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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsrTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
oo SUMARIO

D Deus á Procura do Homem


h-
<
Medicina e Milagre

LU "Sexualidade e Fé" por Guy Durand


O

Projeto "Palavra-Vida"
00
LU

0 Demonio: Sim ou Nao?


O
As Financas do Vaticano
co

Crónica Breve
2

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O
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a.

ANO XXX — AGOSTO 1989 327


ERGUNTE E RESPONDEREMOS AG.OSTO - 1989
Publicacáo memal N? 327

Diretor-Responsável:
SUMARIO
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a mullí m Deus á Procura do Homem 337
publicada neste periódico
0 sinal de Deus:
Diretor-Administrador: Medicina e Milagre 338
D. Hildebrando P. Martins OSB
Tema delicado:
Administrado e distribuicao: "Sexualidade e Fé" por Guy Durand. . 345
Edicdes Lumen Christi
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/601 Na Oidem do Dia:
Tel.: (021) 291 7122 Projeto "Palavra-Vida" 357
Caixa Postal 2666
20001 - Rio de Janeiro RJ Com objetividade:
O Demonio: Sim ou Nío? 365

Mais urna vez:


As F i naneas do Vaticano 380

v» S«0t c0
ftllcX «• SI ■
u-i trian ■ Crónica Breve 383
Jí» tait. a« «

NO PRÓXIMO NÚMERO:

328 - Setembro - 1989

Pornografía e Violencia nos Meios de Comunicacao. — A quantas anda o


Ecumenismo? — Nomeapao de Bispos e Autoritarismo. — Ecos de Carta a
Fidel Castro. — Projeto de nova Legislacao Religiosa na URSS. - O Holis-
mo:queé?

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL: NCzS 20,00 - Número avulso: NCzS 2,00


Pagamento (á escólito)

1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicoes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes" Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento, pagável na agencia Praga Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo — A identif¡cacao é difícil).
Deus á Procura do Homem
Quem estuda a S. Escritura, corre o risco de sé deter em minucias ou
em particulares lingüfstico-arqueológicos, sem perceber devidamente a Gran
de Mensagem que o Livro Sagrado, através dos seus sucessivos episodios, nos
quer transmitir: Deus está á procura do homem... sim, muito mais do que o
homem anda em busca de Deus.

Com efeito; logo ñas primeiras páginas lemos a indagacao: "Adá~o, on


de estás?" (Gn 3,9) — o que significa que o homem se afastara de Deus. To
da a literatura do Antigo Testamento evidencia essa mesma atitude do Se-
nhor Deus, que no Novo Testamento é formulada mais explicitamente aín
da: "Um reí preparou urna ceia, para a qual convidou seus amigos... Destes
cada qual se escusou de comparecer, alegando, um, ter comprado um terre
no, que ele devia ver; outro, ter adquirido cinco juntas de bois, que ele pre-
cisava de experimentar; mais outro, ter-se casado recentemente... Em conse-
qüincia, o re i mandou chamar outros convidados... (cf. Le 14,16-24). Com
esta parábola precisamente Jesús quer ilustrar o misterio de Deus que procu
ra o homem, .. o homem que se recusa. O próprio Cristo, alias, diz em Jo
3,16: "Deus tanto amouo mundo que Ihedeu o seu Filho Unigénito..."

A atitude de Deus encontra da parte do homem urna resposta tevtana,


como insinúa a parábola citada. O homem - pode-se dizer - tende a procu
rar os dons de Deus (bens transitorios e fugazes) mais do que o próprio
Deus; e, se o Senhor nao Ihe concede o que o orante pede, a criatura tende a
abandonar a Deus. Os homens esquecem um fato evidente da vida cotidiana:
há pais que cumulam de presentes os seus filhos para se verem livres deles ou
para nao terem que se dar a eles (sao os pais "bonzinhos"). Deus naoé tal:
Ele nem sempre nos sacia com os bens que Lhe sugerimos, precisamente por
que se quer dar a nos;quer que ultrapassemos as dádivas materiais e transito
rias para aspiráronos mais ávidamente ao Dom Perfeito e Definitivo, que é o
próprio Deus. As dádivas materiais (que nao deixam de estar dentro do pla
no salvífico do Pai) hao de ser trampolim a fim de que mais decididamente
nos voltemos para o Transcendental. É o que insinúa a parábola de Le 11,
11-13: o filho pede ao pai a sua merenda (pao, peixe e ovo)... o pai nao Iha
recusará... é certo. Continua, porém, Jesús: "Se vos que sois maus, sabéis dar
boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu nSo dará o Espirito
Santo aos que 0 pedem?" (Le 11,13). O Espirito Santo é o Dom por exce
lencia, que deve pairar sempre em nossos horizontes e para o qual pao, peixe
e ovo hao de ser acenos e estímulos.
Possa esta impressionante mensagem bíblica calar fundo no coraclb
dos cristSos e despertá-los para urna resposta sempre mais coerente e genero
sa ao Deus que, paradoxalmente, busca o homem mais do que o homem bus
ca a Deus! E.B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS

Ano XXX - N? 327 - Agosto de 1989

O sinal de Deus:

Medicina e Milagre

Em síntese: A Igreja sempre admitíu, a continua a admitir, a possibili-


dade de que Deus faca milagres. Ela espera mesmo que isto acóntela quando
se trata de proclamar publicamente a santidade de alguém em cerimónia de
Beatíficacao ou Canonizacao. Tais verdades vém a tona com énfase atual-
mente, quando se dá inicio ao inquérito diocesano para a Causa de Beatifica-
ció de Madre María José de Jesús, Religiosa carmelita falecida aos 1 i/03/
1959 no Rio de Janeiro. — A Igreja, porém, é muito cautelosa diante de fa-
tos tidos como milagrosos; pede a colaboracSo de peritos de diversas áreas,
que ¡nvestlguem a historicidade dos relatos, a (ndole portentosa dos fatos e
as características religiosas dos mesmos. Com efeito; o milagre, em perspecti
va católica, nunca é mero fato extraordinario e surpreendente, mas é tam-
bém um sinal de Deus que, de maneira mais eloqüente, atesta algo em res-
posta as preces humildes e filiáis de criaturas carentes de um beneficio da
Misericordia Divina.

0 público em ge ral é, nao raro, interpelado pela noticia de milagres


obtidos em ambientes diversos (católicos e nao católicos). Muitos desses ca
sos nao sa"o propiamente milagres, porque explicáveis pela ciencia, mas, na
medida em que se trata de fatos reais, podem ser chamados "grapas" e
"grandes grapas".

A admissSo precipitada de milagres faz que os homens mais dotados


de senso crítico sejam um tanto esticos em relacao a milagres; existiram e
existem realmente? Ou nao se trata de fenómenos naturais e raros que a

338
MEDICINA E MI LAGRE

ignorancia humana, na sua insuficiencia, qualifica como milagros? Eis as per-


guntas que surgem.

Tal é a temática que as páginas seguintes abordarao, tendo em vista es


pecialmente as questóes levantadas por ocasiáo da abertura do Inquérito
Diocesano para a Causa de Beatificado e Canonizacao de Madre María José
de Jesús (1882-1959), monja carmelita descalca do Convento de Santa Tere
sa do Rio de Janeiro. Por conseguinte, antes de abordarmos o tema "mila-
gre", parece oportuno dizermos algo sobre a pessoa e a obra de Madre María
José.

1. Madre María José de Jesús

' Honorina, filha do grande historiador incrédulo Capistrano de Abreu,


nasceu aos 18/02/1882 no Rio de Janeiro. Em sua juventude brilhou na so-
ciedade carioca, vestindo-se com elegancia e encanto. — Aos vinte anos de
idade, em meio a um baile, sentiu-se súbitamente impelida a deixar o salao e
voltar para casa; algo de misterioso ocorrera dentro déla, dando inicio á sua
conversá"o. Ainda ficou nove anos no mundo, atendendo a sua avó idosa, en-
quanto praticava a piedade e a caridade. Finalmente aos 29 anos de idade
entrou no Carmelo de Santa Teresa no Rio de Janeiro, trocando o nome de
Batismo, Honorina, pelo de Irma* Maria José de Jesús. Com seis anos apenas
de Vida Religiosa, foi eleita Priora, fato este que se repetiu freqüentemente
até a sua morte, ocorrida aos 11/03/1959, após alguns anos de graves enfer-
midades físicas. Madre Maria José deixou escritos de espiritualidade, que
atestam a profunda vida interior que levava, e justificam a fama de santidade
que Ihe toca.

Aos 11/05/1989 foi aberto o Inquérito Diocesano referente a Religio


sa; ser3o ouvidas testemunhas e examinados os- escritos da Religiosa, a fim
de se poder levar á Santa Sé ou á Congregacao para as Causas dos Santos,
dados precisos, que se rao ulteriormente examinados. Se após nova análise
dos fatos e documentos se der algum milagre judiciosamente reconhecido
como tal ou como sinal de Deus, Madre Maria José poderá ser proclamada
"Bem-aventurada", e estará concluido o processo de BeatificacSo. Caso no
vo milagre se verifique, poderá ser canonizada ou ter o seu nome incluido
no Canon ou Catálogo dos Santos da Igreja. Este último ato é de importan
cia; ao rea liza-lo, o Papa goza do carisma da tnfalibilidade, pois, canonizan
do alguém, propSe essa pessoa como modelo de vida crista* e fiel intercessora
junto a Deus em favor dos homens. Por isto, para que proceda a uma Cano-
nizaclo, o Sumo Pontífice nao somente pede o estudo solícito de seus cola
boradores, mas também dois sinais de Deus, que sao os mMagras.

339
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

Assim se vé que aínda hoje a Igreja acredita em milagres, nao, porém,


como simples demonstracñes da Onipoténcia Divina, mas como sinais ou res-
postas de Deus a um justo e sadio anseio dos homens. O milagre vem esclarecer
as mentes dos fiéis e dissipar dúvidas que nelas possam existir; no caso das
Causas dos Santos, vem confirmar os indicios de santidade profunda que
parecem marcar tal ou tal Servo(a) de Deus. Sorriente quando se trata de
mártires que evidentemente tenham dado a vida por causa da fé, a I greja dis
pensa milagres, pois o martirio é auténtico testemunho de amor a Deus e
perfeipáo espiritual.

A Igreja é muito cautelosa diante das proclamacoes de milagres que


Ihe sao feitas. Visto que a fantasía humana se pode iludir a respeito, existem
instancias sucessivas para que finalmente a Igreja possa falar de milagre.

Examinemos algo do procedimento adotado pela Igreja para discernir


os fatos extraordinarios.

2. Igreja, Milagres e Medicina

2.1. Tras exigencias

Tres sao os requisitos para que a Igreja reconheca a autenticidade de


um milagre:

1) Trate-se de um fato histórico ou realmente ocorrido (pois muitas


vezes os casos apresentados como milagres nSo correspondem, em parte ou
de modo nenhum, á realidade histórica). O exame da historicidade já elimi
na muitos portentos. Tal exame é efetuado no local mesmo onde o possível
portento ocorreu; os peritos civis e eclesiásticos nao de ter todo interesse em
nao trabalhar sobre logros e ilusoes.

21 O fato comprovado como histórico seja absolutamente inexplicável


pela ciencia nem se veja alguma possibilidade de que ven ha a ser explicado
futuramente.

3) O fato científicamente inexplicável deve ter ocorrido em contexto


digno de Deus, de modo que possa ser tido como genuino sinal ou resposta
de Deus aos fiéis que o imploravam.

2.2. Lourdes

Um dos espécimens típicos do rigor com que a Igreja procede na apu-


racao dos fatos tidos como portentosos, é o que se dá em Lourdes (Fran
ca).

340
MEDICINA EMILAGRE

Existe nesta cidade o Bureau des Constatations Medicales (Centro das


Averiguacóes Médicas), que examina as pessoas que se dizem curadas por
ocasiao de peregrinajes áGruta'de Massabielle; sá"o trinta a cinqüenta casos
por ano.' Após verificar a cura real e duradoura de algum paciente, esse Co
mité envia o caso a Paris, onde urna Comissá*o Médica Internacional, com-
posta de grandes especialistas de qualquer orientaca"o religiosa ou filosófica,
se reúne anualmente para estudar os casos que os médicos de Lourdes te-
nham julgado inexplicáveis pela ciencia. Tais casos sá"o entSo minuciosamen
te analisados, discutidos e submetidos a votacao para se definir se realmente
podem ser considerados fora do alcance da Medicina. Dado que os médicos
cheguem a esta conclusao, a autoridade eclesiástica iniciará o processo reli
gioso propriamente dito para averiguar se realmente tal ou tal portento pode
ser tido como resposta ou sinal de Deus aos homens.

É de notar que, dentre 5.000 curas averiguadas em Lourdes, nem mes-


mo cem foram pela Igreja proclamadas milagrosas: sete entre 1858 e 1862;
23 entre 1907 e 1913; 24, de 1946 a 1970...

2.3. O Coloquio dos Medióos

Em comegos de 1989 os médicos que analisam os casos de Lourdes se


reuniram em Roma com os colegas que trabalham na Congregagao para as
Causas dos Santos. Com efeito; a Santa Sé tem, entre os seus Dicastérios,2
urna CongregacSo encarregada dos processos relativos á Beatif¡cacao e á Ca
nonizado; uma das ComissSes que funcionam nesse Departamento da Santa
Sé, é a Consulta Medica ou uma Junta de Médicos que analisam fatos tidos

1 Semelhante órgao foi recentemente criado em Fátíma com a mesma fina-


lidade, conforme noticia divulgada por La Documentaron Catholique n?
1984.21/05/89, p. 513:
"No decorrer de uma entrevista coletiva á imprensa em Fátíma aos
11/03/89, foi anundada a criacSo de uma Comissio Médica Nacional encar
regada de averiguar eventuais curas extraordinarias atribuidas- á intercessio
de Nossa Senhora de Fátíma ouaos videntes Frandsco e Jacinta Marto. Sob
a direfio do Prof. Daniel Pinto Serrao, ela consta de dez professores das
Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra, espetíalistas em diversos setores
das déndas médicas, como a cardiología, a pediatría, a drurgia, a neuroiogia
a psiquiatría, a radiología,.. Dedarou o respectivo presidente: A ComissSo é
estritamente independente tanto do ponto de vista edesiéstico como do reli
gioso". ■

2 Quase Ministerios.

341
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

como portentosos e atribuidos a estela) ou aquele(.a) servo(a) de Deus mor-


tola) em fama de santidade.

NodecorrerdesseColloquium Medicorum (Coloquio de Médicos), fala-


ram médicos, teólogos e canonistas expondo os seus pontos de vista e os cri
terios aplicados para examinar as curas milagrosas. O Prof. Dr. Rafael le Cor-
tesini apresentou entao um relatório dos trabalhos da Consulta Médica, que
analisou mais de cem casos entre 1982 e 1988 e chegou as seguintes con-
clusóes:

1) Mesmo em nossa época de grandes progressos da Medicina, existem


casos nos quais a terapia mais adequada e a cirurgia moderna se mostram
ineficazes. Nao obstante, o paciente é realmente curado de seus males. Isto
acontece de maneira que é cientificamente ¡nexplicável.

2) Tais curas sao quase instantáneas; sao completas e duradouras. Em


caso nenhum podem ser atribuidas a auto-sugestá"o nem sao desencadeadas
por mecanismos psicossomáticos.

3) As curas extraordinarias tém-se verificado no mundo inteiro e em


qualquer ambiente: hospital, residencia de familia, comunidade religiosa...

4) Em todo e qualquer caso, os testemunhos dos médicos e das enfer-


meiras sao indispensáveis como dados informativos de primeira importancia.

