Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TRABALHO DE GRADUAÇÃO:
SÃO CARLOS
2º Semestre/2007
ÍNDICE
3 METODOLOGIA _______________________________________________________________ 11
3.1 PROJETO ___________________________________________________________________ 11
3.2 PARTES COMPONENTES DO PROJETO ____________________________________________ 12
3.3 FLUXO DE CAIXA ____________________________________________________________ 14
3.5 TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) _____________________________________________ 16
3.5.1 Taxa Interna de Retorno Incremental (TIRinc) __________________________________ 17
3.6 VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) ______________________________________________ 18
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS_______________________________________________________ 40
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA.________________________________________________ 42
1.1 Objetivos
Apenas para efeito de observação, o Brasil exporta, hoje, para mais de 104 países,
quando em 2002 exportava para 80 países.
Para YASSU (2004), o avanço da exportação se deve aos ganhos da pecuária em
melhoramento genético, ganhos de produtividade, redução da idade ao abate e também ao
reconhecimento do status sanitário brasileiro por muitos países.
Com relação ao consumo nacional da carne bovina, percebe-se uma ligeira existência
de excedente de produção até 2003/04, explicitado na tabela 3:
Tabela 3: Evolução da produção e consumo de carne bovina no Brasil (milhões de toneladas
equivalente carcaça).
Do total de bovinos abatidos pesquisado até setembro de 2003 pelo IBGE, 8,37
milhões de cabeças eram bois (machos com mais de 4 anos), 4,9 milhões de cabeças de
vacas (acima de 4 anos), 2,39 milhões de cabeças de novilhos (machos e fêmeas com
menos de 4 anos) e uma pequena parcela de vitelos (com menos de 12 meses). Ao
comparar com o mesmo período equivalente a 2002, o volume de bois abatidos caiu 1,3%,
novilhos 6,5% mas o volume de abate de vacas cresceu 48,6%.
PITOMBO, 2004, afirma que não houve repasse aos produtores dos ganhos advindos
da exportação, que juntamente com a baixa evolução dos preços da arroba aos produtores,
levaram o pecuarista partir para a agricultura buscando aumentar seus rendimentos: os
ganhos atuais da soja e da cana vêm fazendo a agricultura avançar sobre as pastagens, o
que está conduzindo a um abate de matrizes elevado.
Pelo levantamento da Scot Consultoria – boletim 2890 de 9 de novembro de 2007, o
preço do boi gordo em São Paulo, em valores nominais, é o mais alto desde julho de 1994,
quando se iniciou o Plano Real. Caracteriza-se, portanto, como um momento de
recuperação dos preços como conseqüência da retração da oferta observada nos últimos
anos. A tendência é que o mercado siga firme até que a oferta volte a aumentar, perfazendo
um comportamento cíclico.
A figura 1 mostra a evolução do preço da arroba do boi desde abriu de 1996 a
outubro de 2007. Nota-se que houve tendência de aumento ao longo dos dez anos
analisados, porém analisando apenas os últimos cinco anos o preço manteve-se estagnado
com grande queda entre outubro de 2004 a outubro de 2006. Foi neste momento em que
ocorreu abate em grandes proporções nas matrizes o que contribuiu para explicar a
valorização em 2007 por diminuição na oferta.
Figura 1: evolução dos preços à vista médios internos do boi no Brasil, em R$/@.
Fonte: Scot Consultoria (2007).
Também foi apurado pelo site do Jornal Folha de São Paulo, edição de 12/novembro
de 2007, que o preço da carne bovina atingiu o maior valor nesta década. Os preços
subiram 35% e este aumento é explicado pelo crescente consumo sobre a oferta juntamente
com a atual seca prolongada da pecuária nacional.
Segundo o site BeefPoint 2004, um dos maiores desafios a ser enfrentado pelo SAG
bovino brasileiro, é a integração da cadeia produtiva, encontrando o equilíbrio entre os
interesses de seus diferentes elos.
