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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsfTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXVII Setembro 1996 412

"A Biblia. No Principio (Génesis)", por André Chpuraqui


"Que diz vocé a respeito da Igreja Católica?"
Distribuir as Térras da Igreja?
Como é eleito o Papa?
Dignidade da Procriacáo Humana em Xeque
"Mister Aborto" reconhece os crimes
"Quem nao pode transar, nao pode casar por Rubem Alves
"Por que Maria chora?" por J.T.C.
"O Dom Inefável" por Criarles Chiniquy
Livros em Estante
PERGUNTE E RESPONDEREMOS SETEMBRO 1996
Publicagáo Mensal N°412

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Beltencourt OSB
Semear para Colher 385
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Sondando a Palavra:
"A Biblia. No Principio (Génesis)",
por André Chouraqui 386^
Diretor-Administrador:
Satisfatório índice de Aprovacao:
D. Hildebrando P. Martins OSB "Que diz vocé a respeito da
Igréja Católica?" 392

Administrado e DlstribuicSo: Pleitear:


Distribuir as Térras da Igreja? 395
EdicOes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5* andar - sala 501 Novas DeterminacSes:
Tel.: (021) 291-7122
Como é eleito o Papa? 398
Fax (021) 263-5679 Ciencia e Consciéncia Ética:
Oignldade da procriacao humana
em Xeque 405
Enderezo para Correspondencia:
Escándalo na Italia:
Ed. "Lumen Christi" "Mister Aborto" reconhece
Cabca Postal 2666 os crimes 414
CEP 20001-970 - Río de Janeiro - RJ Réplica:
"Quem nSo pode transar,
ImpressSo e EncademacSo
nao pode casar" por Rubem Alves 416
Sarcástocamente agressh/o:
"Por que María chora?" por J.T.C 420
Panfleto Protestante:
"O Dom Inefável"
"MARQUES SARAIVA " por Charles Chiniquy 429
GRÁFICOS E EDITORES Ltda.
Telt.: (021) 273-94981273-9447 Livros em Estante 431

COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA


NO PRÓXIMO NÚMERO:

Falam os Bispos da América Latina. - "O Evangelho segundo Marcos" (Chouraqui).


- A Morte Violenta dos Monges Trapistas da Argelia. - O Direito do Nascituro
Deficiente á Vida. - A Unibiótica ou Imunocultura. - Urna Viagem ás Térras Percor-
ridas por Sao Paulo.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 25,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 2,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

2. Depósito em qualquer agenda do BANCO DO BRASIL, para agencia 043S-9 Rio na


C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax,
comprovante do depósito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios. VALE POSTAL, enderecado ás EDICÓES "LUMEN


CHRISTf" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: EdicSes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ j
ÍO9
SEMEAR PARA COLHER ¿US.

A S. Escritura compara a vida presente a urna seméácfiJTa, uuju


fruto será colhido na vida futura. É Sao Paulo quem o diz: "O que o
homem semeia, ela o colherá" (Gl 6,7). Esta imagem é muito sugestiva.
Com efeito,

1) A semeadura é essencialmente relativa á colheita; é preparacáo


desta e só tem sentido em vista da colheita. Ora o ser humano, envolvi
do como está num turbilháo de coisas coloridas e sonoras, corre o peri-
go de ser por estas assoberbado, de modo a considerar a vida presente
como a principal, ficando a vida futura muito vaga e insignificante; seria
algo de que se trataría quando os bens temporais já nao mais
satifezessem ao seu usuario. Sim; a cortina dos valores temporais ten-
de a sobrepujar a criatura humana, levando-a, por vezes, a esquecer a
reta escala de valores.

Ora a sabedoria, conforme a Escritura, consiste em que vejamos o


aquém em funcáo do além. O criterio para julgar o aquém é o além. É o
que lembra a parábola do rico insensato: teve urna colheita de trigo táo
farta que se preocupou únicamente com a maneira de a conservar; cons-
truiu grandes celeiros, nos quais armazenou o que tinha, certo de que
doravante Ihe tocaría um futuro feliz, em que faria festa, comendo e be-
bendo por longos anos; eis, porém, que, na noite seguinte á descoberta
dessa "solucáo", o Senhor Deus o arrebatou deste mundo, ficando toda
a seguranca temporal entregue ao leu; cf. Le 12,16-21.

Ser sabio, portanto, conforme a Escritura, consiste em lidar ciosa-


mente com as coisas do aquém, tendo sempre em vista a colheita que
se fará no além. O cristáo nao se pode desinteressar da construcáo do
Reino de Deus neste mundo, mas há de evitar que os bens temporais
sobrepujem os definitivos na sua escala de valores.

2) Sao Paulo acentúa a proporcáo que existe entre a semeadura e


a colheita: "Quem semeia com parcimónia, com parcimónia colherá, e
quem semeia com largueza, com largueza também colherá" (2Cor9,6).
E certo que a semeadura pode ser ardua e sofrida; todavia o cristáo a
realiza perseverante, reconfortando-se com a esperanca de que a cada
lágrima corresponderá um sorriso ou um transbordamento de alegría na
vida futura, como sugere o salmista: "Os que semeiam com lágrimas,
ceifaráo em meio a cangóes. Váo andando e chorando ao levar a semen-
te; ao voltar, voltam cantando, trazendo seus feixes" (SI 126,5s).

3) Semear com largueza... Urna historieta indiana o ilustra: um


mendigo viu, certa vez, a carruagem do rei aproximar-se; sentiu grande
alegría, pois imaginava que chegara o dia de sairda sua miseria. Acon-
teceu, porém, que o rei desceu da carruagem e Ihe pediu um pouco de
trigo. Decepcionado, o mendigo catou o menor grao que tinha, e o entre-:
gou. No fim do dia, ao fazero balanco, verificou que havia um gráozinho
de ouro na sua sacóla. Compreendeu entáo que fora mesquinho e deve-
ria terdado com largueza, pois assim é que ele sairia da miseria!

E.B.

385
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXVII - N° 412 - Setembro de 1996

Sondando a Palavra:

'A BÍBLIA. NO PRINCIPIO (Génesis)"

por André Chouraqui

Em síntese: André Chouraqui é um israelita que se tem dedicado


á tradugáo da Biblia para o francés, levando em conta rigorosa o
sentido das palavras hebraicas e gregas do texto sagrado. Traduziu,
seguindo tal criterio, o Génesis, que ele acompanha com páginas
introdutórias e notas; estas primam pelas explicagóes filológicas mais
do que pelo seu caráter doutrinário. A obra pode ser considerada de
grande valor para os cristaos, pois permite compreender mais
exatamente o significado das locugóes semitas que o texto hebraico
apresenta e que as tradugóes vernáculas nem sempre conseguem
transmitir.

André Chouraqui já apareceu ñas páginas de PR como tradutor


e comentador do Evangelho segundo S. Mateus1. É um judeu de mente
aberta, respeitoso do Cristianismo, que se tem dedicado á traducao
da Biblia para o francés, levando em conta principalmente os aspectos
filológicos do texto sagrado e as doutrinas que dat decorram. O seu
livro sobre o Génesis (Introducto e Comentario) foi traduzido do
francés para o portugués por Carlito Azevedo e publicado na colegio
Bereshit da Editora Imago, Rio de Janeiro, perfazendo um volume de
548 pp., de 160 x 230mm.

As páginas seguintes apresentaráo alguns traeos dessa obra aos


leitores de PR.

