes superiores, por iluviagdo. Posteriormente, LEPSCH ct al. (1977a,b) acrescemtaram 0 papel imporiante da circulagao lateral da agua na formagdo de horizontes B texturais (Bt) a partir de horizontes latoss6licos (Bw). Para os autores, 0 fluxo hidrico lateral nos horizontes Superficiais provocaria um rompimento das ligages ferro- argila, permitindo a migragdo da argila para posigdes mais baixas da vertente, formando assim um horizonte do tipo Bt. CHAUVEL (1977) ¢ depois CHAUVEL & PEDRO (1978) em trabalhos conduzidos na regio de Casamance no Senegal, mostraram que a passagem dos solos vermelhos ferraliticos em solos bruno amarelados ferruginosos, se da a partir de uma série de modificagées no arranjo dos constituintes do solo, afetando as relagées ferro-argila e os diversos tipos de associagdes plesma-esqueleto. Segundo os autores, essas modificagdes ndo resultaram apenas da evolucdo geoquimics ou cristaloquimica dos minerais, mas da influéncia de um clima marcado por periodos muito sccos que agindo ini ialmente na superficie dos solos vermelhos provocaria a desestabilizagao das estruturas elementares (microagregadas) dos solos ferraliticos vermelhos com diminuigao do espaco poroso € da condutividade hidrdulica, resultando na formagao de solos com estrutura mais compacta, ferruginosos. MONIZ & BUOL (1982) © MONIZ et al. (1982) observaram numa topossequéneia em Itatibe (SP) que a transformagio Oxissolo-Ultissolo ocorre por deformagées plasticas induzidas pelos ciclos de umedecimento ¢ dessecagiio Segundo os autores, & medida que a vertente comega a apresentar uma ceria declividade, © fluxo lateral se instala e os agregados da parte superficial do solo sofrem um processo de adensamento devido a ciclos alternados de umedecimento © dessecacdo, Os agregados se aproximam uns dos outros, diminuindo a porosidade e aumentando a densidade, 0 que vai resultar na formagao de horizontes argilicos com estrutura em blocos, CASTRO (1989), av aprofundar os estudos realizados por QUEIROZ NETO et al. (1981) e FERNANDES BARROS (1985), em Marilia (SP), mostrou que além de uma frente de transformagiio do Bw para B textural (Bt), por adensamento do horizonte Bw, ocorre uma segunda frente de transformagio de horizonte Bt em horizonte cluvial (E), paralela ¢ simultinea a primeira. Para a autora, csses tipos de transformagio, Bw-Bt ¢ Bt-E, podem ser consideradas como evidéncias do desequilibrio funcional da cobertura pedoldgica inicial latossélica, resultado do eprofundamento do nivel de base ocorrido em conseqiiéncia da umidificagio progressiva do clima durante © Quaternario. A presenga des bandas onduladas, conforme o ja relatado, scriam testemunhos mais importantes desse processo de transformagao do Bt em E, ligado hidromorfia Suspensa que s¢ inslala na transigao enire eles, VITAL, TORRADO (1989) em Mococa (SP) e VITAL TORRADO (1994) em Tupi (SP), também interpretaram a transigao B latossélico/ B textural como, produto da agio conjunta do adensamento e da argiluviagio da cobertura latoss6lica original, com estrutura microagregada pelas mesmas evidéncias acima. Estes dois processos toriam como responsivel a agiio do fluxo hidrico lateral ¢ subsuperficial de solugdes no solo que promoveriam a translocagao ¢ a deposigao de argilas, tendo como conscqiiéncia o desenvolvimento de agregados maiores ¢ mais estéveis, embora 0 grau de floculaggo tenha diminuido significativamente, CASTRO (1989), também havia chamado atengéio para a diminuigao dos teores de ferro, aumento do ferro livre e diminuigio importante do grau de floculaggo do Bw para o Bt ¢ sobretudo deste para o E, fato similar a0 verificado por CHAUVEL (1977), embora a diminuigio do esqueleto grosseiro nao ocorresse na drea estudada por este autor. COOPER (1996) ao cstudar os solos da regido de Piracicaba (SP), chegou a conclusio semelhante para a formagéio do horizonte B textural, entretanto, associa tal ansformagao por adensamento a provavelmente, um periodo de clima mais seco € a argiluviagao