O ganho em escala, neste setor, é muito importante para viabilizar a produção, pois o
custo fixo para iniciar a atividade exige quantidade bastante expressiva de recursos e o
mercado consumidor está cada vez mais exigente quanto à qualidade do animal.
Logicamente, a adequação às exigências dos consumidores internos e externos eleva ainda
mais os custos de produção além das baixas margens recebidas pelo criador já que o custo
de aquisição (compra de animais para a engorda) é alto.
2.2 Cana-de-açúcar
Tabela 4: Produção de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo e no Brasil nas safras de 1998 a 2006.
Produção de Cana (toneladas)
Outros
Safra São Paulo Estados Total
98/99 199.313.949 115.350.238 314.664.187
99/00 194.234.474 106.179.485 300.413.959
00/01 148.256.436 108.133.947 256.390.383
01/02 176.574.250 115.349.680 291.923.930
02/03 190.627.892 128.383.142 319.011.034
03/04 207.572.535 151.219.751 358.792.286
04/05 229.768.505 154.997.361 384.765.866
05/06 242.828.824 143.755.563 386.584.387
Fonte: ÚNICA.
Fonte: ORPLANA
3 Metodologia
3.1 Projeto
O projeto pode ser definido como um conjunto sistemático de informações que serve
de base para a tomada de decisões relativas à alocação de uma certa quantidade de
recursos. A elaboração de um projeto constitui em uma técnica de análise, cujo objetivo é
indicar quais os resultados podem ser obtidos pela aplicação de um montante de recursos
em diferentes usos alternativos (POMERANZ, 1986).
Segundo AIDAR, 1995, projeto de investimento de capital pode ser definido como
atividade produtiva de vida limitada, o qual implica na imobilização de recursos
financeiros na forma de bens de produção, em determinado momento, na expectativa de
gerar recursos futuros oriundos da produção. Trata-se de uma previsão de desembolsos a
serem feitos e receitas a serem geradas, ao longo de um horizonte pré-definido de tempo,
em determinada atividade.
O horizonte de planejamento, determinação prévia do número de períodos de
projeção, é um fator importante na elaboração de projetos. Um horizonte muito longo pode
ser inconveniente, pois a confiabilidade das projeções será cada vez menor à medida que se
afasta do instante inicial de projeção. Por outro lado, um horizonte curto pode prejudicar a
análise de um projeto cuja maturação é mais demorada. È necessário estabelecer então uma
solução de compromisso baseada no bom senso e nos indicadores disponíveis.
As principais características dos projetos são:
! Temporários: possui início e fim definidos;
! Necessita planejamento, execução e controle;
! Desenvolvidos em etapas e continuam por incremento com uma elaboração
progressiva;
! Possuem recursos limitados;
Existem vários métodos de projeto, mas todos seguem uma estrutura básica:
1. Observação e análise: Definição do problema, pesquisa, definição de objetivos e
restrições;
2. Planejar e projetar: geração de opções de projeto, escolha de opção de projeto,
desenvolvimento, aprimoramento, detalhamento;
3. Construir e executar: protótipo, produção.
• Dimensionamento
O dimensionamento do projeto constitui o ponto inicial para a definição das
alternativas de realização do investimento. No caso de empreendimentos que se destinam a
produção de bens materiais ou serviços comercializáveis, a tarefa de dimensionamento se
confunde com estudos de mercado e envolve um levantamento prospectivo da demanda e
da oferta, a fim de se identificar suas potencialidades.
De acordo com WOILER & FRANCO MATHIAS, 1996, a capacidade de produção
varia de conceito segundo os pontos de vista técnico e econômico. Do ponto de vista
técnico a capacidade de produção define as dimensões. Já do ponto de vista econômico, o
nível de produção seria o responsável; este corresponderia ao custo unitário médio de
produção buscando sua minimização. Em outras palavras, o ponto de vista economico leva
em consideração os custos de oportunidade dos fatores envolvidos.
