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DIÁRIO DE UM RAPAZ DO SÉCULO XIX

Estamos no séc. XIX, no ano de 1880. Sou um simples rapaz e não descrevo aqui uma vida cheia de
regalias e de grande conforto. Os meus pais são camponeses e vivemos num casebre no sul do país.

SEXTA-FEIRA, 19 de Setembro de 1880


O trabalho agrícola é muito e fui para o campo logo ao nascer do sol, como faço desde pequenino. Hoje foi
o dia da Desfolhada e uma surpresa me esperava. Teve de ser logo a mim que calhou o Milho-Rei. Que vergonha
passei ao dar um abraço a todas aquelas pessoas! Porque nesta ocasião aparece sempre muita gente, os parentes, os
criados, os vizinhos, os amigos… mas, o divertido foi que, no final do dia, a minha mãe deixou-me escapar com os
meus amigos um pouco mais cedo do trabalho. Corremos pela aldeia até que sentimos um belo cheirinho no ar… era
a D. Zulmira a fazer uma pratada das suas famosas filhós. Rapidamente subimos ao telhado da casa e logo vimos um
belo prato de filhós à janela. Não tardámos muito a pensar em como tirar algumas daquele pratinho. Tive a ideia de
caçá-las com um fio de pesca. Tivemos sucesso, só que, passados uns minutos, só se ouvia a D. Zulmira a gritar pelas
suas filhós. Não devíamos ter feito aquilo, mas a fome já era muita e havemos de a recompensar um dia. Antes do
anoitecer ainda encontrei a mãe no rio a lavar roupa. Falava com as amigas coisas que não entendi… o desemprego,
por causa das novas máquinas agrícolas, como a debulhadora e a ceifeira… Muitos camponeses já partiram. Eu só
sabia que se iam embora e com eles os meus amigos. Vim triste para casa. Jantámos uma sopa e pão com azeitonas e
um pouco de gordura de porco. Deitei-me preocupado com a situação da aldeia.

SÁBADO, 20 de Setembro de 1880


Parti cedo para o campo. O povo já cantarolava. A minha mãe pediu-me para ir buscar água à fonte com um
cântaro. Pelo caminho, caí e partiu-se o cântaro. Com medo de levar umas palmadas, tentei fazer um novo, mas para
ser sincero não ficou grande coisa, pois o barro não secou bem e ao lá pôr a água, ela ficou toda barrenta. Ao dar a
água à minha mãe, ela descobriu tudo e perdoou-me. Foi por pouco que ia ficando sem sessão.
Era noite de Serão. Contámos histórias. Estas noites tornam-se mais divertidas.

DOMINGO, 21 de Setembro de 1880


Que belo dia!!! Dia em que pude dormir até um pouco mais tarde e em que pude ir à Feira com a minha
mãe e implorar-lhe para que me comprasse algo do seu agrado. Eram tantas as bugigangas que o “Ti Chico da
Ladeira” tinha na sua tenda que fiquei pasmado… Eram carrinhos e carroças, bonequinhas feitas de palma e até um
comboio feito de lata, tão parecido àquele que um dia vi a passar no apeadeiro com uma locomotiva que puxava
muitas carroças… Tuuu…Tuuu… Mas a mãe não pôde comprar esse comboio. Fiquei apenas com uma carroça
puxada por um cavalinho de pau. A seguir à feira encontrámos o pai, ele ensinava o meu irmão do meio a cavar as
hortaliças, enquanto o mais pequeno brincava na terra. Decidimos ir todos dar um passeio antes da Missa e eu meti
uma carta na Mala-Posta para enviar a um amigo que imigrou para o Porto à procura de vida melhor. Fomos à Missa
e a seguir - a minha parte favorita - os jogos… Jogámos ao jogo da Barra e do Fito e na Eira, ao fim do dia, deitei-me
a olhar para o céu até chegar a noite e pensei: como seria bom se amanhã, em vez de ir para o campo, pudesse ir para
a escola, onde aprendem a ler e a escreve. Já ouvi falar da Cartilha Maternal de João de Deus, mas os meus pais
dizem que o meu futuro está no campo. Será?
Ricardo Espadinha, nº22

A VIDA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO

Olá, eu sou a Diana, tenho dez irmãos e vou contar um pouco da minha vida: como é o meu dia-a-dia, com
quem brinco, quem ajudo, como são as minhas refeições, como é a minha casa, como me visto, como me distraio e
que actividades faço.
Eu, no meu dia-a-dia, brinco com as minhas irmãs e ajudo a minha mãe a lavar a loiça, a cuidar da roupa e a
fazer a sopa, enquanto os meus irmãos ajudam o meu pai na agricultura e na criação do gado.
Eu e os meus irmãos, comemos depois dos nossos dos pais, geralmente o que sobra, sopa, pão, milho,
batata, arroz e bebemos água. Nos dias festivos é que comemos peixe, carne e doces.
A minha casa é caiada de branco com terraços para secar os nossos produtos agrícolas.
Visto-me com roupas mais frescas do que no Norte.
Distraio-me indo ajudar os meus pais nos trabalhos agrícolas onde geralmente cantamos e dançamos. Nos
serões rezamos e contamos histórias e na esfolhada quem encontrar o milho-rei tem de dar um abraço a todas as
pessoas presentes.
Nos domingos de manhã, vou à missa e de tarde vou jogar ao jogo do fito e da barra enquanto oiço o repicar
dos sinos.
Assim é o meu dia-a-dia no campo, junto da minha família e dos meus amigos. Somos uma comunidade
que partilha o pouco que tem e, por isso, somos solidários.
Diana Raquel, nº10

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