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Curitiba
2007
Pode parecer óbvio, mas a primeira consideração que se faz necessária ao
analisar Kant, Hegel e Marx é que todos têm em comum um pensamento filosófico da
história. É Kant que inaugura a história como objeto de reflexão filosófica; Hegel dá
ênfase a essa proposta ao defender que história e filosofia são indissociáveis; Por mais
que a história seja um lugar central no pensamento de Marx, pode-se dizer que ele
apenas sistematiza uma filosofia da história, mas não a cria efetivamente.
Partindo disso, pode-se dizer que Kant, Hegel e Marx têm propostas semelhantes
da filosofia da história, por proporem uma história progressiva, linear e que tem uma
finalidade. Nos três autores, a finalidade da história é alcançada mediante a emancipação
dos homens. Para chegar a esse fim, a história faz avanços em relação ao período
anterior – daí ela ser progressiva e linear.
Segundo Hegel, por exemplo, nas sociedades orientais havia apenas um indivíduo
livre, o déspota; apesar dessa liberdade ser “deturpada” em arbitrariedade. Seguindo essa
sociedade, vem a sociedade grega em que alguns são livres e tem a consciência dessa
liberdade; no entanto não são livres como homem, mas como homens. É a partir da
Reforma Protestante, com as nações germânicas cristãs, que o homem, e todo homem, é
realmente livre. Hegel ainda afirma categoricamente, que “a história universal é o
progresso na consciência da liberdade” (HEGEL, 1837, p.25).
Ao falar de uma maneira geral sobre a distinção entre o saber e a liberdade, disse
que os orientais só sabiam que um único homem era livre, e no mundo grego e
romano alguns eram livres, enquanto nós sabemos que todos os homens em si –
isto é, o homem como homem – são livres. (HEGEL, 1837, p.25)
“Os homens, enquanto indivíduos, e mesmo povos inteiros, mal se dão conta de
que, enquanto perseguem propósitos particulares, cada qual buscando seu próprio
proveito e freqüentemente uns contra os outros, seguem inadvertidamente, como a
um fio condutor, o propósito da natureza, que lhes é desconhecido, e trabalham
para sua realização, e, mesmo que conhecessem tal propósito, pouco lhes
importaria” (KANT, 1784, p.10)
Marx, por sua vez, entende que “a religião é o ópio do povo” e que o motor da
história são as lutas de classe, ou seja, o progresso da história acontece pelas mudanças
nos modos de produção econômicos.
Marx se opõe a Kant e Hegel também no que diz respeito à essência da história
universal. Para ele, essa essência é econômica: é através da infra-estrutura que se dão
as mudanças na super-estrutura; ou seja, o âmbito político é pré-determinado pelo
econômico. Já Kant e Hegel definem a história universal como essencialmente política.
Para eles, é por meio da mudança de pensamento do homem e das instituições políticas
que se alcança a máxima liberdade e o todo cosmopolita kantiano.
Marx também discorda dos dois autores no que concerne o Iluminismo. Para ele, a
burguesia perde seu potencial revolucionário e não cumpre sua promessa de
emancipação e acesso à razão – vê, portanto, o iluminismo de forma negativa. Enquanto
isso, para Kant e Hegel, o iluminismo é o que faz com que o homem se auto-conscientiza;
é a partir da Revolução Francesa e da Reforma Protestante que o homem passa a pensar
por si só. “O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é
culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem orientação de
outrem” (KANT, 1784, p.11).
Já que o indivíduo agora sabe que está plenificado com o espírito divino, ficam
suprimidas todas as relações da exterioridade: não existe mais diferença entre
sacerdote e leigo, não há mais uma classe que detenha exclusivamente o
conteudo da verdade (...). É o coração, a espiritualidade sensível do homem, que
pode e deve apoderar-se da verdade – e essa subjetividade é a de todos os
homens (HEGEL, 1837, p.345)
Enquanto Marx e Kant não acreditam que a história chegou a seu fim e à liberdade
e emancipação absoluta, Hegel discorda. Marx acredita que, para haver liberdade, é
necessário que a história ainda passe pelo socialismo e comunismo e Kant defende que
os homens ainda estão no meio do processo, mas se encaminhando para o fim
cosmopolita.
Se, pois, se fizer a pergunta – vivemos nos agora numa época esclarecida? – a
resposta é: não (...). Temos apenas claros indícios de que se lhes abre agora o
campo em que podem actuar livremente, e diminuem pouco a pouco os obstáculos
à ilustração geral, ou à saída dos homens da menoridade de que são culpados
assim considerada, essa época é a época do iluminismo (KANT, 1784, p.17)
Será necessária uma profunda intuição para entender que as idéias, os pontos de
vista e as concessões do homem, resumindo, a consciência do homem muda de
acordo com as mudanças nas condições de sua existência material, nas relações
sociais e na sua vida social? (MARX, 1848, p.41)
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“O pensamento é agora o estágio a que o espírito chegou. Ele contém a reconciliação em toda a
sua essencialidade, já que se trata do exterior com a reivindicação de que essa existência tenha a
razão em si como sujeito” (HEGEL, 1837, p.361)
Nesse sentido, como já mencionado, a liberdade para Kant e Hegel é a liberdade
individual e de pensamento; Hegel ainda vai além dizendo que ser livre é saber-se livre.
Já para Marx, a liberdade se conquista histórico-socialmente, banindo-se os meios de
produção. Somente a classe social pode ser livre, e não apenas o indivíduo.
Referências bibliográficas