Apesar de menos precisos dados como número de funcionários, faturamento, valor do
patrimônio líquido, quantidade de matéria-prima necessária possuem a vantagem de fácil
compreensão e obtenção e, muitas vezes, podem ser os únicos disponíveis para determinar
o dimensionamento do projeto.
• Estudos Técnicos
Os estudos técnicos são elementos relativos à engenharia do projeto: tecnologia,
tamanho e localização. É de uma definição correta das alternativas técnicas, dado o
dimensionamento do projeto, que decorrerão as estimativas de retorno do investimento.
A importância do estudo técnico pode ser exemplificada pela definição da tecnologia
a ser utilizada, localização, rendimento do processo e etc. A realização do estudo técnico
de forma inadequada pode comprometer seriamente a rentabilidade do projeto, seja por
aumento dos custos de produção, seja por ajustes feitos posteriormente.
• Análise Econômica
Os estudos econômicos e financeiros envolvem os cálculos sobre a eficiência
econômica do projeto e sobre seu financiamento. O que se faz é analisar os resultados que
podem ser obtidos em cada uma das alternativas de concepção do projeto apresentadas,
através de índices econômicos apropriados, segundo o critério adotado para análise. Trata-
se também de analisar as fontes alternativas de recursos para financiamento do projeto,
através de indicadores financeiros adequados (POMERANZ, 1986).
Outro fator importante na elaboração de projetos é o horizonte do projeto, que é a
determinação prévia do número de períodos de projeção. Um primeiro critério é fixar o
horizonte do projeto em função da vida útil média do processo. Outro critério é adotar o
conceito de depreciação fiscal, que fixa o período de depreciação dos equipamentos.
Finalmente, pode ser interessante fazer a projeção pelo menos até que todos os
empréstimos sejam devolvidos, ou em função da obsolescência técnica do processo e /ou
do produto. Como estes prazos não coincidem, será necessário adotar um compromisso
entre os mesmos, levando-se em conta a influência do horizonte na análise.
As partes componentes de um projeto podem ser esquematizadas em um fluxograma
representado pela figura 3:
Análise da
Análise da Oferta
Demanda
Projeto
Dimensionamento
do Projeto
Estudos Técnicos
Possibilidades Definição do
Tecnológicas Tamanho
Localização
Concepção das
Atividades
Estudos Econômicos
Estimativa de Estimativa de
Custos Ganhos
Avaliação Final
O fluxo de caixa nada mais é do que uma projeção, para um determinado período de
tempo, das entradas e saídas dos recursos financeiros do projeto.
Pode-se resumir “entradas” como a soma de alguns itens presentes na análise
financeira (lucro antes do imposto, depreciação e valor residual). Já as “saídas” são
considerados os recursos próprios (capital próprio, investimento, patrimônio líquido,
amortizações e impostos. Portanto, o fluxo de caixa se dá com a diferença entre a
somatória de entradas e a somatória de saídas.
Como exemplo resumido da estrutura de um fluxo de caixa, observa-se o quadro 1, a
seguir:
Quadro 1: Esquema simplificado de fluxo de caixa.
Período de
Planejamento
ENTRADAS
• Receita antes do imposto de renda
• Depreciação Capital de giro
• Valor Residual. Próprio
Do ativo fixo
Nogueira, 2001, define a Taxa Interna de Retorno como a taxa de juros que torna
uma série de recebimentos e desembolsos equivalentes na data presente. Em outras
palavras, é o percentual de retorno obtido sobre o saldo investido e ainda não recuperado
em um projeto de investimento. Matematicamente, pode-se dizer que a TIR é a taxa que
torna o valor presente líquido igual a zero.
De acordo com o Dicionário de Gestão, a TIR representa uma taxa que se utilizada
como taxa de desconto. A partir do momento em que a rentabilidade dos projetos de
investimento seja conhecida, o critério de decisão sobre o investimento consiste
simplesmente em aceitar os que apresentam uma TIR superior ao custo de financiamento.