a um periodo de clima mais umido, ambos ocorridos durante as oscilagées do Quaternatio. CASTRO et al. (1993) num estudo sobre a macroporosidade dos diferentes horizontes com auxilio de andlise de imagens, mostraram a presenga izonte Bt significativa de porosidade cavitiria coalescente no topo doh hidromorfizado, resultante da lixiviagdo das particulas finas promovidas pelos fluxes hidricos laterais suspensos no contato do E com o Bt. Recentemente, CASTRO (1999) relaciona essa porosidade 4 uma subsidéncia do horizonte suprajacente, capaz. de condicionar a concentragao de fluxos superficiais das Aguas pluviais, facilitando a instalagdo de processos erosivos, com be constatagao de concavidades em tergo médio das vertente ¢ presenga dos pipings ressaltados por SALOMAO (1994). SANTOS (1995) estudando um sistema pedologico constituido por Latossolo-Podzélico-Hidromérfico em Bauru (SP), mostrou que a transformagio do B latossdlico em B textural provoca um aumento do plasma argiloso, seguido por modificagdes importantes na mactoporosidade (tamanho, forma ¢ conexiio) ¢ nas condigées fisico-hidricas desses solos. Entretanto, 0 autor chamou atengio para 0 fato de que a génese do B textural ¢ ainda discutivel para a drea estudada, uma vez que nao foram observados argilas que pudessem caracterizar este horizonte como de iluviagao MONIZ (1996) 20 realizar uma revisdo bibliogrifica sobre as hipéteses levantadas para a génese dos solos, em particular dos horizontes Bw e Bt, assinala a importéncia dos fendmenos de adensamento por dessecagio como processo fundamental de génese dos Bt. Segundo © autor, apenas © process de argiluviagdo ¢ insuficiente para explicar a formagao de horizontes Bt a partir de horizontes Bw, tal a desigualdade de atributos fisicos existentes entre cles. Sintese sobre as transiges laterais dos Latossolos a Podzélicos Em sintese, nos trabalhos desenvolvidos em regides onde 0 Latossolo (Bw) grada lateralmente para o Podzdlivo (BY), ainda gue os autores nao abordem em detalhe a questao da génese dos Latossolos, parece haver um certo consenso quando a autoctonia do material de origem desses solos, embora alguns autores, menos numerosos, tenham interpretado 0 oposto. Com relagao ao material de origem do horizonte Bt, sio varios os estudos que apontam o Bw como seu material de origem, eniretanto, ha alguns que apontam a sua litodependéneia. Ha ainda uma certa divergéncia entre os autores no que diz respeito & interpretagao dos processos pedogentticos envolvidos na sua formagao. Em geral, os trabalhos que desenvolvem a idéia de evolugao do Bt a partir do Bw apontam para as seguintes hipéteses: (a) adensamento, (b) argiluviago e (c) adensamento/argiluviagio. Os que desenvolvem a idéia de litodependéncia falam em heranga do material de origem (lamitico), contudo, admitem também a ocorréncia de processos de aumento de argila por transformagio de minerais primarios. Quanto as condigécs ambicntais dessas transformagées, as possibilidades levantadas resumem-se @ praticamente duas: (a) ciclos de umectagao/dessecagao, ligados a sazonalidade climética, propria de climas opi com estagdes contrastadas, onde & comum @ ocorréncia desses solos justapostos lateralmente (b) oscilagGes climaticas mais secas e mais iimidas mais antigas ocorridas durante 0 Quatemdrio (paleoclimas). 1.4 Questées sobre o comportamento fisico hidrico das coberturas com Latossolos e Podzélicos Os estudos sobre a circulagiio hidrica nas coberturas que apresentam seja Latossolos dominantes com Podzélices pouco expressivos nos sopés das vertentes, seja com maior expressio dos Podzélicos aparecendo no tergo. superior/mnédio, sdo relativamente recentes. SALOMAO (1994) ao caracterizar 0 comporiamento fisico hidrico de alguns temas pedoldgicos na regido de Bauru, mostrou que o aparecimento do horizonte Bt, caracteristico dos Podzélicos, modifica de maneira consideravel a dindmica ¢ os fluxos da agua. A drenagem passa de vertical ¢ profunda no Latossolo no