1 Ver PR 410/1996. pp. 290-297.

386
"A BÍBLIA. NO PRINCIPIO (GÉNESIS)"

1. "LIMIAR PARA NO PRINCIPIO"

Tal é o título da Introducáo Geral que Chouraqui escreve para o


livro do Génesis.

Faz questáo de notar que a expressáo inicial do livro Bereshit


deve ser traduzida para o francés por Entéte (Emcabeca), pois "este
livro nao deixa de encabecar o Pentateuco e a Biblia inteira; nao
apenas relata a génese do mundo, mas também constituí a chave do
Livro. Este volume, que descreve as origens do mundo e da
humanidade, é o testemunho irrefutável de urna das mais profundas
experiencias - sempre atual - do espirito em busca de suas raizes e
de suas finalidades" (p.13).

Génesis se abre com o tema mais geral que se possa conceber:


a criacáo do universo (Chouraqui comenta a questáo do sentido dos
seis dias da criacáo e do sétimo dedicado ao repouso)1. Em seguida,
passa á criacáo da humanidade, á queda original, ao fratricidio de
que Abel é vílima. Depois disto, "a sinfonía trata de temas cada vez
mais restritos. Depois do diluvio, a humanidade efetua urna nova
partida: Abraham, descendente de Noah, é um novo Adam, em torno
do qual se articula a historia de um povo... O relato do sacrificio
ofertado por Abraham (Gn 22) é um dos ápices da literatura bíblica...
As historias de la'acob e, em seguida, o final sobre losseph terminam
o livro no ritmo de um allegro vivace, pelo tema da reconciliacáo e
da salvacáo das nacóes e de Israel, ao qual a promessa de um país é
confirmada" (pp. 14s).

Chouraqui reconhece a existencia de tres documentos-fontes que


se acrtam justapostos ou entrelazados no livro do Génesis: o Javista
(J), o Eloísta (E) e o Sacerdotal (S ou P). A distincáo é justificada pelo
fato de haver no Génesis narracóes em duplicata, anacronismos e
predominante uso dos nomes Javé (em algumas seccóes) e Eloím
(em outras seccóes)... Assim o nome Javé, lido Adonai pelos hebreus
(receosos de profanar o santo nome de Deus), aparece no Génesis
155 vezes, caracterizando as seccóes ditas ¡avistas. O nome Eloím

1 Na verdade, sábese que o texto sagrado neo tenciona descrever a ordem


segundo a qual as criaturas apareceram no mundo. Importa-lrte referir tudo a
Deus Criador, sem entrama fenomenología da origem do mundo ou sem entender
fazer um relato de ordem científica.

387
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

ocorre no Génesis 224 vezes, caracterizando as passagens eloístas.


A terceira fonte, a Sacerdotal, é mais tardía do que as duas outras,
pois data dos séculos VÍA/ a.C, ao passo que J é do sáculo X a.C. e
E do século IX a.C. - Um redator no século V a.C. terá fundido num
todo harmonioso as diferentes tradicóes J, E e P ou S. Quanto ao
Deuterondmio (D), constituí um lívro á parte no Pentateuco,
encerrando o conjunto constituido por J, E e P ou S.

"A fragmentacáo da obra parece inegável. Entretanto o texto...


nao deixa de impor-se a nos numa poderosa unidade, tanto por seu
conteúdo como por seu estilo e sua composicáo. O vasto afresco do
Génesis adquire um relevo impressionante para o leitor contemporáneo
no contexto, hoje mais bem conhecido, das civilizacoes do Oriente
antigo" (p.16). Estas vém sendo mais e mais explanadas pelos
arqueólogos, lingüistas e historiadores, que recolocam o texto sagrado
em seu ambiente original e mostram a profundeza e o significado
pujante do livro bíblico. Diz aínda Chouraqui:

"Se os exegetas do século XIX acentuavam a fragmentagáo da


obra em fontes distintas, os deste fim do século XX, reconsiderando
os exageros da 'alta critica', tendem, ao contrario, a sublinhar a
unidade da estrutura deste volume, que define o fundamento doutrinal
do universo da Biblia1' (p.18).

A seguir, Chouraqui comenta a "sinfonía" do Génesis, realcando


o emprego dos números no texto sagrado. Sao significativas as suas
ponderacóes:

"A sinfonía do Génesis se abre por urna das frases mais


revolucionarías que se possam conceber, sete palavras que proclamam
de fato o declinio das divindades adoradas pelas nacoes da térra e
relativizam o universo dos homens, pois ele é criado e nao eterno, como
se supunha entáo. A idéia de criacáo pde em discussáo nao somente os
cultos e as culturas da humanidade, mas também os regimes políticos
que fundamentavam sua legitimidade em divindades das quais a
mensagem bíblica proclama a queda. No Principio é verdadeiramente
um texto sinfónico. Ele é construido, do inicio ao fim, sobre o ritmo de 7.
O primeiro versículo deste volume conta, volto a dizer, 7 palavras em
hebreu, e o segundo 7 x 2=14. O relato da criacáo conta 7 x 8= 56
versículos. Os 7 días da criacáo constituem um quiasmo que se articula

388
"A BIBLIA. NO PRINCIPIO (GÉNESIS)"

a partir da criacáo dos astros em 2 grupos de 3 dias que desembocam,


no 7o dia, no repouso de Elohíms:

O Desordem e deserto das trevas 1,2


,L"2 . 1.3-S
Céus e aguas 1,6-8
Térra e vida orgánica 1,9-13
Astros 1,14-19
Peixes e aves 1,20-23
Animáis e humanos 1,24-31
O Shabat ou repouso de Elohíms 2,1-3

As correspondencias sao perfeitas entre a luz (1o dia) e repouso


de Elohims (7o dia); entre os céus e as aguas (2o dia) e a criacáo dos
peixes e das aves (5o dia); entre a criacáo da térra e da vida orgánica
(3° dia) e a dos animáis e dos humanos (6° dia).

"No centro se erguem os astros, a meio caminho entre os céus,


habitados por Elohíms, e a térra, morada dos humanos, enquanto a
correspondencia quiasmática é perfeita entre os tres primeiros e os
tres últimos dias da criacáo" (pp. 19s).

"Nos versículos 3 e 4 do capítulo 1 do Génesis, a palavra "luz",


or, é repetida 5 vezes e a palavra "bem", tob, 7 vezes nos versículos
4,10,12,18,21,25 e 31. A luz e o bem se opóem ás trevas e ao mal e
constituem, a partir daí, o fim último para o qual se orienta o
pensamento bíblico" (p. 21).

"Assim, a narrativa constituí um todo perfeito de harmonías


secretas, de correspondencias múltiplas entre as palavras, mesmo
as letras, e as realidades descritas. A unidade do volume se revela
incontestavelmente através de urna análise escrupulosa de suas
estruturas internas. A importancia dada aos números (e aquí ao
algarismo 7), geralmente ignorada pela critica porque estranha á
psicología moderna, é característica do estilo bíblico.. Os números sao
em hebraico letras que veicuiam a palavra que EIohTms utiliza para
criar o universo. Os cabalistas veráo ñas 22 letras do alfabeto hebraico
os instrumentos com os quais Elohíms cria o mundo, suas matrizes.
Daí a utilizacáo, de algum modo encantatória, de números privilegiados
ñas estruturas íntimas do texto: há 10 geracóes entre Adám e Noah,
mais 10 geracóes entre Noah e Abrahám, cujas vidas sao marcadas
pelo selo de números constantemente simbólicos. O algarismo 7 tem
um papel preponderante, até no menor detalhe da composicáo: o nome

389
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

de Eiohims retorna 7 x 5= 35 vezes no relato da criacáo; a palavra


érés, térra, 7 x 3= 21 vezes; os céus (shamaím e raqia'), 7 x 3= 21
vezes; tob, 'o bem', 7 vezes; o 7o parágrafo do texto hebreu
corresponde ao 7o dia, etc. O relato do Éden está repleto das mesmas
harmonías (Gn 2,4; 3,24), os nomes do homem, ish, e do humano,
adám, sao repetidos 7 x 4= 28 vezes; a mulher, ¡sha, 'ézér ou séla', 7
x 3= 21 vezes; as palavras da raiz akhal, 'comer', 7 x 3= 21 vezes; as
da raiz laqah, 'tomar', 7 vezes, como Qédém, "o levante1, e 'Éden; a
secáo conta também, em hebreu, 7 parágrafos.

