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Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princ�pio de nossa caridade.

E
realmente deve-se ajud�-los nisso.
O que � mais nocivo que qualquer v�cio? � A compaix�o posta em pr�tica em nome dos
malogrados e dos fracos � o cristianismo...

A compaix�o contraria inteiramente lei da evolu��o, que � a lei da sele��o


natural. Preserva tudo que est� maduro para perecer; luta em prol dos desterrados
e condenados da vida; e mantendo vivos malogrados de todos os tipos, d� � pr�pria
vida um aspecto sombrio e d�bio. A humanidade ousou denominar a compaix�o uma
virtude (� em todo sistema de moral superior ela aparece como uma fraqueza �);
indo mais adiante, chamaram-na a virtude, a origem e fundamento de todas as outras
virtudes � mas sempre mantenhamos em mente que esse era o ponto de vista de uma
filosofia niilista, em cujo escudo h� a inscri��o nega��o da vida. Schopenhauer
estava certo nisto: atrav�s a compaix�o a vida � negada, e tornada digna de
nega��o � a compaix�o � uma t�cnica de niilismo. Permita-me repeti-lo: esse
instinto depressor e contagioso op�e-se a todos os instintos que se empenham na
preserva��o e aperfei�oamento da vida: no papel de defensor dos miser�veis, � um
agente prim�rio na promo��o da decad�ncia � compaix�o persuade � extin��o... �
claro, ningu�m diz �extin��o�: dizem �o outro mundo�, �Deus�, �a verdadeira vida�,
Nirvana, salva��o, bem-aventuran�a... Essa inocente ret�rica do reino da
idiossincrasia moral-religiosa mostra-se muito menos inocente quando se percebe a
tend�ncia que oculta sob palavras sublimes: a tend�ncia � destrui��o da vida.

Nada � mais insalubre, em toda nossa insalubre modernidade, que a compaix�o


crist�. Sermos os m�dicos aqui, sermos impiedosos aqui, manejarmos a faca aqui �
tudo isso � o nosso servi�o, � o nosso tipo de humanidade, � isso que nos torna
fil�sofos, n�s, hiperb�reos! �

Hiperb�reos: Os Gregos acreditavam que no extremo Norte da Terra vivia um povo que
gozava de felicidade eterna, os hiperb�reos, que nunca guerreavam, adoeciam ou
envelheciam. Sem a ajuda dos Deuses, seu territ�rio era inalcan��vel.

f�: em outras palavras, fechar os olhos ante si mesmo de uma vez por todas para
evitar o sofrimento causado pela vis�o de uma falsidade incur�vel.

"Para mim o ate�smo n�o � nem uma conseq��ncia, nem mesmo um fato novo: existe
comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)

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