tergo superior a lateral ¢ subsuperficial quando aparece o Bt. SANTOS (1995) et SANTOS ct al. (1995) ao analisarem melhor um dos cos estudados por SALOMAO(1994) acre: sistemas pedologi ntaraim que esses fluxos, sobretudo os laterais, promoveriam a redistribuigaio de matéria ao longo das vertentes, com retirada principalmente de finos, 0 que poderia explicar espessamento do horizonte superficial cada vez. mais arenoso # jusante, como também a maior declividade das verientes. CASTRO (1999) associa tamhém esse proceso a concavidade em meia encosta, conforme 0 ja exposto. SALOMAO (1994) constatou ainda que © desenvolvimento do Bt modifica o perfil do lengol freatico, aumentando a carga hidrica e favorecendo o desenvolvimento do piping, gerador de vogorrocas. A camada arenosa pouco resisiente que constitui o horizonte E € mais suscctivel 4 erosio linear (ravinas) ¢, provayelmente, @ erosao laminar. O Jengol suspense acima do Bt também se manifesta por fenémenos de piping, contudo, mais superficiais que os provocados pelo tengol profundo, Posteriormente, FURIAN (1994) mostrou que modificagdes na dindmica da Agua da origem aos escorregamentos na Serra do Mar. Estudos realizados em coberturas pedoldgicas situadas no Noroeste do Estado do Parand apresentam conelusdes semelhantes no que diz. respeito a dindmica das aguas nas coberturas com sistemas constituidos por sucessdio lateral de Latossolos ¢ Podzdélicos. Os resultados des as pesquisas sao encontrados nos trabalhos de CUNHA (1996), CUNHA & CASTRO (1996), CUNHA & CASTRO (1998), OLIVEIRA et al. (1998), MARTINS et al. (1999), CUNHA et al. (1999), dentre outros. 1.5 Sintese da revisio bibliografica A revisao bibliografica realizada teve como objetivo principal identificar as diferentes hipéteses levantadas ao longo dos tiltimos quase 40 anos para a génese dos solos estudados. Ainda que 0 objetivo principal desse trabalho seja o de estudar a passagem lateral Latossolo-Podzélico, tornou-se necessirio conhecer também as hipéteses relacionadas & génese dos Latossolos ¢ dos Podzélicos (incluindo as bandas onduladas) onquanto perfis isolados, visto que o conhecimento de seus mecanismos de forma jo forneceram subsidios importantes para uma melhor formulagao das hipéteses relativas a génese da passagem lateral em questo. E interessante notar, sobretudo nesses estudos feitos em topossequéncias, que a geometria dos horizontes Bt ¢ E nas vertentes convexas ou convexo- céncavas, em geral é concordante com a topografia atual e, por outro lado, que numa mesma regidio, ora esses horizontes aparecem jé no tergo superior/médio, ora no tergo médio © ora no tergo médio/inferior, come constatado cm Bauru (SALOMAO, 1994), sendo que o sentido que parece clare é que quanto mais convexizadas, declivosas ¢ menos extensas, mais altos se encontram os Bt nas vertentes. Interessante também é que os horizontes E parecem se formar na maioria das vezes antes dos Bt, isto é, topograficamente estéio i montante do inicio destes, conforme apontam numerosos trabalhos: FERNANDES BARROS (1985), CASTRO (1989), PELLERIN & QUEIROZ NETO (1992), SALOMAO (1994), SANTOS (1995), CUNHA (1996), OLIVEIRA (1997) ¢ FERREIRA (1997). Isto. permite supor que numa mesma condigdo clin ac morfopedolégica geral de dissecagao do relevo, a topografia do modelado parece ter correspondéncia imediata com essa distribuigao. © QUADRO 1, mostra de forma resumida a cvolugio das hipoteses arroladas sobre a génese dos solos estudados a partir da década de 60. A partir des s hipéteses, ficaria, eventualmente, descartada a possibilidade de formagao dos Latossolos ¢ dos Podzélicos a partir de materiais de origem ligados a transporte arcolar extensive (cenozdico) de material (aloctonia), visto as demonstragGes convergentes dos trabalhos realizados, principalmente, a partir da segunda metade da década de 70, que apontam ta diregao da autoctonia de seus materiais de origem; entretanto, observa-se algumas poucas divergéncias, principalmente quanto aos processos envolvidos (fisicos, geoquimicos e biologicos) na génese de ambos os solos, 206 QUADRO 1 - EVOLUGAO DAS HIPOTESES SOBRE A GENESE, DOS SOLOS ESTUDADOS: Solos Epoca Hipéteses Knosé0 Formadbs in situ. ( i ims + Transportados (aloctonia) Latossolos | Anos 70 + Formados in situ a partir de - Processos Fisicos - Processos Geoguimicos + Formades in situ a partir de Anos 80¢90 | - Atividade Biolégica - Agdo conjunta de varios TOCeSSOS Anos 60 + Formados in sits. Podzélicos s (alocionia) (incluem as bandas | AN0S 70 s Pedogenéticos (¢- onduladas) cssos Pedogenéticos (© Anos 80.