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Pricologia, Educacdo e Cultura 2008, vol. Xi, n® 2, pp.315-336 © PP.CM.CM. - Colagio Intercto dos Corvaho: CONFLITOS NA ESCOLA ~ A DINAMICA DA MEDIACAO Abilio Afonso Lourenco Maria Olimpia Almeida de Paiva colo Secunia C/ Ciel Alexandra Herculano, Porto Resumo Nos tiltimos anos tem-se verificado um aumento de situagdes de conflito, muito espe- cificamente, em contexto escolar. Deste modo, a mediagdo é um processo dindmico de re solucdo de conflitos no qual as duas partes em confronto recorrem voluntariamente a uma terceira pessoa imparcial, 0 mediador, para chegar a um acordo satisfatério. A mediacio escolar assume hoje um papel crucial na formagio de valores, nomeada- mente a justiga, a liberdade, a tolerdncia, a solidariedade e o respeito pela diversidade. As- sim, a Escola deve estabelecer um vinculo a novos valores, procurando que os jovens ad- quiram ideias proprias através dessa confrontagio com os que, anteriormente, ihes foram ineutidos peta familia. objectivo deste artigo & contribuir para uma reflexdo conjunta de todos os elemen- tos da comunidade educativa, para que possamos reconhecer a mediagdo na escola como lum instrumento de didlogo, de encontro interpessoal ¢ de resolugo e transformacdo positi- va dos conflitos. PaLavRas-CHavE: Mediagdo, conflitos, didlogo, escola 1. A Mediacéo como processo na resolucéo de conflitos ‘A cbordagem dos conflitos, nomeadamente do bullying, ov violéncia en- tre pares, é relevante, porque é um fendmeno que acontece, com frequéncia, no ambiente escolar. As distintas manifestagdes de conflitos na escola, um pouco por todo o pais, tm vindo a adquirir uma crescente importéncia na nossa sociedade. Muitas stio as suas expressées, os sujeitos envolvides e as consequéncias observadas. O continuado envolvimento dos alunos com esta realidade, faz com que este tema seja noticia, quase diariamente, nos érgdos de comunicago social. Esta problematica tem muitas implicagdes do ponto de vista da pratica educativa, e as suas diferentes manifestagdes tem preocupado de forma especial pais e educadores. Morode (oddress|: Escola Secundéria C/ 3° Ciclo Alexandre Herculano, Avenida Camilo ~ 4300-096 Porto, E-mail colovrence2402@clixpt ~ mopaivaticlix pt 10 e Culture, 2008, XI 2 i Assim, poder-se-a dizer que estes conflitos em meio escolar, muitas vezes violentos, tanto so consequéncia de uma situacdo de violéncia social, que atinge © quotidiano da nossa Escola, como podem exprimir formas de ac¢tio que nascem do ambiente pedagégico, neste caso a violéncia da escola. Nesta sequéncia, como refere Nogueira (2003), a violéncia da escola e a violéncia na escola abarcam uma série complexa e heterogénea de fenémenos, dentre 08 quais 0 bullying escolar. © mesmo autor salienta, ainda, que quando anali- samos 0 fendmeno da violéncia nos confrontamos com um conjunto de dificul- dades, no somente porque o fenémeno se reveste de uma grande complexi- dade, mas, também, porque nos faz reflecir sobre nés préprios, bem como sobre os nossos sentimentos e pensamentos. Em contexto escolar é frequente a violéncia confundir-se e correlacionar-se com a agresséio e/ou com a indisci- plina © problema do bullying pode, assim, ser entendido como um aspecto es- pecifico da violencia no espago escolar que, na perspectiva de Olweus (2000), se observa quando um aluno vivencia, sistematicamente e num espago temporal, accdes negativas por parte de um ou mais colegas. A designacéo - violéncia entre pares - poderd ser utilizada quando se detecta a existéncia de uma relagdo desigual de poder entre alunos. Este tipo de agressdes pode ser desenvolvide quer por um aluno individualmente quer por um grupo. O bullying e a vitimizagdo podem ser interpretados como distintos tipos de envolvimento em situacdes de violéncia durante as fases da infancia e da adolescéncia. © bullying caracteriza-se por ser uma forma de afirmagdio de poder interpessoal através da agressdo. A vitimizagéio é sentida quando um individuo 6 receptor da atitude agressiva de um outro mais poderoso. Tanto © bullying como a vitimizagéo tém resultados negativos imediatos sobre to- dos os intervenientes: agressores, vitimas e observadores (Craig e Harel, 2004). Num estudo desenvolvido por Olweus (1998) foram elaborados os pri- meiros criterios para definir 0 problema do bullying escolar de forma especifi- ca, possibilitando a diferenciacdo de outras possiveis leituras interpretativas, como incidentes ¢ formas de troca ou relagdes de brincadeiras entre iguais, préprias do processo de desenvolvimento da personalidade do individuo. Des- se estudo, realizado 4 escala nacional, é possivel constatar que cerca de 15% do total de alunos das escolas de educagéio primaria e secundéria da Norue- ga se apresentavam como agressores ou como vitimas. Sendo toda a forma de violéncia na escola uma preocupastio dos educa- dores e da sociedade em geral, quando ela evoca um cunho sistemético au- menta claramente essa preocupacéio, néio s6 pelos efeitos que causa nas viti- r Psicologia, Educacao e Cultura, 2008, XII, 2

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