Dentre todos os indicadores mais utilizados a TIR é aquele que, ao primeiro exame,
aparenta apresentar as menores limitações. Isso se deve, possivelmente, a independência de
informações exógenas ao projeto para a sua obtenção. Em particular, não depende da
definição a priori de um custo de oportunidade do capital para sua elaboração, como ocorre
nos casos dos outros indicadores considerados. Todavia, essa vantagem é apenas aparente,
pois a TIR somente será um indicador consistente, em uma situação em que um investidor
que dispuser de um capital para aplicação de um certo valor, tendo como alternativas de
investimento projetos mutuamente exclusivos, não puder aplicar o valor residual de seu
capital inicial após o investimento no projeto escolhido, o que é uma situação bem pouco
realista. Em alguns casos, os resultados da aplicação do critério TIR são absolutamente
incoerentes.
4 Coleta de Dados
Propriedade Rural
Para elaboração do projeto, foi considerado como fonte principal de alimentação dos
animais o próprio pasto, composto de capim elefante ou napier, durante o período em que o
mesmo está em boas condições (período chuvoso).
O manejo adequado das pastagens deve obrigatoriamente levar em conta dois
aspectos:
• A obtenção de forragem em níveis elevados de qualidade e quantidade: tem-se
um consumo diário por cabeça de 27 quilogramas de forragem durante a seca. A
complementação alimentar de forrageira e silagem é necessária durante o período seco com
o intuito de evitar o emagrecimento do rebanho.
• A rotação de pastagens: os ganhos de rendimento das pastagens rotacionadas
são bastante superiores porque o capim consegue rápida recuperação caso não seja
consumido até a raiz. O tempo para cada fase de rotação é bastante variável ao longo do
ano devido ao crescimento físico dos animais, variedade de capim, clima, entre outros. A
figura 5 mostra um esquema de manejo rotacionado:
Área de Reserva
Área em Pastejo
Área já Pastada
Figura 5: Esquema das fases de manejo rotacionado.
• Manejo dos Animais: Como no ano inicial (ano zero) não há compra de animais
para recria, o custo é composto apenas pela aquisição do arreio para cavalos. Para os anos
seguintes, ano um até o ano dez, há o custo da compra de animais, sal à base de uréia,
seringas, Ivomec e outros medicamentos. Estes custos são variáveis e diferentes para cada
ano de atividade já que estão atrelados com a área disponível necessária para alocação do
gado porque a plantação de cana-de-açúcar como forrageira também varia e restringe o
espaço.
5.3.2 Análise de Viabilidade para o Cenário de Recria Bovina com Preços Correntes
600.000,00
400.000,00
200.000,00
0,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(200.000,00)
(400.000,00)
(600.000,00)
(800.000,00)
Figura 6: Lucro líquido ano a ano do fluxo de caixa para projeto de recria bovina (renda da
terra desconsiderada).
2.000.000,00
1.500.000,00
1.000.000,00
Valores
500.000,00
0,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(500.000,00)
(1.000.000,00)
Anos
Pay Back sem Renda da Terra Pay Back com Renda da Terra
Figura 7: Pay back do Fluxo de Caixa de recria bovina, com e sem a influência da renda da terra.
Analisando os resultados do Pay Back, é possível observar que o investimento é
recuperado a partir do ano três, caso a renda da terra não entre como saída no fluxo de
caixa (R$ 147.000,00 anuais). Ao considerá-la, percebe-se que o retorno do investimento
ocorre apenas no último ano (ano dez), porém o resultado do cálculo de VPL é negativo de
-R$ 146.541,81 para uma TMA de 6% e pelo método da TIR o resultado também não é
favorável.
Os indicadores de rentabilidade utilizados no projeto estão explicitados na tabela 8:
Tabela 8: Indicadores de rentabilidade.
