PALAVRAS

Palavras flutuam espera do momento de serem ditas. H um mundo de palavras no ar, entrecruzando-se, acentuando-se, bailando, formando idias que so de ningum e de todos, ou retalhadas e emendadas , sem sentido.. Palavras aprisionadas pelo medo de perdermos o pouco carinho e espao que, a duras dores, escavamos entre o silncio e os gritos do conviver. As palavras tm fora, dizem os orientais, mas no somente eles, Pearce baseia suas teorias em palavras. Algumas , muitas, precisam ser desprogramadas para uma vida melhor. Elas se agarram s paredes do crebro e se tornam verdadeiras, um mantra at. Mentiroso de tanto ouvir a criana acredita. Sem-vergonha, menino mau. Palavras duras, doces, cruis, verdadeiras, mentirosas, indelveis, essncia do que somos vo se diluindo na atmosfera carregada, transformando-se em nuvens ameaadoras sobre nossos poucos dias de primavera. Assim, se estabelece o nonsense, palavras, paroles, mots, words, vo se fechando em cpsulas, bullets, em guerras hediondas que se estendem do quarto de dormir s fronteiras devastadas das naes insatisfeitas, infelizes com a cor, a religio, o sexo, a roupa do outro, vidas por um pedao a mais de terra, de mar ou do leo negro que se transforma no motor do lucro. Palavras... onde estavam as palavras antes de sarem pela cavidade, de serem articuladas pela umidade da lngua ferina, da mandbula e da garganta. Onde nascem as palavras? l tambm que nasce o dio, a violncia, a guerra ou o amor, a ternura, a amizade?

Algumas conversas tomam rumo errante, cheio de desvios, entrecortadas por palavras que sugeriam iriam iniciar outro assunto ou fazer um atalho que nunca levam a lugar algum.