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Oo Cae oe DE PARTS, de Louis Aragon (tradugio comentada> Flavia Cristina de Souza Nascimento Dissertacto apresentada ao Bowarts mento de Teoria Literdeia do Inati— tuto de Estudos da Linguasen da Universidade Estadual de Campinas, coma requisite parcial para obten~ eSq dg titela de Mestre en Teoria Literdria ste exen: 9 final da tesa foneids § Flew. Cortinien de pone Spe werrnt ef cane nae, aAgnatoude 1974 We 08, 3h s Ltardth ceger Cab ‘ fe Sa Saks en Cheb mes runt AGRADECTNEN FOS A Profa. dera"Chalwers, ar tentadora desse trabalho, pe- It genecosidade intelectual. aos erofavsores Luis Gentes © Suri Seerhoe, geias conversas das quais resultaras inpartan~ sugestSes que incerporel a mau trabalho, a Me ie Gagneb in, ene imuecey minke comprennsda ao aaviauato a partiefeayde aewse banca, A winka Fams2ia, e meus Bais. No Fecnando Figueira © & 8: rara anicade, & Bunie ¢ ae Rogerio, pala ajuda cial © tambde avs funciendeias da Secretaria de Pe: a Protas wage beabalhe safes Salter BenJamla a a1 ISER, A Franca, wean ifn auras especial een providen= eda BE nios espe do Estado likanda 3 aifoteca de TEL, pels valinsa ciaiy devo tambelw 2 Fundagdo de Auparo & fosquisa de $8 Paulo, pela bolsa qus ae concedeu, passité finalisasde da dissertas&o de aestrado que ora apresento. Resuma O presente trabalho ¢ a tradugio do texta integral de Le Paysan de Paris, narrativa publicada em 4926, por Levis Aragon. Tratarse de uma das realizasties mais originais da proga survealista, celebrizada principaimente peta capitulo “® fassagem da dpera”, devido A riqueza e eepuntaneidade de as imagens. @ teadugSe é acowpanhada por notas de rodard da tradutora que esclarecem para o leitor certes problemas enlocades pelo texto, ora de natureza lingufstica, ora refe= rent a uestiies ligadas & propria histéria do movimento gurrealicka. @léw disso, dois textes curtos da auvtora acon panham 9 obra traduzida, 0 primeiro deles € um prefdcio que Far um breve apanhado da nascinento vo Surrealismo na Fran ea, das relagtes de ¢wagan com o movimente @ do zignificada dessa tradus%e, no Brasil, 63 anos apds a edig&e original: preficio apenta também para alguns temss fundamentals a'D Campon@s, relacionando o fl&neur surreatista com fianerie baudelairiang. Finalmente, o texto que encerra o trsbalho @ um relate resumido de comp foram resalvidas cern a traductio. = dificuldades impostas por es: 4 Nehewa @ Zé Flavio. fedice esse trabalho indice BrePhc io RETRAUCTO cece eee e cece ee eect en eeean ees eeerene OL Hotas do PREPAC veces sce ee een cree ee eeeee ren ceerensne 2 0 Camponés de Paris Prefdcio para uma eitalagia maderma ...... # Passagem da Opera -eeeseenscseeeeeeerees Q sentimento da natureza no Parque Butkes-Chaumont 22... 134 HD sonhe do GAMPONER aeecreneerenrecnenseneeeaeeenecennes BAF Notas da tradusao . Sobre essa traducho ..e.ee BibLlOgeAPiA ceceesscceoeeeasee reenter erereeettenercenes BSP Prefdcio & tradugio O surrealismo volta a escandalizar a Franga com suas con~ fissdes sobre a sexualidade’. Essa é a legenda de um artigo apa~ vecide no caderno de literatura de um jornal paulista, a respeito da publicagio recente, pela Editora Ballimard, dos Archives de la sexualitét, Embora esse tema seja especialmente prapicio an es~ cSndalo, de qualquer forma a legenda citada ¢ itil para a avalia~ go do poder de fogo desse movimento francés que, em seus cin~ quenta anos de vida (4919/1969), sempre se distinguiu como pole mizador veredtil, transitanda pelos mais diversos dominios da ex- periéncia humana, da psicandtise ao marxismo, da alquinia avs ri- tos das sociedades primitivas. Se ele pode ainda provocar algum impacto em 4994 ~ hoje mais pela natureza dos temas tratados ~ iwagine o leitor no momento em que aparecei, brotando numa Europa aniquilada pela primeira guerra quando contava, de inicio, com nada wais que uma mela-dizia de jovens e, principalmente, com @ materia prima que ensendrou primeiro o dadaisma, depois 9 surrea~ Lisme