No capítulo 14 a palavra-chave, mélékh, 'rei\ retorna 7 x 3= 21


vezes na primeira parte da narrativa (Gn 14,1-12) e 7 vezes na segunda
parte (Gn 14,13-24).

A historia de losseph conta 7 x 64= 448 versículos e o volume


inteiro 7 x 7 + 1= 50 capítulos. A análise pode ser levada até os maís
íntimos detalhes da obra: se esta foi composta a partir de tres fontes
principáis definidas pela crítica, deve-se constatar que o último redator
desta obra-prima a reestruturou até dar-lhe urna irrecusável unidade.
Porvavelmente, ele usava técnicas de escrita que se ensinavam ñas
escolas.

Nos redescubrimos hoje algumas dessas técnicas esquecidas,


em que tudo concorre para a expressáo do pensamento: a frase, a
palavra e cada urna das letras que as compóem" (pp. 20).

"Há mais de dois milenarios, os historiadores e os exegetas


avancam tateando para descobrir o segredo desses textos que estáo
entre os mais antigos da humanidade é permanecem, no limiar da era
atómica, táo novos, táo significativos como ñas idades do bronze e do
ferro.

O autor usa um estilo concreto do primeiro ao último versículo, a


acáo progride gracas a urna sucessáo de ¡magens precisas. O
pensamento se impóe assim sem recorrer ao discurso abstrato. Trata
se de um verdadeiro filme, cada palavra designa urna realidade
palpável, cada frase descreve urna cena viva. A multiplicidade das
fontes, a transmissáo oral desses textos na memoria viva da tribo,
nunca alteraram a língua, da qual o caráter hierático disfarca a idade.
Os lingüistas nao conseguem datar esses textos com seguranca: é
paradoxal constatar entre eles diferencas de varios séculos em seu

390
"A BÍBLA. NO PRINCÍPIO (GÉNESIS)"

estoco para atribuir urna idade precisa aos diferentes documentos


que compóem o Génesis e mais geralmente a Biblia" (p. 22).

"Daí o relevo, a potencia e a eterna juventude de uma obra que


nao para de falar, há milenios, a todos os homens em todas as línguas"
(P- 25).

2. "NO PRINCÍPIO"

Eis o título dado por Chouraqui ao seu comentario do Génesis.


As reflexóes do autor sao eminentemente de ordem filológica.
Destacam-se as seccóes em que ele expóe o sentido de certos
vocábulos em particular, como sao

- os nomes de Deus: El, Eloha, Elohims, IHVH, YAN, El Shadai


(pp. 30-35);

- o jardim do Edén (p. 47);

- uma serpente una (pp. 56-58);

- os descendentes de Abraham (pp. 125-128).

Merece também referencia o fato de que Chouraqui ilustra suas


considerares lingüísticas recorrendo a textos paralelos das antigás
populacóes orientáis, como também a comentarios de Padres da Igreja
e do Coráo Maometano. O final da obra consta de Apéndice valiosos
sobre a proclamacáo da Tora entre os judeus, fontes, transliteracóes
e abreviacóes.

Em suma, trata-se de um trabalho serio, destinado a iniciar o


leitor no espirito dos israelitas que escreveram outrora a Tora e a
léem hoje; Chouraqui pondera rigorosamente o sentido das palavras
e faz perceber o seu significado original. Verdade é que, após a leitura
lingüística da Biblia, o cristáo deve efetuar a leitura teológica da
mesma. O livro de Chouraqui só pode contribuir para que o
entendimento teológico da Biblia seja mais fundamentado e sólido.

391
Satisfatório Índice de Aprovacao:

"QUE DIZ VOCÉ A RESPEITO DA


IGREJA CATÓLICA?"

O JORNAL DO BRASIL, em sua edicáo de 26/5/96, Cademo 1o,


p. 8, publicou o resultado de uma pesquisa sobre o crédito que treze
instituicóes nacionais merecem do público brasileiro. A Igreja Católica
foi muito bem classificada, de modo que reproduzimos alguns tópicos
da mencionada página de jornal.

1. NOTA METODOLÓGICA

"A pesquisa JB-Vox Populi foi feita simultáneamente no Rio de


Janeiro, em Sao Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Recife, Porto
Alegre e Fortaleza entre os dias 11 e 14 de maio. O universo
pesquisado foi estabelecido a partir de dados censitários de cada
cidade e refletem as proporcóes da populacáo segundo variáveis de
sexo, idade, escolaridade e renda familiar.

Ao todo foram feitas 5.278 entrevistas entre a populacáo com


idade superior a 16 anos, eleitora é residente em cada uma das
capitais. Os entrevistados responderam sempre á mesma questáo:
"Com relacáo á atuacáo de cada uma das instituicóes que vamos citar,
vocé diría qué?"

Para facilitar a montagem do quadro, juntaram-se os percentuais


de entrevistas com respostas "Nao sabe" ou "Nao respondeu" á
alternativa "Aprovo e desaprovo na mesma proporcáo". A margem de
erro da pesquisa é de 5%. Os gráficos e tabelas poderáo fechar em
mais ou menos 100% devido ao arredondamento dos números.

Segue-se a tabela de porcentagem.

392
"QUE DIZ VOCÉ A RESPEITO DA IGREJA CATÓLICA?"

2. QUE DIZ VOCÉ?

InstituiQdes Aprovam Desaprovam Sem opiniao

Imprensa 72% 9% 19%

Igreja Católica 72% 12% 16%

Forcas Armadas 66% 14% 21%

Universidade Pública 62% 15% 23%

MST 59% 24% 17%

Polícia Federal 56% 23% 20%

Policía Militar 49% 30% 21%

Polícia Civil 47% 30% 23%

CUT 45% 30% 25%

Federac5es
das Industrias 37% 24% 40%

Cámara de Vereadores 33% 38% 29%

Congresso Nacional 27% 44% 28%

Igreja Universal 17% 69% 14%

1 MST= Movimento dos Sem-Terra

3. A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Única que ousa enfrentar a hegemonía católica no Brasil,


instaurada no país pela colonizacáo portuguesa, a Igreja Universal
do Reino de Deus colhe na pesquisa JB-Vox Populi o que planta
seu líder máximo, o bispo Edir Macedo. Os eleitores das oito capitais
pesquisadas nao economizaram na condenacáo da seita.

No Rio, onde ela tem um dos seus maiores rebanhos


espalhados pelo país, 66% desaprovam a atuacáo do bispo e de

393
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

seu séquito de pastores. Em Fortaleza, a rejeicáo é ainda maior


81%. Recife, com 76%, Salvador, com 73%, Belo Horizonte com
72%, Curitiba e Porto Alegre, com 70%, e Sao Paulo, com 66%,
todas crucificam a Igreja Universal do Reino de Deus.
Os percentuais de aprovacáo nao alteram o quadro negativo.
No Rio, o apoio chega a apenas 20% dos 698 entrevistados. Em
Sao Paulo a aprovacáo também estaciona nos 20%. Em Salvador,
nao passa de 15%. Em Belo Horizonte e em Curitiba, para nos
14%. Em Recife e Porto Alegre, só chega a 13%. Em Fortaleza,
esbarra em escassos 9%.