¢90 | iluviagao) + Litodependéacia associada a processes pedovencticos Passagem lateral * Adensamento Latossolo- Anos 70, 80 € 90 | + Argihiviagao Podzdlico + Adensamento/iluviagao No caso da formagao dos Podz6licos, embora a litodependéncia também seja bem demonstrada para a sua formagio, ressaltada pela atuagao posterior de processos pedogenéticos, é majoritaria a interpreta io de que os horizontes E so filindos geneticamente ao Bt que se degrada e desagrega por lixiviagao elou eluviagio mecdnica. Esta idéia ganhou reforgo com a interpretaglio de que es bandas onduladas podem ser testemunhos da sua degradagao ou ainda da sua formagie. Com relagiio 4 passagem lateral Latossolo-Podzélico, os trabalhos sugerem, em sua grande maioria, que ocorre uma transformagao do primeiro no segundo, vinculada a mecanismos de adensamento da esirutura microagregada dos Latossolos © a mecanismos de argiluviagdo, estes considerados ora principais ora subordinados. O que restaria saber ¢ se ha realmente uma transformagao lateral do Latossolo em Podzolico na drea de estudo © se ha, verificar come ela se desenvolve. Neste sentido, partir de uma seqiéncia com cobertura laiossolica ainda nao transformada em podzAlica a outra com cobertura podzética de pouca expressdio, numa mesma bacia, poderia contribuir para melhor esclarecer essa questio. CAPITULO 2 ROTEIRO METODOLOGICO E PROCEDIMENTOS EMPREGADOS A realizagio desta pesquisa previ algumas etapas de trabalho. objetivando compreender a génese ¢ evolugiio dos solos estudados. Os procedimentos empregados foram distribuidos em cinco ctapas, conforme segue abaixo. O QUADRO 2 resume a ordenagio dessas atividades em diferentes niveis de tratamento, QUADRO 2- ROTEIRO METODOLOGICO Niveis de tratamento | — Procedimentos Principals Produtos 1? Nivel: Estado das Confecean de cartas Compartimentagio | careeteristicas do tematicas ‘Topograifica meio fisico } Nivel: Estudo de Representagio Psirutura Superficial] — topossequéncias bidimensional dos representatives | sistemas pedolégicos 3° Nivel: Determinagoes Caracterizagao das ologia da Paisagem | analiticas e fisico | organizagdes mortoldgicas hidricas em ¢ das propriedades fisico laboratorio hidricas 4° Nivel: Sistematizagao dos_| Relagao solo x relevo Generalizagao dos resultados resultados Adaptado de AB’SABER (1969) por SALOMAO (1994) 0 2.1 Analise da documentacao cartografica regional como base para a escolha do compartimento de estudo Tnicialmente, foram consultadas ¢ analisadas as cartas tematicas do meio io de Bauru, obtidas a partir de SALOMAO fisico jf existentes para a re (1994), conforme relagdo: (a) Carta Morfoldgica (escala 1:50.00); (b) Carta de ala 1:50.000), (d) Carta Declividade (escala 1:10.000); (¢) Carta Pedologica ( Morfopedologica (escala 1:50.00) ¢ (e) Carta de Sistemas Pedoldgivos (escala 1:50.000). Na anilise das cartas, foi dada atengio especial a distribuigao ¢ a tipologia dos solos © dos sistemas pedologicos ¢ sua relagdo com 0 relevo, visto que a partir dessa relagao construiu-se a hipotese da presente pesquisa. As observagées preliminares mostraram que somente o compartimento morfopedolégico MP-1, mas especificamente a bacia do rie Bauru apresentava vertentes com cobertura totalmente latossélica, entretanto, @ escala de abordagem utilizada nessas cartas tematicas (1 50.000), nao possibilitou apontar os setores com maior possibilidade de acorréncia