0 Pe. Rene Latourelle S.J., Professorda Universidade Gregoriana (Ro


ma) e participante do Coloquio, enfatizou os dois ni'veis nos quais os fatos
extraordinarios sao apreciados: o nivel médico-científico e o nivel teológico:

Da pericia médico-científica, a Igreja espera que o médico observe e


julgue como homem de ciencia, utilizando todos os recursos ten en icos, mes
mo os mais sofisticados, que o progresso moderno I he proporciona. A Igreja
será sempre grata por urna análise bem feita, conscienciosa, sem preconcei-
tos e sem distorcoes da realidade. Todavía, acrescentou, a considerado cien
tífica é apenas urna das duas facetas do processo: o milagre nao é apenas um
fato extraordinario; é um sinal religioso ou um discurso de Deus aos no-
mens. Daf a necessidade do exame teológico-canonico após o estudo cientí
fico de cada caso. Disse mais o Pe. Latourelle:

"Em última análise, o juizo a ser proferido sobre o milagre como sinal
de Deus é um problema religioso; situase naquele nivel de interiorídade em
que o homem jé decidíu que ele basta a si mesmo ou, ao contrario, ele toma
consciéncia de sua miseria, se reconhece pobre, frágil, carente e necessitado
de salvacio".

342
MEDICINA E MILAGRE

O mesmo professor Latourelle insistiu ñas tres etapas que deve percor-
rer toda averiguacSo de milagre: 1) constatado de fato histórico realmente
ocorrido e fielmente.narrado; 2) verificapáto do caráter auténticamente pro
digioso desse fato; 3) reconhecimento do respectivo contexto religioso digno
de Deus. A averiguado de um milagre é, portanto, obra interdisciplinar, na
qual convergem as competencias criteriosas do historiador, do médico, do
físico, do filósofo, do teólogo, do canonista..., que devem fazer, por vezes, o
papel de "advogado do diabo" para evitar qualquer ilusSo científica ou reli
giosa. Em última instancia, porém, só quem poderá falar de milagre como si-
nal de Oeus, será a autoridade eclesiástica, após ter levado em conta os lau
dos dos peritos e assistida pelas luzes do Espirito Santo. Por isto o reconhe
cimento de um milagre pode levar anos..., em alguns casos dez anos; os peri
tos podem solicitar novos e novos dados para emitir o seu laudo; especial
mente os médicos fazem questao de se certificar de que a cura foi total e du-
radoura através dos anos.

2.4. Um exemplo típico

A ti'tu lo de exemplo, eis o milagre reconhecido como tal para a cano-


nizacao da Serva de Oeus inserida no Catálogo dos Santos aos 11 de dezem-
bro de 1988. Tratava-se de Maria Rosa Molas y Vallvé, fundadora da Congre-
gacaodas Irmas da Consolacao (1815-1876):

Em setembro de 1981 um menino de cinco anos chamado William


Guillen saiu a pescar com seu pai na Lagoa de Calcara. Quando segurava pela
cauda um peixe com a máo direita, este Ihe arrancou o dedo mindinho da
mao esquerda. Regressando á térra, o pai conseguiu extrair do peixe o dedo,
e a ma"e do menino o enterrou. Levada ao Hospital de Calcara, a vftima foi
atendida por um médico, que pediu que Ihe levassem o dedo, sobre o qual as
formigas já se haviam acumulado. O doutor sugeriu entáo que rezassem á
bem-aventurada Maria Rosa Molas, implorando a sua intercessao em prol da
recuperacáfo da enanca. E procedeu a um implante rudimentar do dedo nu-
ma intervenpao cirúrgica que durou apenas vinte minutos e que científica
mente nao tinha probabilidade de éxito. Eis, porém, que ao cabo de seis dias
o médico verificou que o dedo havia retomado o seu lugar exato na m§o do
menino como se absolutamente nada tivesse acontecido. — O caso foi levado
á Junta Médica da Congregacáo para as Causas dos Santos, que aos 23/01/
1987 declarou humanamente inexplicável a cura assim obtida. Em ulterior
instancia, os teólogos aos 15/03/1988, reunidos com os Cardeais e Bispos da
mesma CongregacSo, houveram por bem reconhecer nesse fato extraordina
rio um sinal de Oeus que autent¡cava a santidade da bem-aventurada Maria
Rosa Molas; o Santo Padre Joao Paulo II confirmou a sentenca e resolveu ce
lebrar a respectiva cerimonia de Canonizado aos 11/12/1988.

343
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

Neste episodio verificase que o evento extraordinario ocorrido em se-


tembro de 1981 só foi reconhecido como milagre em 1988 após numerosos
e meticulosos exames de peritos.

Alias, nao só curas físicas portentosas vém ao caso quando a Igreja fala
de milagres; outros beneficios, registrados no plano espiritual, podem tam-
bém ser levados em consideracao.

3. A palavra de Joao Paulo II

O Papa Joáo Paulo II rece be u em audiencia especial os participantes


do Coloquio dos Médicos e Ihes lembrou o significado dos milagres na pers
pectiva da fé católica: as curas, como dons extraordinarios e sinais, podem
ser o testemunho eloqüente de que Deus é Amor. E prosseguiu:

"Esses sinais tém suscitado numerosas conversoes e ¡ncitaram muítos


homens e mulheres a se doar mais generosamente....

Tratándose das causas dos Santos, os. milagres tém o papel de manifes
tar a voz de Deus no discernimento que a Igreja realiza em vista da Beatifica-
cao ou da Canonizacao de um servo ou de urna serva de Deus. Esclarecem e
confirmam o julgamento que compromete a autoridade de Pedro na Igreja.
Em Lourdes, os milagres comprovam a mediacao de María em favor dos en
fermos.

Em qualquer caso, as curas científicamente inexplicáveis implicam


urna mensagem e um convite a urna vida cristS mais fervorosa. Hoje em dia
parece que a pedagogía divina ilumina os fiéis mais através de intervencoes
espirituais e interiores do que mediante gracas físicas e corporais. É fato, po-
rém, que Deus concede sempre os seus beneficios inesperados em resposto ás
preces feitas com fé e conf¡anca na forca do seu Amor".

Tal é o sentido dos milagres na visáo católica dos fatos. Ve-se que dife
re profundamente das concepcoes e dos procedímentos que fora do Catoli
cismo apregoam curas e milagres.

Neste final alguém dirá: as Canon ¡zacees requerem sempre muito di-
nheiro; sao elitistas. Respondemos: é certo que a mobilizacao de peritos para
os indispensáveis exames, no caso, exige quantias de dinheiro. Mas tém sido
canonizados homens, mulheres e jovens de todas as classes sociais (tenhamos
em vista a humilde Maria Goretti, com seus doze anos!). A Providencia Divi
na suscita os meios para enaltecer quem ela quer exaltar; a santidade refulge
por si mesma! De resto, nao é a Canonizacao que faz os Santos, mas estes
sSo tais com ou sem Canonizacao.

344
Tema delicado:

"Sexualidade e Fé"

por Guy Durand

Em ííntese: Guy Durand, teólogo leigo canadense, com multa erudi-


cSo escreveu um livro em que. ao lado de be/as páginas que afirmam o puro
ideal cristSo relativo é sexualidade, outras se encontram lamentáveis pelo seu
espirito crítico e liberal. O que prejudica o livro, é a demasiada preocupado
com o subjetivo ou com as condicoes individuáis do sujeito da Moral; o peso
atribuido és circunstancias subjetivas é tal que sugere ao autor freqüentes
excecoes és normas objetivas da Moral. Por consegw'nte, estas nSo sSo rejei-
tadas, mas acabam sendo solapadas pela excessiva atencSo aos traeos subjeti
vos de cada caso. A Moral Católica nSo ignora os aspectos subjetivos de cada
situacao, mas procura ajudar o sujeito a viver segundo normas objetivas.

* * *

Guy Ourand é um teólogo canadense, que publicou em francés a obra


Sexual¡t6 et Foi. Synthése de Théologie Morale, traduzida e publicada em
portugués pela Editora Loyola.1 0 autor, citando rica documentapao, abor
da a moralidade da vida sexual em tres partes: 1) Pressupostos doutrinaise
Metodológicos; 2) Sentido cristá*o da Sexualidade; 3) 0 compo.tamanto se
xual do Cristao. — Ñas duas primeiras partes, G. Durand se detérp em consi-
deracSes de ordem geral, entre as quais se encontram traeos valiosos de dou-
trina, ao lado de páginas pouco felizes (veja-se o que está dito sobre o pra-
zer as pp. 40-43). A terceira parte da obra desee ao estudo particularizado
de: 1) o ato conjugal; 2) relacSes heterossexuais fora do casamento; 3) a
masturbacao; 4) a homossexualidade; 5) o controle da natalidade; 6) o celi
bato cristao. Ao abordar tais assuntos, o autor costuma expor a doutrina ofi
cial da Igreja, que ele parece aceitar; acrescenta, porém, "Hipóteses de pes
quisa" ou "Pistas para reflexao" ou "Reflexoes pastorais", que aos poucos

' Traducio de José A. Ceschin e Mario Maráolino. Ed. Loyola, SSo Paulo
1989, 138x207 mm, 380 pp.

345
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

vao desfazendo a posicao assumida anteriormente. Donde resulta um ensina-


mentó ambiguo, tendente a concessoes ná"o enquadráveis na doutrina da
Igreja. — Sabe-se, alias, que a Moral se tornou em nossos dias um campo de
estudos calorosamente controvertidos. O subjetivismo e o antropocentrismo
predominam aberta ou veladamente em muitos tratados, inclusive em varias
passagens do livro em foco. É o que passamos a considerar.

1. Sete pontos importantes

Consideraremos sete temas aos quais G. Durand aplica concretamente


os seus principios.

1.1. O ato conjugal

O capítulo Vil do livro estuda "O Ato Conjugal". Depois de expor a


doutrina da Igreja sobre a fidelidade esponsal, Durand propóe "Reflexoes
Pastorais", onde pondera a autonomía de cada cónjuge no casamento; cita
entao o livro de G. O'Neil e N. O'Neil intitulado "Le mariage open" (O Ca
samento Aberto, conforme a traducSo brasileira); tal livro, segundo Durand,
"pode ajudar a entender e a viver um casamento harmonioso, fundado sobre
o desejo mutuo de ajudar o outro a ser ele mesmo, a se realizar, a desenvol
ver todas as suas potencialidades" (p. 147).

Que seria esse "casamento open ou aberto"? — G. Durand nao o explí


cita. Mas escreve urna nota de rodapé ambigua:

"As aventuras sexuais nao sá~o de maneira alguma essenciais á tese dos
autores sobre o casamento aberto. O livro, por outro lado, nao fala dos fi-
Ihos e das difículdades que estes causan é espontaneidade e á Hberdade dos
cdnjuges" (p. 147, nota 51).

Pergunta-se: que sao as aventuras sexuais, no entender de G. Durand?


Se nao sSo essenciais, sfo aceitáveis a título acidental? Em que sentido os f¡-
Ihos causam dificuldades á espontaneidade e á liberdade dos cdnjuges?

Seria oportuno que Guy Durand desenvolvesse um pouco mais o seu


pensamento. Em outros capítulos do livro, ele se revela claramente favor ave I
a derrogar á doutrina oficial da Igreja.

1.2 Homossexualismo

No capítulo X (pp. 209-251) o autor trata do homossexualismo.


Observa sabiamente que este é um desvio (p. 236): "Seria um erro nao que-

346
"SEXUALIDADE E FÉ" 11

rer aceitar que se trata de um desvio e, mais aínda, ver nisso urna grande per-
feigao e gloriar-se, a exemplo do fariseu, de nSo ser como o povo vulgar de
heterossexuais" (pp. 236s).

Mas... pouco adiante o autor se detém sobre a homossexualidade ¡na


ta... E afirma que "certos projetos homossexuais (vida comum e sexual de
dois homossexuais) nao sa"o pecaminosos" (cf. p.240). E por qué? - Porque
tais pessoas podem estar de boa fé, acreditando que Deus as fez para viver
conjugalmente entre si; a condenacáo da Igreja Ihes parece errónea. Mais:em
certos casos, o sacerdote nao teria a obrigacáo de esclarecer a consciéncia de
tais pessoas homossexuais, mostrando-lhes que estao cedendo a um desvio
físico, psíquico e moral; cf. p. 240. Por conseguinte, haveria casos de unioes
homossexuais nao pecaminosas.

Á p. 247, G. Durand reafirma a sua posiclo dizendo que a solidao é


dura ou mesmo desumana; por isto se deveria favorecer positivamente o re
curso a amizades entre individuos homossexuais "tolerando os aspectos se-
xuais que as acompanham". A justificativa para tanto é a seguinte: "A Moral
está menos no aspecto biológico, e mais na busca de valores, na riqueza da
vivencia afetiva, no desenvolvimento do amor" (p. 247). Em última análise,
talvez possamos dizer que, conforme G. Durand, o que se faz por amor,
nao é pecado... (fórmula que pode acobertar até o adulterio).

A propósito observamos que, segundo o próprio Guy Durand, o no-


mossexualismo é um desvio portador do "risco de urna regressao psicoafeti-
va, do perigo de se ¡solar progressivamente dos contatos com o outro sexo,
e, finalmente, do risco da perversSo. No plano da significacao dasexualida-
de deve-se sublinhar que essa experiencia deixa profundas lacunas. Nao exis
te parceiro real: o outro é reduzido a simples objeto de prazer. A sexualida-
de nesse caso nao é vivida como comunicacáo e comunhSo com o outro. A
procriacao na"o se acha integrada" (p. 236).

É estranho que, mesmo reconhecendo todos esses inconvenientes do


homossexualismo, Guy Durand julgue que em certos casos nada se deveria
fazer para ajudar os homossexuais a nao se atolar num tipo de vida a dois
que só Ihes pode acarretar decepcóes: ñas uniSes homossexuais, "aduracáo
e a fidelidade s3o bastante dificeis; raramente se encontram casáis de homos
sexuais que resistiram a prova do tempo. A dimensfo espiritual tende a ser
escamoteada pela busca do puro prazer carnal. Diríamos que existe urna es
pecie de ferida narcisista que impede essas amizades de serem plenamente
gratificantes e realizadoras" (pp. 246s).

Em vez de admitir a confirmacSo dos homossexuais na sua tendencia


anormal, dever-se-ia lembrar a todos os interessados que "a pessoa humana,

347
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

criada á imagem e semelhanca de Oeus, nao se pode definir cabalmente por


simples e exclusiva referencia á sua orientacáo sexual.' Toda e qualquer pes-
soa que vive sobre a face da Térra conhece problemas e dificuldades pes-
soais, mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos
e dons próprios... A Igreja se recusa a considerar a pessoa meramente como
um 'heterossexual' ou um 'homossexual', sublinhando que todos tém urna
mesma identidade fundamental:ser criatura e, pela graca, filho de Deus, her-
deiro da vida eterna" (Congregacáo para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos
da Igreja Católica sobre o Cuidado Pastoral das Pessoas Homossexuais,

Com outras palavras: a Igreja lembra que a prática do sexo (ou a geni-
talidade) nao é a única componente da personalidade humana. Esta é muito
mais rica; em conseqüencia, é preciso dizer aos individuos homossexuais
que, se eles ná"o se podem realizar numa relapso normal heterossexual, nem
por isto estao privados de auto-realizacao; muitas outras facetas, talentos e
dons Ihes fofam dados pelo Criador para que os cultivem e encontrem nisto
a alegria de um desabrochamento digno e grandioso de suas virtualidades
pessoais. Esta é, sem dúvida, a única maneira reta e fecunda de ajudar as pes
soas homófilas. A obsessáo do sexo, incutida por Sigmund Freud e aceita
acriticamente por tantas pessoas de nossa sociedade, estreita os horizontes
do ser humano e Ihe cria problemas que ele pode evitar se toma consciencia
de que, ao lado da sexualidade, existem varios setores nos quais cada indivi
duo se pode projetar. É claro, porém, que esta vislo mais ampia e profunda
da pessoa humana so é plenamente elucidada dentro de urna cosmovisáo
crista.

