A nova ditadura egpcia Devo dizer que com a idade estou ficando um pouco pessimista e cansado de bancar a Cassandra,

vindo sempre falar das desgraas que vo acontecer, sabendo que isso em nada mudar o curso das coisas. Mas ao menos o retorno da ditadura no Egito pode servir de conto de advertncia para ns, aqui no Brasil, que ouvimos vez por outra gente saudosa da ditadura. O jeito mais dissimulado de iniciar uma ditadura tm sido o mesmo nos ltimos anos, tira-se o governo eleito para entregar o poder nas mos do chefe do judicirio, como se o judicirio fosse uma coisa neutra, pura, virginal, o no o mais corrupto dos poderes, uma casta de senhores com cargo vitalcio e poderes inquestionveis e livres do alcance da lei. o que as vivas dos anos de chumbo ainda propugnam pro Brasil hoje em dia e podemos ver no Egito, na prtica, como isso se sai. Uma vez dado um golpe militar, no existe essa fantasia de governo de unio nacional, bvio que vai haver resistncia do lado que ocupava o poder sendo legitimamente eleito. Por conseqncia vem o endurecimento do governo fantoche com a crescente militarizao e represso na sociedade. Depois de um golpe vem sempre uma ditadura, e quanto mais ela dura, mais ela se enraza e no quer largar o osso. Vide a nossa ltima ditadura aqui, que prometeram que iam ficar seis meses e ficaram 21 anos no poder, criando toda uma casta de corruptos beneficiados pelo silenciamento da imprensa, e s entregaram o poder de volta quando o Estado Nacional j estava inteiramente quebrado. No Egito ainda teve o papel nefasto do El Baradei, vedete nos pases ocidentais que, mesmo se declarando contra o golpe, no se furtou de assumir de vice-presidente e dar suporte ao governo ttere. Agora que o saldo de mortes j ultrapassa o meio milhar, ele finalmente renunciou, acusando o peso na conscincia. Mas, caramba, um pouco tarde demais para isso no? O pas descambando para a guerra civil e s agora ele percebe a tolice que fez? Antes tarde do que nunca, diz o ditado, mas, eita, que mmia! O que ainda engrossa mais o caldo por l o componente religioso. Por aqui esse perigo comeou a botar as asas de fora tambm. Outro dia fui em uma palestra de literatura na UFSC e o treco ia bem, at que l pela metade o cara descamba a falar de teologia e vai at o fim. Eu sinceramente acho abominvel que um livro que prega homofobia, submisso da mulher e apedrejamentos tenha qualquer aval na Academia.