da cobertura podzolica realizou-se atividades Assim, com a finalidade de identificar essas ocorrénci: complementares de campo As atividades aconteceram ao longo das esiradas e caminhos da regido da bacia do rio Bauru ¢ dos talhdes de uma propricdade pertencente & Ferrovia Paulista S.A - FEPASA, conbecida como Horto Florestal. ‘A abrangéncia dos abalhos de campo foi limitada, pela dificuldade de acesso a grande parte da area, mesmo a pé, devico presenga de densa cobertura e também da area urbana em determinados setores da bacia. Desta maneira, foram selecionados apenas algumas sub-bacias do tio Bauru para prosseguimento dos trabalhos, a saber: Cérrezo Agua do Orestes, Cérrege da Ponte Preta, Cérrego do Galvao e Cérrego do Cemitério, todas com uso rural. Definidas as sub-bacias do rio Bauru, foi observada em campo a relagio entre os diferentes tipos de solos © a declividade, visto que levantamentos de campo anteriormente realizados, em conjunto com a observagae das cartas de declividade, antes referidas, confirmaram a ocorréncia da cobertura podzdlica associada a declividades superiores a 15%, principalmente na wansi¢o tergo médiofinferior das vertentes. ‘Tais levantamentos permitiram ainda constatar que haviem setores onde 0 Podz6lico aparecia (> 15% de declividade) © outros em que sendo a declividade: menor, © que ocorria era uma sucessiio lateral de Latossolo Vermelho-F: para Vermelho-Amarelo, identificada através de uma toposscquéncia feita inicialmente a trado (Horto A). 2.2. Seleeao da bacia hidrogréfica ¢ dos cixos para implantagio das topossequéncias Apés os Ievantamentes de campo, escolheu-se a bacia hidrografiea do Cérrego da Ponte Preta ¢ pequena parte de seu entorno para a presente pesqui sa, Visto que esta bacia apresentava as condigées necessirias para testar a hipdtese levantada, ou seja, vertentes com cobertura totalmente latossélica ¢ outras com a ovorréncia da cobertura podzélica no tergo médiviinferior, conforme 0 acima exposto, Os limites usados para definigdo da bacia foram os convencionais divisores d’égua que demarcam seu contarno, com excegao da porgdio norte, onde se incorporou parte das vertentes da margem direita da bacia do rio Bauru, com 0 objetivo de aproveitar os levantamentos de detalhe realizados anteriormente numa topossequéncia denominada de Horto A. Paca a representagiio cartografica da bacia, utilizou-se a base topogrifica publicada pelo IGC (1979), na escala 1:10.000. A escolha dessa escala de mapeamento decorreu de dois fatores: (a) possibilidade de maior detalhamento dos temas a serem pesquisadas representados e (b) da finalidade do trabalho, ou seja, relacionar 2s formas de relevo com os tipos de solos. As atividades de campo realizadas nesta etapa serviram também para escolher as vertentes para implantagao das topossequénciasconsideradas representativas das seqiiéncias pedologicas procuradas, ou seja, as topossequéacias Horto A, Horto Be Horto C, (PIGURA 1). Horto A ¢ Horto C - situadas em relevo de topografia suavizeda, com predominio da cobertura latossdlica em toda sua extensdo: a primeira, como jé indicado, locada na vertente que drena diretamente para o rio Bauru ¢ a segunda situaca a sudoeste da bacia do Cérrego da Ponte Preta; Horto B - situada em relevo de topografia mais movimentada, com predominio da cobertura latossolica e presenga da cobertura podzbliva restrita ao a delimitada. tergo médio/inferior. Esta topossequéncia localiza-se a oeste da ha © levantamento da topossequéncia Horto C foi realizado, com a finalidade de yalidar 08 resultados morfolégicos encontrados na topossequéncia Horto A. visto que esta no perience a bacia do Cérrego da Ponte Preta;, embora esieja muito proxima, temiticas detalhadas da area de estudo 2.3 Elaboragaio de cartas Sclecionada a area teste ¢ 0s tipos de topossequéncias de interesse. elaborou-se cartas tematicas, com o objetivo de representar de maneira mais detalhada as caracteristicas do releve. A base cartograiica ¢ os mapas temativos