TMA 6%
TIR 44%
Do mesmo modo que foi feito para o cenário de recria bovina, fez-se para o cenário
referente ao arrendamento da terra para produção de cana-de-açúcar, ou seja, foi feito um
fluxo de caixa e através dele calculou-se o Valor Presente Líquido (VPL) mas não a Taxa
Interna de Retorno (TIR) porque não há grandes investimentos para iniciar a atividade visto
que não é incluso o valor da compra da terra e todo custo de produção bem como os custos
de conservação do solo serão a cargo da usina contratante.
Novamente, a Taxa Mínima de Atratividade adotada foi o rendimento anual da
cardeneta de poupança, de 6% ao ano. Abaixo está a tabela 9 com o fluxo de caixa:
Tabela 9: Fluxo de Caixa do projeto de arrendamento com preços correntes.
Item/Ano Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
1-Entradas 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33
Contrato de Arrend. 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33 457333,33
2-Saídas 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66 17184,66
Mão-de-Obra 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00
Peão (x1) 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00 7410,00
Custos Adm. 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00 7800,00
Veículo 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00 3000,00
Outras Despesas 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00 4800,00
Impostos & Tribut. 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66 1974,66
INSS 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87 566,87
ITR (0,03%) 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00 1350,00
CPMF (0,38%) 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80
Lucro Líquido 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67 440148,67
VPL R$ 3.239.532,53
TMA 6%
Através do calculo do VPL, pode-se concluir que o investimento é viável (VPL > 0)
considerando taxa mínima de atratividade igual a 6%. Nos dois projetos apresentados o
valor da renda da terra não foi considerado, portanto é possível compará-los.
Com os resultados obtidos entre o fluxo de caixa da pecuária de corte e a
possibilidade de arrendamento da terra para plantação de cana, percebe-se facilmente que a
viabilidade do arrendamento é muito superior (VPLarrend ≡ 3 VPLrecria). Contudo, uma
análise de viabilidade para dez anos é consideravelmente longa e as incertezas de mercado
atuarão progressivamente desvirtuando os resultados de projeto. Desta forma, não se pode
afirmar que a escolha pelo contrato de arrendamento é a melhor opção.
Faz-se necessário a construção de um modelo diversificado entre área destinada para
a pecuária e para o arrendamento. Espera-se, deste modelo, que seus resultados alcancem
valores intermediários, isto significa que em troca de rendimentos maiores o investidor
estaria adquirindo maior segurança sobre as incertezas inerentes de cada atividade.
Segundo o IDRHa (Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica), o conceito de
diversificação pode ser entendido em dois sentidos quando aplicado para atividades
agrícolas.
No primeiro caso, o conceito de diversificação, associado à multifuncionalidade,
significa o exercício, simultâneo ou sucessivo, de várias atividades no sentido de tornar
mais competitivas as explorações agrícolas, através de alternativas que se complementem.
No segundo, trata-se de preservar e de potenciar as características, os valores e tradições, o
patrimônio e os recursos endógenos de cada território, propiciando o seu desenvolvimento
sustentado e conferindo-lhe atratibilidade.
A diversificação é, assim, uma condição indispensável à sobrevivência e à
competitividade dos territórios rurais, na medida em que garante a biodiversidade, promove
o mercado de trabalho mantendo a população, cria riqueza através de novas oportunidades
de negócio e gera dinâmicas em torno de agentes de desenvolvimento local.
Para efeito de estudo, o cenário diversificado considerará uma divisão de 60% de
área destinada para contratos de arrendamento e 40% para a pecuária de corte (recria), haja
visto que no contexto atual o contrato de arrendamento possui maior viabilidade econômica
mas também é necessário lembrar que o ganho em escala da recria bovina deve ter uma
certa expressividade para diluir os custos fixos, os quais são relativamente altos. Outro
fator que justifica a divisão nestas proporções são as possibilidades de futuras alterações na
configuração produtiva, pois requerem medidas de fácil execução (renegociação de
contratos e reconfiguração do pasto, conseqüentemente).
