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SHE DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nicleo de Defesa dos Direitos Humanos Officio n°: 1055/NUDEDH/2013 Rio de Janeiro, 30 de abril de 2013. Do: Defensor Ptblico Henrique Guelber de Mendonca (Mat: 969.578-4) Coordenador do Nicleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Publica do Estado do Rio de Janeiro. Ao: Exmo. Sr. Deputado Estadual Presidente da Comissao de Direitos Humanos ¢ Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Procedimento Adi rativo E-20/10845/2012 Exmo. Presidente, ‘Ao tempo em que o cumprimento, sirvo-me do presente para encaminhar breve relato sobre as atividades desempenhadas por este Niicleo Especializado na regiao do Porto do Acu. A Defensoria Pablica do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio do Nucieo de Defesa dos Direitos Humanos, vem, desde 0 principio de 2012, acompanhando 0 impacto social que os moradores do municipio de $40 Joao da Barra vém sofrendo, apés o local ser escolhido para construcao de Distrito Industrial e do Porto do Acu. O enfoque do trabalho até entdo desenvoivido recaiu sobre 0 processo de desapropriacdo e remocio que os proprietérios/posseiros da regido passaram a ser submetidos. Visitas in loco foram realizadas, com conversa com a populacao, a fim de apurar o grau de comprometimento com 0s Direitos Humanos por parte dos responsaveis pelo projeto. Humanos da Defensoria Publica do Rio de Janet 1. 15° Andare, Centro, Rio de Janeira/RJ el: 2332-634 fax: 2332-6345 email: cireitoshumanosadpge.t.gov:br Nacleo de Detesa dos Di ia MExieo, DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Naicleo de Defesa dos Direitos Hurmanos Na oportunidade da visita ao local foi possivel constatar que as desapropriagdes recaem sobre pessoas humildes, com baixo nivel de escolaridade, cuja atividade laboral ¢ o plantio e/ou a pecuéria. Tal grupo social, impossibilitado de retirar seu sustento de outro meio que nao a exploragao da terra, tende a se mostrar resistente A perda de suas propriedades. A partir da oitiva de quase cinquenta afetados, e de tantos outros em decorréncia de quatro visitas feitas na regido, péde-se conhecer a realidade predominante na regiao do V Distrito. A Defensoria Publica do Estado do Rio de Janeiro, portanto, vem colhendo informacdes acerca dos procedimentos expropriatérios que se desenvolvem na Regizio do Porto do Acu e vem realizando contato com a Codin e outros érgdos envolvidos na tematica na tentativa de prestar sua contribuicéo para que nao se perpetrem caras violacdes aos direitos dos cidadaos de Sao Jodo da Barra. Dentro do que est em nosso rol de atribuigdes e possibilidades, tombamos Procedimento voltado para a colheita de documentos e depoimentos, sendo certo que apés visita realizada na regido do Palacete, verificamos ser possivel um apanhado geral sobre a identificacao de queixas principais e de problemas estruturais ¢ relacionados a abordagem tomada a efeito por pessoas ligadas a LLX e a Codin na regio. Um extrato dos dlepoimentos encontra-se anexo. Na oportunidade, os depoimentos tomadas de algumas essoas na Asprim foram ¢ estao mantidos em sigilo, jamais sendo fornecidos a quaisquer orgaos, conforme prometido aos depoentes. Note-se que a grande maioria de processos de desapropriacdo consultados indicaram a presenga de advogados representando o interesse de ambas as partes, o que, individualmente, impede a atuagaio da Defensoria Publica. A época de nossa visita na sede da propria Asprim, advogados da regido assentaram suas atuagdes em nome de intimeras pessoas que ali se encontravam, o que é plenamente legitimo, mas que obsta a participagio da Defensoria Publica nestes casos, Nacleo de Defesa dos Direitos | umanos da Defensoria Publica do Rio de Janeiro Rua México. n° 11, 15° Andarr. Centeo, Rio de Faneio!RI tel: 2332-634difMag: 2332-6345 ‘emul: direitoshumanosaédnge.n. gov br ( } J DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO ‘Niicleo de Defesa dos Direitos Humanos JA 08 pleitos relacionados as abordagens e conducao da desapropriagao de toda a regiao pelos expropriantes, trata-se de problema macro que deve ser sopesado nao 86 com ages judiciais, mas também com ages que déem visibilidade e projegio a questio do Acu no ambito do dialogo administrativo, como tem ocorrido por vezes em ambientes tomados pela sociedade civil, como € 0 caso do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro e a Comissao de Direitos Humanos da Assembiéia Legislativa do Estadio do Rio de Janeiro. Expuseram os moradores/proprietarios que agentes da Codin/LLX invadem suas propriedades para efetuarem medicées, por vezes desferindo ameacas, bem como colocam placas e cercas contra suas vontades. Ademais, segundo relatado, nao sio fornecidas a contento explanacées para os proprietarios acerca da indenizacao consequente da desapropriacio e de sua apuragao, 0 que faz com que 0 procedimento em curso seja pautado por déficit de informagao aos direitos dos familiares ¢ proprietérios afetados. Desta forma, grande é a preocupacao com a forma de abordagem que vem sendo realizada para com os moradores e proprietarios da regio do Distrito Industrial do Porto do Acu, ¢ ainda para com a existéncia de programas que resguardem a seguranca alimentar e continuidade de producao agricola dos agricultores alvos da desapropriacdo. Tais preocupagdes desencadearam a realizacaio de uma série de atividades por parte deste Nucleo Especializado, com especial enfoque para reunides e requisicdio de informacées acerca do procedimento em curso Neste sentido, em reunidio realizada em 24.10.2012, entre a Defensoria Publica - Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos e Nuicleo de Terras e Habitagio - ¢ a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin), indagagoes foram realizadas pelos Defensores Publicos, requerendo explicagdes por Nigleo de Delesa dos Dtstos Humans da Defensoria Plica do Rio e Janeiro Run México. 