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ALINE BARONI
CURITIBA
2007
“Você pode teorizar o quanto quiser sobre o rock and roll, mas ele é
essencialmente uma coisa não intelectual. É música e só!” (WENNER apud
FRIEDLANDER, 2006, p.13). A frase, do editor e fundador da revista Rolling Stone,
aponta para o hiato que há entre a teoria, as tentativas acadêmicas de entender o rock,
e a prática de ouvir e tocar rock.
Nessa monografia não será teorizado o rock em si. No entanto, vejo a
necessidade de entender as relações entre o rock, seu público (fundamentalmente as
juventudes das décadas de 60 e 00), a comunicação e a cultura de massa – e por isso
serão abordados, essencialmente, aspectos do conceito de indústria cultural, formulado
por Adorno e Horkheimer. A Escola de Frankfurt será fundamental nesse estudo por ter
formulado a teoria mais influente no que se trata dos produtos da cultura de massa e da
influência da indústria cultural na produção musical.
Para Adorno e Horkheimer (1985), o modo de produção burguês capitalista fez
emergir um novo tipo de produção cultural, a indústria cultural. Nesse sentido, a arte se
tornou alienada e ideologizada. Benjamin (1994) define essa transição como perda do
valor de culto em detrimento do valor de exposição. Para ele, o que antes era uma arte
reservada, com uma função ritual, passou a ter um valor pela sua proximidade de um
grande público. Esse contexto, que Benjamin chama de época de reprodutibilidade
técnica, fez com que a obra de arte perdesse sua aura, seu aqui e agora, sua
autenticidade:
“Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra
de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra. (...) O que se atrofia na
era da reprodutibilidade técnica da obra de arte é a sua aura. (...) A técnica da
reprodução destaca do domínio da tradição o objeto reproduzido [grifo do autor]. Na
medida em que ela multiplica a reprodução, substitui a existência única da obra por uma
existência serial” (BENJAMIN, 1994, p.167-168)
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“A música constitui, ao mesmo tempo, a manifestação imediata do instinto humano e a instância própria
para seu apaziguamento” (ADORNO, 1980, p.165)
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Apesar de Adorno não ter estudado especificamente o rock, enquadro esse gênero na indústria cultural
e, conseqüentemente, dentro de sua análise, por três motivos: primeiro porque o rock é um tipo de
música popular; segundo porque a produção do rock é determinada pela indústria fonográfica, apesar de,
em seu início e em determinados momentos de sua história, se recusar a se atrelar à produção capitalista
em detrimento da contracultura; e, terceiro, porque o rock tem ampla influência do próprio jazz e, sendo
assim, segue seus moldes de criação e se inserção no mercado – o que Adorno fala sobre o jazz serve
também para analisar o rock. No entanto, isso não quer dizer que essa monografia concorde com as
críticas de Adorno em relação ao jazz e ao rock.
“Constata-se uma regressão quanto à possibilidade de uma outra música, oposta a essa.
Regressivo é, contudo, também o papel que desempenha a atual música de massas na
psicologia das suas vítimas. Esses ouvintes não somente são desviados do que é mais
importante, mas confirmados na sua nescidade neurótica, independentemente de como
as suas capacidades musicais se comportam em relação à cultura especificamente
musical de etapas anteriores. (...) A música de massas e o novo tipo de audição
contribuem para tornar impossível o abandono da situação infantil geral” (ADORNO,
1980, p.180)
“A juventude acabou por construir algo semelhante à sociedade do outro (que tinha sido
excluída do imaginário da nossa sociedade) e, conseqüentemente, uma sociedade que
se aproxima muito da sociedade dentro dos produtos da comunicação de massa”
(ROCHA, 1995 apud SARMENTO, 2006)
É aí que entra a diferenciação que Friedlander (2006) fez entre o rock e o pop –
e é de extrema importância compreender que o objeto de estudo dessa monografia é
justamente o pop/rock e, mais ainda, a passagem do rock para o pop/rock.
“A música compreendida nesse livro [Rock and roll – Uma história social] é o ‘pop/rock’.
Isto reflete uma natureza dupla: raízes musicais e líricas derivadas da era clássica do
rock (rock) e seu status como mercadoria produzida sob pressão para se ajustar à
indústria do disco (pop)” (FRIEDLANDER, 2006, p.12)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRIEDLANDER, Paul. Rock and roll: uma história social. 4. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2006.
WALTER, Benjamin. Obras escolhidas (vol1). Magia e Técnica, Arte e Política. 7. ed.
São Paulo: Brasiliense, 1994.
JANOTTI Jr., Jeder. Gêneros musicais, performance, afeto e ritmo: uma proposta
de análise midiática da música popular massiva. Disponível em:
<www.contemporanea.poscom.ufba.br/pdfdez04/ensaiojeder.pdf>. Acesso em: 25 de
maio de 2007.
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Discutirei ao longo do trabalho esse hiato entre os estudos que defendem a segmentação da música e
dos produtos culturais e dos que acreditam na homogeneização (incluindo, aí, a Escola de Frankfurt)
SARMENTO, Luciana. Indústria Cultural, Cultura de Massa e Contracultura.
Disponível em: <http://reposcom.portcom.intercom.org.br/handle/1904/19492>. Acesso
em: 25 de maio de 2007.