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O Lobisomem - Dcio Pignatari

O amor para mim um Iroqus De cor amarela e feroz catadura Que vem sempre a galope, montado Numa gua chamada Tristeza. Ai, Tristeza tem cascos de ferro E as esporas de estranho metal Cor de vinho, de sangue, e de morte, Um metal parecido com cime.

(O Iroqus sabe h muito o caminho e o lugar Onde estou merc: uma estrada asfaltada, to solitria quanto escura, Passando por entre uns arvoredos colossais Que abrem l em cima suas enormes bocas de silncio e solido).

Outro dia eu senti um ladrido De concreto batendo nos cascos: Era o meu Iroqus que chegava No seu gesto de anti-Quixote. Vinha grande, vestido de nada Me empolgou coraes e cabelos Estreitou as artrias nas mos E arrancou minha pele sem sangue E partiu encoberto com ela Atirando-me os poros na cara. E eu parti travestido de Dor, Dor roubada da placa da rua Ululando que o vento parasse De aoitar minha pele de nervos.

Veio o frio com olhos de brasa Jogou olhos em todo o meu corpo; Encontrei uma moa na rua, Implorei que me desse sua pele E ela disse, chorando de mgua, Que era me, tinha seios repletos E a filhinha no gosta de nervos; Encontrei um mendigo na rua Moribundo de fome e de frio: D-me a pele, mendigo inocente, Antes que Ela te venha buscar. Respondeu carregado por Ela: Me devolves no Juzo Final? Encontrei um cachorro na rua: cachorro, me cedes tua pele? E ele, ingnuo, deixando a cadela Arrancou a epiderme com sangue Toda quente de plos malhados E se foi para os campos da lua Desvestido da prpria nudez Implorando a epiderme da lua. Fui ento fantasiado a travesti Arrojado na escala do mundo E no houve lugar para mim.

No sou co, no sou gente - sou Eu.

Iroqus, Iroqus, que fizeste?

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