11, 15° Andary, Ceito. Rio de tel: 2332-634difan: 2332. email: direitoshumenos@dpecs.gov:be @Y DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO ‘Niicleo de Defesa dos Direitos Humanos escrito acerca do desenvolvimento do processo de desapropriacdo e requerendo, ainda, a remessa de documentos. Dentre os questionamentos e requerimentos realizados podemos destacar os seguintes: Indicagéo da metodologia utilizada no momento de abordagem das familias elegiveis ao processo de desapropriacao; Esclarecimento acerca da existéncia de programas que visem garantit a seguranca alimentar e a continuidade da producao agricola dos produtores rurais; Indicagio do ntimero de pessoas/ familias que ja assentiram com o valor de indenizagao proposto pelas desapropriagdes e que j& se mudaram; niimero desta mesma classe de pessoas que ainda nao se mudaram; niimero de pessoas que nao aceitaram o valor proposto a titulo de indenizagao; nimero de pessoas as quais nenhuma proposta relacionada a desapropriagao fora feita; Indicaao do namero de residéncias em rota de desapropriagio; Indicacéo do mimero de residéncias construidas no Palacete, regiao designada para receber os familiares ¢ individuos que tenham sido alvo do processo de remogio; Indicacao de perspectiva de instalacdo de irrigacdo na regiao do Palacete; Esclarecimento a respeito do titulo de propriedade a ser entregue aos atuais e futuros moradores do Palacete; Remessa de termos de adesdo a reassentamento voluntério voltados para a regiao do Palacete; icleo de Detesa dos Direitos Humanos da DetensoriaPiblica do Rio de Janeieo Rua México. n° II, 15° Andarr, Cento. Rio de Janeiro/RJ lets 2332.634Wifax: 2332-6345 email: diritoshumanas@idpee.s gov. br DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO ‘Nacleo de Defesa dos Direitos Humanos 9. Remessa dos relatorios sociais realizados relacionados as pessoas do V Distrito de Sao Joao da Barra. Acerca dos questionamentos, informou a Codin: 1. A abordagem das familias € realizada por uma equipe social multidisciplinar, composta por assistentes sociais, psicslogos, socidlogos, dentre outros. De acordo com 0 relatado, tal equipe percorre o territério objeto de desapropriacao identificando as familias residentes e os agricultores impactados pelo projeto, a fim de esclarecer as acées que virdo a ser realizadas; elabora questionarios sociceconémicos, coletando os dados das familias e suas atividades produtivas; negocia a autotizacao do proprietario para entrada de equipe especializada em sua propriedade para realizar avaliag&o patrimonial. A Codin informou, ainda, que a atuacéo desta equipe é apoiada por dois postos de atendimento, um situado no centro de Sao Joao da Barra, e outro em Agua Preta, que prestam esclarecimento as famflias ¢ realizam cadastro delas no programa do auxilio producao; 2, Foram apontados, em relacdo a seguranca alimentar e a continuidade de producao agricola a existéncia dos seguintes programas: 1) Programa Auxilio Produgao, que consiste no pagamento de um valor que varia entre 1 ¢ 5 salérios minimos, pelo periodo de 24 meses, a partir da data de imissao na posse, sendo que 0s 12 dltimos meses so pagos base de 75% do valor. De acordo com o relatado, até 14.12.2012 (data da resposta da Codin encaminhada a Defensoria Publica), 176 beneficiarios aderiram ao programa; 13 estiio em fase de negociacdo; 3 recusaram e 39 \itleo de Defesa ds Direitos Huanos ds Defersora Publicado Rio de faneiro Rua México. n° 11, 13° Andarr, Centro, Rio de JanivoT tel: 2332634: 2512-6145 ‘mail: dieitoshumanos@dpge.13.20v.br DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos. ainda nao se manifestaram, embora as terras em que moravam jé tenham ido imitidas na posse em favor da Codin. Ressalta-se que de acordo com uma anilise sistémica da resposta encaminhada pela Codin, esta indica que foram identificadas, até 22.11.2012, 316 propriedades na area que sera construido o Distrito Industrial, tendo, dentre este universo, 260 sido identificadas como em rota de imi do na posse. Vale indicar que 0 conceito de residéncia niio se confunde, nos termos do relatorio da Codin, com 0 de propriedade. No entanto, nao é possivel distinguir se os nimeros apontados em relagio a aceitacao do programa Auxilio Producao abarcam ou nao beneficidrios residentes, e, em caso positive, no podemos identificar quantos destes recebem 0 auxilio. Apenas é possivel afirmar que, de acordo com 0 Ievantamento dos dados das familias reassentadas na primeira fase, que so 16, todas recebem o beneficio, sendo este, em regra, no valor de um salario minimo, com excecao de uma familia, que recebe no valor de dois salatios, Nao foram, entretanto, encaminhados os dados das familias que foram reassentadas na segunda fase. 2) Plano de Desenvolvimento Agricola, que consiste na doagdo de sementes, escolhidas pelas familias, e pocos para irrigaco. Nao foi apontada pela Codin a relacdo de quantos proprietarios/residentes que estao sendo beneficiados pelo plano. 