Positivamente a Igreja assim desenvolve a sua mensagem aos homos


sexuais:

"12. Que deve fazer. entao, urna pessoa homossexual que procura se
guir o Senhor? Substancia/mente, tais pessoas sio chamadas a realizar a von-
tade de Deus na sua vida, unindo ao sacrificio da Cruz do Senhor todo o so-
frimento e dificuldade que possam experimentar por causa da sua condicao.
Para quem eré, a cruz ó um sacrificio frutuoso, pois daquela morte derivam
a vida e a redencSo. Aínda que se possa prever que qualquer convite a car-
regar a cruz ou a compreender desta forma o sofrímentó do cristao será ridi-
cularizado por alguns, é preciso recordar que é este o caminho da salvado
para todos aqueles que seguem a Cristo.

Nao é outro, na realidade, o ensino transmitido pelo Apostólo Paulo


aos Gálatas, quando diz que o Espirito produz na vida do fiel 'amor, alegría,
paz, paciencia, benevolencia, bondade, fidelidade, mansidSo e autodominio'

348
"SEXUALIDADE E FÉ" 13

e, mais adiante: 'NSo podéis pertencer'a Cristo sem crucificar a carne com
as suaspaixdes e os seus dese/os' (Gl 5¿2.24).

interpretase mal este apelo quando apenas se considera como inútil


esforco de auto-renegacSo. A cruz é, sem dúvida, renegacio de si mesmo,
mas no abandono á vontade de Deus, que da morte fez brotara vida, aqueles
que nele colocam a sua conf¡anca, toma-os capazas de praticarem a virtude
em vez do vicio.

Só se celebra auténticamente o Misterio Pasca! quando se Ihe deixa im


pregnar o tecido da vida quotidiana. Recusar o sacrificio da própria vonta
de na obediencia ¿ vontade do Senhor, constituí, de fato, um obstáculo ¿
salvacéo. £xa tamente como a Cruz é o centro da manífestacio do amor re
dentor que Deus tem por nos em Jesús, assim o fato de conformarem a nega-
cao de si mesmos ao sacrificio do Senhor constituirá, para homens e muíhe-
res homossexuais, fonte de autodoacio, que os salvará de urna forma de vida
que continuamente ameaca destrui-los".
(Carta aos Bispos do mundo inteiro sobre a Questao HomossexualJ

1.3. O controle da natalidade

0 capítulo XI aborda o controle da natalidade (pp. 253-314). A pos


expor a doutrina católica contida na encíclica Humanae Vitae de Paulo VI
(1968), o autor tece longas consideracdes: encara, sim, a situacao dos cónju-
ges que julguem náfo ter condicóes de observar a continencia periódica preco
nizada por Paulo VI; estariam dispensados de obedecer a lei da Igreja, desde
que fossem sinceros ao avaliar o seu caso pessoal, como declararam os Bispos
de varios países.1 Todavía o autor nSo fica só nisto; escreveainda seis páginas
(300-306) sobre "a fraqueza da encíclica", criticando as suas concepcoes e os
seus difames. Em última análise, rejeita a lei natural, sobre a qual se baseiam os
ensinamentos de encíclica Humanae Vitae. Urna das razoes para impugnar
este documento seria, segundo Durand, a alegacáto de que ele se desvia da
opiniao da comunidade crista (p.296); esta seria favorável a separar, umdo
outro, amor e sexualidade, recorrendo a meios artificiáis para que o amor
seja privado do seu fruto ou concepto. Tal modo de pensar seria apto a re-
forcar a oposicSo dos teólogos ao ensinamento pontificio. - Infelizmente o
arrazoado de G. Durand já ná*o segué o reto modo de se elaborar a Teología

1 Tais Bispos, alias, nada inovaram, pois classicamente a Moral católica ad


mite gue haja impedimentos subjetivos válidos (como, por exemplo, urna
ponderacSo sincera subjetiva de circunstancias) que eximem os fiéis do cum-
primentó de determinada lei.

349
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

católica; com efeito, o magisterio pontificio (especialmente o da encíclica


fundamentada sobre a leí natural, que é lei de Oeus) goza de especial autori-
dade e merece "religioso obsequio da inteligencia e vontade", como prescre-
ve o Código de Direito Canónico (fazendo eco á Constituicfo Lumen Gen-
tium cap. 3):

"Nao assentimentó de fé, mas religioso obsequio de inteligencia e von


tade deve ser prestado á doutrína que o Sumo Pontífice ou o colegio dos
Bispos, ao exeróerem o magisterio auténtico, enunciam sobre afee os costu-
mes, mesmo quando nSo tenham a intencSo de proclamá-la por ato defini
tivo; portanto os fiéis procurem evitar tudo o que nao esteja de acordó com
ela" (canon 752).

Este canon, se nada significa para quem nao seja um membro da Igre-
ja, conserva pleno valor para os teólogos. Por conseguinte, se estes tém algo
a observar ao magisterio da Igreja, fapam-no por interpelacao direta e em
diálogo franco com a autoridade respectiva; nSo o facam, porém, pela im
prensa nem usando argumentos que visam a dissuadir os fiéis de seguir a ori-
entacáo do Sumo Pontífice. A Igreja nao se pode reduzir a um Parlamento,
onde as vozes se cruzam de igual para igual.

A posicáfo assumida por Guy Durand sugere mais urna vez ao estudioso
as palavras da Carta da Congregado para a Doutrina da Fé aos Bispos do
mundo inteiro sobre a questao homossexual:

"Deseja esta Congregacao pedir aos Bispos que sejam particularmente


vigilantes em relacSo aos programas que, de fato, tentam exercer pressao so
bre a Igreja para que mude a sua doutrina, embora, ¿s vezes, verba/mente ne-
guem que seja assim. Um estudo atento das decfaracoes públicas, neles con-
tidas e das atividades que promovem, revela calculada ambigüidade, através
da qual procuram desviar os pastores e os fiéis. Costumam, por exemplo, ci
tar o ensinamento do Magisterio, mas sonriente como fonte facultativa na
formacao da consdéncia; nao reconhecem a sua autoridade peculiar. Alguns
grupos costumam mesmo qualificar de católicas 'as suas organizacoes ou as
pessoas ás quais pretendem dirigirse, mas, na realidade, nao defendem nem
promovem o ensino do Magisterio. Pelo contrario, ás vezes, atacam-no aber-
lamente. Mesmo reafirmando a vontade de conformar a sua vida ao ensino
de Jesús, de fato os membros desses grupos abandonam a doutrina da Sua
Igreja" (n. 13).

350
"SEXUAUDADE E FÉ" 15

1.4. Celibato

O capítulo XII do livro de.Guy Durand considera o celibato cristao,


sempre segundo o mesmo esquema. Após expor a doutrina católica, o autor
prop5e "Hipóteses de Pesquisa" e "Perspectivas Pastorais".

Ao explanar suas hipóteses de pesquisa, o autor se manifesta desejoso


de que se faca revisáo da lei do celibato sacerdotal. A justificativa é a seguin-
te:

"Sinto-me atraído pela concepcSo do sacerdocio como funció,l por


que me considero mais sensfvel á necessidade de renovado da estrutura pas
toral, porque desojaría que a administracao eclesial fosse mais misericordiosa
com as pessoas e porque, finalmente, nao me sinto muito atraído pelas leis.
Por que nSo confiar na vida? Se o celibato representa um valor auténtico, os
fatos o mostrario, os vocadonados continuarao a escolhé-lo e a praticá-lo
com a graca de Deus" (p. 354).

Esta passagem sugere tres observacoes:

1) A fé católica afirma que o sacerdocio ministerial é urna consagra-


cao, que aprofunda a consagracao do Batismo e da Crisma; imprime caráter
ou selo, sinete na alma do ordenando. Por isto ná*o pode ser propriamente
comparado a funcSo do animador ou coordenador de comunidade eclesial
ou de leitor da Liturgia, como insinúa Durand á p. 353;

2) as leis sao necessárias em toda sociedade que queira atingir o seu


fim, que é o bem-estar e a plena realizacao dos respectivos membros;

3) a lei do celibato sacerdotal nao resulta de falta de misericordia... A


Igreja nao proibe nenhum fiel leigo de se casar. Todavía em sua sabedoria,
desde os primeiros sáculos, ela julga que a vocacio sacerdotal está associada
a vocacá*o celibatária, pois esta permite melhor desempenho daquela; o celi
bato foi observado espontáneamente pelos clérigos antes de se tornar lei da
Igreja; ver 1Cor 7,25-35. 0 Concilio regional de Elvira (Espanha) no come-
co do sáculo IV foi o primeiro a legislar sobre o celibato sacerdotal, fazendo
eco a praxe já vigente na Igreja.

1 FuncSo, no caso, distingüese de "consagracao". O sacerdocio ministerial


seria urna funcSo comparével "ó dos chefes de familia investidos da funcSo
de reunir as comunidades como arautos da Palavra e da Liturgia" (p. 353).

351
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

1.5. Masturbacao

Com respeito á masturbacao, o autor quer guardar as diretrizes da


Igreja (cf. pp. 179-208). Classifica tal ato como um mal objetivo e nao acei-
tável, pois é um ensimesmamento ou urna forma de narcisismo (cf. pp. 203-
204). Sao especialmente dignas de nota as seguintes afirmacoes:

"O hábito masturbatorio ameaca bloquear a evolucao psicoafetiva do


adolescente para a heterossexualidade por escolha, ou fazer o adulto vottar-
se para a auto-satisfacao parchista" fp. 204).

Ourand julga que possa haver atenuantes subjetivos, que diminuam a


gravidade do pecado de masturbacao. O autor se mostra propenso a admitir
que a masturbacSo seja pecado leve, quando ato ¡solado, a menos que resul
te de urna decisao egoísta:

"Diante de Deus, essa falta objetiva pode constituir um pecado. Sua


gravidade dependerá do grau de implicacio pessoal no ato. No caso do ato
¡solado, o pecado será leve tanto no caso do adolescente como no do adulto
(se bem que possa, também, ser um pecado grave se resulta realmente de
urna dedsSo egoísta).st Em contrapartida, o hábito cultivado será um peca
do grave; aínda que a falta possa, ás vezes, ser apenas leve, notadamente se
o hábito for combatido ou se constituir apenas manifestacao da má integra-
ció da sexual¡dade ou de urna perturbacao geral da personalidade".

Neste particular Durand se afasta da Moral clássica e da doutrina ofi


cial da Igreja. Esta ainda hoje, com razáo, afirma que a masturbacao pratica-
da consciente e voluntariamente é pecado grave ou mortal, como se depre-
ende da seguinte passagem da DeclaracSo Persona Humana (Sobre alguns
Pontos de Ética Sexual) da Congregacao para a Ooutrina da Fé:

"Seja qual for o valor de ceños argumentos de ordem biológica ou fi


losófica de que se serviram algumas vezes os teólogos, de fato, tanto o Magis
terio da Igreja. na linha de urna tradicSo constante, quanto o sentir moral
dos fiéis afirmaram, sem hesitacoes, que a masturbacSo é um ato intrínseca e
gravemente desordenado. A razio principal disso é a seguinte: qualquer que
saja o motivo que o determine, o uso deliberado da faculdade sexual fora
das retacees conjugáis normáis contradi! essenría/mente á sua finalidade.

58 Volto á posicSo clássica (cf. Haering, citado anteriormente), mas rever-


tendo-a; dando aqui como ex cacao o que lá é visto como regra geral".

352
"SEXUALIDADE E FÉ" 17

Falta-lhe, de fato, a relacSo sexual requerida pela ordem moral, aquela reía-
cSo que realiza o sentido integral de urna doacao recíproca e da procríacao
humana num contexto de auténtico amor. É para essa relacSo regular que se
deve reservar todo o exefcído deliberado da sexualidade" (n. 9).

Na verdade, existem atenuantes do pecado da masturbacao: quahdo


praticado de maneira nao plenamente consciente ou voluntaria, tal ato per-
de a sua gravidade; pode mesmo deixar de ser pecado, se é realizado de mo
do indeliberado ou involuntario. Alias, todo pecado grave ou mortal, se co
metido de maneira menos deliberada, perde um tanto ou muito da sua gravi
dade.

1.6. As relacfíes heterossexuais fora do matrimonio

Tal assunto é considerado por Ourand em termos que tendem a ser


consentSneos com a doutrina da Igreja (pp. 151-178). O autor nao Ihes re-
conhece legitimidade nem antes do casamento nem durante o mesmo: "As
relacSes sexuais fora do casamento sáío pecaminosas ná*o apenas por causa da
defeccao concerniente á procriacSo, mas em razao de um lacuna na comu-
nháto e no compromisso com o outro" (p. 172). Todavía o autor nSo é feliz
no seu modo de expressar-se, pois, num contexto que condena o adulterio,
escreve o seguinte: "Na"o há dúvida de que o adulterio pode ser justificado"
(p. 172). A rigor, este texto cai em contradicüo com o seu contexto; toda
vía, segundo a mentalidade do autor, quer apenas dizer que o adulterio pode
encontrar justificativas subjetivas (objetivamente inválidas) por parte de
quem o comete.

Todavia Guy Durand, como em todo o seu livro, também neste parti
cular insiste muito na distincSo entre moraiidade objetiva e moraiidade sub
jetiva do ato humano. Se as relacSes extra-matrimoniais sao objetivamente
condenáveis, Durand julga que em muitos casos podem nao constituir peca
do: "Em todo o rigor dos termos, o pecado simplesmente nSo existe em cer-
tos casos" (p. 174). A razSo pela qual o autor afirma isto, é que a atmosfera
fortemente erotizante na qual vivem as pessoas hoje, pode dar a crer, espe
cialmente aos jovens, que as relacoes sexuais fora (principalmente antes) do
casamento nSo sáío pecaminosas:

"Com relacSo á noció de pecado, é preciso distinguir, mais do que fa-


zem os autores clássicos, entre a falta objetiva (pecado da materia) e a culpa-
bilidade subjetiva (o pecado formal). Para que ha/a pecado - eis um ensina-
mentó oficial —, sSo necessários o conhecimento suficiente e o pleno con-
sentimentó. Ora, deve-se reconhecer que essas duas condicdes nem sempre
existem hoje em día...

353
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

O mundo moderno inegavelmente multíplicou as ocasióes de retardes.


Nossa civilizarlo supererotizada nSo deixa de exacerbar nossos sentidos. Em
certos meios, existe urna pressSo social bastante forte em favor das experien
cias sexuais: a pessoa nSo será aceita num ou noutro grupo se nSo 'dormir
com um e com outro', se nSo fizer swing, etc. Sem ir ao extremo de falar de
urna ausencia de liberdade, parece que existe, quando menos, urna diminuí-
cao da liberdade, da responsabilidade e da culpabilidade. inclusive diante de
Deus. Esse é um elemento que a reflexSo teológica devería levar em consi-
deracao" (p. 174).

É certo que G. Ourand toca aquí um ponto delicado: no clima eroti-


zante de nossos días, mu ¡tos jovens nao recebem nem na familia nem na es
cola a auténtica educagao sexual, em virtude da qual se disporiam a esperar
o matrimonio para exercer a genitalidade. Será, porém, que isto basta para
se dizer que, em tais casos, as relacdes pré-matrimoniais sao inocuas? Muitas
vezes sao inspiradas pela pa¡xá"o e o egoísmo ou por um falso amor, que ma
nipula ola) parceiro (a), mas ná"o se compromete em absoluto com ele (a).

Em visto disto, Guy Durand oportunamente se refere á educacao, a


ser ministrada as novas geracdes:

"Os jovens tém necessidade de apoto, de luz. Precisan), antes de mais


nada, que Ihes proponhamos um ideal, urna orientacio, necessitam que Ihes
proponhamos valores que nos mesmos vivamos" (p. 175).

Na página seguinte, continua o autor:

"O que os jovens censuram nos adultos, nos educadores, nao é neces-
sanamente seu ideal moral — que alias admiram, mesmo sem ter consciéncia
—, mas a hipocrisia e a omissao. Hipocrisia ao proclamar um ideal moral que
eles mesmos, educadores, nao se esforcam por atingir. Omissao ao dizerem,
em termos bastante vagos, que 'tudo vale', 'tudo o que favoreqa o amor está
certo', quando pensam totalmente o contrarío. Quase sempre os jovens sa-
bem que nem tudo vale. Alguns adultos tém tanta vontade de estar na moda,
de nSo serem quadrados^.. que acabam destruindo a consistencia da própria
vida, impedindo-se de desempenhar diante dos jovens o papel que nossa civi-
lizacio exige. 0 dinamismo, a criatividade e a preocupacio juvenil com a au-
tenticidade me alegram; mas os defeitos da juventude: imediatismo, egocen
trismo, versatilidade, hedonismo, nSo deixam de preocupar. Os jovens tém
necessidade dos adultos, de educadores, para se tornarem eles mesmos e
construirem o próprio ego, como os adultos tém necessidade do contato
com os jovens para se proteger do imobilismo e da esclerose" (p. 176).