"Esses números refletem claramente o repudio ao chute na


imagem da santa", atesta Marcos Coimbra, diretordo Instituto Vox
Populi, numa referencia á violencia do pastor Sergio Von Helder,
da Igreja Universal do Reino de Deus, contra a imagem de Nossá
Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, num programa da Rede
Record no final do ano passado. "A guerra travada depois pela
televisáo só consolidou essa rejeicáo", atesta".
* * *

Hildegard de Bingen. A consciéncia inspirada do século


XII, por Régine Pernoud. Tradugáo de Eloá Jacobina. Colegio
"Género Plural". - Ed. Rocco, Rúa Rodrigo Silva 26, 5o andar, Rio
de Janeiro, 1996, 140 x 210mm, 134 pp.
Régine Pernoud é urna historiadora francesa, especialista da
Idade Media, a respeito da qualjá escreveu algumas obras; cf. PR
240/1979, p. 520 e 289/1986, p. 262. No presente estudo, a autora
póe em destaque urna grande figura feminina do século XII, que
durante muito tempo ficou na penumbra, mas nos últimos anos
vem sendo mais e mais focalizada na Alemanha, na Inglaterra e
na Franga. Hildegard von Bingen (1098-1179) viveu na Renánia,
como monja beneditina e Abadessa, revelándose mulher
enciclopédica. Deixou escritos de índole teológica mística, de
interpretagao difícil, porque redigidos em estilo apocalíptico, mas,
além disto, tratou de ciencias naturais e música; escreveu sobre
medicina, ciencia que no Ocidente era cultivada principalmente por
judeus e árabes. E também autora de ampia correspondencia com
grandes personagens da época (Papas, Cardeais, reis e príncipes).
Pregou em igrejas e conventos, de tal modo que os ouvintes Ihe
pediam o texto do que havia dito oralmente. Refere um biógrafo
antigo: "Nao apenas de toda a vizinhanga, mas de toda a Gália
tripartida e da Germánia afluiam pessoas de ambos os sexos ávidas
de receberem os conselhos e as exortagóes da abadessa. Muitos
vinham também em busca da cura das afecgoes corporais" (p. 47
da obra em foco). - Em suma, tratase de urna figura carismática,
que marcou a sua época com características de autenticidade. Ó
leitor tere prazer e proveito ao ler o trabalho de Régine Pernoud,
que escreve com muita erudigao, apontando fatos muito ilustrativos
do século XII.

394
Pleitear:

DISTRIBUIR AS TÉRRAS DA IGREJA?

"Dom Antonio Afonso de Miranda, Bispo de Taubaté, SP, responde


a urna acusagáo que, de quando em quando, se repete contra a Igreja
no Brasil: por que é que, em vez de ficar pregando reforma agraria e
apoiando invasáo de térras, a Igreja nao entrega suas própriás térras
para assentamento dos pobres que nao tém onde trabalhar nem
morar?

A pressuposigáo é de que a Igreja tenha enormes propríedades


agricultáveis e seja urna impúdica latifundiária improdutiva.

Dom Miranda, em seu artigo, mostra que o que se pode apurar é


que a quantidade de térras da Igreja nao ultrapassa, hoje, 300 mil
néctares. Essas térras estáo espalhadas pelo Brasil todo e incluem
os espagos onde estáo construidas as igrejas e cápelas, que sao
mais de 8 mil, Brasil afora; ou onde se encontram seminarios,
conventos, colegios, asilos, outras obras sociais e predios de pastorais,
e, as vezes, pequeños sitios que se usam para sustento dos seminarios
ou obras sociais, como orfanatos etc.

A Igreja nao apóia simplesmente qualquer invasao de térras; ela


respeita, por seus melhores representantes, o direito de propríedade;
apenas futa para que esse direito nao perca de vista sua fungáo social
também. O desrespeito ao Estado de Direito nao pode ter apoio da
Igreja, pois nao há outra forma de viver numa democracia senáo
aceitar, por difícil que isto seja, o Estado de Direito, isto é, o respeito
á lei vigente. O que se pode fazer é provocar, por movimento de
pressao, a mudanga de leis que nos paregam injustas. Mas esses
movimentos, como as greves, nao podem fazer-se fora da lei; nño se
admite fazer justiga pelas própriás maos. Se se condena isto nos
grupos de direita ou nos justiceiros, também se há de condenar nos
sem-terra, que as vezes nem querem saber de térra".

Após esta aprésenla?áo do Pe. Paschoal Rangel a nossa revista


publica interessante artigo de D. Antonio Afonso de Miranda, Bispo
de Taubaté (SP), materia extraída do jornal O LUTADOR, de Belo
Horizonte, edicáo de 12 a 18 de maio de 1996, pp. 1 e 2.

PODERIA A IGREJA ASSENTAR MAIS DE 20 MIL FAMÍLIAS?

"Folha de Sao Paulo" de 10 de marco de 1996 (domingo), publicou

395
12 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

materia tendenciosa, como freqüentemente faz, no sentido de


desacreditar a Igreja Católica. Dá a entender, á primeira vista, que a
Igreja no Brasil é urna potencia económica, capitalista e latifundiária
contrariamente á "opcáo pelos pobres", que ela diz ter feito.

Mas a materia inserida as páginas 8 e 9 do caderno I, se bem


analisada, faz-nos recordar o poeta Horacio dizendo que "Montes
parturiunt, Nascetur ridiculus mus": urna enorme montanha gemeu e
se contorceu toda, em espasmos de parto, mas no fim, quando pariu,
o que foi que nasceu? Um ratinho raquítico e vagabundo.

Tu do que as pesquisas de Xico Sá e Fernando Molica conseguem


mostrar é simplesmente isto: a Igreja Católica possui térras, muitas
térras, onde estáo suas igrejas e cápelas e obras sociais e pastorais
que mantém. Térras ociosas da Igreja no Brasil, segundo o Pe
Verweijen, que administra a Prelazia de Tefe, AM, seriam 15 mil
néctares, que ele comecou a distribuir, mas suspendeu esta
distribuicáo porque "descobriu que alguns colonos estavam vendendo
seus lotes e, por esse motivo, deixou de fornecer os títulos de posse"
- narra a "Folha". Por outro lado, a Prelazia teve de "entregar 12 mil
néctares em troca de urna divida da Igreja com a cidade."

E Dom Jaime Chemello, Vice-Presidente da CNBB, afirma, em


entrevista á mesma "Folha", que, "se, por exemplo, o governo
descobrir entre essas térras (da Igreja) alguma que seja improdutiva,
acho que a Igreja deveria abrir máo déla". Mas esclarece que "nao há
térras continuas, que permitam a atividade agrícola". E mais: "300 mil
hectares nao é muito, já que sao térras descontinuas"; "muitas vezes
sao térras de até 10 hectares, em que funcionam, por exemplo,
chácaras mantidas pelos seminarios."

Afinal, tudo examinado, é inviável que térras da Igreja no Brasil


se prestem a assentamento de "mais de 20 mil familias", como
espalhafatosamente enunciou a mánchete da folha em sua primeira
página. A materia publicada por Xico Sá, Fernando Molica e outros é
urna montanha que se esforca e geme para gerar um grande
escándalo, mas o que sai déla é apenas um "ratinho". Podem comé-lo
os gatos que correram atrás dele.