3) Apoio Tecnolégico, que se caracteriza por ser um plantao permanente de engenheiros ¢ agrénomos na regido do Palacete. Nao é possivel indicar, a partir dos laudos sociais e levantamentos realizados pela Codin, quantos proprietérios/moradores 0 apoio técnico esta beneficiando ou ja beneficiou Niileo de Deesa dos Dirites Huimanos da Defensoria Pablica do Ri de Janeiro Run México, 9° 1, 15° Andacr, Cento. Rio de fancio'R) tel: 7332.634/Tax: 2332-6343 email: dreitashumanos@dlpge 1. gew br DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nicleo de Defesa dos Direitos Humanos Acerca dos dados referentes ao valor da indenizagao: familias aderiram ao reassentamento, ja residem na regido do 3 Palacete ¢ aceitaram 0 valor da indenizagao proposto pela Codin; cerca de 200 propriedades foram adquiridas pelo valor do laudo pelos empreendedores. 2) 08 familias elegiveis aceitaram o valor da indenizacao e ainda nao se mudaram. 3) Nao foi apontado 0 némero de pessoas que deliberadamente nao aceitaram 0 valor da indenizacao proposto. De acordo com 0 relatado a Codin nao possui capacidade de auferir tal quantitativo, alegando que aqueles que nao aceitam o valor se manifestam por via judicial. 4) 66 propriedades ainda nao receberam proposta relacionada a desapropriagio, pelo fato de a Codin, até 0 momento, nao ter conseguido estabelecer contato com as mesmnas. Acerca do desenvolvimento do processo de desapropriagdo indicaram 260 propriedades em rota de imissdo na posse; 116 propriedades adquiridas pelos empreendedores; e 40 familias como residentes. O numero de residéncias construidas até o momento é 38. Dentre este universo: 33 foram ocupadas; 02 esto disponiveis ¢ 03 funcionam como casa modelo. Na hipotese de as 80 familias consideradas elegiveis aderirem ao reassentamento, a Codin informou que haveré a necessidade de mais 42 moradias serem construidas. clo de Detesa dos Diritos Humanos da Defensor Piblica do Rio de facia Rue Médico 1, 15° Andere. Cento. Rio de nce) tel: 2332-6344ifax: 2332-6345 cemil:direitoshumanosdpge..gow-br 6. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Niicleo de Defesa dos Direitos Humanos Acerca da perspectiva de instalacéo de irrigacéo na regio do Palacete foi indicado que no dia 11.10.2012 foi concedida autorizagao para perfuragaio de 35 pocos tubulares de 10m de profundidade cada, para extragio de agua subterranea em litologia sedimentar com a finalidade de uso agricola. © cronograma de perfuracéo dos pogos aponta o dia 19.11.2012 como data inicial dos trabalhos. A autorizacao ambiental apontada foi a INO 21.064. Sobre o titulo de propriedade foi indicado que no més de outubro de 2012 a empresa LLX Acu Operagées Portuérias S.A. recebeu autorizacao judicial para lavrar escritura de compra e venda da propriedade conhecida como Fazenda Palacete, ja tendo iniciado os tramites legais para regularizacao da titularidade. Apés a conclusao desta primeira etapa a empresa em questéo deveré apresentar ao INCRA solicitacao de parcelamento de solo rural, indicando exatamente as divisdes de lotes, vias e areas comuns. A ultima etapa do procedimento consistira na entrega dos titulos de propriedade para as familias reassentadas Uma copia do termo de adesdo a reassentamento voluntario foi encaminhada para este Nticleo Especializado, Foi encaminhado relatério elaborado com as 16 familias reassentadas na primeira fase, O relatorio é dividido em duas partes, mencionando o status inicial pré reassentamento, e 0 status pos reassentamento. Na primeira parte indicam: o nome do chefe da familia; o mimero de membros; a ocupacao de cada membro; a renda de cada membro; a possivel inscricéo em algum programa de auxilio social do governo federal; a producéo agropecudria desenvolvida; 0 tamanho do terreno e a tipologia de residéncia. Na segunda fase apontam: 0 terreno recebido; a tipologia de residéncia recebida; 0 projeto agricola desenvolvido; 0 status do auxilio produgio, com mengao ao valor recebido; 0 status de aquisicao da posse. \Nacleo de Detesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pablica do Rio de Janeino Rua México, n° 11, 15° Andart. Centre, Rio de Janeiro/RJ tel: 2332-6344/fan: 2332-6343 email: direteshumanosa@dpee.t.g0w br DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Nacleo de Defesa dos Direitos Humanos Ressalta-se que apenas foram encaminhadas as informacdes das familias reassentadas na primeira fase, inexistindo qualquer informacdo referente as 17 familias alvos da segunda fase de reassentamento. Em conclusao, cabe apontar que este Nuicleo Especializado da Defensoria Publica vem tomando as providencias cabiveis dentro do rol de suas atribuig6es, tendo encaminhado as informacGes ora expostas para outros nticleos da Defensoria Pablica que também poderiam vir a ter interesse no caso, como o Nucleo de Defesa do Consumidor - instalacéo de equipamentos por conta de empresa de energia - e o Nucleo de Terras e Habitacao, e ainda realizando contato com a Comissao de Direitos Humanos da ALER). Buscando informagées junto com a Camara Municipal de Sao Joao da Barra tomamos conhecimento do projeto de Lei Municipal de iniciativa parlamentar que tinha como objetivo tombar a regio do distrito industrial do Porto do Acu, com fundamento em interesse social e ecoldgico. O projeto de lei foi vetado pelo Poder Executivo, sequencialmente o referido veto foi derrubado pelo Plenario da Camara Municipal de Séo Joao da Barra, resultando no projeto de Lei n°, 16/2010. No entanto, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro impetrou mandado de seguranca alegando a incompatibilidade da referida lei com os interesses do Estado do Rio de Janeiro. Os pedidos formulados pelo mandado de seguranca foram acatados, tendo os efeitos da lei sido sustados em funcgéo de suposta ingeréncia indevida do legislative em atividades proprias do poder executive. Para além da analise do presente material, foi encaminhado oficio para a 145" Delegacia de Policia, situada no municipio de S40 Joao da Barra, indagando a existéncia de eventuais registros de ocorréncia efetuados por vitimas de violéncia decorrentes das abordagens realizadas no processo de desapropriacdo. Ressalta-se que até. 0 momento nao houve resposta por parte da Delegacia de Policia. Desta forma, seguem as apuragies trabalhos por parte da Defensoria Puiblica no sentido de garantir a protecdo dos direitos ‘isle de Defesa ds Dirsitos Humanos da DefensoraPablica do Rio de unico Rua México, n 1. 