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er ee kane cuaeae A DIFICIL ADMINISTRACAO DAS MOTIVACOES Cecilia Whitaker Bergamint Protessora do Departamento de Administracao Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGY. RESUMO: As teorias motivacionais acusam dois enfoques diferentes a respeito do estudo do comportamento hu- mano, O primeiro tende a considerar 0 ser humano como sendo passivel aos estimulos vindos do meio ambiente, sendo conhecido como enfoque behaviorista. O segundo enfoque explora a energizacao e a direcao do comporta- ‘mento humano. A energia na teoria motivacional é fundamentalmente uma questdo de satistagéo das necessida- des internas. A diregao do comportamento motivacional é uma questo de processos e estruturas que dao sentido ‘0s estimulos internos ou externos, dirigindo a agéo humana no sentido da satisfagéo de necessidades. Durante a busca da satisfagao motivacional as pessoas enfrentam problemas que séo realmente de dificil resolugao. Para ‘manterem-se a salvo de ter que enfrentar tais problemas, as pessoas procuram usar algum tipo de ilusdo perceptiva. Assim, socorrem-se dos mitos para poder acreditar que a realidade vista nao seja verdadeira. ABSTRACT: Motivation theories point out two different approaches about this subject. The first one tends to view the ‘human being as passive to environmental stimuli - this approach is known as the behaviourist view. The second approach explores the energization and direction of motivational behaviour. The energy in motivational theory is fundamentally a question of intrinsic needs. The direction of motivational behaviour is known as a question of ‘processes and structures that give meaning to internal and external stimuli directing human action towards the ‘satisfaction of these needs. During the search of motivational satisfaction people face problems which are really hard to solve. To avoid the discomfort of having to face these problems people tend to use myths that allow them to believe that the reality they see Is diferent from the truth. These are the illusions they use to keep on living without the problems they don't want to face. PALAVRAS-CHAVE: motivagao, energizacéo, comportamento, necessidades intrinsecas, satistagao, ilusdes, mitos. KEY WORDS: motivation, energization, behaviour, intrinsic needs, satisfaction, illusions, myths. 6 RAE - Revista de Administragao de Empresas ‘Sao Paulo, v. 38, 0. 1, p. 6-17 Jan /Mar. 1998 E muito comum que se caia na teitagio de afirmar que uma das principais responsa- bilidades dos gerentes seja a de motivar seu pessoal, Por anos a fio, vem-se tentando con. seguir sucesso nesse tipo de empreitads e, embora praticamente nada se tenha conse~ guido, os conselhos continuam a brotar de todos 0s lados e receitas das mais variadas tém sido oferecidas para que se obtenha aqui- To que um grande nimero de publicagdes em psicologia considera um verdadeiro milagre. A primeira preocupagio que surge & saber se todos aqueles que descrevem a atividade gerencial como geradora de motivacio es- {io falando a respeito do mesmo assunto. E dificil acreditar que, apesar de muito uti- lizada e discutida nas organizagOes, a moti- ‘vagio seja objeto de consideragdes tio dife- rentes entre si. Isso indica, nio ha dvida, que © interesse pelo assunto & grande. Nao hé como negar: esse & 0 tema que hé mais de ‘uma década esté em grande evidencia! Algo, ro entanto, é comum entre muitas dessas in- terpretagies que as pessoas, no geral, ofere- ‘cem quando falam do assunto: raramente as opinives, erengas e mitos nasceram de infor- ‘mages oferecidas pelas pesquises cientiicas. Assim, o que a maioria das pessoas sabe ou diz saber a respeito da motivacao pede maior esclarecimento ¢ cautela, levando em conta tudo 0 que se tem estudado sobre ela, Por outro lado, muitas vezes nao ¢ tio {6eil descobrir porque as pessoas agem de determinadas maneiras Isso provavelmente se deve ao fato de que nem sempre cada uma delas faz. as mesmas coisas exatamente pe- las mesmas razSes, Pesquisas feitas sobre 0 comportamento motivacional revelam que ‘no somente os objetivas que cada um pro- ccura atingir sio diferentes daqueles que ou- {ros almejam, mas também que as fontes de energia responséveis por disparar esse tipo de comportamento sdo diferentes. Assim sendo: 0 estudo da motivagio humana diz respeito & descoberta do porque as pessoas se movimentam ¢ qual a fonte de energia que estZo usando para tanto. QUAL E O CENARIO DE TRABALHO. ATUAL? (© mundo todo vive um momento em que © grande desafio é, sem divida, conseguir do- minar a mudanga, Ultrapassar essa etapa & aquilo que de methor se pode esperar que li- A DIFICIL ADMINISTRACAO DAS MOTIVAGOES ———— SEO eres eficazes fagam por suas empresas, caso pretendam ajudé-las. As condigdes em que as ‘mudangas esto ocorrendo so, sem davida alguma, claramente adversas ou, como pro- poem alguns autores, “mais turbulentas, mais caéticas e mais desafiadoras do que nunca”. O fim dos empregos é uma realidade, tendo em vista que, apds anos de previsdes otimistas e alarmes falsos, a nova tecnologia de informatica e comunicacao faz finalmente sentir seu violento impacto. 44 hé algum tempo tenta-se transmitir a ‘magnitude dos desafios com os quais se de- frontam as organizagbes quando se conside- ra tudo aquilo que esta ocorrendo. Mesmo assim estd fora de cogitacdo que se consiga ‘ver com exatidio as dimensdes daquilo que esté sendo necessério enfrentar. A tecnologia, particularmente no tocan- te As comunicagdes, esté hoje mudando em uum ritmo mais répido do que nunca na his- ‘ria da humanidade. Nos ultimos $0 anos, ro se havia visto tal agilidade em mudar, sendo essa reviravolta de cendrio considera- da a maior e mais répida até entio. ‘Até certo ponto atOnitas, as pessoas e as organizagbes, em conjunto, tém sido cons- trangidas a viver sob a pressdo da procura de alguma estratégia que Ihes permita do- minar esses novos desafios. Acontece, no centanto, que 0 instrumental, os processos € propria tecnologia disponivel ao alcance dos administradores estio, igualmente, se ‘modificando. Tudo isso delineia um cend- rio que, de certa forma. jé havia sido ante- cipado, mas, que por alguma desatengao de nossa parte, nfo se acreditava to iminen- te, O desafio chegou de fato e, ainda expe- rimentando algum despreparo, as pessoas parecem dispostas a ensaiar os primeiros, mas ainda hesitantes, passos para no su- ccumbirem nem serem definitivamente tra- ‘gadas — ou pegas de surpresa — por ele quan- do ndo houver mais tempo para reagit. (© 1998, RAE - Revista de Administrago de Empresas / EAESP / FV, So Paulo, Bras 1 AANTER. rag mrs ‘orethage AUB OA. Os Sr AUBM, TM The Oganzatlora Binovor fener W108 a RAG 2 RPO. 0m aes errepes. @ preps eas fo i) ‘98 2. LEVVAEBOVER, 6. eis ass tapas Sa Fu, 08. Um bom nimero de obras contendo os mais variados tipos de anélise sobre as difi- culdades de insergdo no mercado de traba- Iho tem sido divulgado e consumido rapida- mente. Da mesma forma que, no caso dos livros de auto-ajuda, as pessoas estio mais desejosas do que nunca de encontrar uma solugo para suas afligées existenciais, que so as provaveis barreiras & realizaclo pes- soal, Uma dessas afligies diz respeito ao re- ferencial de auto-estima representado pelo significado que o trabalho tem para cada um dos seres humanos. ‘0 fim dos empregos é uma realidade, ten- do em vista que, apds anos de previsoes ot mistas ¢ alarmes falsos, a nova tecnologia de informatica e comunicagio faz finalmen- te sentir seu violento impacto. As pessoas custaram a entender que no se tratava de simples e inocentes exercicios de futurologia. Esse desfecho ja havia sido prognosticado