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Os Maias

Tempo da História

O romance inicia-se em 1875 quando os Maias vêm morar para Lisboa, abrindo Afonso de novo
as portas do Ramalhete para receber o seu neto Carlos. Há, contudo, um recuo (analepse) ao
passado da família. Assim, temos:

- Intriga secundária:

Cap I Cap II Cap III Cap. IV (parte)

Infância de Pedro Infância e Juventude de


Obras no – sua educação; educação Carlos
Ramalhete
personalidade ( segundo
1 Vida em Coimbra
875 A história da Amores e modelo inglês) - formatura em
família; de Carlos da
casamento de medicina;
Pedro com Mª Maia em Santa amizade com
1821 Juventude Olávia
de Afonso – Monforte; ruptura João da Ega
lutas com Afonso da – contraste com
18
liberais; Maia Viagem de um 75
a educação de ano pela Europa
Casamento Suicídio de Pedro, Eusebiosinho
com Mª depois de ser Regresso a
( modelo Lisboa
Eduarda abandonado pela
Runa tradicional (Ramalhete)
mulher português )
Exílio em
Londres Carlos entregue ao
Logo, a intriga principal
avô decorre entre:

1887 (cap. XVIII)


Outono de Janeiro de
Cap. V-
1875 XVII /XVIII Regresso de
1877
Carlos a Lisboa,
dez anos após
os
vida social de Carlos da Maia em acontecimentos
Crónica Lisboa;
Episódios da vida
de a relação amorosa com Mª Eduarda romântica
costume
( incesto); morte do avô

Cap. V- XVII /XVIII

Paralelismo e diferença entre a história de vida de Pedro e de Carlos


1
Pedroda Maia Carlos da Maia
➢ Educação tradicional (modelo ➢ Educação à “inglesa”
português)
➢ Vida diletante e ociosa; frequência dos
➢ Vida dissoluta salões de alta sociedade lisboeta;
variada experiência amorosa
descomprometida

➢ Encontro casual com Maria Eduarda e o


➢ Encontro casual com Maria despertar da paixão romântica que o
Monforte e o despertar da paixão dominará
➢ Pedro procura encontrar –se com ➢ Carlos procura a todo o custo encontrar-
Maria se com Maria Eduarda
➢ Dâmaso Salcede serve de intermediário,
aproximando o par ( Carlos visita a casa
➢ Alencar serve de intermediário e como médico).
aproxima o par
➢ Maria Eduarda leva uma vida discreta
em Lisboa;
➢ Maledicência da sociedade ➢ Dâmaso Salcede insiste numa relação
lisboeta, particularmente a próxima/íntima de Maria que esta não
feminina, sobre os amores de incentiva.
Pedro e da «negreira»
➢ Admiração por parte dos ➢ Encontros; início de um relacionamento
homens, da beleza deslumbrante amoroso; oposição latente de Afonso.
de Maria
➢ Namoro; encontros
➢ Casamento com a oposição de
Afonso ➢ Vida conjugal e social na Toca; projectos
de viagens e casamento adiados por
causa da idade avançada do avô, e para
➢ Viagem ao estrangeiro; vida não lhe dar um desgosto.
conjugal; vida social em Arroios;
nascimento dos filhos ➢ Castro Gomes (suposto marido de Mª
➢ Tentativa de conciliação, gorada, Eduarda) surge como um primeiro
com Afonso da Maia elemento de instabilidade no
relacionamento Carlos/Maria – o drama
➢ Presença do napolitano na casa desponta; a verdade sobre o passado de
de Arroios – desencadeador do Maria; as explicações dela e o perdão de
drama Carlos.
➢ Infidelidade de Maria e sua fuga
com o napolitano Tancredo ➢ Presença de Guimarães em Lisboa e a
entrega do cofre, contendo papéis
identificando Maria Eduarda como filha
de Pedro da Maia e de M. Monforte -
factor desencadeador da tragédia.

➢ Descoberta do incesto – reacção de


revolta incrédula por parte de Carlos;
insistência em manter o relacionamento,
sem o conhecimento de Maria.

2
➢ Consciência da degradação moral em
que se colocou.
➢ Encontro com o avô – Afonso mudo,
como um fantasma, constata que o neto
vem da casa e do leito daquela que sabe
ser sua irmã.
➢ A desonra abate-se sobre Carlos e o
desespero acentua-se com a morte do
avô que não pudera suportar tão rude
golpe - a tragédia concretiza-se.

➢ Carlos sente a culpa, reconhece a sua


fraqueza de carácter, sabe que falhou,
mas não opta pelo suicídio como seu
pai.

Deste modo:

➢ Detentor de um espírito racional e


prático, para Carlos a solução está no
afastamento de Lisboa
➢ Regresso de Pedro à casa
paterna e indícios de uma ➢ Opta por uma longa permanência no
tragédia estrangeiro (dez anos), reequilibrando-se
➢ Suicídio de Pedro, deixando o dos acontecimentos trágicos (antes,
filho à guarda de seu pai tomou medidas práticas para que Mª
➢ Afonso encontra no neto razões Eduarda recebesse a herança que lhe
e forças para continuar a viver cabia

➢ Assim, Carlos falha não por causa da


educação recebida, mas apesar dela.
Todavia, serão os princípios em que foi
educado que o levarão a reflectir e a
decidir com racionalidade.

➢ O Naturalismo na construção das personagens

• Pedro da Maia

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Pedro da Maia é uma personagem construída segundo os modelos do
naturalismo, ou seja, o seu comportamento foi determinado por três factores:
- a raça( a carga “genética” que herdou da mãe – a sua fragilidade, o carácter
temeroso);
- a educação (foi educado segundo o modelo tradicional português, assente na
memorização da cartilha e do catecismo, sem desenvolver o espírito crítico; muito
protegido pela mãe, tornou-se fraco, tímido, “mole” de carácter);
- o meio ( cresceu num ambiente super-protegido, beato, sedentário, sem
contacto com o mundo exterior.
Assim, apesar de pertencer a um meio economicamente confortável, Pedro da
Maia desenvolve uma personalidade adulta instável: - ora tristonho, fechado, ora
eufórico, entregando-se a uma vida boémia.
Desta forma, o meio que frequenta na juventude ou é beato ou é dissoluto,
degradado, o que não contribui para o desenvolvimento de uma firmeza de
carácter.
Em síntese, os três aspectos referidos pelo naturalismo como determinantes
( raça, educação e meio) no sucesso ou insucesso da vida de alguém, conjugam-
se negativamente na vida de Pedro, tornando inevitável que o seu percurso
biográfico culmine numa tragédia :
traído pela mulher, Pedro suicida-se

• Maria Monforte é igualmente concebida dentro dos pressupostos do


Naturalismo. Assim:

- tendo sido criada pelo pai que fora um «negreiro» e a quem ela trata com muito
desdém, Maria surge-nos como o resultado de uma educação deficiente que acentua
a sua negativa carga hereditária ( raça) e o meio em que cresceu e vive ( com poder
económico mas sem valores morais).
Assim sendo, o carácter volúvel de Maria, o desejo de ser cortejada por outros
homens, para além do marido, a traição, o abandono do filho e a sua vida posterior
(decadente, primeiramente dona de um bordel, depois na maior miséria e doença) são
uma consequência inevitável.

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