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Epidemiologia,
Impacto e Tratamento
da Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica
(DPOC) no Brasil
José Roberto Jardim e Oliver A. Nascimento
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A DPOC é suspeitada na presença de sintomas respi- O diagnóstico definitivo da DPOC é realizado pela
ratórios crônicos como tosse, secreção pulmonar e falta constatação de obstrução brônquica pela espirometria.
de ar. Os primeiros sintomas são tosse e produção de A existência de obstrução do fluxo aéreo é definida pela
secreção pulmonar, que, geralmente, são negligenciados presença da relação entre volume expiratório forçado no
pelos pacientes, pois associam tais sintomas ao tabagismo. primeiro segundo (VEF1) pela capacidade vital forçada
A falta de ar, geralmente, começa aos grandes esforços, (CVF), VEF1/CVF, abaixo de 0,70, após a administra-
como subir ladeira ou escadas e andar depressa no plano, ção de broncodilatador. A Global Initiative for Chronic
posteriormente ela evolui para médios esforços, como Obstructive Lung Disease (GOLD), movimento mundial
tomar banho e andar no plano a passo normal, e, por fim, para a disseminação do conhecimento sobre a DPOC,
a falta de ar progride para os pequenos esforços, como criou um questionário de cinco perguntas sobre aspec-
atividades sociais e pequenas tarefas com os membros tos relacionados à DPOC e a resposta positiva em três
superiores. A falta de ar pode ser quantificada de diversas delas levanta a possibilidade do indivíduo ser portador
formas e a SBPT padronizou a avaliação pela escala do de DPOC, gerando a necessidade da realização de uma
Medical Research Council (5, 7, 8) (Quadro 1). espirometria (Quadro 2) (9, 13).
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Estadiamento
O estadiamento é semelhante ao do GOLD - 2003,
com algumas pequenas modificações, de acordo com o
Consenso de DPOC da SBPT - 2004 (30):
Tratamento da DPOC
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curta duração podem ser utilizados mais de três a quatro exacerbações. Em duas recentes metanálises sobre os
vezes ao dia, como forma de resgate. benefícios de uso de corticóide inalatório em DPOC
observou-se a ocorrência de diminuição no número de
Corticosteróides exacerbações, porém sem alteração na taxa de morta-
lidade e com maior índice de efeitos colaterais do que
O processo inflamatório da DPOC é dependente de com o placebo. Observou-se, também, que o corticóide
neutrófilos, linfócitos CD8 e macrófagos e, por isso, inalatório pode diminuir a taxa de declínio do VEF1 em
tem baixa resposta ao uso de corticóides. Apesar do 9,9 mL/ano quando comparado ao placebo, porém sem
conhecimento deste fato, uma grande parte dos doentes importância clínica. A indicação atual é que os corticói-
com DPOC ainda utiliza este medicamento. Na fase des inalatórios (800 a 1000mcg por dia) estão indicados
estável não deve ser prescrito corticosteróide sistêmico somente para um grupo selecionado de pacientes: os
(oral ou injetável), pois não traz benefícios clínicos com VEF1 menor que 50% do previsto (estádios III e
ou funcionais, além de desencadear eventos adversos IV) e com mais de duas exacerbações no último ano
clinicamente importantes como obesidade, diabetes, (Tabela 1).
hipertensão, catarata e osteoporose.
N-acetilcisteína (NAC)
Os estudos de longo prazo (entre três e quatro anos
de seguimento) sobre o uso de corticóides inalatórios A participação do estresse oxidativo na patogênese da
na DPOC são muito heterogêneos quanto às amostras DPOC é importante e se inicia antes do processo infla-
e desfechos estudados, o corticóide utilizado e a dose matório, devido à inalação de radicais livres presentes na
administrada. Aparentemente seu uso pode diminuir fumaça de cigarros, mas ele permanece e se intensifica
a deterioração da qualidade de vida e o número de durante o processo inflamatório. O uso da N-acetilcisteína
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em pacientes com DPOC, pelo seu efeito antioxidante é Tratamento não farmacológico
ainda controverso. Um estudo retrospectivo realizado com
pacientes com DPOC mostrou uma diminuição da taxa Cessação de tabagismo
de reinternação por exacerbação da DPOC. Uma revisão
sistemática recente mostrou diminuição das exacerbações É o único tratamento que, definitivamente, diminui a
e dias de internação em pacientes portadores de DPOC taxa de declínio da função pulmonar em portadores de
que utilizaram N-acetilcisteína. Todavia, nesta revisão DPOC, além de aumentar a sobrevida. Deve ser estimu-
havia trabalhos que não eram randomizados e controlados lada a todos pacientes, independente do estadiamento.
contra placebo, tornando os resultados também discutí-
veis e até o momento não há evidências suficientes na Vacinação
literatura que apóiem o uso de rotina da N-acetilcisteína
em pacientes portadores de DPOC. Um grande estudo Em todos os pacientes, desconsiderando a idade, deve-
duplo cego, randomizado e controlado por placebo, se utilizar, anualmente, a vacina antiinfluenza (gripe). A
com duração de três anos, demonstrou que a NAC não vacina antipneumocócica deve ser prescrita a cada cinco
foi capaz de reduzir o número de exacerbações e a taxa anos.
de declínio da função pulmonar no grupo geral. Porém,
no subgrupo de pacientes que não estavam utilizando Reabilitação pulmonar
corticóide inalatório, a NAC foi responsável por reduzir
o número de exacerbações e reduzir a hiperinsuflação Reabilitação pulmonar é um programa multiprofis-
pulmonar. Porém, sua utilização ainda não está totalmente sional de cuidados a pacientes com alteração respiratória
padronizada nos Consensos de DPOC. crônica que engloba: 1) otimização do tratamento farma-
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II - DPOC leve com VEF1 > 50% e fatores H. influenzae Os anteriores mais:
de risco* M. catarrhalis Moxifloxacino/levofloxacina
SPRP
José Roberto Jardim é professor livre docente da disciplina de pneumologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)/Escola
Paulista de Medicina (EPM), coordenador do programa de pós-graduação em reabilitação da UNIFESP/EPM e diretor do Centro de
Reabilitação Pulmonar (CRP) da UNIFESP/EPM - Lar Escola São Francisco (LESF).
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Respostas: 1 - c; 2 - c; 3 - b; 4 - d; 5 - b; 6 - b; 7 - a; 8 - d; 9 - c; 10 - d.
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