ha muito, a partir do momento em que se pro- curou cotejar a permeabilidade do mercado de trabalho em face da globalizagdo da eco- nomia vigente no mundo inteiro. Como re- sultado chegou-se a0 delineamento de uma rea- lidade na qual milhies de trabalbadores tém sido diariamente eliminados do processo eco- nOmico ativo, fazendo com que fungbes & ca- tegorias inteiras de trabalho venham sendo drasticamente reduzidas, assim como outras se tenham reestruturado, exigindo competén- cias inéditas até entdo, sem falar naquelas que definitivamente jé desapareceram.? Mais do que nunca cada um de nds esta se vendo compelido a ter que comprovat seu valor diante de um mercado de trabalho no qual, além de outros concorrentes rivais, hi gue se procurar valer mais do que as méqui has que nos ameagam como nossos prové- veis substitutos. Deixando de lado a espe- cializagdo em profundidade torna-se impor- tante a visto generalista e interdisciplinar Reinterpretando a historia, registra-se que no inicio deste século foi necessério que os trabalhadores lutassem para se sairem ven- cedores no defrontamento entre 0 ser huma- ng € a maquina, exatamente no momento em que novas tecnologias industriais ameagavam substituir sua forga muscular. Atualmente, embora menos pesadas, mas igualmente amea- gadoras € de maneira muito mais refinada do que antes, as tecnologias em informatica parecem prontas para substituir as mentes hhumanas e colocar méquinas inteligentes no lugar daqueles que usavam suas capacidades a servigo de uma atividade criativa Resulta disso tudo que os empregados nao podem mais acalentar as mesmas expectati- vvas de um relacionamento em longo prazo com uma determinada instituigao de traba- Iho, De um momento para o outro, sem que seja posstvel ter tempo suficiente para pre- parar-se, a promessa de um emprego para toda a vida torna-se cada vex mais dificil de ser sustentada, Alguns autores como Leboyer.' por exemplo, salientam que pesquisas atuais apontam para uma crise de motivagio que afetaindistintamente todas as categoria pro- fissionais. Ouve-se em todos os setores de atividade queixas do desaparecimento dos valores tradicionais e do fato de a conscién- cia profissional parecer nio mais existir: de- Yotar-se ao trabalho parece em desuso ¢ até ridiculo, Para a autora, o significado do tra- batho esta enfraquecido, portanto seu valor frequentemente se limita as vantagens mate- riais que ele traz e suporti-lo se prende & necessidade de ganhar a vida, O trabalho vert sendo considerado uma atividade desprovi- da de qualquer dimensio ética, boa apenas para assegurar o futuro econdmico. A constatagdo desse cenério deixa perplexos aqueles que acreditam no trabalho como re- ferencial de auto-estima; parece impossivel gerir qualquer atividade humana quando trabalho perdu o sentido para tantos. Como conseqiéncia, nas mais variadas culturas surgem concludes claras de que atual- mente os empregados sejam menos leais, ‘menos comprometidos com suas antigas fi- delidadese finalmente menos estiveis do que nunca. E como se acreditassem que suas car- reiras dentro das organizages nfo tém a ‘mesma vida longa nem 0 mesmo significado de antes. Para sobreviver, por outro lado, as préprias organizagses t&m procurado adap- tare de maneira a adotarem esteuturas mais flexiveis, uma vez que as reorganizagdes es- tio, mais que nunca, presentes no cenério atual. Tal habilidade de mudanga assegura condigdes de se entrar ov sair de um certo tipo de negécio e permite também um répi- do planejamento de novos produtos no mo- ‘mento em que as citcunstincias vigentes num determinado mercado também se alteram. ‘Assim sendo, como um tipo de resposta absolutamente conseqiente, os empregados mostram-se mais exigentes quanto 40s ni- RAE + v.38 + 1.1 + JanJ/Mar. 1998

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