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O filho de Deus. O espírito mais evoluído que já veio à Terra. Um das reencarnações do
Buda. Um profeta sábio, o mais sábio de todos. Um rebelde radical com fome de
reformas sociais. Um estudioso de religiões antigas que assimilou influências da cabala.
Um mestre com poderes místicos que tinha o poder de fazer a comunidade o ver com o
rosto de outro homem. Seria a mesma pessoa?
Resposta: não é apenas a mesma pessoa, mas a personalidade mais conhecida de toda a
história humana. Estamos falando de Jesus Cristo. Essas são apenas algumas facetas
assumidas pelo nazareno diante das grandes religiões não-católicas do planeta. Engana-
se quem acredita que Jesus só é respeitado pelos devotos da Igreja Católica. Pelo
contrário: esse ser humano extraordinário, cuja existência há cerca de dois mil anos
nunca foi inteiramente comprovada pela Arqueologia, é visto com admiração por
praticamente todo os povos do planeta.
Todas as grandes religiões, sejam elas monoteístas (que acreditam em um Deus único)
ou politeístas, consideram Jesus como um sábio, um ser humano de capacidade acima
dos demais. Alguns estudiosos vão mais longe do que isso. Hindus acreditam que Cristo
viveu na Índia entre os 18 e os 30 anos (um período que a Bíblia não menciona da
biografia do capinteiro de Nazaré), e lá estudou o hinduismo e o budismo, incorporando
elementos dessas religiões nas suas pregações.
Judeus acreditam que Cristo era versado nos ensinamentos da cabala, muito populares
na Palestina na época em que viveu, e passava mensagens subliminares dentro dos
discursos que proferia. Isso não passa de conjectura. Fato, na verdade, há apenas um: a
mensagem de paz e amor que Cristo pregou encontra resposta em praticamente todas as
religiões do planeta.
Basta examinar com cuidado a história e os conceitos básicos por trás de cada uma das
grandes religiões para entender como esse raciocínio faz sentido. Muita gente não sabe,
por exemplo, que a Igreja Católica se constitui como, na verdade, uma dissidência do
judaísmo. O judaísmo, religião oficial do povo judeu, existe desde aproximadamente
2.100 a.C. A religião nasceu como o primeiro culto monoteísta da história.
O Velho Testamento (primeira parte da Bíblia) é todo aceito pelos judeus. Na verdade,
Jesus é a pessoa que vai provocar o racha: ao contrário dos cristãos, os judeus não
acreditam que Cristo tenha sido o messias previsto na Torá (os cinco primeiros livros do
Velho Testamento). O judaísmo rejeita a natureza divina de Cristo. Os adeptos do
judaísmo rejeitam o Novo Testamento e continuam, até hoje, esperando a chegada do
enviado divino.
O islamismo, religião mais popular do mundo árabe, com 1,2 bilhão de adeptos,
também é uma dissidência, mas do próprio cristianismo. O islamismo nasceu no século
VI, a partir das visões do profeta Maomé. Para Maomé, Cristo seria o messias, sim, mas
teria falhado na missão recebida na Terra. Os islâmicos acreditam que Jesus não morreu
na cruz. Alguns crêem que ele enganou os romanos, usando seus poderes místicos e
descendo da cruz sem que ninguém visse; outros acham que ele sequer foi crucificado,
mas mudou de rosto e mandou outra pessoa no lugar dele; há até quem sugira que Cristo
teria suportado todo o tormento da crucificação e sobrevivido.
Quem viu o filme “A Última Tentação de Cristo” vai perceber que a narrativa de Martin
Scorsese bebe diretamente das idéias islâmicas a respeito do destino de Jesus após a
crucificaçãoDetalhe importante é que uma parte dos cristãos, antes mesmo de Maomé,
já duvidava da versão dos quatro Evangelhos oficiais. Alguns dos Evangelhos apócrifos
dos séculos I, II e III d. C. chegam a afirmar que Cristo teria sobrevivido à experiência
da crucificação.
Para os islâmicos, Jesus foi um profeta sábio, mas não o filho de Deus. Ele seria, na
verdade, mais um de uma longa linhagem de profetas judaicos, como Abraão e Moisés,
capazes de conversar diretamente com Deus. O islamismo, como se vê, também é uma
religião monoteísta, e também acredita em conceitos como Céu e Inferno, da mesma
forma que os cristãos. Para eles, contudo, Jesus era apenas um grande profeta – e nem
sequer o maior deles, já que Maomé tem esse posto.
Estabelecer uma relação entre Cristo e o hinduísmo pode parecer difícil, mas não.
Muitos hindus acreditam que Cristo possa ter sido um “avatar” (uma encarnação divina
que veio à Terra voluntariamente, para ajudar na salvação da humanidade, sem
benefício próprio).
Para compreender a forma como esses hindus encaram Cristo, é preciso conhecer um
pouco da doutrina, que tem hoje cerca de 650 milhões de seguidores, a maioria na Índia.
O hinduísmo é a primeira religião a acreditar na reencarnação e no carma. Para os
hindus, todo ser vivo (humano ou não) possui um espírito imortal, que reencarna
seguidas vezes, em busca de alcançar um estágio de perfeição.
Outra religião que vê Cristo de forma igual é o budismo. Há que se observar, contudo,
que a raiz do budismo está no hinduísmo, assim como o cristianismo uma religião que
nasceu do judaísmo. No budismo, o princípio indiano do samsara – a lógica da
reencarnação – também forma a base da doutrina.
Muitos budistas acreditam que Jesus Cristo foi um bodhisattva que desceu à Terra para
tentar ajudar a humanidade (uma crença muito parecida com a dos hindus). Para alguns
budistas – não todos – Cristo teria sido uma reencarnação de Buda. A idéia de que
Cristo pudesse ser filho de Deus, ou parte de uma Santa Trindade, não encontra eco no
budismo por um motivo simples: o budismo, como o hinduísmo, é uma religião
politeísta – ou seja, nela existem vários deuses, como Brahma e Shiva.
Nos outros credos cristãos, como o protestantismo e a Igreja Ortodoxa, Jesus Cristo
mantém o mesmo status de que desfruta no catolicismo. Nos dois casos, as religiões são
dissidências do cristianismo que surgiram por razões meramente políticas. A Igreja
Ortodoxa separou-se da Católica no século XI, quando o bispo de Constantinopla
recusou obediência ao Papa e transformou-se no principal representante da nova
religião.