Já que a divisão do projeto foi estipulada em 60% para arrendamento e 40% para a
pecuária, as receitas serão reajustadas da mesma maneira. lembrando que foi mantida a
parcela de animais destinados para venda em leilão no caso da pecuária de corte, 20% das
cabeças, e o restante para venda em frigoríficos.
O Fluxo de caixa diversificado englobará todos os custos fixos do projeto de recria
bovina com ressalvas aos custos referentes a cercas, porteiras, encanamento e cochos de
maneira, os quais deverão ser reajustados conforme a necessidade.
A tabela 10 apresenta os custos fixos e variáveis que tiveram a necessidade de
recálculo para dar origem ao fluxo apresentado nas tabelas seguintes:
Tabela 10: Custos fixos e variáveis recalculados para a análise de viabilidade diversificada.
Custos Recalculados Motivo Variação Proporcional
à área?
Formação e Adubação de Redução da área de pasto. Sim
pastagens
Cercas e porteiras Redução da área de pasto. Não
Encanamento Redução da área de pasto. Não
Cochos Redução do número de cabeças e Não
da área de pasto.
Óleo & Combustível de trator Redução do número de horas Não
máquina.
Compra e Venda de Animais Redução da área de pasto. Sim
Sal à base de uréia Redução do número de cabeças. Sim
Ivomec & Outros Medicamentos Redução do número de cabeças. Sim
Forrageira (mudas e adubação) Redução do número de cabeças. Sim
Mão-de-obra Menor necessidade de força de Não
trabalho.
Comissão de Venda (leilões) Redução do número de cabeças. Sim
Casa de Colono Redução da mão-de-obra Não
3.500.000,00
3.000.000,00
2.500.000,00
2.000.000,00
VPL (R$)
1.500.000,00
1.000.000,00
500.000,00
0,00
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55%
(500.000,00)
TMA (%)
Figura 8: Valor Presente Líquido, com e sem o custo de oportunidade, para diferentes taxas mínimas
de atratividade do fluxo diversificado.
Percebe-se que uma TMA superior a 35% resulta em inviabilidade do projeto que
leva em consideração o custo de oportunidade do capital, dado que a VPL se torna negativa
lembrando que a TIR de 34% pode ser encontrada quando o VPL cruza o eixo da abscissa.
Já o projeto que não engloba o custo de oportunidade, este será sempre viável para uma
TMA abaixo de 85%.
Para efeito de estudo detalhado do projeto diversificado, fez-se um gráfico: VPL
obtido à TMA 6% Versus Área da propriedade destinada para contratos de cana. Os
resultados serão exibidos na figura 9:
Sem Renda da Terra Com Renda da Terra
R$ 3.000.000,00
R$ 2.000.000,00
R$ 1.500.000,00
R$ 1.000.000,00
R$ 500.000,00
R$ -
0%
0%
%
%
10
20
30
40
50
60
70
80
90
10
Área p/ Arrendamento
Figura 9: Valor Presente Líquido, com e sem Renda da Terra, para variações na porcentagem de
área voltada para contratos de arrendamento.
Apesar de o VPL aumentar conforme a área destinada para arrendamento cresce, sua
variação percentual diminui a cada hectare marginal plantado. Isto se deve ao fato da
diluição cada vez menos eficiente dos custos fixos inerentes a recria de gado.
Os valores obtidos de VPL para área em torno de 50 a 70% destinada ao
arrendamento são bastante aceitáveis porque conseguem conciliar maior segurança de
investimento (diversificação) e viabilidade econômica de acordo com o contexto atual.
Mesmo com 100% de área destinada para arrendamento, como visto na figura acima,
foi considerado, a título de estudo, todos os investimentos e custos fixos inerentes da
pecuária de corte. A justificativa é que nesta análise de sensibilidade a propriedade estaria
preparada estruturalmente para o investimento em recria de gado caso o mercado se
mostrasse favorável, embora na prática fosse totalmente inviável.