A respeito dos adultos observa ainda oportunamente Durand:

354
"SEXUALIDADE E FÉ" 19

"Urna atitude análoga se impoe ante os adultos: nem autoritarismo


nem omissSo, mas constante cuidado em testemurthar os valores moráis,
proclamar as exigencias evangélicas e ajudé-los a vivé-las. Seria interessante
refíetir sobre o texto dos bispos franceses: 'O medo de usar urna 'Unguagem
dura' e o dese/o de acolher fraternalmente podem suscitar esuscitam aquí e
ali tentacoes perigosas: a de edulcorar o ensinamento evangélico; de se fazer
cómplice da fraqueza com que os homens se acostumam a Justificar a pro-
pria conduta em lugar de reconhecerem-se humildemente pecadores; de aco
modar a exigencia moral ás presumidas capacidades de cada um, quando se
ría necessário manté-la em seu nivel evangélico para que se torne um apelo
permanente á coragem e ao esforco' (Comissao Episcopal da Familia) "(pp.
176si.

A Igreja já se pronunciou sobre as relacoes pré-matrimoniais, apontan


do o seu caráter ilegítimo:

"Sao numerosos aqueles que em nossos días reivindican! o direito á


uniao sexual antes do matrimonio, pelo menos naqueles casos em que urna
intencSo firme de o contrair e urna afeicao de algum modo já conjugal exis
tente na psicología de ambas as pessoas demandam esse complemento, que
elas reputam conatural; isso, principalmente quando a ce/ebracao do matri
monio se acha impedida pelas circunstancias e essa relacao íntima se afigura
necessária para que o amor seja conservado.

Urna tal opiniao se opbe á doutrina cristS, segundo a qual é no contex


to do matrimonio que se deve situar todo ato genital do homem. Com efei-
to, seja qual for o grau de firmeza de propósitos daqueles que se entregam a
estas relacoes prematuras, permanece o fato de tais reíacdes nSo permitirem
garantir, na sua sincerídade e na sua fidelidade, a relacao interpessoal de um
homem e de urna mulher, e principalmente o fato de os nao protegerem con
tra as veleidades e caprichos das paixóes" ^Persona Humana n. 71.

Esta dolitrina conserva seu valor normativo até hoje.

1.7. EducacSo Sexual

No tocante á educacáo sexual (pp. 369-371), Guy Durand julga-a ne


cessária, e com razáo. Quer que seja ministrada primeiramente no lar e, de-
pois, na escola... Seria, porém, oportuno acrescentar que na escola nao se
deve efetuar em salas de aula, onde se encontram educandos de desenvolví-
mentó psicológico diverso, nem todos concebendo os mesmos problemas re
lativos á sexualidade... A educacao sexual ministrada indistintamente a urna
turma de alunos pode ser nociva aqueles que na*o tenham atingido o desa-
brochamento pressuposto pelo mestre; por isto é para desejar que ela seja

355
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

ministrada no Setor de Orientado Educacional, onde urna pessoa profissio-


nalmente idónea e moralmente digna atende a cada educando individual
mente, levando em conta as necessidades peculiares de cada qual.

2. Reflexáto final

Numa visa*o objetiva vé-se que G. Durand entrega ao público urna obra
em que, ao lado de páginas que afirmam o puro ideal cristáo, existem outras
lamentáveis pelo seu espirito crítico e liberal. O que prejudica o livro, é a
demasiada preocupado com o subjetivo ou com as condicoes individuáis do
sujeito da Moral; o peso atribuido ás circunstancias subjetivas é tal que suge-
re freqüentemente excecoes ás normas objetivas da Moral. Por conseguir)te,
estas nao sá*o rejeitadas, mas acabam sendo solapadas pela excessiva atencao
aos trapos subjetivos de cada caso. Seria para desejar que Durand procurasse
ajudar mais o cristáo a sair das dificuldades de seguir um programa nobre e
belo, em vez de o tranquilizar na prática imperfeita a que suas deficiencias
(superáveis) o reduzem. A Moral católica nSo ignora os aspectos subjetivos
de cada situacao, mas tende a levar o indivfduo a perfeicao sempre eres-
cente.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMIENTO DE ESTUDOS


POLÍTICOS E SOCIAIS (IDEPS)

A partir dos trabalhos realizados na apoca da Campanha das Propostas


Populares para a Constituirte, um grupo de cristáos resolveu levar á frente a
¡déla da formacao de urna entidade que defendesse os valores cristaos na
política.

O IDEPS é uma entidade civil, crista, sem fins lucrativo», criada a


21/04/88, que tem os seguintes objetivos: promover e incentivar a participa-
cío dos cristaos na vida política do país, nos Partidos políticos e movimen-
tos populares através de uma acáb fundamentada nos valores da Doutrina
Social Católica. ■

Para alcancar este objetivo, o IDEPS propóe realizar debates, cursos,


palestras; manter intercambio com todas as entidades civis e prof issionais; pes
quisar, analisar e acompanhar a acao política dos homens públicos, detectan
do os conf litos com os valores cristaos.

Sede: Rúa México 41, Grupo 1501, 20031 Rio (RJ). Fone: (021)
262-3745.

356
Na Ordem do Día:

Projeto "Palavra-Vida"

Em símese: A Confederado Latino-americana de Religiosos (CLARJ


lancou em 1988 um Projeto dito "F-alavra-Vida", destinado a favorecerá lei
tura'da S. Escritura em chave ideoiógica-marxista. Dada a perplexidade que
tal obra suscitou, a Presidencia do Conselho Episcopal Latino-americano, a
da CLAR e a CongregacSo Romana para os Institutos de Vida Consagrada e
as Sociedades de Vida Apostólica houveram por bem sustar a aplicacao de
tal Projeto como sendo nocivo é vida dos Religiosos e do Povo de Deus. - O
artigo abaixo publica a carta de veto e as razoes que a motivaran).

* * *

Em maio-junho pp. esteve na imprensa a noticia de um Projeto dito


"Palavra-Vida", cuja aplicacüo fot vedada pela autoridade religiosa, provo
cando certo alarde. A fim de esclarecer o público a respeito, seguem-se a ex-
posicJo das linhas-mestras de tal Projeto e a Carta que suspende a sua apli
cado.

O Problema

A fim de celebrar os quinhentos anos de evangelizado da América La


tina em 1992, a Confederacao Latino-Americana de Religiosos (CLAR) ola-
borou um plano de leitura da Biblia a ser aplicado pelas comunidades reli
giosas em suas casas e em seu trabalho pastoral. 0 plano, dito "Palavra-Vi
da", compreende cinco partes correspondentes aos cinco anos que vio do
Advento (dezembro) de 1988 ao Advento (dezembro) de 1993.'

Inegavelmente o trabalho foi redigido com clareza, metodología sim


ples e atraente. Verifica-se, porém, que é inspirado por urna concepclo de
leitura bíblica na qual os criterios sócio-político-económicos vém a ser pre
dominantes. As notas típicas deste método seriam as seguintes:

1 Edicao brasileira da Conferencia dos Religiosos do Brasil (CRB). Rio de


Janeiro 1988.

357
22 "PERGUNTE E-RESPONDEREMOS" 327/1989

1. Notas típicas

Como é explícitamente declarado á p. 18, "a preocupado principal já


ná*o é interpretar o texto (bi'blico), mas sim interpretar a vida, a nossa histo
ria, por meio do texto". Donde as tres etapas do método:

1) Considerar a situacao do povo latino-americano "empobrecido" no-


je, pois a le i tura se faz a partir do pobre (p.21). Essa consideracao há de se
efetuar mediante "os mesmos criterios de anáiise que usamos para estudar a
situacao económica, social, política e religiosa do povo de hoje" (p. 16). —
Pergunta-se: que criterios sao esses propiamente? Quem é o sujeito nos aqui
mencionado? Os criterios de anáiise social utilizados pela Teologia da Liber-
tacao extremada sSo os do marxismo.

2) Em segunda instancia, considera-se o texto bíblico assinalado para


cada Encontró a fim de descobrir nele a resposta que o povo há de dar á sua
situacao de empobrecido. As proposicoes assim descobertas sao geralmente
de ordem sócio-política.

3) Enfim procura-se assim colaborar para a construgao de urna socie-


dade redimida da opressfo atual.

Entes roteiro de leitura pode ter sua finalidade bem intencionada, mas
as etapas que propoe sao derivadas de premissas ideológico-politicas nao
condizentes com as premissas da fé. Com efeito...

2. Por que nao... ?

1) A leitura da Biblia há de ser efetuada a partir nem do pobre nem


do rico, mas do Espirito Santo, que a inspirou. É o que ensina a Constitui-
cáo Dei Verbum do Concilio do Vaticano 11:

"A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada segundo agüele mes-
mo Espirito em que foi escrita. Por isto, para apreender com exatidao o sen
tido dos textos sagrados, deve-se atender ao conteúdo e á unidade de toda a
Escritura, levadas em conta a TradicSo viva da Igreja toda e a analogía da fé"
(n. 12).

A leitura assim feita redundará em favor dos pobres, sim, (tanto dos
pobres no plano material como dos carentes no plano espiritual), pois levará
a urna Ética crista* auténtica, isenta das concepcoes marxistas que estáo sub-
jacentes ao Projeto (alias, a libertacao marxista, que instaura a ditadura e
suprime as liberdades individuáis, é falsa libertacáfo). Infelizmente "Palavra-
Vida" nao faz a mínima alusáo á Tradicáfo e ao Magisterio da Igreja; lé a Bf-

358
PROJETO "PALAVRA-VIDA" 23

blia desvinculada do seu berco, que é a TradicSo oral - o que só pode redun
dar em subjetivismo manipulador.

2) O Projeto "Palavra-Vida" ná"o tem a preocupacao principal de inter


pretar o texto, mas sim a de interpretar a vida ou a historia (cf. p. 18). Ora
isto nao pode deixar de implicar distorcío ou manipulado dos Livros Sagra
dos; estes devem ser lidos com objetividade, como Palavra de Deus que sao,
e nao em funcáo de alguma finalidade preconcebida.

3) A própria finalidade de tal interpretado é meramente imanentista:

"O objetivo da Biblia é um só: ajudar o povo a descobrir que Oeus


chegou perto para escutar o clamor dos pobres e caminhar com eles, o mes-
mo Deus que outrora caminhou com o povo de Israel". — Tem-se assim um
retrocesso ao Amigo Testamento, que se referia a urna caminhada topográfi
ca em directo da térra de Canaa. Desta maneira é silenciada a meta principal
de toda a Revelacao Divina, que é levar os homens a comunhao de vida com
Deus, comunhao iniciada no tempo pela vida sacramental (que tem seu cen
tro na Eucaristía e que se desdobra numa conduta ética correspondente) e
consumada no além ou nos valores transcendentais. O imánente é funcáo do
transcendente, e nao vice-versa.

4) 0 ecumenismo ou a un ¡So de todos os homens na aplicacao do mé


todo "Palavra-Vida" omite o aspecto confessional:

"O que temos de mais ecuménico e universa/, é a vida e a vontade de


ter vida em abundancia. Esta vontade de viver como gente e de ter vida mais
justa e mais abundante, existe sobretudo entre os pobres e oprimidos. O
povo pobre é ecuménico guando lé a Biblia. Ai se encontram eren tes de va
rías confissdes cristas e a leitura Que fazem, é em defesa da vida ameacada a
reprimida" (p. 19).

Estes dizeres implicam que a confissao religiosa é secundaria, desde


que ha ja o empenho dos homens em prol da defesa e promocao de sua vida
terrestre. A fé seria urna dimensáo pessoal, que no caso importaría pouco.
Ora isto mais urna vez redunda em politizacá'o do Credo ou mesmo em secu-
larismo (os valores seculares sao praticamente os únicos que contam).

5) O método preconiza tomar como "norma de interpretaclo a fé da


comúnidade, da Igreja" (p. 16). - Ora a fé desta ou daquela comunidade
muitas'vezes está longe de ser a fé da Igreja, principalmente nos ambientes
de pouca cultura religiosa, em que o sincretismo e as ideologías se misturam
freqüentemente.

359
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

6) Diz o texto da CLAR: "Interpretar é, antes de tudo, urna tarefa co


munitaria de que todos participam. Nao é tarefa de'iim único fulano que es-
tudou mais do que os outros. O estudioso, o exegeta, participa com a sua
parte e se coloca a servico, como todo mundo" (p. 16). — A propósito obser-
ve-se: o estudioso ou o exegeta nao é infalfvel ao interpretar a Biblia, mas é
alguém que pesquisou o texto original (hebraico, aramaico ou grego), estu-
dou também as disciplinas auxiliares... e conseqüentemente pode transmitir
aos seus irmáos o que o texto sagrado como tal quer dizer, ou pode fornecer
aos ¡rmá*os a base genuína para que tirem suas conclusoes de ordem teológi
ca e moral. Sem a ausculta do texto bíblico original, nao se faz interpretapao
objetiva; nao se deduz da Palavra de Deus a mensagem auténtica, mas incute-
se a Palavra de Deus o que os leitores querem que ela diga. - O estudioso
nao há de ser considerado como um homem de élite, mas, sim, como o ir-
mao que traz o subsidio básico mais indispensável aos leitores da S. Escri
tura.

7) Verif ica-se outrossim que o Projeto "Palavra-Vida" é classista; tem em


vista urna classe da sociedade: a dos materialmente pobres, que parecem ser
os únicos dignos de atencao e solicitude pastoral; os demais fiéis sao ou igno
rados ou combatidos como adversarios da classe pobre. Ora é claro que esta
divisao da sociedade nao corresponde á concepcao do Evangelho; este, sem
dúvida, apregoa especial atencao aos pobres, entendendo-os, porém, no sen
tido mais abrangente desta palavra; com efeito, há pessoas que ná"o carecem
de bens materiais, mas sao desprovidas de bens espirituais, que sao os únicos
duradouros e definitivos (os mais importantes); por isto a Igreja deve tam-
bém a estas pessoas especial solicitude pastoral. É preciso chamá-las a Cristo
em linguagem que as possa tocar, e nao as rechacar e condenar de antemSfo.
0 Bom Pastor vai a procura da ovelha perdida, deixando no redil as noventa
e nove que nao precisam tanto dos seus cuidados (cf. Le 15,4-7). Ñas rafzes
do Projeto "Palavra-Vida" está subjacente o conceito de "Igreja Popular",
que vem a ser a fórmula privilegiada para a instauracSo de ideologías e para
o esvaziamento do Catolicismo. Parece que mais adequadamente se poderia
dar o adjetivo de "popular" á pregacSo das numerosas correntes evangélicas,
que encontram enorme acolhida por parte do povo sem incitar os ouvintes
ao confuto social ou a luta de classes. Esta poderá fazer dos oprimidos de ho-
je os opressores de amanhS, mas ná"o resolverá a questSo social, pois a violen
cia gera a violencia, a ditadura provoca a revolta. Seria preciso que "Pala
vra-Vida" se preocupasse mais com a conversSo dos corac6es, que é a finali-
dade explícita da Palavra de Deus; na medida em que se convertessem os
corapoes, converter-se-iam também as estruturas sociais.