foram digitalizades ¢ gerados no software CAD, Microstation 95, a partir de cartas em meio analégico na escala 1:10.00 Foram conleccionadas as si 1:20.000; intes cartas tematicas na escala final 33 LEGENDA: — Estrada sem pavimentagao === Caminnos e tinas Topossequoncias: A= Horto A B- Horlo B G -Horto & [1 Bacia do Corrego da Ponte Preta| Escala 120.000 =l I _gura | - Limite da Area de Estudo e Localizagaio das Topossequéncias Estudadas 4 a) carta hipsométrica - foram agrupadas curvas de nivel num intervalo de 10 metros para representar a altimetria do relevo e os seus desniveis em relagio a0 fundo do vale, permitindo assim uma melhor expressiio do modelado. Utilizou-se as seguintes altitudes: > 490 m, 490 - 510 m, 510 - 530 m, $30 - 550 me < 550 m; b) carta de dech jade - esta carta foi gerada no software brasileiro, SPRING 3.3, eriado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Apos gerada a grade de declividade, a mesma foi “fatiada” para a elaboragdo da carta de declividade com as classes definidas em porcentagens desejadas. niimero total de elasses escolhida (06), teve como fungao, indicar com maior detalhamento possivel, os locais onde oorrem mudangas de declividade ¢ sua possivel relagdo com 0 aparecimento da cobertura podzélica, Assim, unilizou-se as seguintes classes de declividade: > 6%, 6 - 9%, 9 - 12%, 12 - 15%, 15 - 18% eX 18% ©) carta dos perfis topograficos - foram tragados 09 perfis topograficos, na medida do possivel perpendiculares as curvas de nivel. A elaboragiio desses perfis colaborou para a visualizagao das rupturas de declive mais significativas e também da extensdio média ¢ formas topogrificas das verlentes na bacia estudada, 4) carta morfolégica - a carta morfoldgica foi claborada a partir da interpretagao de fotografias aereas na escala 1:25.00, de trabalhos de campo e da andlise complementar das outras cartas temiticas (declividade, perfis topograficos & hipsométrica), sobrepostas cam auxilio de uma mesa de luz. A fotointerpretagiio teve como base, a identificagio de objetos a partir da andlise dos elementos usualmente reconheciveis nas fotografias aéreas tais como: cor, tonalidade, tamanho, forma, padio, altura, sombreamenio, cic. As informagOes foram retiradas das fotografia com superposigao de papel Ultraphan - overlay. 35 A metodologia utilizada na confecgio da carta morfoldgiea foi aquela proposta om SAVIGEAR (1965), tendo em vista que 0 autor propéem uma técnica de mapeamento que permite represeniar com maior detalhe as caracteristicas das vertentes. Segundo DEMEK (1967), um dos principais problemas para a claboragao de mapas morfol6gicos, reside na dificuldade de se classificar e sistematizar as formas do relevo. No presente trabalho privilegiou-se como pardmetro morfologico para classificar ¢ sistematizar © relevo a predominaneia de determinadas caracteris 1s, tais como: extensio, declividade, forma ¢ mudanges‘rupturas de declive das vertentes; ) cartografia pedoldgica - a cartografia pedolégica convencional de parte das bacias estudadas foi realizada a partir da base cartogréfica na escala 1:10.00, onde forma plotados todos os pontos obtidos através das sondagens 4 trado entre as topossequéncias. Es as informagtes somadas aquelas das topossequéncias, permitiram identificar ¢ delimiter a érea de abrangéncia dos Latossolos, dos Podzélicos ¢ dos Hidromérficos, ligando os pontes na carta topogréfica, que epresentam a mesma diferenga em termos das orga nizagdes pedologicas observadas. 1) carta de compartimentagi0 morfopedoligica do relevo - concluida a confeceaio das carts temiticas, procurou-se reconhecer niveis de relagao sucessivos entre as caracteristicas do meio fisico na bacia estudada, o que permitiu delimitar areas relativamente homogéneas ou homélogas, quanto a esses aspectos. 