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CATURRITA E BEIJA-FLOR Delci Oliveira No jardim do meu visinho da direita O seu Luiz, Desponta um vioso hibisco Florindo em rseo

matiz Que recebe o ataque arisco De um bando de colibris Em vos desordenados Chegam por todos os lados, Pequeninos vnis Planando defronte as flores Saboreiam seus licores Revoluteiam e trinam Um leve canto feliz Seu Luiz, que trabalha em ferros Fazer gaiola no quis, Dependurou no arvoredo Estratgicos cantis, Bebedouros de gua doce Pra quando as flores secarem No perder seus colibris esquerda, num sobrado H poucos dias habita Famlia com filhos moos E do jeito como grita, Um muito desconsolado Filhote de caturrita Guaxos precisam de arrimo Todos ns sabemos bem, Quem ao nascer perde a me No sobrevive sozinho, Talvez esse passarinho Tentando alcanar o cu Tenha cado do ninho Caturrita e periquito Com seus instintos gregrios Tem ninhos comunitrios Nas alturas do eucalipto, Condomnios populares Plumas afeitas aos ares Olhos plenos de infinito Minha infncia predadora Do bodoque e assalto aos ninhos Respeitava a sombra verde Portentosa, protetora Na fria dos temporais

Agora, pela campanha Se alastra a cultura estranha Das florestas industriais Que trar o novo eucalipto... Uns dizem... mal Outros... Mel Porm progresso e ganncia Constroem a cada dia Novas torres de babel E quanto mais a palavra Perde sentido e valia Mais precisamos papel Nefasta dicotomia, Tornam as matas milenares Desnaturadas e nuas, Em pastos artificiais E no pampa, sesmarias, Do rebanho, da tropilha Vrzeas de trevo e flexilha Nunca mais sero iguais Assim se reabilita, A velha sentena xucra Rico vende quando lucra O pobre se necessita Mas que o bom deus me permita Chegando hora do corte No deixar a prpria sorte A pobre da caturrita Que a lavoura de eucalipto Se amenize ao campo aberto, Sem criar mais um deserto No sul do nosso pas E eu disfarce a cicatriz Dos remorsos predadores Celebrando os beija-flores No jardim do seu Luiz.

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