Para ayaliacáo mais correta da materia propalada de "riquezas


da Igreja", é bom refletir com sensatez. Que é a Igreja? Quais suas
atividades específicas? A Igreja é urna instituicáo que, específicamente,
evangeliza, educa, forma comunidades, preserva culturas, cria ¡mensos
beneficios sociais; inclusive muitos dentre estes que procuram denegrí-
la, devem o que possuem de sua formacáo intelectual á obra educativa
de colegios católicos, quando nao de um seminario em que estudaram
gratuitamente.

A Igreja é urna instituicáo, que precisa manter-se, ter fontes de


renda, ter patrimonios, casas, templos, seminarios, centros de

396
DISTRIBUIR AS TÉRRAS DA IGREJA? 13

formacáo etc.. Estes bens nao pertencem a Bispos, a Padres, a freirás,


pessoalmente. Estes bens sao comuns, beneficiam a todos os
evangelizados e assistidos em Dioceses, Paróquias, Prelazias, colegios
e seminarios.

A Igreja nao é urna empresa "capitalista" "comercial", como é por


exemplo a FOLHA DE SAO PAULO. Se formos calcular quantos bens
a "Folha" tem amealhados em predios, terrenos e tu do o mais, quantas
mil familias ela nao poderia assentar com apenas 10% de seu lucro
líquido? Mas ninguém cobra isto como um dever da FOLHA DE SAO
PAULO. Todo o mundo compreende que ela, como a GENERAL
MOTORS, a VOLKSWAGEN, o BANCO DO BRASIL, e todas as
empresas, tém seus bens para fins de lucro e para realizacáo de suas
específicas funcóes.

A Igreja Católica no Brasil, como em todo o mundo, recebeu


doacóes e ofertas, e as vezes foi forcada a adquirir terrenos e predios
para o fim específico que Ihe é próprio: evangelizar, promover o culto,
realizar obras sociais e caritativas, abrir colegios e seminarios. A
própria FOLHA leyantou, em números, que a Igreja no Brasil tem 7.786
regio es com i g rejas subordinadas a um padre, tem 256 .dioceses e
que nestas regióes e dioceses atuam 3.623 irmáos de ordens
masculinas, nao padres, 36.813 irmás (i. é, freirás) e 15.126 padres,
370 bispos; que existem entre nos 287 Congregacóes masculinas,
600 Congregares femininas, e que estas Congregacóes possuem
3.061 casas masculinas com seus seminarios e colegios, e 6.185
casas femininas. Cf. f. 9 do caderno 1 da edicáo que comentamos. E
todo este exército de gente, com seus seminarios, colegios, noviciados
e obras devem, segundo os conceitos altamente "socializantes" da
FOLHA, ceder suas térras, seus predios, suas obras para assentar
familias sem térra. Burrice, ou malicia?
Dois pontos aínda: 1) a FOLHA estampa um cliché do altar da
igreja de S. Francisco, de Salvador, todo decorado a ouro, certamente
para dizer que este ouro nao está bem na igreja, talvez deva reverter
em assentamento de familias; mas gente inteligente e nao maliciosa
sabe que nao se desmancha urna obra de arte veneranda, que a Igreja
tem conservado em sáculos de historia; 2) póe, num título, na f. 9-1
esta denuncia: "Predio da igreja no Rio abriga cinema pomo", dando
a entender que a Igreja explora este tipo de comercio. Ai é malicia
mesmo. Porque já tinha sido explicado aos jornalistas que se trata de
aluguel antiqüíssimo (de tempos em que nem existiam cinemas,
certamente) e que a Mitra Arquidiocesana acionou o locador para
reaver o predio, e nao teve ganho de causa em juízo.

É importante que se refuta sobre quanto dissemos ácima, para


nao engolir a ¡magem denegrida da Igreja Católica que a FOLHA deseja
impingir-nos. Etambém para que se saiba quanto raneo, quanta ojeriza
gratuita permeia as páginas de alguns jomáis, quando se lembram de
enfocar a Igreja Católica.

397
Novas Determinacdes:

COMO É ELEITO O PAPA?

Em síntese: O S. Padre Joáo Paulo II promulgou urna


Constituigáo que atualiza as normas e diretrizes para a eleigáo de um
novo Papa. Entre as novas determinagóes, está a extingao do modo
de eleger por aclamagáo e por compromisso, sendo válida apenas a
eleigáo por voto secreto; neste caso exige-se a maioria de dois tergos
para a validade da escolha. O sigilo é severamente recomendado,
havendo pena de excomunháo para qualquer dos eleitores ou
assessores que o viole. Também se incute insistentemente o clima de
oragáo tanto dos Cardeais e dos clérigos como dos fiéis leigos por
todo o tempo de vacancia da Sé Apostólica. O número de eleitores
nao pode ultrapassar os 120; sao excluidos dos escrutinios os Cardeais
octogenarios, aos quais, porém, fica facultado participar das sessóes
preparatorias do Conclave. Nenhum jornal ou revista ou meio de
contato com o mundo externo é admitido dentro do Conclave; os
Cardeais eleitores devem ficar isentos de qualquer comunicagao com
o mundo que os cerca durante os dias da eleigáo, a fím de que se
evite qualquer tentativa de influenciar espuriamente os trámites do
Conclave.

Em PR 408/1996, pp. 225-227 fo¡ apresentada a origem do


chamado conclave (cum clavis, com chave) ou do procedimento
destinado á eleigáo de um Papa, procedimento que, com retoques e
adaptacóes, é vigente até nossos dias. Foi no século XIII que teve
inicio tal modalidade eleitoral, quando o Papa Gregorio X, mediante a
Constituigáo Ubi Periculum, promulgou em 1274 a Magna Carta para
a eleigáo de um Sumo Pontífice.

O Papa Joáo Paulo II teve em mira atualizar as disposigóes desse


procedimento redigindo a Constituigáo Apostólica Universi Dominici
Gregis (UDG)1; esta traz a data de 22/2/1996 (festa litúrgica da Cátedra
de Sao Pedro) e foi apresentada oficialmente ao público aos 23/2/
1996 na Sala de Imprensa do Vaticano.

1 O documento comega com as palavras que servem para o designar. "Universi


Dominici Gregis Pastor...", o que se traduz por "Pastor de todo o Rebanho do Se-
nhor".

398
COMO É ELEITO O PAPA? 15

LACONSTITUigÁO UDG: ASPECTOS JURÍDICOS

1. O texto se abre com as palavras:

"Pastor de todo o Rebanho do Senhor é o Bispo da Igreja de


Roma, na qual o bem-aventurado Apostólo Pedro, por soberana
disposigao da Providencia Divina, deu a Cristo o supremo testemunho
do sangue mediante o martirio. É, por conseguinte, muito compreensfvel
que a legítima sucessáo apostólica nessa sede 'com a qual, por causa
da sua elevada preeminencia, deve estar de acordó toda e qualquer
Igreja', como diz S. Ireneu f202) tenha sido sempre objeto de especial
solicitude".

O documento compreende, além da Introducáo, duas Partes:

A Introducáo apresenta urna síntese e as linhas diretrizes do


documento.

A Parte I, em seus cinco capítulos, trata da "Vacancia da Sé


Apostólica" ou do período que vai de um pontificado a outro. Determina
as faculdades que tocam ao Colegio dos Cardeais e as suas
Congregacóes ou Assembléias preparatorias do Conclave; discrimina
também as atribuicóes dos Dicastérios (especies de Ministerios) e
demais órgáos da Curia Romana, e baixa normas para as exequias
do falecido Papa.