8) O paralelismo entre a historia de Israel e a historia do povo latino


americano é anacrónico e despropositado. Com efeito; a historia de Israel
era urna historia constitutiva, em que Deus colocava as bases para a vinda

360
PROJETO "PALAVRA-VIDA" 25

do Messias; era urna historia em que Javé se revelava mediante palavras e


gestos (cf. Dei Verbum n. 2); era, pois, algo de único e ¡rrepetível por causa
do seu conteúdo singular. Ao contrario, a historia da América Latina ¡á ná*o
é urna historia em que Deus revela as grandes linhas da sua mensagem (a Re-
velacato se encerrou com a vinda de Jesús Cristo; cf. Dei Verbum n. 4), mas
é urna historia que desdobra o conteúdo da Revelacá"o e a vai traduzindo nos
quadros culturáis de nossqs povos, sem que possamos dizer que há continui-
dade no mesmo plano e na mesma densidade entre o Antigo Testamento e a
América Latina.

Eis assim apresentados alguns pontos que explicam as determinacoes


conjuntas da própria Presidencia da CLAR reunida com a Presidencia do CE-
LAM e os representantes da Congregacao Romana para os Religiosos, no
sentido de sustar a aplicacSo do Projeto "Palavra-Vida" como inadequado a
vida da Igreja e das comunidades religiosas, pois perverteria e distorceria, em
vez de fomentar os fiéis na genuína diregao.

Segue-se o texto do Comunicado da CLAR e do CE LAM redigido em


comunhao com a Congregacao dos Religiosos em Bogotá aos 25/04/1989:

COMUNICADO DO CELAM E DA CLAR

"Aos Presidentes das Conferencias Episcopais e aos Presidentes das


Conferencias de Superiores Maiores de Religiosos e Religiosas da América
Latina.

Conscientes do fervor religioso que despertou a iniciativa da lectio di


vina, táo apreciada pelas comunidades dos primeiros séculos, e com a inten-
gao de estimular os anelos espirituais dos Religiosos e das Religiosas do
continente neste particular, reunímo-nos aos 24 e 25 de abril pp. na sede da
Confederacao Latino-Americana de Religiosos (CLAR), por convocacSo da
Congregapao para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida
Apostólica, sob a presidencia de Mons. Vincenzo Fagiolo, Secretario da mes
ma, nos, o Presidente e o Secretario do CELAM, Mons. Osear Andrés Rodrí
guez Maradiago SDB, e o Presidente e o Segundo Vice-Presidente da CLAR,
Ir. Israel Nery FSC.

Num ambiente de oracSo, fraternidade e profundo amor á Igreja, con


sideramos diversos aspectos da vida eclesial no continente, especialmente a
relacao e a colaborado da CLAR com o CELAM em vista da nova Evangeli-
zacao apregoada pelo Santo Padre Joío Paulo II para urna digna celebracSo
dos 500 anos da chegada da Cruz Salvffica á América.

361
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

O ponto central da nossa Agenda foi um aprofundamento no misterio


de comunhao da Igreja, comunhSo de fé, de vida sacramental e de disciplina
sob a autoridade dos sucessores dos Apostólos, que tém o carisma de assegu-
rá-la, assim como o de discernir os carismas que foram dados pelo Espirito
Santo para a construcao da Igreja. Entre estes, cabe ressaltar a grande rique
za dos carismas próprios dos diversos Institutos .Religiosos, que, durante
cinco sáculos, contribuiram de forma decisiva na América Latina para a
evangelizado de nossos povos.

Esta generosa presenca espiritual e apostólica dos Religiosos, abundan


te em exemplos de santidade, de zelo e de generoso sacrificio, continua em
nossos dias e é sempre indispensável e altamente apreciada por todos os Pas
tores. Esta presenca quer hoje enriquecerse á luz da Palavra de Deus como
caminho de renovacáo e conversSo para dar ao Povo de Deus um testemu-
nho da entrega e consagrado ao Senhor e a seu Evangelho nafidelidadedo
seu servico á Igreja.

Dentro deste clima de comunhao foi estudado o Projeto 'Palavra-Vida'


e o folheto do prímeiro ano com sua Introducao, publicado pela CLAR. A
leitura da Palavra de Deus, que é o objetivo principal dessa iniciativa: alimen
tar a vida com a Palavra de Deus lida 'a partir da realidade' (Dei Verbum 8,
21 e 25) latino-americana e dentro da Vida Religiosa é de grande importan
cia pastoral para o Povo de Deus na América Latina.

Tendo presente as observacóes das Conferencias Episcopais e do CE-


LAM, assim como a Nota da Congregacao para os Institutos de Vida Consa
grada e as Sociedades de Vida Apostólica de 3 de abril pp., chegamos a acor-
do nos seguintes pontos:

1) Suspender a difusao do folheto correspondente ao primeiro ano e


advertir os Religiosos de que nao deve ser utilizado por causa das falhas
substanciáis registradas pela Congregagüo, as Conferencias e o CE LAM.

2) Reelaborar um Guia ¡ntrodutório a todo o Projeto, no qual fique


explícito que a Tradicáo. a Escritura e o Magisterio da Igreja 'estao unidos
e ligados de modo que nenhum destes tres elementos pode subsistir sem os
outros' (Dei Verbum n. 10) e se supere qualquer apresentacao unilateral ou
que possa ser reducionista1 ou ideologizante da Palavra de Deus. Deve-se in
sistir, é claro, numa dimensáo libertadora do hoTnem, de acordó com as Ins-
trucdes Libertatis Nuntius e Libertatis Conscientia.

1 Reducionista 6 a interpretado que reduz o sentido do texto bíblica ás ca


tegorías meramente racionáis e humanas.

362
PROJETO "PALAVRA-VIDA" 27

3) Reelaborar o material (fichas, folhetos, etc.) correspondentes ao


primeiro ano, ¡nsistindo nos aspectos de oracáo, leitura e aprofundamento
pessoais, conversao e maior compromisso no sen/ico a Igreja de acordó com
os carismas próprios da Vida Religiosa.

4) Para os anos subseqüentes, procurar-se-á, sem esquecer os ricos va


lores que estao subjacentes a todo este processo de maior conhecimento da
Palavra de Deus, elaborar os correspondentes subsidios por parte da CLAR
em entendimento e colaborado com o CELAM, para assim unirem-se os Re
ligiosos e as Religiosas do continente numa celebracSo do quinto centenario
dentro de um ambiente de plena comunha*o eclesial com seus Pastores.

5) Para evitar confusSes a respeito desta iniciativa de leitura da Palavra


de Deus como caminho de conversao e renovacío da Vida Religiosa, sugeri
mos que a mesma seja doravante chamada PLANO 'Palavra-Vída'.

Queremos agradecer ao Senhor a graca que nos concedeu de poder


compartilhar em fraternidade este momento de Igreja, que julgamos provi
dencial para o Povo de Deus peregrino na América Latina e ao qual tanto os
Pastores como os Religiosos estamos destinados a servir.

Agradecemos também o interesse e a presenga, entre nos, da Congrega-


cao para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostóli
ca na pessoa de seu Secretario Mons. Vincenzo Fagiolo e na do Pe. Eusebio
Hernández OAR, Oficial da mesma.

Nao queremos terminar esta carta sem agradecer a tantos Religiosos e


Religiosas que em todos os recantos deste continente trabalham com empe-
nho e amor a fim de tomar a Palavra de Deus como alimento de sua Vida
Religiosa, estimulando os esforcos realizados e apoiando decididamente as
iniciativas em vista de maior conhecimento e aprofundamento da S. Escritu
ra, que ilumina a realidade da América Latina e se converte em fonje de vida
para nossos povos.

Com sentimentos de profunda estima e apreco, cordialmente em Cristo.

Daria Castrillon Hoyos


Bispo de Pereira-Colombia
Presidente do CELAM

Frei Luís Coscia OFM Cap.


Presidente da CLAR

Bogotá, 25 de abril de 1989"

363
28 . "PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 327/1989

Aínda a título de complemento, do Boletim Noticias da CNBB, de


11/05/89,-extra/mos o seguínte tópico:
'*■*. ' - ■ . '
"As observacdes do CELAM e da Congregacáb Romana á CLAR sáb
estas: 1. A CLAR exerce magisterio paralelo na América Latina, apoiando e
divulgando urna certa Teología da Libertacao, condenada pelo Papa; 2. In-
troduzindo ou divulgando urna leitura da Biblia reducionista e ¡deologizada,
nSb de acordó com a Tradicáb e o Magisterio da Igreja; 3. Nao solicitando
autorizacáo ao Bispo Local para realizar Encontros e Seminarios".

Ao assinar o seu Comunicado, os Bispos do CELAM, juntamente com


os Religiosos, nada mais fizeram do que por em prática as diretrizes do S.
Padre formuladas na ¡nauguracá"o da 3a. Conferencia Geral do Episcopado
Latino-Americano em Puebla (1979):

"Ocorrem hoje muitas releiturasdo Evangelho, resultantes muito mais


de especulacoes teóricas do que de auténtica meditacao da Palavra de Deus
e de um verdadeiro compromisso evangélico. Deve ser salvaguardado o de
pósito da fé em sua integridade. Essa fé que ¡nformou vossa historia e plas
mo u o melhor dos valores de vossos povos e terá que continuar animando,
com todas as suas energías, o dinamismo de seu futuro. Esta é a tarda inolu
dível dos Bispos enquanto mestres da Verdade".

Em outra ocasiao dizía o S. Padre:

"É muito paradoxal que no momento em que o marxismo se dissolve


no Oriente europeu e no mundo marxista, Religiosos queiram ressuscitar
a análise marxista para interpretar a Biblia e o Cristianismo".

Carmelo. Urna vocacáb na Igreja, por IrmS María Nazareth Baldan. -


Ed. própria da Ordem Carmelita, Rúa Maranhio 617, 01240 Sao Paulo (SP)
ou Carmelo da SS. Trindade, Rúa Nossa Senhora do Amparo 3, 24840 Tan-
guá (RJ), 177 x 240 mm, 124 pp.

A Mística da Igreja Católica tem seus representantes e focos fecundos


em frutos espirituais, entre os quais Sao JoSo da Cruz e Santa Teresa de Ávi
la, renovadores da Ordem Carmelitato no sáculo XVI. Para expor o género
dé vida pautado por esse ideal ascético-místico, apareceu em 1988 o livro
ácima descrito, que com textos e ilustracoes desenvolve os principáis aspec
tos da vida carmelita feminina e masculina. Apresen ta ñas suas páginas fináis
os enderecos respectivos, de modo a informar satisfatoriamente os interessa-
dos (ou os possíveis vocacionados de ambos os sexos) nesse venerável cami-
nho de espiritualidade.

364
^ K. ü. 5. ^

Com objetividade:

O Demonio: Sim ou Nao?

Em síntese: A existencia e a atividade do demonio no mundo nao sao


questdes que se resolvam apenas no plano lingüístico, histórico ou psicológi
co, pois pertencem ao patrimonio da fé. Ora a consulta aos documentos da
fé (S. Escritura, Tradicao oral e Magisterio da Igreja) evidencia a realidade
do demonio, criatura ontologicamente boa, que se perverteu por urna queda
moral e á qual Deus concede tentar os homens para acrisolar-lhes e consoli
dar-Ibes a virtude. No decorrer dos séculos, a fantasía popular concebeu no-
coes e relatos pouco fidedignos, que hoje nSo merecem crédito, sem que por
isto se ponham em xeque a existencia e a acao do demonio como nos sao
transmitidas pela mensagem da fé. De modo especial, a possessfo diabólica,
ás vezes precipitadamente diagnosticada, continua a ser admitida pela Igreja,
pois os Evangelhos dao claro testemunho de que o Senhor Jesús a enfrentou
e Ihe aplicou o exorcismo.

* * *

Em nossos días a existencia do demonio é contraditada: há quem a


afirme fantasiosamente, chegando ás raías do ridículo, como também há os
que a negam, pois tendem, consciente ou inconscientemente, a identificar as
caricaturas do demonio com o próprio Maligno; as falsas peripecias atribuidas
a Satanás fazem crer que é erróneo professar a existencia de Satanás.

As sentencas contraditórias tem gerado confusao no público. Na ver-


dade, o assunto toca a íntegra da fé católica; por isto nao pode ser abordado
apenas segundo principios filosóficos, parapsicológicos ou lingüístico-literá-
rios. Para considerá-lo coerentemente, é preciso auscultar, de mane ira serena
e objetiva, as fontes da fé. 0 que essas afirmam, nSo col ¡de com os dados das
ciencias experimentáis ou da psicología, como se verá ñas páginas seguintes.

Em nosso estudo, examinaremos: 1) as afirmacdes do Magisterio da


Igreja; 2) os dados bíblicos; 3) a Tradicáo crista; 4) a acá*o do demonio no
mundo atual.

365
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

Antes, porém, de comecar a explanacao, devemos dizer que os vocábu-


los demonio e diabo sao tomados como equivalentes entre si. Designam os
anjos que Oeus criou ontologicamente bons (nada é ontologica ou estrutu-
raímente mau), mas que se perverteram no plano moral por um ato de sober-
ba e aversáo a Deus. — O nome mais antigo que designa o anjo mau, é o he
braico Sata" = adversario, acusador. O grego dos LXX o traduziu por diábo-
los, caluniador, maledicente. Como sinónimo de diábolos, a linguagem teoló
gica assumiu o vocábulo daimon, demonio, que no grego antigo significava
seres intermediarios (de índole boa) entre os homens e os deuses.

1. O Magisterio da Igreja

Dizia Paulo VI, aos 15/11/1972, que "deixa o quadro do ensinamento


bíblico e eclesial quem se recuse a reconhecer a existencia do demonio, ou
quem faz do demonio um principio que existe por si e nao tem, como as
demais criaturas, a sua origem em Deus, ou ainda quem explica o demonio
como sendo urna pseudo-realidade, urna personificarlo conceitual e fantásti
ca das causas desconhecidas de nossas desgracas" (Ver L'Osservatore Roma
no de 16/11/1972).

Tafo categóricas afirmacÓes de Paulo VI nada tinham de ¡novador, mas


fundamentavamse em longa serie de pronunciamentos anteriores do Magis
terio (baseados, por sua vez, sobre a S. Escritura e a Tradicao).

Percorramos, pois, esse embasamento, comecando pelas declaracoes


do Magisterio.

O Credo niceno-constantinopolitano ou urna Profissao de fé da Igreja


antiga comeca afirmando:

"Creio em umsó Deus, Criador de todas as coisas, visfveis e invisiveis".

O sentido desses seres invisiveis foi posteriormente explicitado: trata


se dos anjos, dos quais alguns pecaram e assim se tornaram anjos maus. Foi
o que o Concilio do Latráo IV (1215) declarou: "O diabo e os demais de
monios foram certamente por Deus criados bons em sua natureza, mas por
si mesmos se tornaram maus" (DS 800).' - Este esclarecimento, ao qual se
poderiam acrescentar outros semelhantes, de data anterior ou posterior, ti-
nha em vista o dualismo, que admitia dois Principios coeternos: o do Bem e
o do Mal, Deus e o Diabo.

1 A sigla DS designa: Enquirídio de Símbolos, Definicoes e Declarares da


Igreja.

366
DEMÓNIO:SIMOUNÁO? 31

A Igreja nunca sentiu a necessidade de definir a existencia do demonio


como tal. A razao disto é que as definieres do Magisterio supSem sempre a
negacáo de alguma verdade'revelada por Deus. Ora nunca na antiguidade e
na Idade Media foi negada a existencia do demonio. Os erras respectivos ver
saram sobre a natureza, a atividade, o pecado, a condenacSo... do Maligno.
Por isto as intervenedes do Magisterio versaram somente sobre aspectos da
apio do Maligno no mundo, dando sempre por certa a existencia do mesmo.

Seguém-se os principáis pronunciamentos sobre o assunto:

1) 0 Sínodo regional de Constantinopla em 543, tendo em vista os


origenistas, afirma que a punicáo dos demonios nao tem fim e na*o se pode
admitir a restaurado (reintegrado) dos mesmos na graca de Deus. Cf. OS
411.

2) O Concilio de Braga (561) determinou:

"Se alguém diz que o diabo nSo foi primeiramente umanjo bom,cria
do por Deus, e que sua natureza nao foi obra de Deus, mas, ao contrario, diz
que emergiu do caos e das trevas e que nSo tem autor, pois é ele mesmo o
principio e a substancia do mal, como afírmaram Maniqueu e Prisdliano, se-
ja anatema.

