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A Vontade De Estilo (Deleuze)

relevante o que Deleuze afirma ?sobre o que as crianas dizem? na sua obra ?Crtica e Clnica?, captulo IX, ?que a criana no para de dizer aquilo que faz ou que tenta fazer?. Com efeito, os mapas de trajectos so definidos como a identidade do sujeito no seu percurso e no percorrido, pois um meio feito de qualidades, substncias, potncias e acontecimentos. Como diz Deleuze: ?O trajecto confunde-se no s com a subjectividade daqueles que percorrem um meio, mas tambm com a subjectividade do prprio meio na medida em que se reflecte naqueles que o percorrem.?[1] A criana vive e pensa o mundo em forma de mapas, e nestes mapas, a criana cria, destri, constri, roda, transforma, inverte, colora, agiliza com todos os poderes em si maximizados o ?ser amado? que implica necessariamente paisagens, continentes, lderes, personagens, cor, movimento, acontecimento. Defende Deleuze que o imaginrio e o real so como duas partes que no param de se trocar por sobreposio ou justaposio numa mesma trajectria.[2]Nesta trajectria, imaginrio e real precipitam-se mutuamente um no outro, dando origem a um desdobramento, a um acontecimento, a uma viso. Esta viso, longe da concepo arqueolgica da psicanlise, no procura uma origem ligada ao inconsciente e memria, mas sim a virtude do seu deslocamento, na sua avaliao de impasses, de avanos, de relaes com outros mapas, de situaes, ?de entradas e fechos?; esta viso, como que sagrada, trabalha com trajectos e devires, preocupa-se com a mobilizao do seu deslocamento perptuo em mapas cujos trajectos so compreendidos em toda a sua extenso, intensidade, densidade, afectividade. E todo o sustentculo do trajecto um devir. Aqui, o imaginrio e o real trocam-se sem fim, transformando a viagem num devir. E o devir no imaginrio. O que as crianas dizem a determinao do devir, a sua prpria potncia, exprimem inesgotavelmente a sua singularidade nos seus trajectos e devires, ela cria mapas extensivos e intensivos, e o seu devir definido pelas qualidades, substncias, potncias e acontecimentos da sua viagem relmpago, ao qual no conserva nada de pessoal nem de racional, mas que por isso alcana esse estado celeste, um estado sagrado de criao ininterrupta. este estado que, quando alcanado, garante ao indivduo uma possibilidade de estilo, pela qual se orienta, e que lhe permite criar.[1] DELEUZE, G., Crtica e Clnica, p. 87.[2] IDEM, p. 89

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