A Parte II, com sete capítulos, considera diretamente a eleicáo


do novo Papa em Conclave.

2. Na Introducáo, Joáo Paulo II refere-se ás diversas intervencñes


dos Papas anteriores na maneira de eleger o Bispo de Roma; enfatiza
especialmente as normas baixadas pelo Papas do século XX, pois,
com excecáo de Bento XV (1914-1922) e Joáo Paulo I (1978), todos
os Papas do século XX (Pió X, Pió XI, Pió XII, Joáo XXIII e Paulo VI)
legislaram a respeito, procurando atualizar o procedimento vigente
em sua época. Os motivos pelos quais Joáo Paulo II também quis ditar
normas a propósito sao de dupla índole, como o próprio Papa diz:

"O que me move a tal passo, é a consciéncia de que as


circunstancias em que a Igreja hoje vive, estao mudadas em relagáo
ao passado. Além do qué desejo corresponder á revisáo geral do
Direito Canónico, já devidamente atualizado" (IntrodugSo).

Na verdade, a sé papal pode tornar-se vacante por dois motivos:


ou por falecimento do Pontífice ou por renuncia do mesmo ao cargo.
Eis o que reza o canon 332:

399
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

"Canon 332 - § 1. O Romano Pontífice obtém o poder pleno e


supremo na Igreja pela eleigao legítima por ele aceita, junto com a
consagragáo episcopal. Por conseguinte, o eleito para o Sumo
Pontificado queja tiver o caráter episcopal, obtém esse poder desde
o instante da aceitagao. Se o eleito nao tiver caráter episcopal, seja
¡mediatamente ordenado Bispo.

§ 2. Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu cargo,


para a validade se requer que a renuncia seja livremente feita é
devidamente manifestada, mas nao que seja aceita por alguém".

O Sumo Pontífice pode renunciar por motivo de saúde. Nao é


obligado a deixar suas funcóes aos 75 anos de idade, ao passo que
os Bispos sao convidados a fazé-lo quando atingem tal idade. A
tradicáo jurídica da Igreja aceita que o Papa renuncie por justa causa,
sendo que a idade avancada nao é considerada razio suficiente para
que renuncie. Somente o Papa, em consciéncia ou diante de Deus,
deve julgár as suas aptidóes para continuar a governar a Igreja.

Ainda na Introducáo á sua Constituicáo Apostólica Joáo Paulo II


declara que, ao rever as normas para eleger o Papa, ele quis manter-
se fiel, tanto quanto possível, ás normas anteriormentes vigentes: "Tive
o cuidado de nao me afastar substancialmente da linha da sabia e
veneranda Tradicáo que até nossos dias vigorou".

3. Em conseqüéncia, o Papa confirmou tres normas - duas


antiqüíssimas e outra mais recente - até nossos tempos observadas:

a) A eleicáo do Papa deve ser feita em Conclave (=cum clavis,


lugar reservado e fechado a qualquer intervencáo de fora). Seja
observado o mais absoluto segredo da parte dos Cardeais eleitores e
dos seus auxiliares. O local das votacóes há de ser a Cápela Sixtina,
"onde tudo concorre para alimentar a consciéncia da presenca de
Deus, diante de quem cada qual terá que se apresentar um dia para
ser julgado" (Introducáo).

b) O Colegio dos Cardeais da S. Igreja - e táo somente este


Colegio - constituí o corpo de eleitores do Papa. Esta forma foi posta
em discussáo após o Concilio do Vaticano II, quando alguns teólogos
propuseram que participassem do Conclave, na qualidade de eleitores,
Bispos representantes do episcopado mundial. Como se vé, a proposta
nao foi aceita por Joáo Paulo II, que tem autoridade plena para a por

400
COMO É ELEITO O PAPA? 17

de lado, conservando a praxe quase milenaria que atribuí táo somente


aos Cardeais a funcáo de eleitores do Papa.

c) O número de Cardeais participantes do Conclave nao pode ir


além de 120. Mais: os Cardeais que tenham atingido os oitenta anos
de idade até o dia em que a sé pontificia se torna vacante, ficam
excluidos de votar; podem, porém, participar das reunióes
preparatorias do Conclave; e - mais - sao convidados a orientar a
oracáo dos fiéis durante os dias do Conclave, seja ñas Basílicas
Patriarcais de Roma (Sao Pedro, Sao Paulo, Santa María Maior, Sao
Joáo do Latráo), seja em outras igrejas do mundo inteíro. A
Constituicáo UDG muito insiste em que o tempo de vacancia da Sé
Apostólica seja marcado por intensa oracáo de toda a Igreja e os
Cardeais eleitores vivam o Conclave em atitude de prece incessante.

Estas restricóes referentes ao número e á idade dos membros


do Conclave já havíam sido promulgadas por Paulo VI pelo Motu
Proprio Ingravescentem Aetatem (1970) e pela Constituicáo
Apostólica Romano Pontifici Eligendo (1975). Joáo Paulo II as quis
conservar sem retoque.

4. Seguem-se os traeos ¡novadores da Constituicáo UDG. Sao


disposicóes destinadas a agilizar a a cao dos eleitores.

a) No tocante ao alojamento dos Cardeais, nao seráo mais


aqueles que a administracáo vaticana oferecia nos arredores da
Cápela Sixtina, mas seráo os da Domus Sanctae Marthae (Casa de
Santa Marta), edificio recentemente restaurado e ampliado, que fica
do lado meridional da basílica de Sao Pedro (n° 42); o transporte dos
eleitores de tal hospedaría á Cápela Sixtina deverá ser oportunamente
providenciado. Durante os dias do Conclave, a Casa de Santa Marta
e, de modo especial, a Cápela Sixtina, assim como os recintos
destinados as celebracóes litúrgicas dos eleitores, devem ficar
herméticamente fechados as pessoas nao autorizadas. Até o territorio
todo da Cidade do Vaticano e as atividades dos seus escritorios devem
ser governados de tal modo que se garanta a reserva discreta e o
livre desenrolar do procedimento do Conclave (n° 43).

b) A segunda novidade diz respeito á eleicáo propriamente dita.


A Constituicáo UDG exclui duas das tres maneiras de elegeraté nossos
dias válidas:

401
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

- a eleicáo por aclamacáo ou por inspira9áo, segundo a qual


todos os eleitores proclamam espontáneamente o mesmo nome de
candidato;

- a eleicáo por compromisso, segundo a qual acontecía (outrora


apenas e, alias, raramente) que os eleitores, após muitas tentativas
de consenso frustradas, delegavam a escolha do Papa a alguns
membros do Colegio Cardinalício, comprometendo-se a aceitar as
decisóes dessa comissáo representativa. De acordó com Joáo Paulo
II, essa maneira de proceder nao somente é complicada, mas também
"comporta urna certa desresponsabilízacáo dos eleitores".

Por conseguinte, é válida apenas a eleicáo por escrutinio secreto


(n° 62), que só é eficaz quando há convergencia de dois tercos dos
votantes presentes. Diz o texto da Constituicáo: Tal forma propicia
as maiores garantías de clareza, evidencia, simplicidade, transparencia
e, principalmente, de efetiva e construtiva participacáo de cada um
dos Cardeais".

Para agilizar o procedimento, sao previstos quatro escrutinios


por dia: dois de manhá e dois de tarde: "Se algum escrutinio nao
alcanca dois tercos de votos convergentes, o Papa nao está eleito.
Caso, porém, se registrem dois tercos, está efetuada a eleicáo do
Romano Pontífice canónicamente válida" (n° 70).