Se alguém eré que o diabo fez no mundo algumas criaturas e que por
sua própria autoridade continua produzindo os trovdes, os raios, as tempes
tades e as secas, como disse Prisdliano, seja anatema" (DS 457s).

3) O Concilio de Sens, na Franca, em 1140, rejeitou, entre outros er-


ros de Pedro Abelardo, a tese de que o diabo sugestiona mediante determi
nadas pedras e ervas (cf. DS 736).

4) Na Profissao de Fé proposta a Durando de Huesca e seus compa-


n he i ros valdenses (dualistas), está inserido o artigo:

"Cremos que o diabo se fez mau nao por criacSo, mas por seu livre ar
bitrio" (DS 797).

5) O Concilio de Florenca, em seu Decreto para os Jacobitas (1442),1


declara:

1 Jacobitas sao monofisitas sirios que voltaram ao seio da tgreja.

367
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

"A Igreja firmemente eré, professa e ensina que ninguém concebido de


homem e de muiher foi ¡amáis libertado do dominio do diabo a nao ser pela
fé no Mediador entre Deus e os homens, Jesús Cristo, Nosso Senhor" (DS
1347).

6) 0 Concilio de Tremo afirma, no Decreto sobre a justificado


(1547), que os homens, em conseqüéncia do pecado original, "estavam sob
o poder do diabo e da morte" (DS 1521). Ao falar da perseveranca, observa
que, depois da justificacSo, "os homens ainda tém que enfrentar a luta con
tra o diabo" ÍDS 1541) 0$ que pecam após o Batismo, entregamse "á servi-
d3o do pecado e ao poder do demonio" (DS 1668).

Referindo-se á Uncafo dos Enfermos, diz o mesmo Coricflio em 1551:

"Ainda que o nosso adversario (o demonio), durante toda a vida, pro


cure e aproveite ocasioes para poder de um modo ou de outro devorarnos-
sas almas (cf. 1Pd 5, 8), em tempo algum ele é mais astuto para nos perder
totalmente do que no término ¡mínente da nossa vida" (DS 1694).

"Gracas a este sacramento, o enfermo resiste melhor as tentacóes do


demonio" (DS 1696).

7) Inocencio XI, ao condenar os erros de Miguel de Molinos (1687),


afirmou indiretamente que Deus nao permite nem quer que o diabo violen
te de tal modo o homem que este nao seja responsável por alguns atos peca
minosos (cf. DS 2241-2253; cf. 2192).

8) LeSb XIII condenou em 1887 urna proposicao de Rosmini, que er


radamente explicava o pecado original:

"Jé que os demonios possuiam o fruto (proibido), julgaram que, se o


homem o comesse, e/es entrariam no homem; pois, convertido aquele ali
mento no corpo vivo do homem, poderiam entrar livremente nasuaanimali-
dade, isto é, na vida subjetiva do homem e assim dispor dele, como haviam
proposto" ¡DS 3233).
9) Pió XII, na encíclica Humsni Gsnerii (1950), censura a atitude da-
queles que perguntavam "se os anjos (e, portanto, também o diabo) sao cria
turas pessoais" (DS 3891). O Papa tinha em vista os que pretendiam negar a
existencia do demonio, reduzindo-o a figura literaria.

10) O Concilio do Vaticano II afirma que o "Filho de Deus, porsua


morte e ressurreipao, nos livrou do poder de Satanás" (Sacro»anctum Conci-

368
DEMÓNI0:SIM0UNÁO? 33

lium 6);... "o Pai enviou seu Filho a fim de por Ele arrancar os homens do
poder das trevas e de Satanás" (Ad Gentes 3);... "Cristo derrotou o imperio
do diabo" (Ad Gentes 9). Aludindo a Ef 6,11-13, o Concilio fala das "dia
das do demonio" (Lumen Gentium 48).

11) Paulo VI, em varias ocasioes, referiu-se á existencia e á atividade


maléfica do demonio.' Em sua homilia de 29/06/72 pronunciou famosa
frase:

"Através de urna brecha penetrou a fumaba de Satanás no templo de


Deus".

Aos 15/11/72 estendia-se sobre a realidade do demonio:

"É o ¡nimigo número um, o tentador por excelencia. Sabemos tam-


bém que este ser obscuro e perturbado existe de verdade e que com pérfida
astucia é atuante; é o inimigo oculto que dissemina erros e infortunios na
historia dos homens... É o pérfido e astuto encantador que sabe insinuarse
em nos por meio dos sentidos, da fantasía, da concupiscencia, da lógica utó
pica ou dos desordenados contatos sociais no exercício das nossas ativida-
des, para nestas introduzir desvíos, multo mais nocivos porque aparentemen
te conformes com nossas estruturas físicas ou psíquicas ou com as nossas
instintivas e profundas aspiracoes...

Poderemos supor que esteja atuendo sinistramente onde a negacao de


Deus se faz radical, sutil e absurda; onde a mentira se afirma hipócrita e po
derosa contra a verdade evidente; onde o amor é eliminado por um egoísmo
frío e cruel; onde o nome de Cristo é impugnado com odio consciente e re
belde...; onde o espirito do Evangelho é mistificado e contraditado; onde se
afirma o desespero como última palavra".

Concluindo este percurso de textos do magisterio da Igreja, procure


mos condensar o seu conteúdo em cinco proposicóes:

1) Os documentos citados convergem em supor a existencia do demo


nio como ser real, ontologicamente bom, dotado de inteligencia e vontade,
capaz de agir no mundo. Este é um dado de fé. Sabiamente escreve Karl
Rahner: o diabo "nao pode ser entendido como mera personificagao mitoló-

1 Em seu livro "Antes que os demonios voltem", o Pe. Osear Quevedo cita
algumas frases de Paulo VI, que ele procura interpretar no sentido de que o
demonio nSo existe segundo o Pontífice, omitindo outras multo expressivas
aqui citadas.

369
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

gica do mal no mundo, ou seja, a existencia do diabo nao pode ser discuti
da" (Sacramsntum Mundi II, edicao espanhola, p. 249).

2) O diabo depende de Deus Criador. Foi criado por Deus; por con se-
guinte, foi criado bom. A maldade do diabo se deve ao fato de que pecou.
Afastou-se libremente de Deus, condenándose a estar privado de Deus para
sempre, pois os seres espirituais (no caso, os anjos) sáoimortaisporsuapró-
pria natureza.

3) Por permissáo de ücus, o diabo atua astuciosamente, tentando levar


o homem ao mal, sem poilei anulai a liberdadu humana Ü liuniem, ao pe
car, entrega-se a influencia do Maligno.

4) Cristo Redentor nos resgatou do dominio do diabo.

5) 0 Magisterio fia Igreja nao se compromete com outras afirmacoes,


como aquelas atinentes ao tipo de pecado dos demonios, ao número e á
hierarquia dos anjos maus, ás modalidades de sua atuagao no mundo. Se
alguém deseja ultrapassar os limites dos dados fundamentáis atrás propostos,
entra, como diz Paulo VI, "num mundo misterioso, marcado por um drama
muito infeliz, doqual pouca coisa conhecemos" (15/11/76).

Examinemos agora os fundamentos da doutrina do Magisterio, ou seja.

2. O testemunho da S. Escritura

É de notar um desabrochamento da doutrina bíblica a partir dos seus


textos mais amigos até os do Novo Testamente. Isto se explica pelo fato de
que ñas épocas mais remotas da historia de Israel havia grande necessidade
de evitar qualquer proposipao que pudesse sugerir o politeísmo aos israelitas
cercados de povos pagaos. A partir do exilio na babilonia (587-538 a.C), a
nogao de anjos bons e maus foi-se desenvolvendo na religiao monoteísta de
Israel, catalisada pelo contato com povos estrangeiros (persas, babilonios,
egipcios, gregos...); a influencia de tais povos nao foi tao forte quanto créem
alguns autores. Nada há de estranho em admiti-l.a, pois o próprio Concilio
do Vaticano II declara: "A Igreja Católica nada recusa do que essas religioes
tém de verdadeiro e santo" (Nostra Aetate n. 2). E S. Justino (t 165) reco-
nhece haver "gérmens de verdade" entre os povos pagaos (Apología I 44
10). Ao dizer isto, ná"o se entende afirmar que o povo de Deus tenha assimi-
lado elementos heterogéneos do paganismo, mas entende-se que houve estí
mulo de fora para que o povo de Israel descobrisse mais a fundo a riqueza da
sua fé.

■3 70
DEMÓNIO:SIMOUNÁO? 35

2.1. O Antigo Testamento

O Antigo Testamento faz mencao do anjo mau desde Gn 3,1-5, onde


aparece a serpente tentadora, que o livro da Sabedoria identifica com o día-
bo: "Por inveja do diabo a morte entrou no mundo" (Sb 2,24).

Esse anjo mau tem o nome de Sata, o Adversario, o Acusador em Jó


1,6-12; 2,1-7 e 1Cr 21,1: "Levantou-se Sata"contra Israel e incitou Davi a fa-
zer o recenseamento de Israel".

A S. Escritura nada refere sobre o porqué da maldade de Sata. A tradi-


cáo judaica, porém, parece exprimirse através do livro apócrifo de Henoc,
segundo o qual Satanás é o chefe dos anjos que se rebelaram contra Deus e
cairam em grave condenacao. O Profeta Isat'as, ao mencionar a queda do rei
de Tiro, assemelha-a.decerto modo, á queda do anjo mau:

"Como caíste do céu, ó estrela da/va, filho da auroral Como foste ati-
rado á térra, vencedor das nacoes\ E, no entanto, dizias no teu coracio:
'Hei de subir até o céu; ácima das estrelas de Deus colocarei o meu trono,
estabelecer-me-ei na montanha da assembléia, nos confins do Norte. Subí-
rei ácima das nuvens, tornar-me-ei semelhante ao Altíssimo'. E contudo foste
precipitado ao xeol, ñas profundezas do abismo" (fs 14, 12-15). Ver Ez
28,1-19).

O esplendor inicial do anjo decaído va leu-1 he o nome de Lucifer.

Jesús, alias, no Novo Testamento diz: "Vi Satanás que cara do céu,
como o raio", (Le 10,18), referindo-se á derrota de Satanás por obrado
Messias.

Os textos de Jd 6 e 2Pd 2,4 nao parecem aludir ao pecado inicial dos


anjos, mas a urna crenca rabfnica de menor importancia.

Segundo a concepcao judaica, Satanás está á frente de numerosos an


jos que o seguíram na queda. Esta conviecáo aparece principalmente nos tex
tos posteriores ao exilio (587-538 a.O, sem que Israel tenha cedido ao dua
lismo persa, que admitía dois principios coeternos antagónicos: o do Bem e
o do Mal. O povo israelita imaginava os demonios como seres fantásticos,
que habitavam ruinas abandonadas, atuavam especialmente durante a noite
e adotavam a forma de animáis horrendos (serpente, chacal, hiena, sátiro...).

371
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

2. 2, O Novo Testamento

No Novo Testamento salo freqüentes as alusoes ao demonio. Em sínte-


se, os autores sagrados querem dizer que o Reino do Maligno, tentador e
mentiroso, foi sobrepujado por Jesús Cristo e, por conseguinte, também pe
los discípulos de Cristo pode ser vencido.

Satanás era "o príncipe deste mundo", conforme o Senhor (Jo 12,31;
14,30). Quis avassalar o próprio Jesús, tentando-o tres vezes (Mt 4,1-11;
Le 4,1-13). A Paixao de Cristo é "a hora dos inimigos e o dominio das tre-
vas" (Le 22,53), pois Satanás "colocou no coracao de Judas Iscariotes o pro
jeto de entregar Jesús" (Jo 13,2) e "entrou em Judas" (Le 22,3; cf. Jo 13,
27).

A vitória de Jesús sobre Satanás é assinalada no Apocalipse, onde se lé


que, após a Ascensao de Jesús ao céu, "houve urna batalha no céu: Miguel e
seus anjos guerrearam contra o Dragao. O Dragao batalhou, juntamente com
seus Anjos, mas foi derrotado, e na*o se encontrou mais um lugar para eles
no céu. Foi expulso o grande DragSfo, a antiga serpente, o chamado Diabo
ou Satanás, sedutor de toda a térra habitada — foi expulso para a térra, e
seus anjos foram expulsos com ele" (Ap 12,7-9).

O poder de Jesús sobre o Maligno manifesta-se nos muitos exorcismos


que realiza (Mt 9,32; 12,22; 17,14-17; Me 1,23-26). Alguns dos casos de
possessao diabólica no Evangelho se assemelham a doencas; é de notar, po-
rém, que os evangelistas distinguem entre possessos e doentes; cf Me 1,34;
Mt 8,16s; Le 6,18 e especialmente, Lc4,40s:

"Ao por do sol, todos os que tinham doentes atingidos de males diver
sos, traziam-nos e Jesús... curava-os. De um grande número safam também
demonios gritando: Tu és o Filho de Deus\".

O relevo que os Evangelistas dao aos exorcismos, exprime a maneira


como entendiam a aci"o de Jesús neste mundo: Ele viera suplantar Satanás,
"mentiroso e homicida desde o inicio" (Jo 8,44): "Se eu expulso os demo
nios mediante o Espi'rito de Oeus, chegou a vos o Reino de Oeus" (Mt
12,28).

Os discípulos de Jesús haveriam de continuar a luta contra o demonio,


aplicando a cada homem e a cada tempo a vitória do Salvador. Daí a oracao
de Jesús na última ceia: "Pai, ná"o Te peco que os tires do mundo, mas que
os preserves do Maligno" (Jo 17,15).

372
DEMÓNIO:SIMOUNÁO? 37

Sao Paulo menciona repetidamente as investidas do demonio contra os


cristáos: "Ná"o sejamos iludidos por Satanás, pois nao ignoramos as intengoes
dele" (2Cor 2,11); existem as ciladas do demonio {cf. Ef 5,11; 1Tm3.7),que
se dissimula em anjo de luz (2Cor 11,14); segundo S. Pedro, "ele ronda co
mo um Ie3o a rugir, procurando a quem devorar" (1Pd 5,8). Semeia ¡oio em
meio ao trigo (Mt 13,25.28) e suscita perseguicSes contra os discípulos e a
Igreja (cf. Ap 2,10; 12,17; 13,7), dificultando a pregacao do Evangelho (cf.
1Ts2,18).

No fim dos tempos, a sanha de Satanás se manifestará mais intensa


mente (cf. 2Ts 2,9), recorrendo a sinais e prodigios que levariam ao erro até
os eleitos, se fosse possível (cf. Mt 24,24).

As tentacoes do demonio s3o sempre superáveis. A Providencia Divina


as acompanha: "Fiel é Deus, que ná"o permitirá sejais tentados ácima de vos-
sas forjas" UCor 10,13; cf. 2Ts 3,3). É preciso, porém, revestir-se da armadu
ra de Deus (cf. Ef 6,11), abracar o escudo da fé (cf. Ef 6,11), evitar asoca-
sioes de pecado (cf. ICor 7,5; 1Tm 3,6). Consciente disto, exclama SJo
Tiago:

"Feliz o homem que suporta a provacao com paciencia. Pois, urna vez
provado, receberá a coma da vida que o Senhor prometeu aos que O amam"
(Tg 1,12).

Estes e muitos outros textos sao suficiente testemunho de quanto a fi


gura e a acá"o de Satanás estáo presentes na mensagem bíblica. Querer redu-
zir o seu significado ao de mera metáfora seria violentar o Livro Sagrado.
Quanto á possessao diabólica em especial, nSo seria lícito dizer que Jesús
apenas fingiu que estava exorcizando um demonio, pois este fingimento sig
nificaría confirmar os discípulos no erro; ora isto é inconcebível da parte de
Jesús, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade (cf. Jo 18,27).