5.6 Cenários Alternativos
Até agora foi analisado apenas os projetos de compra de boi magro para engorda e
venda no mesmo ano, de contratos de arrendamento da terra para produção de cana-de-
açúcar e uma situação diversificada. O detalhamento de todos os cenários está disponível
na tabela 13:
Tabela 13: Cenários de preços utilizados nos fluxos de caixa para recria de boi e arrendamento.
Preço
Corrente Otimista Pessimista
Compra Boi Magro R$ 684,00 R$ 792,00 R$ 618,00
Venda Boi Gordo Frigorífico R$ 969,00 R$ 1.122,00 R$ 875,50
Venda Boi Gordo Leilão R$ 1.080,00 R$ 1.220,00 R$ 975,00
Tonelada de Cana R$ 31,36 R$ 35,00 R$ 21,00
Deve-se Ressaltar que os preços de compra do boi magro e venda do boi gordo,
citados acima, estão atrelados ao valor da arroba comercializada. No cenário corrente,
otimista e pessimista a arroba do boi foi considerada, respectivamente, R$ 57,00; R$ 66,00
e R$ 51,50. O boi magro está estipulado com 12 arrobas e o boi gordo com 17 arrobas
embora muitos consigam atingir até 21 arrobas.
O resumo dos resultados obtidos referentes aos cenários está explicito na tabela 14
para análise:
Tabela 14: resultados obtidos de TIR e VPL para todos os cenários possíveis de projeto.
Cenários
Corrente Otimista Pessimista
TIR VPL TIR VPL TIR VPL
Fluxo Boi c/ Renda da Terra 2% (R$ 146.541,81) 12% R$ 205.946,67 -7% (R$ 404.102,32)
Fluxo Boi s/ Renda da Terra 36% R$ 1.012.828,76 45% R$ 1.365.317,24 29% R$ 565.635,75
Fluxo Cana c/ Renda da Terra - R$ 2.157.599,73 - R$ 2.548.297,69 - R$ 911.726,70
Fluxo Cana s/ Renda da Terra - R$ 3.239.532,53 - R$ 3.630.230,48 - R$ 1.855.122,39
Fluxo Diversif. c/ Renda 35% R$ 953.402,49
Fluxo Diversif. s/ Renda 86% R$ 2.182.335,29
TMA 6% TM A 6% TM A 9%
Tabela 15: resultados obtidos de TIR e VPL nos cenários corrente e pessimista dos projetos de
arrendamento e diversificado com TMA fixa em 6%.
Cenários
Corrente Pessimista
TIR VPL TIR VPL
Fluxo Cana c/ Renda da Terra - R$ 2.157.599,73 - R$ 1.045.613,25
Fluxo Cana s/ Renda da Terra - R$ 3.239.532,53 - R$ 2.127.546,04
Fluxo Diversif. c/ Renda 35% R$ 953.402,49
Fluxo Diversif. s/ Renda 86% R$ 2.182.335,29
TMA 6% TMA 6%
A diferença do VPL entre o cenário pessimista para arrendamento total da
propriedade e o cenário diversificado, que proporciona maior segurança, é praticamente
irrelevante garantindo que ambos os projetos poderiam ser escolhidos. Neste momento, o
primeiro impulso seria a escolha pelo projeto de arrendamento total visto que em uma
perspectiva pessimista, este se compara com a perspectiva atual (corrente) do projeto
diversificado. Todavia, desta maneira os ganhos com a pecuária em uma perspectiva
otimista seriam esquecidos. Deve-se lembrar que a pecuária está iniciando um ciclo de
aumentos de preços, como visto na análise de mercado.
Assim sendo, calculou-se a TIR e o VPL do fluxo diversificado considerando o preço
pessimista para a tonelada de cana e o preço otimista para a pecuária. Os dados estão
disponíveis na tabela 16:
Tabela 16: Resultados obtidos para o fluxo diversificado com perspectiva de pecuária otimista e
arrendamento pessimista.