Em caso de dificuldade para o necessário consenso dos eleitores


sobre algum nome de candidato durante tres dias de escrutinios sem
resultado, é prevista a possibilidade de mais vínte e um escrutinios,
distribuidos por tres blocos, havendo entre um e outro bloco urna pausa
para reflexáo e oracáo. Caso também assim nenhum candidato consiga
a maioria de dois tercos, os eleitores estáo habilitados a definir, por
maioria, um novo modo de proceder; este poderá ser ou o de urna
maioria absoluta em escrutinios subseqüentes, ou poderá ser feita a
escolha entre os dois nomes mais votados no último escrutinio (n° 75). É
claro que os eleitores poderáo também decidir manter a exigencia de
dois tercos dos votos para que haja eleicáo válida.

Todas as cédulas devem ser queimadas após o respectivo


escrutinio. Ao eleito deve-se perguntar se aceita ou nao a eleicáo e,
em caso positivo, qual o nome que deseja assumir (n° 87). Joáo Paulo
II recomenda ao eleito que nao se recuse a aceitar o encargo por
receio da grande responsabilidade anexa, mas "se submeta
humildemente ao designio da vontade de Deus" (n° 86). A Constítuicáo

402
COMOÉELEITO O PAPA? 19

UDG já nao menciona a coroacáo do Papa com a tiara, caída em


desuso sob Joáo Paulo I e Joáo Paulo II.

c) A terceira novidade do documento em foco diz respeito á índole


de retiro espiritual que deve caracterizar o Conclave; trata-se de
discernir a vontade de Deus sob a inspiracáo do Espirito Santo na
oracáo e no recolhimento interior. As celebracóes litúrgicas que
acompanham o Conclave seráo orientadas por um Ordo Rituum
Conclavis (Ritual de Conclave) a ser publicado em breve. Alias, a
Constituicáo UDG inteira acentúa o caráter sagrado da eleicáo de um
Papa, evento que deve ser preparado pela oracáo e vivido dentro do
quadro da prece pessoal, e exige que se disponham "a acolher as
mocóes do Espirito Santo" e agir com isencáo de ánimo e plena
objetividade.

Merecem especial consideracáo as normas referentes ao

2. SIGILO ABSOLUTO A SER OBSERVADO

Em tempos passados os reis e imperadores intervinham


diretamente nos trámites dos Conclaves, emitindo veto ou rejeicáo de
algum candidato. O último caso desse procedimento ocorreu após a
morte do Papa Leáo XIII em 1903, quando o Imperador Francisco José
da Austria, proferiu o veto ao nome do Cardeal Rampolla, ocasionando
a eleicáo do Cardeal de Veneza Giuseppe Sarto, que alias se tornou
o grande Santo Pió X.

Embora em nossos dias já nao haja por que recear tal tipo de
intromissáo, a Igreja sabe que urge manter e preservar o sigilo de
tudo o que se refere á eleicáo de um Papa. Nao se prevé a intervencáo
de reis e imperadores, mas, sim, a pressáo e os condicionamentos
que os meios de comunicacáo social podem exercer. Por isto Joáo
Paulo II quis tornar mais severas ainda as normas relativas ao sigilo
do Conclave, dedicando-lhes, por inteiro, o capítulo quarto da segunda
Parte da Constituicáo (n° 55-61): "A observancia do segredo a respeito
de tudo o que concerne a eleicáo". Entre outras determinacóes,
continua vigente a obrigacáo de que cada Cardeal eleitor antes do
Conclave jure sobre o Evangelho "observar com a máxima fidelidade
e em relacáo a todos os possíveis interlocutores - clérigos e leigos -
o segredo a propósito de tudo aquilo que de algum modo toca a eleicáo
do Romano Pontífice e a respeito do que acontece no local da eleicáo,
relacionado direta ou indiretamente com os escrutinios; ... nao violar
de modo nenhum esse sigilo durante ou após a eleicáo do novo

403
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

Pontífice a nao ser que esse mesmo Pontífice conceda explícita


autorizacáo para tanto" (n° 53). O segredo obriga também os Cardeais
octogenarios que participam das Congregacóes Gerais preparatorias
do Conclave (n° 59; cf. n° 7). A violacáo de táo grave sigilo acarreta a
pena de excomunháo latae sententiae (decorrente do fato mesmo
da violacáo), cuja absolvicáo fica reservada á Santa Sé (n° 58).

A fim de garantir o clima de retiro espiritual e ¡sengáo de


influencias, aos Cardeais eleítor é imposto o dever de nao receber
nem enviar cartas ou mensagens nem por escrito nem por telefone
nem por radio; durante todo o tempo do Conclave é prescrito que nao
leiam impressos cotidianos ou periódicos; nao oucam programas
radiofónicos nem acompanhem emissóes de televisáo; numa palavra,
0 Colegiado de eleitores deve abster-se, por completo, de qualquer
comunicacáo com o mundo de fora do Conclave. A fim de que se
cumpram tais normas, ao Cardeal Camerlengo1 é aos tres Cardeais
Assistentes toca o encargo de vigiar diligentemente, procurando
afastar qualquer intrusáo de aparelho de espionagem; "nao seja, de
modo nenhum, violada a índole secreta de quanto ocorre na Cápela
Sixtina e nos locáis contiguos. Compete também aos mesmos Cardeais
responsáveis pedir a assessoria de dois técnicos de confianca, os
quais certifica rao os eleitores de que "nenhum meio de transmissáo
radiofónico ou audiovisual seja introduzido por quem quer que seja,
nos lugares indicados" (n° 55; cf. n° 61).

O documento termina recomendando, mais urna vez, aos Cardeais


eleitores e nao eleitores, assim como a todo o povo de Deus, que
acompanhem a eleicáo do novo Pontífice com assídua oracáo. Assim
se renovará a experiencia de solidariedade e comunháo da Igreja
nascente. que permaneceu em oracáo incessante enquanto estava
preso S. Pedro, o primeiro Papa; cf. At 12,1. A eleicáo do Papa assim
acompanhada torna-se "urna acáo da Igreja inteira" (n° 84), expressáo
da fé e do senso eclesial de todo o povo católico.

Este artigo muito deve ao de Giovanni Marchesi S.J., que, com o


titulo "Le nuove norme per l'elezione del Papa", foi publicado em La
Civiltá Cattolica 1996, II, pp. 279-288.

1 Camerlengo ó o Cardeal colocado á frente da Cámara Apostólica e encarregado da


administracSo temporal da Santa Sé. especialmente nos periodos de vacancia.

404
Ciencia econsciéncia Ética:

DIGNIDADE DA PROCRIAQAO
HUMANA EM XEQUE

Em síntese: O artigo comenta práticas de reprodugáo humana


artificial e as desastrosas conseqüéncias da't derivadas. Na Inglaterra
o deputado David Amess apresentou ao Parlamento um projeto de lei
que tenta coibir abusos da produgao artificial de embribes, que s§o
congelados á espera do seu destino (adocáo por parte de um casal,
experímentacáo médica, morte...). Tal fato e outros sugerem urna
reflexáo sobre a procríagao humana, que difere da dos animáis
irracionais: supóe o encontró de duas pessoas comprometidas entre
si, que se exprímem, da maneira mais Intima possível, pela genitalidade,
e que tém no filho o espelho e a consolidagao de seu amor. Ademáis
a procríagao artificial, em muitos casos, prejudica o desenvolvimento
normal da prole, pois a priva do direito de ter pai e máe definidos,
reconhecidos e presentes á sua educagáo. Em suma, a sexualidade
humana nao pode ser regida únicamente pelo subjetivismo do homem
e da mulher; ela afeta também a ordem social, á qual deve servir, em
vez de atender egoísticamente aos sentimentos dos individuos.