Passemos agora á análise de

3. A TradicSo Crista

Nos primeiros seculos, a imaginado popular desenvolveu o cotice¡to


de demonio principalmente ao narrar a vida dos Santos. Santo Antao
(t 356), conforme S. Atañasio (t<373), foi horrivelmente infestado pelo Ma
ligno, mas venceu-o mediante a oracáo, o jejum, o silencio e o trabalho. S.
Agostinho (t430), como genio teológico que era, dissipou receios indevi-
dos, dizendo que o Maligno é como um ca*o acor rentado: "Pode ladrar, pode

373
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

solicitar, mas nao pode morder senao a quem queira ser mordido, chegando-
se-lhe perto".

Nos sáculos VI -VIH, os cristaos acreditavam fácilmente na apao do


demonio, especialmente nos momentos de desgrapa. Admitiam mesmo que
certos feiticeiros, mediante determinados alimentos e artificios, eram capa-
zes de converter os homens em animáis de carga; atribuiam ás bruxas pode
res ocultos, conferidos por Satanás, para causar o mal no mundo; os relatos
que a propósito chegaram até nos, contam episodios mirabolantes tidos co
mo auténticamente históricos. As leis civis da época restringiam as artes má
gicas porque as tinham como manifestapoes diabólicas. Esta credulidade
acrítica se explica, em parte, pela conversSo de muitos povos bárbaros (go
dos, francos, lombardos, alamanos...), que, sem catequese profunda, profes-
savam a fé crista.

A Idade Media continuou muito marcada pela crenpa na atividade fre-


qüente e maléfica do demonio. Por ¡sto a Igreja e o Estado promulgaram fre-
qüentes leis que proibiam invocar os demonios e realizar maleficios (mau
olhar, uso de talisma*s, venenos, etc.) tidos como artes demoníacas. Isto bem
mostra como a figura do Maligno estava viva no pensamento do povo cris-
tfo.

Nao faltaram, porém, os teólogos que despertaram a consciéncia dos


fiéis para a vitória de Cristo sobre o demonio. A arte gótica das catedrais me-
dievais, as representacoes de autos em teatro, as pinturas mostram muitas ve-
zes caricaturas do demonio, que exprimiam a consciéncia de que o fiel cris-
tao conta com a grapa do Senhor para vencer as citadas do mal.

A partir do sáculo XI, a heresia catara e semelhantes professavam o


dualismo, admitindo um Principio essencialmente mau, responsável pelo
mundo material; chamavam-no Satanael (o sufixo El semita designava a Di-
vindade); a pregagáo de tais correntes heréticas intensificou no povo cristSo
a crenpa na ¡ntervencáo do Maligno em práticas de magia e bruxaria. Para
dissipar tais erros, S. Domingos de Gusmao (t 1221) fundou a Ordem dos
Frades Pregadores, que se destinava, antes do mais, a evangelizar os cataros.
Um dos membros mais ilustres desta Ordem, o teólogo S. Tomás de Aquino
(t 1274), elaborou entá"o urna demonologia baseada ñas Escrituras, na Tradi-
gao e no Magisterio da Igreja:os demonios sao anjos que, tendo sido criados
ontologicamente bons, decairam no plano moral e, por permissao de Deus,
induzem o homem a pecar e podem causar-lhe males físicos (ver Suma Teo
lógica I 63-64).

Apesar das palavras sobrias dos teólogos, a crenpa na atividade do de


monio continuou muito viva em todo o povo cristá"o: autores de espirituali-

374
DEMÓNIO:SIMOUNÁO? 39

dade e moralistas eram propensos a suspeitar a intervencSo diabólica; o que


nao conseguiam explicar por vias naturáis, atribuiam-no ao Maligno. Isto
perdurou por toda a I dade Media. Um dos espécimens mais típicos da men
ta lidade da época é o testemunho do Papa Inocencio VIII em sua Bula
Summis desiderantes affectibus, de 5/12/1484, que assim reza:

"Recentemente fomos informados, com grande pesar, de que em algu-


mas partes do Norte da Alemanha, assim como ñas provincias, ddades, tér
ras, fugares e dioceses de Mogúncia, Colonia, Tréviris, Salzburgo e Bramen
muitas pessoas de ambos os sexos, esquecendo-se de sua salvacao e afastan-
do-se da sua .fé católica, cometem abusos com demonios íncubos e súcu-
bos.' E com os seus encantamentos, feiticos, conjuracdes e mediante outros
nefandos, supersticiosos e sortílegos excessos, crimes e delitos, afogam e fa-
zem perecer enancas recém-nasddas, fetos de animáis, colheitas, uvas e fru
tos de érvores, assim como homens, muiheres, gado, rebanhos e outros ani
máis, vinhas, hortas, prados, pastos, trigo, cereais, legumes; afligem e ator-
mentam com dores atrozes e torturas interiores e exteriores esses mesmos
homens, muiheres, jumentos, bestas, rebanhos e animáis. Impedem que os
homens gerem e que as muiheres concebam e que os maridos paguem o dé
bito conjugal ás esposas e estas a seus maridos. Mais: renegam a fé que rece-
beram no santo Batismo; nSo receiam cometer e realizar, por instigacSo do
inimigo do género humano, outros muitos excessos e crimes nefandos, com
perígo para suas almas, ofensa da Majestade Divina e pernicioso exemp/o
e escándalo para muitos".

Como se vé, o Papa censurava erróneas práticas dos fiéis, admitindo,


porém, que o Maligno tivesse ampio setor de acá*o junto aos homens.

0 sáculo XVI, caracterizado pelo Renascimento ou pela descoberta de


novas térras e de numerosos documentos da cultura greco-romana, foi tam-
bém pródigo em práticas e crencas ligadas á atuacáo do demonio: falava-se
de bruxas que cavalgavam animáis impuros, na noite de sexta-fe ira'para sába-

1 Demonio íncubo é, na crenca dos antigos, o demonio masculino que vem


de noite copular com urna mulher causando-lhe pesadelos.
Demonio súcubo seria o demonio feminino que, de noite, copularía
com um homem, causando-lhe pesadelos. — é claro que a cópula de demo
nios e seres humanos é impossfvel, mas tal crenca era transmitida de geracao
em geracSo no povo de Deus desde os tempos pré-cristaos; sim, os rabinos
julgavam que os filhos de Deus que se uniram ás fílhas dos homens, con
forme Gn 6,1s, eram anjos que copularam com muiheres. Segundo bons
exegetas, haveria alusSo a esta concepcSo emJd 6e 2Pd 2,4.

375
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

do, a fim de celebrar orgias sob a presidencia do demonio, que assumia o as


pecto de um bode; corriam lendas a respeito dos lugares de tais reunioes;
cultuava-se Satanás (era o Satanismo!) mediante práticas que eram a inver-
sao dos ritos cristfos...

Lutero it 1546) estava convencido da realidade das intervencoes do


demonio, quando se tratava de explicar desgracas. S. Inácio de Loiola
(t 1556), em seus Exercícios Espirituais, apresenta Satanás como "mortal
inimigo da nossa natureza humana"; imagina-o "sentado sobre grande cáte
dra de fogo e fumaca em figura horrível e espantosa". S. Francisco Xavier
(t 1552), ao narrar as peripecias de urna viagem pelo Mar da China, identifi
ca os ídolos com o demonio e observa que "mais se deve recear a falta de
confianza em Deus do que o medo do inimigo (= diabo)".

Sao Joáo da Cruz (t 1591) alude freqüentemente as ciladas do demo


nio na vida espiritual: "Ele quer que a alma seja cega como ele é cegó" (Cha
ma Viva 3,3,23). Santa Teresa de Ávila (t1582) descreve-o comoum"negr¡-
nho muito feio": "Ao vé-lo, ri-medelee naotive medo" (Vida, c.31);naodava
grande importancia aos demonios: "Estou táo consciente de seu exiguo po
der — se nao estou contra Deus — que quase nao tenho medo do demonio;
as suas forcas quase nada sao, caso ná"o naja almas entregues a ele e covar-
des" (Vida, c. 31).

No sáculo XVIII, porém, comeca-se a registrar urna atitude mais crí


tica, provocada pelo avanco das ciencias experimentáis. Já há entáo quem
negué a existencia real do demonio, como se fosse mera personificado poé
tica do mal. Assim dase urna guiñada de 180° em relaca"o a mentalidade dos
sáculos anteriores. Em nossos dias a posicáo crítica e cética em relacao ao
demonio conta com representantes de vulto, entre os quais o Pe. Osear Que-
vedo S.J., que publicou recentemente o livro "Antes que os Demonios vol-
tem".1

Apesar do racionalismo hoje vigente, verifica-se a persistencia e até


o aumento do culto a Satanás e do Satanismo em sociedades secretas eoutros
grupos religiosos. Entre os nomes mais expressivos de tais correntes, citam-se
Hoffmann (ti822) e Carducci (ti907), autor de um "Hiño a Satanás". Na
Inglaterra e nos Estados Unidos o Satanismo em nosso tempo congrega mi-
Ihares de adeptos; a sua forma preferida de cultuar o demonio é imitar, cari
caturando, os ritos cristáos e praticar acóes obscenas.

Ver Pñ 323/1989, pp. 146-156.

376
DEMÓNIO:SIM0UNÁO? 41

Em sin tese: o percurso das declaracoes do Magisterio e da Tradicáo da


Igreja mostra ao cristao que a existencia dos arijos bons e maus (demonios)
constituí artigo de fé; pertence ao conjunto das verdades que o cristao deve
professar. A Revelacao Divina também ensina que o Senhor Oeus Ihes permi
te agir no mundo, visando ao designio providencial de Oeus, que, ao permi-
ti-la, tem em vista acrisolar e fortalecer a virtude dos homens.

A propósito das atividades diabólicas no mundo, existe atualmsnte


grande interesse, que inspira conclusóes erróneas, exageradas e apavorantes,
principalmente no Brasil, onde as religioes afrobrasileiras e certas correntes
espiritas e protestantes favorecem os mal-entendidos a respeito do demonio.
Oaí a necessidade de se abordar com clareza e seguranca a questao da acao
do demonio no mundo.

4. A atividade do demonio

Por ser um espirito sem corpo, o demonio goza de conhecimento mais


perspicaz do que o do homem; a sua inteleccáo nao passa pelos sentidos, que
sao sempre muito limitados em sua apreensao. Todavia os anjos maus nSo
safo todo-poderosos; estío sob a regencia de Deus, que nao Ihes permite ten
tar o homem ácima das suas forcas (1Cor 10,13). — Dito isto, distingue a
Teología 1) atividade ordinaria e 2) atividade extraordinaria do demonio.

4.1. Atividade ordinaria

A atividade ordinaria do Maligno consiste em tentar os homens ao pe


cado. A S. Escritura Ihe atribuí a tentacao dos primeiros pais (cf. Gn 3,1-5) e
acrescenta que Jó (Jó 1-2), Jesús (Mt 4,1-11), Sao Paulo (2Cor 12,7-9), os
Apostólos todos (cf. Le 22,31s) foram tentados. Por isto Jesús nos ensinou
a pedir: "Nao nos deixeis cair em tentagao, mas livrainos do mal (ou Malig
no)" (Mt 6,13).

Os teólogos observam que o tentador nao pode agir diretamente sobre


o conhecimento e a vontade do homem, nem mesmo os pode penetrar. Por
conseguinte, só ¡ndiretamente pode tomar conhecimento do que o homem
pensa e quer, e só indiretamente, mediante objetos externos, pode influir so
bre o conhecimento e o querer do homem. O demonio nunca pode anular a
liberdade e a responsabilidade de alguém; nao há pecado sem consentimento
voluntario e livre.

O demonio nao é a única fonte de tentacoes. Existem duas outras, que


sao as próprias paixóes existentes no homem e as influencias negativas do
mundo (ou do mundanismo). Em conseqüéncia, é difi'cil dizer de onde pro-

377
42 "PERGUNTE E .RESPONDEREMOS" 327/1989

vém alguma tentacao. Na prática, na"o se deveria atribuir tanta importancia


ao demonio; os afetos desregrados que toda criatura humana traz dentro de
si, sao, muitas vezes, suficientes para explicar tal ou tal tentacao. Ácima de
tudo, importa ao cristao nSo dar ocasiSo ao pecado, afastando-se de todas as
situacóes que a ele possam levar direta ou ¡ndiretamente. De resto, será sem-
pre possível ao cristao vencer o mal, pois Deus ná"o preceitua coisas impossí-
veis, mas, ao preceituar algo, Ele nos admoesta a fazer o que podemos e a
pedir o que nao podemos; além disto, ajuda-nos para que o possamos cum-
prir, como declarou o Concilio de Trento (1547), retomando palavras de
S. Agostinho (t.430); cf. DS 1536.

Pode-se crer que a tentacao diabólica assuma índole coletiya, suscitan


do ambientes em que ¡mperem o odio, a mentira, a injustica... Em tais casos,
porém, o Maligno se serve sempre de pessoas; a ¡njustipa, o odio, a mentira
sao sempre pecados de pessoas, e nao de estruturas ou de coisas; estas ná*o
podem pecar.

4.2. Atividade extraordinaria

Por atividade extraordinaria do demonio entende-se toda interven cao


do Maligno no plano material ou no psíquico mediante fenómenos maléfi
cos que alteram o curso natural das coisas. Suponha-se a permissáo divina
para cada caso. Destas intervenpoes, a principal é a possessá'o diabólica.

A possessá'o consiste em que o demonio ocupe o corpo de alguém,


exercendo dominio sobre as suas faculdades, de modo que o possesso deixa
de ter dominio total ou parcial sobre os seus atos. A Igreja admite a possi-
bilidade de que isto acontepa, pois o Evangelho o menciona clara e repetida
mente, e Jesús aplicou aos possessos um tratamento próprio chamado "exor
cismo" (conjuracao do demonio para que se vá).

Os sintomas de possessao diabólica outrora eram fenómenos inexplicá-


veis aos homens e, por ¡sto, atribuidos ao Maligno: a cardiognosia (o conhe-
cimento dos corapoes ou dos pensamentos), a xenoglossia (ou o falar línguas
estranhas), as contorpoes físicas, o espumar... Em nossos dias muitos de tais
fenómenos sao explicáveis pela parapsicología, de modo que a Igreja é muito
cautelosa ao supor possessá'o diabólica. O Ritual Romano 11,1,3 admoesta
o exorcista a que "nao creía fácilmente que alguém está endemoninhado".
O atual Código de Direito Canónico, no canon 1172, prescreve que, para
aplicar o exorcismo, o sacerdote (piedoso, prudente e de vida irrepreensível)
necessita, para cada caso, de licenpa especial e expressa do Ordinario (Bispo
ou Prelado). Este há de mandar investigar os sintomas por pessoas sabias e
cuidadosas antes de crer que se trata de possessá'o diabólica. Na verdade,
muitas situapdes de desatino f fsico e mental que outrora pareciam decorrer

378
DEMÓNIO:SIMOUNÁO 43

do Maligno, hoje sao conhecidas como estados doentios; o fato de serem re


nitentes ou incuráveis, nao cedendo a tratamento algum, nao quer dizer que
sejam casos de possessá"o..Os simomas que hoje a podem identificar, sSo a
blasfemia, a revolta religiosa astuta e inteligente..., pois Satanás é o adversa
rio de Deus astuto e inteligente.

Sao estas algumas verdades de fé que convém lembrar e explicar neste


momento da historia da Igreja. Como dito, o assunto nao é de ordem mera
mente psicológica ou literaria, mas está ligado ao patrimonio da Revelacío
Divina; só pode ser legítimamente abordado a partir dos dados da fé. Quem
defende a existencia e a acSo do demonio, nSo está necessariamente incutin-
do pavor e obsessao. O crístao que procura viver fielmente a sua vocaca*o de
filho de Deus, nada tem que recear do Maligno, como, alias, diziam teste-
munhos da TradicSo atrás recordados; pense nos valores positivos da fé e na
meta grandiosa que a grapa divina Ihe propoe, e esteja tranquilo: "Tende co-
ragem; eu venci o mundo" (Jo 16,33).

Na confeccao deste artigo muito nos valemos do estudo de Nicolás


López Martínez: El Diablo. Cuadernos BACn. 55, Madrid 1982.