TMA 6%
Conclui-se, pela tabela, que o cenário pessimista da cana arrendada ainda é melhor
que o cenário diversificado (60% arrendamento, 40% pecuária) em uma conjuntura
otimista para a pecuária. A explicação reside na não existência dos custos inerentes da
pecuária como instalações, formação de pastagens, tratores e implementos, área destinada
para forrageiras, mão-de-obra e etc.
Sobrou então, analisar variações do porcentual destinado ao arrendamento pelo
projeto diversificado (%Apecuária = 1 - %Aarrendada). Embora esta análise já tenha sido feita na
forma gráfica (figura 8) em cenário corrente, será feita agora a análise considerando a
conjuntura otimista para a pecuária e pessimista para o arrendamento, explicitada na tabela
16 a seguir:
Tabela 17: Valor Presente Líquido com e sem Renda da Terra para variações na porcentagem de
área voltada para contratos de arrendamento. Conjuntura pessimista para o arrendamento e otimista
para a pecuária.
6 Considerações Finais
29%
27%
3%
11%
16% 4%
2% 4%
Figura 10: Composição dos custos da pecuária durante os dez anos de projeto com custo de
aquisição dos animais desconsiderado.
Para melhor visualização do peso exercido pelos dos custos produtivos da pecuária
foi feita a opção de não considerar os custos de aquisição dos animais (compra das cabeças)
porque sozinho este custo responsável por 78% do investimento dentro dos 10 anos de
projeto. Percebe-se, então, que a alimentação do gado também é um custo muito
importante: formação de pastagens e forrageira correspondem a mais de 40% dos custos de
produção. Em seguida, os impostos chegam a 27% seguido dos custos com força de
trabalho.
Com relação aos resultados encontrados pela análise do projeto de arrendamento da
terra foram bastante interessantes: mesmo com a tendência de migração de grande parte dos
produtores rurais, em especial os pecuaristas, para o plantio da cana; as análises se
mostraram viáveis até para o cenário mais pessimista do setor sucroalcooleiro. Isto
contrariou a expectativa de maior viabilidade referente ao projeto diversificado.
Ainda sobre o projeto de arrendamento da terra, os custos de transação são, com
certeza, a principal preocupação para o proprietário rural já que os custos de investimento
são de responsabilidade da usina. Vale lembrar que a teoria dos custos de transação parte
do pressuposto que há oportunismo presente nas ações dos agentes econômicos além de
racionalidade limitada. O grande poder de barganha das Usinas processadores de cana-de-
açúcar significa também uma grande ameaça aos arrendatários por parte dos usineiros: o
ambiente de mercado é característico de monopsônio (número de ofertantes muito maior
que o número de compradores).
Por fim, atribuiu-se a maior dificuldade durante o desenvolvimento deste trabalho na
pesquisa de preços dos itens componentes de projeto porque estão sujeitos a variações
regionais, micro e macroeconômicas assim como qualquer outra atividade econômica. Em
um período de avaliação de dez anos, muitas alterações irão ocorrer gerando a necessidade
de contínua reavaliação do projeto bem como alterações de preços ano a não nos itens mais
importantes de projeto.
7 Referências Bibliográfica.
COSTA, M.A.B, NOGUEIRA, E. Gestão Agroindustrial. São Paulo: ATLAS. 2001, págs.
15-61, 223-288. volume 2.
IEA - Instituto de Economia Agrícola, Milho e a demanda por etanol. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/OUT/verTexto.php?codTexto=8945> (02/06/2007).
PITOMBO, L. H. Produção avança, mas a Fatura Cai. DBO Rural, n 280, p. 32, mar
2004.
ZEN, Sérgio. “Com Pouca Carne os Preços Sobem”. In. Veja, 21 de novembro de 2007,
Edição 2035, pág. 60.
VPL R$ 2.157.599,73
TMA 6%
9 Anexo I – Coeficientes Técnicos da Pecuária
Tabela VII: Produção de matéria seca pelo capim-elefante, em toneladas por hectare.
Fonte: Valores médios relatados por Carvalho (1985), extraído do site tdnet.