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A teoria marxista das crises rechaça toda concepção mono causal. As crises se
devem exclusivamente ao excesso de capitais (super acumulação) ou, o que é
equivalente, à insuficiência da massa de mais-valia produzida normalmente. Não se
devem exclusivamente à insuficiência do poder de compra por parte das massas.
Tampouco se devem exclusivamente à desproporção entre os dois departamentos
fundamentais da produção, o departamento de bens de produção e o departamento
de bens de consumo. Todas essas causas desempenham um papel no
desencadeamento da crise e em sua reprodução cíclica, mas nenhuma delas
determina, por si só, a irrupção regular das crises.
A razão pela qual Marx rechaça toda explicação mono causal das crises é que
considera o ciclo industrial e a crise de superprodução nas quais aquele desemboca
regularmente, como inerentes ao modo de produção capitalista. Este modo de
produção está baseado sobre a produção mercantil generalizada. É do fato de que
os meios de produção (incluídas as terras) e a força de trabalho se terem convertido
em mercadorias, de onde se deduz a relação capital/trabalho assalariado, isto é, o
modo de produção capitalista.
Neste sentido, no marco da teoria marxista das crises, a crise é por sua vez uma
crise de superprodução de capitais e uma crise de superprodução de mercadorias.
Em sua preparação e em sua irrupção intervêm todas as contradições internas do
modo de produção capitalista. Pode se representar a crise como determinada
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fundamentalmente pela queda tendencial da taxa média de lucro na medida que as
flutuações da taxa de lucro resumem o conjunto destas contradições.
Por sua própria essência, a crise capitalista é então uma crise de superprodução de
valores de troca. Nisto, ela se contrapõe às crises das sociedades pré-capitalsitas e
às crises das sociedades pós-capitalistas, que são essencialmente crises de
subprodução de valores de uso. Estas crises se combinam nestes casos, em graus
diferentes, com fenômenos ligados ao mercado, na medida em que a produção
mercantil se desenvolve ou sobrevive nestas sociedades. Por outro lado, enquanto
subsiste o modo de produção capitalista e a economia continua sendo regida pela
lei do valor, as crises de superprodução são inevitáveis.
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Mas o capitalismo tardio não pode atenuar durante um período limitado suas
contradições internas por meio da inflação permanente sem pagar um preço
elevado – a longo prazo insuportável – por esta tendência: a desorganização
crescente de seu sistema monetário internacional, os crescentes riscos de
arruinamento de todo os sistema bancário e de todo o sistema de crédito
internacional.
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Não posso analisar em detalhe todos as características particulares das crises de
1970-1971, de 1974-1975 e de 1980-1982. Mas quero insistir sobre um aspecto
essencial desta combinação de trações particulares e traços gerais das crises
atuais: a combinação entre o ciclo industrial septenal ou hexenal, e a onda longa
expansiva que se estende de 1948-1949 a 1968 (salvo nos países anglo-saxões,
onde começou, sem dúvida, desde 1940).
Esta combinação entre ciclo industrial clássico e onda longa depressiva tem
conseqüências consideráveis sobre a evolução econômica a médio e longo prazo.
Tem conseqüências igualmente importantes no plano social e político.
Na prática isto quer dizer três coisas: 1) manutenção de uma taxa de crescimento
anual bastante elevada da produtividade; 2) baixa e até desaparecimento da “renda
tecnológica”, dos superlucros monopolísticos dos grandes trustes, incluídas as
“multinacionais”, o que contribui para deprimir a taxa média de lucro; 3) descenso
considerável da taxa média da produção, que permanece durante um longo tempo
inferior a taxa de crescimento da produtividade. O resultado é claro:
simultaneamente, o aumento do desemprego e a ofensiva de austeridade da
burguesia se manterão durante um longo período, independente das flutuações
cíclicas da produção anual.
Para não falar mais do desemprego dos países imperialistas: subiu de 10 milhões
em 1970 a 15 milhões em 1975, a 20 milhões em 1978, a 30 milhões em 1980, a 35
milhões em 1983 e alcançará 40 milhões em 1985, independente da recuperação
em curso. Por outro lado, trata-se de estatísticas que subestimam fortemente a
realidade, pois não incluem a todos aqueles e aquelas que como dizem tão
elegantemente os ideólogos burgueses e pequeno-burgueses, “abandonaram o
mercado de trabalho” perdendo toda a esperança de encontrar um emprego. Trata-
se antes de tudo das mulheres rechaçadas para os lares e dos trabalhadores
imigrados rechaçados até seus países de origem.
Para os menos subdesenvolvidos dentre eles isto significa uma mudança de clima
socioeconômico e político completo com relação aos dez anos precedentes, uma
perda de credibilidade dos projetos nacionalista-populistas, etc., com uma queda
brutal do nível de vida das massas. Para os mais pobres dentre eles, o que está se
desenvolvendo é uma tragédia de dimensões históricas, da qual para vergonha
comum de todos nós, vanguarda revolucionária internacional, para não falar do
movimento operário internacional, não se tomou a menor consciência. Pode-se
resumir essa tragédia em uma fórmula: a onda larga depressiva provoca uma
pauperização absoluta nos países semi-coloniais mais pobres que leva o poder de
compras dos salários médios até o nível das porções de alimentos dos campos de
concentração nazista.