15° Andry, Centro, Rio de fancy) tel: 2332-6344/fax: 2332-6345, ‘email: direitoshumanos@dpger.gov.be DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO ‘Niicieo de Defesa dos Direitos Humanos humanos das familias e proprietdrios alvos do processo de desapropriacdo desencadeado na regio do distrito industrial do Porto do Acu. Por oportuno, informa-se que em anexo esto dispostos os seguintes documentos: relatorios do NUDEDH elaborados em virtude da visita realizada na regio do Distrito Industrial do Porto do Acu em 26/01/2012; extrato do depoimento tomado dos moradores da regio do V Distrito; oficios encaminhados para a Codin; resposta encaminhada pela Codin; oficio encaminhado para a 145° Delegacia de Policia. Ao ensejo, apresento protestos de cleyada estima ¢ consideracao. 7 HENRIQUE G! Defensor Pablico: Matricula n° 969.5781 EDUARDO JANUARIO NEWTON Defensor Piblico do Estado do Rio de Janeiro Matricula n° 969.600-6 JULIANA MOREIRA MENDONCA. Defensora Publica do Estado do Rio de Janeiro Matricula n? 949.558-1 Nacleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Publica do Rio de Janeiro Run México. n° 11, 15° Andarr. Centro, Rio de Janciro/Ri tel: 2332-6344/fan: 2332-6315 email: dieitoshumanos@dpee.r.gov.br ANEXOS: ANEXO 01: RELATORIO NUDEDH DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos. O presente relatério apresenta consideragées feitas quando da primeira visita do Nudedh a regio do Porto do Acu, em fevereiro de 2012. Prestou-se ao direcionamento das agées do Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Publica do Estado do Rio de Janeiro, tombado no procedimento £.20/10845/2012 Parte dos encaminhamentos internos foi levada a efeito e outra ainda est4 em desenvolvimento. Suas ponderagées precedem, portanto, outras agées jé realizadas pelo Nudedh, como reuniées com a Codin, com o Niicleo de Terras da DPGE, duas novas visitas 4 Regido do Porto do Acgu e contatos com 6rgaos e pessoas envolvidas na tematica. A inteng&o da divulgacgéo é a verificagao de avancos, estagna¢ées e retrocessos eventuais. RELATORIO DE VISITA A REGIAO DO PORTO DO ACU O Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Publica do Estado do Rio de Janeiro, no exercicio de sua miss&o institucional, vem, respeitosamente, apresentar suas consideragdes acerca da visita in loco realizada pelos Defensores Publicos Henrique Guelber e Samantha de Oliveira na regido distrital de Sdo Jodo da Barra, cujo objetivo foi o de conversar com a populacio economicamente hipossuficiente da regiéo para avaliar o grau de comprometimento dos Direitos Humanos na drea em raz&o do que se extrai de noticias de remogées e desapropriagées recebidas a distancia. De antemdo, vale dizer que os nomes utilizados no presente relatério so figurativos por razées de conveniéncia, sendo o paradeiro DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos dos entrevistados de posse e ciéncia do Nudedh, declarando os signatéarios, desde j4, a veracidade das informag®es faticas prestadas. A técnica utilizada para a confecgéo e apontamento de conclusdes pautou-se no estudo de casos individuais, seguindo-se método indutivo, realgando-se que a generalizagdo das afirmacgdes tem como objeto precipuo a aproximac&o mais intensa da Defensoria para desvendar os pormenores dos problemas daqueles moradores. Nenhum processo fora examinado, sendo certo que os entrevistados, segundo afirmaram, nado tinham seus conflitos judicializados. (I) LINHAS GERAIS DO RELATORIO DE VISITA —m razéo de convite para debater com a comunidade local o licenciamento ambiental e as desapropriacgées destinadas a instalagéo do terminal portudrio e do distrito Industrial do Acu, a Defensoria Publica, por intermédio do Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos - NUDEDH - esteve presente na sede da Associacdo dos Produtores Rurais e Imdveis do Municipio de Sd Jo%o da Barra, no dia 26/01/2012, O NUDEDH foi representado pelos Defensores Henrique Guelber de Mendonca e Samantha M. de Oliveira. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Antes do inicio do evento, os Defensores conheceram o 5° Distrito de Sdo Jodo da Barra, em drea préxima ao Terminal Portuario e que, de acordo com a imprensa, vem sendo acossada para a desocupaco. A visita foi concentrada nas localidades de Agua Preta e Cajueiro, distantes poucos quilémetros do denominado “Superporto do Agu”. Tais localidades s&o acessadas pela RJ 240 (estrada que liga a BR356 ao Porto do Acu), que possui 20km de extensdo. Na localidade de Agua Preta, na denominada Estrada do Saco Dantas, os Defensores do NUDEDH conversaram com alguns moradores sobre as desapropriagées que vém ocorrendo na area do 5° Distrito e suas impressdes sobre a possibilidade de reassentamento na Fazenda Palacete, onde esta sendo construida a Vila da Terra (abaixo fotos da obra da Fazenda Palacete)'. <9 No local conheceram a Sra. Cecilia, 41 anos, 12 filhos, 6 filhos residentes no local, perfazendo 7 residéncias. " Google Earth, acessado em 27/01/2012. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Durante a conversa os Defensores verificaram que a localidade é extremamente simples e seus habitantes vivem, de certo modo, isolados do restante do Municipio. A Sra. Cecilia sequer sabia sobre a existéncia da Defensoria Publica e sua missdo de resguardar e defender os direitos das pessoas hipossuficientes ou em situag&o de vulnerabilidade. Sobre a questdo das desapropriagées, a Sra. Cecilia declarou que ja recebeu uma ligacdo da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (CODIN), porém, ninguém a visitou. Soube da existéncia das desapropriacdes, mas n&o tem opiniao formada. Também declarou que conhece algumas pessoas que aceitaram a indenizacdo e esto satisfeitos com a ida para 0 novo assentamento, em Palacete. Mas afirmou também conhecer outras pessoas que falaram mal das desapropriagées, que elas nao seriam feitas em beneficio da comunidade. A Sra. Cecilia, na crua simplicidade daquela gente, deixou claro que visitou pessoas removidas de suas antigas casas, sendo certo que @ apreensdo no reencontro foi notéria. Segundo a Sra. Cecilia, as pessoas n&o podem dizer se receberam ou nao algum valor por medo de serem furtadas. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos A Sra. Cecilia, cuja residéncia é de facilimo acesso, jamais teve contato com qualquer representante da Defensoria ou do Ministério Publico, sendo a Codin a unica referéncia que possui. Apés as despedidas, a comitiva iniciou o retorno para a R) 240 no sentido da sede da ASPRIM. No caminho chamou a atengao uma residéncia que parecia estar habitada. Nela reside a Sra. Maria, que nos atendeu no mesmo momento que chegava seu sobrinho, que viera buscd-la para assistir 4 audiéncia Ptiblica, raz&o da visita da Defensoria Publica. O sobrinho comentou que vive com os pais na Estrada do Saco Dantas. Todos so agricultores e ocupam a drea ha varias geracées, onde cultivam 350.000 (trezentos e cinqdenta mil) pés de abacaxi, além de quiabo e maxixe. Literalmente, vivem da terra. Como disse o sobrinho, “n&o tenho dinheiro no bolso, mas a geladeira esta sempre cheia”. Todos reclamaram da postura da Codin, que chega ao local medindo 0 terreno e as casas, sem ao menos conversar previamente com os moradores. A queixa fora prestada por todos aqueles com quem © Nudedh conversou. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nicleo de Defesa dos Direitos Humanos Os agricultores mencionaram a crenca de que a placa da Codin significa que néo haveré pagamento. Se a placa é da LLX, sabem que havera pagamento rapido (ver abaixo as fotos). E de se ponderar que pertence & compreensdo dos moradores da Regiao 0 fato de que a LLX paga e a Codin, ao menos supostamente, n&o, talvez pelo fato desta ultima acenar para um processo de desapropriagéo, muito mais longo e sofrivel. Juridicamente, entende o Nudedh que tal apreensdo manifestada no dia deve-se a distingéo entre negdcios juridicos privados, com pagamentos imediatos, e agdes de desapropriagdo, onde se desenvolve mais vagarosamente o procedimento para o recebimento de valores. A desapropriagao implica na perda de suas terras logo no inicio do processo, sem que muitas vezes possam levantar a quantia depositada em razdo de problemas no registro do imével como, por exemplo, escritura de compra nao levada a registro, divergéncia de metragem nas escrituras, etc, situagao frustrante para quem se vé despejado de seu imével e sem recursos para adquirir outro, 0 que explica a sensagéo de impoténcia, desamparo e desconfianga ante a presenga de qualquer integrante do Estado. Em mais de uma oportunidade, os Defensores signatdrios tiveram de se identificar e esclarecer que estavam no local para conhecé-los e ouvir suas demandas, impressdes e expectativas com a construgdo do terminal portudrio e do distrito industrial do Agu. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos O estilo de negociacao, portanto, é preocupante, uma vez que ficou caracterizada uma primeira abordagem pela “placa que paga”, em middos, pela LLX, celebrando, destarte, negécio juridico de direito privado. Mas quando os agricultores no aceitam a oferta da LLX, pouco depois a Codin desapropria, Esta a visdo das pessoas entrevistadas. Nesse ponto, uma familia argumentou que n&o basta a Codin oferecer o valor da terra, porque nao Ihes é garantida a seguranga alimentar. Isso porque o valor do hectare pago é suficiente apenas, quando muito, para comprar outra terra, que ainda depende de investimento em semente/grdos, além da espera necessaria pela colheita, Sem esse acréscimo, a saber, uma indenizacdo referente ao tempo necessdrio para iniciar a nova produgdo, sem que haja perda da situagdo econémica atual, o valor pago pela terra é consumido em Pouco tempo com a despesa alimentar da familia, que no possui know how para outra atividade que n&o a agropecuaria. — sempre importante lembrar que a agricultura familiar é de grande importancia, responsdvel por 80% (oitenta por cento) do total de alimentos produzidos no Estado do Rio de Janeiro”, embora apenas ” RIO DE JANEIRO. Projeto Desenvolvimento Rural Sustentavel em Microbacias Hidrogréficas do Estado do Rio de Janeiro. Manual_-~—Operacional, 2005. ——‘Disponivel-— em: (htps://secure.softcomex.com.br/seaapi’servlet/DownloedSpaSEAAPI?p_idpasta~1113]. Acesso em: 03 set 2010. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos. 20% (vinte por cento) da populacao do Estado estejam radicadas no campo. Como a maioria das propriedades rurais € ocupada pela agricultura familiar, em area inferior a 50 hectares, o empobrecimento dessas familias exige maior repasse de recursos dos Governos Federal e Estadual, pois acabam dependentes de programas de assisténcia tais como Bolsa Familia e a aposentadoria rural. Sendo tdéo dependente da agricultura familiar, é curial que a supressio de mais de 100 hectares de terras agricultaveis, em se considerando as perdas em raz&o dos eventos climaticos de 2010/2011 certamente causaré impacto no abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, causando uma alta nos precos, em razdo da necessidade de se importar frutas e legumes de outros Estados da federacdo. Por outro lado, conforme jd argumentado, a inexisténcia de uma indenizagio complementar, além do prego pago pela terra, certamente causaré um empobrecimento dessas familias, que se tornardo dependentes de programas assistenciais, onerando o orgamento do municipio e aumentando a estatistica de desempregados. Deve-se acrescer ainda que 0 mero indicativo, no plano abstrato, extraido de um processo de desapropriacdo hipoteticamente examinado, ndo revela a real situagdo dos pretensos desapropriados. Como bem recanta o povo entrevistado, “nem tudo é questo de dinheiro”. A avaliagéo crua de mercado feita sobre o valor da terra despreza o vinculo moral, afetivo e de identidade do povo com o local DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos onde passou toda a vida. Tal fato, inequivocamente, ndo vem sendo levado em conta nas desapropriagées levadas a efeito. Em outro giro, de acordo com as familias entrevistadas, nem todos os proprietarios/posseiros possuem essa identidade com a terra. A titulo de exemplo, foi dito pela familia X que o vizinho, de nome Y, vendeu suas terras para a LLX. No entanto, Y ndo morava no local nem dependia da agricultura para sua subsisténcia, uma vez que n&o plantava no lote. Dai a facilidade com que negociou suas terras. Dessa assertiva, a criagéo de um bidtipo e um perfil bem definido a respeito das desapropriagdes e dos conflitos de terra. Quem néo depende do solo para o cultivo é provido de muito maior facilidade de se desprender da terra e de se mudar para outro local. E o que comumente vem acontecendo na regiéo do Porto do Acu, sendo consideravelmente possivel que a propaganda oppositiva do empreendimento se some conveniéncia daqueles que nio dependem da terra para sobreviver. Ao final da entrevista, conhecemos Z, primo da familia J, que trabalha em outro terreno, que sustenta ter sido doado por um senhor de nome H. Nela planta maxixe, tirando 250 caixas por més, que sao vendidas a R$0,20/0,25 cada. As declaragdes de Z nao diferem das feitas pelo agricultor Y, j4 durante a audiéncia publica realizada na (ASPRIM), notadamente quanto a falta de respeito aos direitos de propriedade/possessérios, a DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos truculéncia dos prepostos da LLX e da Codin, com a reducdo da producao local e o risco de inseguranga alimentar dos agricultores. De todo o exposto, tem-se que a desapropriacado das terras dos agricultores do 5° distrito com a perda da drea de plantio, sem uma contrapartida adicional robusta além da indenizac&o pela terra, caracteriza violac&o seguranga alimentar dessas familias, porque Ihes tolhe a possibilidade de subsisténcia, forcando seus integrantes a migrar para outras ocupagdes e, na sua impossibilidade, até mesmo Para as ruas ou programas assistenciais. A seguranga alimentar consiste na garantia do acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em praticas alimentares saudaveis e respeitando as caracteristicas culturais de cada povo. A sua origem remonta ao final da 1? Grande Guerra, em que restou evidenciada a possibilidade de dominacdo de um pais sobre o outro, através do controle do fluxo de alimentos, notadamente se um dos paises no tivesse, por questées de solo ou clima, autossuficiéncia, caso em que, a partir de entdéo, o tema da seguranga alimentar passou a ser tratado como um caso de seguranca nacional, com a criacéo de estoques estratégicos de alimentos. Com efeito, tratava-se de questo tao sensivel e estratégica que foi muito utilizada como fundamento para o crescimento da industria de Insumos quimicos (agrotdéxicos). 10 DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Hoje, para além do conceito de autossuficiéncia alimentar, a semelhanga do que ocorre com o conceito de desenvolvimento sustentavel, a seguranga alimentar deve ter por norte ou principio de que as politicas devem satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geracées futuras, devendo ser implantadas em bases sustentaveis. A partir de ent&o, é de se perceber que, além da oferta, a possibilidade de acesso aos alimentos é 0 verdadeiro cerne da politica alimentar. Tratando-se de responsabilidade do Estado adotar as acées necessdrias para promover e garantir a seguranca alimentar foi editada a Lei Organica de Seguranca Alimentar e Nutricional (LOSAN), Lei 11.346 de 15/09/06, que criou o Sistema Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional (SISAN) e instituiu a Politica Nacional de Seguranga Alimentar e Nutricional (PNSAN). Tal lei consagrou no seu art.1° 0 direito a alimentac&o adequada como direito fundamental inerente a dignidade da pessoa humana e indispensdvel a realizac&o dos direitos consagrados na Constituico Federal. No seu art.9°, conceituou a seguranga alimentar e nutricional como 0 direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer 0 acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base praticas alimentares DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Promotoras de saude, que respeitem a diversidade cultural e que sejam: ambiental, cultural, econdmica e socialmente sustentdveis. Dentro desse propésito, seu decreto reguiamentador (N° 7.272, de 25/08/2010) estabelece como diretriz, entre outras, a promocdo, universalizagéo e coordenag&o das agdes de seguranca alimentar e nutricional, estabelecendo como objetivo o fortalecimento da agricultura familiar, bem como acesso a alimentacg&o adequada, materializado no Plano Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional. Assim, as politicas ptblicas devem garantir 0 acesso a alimentacdo de qualidade para todos, e, em especial, para a parcela em situagdo de vulnerabilidade como sdo os agricultores familiares, sempre em articulagao com a sociedade civil. Ocorre que a desapropriacao levada a efeito pela Codin, ainda que acompanhada de indenizacao, cria obstéculos ao acesso a terra, em violacdo as diretrizes do PNDH3, que ratificou a necessidade de politicas de combate a pobreza rural, fruto dos compromissos internacionais firmados na Ultima década, o que vem sendo negligenciado pelo municipio de Sdo Jo3o da Barra e pelo Estado do Rio de Janeiro (verbis): © PNDH-3 assimila os grandes avancos conquistados ao longo destes ltimos anos, tanto nas politicas de erradicagéo da miséria e da fome, quanto na preocupacéo com a moradia e satide, e aponte para a continuidade e ampliagS0 do acesso a tais politicas, fundamentais para garantir 0 respeito & dignidade humana. 12 DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Os objetivos estratégicos direcionados 4 promogio da cidadania plena preconizam a universalidade, indivisibilidade e interdependéncia dos Direitos Humans, condigées para sua efetivacao integral e igualitéria, © acesso aos direitos de registro civil, alimentacéo adequada, terra e moradia, trabalho decente, educagéo, participagao politica, cultura, Jazer, esporte e satide, deve considerar a pessoa humana em suas mijtiplas dimensées de ator social e sujeito da cidadania. A luz da histéria dos movimentos sociais e programas de governo, 0 PNDH-3 se orienta pela transversalidade, para que a implementagdo dos direitos civis e politicos transitem pelas diversas dimensées dos direitos econémicos, sociais, culturais e ambientais. Caso contrério, grupos sociais afetados pela pobreza, pelo racismo estrutural e pela discriminacéo dificilmente terdo acesso a tais direitos. J) Integrar politicas de geracéo de emprego e renda e politicas sociais para 0 combate 4 pobreza rural dos agricultores familiares, assentados da reforma agraria, quilombolas, indigenas, familias de pescadores e comunidades tradicionais. Violada a seguranga alimentar dos agricultores do 5° distrito de So Jodo da Barra, exsurge o direito 4 manuteng&o de seu meio de subsisténcia, no local de sua residéncia, ao menos até que Municipio/Estado oferegam as condicgdes necessdrias para a sua adequada substituicéo, ou seja, além da _ indenizac&o pela desapropriacdo das terras, uma indenizagéo complementar pela perda de, pelo menos, criterioso nimero de safras futuras, além de tempo necessdrio para iniciar e colher uma nova producao, em outro local, sem que haja perda da situacdo econémica atual. 0 equilibrio da vida dos humildes moradores da area visitada esta submerso em uma crise profunda, bem como envolvido numa 13 DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Paginagdo clara de sensag&o de impoténcia em relac&o ao poderio econdmico do Estado e da empresa interessada no sucesso das desapropriacées. A avaliag3o formal do valor de hectares, definitivamente, n&o representa 0 “preco justo” prometido pela Constituicdo Federal. (TI) DA PRESENCA INTIMIDADORA DE “AGENTES DO ESTADO/LLX” & grande e preocupante a confusdo entre a figura do Estado -— Poder Publico regente da vida das pessoas - e da Empresa LLX, pessoa juridica de direito privado empreendedora de boa parte das obras. Em boa dose de verdade, por vezes as figuras parecem como uma so naquela regido. Assim pode ser visto com algumas fotografias retiradas que somente exaltam préxima relagdo da Empresa com 0 Estado. (*)Placa espalhada pela Regido com indicativos de rota. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos (*) Segundo a populacéo do local, esta “placa paga a indenizacao". 2SIN0 own 10a ks an = oom (*) J4 esta “placa n&o paga a indenizac&o", na compreensao dos moradores. Vale ainda mencionar a pressdo psicolégica sofrida pela populagao mais humilde que vé o local, onde construiram toda sua vida, rodeado por placas sinalizadoras de sua iminente retirada. Algo que, obviamente, poderia ser evitado. A presenca da placa do Estado do Rio de Janeiro dando a indicagéo de que ali sero as Futuras Instalagdes de Siderurgica bem ao lado da casa de moradores, notadamente, revela um lado insensivel e desproporcional das remogées. DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos (*) Mais uma placa da empresa LLX padronizada como a placa estatal com informacoes de rota. S80 intimeros os casos relatados de agentes da Codin/LLX entrarem em residéncias para efetuarem a metragem de terrenos, néo havendo a apresentacgdo de qualquer documentacao, sem dar qualquer explicagdo. Um dos grandes pontos de preocupacdo esta consubstanciado no fato de que a populacéo de baixa renda daquela regido ndo estd juridicamente amparada. As acées do Ministério Publico de que se tem noticia, por exemplo, sdo agdes vocacionadas para uma tutela coletiva, preocupada, majoritariamente, ou com questdes ambientais, ou com questdes nao afinadas com a sensibilidade de casos individuais, especificos. E necessdrio, por outro lado, que a Defensoria Publica faca a intermediacéo efetiva entre parcela da populacéo carente e o Estado/LLx. A preocupacéio dos Defensores Relatores foi aumentada exponencialmente pela