36 2.4 Levantamento e representagiio dos sistemas pedoldgicos estudados Foram desenvolvidas guintes atividades nessa etapa da pesquisa: a) escotha dos eixos de maior declive a serem inves igados, dispos perpendicularmente do topo da vertente ao fundo do vale: ») investigagao em sub-superficie dos principais volumes pedolégicos presentes, através de sondagens a trado ao longo das topossequéncias escolhidas, conforme 08 procedimentos da Anilise Estrutural da Cobertura Pedolégica, deseritos em BOULET et al, (1982 a € b). Nessa investigagao foi possivel reconhecer cor, textura, estrutura, umidade ¢ algumas feigdes pedologicas; ©) levantamento topografico expedito das topossequéncias com utilizagao de clinémetro, metro e trena, para registrar a topogratia, 0 comprimento ¢ a altura dos eixos das vertentes ¢ a locagao dos furos de sondagem; 4) abertura de nove trincheiras endo quatro na topossequéncia Horto A © cinco na Horto B. A abertura das trinchciras deu-se em fungaio do aparecimento cfou desaparecimento de cada tipo de solo identificado pela sucesso dos scus horizontes em profundidade, permitindo sua descrigao morfoldgica mais detalhada, sobretudo de suas transigoes verticais ¢ laterais. A topossequéncia Horto C foi levantada somente através de sondagens a trado, visto que o objetivo principal dessa investigagZio era comparar sua seqiiéneia pedolégica com aquelz encontrada na topossequéncia Horto A, como JA relatado; ©) coleta convencional de amosiras deformadas visando anilises laboratoriais correntes (fisica, quimica e mineralégica) © coleta especial de amostras 0 de liminas delgad: imagens), ensaios de porosimetria a merctrio, retengao de agua e condutividade indeformadas para conte (micromorfologia analise de hideéulica saturada; 31 {) representagao bidimensional das topossequéncias em papel milimetrado adotando-se a escala horizontal de 1:1.000 e vertical de 1.200, Foram locadas na segtio. topogrifica todas as trinchciras © perfis de sondagem a trado e em profundidade todas as caracteristicas morfolégicas observadas, sendo @ geometria lateral obtida pela ligagao lateral dos horizentes, por aproximagao gcométrica (BOULET et al. op. cit.); {) realizago de sondagens a trado entre as topossequencias para verificagao da continuidade dos horizontes entre elas. 2.5 Realizagao de anlises e estudos em laboratério As anal ses de lahoratério. serviram de hase para caracterizar as organizagdes micromorfologicas, 0 estudo da porosidade, as propriedades fisicas, hidricas, quimicas e mineraldgicas das trincheiras estudadas. © QUADRO 3, apresenta de forma resumida a relagio das anilises laboratoriais realizadas, bem como do tipo de amostragem. QUADRO 3 - RELACAO DAS ANALISES LABORATORIAIS E DOS TIPOS DE AMOSTRAGEM. Andlises laboratoriais ‘Amostras ‘micromorfologia indeformadas (blocas) fisicas, quimicas e mineralégicas deformadas ‘analise quimica pontual indeformadas (laminas) ! andlise de imagens indeformadas (blocas) | porosometria a meretiio indeformadas (torres) retengdo de agua indeformadas (anéis ¢ cilindros) condutividade hidraulica indeformadas (cilindros) 38 2.5.1 Estudo mieromorfolégico © estudo em detalhe de laminas delgadas de solo das amostras dos horizontes com cstrutura conservada, denominado estudo micromorfolégico, permitiu a observagao das principais organizagdes existentes no solo desde a (wy). A partir desse estudo, foi possivel verificar diferengas na concentragato dos escala milimeétrica (mm), até a escala micromeétri constituintes do solo, promovidas principalmente por processos de adigao, perda efou transformagao da matéria sélida, sobretudo argila. Realizou-se a fabricagio, descrigio ¢ interpretagio de quarenta e oito (48) laminas delgadas de solo de diferentes tamanhos, representativas dos principais horizontes dos solos c suas transigécs. 