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Sem poder fazer uma lista exaustiva de todas as “explicações” de reajuste da crise
com relação à explicação marxista, mencionaremos os esquemas ideológicos
seguintes:
• A crise seria resultado inevitável da alta dos salários diretos e indiretos durante
a fase de expansão precedente. Há uma versão direitista desta “explicação” (a
explicação neoclássica, monetarista: “The workers priced themselves out of the
labor market”). Há também uma versão de “esquerda” desta “explicação”: a
teoria do “profit squeeze” que voltando de Marx a Ricardo, reduz a queda da
taxa de lucro à queda da taxa de mais-valia, ou seja, explica a crise pela alta
dos salários.
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Todos estes resultados que perseguem têm um objetivo central: exercer uma
enorme pressão sobre a classe operária para que esta não reconheça que o
capitalismo e somente o capitalismo é responsável pela crise, e que toda luta real e
eficaz contra as conseqüências desastrosas das crises para as massas
trabalhadoras deve ser uma luta contra o capitalismo, um luta anti-capitalista. É
uma pressão para impedir o surgimento de uma alternativa anti-capitalista,
socialista à crise, pela qual amplas massas estariam dispostas a combater.
Com o nível alcançado atualmente pelo armamento – sobretudo, mas não apenas o
armamento nuclear -, com o processo de destruição do meio ambiente em curso,
com o ascenso da fome no mundo, este potencial destrutivo deveria hoje ser
multiplicado ao menos por cinco. Isto implica o risco real da destruição da infra-
estrutura material e humana sobre a terra.
Digo “a longo prazo”. A curto prazo e a médio prazo, o capital internacional choca
com obstáculos e resistências imensas para aplicar um curso até a reconquista dos
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mercados perdidos, ou seja, um curso até a terceira guerra mundial. Entre estes
obstáculos e estas resistências está, entes de tudo, a força do movimento operário
e do movimento anti-guerra nos países imperialistas e a força do movimento
antiimperialista nos países semi-coloniais e nos países dependentes. Hoje, o que a
remilitarização põe na ordem do dia de imediato, são guerras contra-revolucionárias
locais, como a agressão ao Líbano contra a revolução palestina, a agressão contra a
revolução centro-americana, a agressão contra a revolução na África Austral. Antes
que possam ser infligidas derrotas muito severas ao movimento operário e ao
movimento de massas dos principais países do mundo capitalista, a terceira guerra
mundial não está na ordem do dia.
Para nós, isto não é algo que está resolvido: as batalhas decisivas estão diante de
nós e não para trás de nós. Se queremos referir-nos com todos os riscos inerentes
às analogias históricas, às etapas preparatórias para a segunda guerra mundial,
estamos hoje em 1929 e não em 1933 ou em 1938. A marcha até a segunda guerra
mundial poderia ser invertida se Hitler não tivesse tomado o poder, se Franco
tivesse sido derrotado, se o ascenso revolucionário na França não houvesse se
afogado pela Frente Popular. As grandes batalhas de classe que virão na Europa
Ocidental, no Brasil, no México, na Argentina, na Índia, no Canadá, na África do Sul,
no Japão, e sem dúvida, finalmente, nos Estados Unidos, decidirão a marcha até a
terceira guerra mundial e, em conseqüência, a sorte da humanidade.
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presença da naturalização política e ideológica das massas ao irracional e ao
monstruoso o que é decisivo na etapa atual para o imperialismo na perspectiva da
preparação da guerra.
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É claro que uma resposta puramente teórica e propagandística jamais dará
satisfação suficiente às grandes massas. Enquanto não exista, nos fatos, um
“modelo” de sociedade de transição que transcenda de forma decisiva os abusos,
as aberrações, os desastres, as desigualdades, as opressões que existem hoje no
Leste, nossa resposta não convencerá a todo o mundo. Mas isto não significa que se
tenha que esperar a vitória da revolução socialista no ocidente e da revolução
política no Leste, para defender de forma resoluta a planificação socialista como a
resposta socialista à crise capitalista.
Esta crise só será resolvida se as massas tomam em suas mãos a gestão de seus
próprios assuntos, da economia, do Estado, da sociedade. Esta crise só será
resolvida pela socialização dos grandes meios de produção, seu funcionamento
planificado sobre a base de objetivos prioritários fixados democraticamente com o
pluralismo político indispensável à democracia, pela massas dos produtores-
consumidores próprios, pela gestão da economia pelos produtores associados, pela
criação de uma Federação Socialista Mundial, baseada no poder dos trabalhadores,
o poder dos conselhos operários e populares no mundo inteiro.
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