Muito se recomenda a leitura do artigo de Freí Constantino Koser


O.F.M.: Documentos eclesiásticos sobre práticas supersticiosas e demonía
cas, em REB, marco 1957, pp. 41-88.

* * *

O Caminho de Emaus, por Menapace. Traducao de José Américo de


Assis Coutinho. Colecao "Meditacoes" - 3 - Ed. Paulinas, SSo Paulo 1983,
120 x 200 mm, 174 pp.

Eis um livro muito recomendável a quem deseja cultivar a espirituali-


dade bíblica. O autor parte do encontró de Jesús com os discípulos de
Emaus, quando o Senhor foi percorrendo as Escrituras a fim de Ihes mostrar
como as páginas do Antigo Testamento preparavam a vinda do Messias (cf.
Le 24, 27). Conseqüentemente o Pe. Menapace detém-se sobre as figuras de
Abraao, José. Moisés, Rute, Gedeao..., procurando caracterizar a mensagem
de espiritualidade que se prende a cada um desses vultos. O intuito do livro
é mostrar como aínda hoje o homem de Deus deve saber viver da fé, cami-
nhandoatravés das penumbras da vida. A estrada de Emaus é a vía de todos
os cristSos; o Senhor está presente e acompanha; a quem Lite presta ouvidos.
Ele explica algo dos designios do Pai.

379
Mais urna vez:

As Finanzas do Vaticano

Em sfntese: As finanzas do Vaticano vém freqüentemente A baila.


Muitas vezes, porém, falta ao público a necessáría informacao para que pos-
sa formar um juízo correto sobre o assunto. 0 artigo abaixo póe o leitora
par do estado das coisas no decorrer deste ano de 1989.

* * *

Mu i tos falam da "riqueza do Vaticano"... Poucos, porém, sabem


que o Vaticano está em déficit jé há anos, pois nao tem o dinheiro necessá-
rio para cobrir as despesas resultantes do cumprimento de sua missao apos
tólica. Veremos, a seguir, em que consiste esse déficit, ao que aaescentare
mos breve palavra sobre o IOR (Instituto para as Obras de Religiáo), até
pouco tempo atrás administrado por Mons. Paulo Marcinkus.

1. O "déficit" e o Óbolo de Sao Pedro

Quem acompanha a imprensa dos últimos anos, sabe que o Vaticano


tem sofrido um déficit que aumenta de ano para ano; isto ocorre pelo fato
de que novas e novas atividades da Santa Sé no mundo inteiro exigem novas
e novas despesas, pois implicam a criacao de Comissoes e Secretariados com-
postos de pessoas de diversos países, que viajam necessariamente para ter
seus Encontros e realizar suas tarefas. Enquanto as despesas sobem, os rendi-
mentos nao crescem proporcionalmente. Por isto o S. Padre Joáo Paulo II
nomeou urna Comissáo de Cardeais encarregadps dos problemas da econo
mía e da administrado da Santa Sé, que se reúne anualmente para avaliar a
situacáo.

De 6 a 8 de marco pp. deu-se mais urna sessáo dessa ComissSo no Vati


cano. Examinou a previ sao de balanco da Santa Sé para 1989, da qual cons-
tavam os seguintes dados:

Despesas previstas: 174.624.000.000 Lit (Liras italianas)


Receita prevista: 72.989.000.000 Lit

Déficit: 101.635.000.000 Lit

380
FINANCAS DO VATICANO 45

As despesas de 1988 foram de 152.452.000.000 Lit, ou seja, menos


22.172.000.000 Lit do que em 1989. Isto se deve ao fato de que em 1989
entraram no rol de despesas da Santa Sé, entre outros, também os gastos
com as 118 Representares Diplomáticas do Vaticano, que até 1988 conta-
ram com um fundo especial instituido por Paulo VI, mas atualmente esgota-
do; esses gastos sobem a 13.164.000.000 de liras italianas.

Para cobrir o déficit de 101.635.000.000 previsto para 1989, a Santa


Sé se apoiará principalmente no chamado "Óbolo de Sao Pedro" (Denaro di
S. Pietro). Este tem origens remotas. Jé na Idade Antiga alguns povos envía-
vam anualmente ao sucessor de Pedro urna quantia destinada ao cumprimen-
to da sua missao apostólica.

Assim fez, por exemplo, a Inglaterra desde o século Vil até 1534 (oca-
siao do cisma anglicano). O Óbolo foi restaurado sob a rainha María Tudor,
mas de novo abolido por Elisabete I. A mesma forma de coiaboracao com a
Santa Sé foi adotada pelo Reino das Duas Sicílias em 1059, pela Dinamar
ca em 1063, pelos nobres da Espanha em 1073, pela Boémia em 1075, pela
Croacia e a Dalmácia em 1076, por Portugal em 1144, pelos reinos da Escan-
dinávia (até a Reforma luterana).

Sabe-se que em 1870 o Estado Pontificio caiu sob o poder do reino do


Piemonte-Sardenha. Foi a partir desta data que a coiaboracao monetaria dos
povos católicos tomou o nome de "Óbolo de Sao Pedro" ou "Dinheiro de
Sao Pedro". Já nos anos anteriores á queda do Estado Pontificio os povos
católicos percebiam a necessidade de subvencionar o Papa, cujos recursos
iam sendo, aos poucos, tomados pelas tropas italianas. Assim em 1859 a
Santa Sé estava para fechar o seu balanco com um déficit de 80.000 escu
dos. Cientes disto, alguns pensadores católicos (tendo á frente o francés
Montalembert, a quanto parece) lancaram um apelo aos fiéis católicos do
mundo inteiro, apelo que encontrou calorosa resposta, especialmente por
parte dos Bispos e presbíteros.

A fim de organizar essa forma de coleta, foi criado um órgao próprio


da Santa Sé dito "Administracáo do Óbolo de Sao Pedro". Em Roma fun-
dou-se a Arquiconfraria de Sao Pedro em 1860, presidida pelo Cardeal Viga-
rio de Roma, que tinha ramificacóes no estrangeiro, todas destinadas a sub
vencionar a Santa Sé. Em varias dioceses criaram-se instituicoes com a mes
ma finalidade, tendo-se tornado famosa a de Paris com o titulo de Oeuvre
du Denier de Saint-Pierre. Os fiéis ñas paróquias respondiam ao apelo assim
lancado, sustentando eficazmente as despesas da Santa Sé.

Após a ocupacao total do Estado Pontificio, o Papa Pió IX, aos


5/8/1971, publicou a enciclica Saepe Verterabiles Fratres (Muitas vezes. Ve-

381
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

neráveis irmaos), que consagrou definitivamente a instituicao do Óbolo de


Sao Pedro.

Em 1988, a arrecadapao respectiva chegou a mais de 52.935.000.000


Lit, o que quer dizer: superou em 5,24% a coleta de 1987. A tal quantia
juntaram-se a contribuicao das dioceses do mundo inteiro (33.435.000.000
Lit), a dos Institutos Religiosos e Seculares (9.213.000.000 Lit); o resto foi
doado ao Sumo Pontífice por pessoas ou instituicdes particulares.

2. O Instituto para as Obras de Religiao (IOR)

O Instituto para as Obras de Religiao (IOR) é umaorganizapfo desti


nada a favorecer as diversas missóes da Igreja, que para tanto conta com Or-
dens, Congregares e outros grupos de índole apostólica.

O IOR esteve envolvido em urna transacao de infeliz resultado em vir-


tude da inexperiencia de Mons. Paúl Marcinkus, seu ex-presidente; cf. PR
304/1987, pp. 399-407. Ora a Comissao Cardinalícia encarregada de acom-
panhar as financas da Santa Sé resolveu reformular a direclo do IOR. Esta
terá doravante urna hierarquia de cinco escaldes:

1) Um Comité de cinco Cardeais nomeados pelo S. Padre para o perío


do de cinco anos. Terá a incumbencia de controlar a fidelidade do Institu
to ás suas normas estatutarias.

2) O Secretario desse Comité será um Prelado (nao Bispo), nomeado


pelo Comité; acompanhará de perto a vida do Instituto.

3) Um Conselho de Superintendencia será a grande novidade da nova


estruturacao; nomeado pelo Comité de Cardeais, constará de cinco peritos
em materia econ&mico-financeira provenientes de países diversos.

4) Haverá abaixo um Diretor e um Vice-Diretor, nomeados pelo Con


selho de Superintendencia, com a aprovapao do Comité Cardinali'cio.

5) Por último, o novo Estatuto prevé revisores designados pelo Conse


lho de Superintendencia, ao qual responderlo.

Como se vé, a experiencia vai abrindo novos caminhos á Administra-


pao das finanpas da Santa Sé, que nesta fase difícil da historia compartilha
a crise geral. O seu objetivo é servir á causa de Cristo e do Evangelho - o
que nao pode deixar de interessar aos fiéis católicos do mundo inteiro.

Ertéváb Bettenoourt O.S.B.

382
Crónica Breve

A IGREJA EMCUBA

No boletim mensal "Liaisons Latino-américaines" de fevereiro 1989,


n? 56, p. 7, lé-se o seguinte:

"No decorrer de urna homilía considerada 'sem precedentes'pelos er


gios da imprensa internacional, o Secretario Geral da Conferencia dos Bis-
pos de Cuba, Mons. Carlos Manuel de Céspedes, referiu-se ao regime de Fidel
Castro, dizendo: 'A mentira, a apatía e a desonestidade estio a minar os di
versos setores da nacSo'.

Durante a homilía proferida perante centenas de fiéis reunidos na cate


dral de Havana para comemorar o aniversario do Pe. Félix Várela, um dos
mais notáveis representantes do Catolicismo em Cuba, Mons. de Céspedes
aproveitou para criticar as estruturas políticas e para afirmar que 'o aparente
monolitismo sociopolftico nao consegue encobrir as tensoes, o pluralismo e
as frustracoes'. Por ocasiao dessa Missa, presidida por Mons. Jaime Lucas
Ortega, arcebispo de Havana, o sacerdote fez alusao também é crescente
frustracao dos cubanos, principalmente dos jovens. '0 sinal mais evidente
desta sítuacao é que 10% da populacio emigrou por diversos motivos e que
essa onda migratoria prossegue; diariamente urna pessoa parte, pois já nao
tem esperanca em Cuba'.

Havia muito que palavras tao críticas nao tinham sido pronunciadas. A
Igreja em Cuba preferirá até entSo adotar urna atitude prudente para nao
agravar a situacao provocada pela política governamental. Todavía os proble
mas económicos e a frustracao de trezentos mil cubanos que foram obriga-
dos a intervir, se/a como militares, se/a como civispor ocasiao das aventuras
político-militares de Fidel Castro, levaram o episcopado a tomar a palavra
em favor daqueles que nao o podem fazerpor medo da repressao".

Vé-se, pois, que nao se pode afirmar que em Cuba o Reino de Deus já
comecou, pois haveria justiga e paz para todos os cidadaos...

383
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 327/1989

ABORTO

Urna das razóes aduzidas em favor do abortamento consiste em dizer


que nao se sabe quando comeca a vida humana; alguns admitem um inter
valo entre a conceicáo e a hominizacao. Ora tais dúvidas no plano científi
co já estao dissipadas. Com efeito; fazendo eco aos resultados da Genética
mais moderna, o Conselho da Europa Unida reconheceu pela Recomendarlo
n. 1.100 que "desde o momento em que o espermatozoide fecunda o óvulo,
aquela diminuta célula (ovo humano) jáé urna pessoa e, portanto, intocável
aos engenheiros genéticos e pesquisadores biogenéticos".

O Conselho da Europa é urna instituicao leiga, que fala em nome de


21 países; estipulou severas penas para os países membrosque infrinjan*) tal
declara cao.

A propósito ver também PR 305/1987, pp. 457-461 (artigo do famoso


geneticista francés Jeróme Lejeune, que em termos científicos explana o
processo de fecundacio).

O último Porqué, por Pierre Weil. Ed. Vozes, Petrópolis 1988, 90 x


128 mm. 143 pp.

Pierre Weil é doutor em Psicología; o seu livrinho contém urna serie


de pensamentos filosóficoreligiosos de inspiracao eclética e relativista. Le-
mos ai: "Sou Javé, o Único, Sou o Logos, o Verbo" (p. 30); "Sou sempre
o Brahmán,... Sou Vishnu.... Sou Shiva" (pp.32s); "Sou o campo unificado
de Buda" (p. 35); "Sou o Tao, o único" (p. 37); "Sou Deus" (p. 39). Esse
ecleticismo se reduz talvez a monismo ou panteísmo; os diversos nomes da Di-
vindade representarían! facetas da substancia única e fundamental do mundo,
pois temos também: "Como Pai, sou o mundo absoluto da unidade. Como
Filho, sou o mundo relativo da pluralidade das formas da materia. Como Es
pirito Santo, sou a energía matriz da minha própria transformacao ¡ncessan-
te do todo em tudo e de tudo no todo" (p. 31).

O autor se compraz em trocadilhos, frases enigmáticas, que pouco ou


nada dizem: "Vé: tu nao és tu'- Eis o último porquél Nao háporque'! Porque
éassim.esó" (pp. 127s).

É lamentável que a Editora Vozes, tida como católica, publique livros


do teor deste de Pierre Weil. Alias, já editou livros pantefstas na mesma colé-
cao de espiritualidade, como sao os de C. Torres Pastorino: "Minutos de Sa-
bedoria" e "Sugestoes Oportunas (Guia para a Sabedoria)''; sao escritos que
nao se cbadunam em absoluto com o pensamento cristao, embora tenham a
capa de mística, que seduz muitos leitores. E.B.

384
RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE 1989
NCzS 20,00

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO 1988.

Encardernado em percalina, 590 págs. com índice de 1988.


(Número limitado de exemplaresj NCz$ 45,00

D. PEDRO MARÍA DE LACERDA

ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO


(1868- 1890)
Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de Lemos OSB., além de
consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D. Lacerda, lendo sua
correspondencia, escritos, e preciosa documentagSb até hoje inédita, bem como
¡ornáis daquele tempo, grapas ao que pode contribuir para uma perspectiva intei-
ramente nova sobre a pessoa e acontecimentos da época em que viveu esse bispo,
que, durante mais de vinte anos dirigiu espiritualmente os destinos da extensa
diocese de Sao SebastiSo do Rio de Janeiro, a qual, naquela época, ná"o se restringía
ao assim chamado Municipio Neutro, mas abrangia todo o Estado do Rio e Espi
rito Santo, e territorios das provincias de Santa Catarina e Minas Gerais. - 600
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RITOS DE COMUNHÁO
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Normas, Ritos, I nd ¡cacao de leituras, com base em documentos da Santa Sé,


compilados por D. Hildebrando P. Martins OSB — 68 páginas.

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Aplicável a qualquer Diocese, a criterio do Ordinario do lugar.

DIÁLOGO ECUMÉNICO: Temas controvertidos — 3a. edicSo, com acréscimo


de quatro capítulos - 304 páginas.

Seu Autor, D. Estévffo Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica con


troversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discussa*o no
plano teológico perdeu muito de sua razao de ser, pois nao raro, versa mais sobre
palavras do que sobre conceitos ou proposicoes. - NCz$ 12,00.

Cap. I O catálogo bíblico: Livros canónicos e Livros apócrifos. — II Somente a Es


critura? - III Somente a Fé? Nao as obras? -IVA Santísima Trindade: Fórmula
paga? — V O Primado de Pedro — VI Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - Vil A
Confissao dos pecados - VIII O Purgatorio - IX As Indulgencias - X Maria, Vir-
gem e Mae - XI Jesús teve irmáos? - XII O Culto aos Santos - XIII E as imagens
sagradas? -- XIV Alterado o Decálogo? -- XV Sábado ou Domingo? - XVI 666 (Ap
13,18) - XVII Vocé sabe quando? - XVIII Seitas e espirito sectario - Apéndice
geral: A era Constantiniana — Epílogo -Bibliografía.
IV SECULO DE FUNDACAO DO MOSTEIRO DE S. BENTO

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HISTÓRICOS invasores fran-

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