2.5.1.1 Fabricagao das laminas delgadas Essa atividade foi realizada na Unidade de Cigncia do Solo e Bioclimatologia do INRA de Rennes/Franga. A segio responsivel pela fabricagio de laminas delgadas dessa unidade possui equipamentos que permite responder a trés critérios fundamentais para uma boa qualidade das laminas delgadas: a) conservagao da estrutura original do solo, b) possibilidade de fabricar laminas de grande tamanho © c) homogeneidade na espessura das liminas. A fabricagao das laminas delgadas foi realizada em trés etapas: a) Desidratagiio das amostras © teor de umidade encontrado nas amosiras é fungao prin presenga da égua nos poros. Como a agua nao € miscivel com a resina utilizada na impregnagdo, foi necessdrio desidratar as amosiras, antes de iniciar 9 processo Ge impregnagao 39 A técnica de desidratagio empregada, descrita em GARNIER (1992), consiste em trocar a gua do solo pela acetona, liquide miscivel com a resina utilizada. ‘As amostras foram mergulhadas em recipientes com acetona, conectados a uma bomba pneumatica, com vazio de 30 cm’/mm, ¢ a trés colunas de zedlitos (pequencs bastGes microperosos), formando assim um circuilo fechado que em movimento possibiliiou a substituigdéo progressiva da agua pela acetona sem modificar a estrutura do solo. Esta substituigao foi possive! pelo fato de que a agua fica retida na malha porosa dos zedlitos (4 A) enquanto que a acetona continua em movimento. Os zedlitos quando saturados mudam de cor, passando do azul 20 marrom, sendo necessirio nese momento substituir a coluna saturada por outra contendo zeblitos desidratados. Este processo tem duragao média de 4 semanas ¢ termina somente apds a eliminagéo completa da fase aquosa de todas as amostras. b) Lmpregnagao das amostras Apés a desidratagZo, as amostras foram impregnadas por capilaridade, empregando-se uma resina de poliester nao saturada (Crystic SR 17449) adicionada & um pigmento fluorescente (Ciba-Geigy Uvitex OB). As amostras impregnadas com este pigmento fluorescente, quando expostas a agao dos raios ultravioleta mostram um maior contraste entre a fase sdlida © © sistema poroso, facilitando assim a observagdio deste Gltimo (MURPHY etal., 1977). ¢) Confecgio das liminas Depois de impregnadas ¢ endurecidas (polimerizadas), as amostras foram cortadas com serra diamantada e polidas mecanicamente, com ajuda de um equipamento denominado “Rectifieuse Plane”(retifica plana), adaptado fabricagao de laminas pela substituigao da sua plataforma magnética por outra 40. pressdio, que funciona como suporte para a febrivagao de seis (06) laminas a cada operagao, Apés esta clapa as laminas foram polidas manvalmente, com auxilio de um papel abrasivo, até atingir segdes delgadas com espessura média de 30um. Para este estudo foram fabricadas 36 Liminas de grande formato (9 x 16 cm) ¢ 12 de médio formato (7 x 11 em). 2.5.1.2 Descricio e interpretacao das laminas delgadas Esta atividade foi desenvolvida na sala de microscopia ética do Laboratorio de Ciéneia do Solo ¢ Bioclimatologia do INRA, sob a orientaggo cientifica do Dr, Pierre Curmi. Um microscépio dtico polarizante Zeiss e uma lupa binocular polarizante Wild, ambos sob luz normal ¢ polarizada, foram utilizados. A fundamentagio metodolégica, neces ‘éria para auxiliar na observagdo ¢ descrigao sistemdtica das Kaminas foi extraida a parlir de BREWER (1976), BOCQUIER (1973), STOOPS & JONGERIUS (1975), BOULET (1974), CHAUVEL (1979) © BULLOCK et al. (1985), além de um pequeno guia organizado por compilagéo e apostilado por CASTRO (1989). A descrig&o obedeceu aos seguintes principios: a) ordenagdo das laminas por perfil ¢ nas topossequéncics; b) observagdo inicial sob baixo aumento seguido de aumentos progressivamente maiores, ©) selegéo de campos Tepresentativos para a caracierizagio das organizagbes presentes e d) elaboracio de croquis, tomadas de foies, construgao de quadros sinteses e de grificos por estimativa para earacterizar a evolugao vertical e lateral dos arranjos (estruturas). A identificagao, a organizagao dos constituintes ¢ sua estatistica elementar (contagem, distribuic#o, dimensao, teores relatives, etc..), serviu também de base para determinar os critérios de arranjo, tipologia, hicrarquia ¢ cronologia entre as diversas organizagdes micromorfoldgicas.

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