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A LTIMA CASTANHA

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou
11 de Novembro Dia de So Martinho

uma castanha que estava como as outras, pendurada de um castanheiro. Chegando o tempo, as castanhas amadurecem e caem por si. S que esta no caiu. Estou bem onde estou e no quero aventuras dizia. Uma a uma, as outras dos ramos iam caindo e rebolando pelo cho, protegidas pelo cobertor ouriado que as cobria at ao nariz. Nariz modo de dizer Vinham os garotos, estalavam-lhe os ourios e metiam-nos nos bolsos. A tmida e teimosa castanha desta histria a tudo assistia do seu mirante e no gostava. A mim no me levam eles dizia. Era a nica que sobrava em todo o castanheiro. As folhas a fugirem da rvore, sopradas pelo vento, e ela a afincar-se ao ramo, com unhas e dentes. Unhas e dentes um modo de dizer 1
APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

E ra

Sozinha, desabrigada, no estava feliz. Nem infeliz. Sentia at uma ponta de orgulho por ter conseguido resistir tanto tempo. Um sabor de vitria que a ouriou toda. Ai que vou cair gritou. Mas, no ltimo instante, conseguiu agarrar-se. Ainda no era daquela. Entardecia. Um grupo de gente acendera uma fogueira, junto ao castanheiro. Os garotos, que tinham andado s castanhas, e os pais dos garotos e os amigos dos garotos riam e cantavam. Estavam a preparar o magusto da noite de So Martinho. A castanha solitria, no alto do castanheiro nu, estranhou a vizinhana. E intrigou-se. Que estaria a passar-se. Debruou-se do ramo mais e mais. A madeira a arder estalava, mesmo por baixo da castanha, a ltima. O fumo entontecia-a. E se fosse ver de perto o que se passava? Foi. Caiu. E a histria acaba aqui. Pacincia. o destino das castanhas. Destino um modo de dizer

FIM

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