revolta incondicional diante da fal@ncia de uma civiliza- c&o que acabara de produgi¢ tamanha carnificina. Louis Aragon (1897/1974) ¢ desses surrealistas de erineira hora. Estudante de medicina como André Breton, em 1917 ele a com gheceu ew Val~de-Grdce, onde trabalharam, ambos, como médicos-as~ gistentes mobilizados pelo exército francés. Desse nucleo surrea~ lista inicial fagia parte também Philipee Soupauit, com quem Bren ton descobriu em (949 a escritura automética, o que fixau a dacs de inicio do movimento. Depols, em 1924, com a publicag%o do eri~ neiro Manifesto do Surrealismo, autras formas de exploracéo do inconsciente vieram se incorporar & aventura desses homens. @ Camponés de Paris? € a reatizag’o de alguns dos segredos da arte magica surrealista apontados por Breton no primgiro Hanifesto, © pertence & fase do movimento que Ficou conhecida como “fase he~ réica’S, 0 liveo foi publicado em 1926, mas seu famogo capitulo “& Passagem da Opera’ ¢ de 1924, tendo aparecido em folhetim oa Revue Europegnne. Aragon se antecipou em certo sentide ae proprio Breton, que sd estreveu e publicou seu Nadja em 1928. Em 1929, com a publi agGio do segundo Manifesto do Surrealis~ no, marcads pela adesfe do grupo surrealista & luta proletdria, iniciou-se a segunda fase do movimento, conhecida como "reflexi~ vat. Ho decorrer desses anos de surrealisme, vérias intemeer ies periddicas levaram a muitos destigamentoy, como a novas adestes ao grupe. Louis Aragon permanecen nele até 1732. Nesse ano, o au tor dQ Campon@s foi condenada judicialmente por ‘excitacde de militares a desobedi@ncia € por provocacSo de assassinate com ob~ jetive de propaganda anarquista’, devido & publicac%o de seu lon~ go poema Front Rouge, em louver & revolugdo de outubro de $957. Ag relagSes do grupo surrealista com o Partido Comunista ja esta vam estremecidas desde o exilio de Trotski, em 29, mas o engaja mento ainda existia @ o grupo obviamente defendeu Aragon quando de sua condenacio. Esse, entretanto, acusou Breton @ seus compan nheiras de contra-reveluciondrios, desligou-se deles @ engajounse peremptoriamente no Partido Cominista. Assim o affaire Aragon le~ vou A vuptura do grupo surrealista com os comunistas, A partir dessi fatos Louis Aragon passou a negar sistematicamente sua prépris obra surrealista, até a morte’, Seja como for, sua ativi~ dade surrealista de mais de uma década fot suficiente pare que ele deixasse usa obra de importGncia central para o movimento, sendo 0 Camponés de Paris um de seus momentos mais brilbantes. Esse breve apanhado aponta para o significado de traduzir esse texto no Brasil, tantos anos depois. & car€ncia de boas tra~ dugSes literdrias entre nds é uma constante desagraddvel que pa~ rece ir se tornado habitual, supreendente, com o passar dos tem pos. No caso espec{fico do surrealisma essa caréncia é impression nante: quase nde ba tradugHes de uma obra que tem import8ncia inesdvel para a compreensiio da literatura e das artes plisticas ocidentais contemparaneas. 0 prdéprio Manifesto do Surrealismo 55 apareceu no Brasil em 1985, on seja, 64 anos apis a edigao origin nalli, € apesar de nfo ter existida um "movimento surrealista brasileiro’, sem diivida houve certos canais de comnicagdo entre integrantes do movimento francés © alguns de nossos modernistas come atesta o interesse de Benjamin Péret © de Blaise Cendrars peta obra de nosso Oswald de Andrade, ou como demonstran certas tendéncias na obra de um Surilo Hendes ou na de um Jorge de Lima Tudo isso torna ainda mais incompreenaivel a falta de boas tradun cies brasileiras @ 0 consequente desconhecimento do publica bra~ sileiro em relac%o ae surrealismo. No que diz respeito & obra de Louis Aragon, nada fol publicade no Brasil até agora, fato aus da justificaria a traducko d‘O Camponés de Paris. Diganse ainda que nesse livro, considerado sua abra-prima da juventude, encontra-se a abordagem dos grandes temas surrealistas: a crftica aos esque~

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