certeza de que a realidade formal dos processos DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos de desapropriacéo nao revela a pretendida tranqiilidade e satisfacdo social buscadas. Nem é necessério dizer, mas o olhar individual em demandas coletivas e de grande vulto é obrigacdo natural da Defensoria Publica. Ja se foi o tempo em que teorias organicistas e utilitaristas reinavam na compreensao e aceitacéo da preponderdncia do interesse publico sobre Os privados. Em linhas de conclusdo, a presenga da Defensoria Publica do Estado do Rio de Janeiro na audiéncia publica encabegada pela Asprim foi extremamente relevante para a constatacdo do risco de um cenério potencial e indesejadamente bélico em relacao a futuras desocupagdes forgadas. A propésito, por ocasiéo da Audiéncia Publica, a Defensoria Publica, que foi muito bem recebida, foi o nico representante do Poder PUblico presente. O ato contou, também, com a participacaio de professores da Universidade Federal Fluminense, que expuseram suas preocupacées a respeito de questdes ambientais e sociais. A tutela do ser humano, sob a dtica dos Direitos Humanos, n&éo pode ser reduzida a numeros e estatisticas, mormente se a compreenséo real dos fatos indica descontentamentos que podem ser considerados filhos da desassisténcia estatal, juridica e social. Ao que tudo se depreendeu pela breve visita, hd sim uma situagéo aguda de vulnerabilidade na populacéo que merece ainda DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos maior atengdo dos agentes preocupados com a transformacdo social do povo por intermédio do Estado de Direito. (IV) OUTRAS FOTOS DA VISITA DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nticleo de Defesa dos Direitos Humanos CONCLUSAO Neste primeiro momento, ressoa nitida a necessidade de se incrementar uma politica de informaggo e de educacdo em direitos, tanto por parte do Estado como daqueles integrantes do Sistema de Justica. Nada justifica que duvidas sobre procedimentos, direitos, futuras moradias ou algo do género, fiquem & deriva. E imprescindivel a presenga de agentes sociais e que estudos de viabilidade social sejam feitos de forma a minimamente se preservar 0 padrdo de vida das pessoas mais simples que sofrem os efeitos da medida. De outro turno, vale a preocupagéo de uma verificagao intransigente acerca do respeito ao devido processo legal em todos os casos de desapropriagéo que se anunciam. Da mesma forma, é fundamental sensibilizar 0 Estado e a iniciativa privada sobre as especificidades encontradas no local. 19 DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nuicleo de Defesa dos Direitos Humanos A imagem de que o capital esta acima de tudo se deve, em boa medida, a incapacidade verificada de se dialogar abertamente com a populagéo do Porto do Acu diretamente afetada pelas desapropriaces. Os djreitos dos cidadéos daquela area merecem ser preservados ¢ atrait a atencdo das instituicdes que foram edificadas e ber d& Mendonca ‘Samantha M. de Oliveira Ubi Defensora Publica Mat. 9695784. Mat. 930.844-6 20 ANEXO 02: EXTRATO DEPOIMENTOS DOS MORADORES DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nicleo de Defesa dos Direitos Humanos RELATORIO DAS OITIVAS REALIZADAS COM A POPULAGAO QUE RESIDE NO QUINTO DISTRITO DE SA JOAO DA BARRA Em visita realizada pelo Nucleo de Defesa Direitos Humanos(¢ Niclep de /Fexxas e Habitacao da efensoria PUbliéa’ de~“Bstadb Rio de“) Janeiro na regiao strital de Sap“Joao da Barr foram ouvidos. varios moradores 1 © que sergo gngidos pelo empreendimento do ial do Porto do ach Bessoas huinildes ¢ do f.. baik ausente, cuja waa lade Lab} Ppim, diante da impogsibilida adoy geral, tratainise de ivel de acsddetlald &s wvezes pl éo Ne e/ou a pecuéria. de retirarem © seu sustento e 4 Sua’ familia de. outro meio q Beh resistentes a perda sees p nao a exploracdo da terra, sao priedade. q idas | quase 50 — (cinquenta) Foram |, s0aS, © a grande maioria ath B agentes/da CODIN ou LLX, que sofreu abordagem por parte e ,invaden as propriedades para sfetuarem Hegicdes, as Spee ameagas, bem como E RS hal Beolocam placaé/,e cercas,} A do contra y\ay vontade dos 4 hie Broorietarios, fog leg. 4 0 As dmeacas consistem em se aproveitar da pigenuidade da populagao que 14 reside, dizendo que eles tem que it de suas casas, j4 que se isso nao ocorrer de forma Bluntaria, terdo que sair “a forga”. \ Rua México, n° 11, 15° andar, Centro, Rio de Janeiro \ Tol: (21) 2332.6345/6346/6344 DEFENSORIA PUBLICA ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nucleo de Defesa dos Direitos Humanos Outra caracteristica, dessas abordagens 6 pme nada € informado aos proprietarios sobre indenizacoes, nada Fé felado sobre possivel compensa peofrendo. Ademais, ndo foi feito nenhu Fdanos que eles vao sofrer com a perda da terra, ja que a grande maloria, consoante exposto alhurgs, vive, da exploracdo da fe uma indenizagag Sonstderandp penas o Vvaloy venal do imével, Sera suficiernte para que pogsam adquirir ‘iova Propriedade e Senvolverem/uas lavouras. | 7 / iPr As conjidtas.” penpetradas pelés ditos gentes da CODIN e da Lim ys| Fegea, as seguijres: i) y Ye 9 ci vaden a/ terra paral etetuar! Medicaon \41) colocam céreas 5 no meio da prdptiedade; fi) ameacain os moradores dizendo eles tém que gair; ‘ivy nadalifalam sobre indenizacao; v) em mins casos, aproveitam’ que og pores est4o, ausentes, ‘invadem e @ permitem que cles retgeten, Sendo feito ao #880 incisivos ao afirmarem que itio dos proprietérios, “PF Rua México, n° 14, 15° andar, Cento, Rio de Janeiro Tel; (21) 2352 6345/6348/6344 4

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