A ciencia tem progredido, ignorando muitas vezes os limites que


a consciéncia ética impóe ao pesquisador, empolgado pela perspectiva
de conseguir mais poder sobre a natu reza que o cerca. Desta maneira
a ciencia, em vez de servir á dignidade e á fidelidade da pessoa
humana, constituí por vezes urna ameaca ao ser humano; os resultados
de seu engenho se voltam contra ele e constituem serio perigo para a
Familia Humana. Estas reflexóes seráo desenvolvidas ñas páginas
subseqüentes, tomando como ponto de partida um fato recentemente
ocorrido na Inglaterra.

1. INGLATERRA: UM GRITO DE ALARME

A Inglaterra tem praticado a fecundacáo artificial em proyeta nao


só para que casáis esteréis possam vir a ter filhos, mas também para
que a medicina os possa utilizar em experiencias científicas. Em con-
seqüéncia, naquele país contam-se perto de tres mil embrides fecun
dados in vitro e congelados á espera de um destino: adocáo por
parte de um casal, experimentacáo médica ou morte... Acontece que
a conservacáo desses embrides em baixa temperatura acarreta des
pesas elevadas, que nem as instituicóes sanitarias nem os políticos

405
22 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

querem assumir, de modo que tais criaturinhas estáo freqüentemente


fadadas a ser destruidas como se fossem objetos indesejáveis. Entre
1991 e 1994 foram produzidos artificialmente na Inglaterra quase
500.000 embrides, dos quais a maioria foi destruida ou utilizada para
experimentacáo médica; apenas onze ou doze mil sao hoje chancas
em crescimento (crescimento sujeito a anomalías físicas ou psíqui
cas).

Diante de táo aflitiva situacáo o deputado David Amess apresen-


tou ao Parlamento em abril pp. um projeto de lei que póe termo á
prática de congelamento de embrides. Diz o texto respectivo:

"As trágicas conseqüéncias da hibemagáo de embrides sao dei-


xadas no silencio. Nao é evidente a todos que essa técnica tem es-
casso éxito, pois redunda na produgáo de apenas 7 a 10% de crian-
gas vivas... Existem estudos que comprovam os danos que, a longo
prazo, tais críangas oriundas de congelamento e descongeladas so-
frem na sua saúde".

Os membros da Sociedade para a Protecáo das Criancas


Nascituras observam que a própría fecundacáo artificial tem seus in
convenientes para a vida dos casáis esteréis, pois em 80% dos ca
sos a crianfa nao chega a nascer, o que produz efeitos deprimentes
sobre os dois cónjuges. A Sra. Brenda Gerard, pertencente a essa
Sociedade, explica:

"Nos nos opomos á geragao da vida tora das relagóes de cópula


do casal, pois reduz a geragao de urna crianga á produgáo de um
objeto de consumo destinado a satisfazer aos caprichos de homens e
mulheres. O congelamento de embrides é a- prática mais aberrante.
Os tres mil embrides sem pai nem mSe nos colocam um doloroso dile
ma. A lei manda que sejam destruidos dentro de tres meses, mas a
Human Fertilisation and Embryology Authority, que regula a fe-
cundagáo artificial, está promovendo urna campanha entre médicos,
peritos e demais cidadaos, pois é forte a consciéncia, da opiniio pú
blica, de que a destruigSo dos embrides é homicidio de críangas. O
movimento em pro! da vida está hesitante quanto ao destino dos em
brides nao utilizados pelos médicos: alguns querem que sejam entre
gues á morte natural após terem sido balizados, se os doadores das
respectivas sementes vitáis sSo cristSos...".

A Sra. Brenda observa aínda:

"Há pesquisas que provam que os recém-nascidos após fecun-


dagSo artificial correm o risco de deformagdes físicas seja na coluna
vertebral, seja no coragáo; algumas dessas malformagóes podem fi-
car incubadas e só se manifestam durante os primeiros anos da cri
anga. Infelizmente as pesquisas científicas nao sao capazes de pre-

406
DIGNIDADE DA PROCRIAgÁO HUMANA EM XEQUE 23

ver tais surpresas. Um remedio deve passar por centenas de contro


les antes de ser entregue ao comercio, mas no tocante á vida huma
na a experiencia descontrolada parece ser a regra".

Brenda Gerard é reticente no tocante á tramitacáo do proieto de


David Amess:

"O Movimento Pro Vida espera, diz e/a, que nos próximos meses
o projeto de lei seja aprovado pelo Parlamento, mas isto neo será
fácil, dado o volume de bons negocios das clínicas que praticam a
fecundagSo artificial e visto o aproveitamento dos embrides na expe-
rimentagao científica".

Noticias extraídas do jornal Avvenire de Miláo, edicáo de 14/5/


96, p. 2.

2. REFLETINDO...

A procriacáo humana difere da dos animáis irracionais como tam-


bém se diferencia da fabricacáo de produtos de laboratorio. Ora no
caso atrás analisado yerifica-se que a sementé vital humana é trata
da como "coisa",... coisa que se armazena utiliza, promove ou destrói
segundo criterios de biofísica ou bioquímica apenas.

Na verdade, para se entender devidamente a procriacáo huma


na, faz-se mister considerar o que é o ser humano. - Pode-se dizer
que ele apresenta duas dímensóes características e inconfundíveis:
1) ele é único, singular e, ao mesmo tempo, é 2) social ou relacionado
com seus semelhantes. Examinemos de mais perto cada qual destas
duas dimensóes.

2.1. Singularidade da Pessoa Humana

Em meio a todos os demais seres vis ¡veis que o cercam, o ho-


mem é ser único, irrepetível, pois consta de materia (corpo) e espirito
(alma), nao podendo ser reduzido ao plano meramente físico. A este
título, o homem se distingue do cosmos e transcende o universo ma
terial. Quem reduz o homem ao plano meramente material, desligan-
do-o do Transcendental, nao reconhece as normas objetivas que ori-
entam o comportamento humano, mas admite apenas os criterios da
conduta escolhidos pela vontade pessoal ou subjetiva de cada um.
Disto se segué que o uso da sexualidade fica á mercé da liberdade
humana, seja individual, seja sociopolítica; levam-se em conta ape
nas criterios hedonistas, utilitarios ou pragmáticos, com desprezo do
"misterio" da pessoa humana. O uso do sexo (genitalidade) e a fun
gió de procriar sao separadas urna da outra, ficando o uso do sexo
(genitalidade) sujeito aos sentimentos dos respectivos usuarios.

Ao contrario, a sabedoria crista julga que a genitalidade e a fun-

407
24 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

cao de procriar estáo indissoluvelmente associadas entre si. Elas


decorrem do amor,... e do amor pleno, que abraca a pessoa amada
em toda a sua misteriosidade, ou seja, no plano físico e no plano
psíquico-espiritual. Decorrem da doacáo recíproca de esposo e es
posa,... doacáo que frutifica no filho; este é o reflexo vivo do amor de
pai e máe, é o sinal permanente da uniáo de marido e mulher, é a
síntese concreta do compromisso amoroso do esposo e da esposa.
Cada um destes doa ao outro nao tanto as coisas que ele (a) tem,
mas a pessoa que ele(a) é. A pessoa é, na verdade, um todo único',
indivisível, constando de corpo (materia) e alma (espirito). Em conse-
qüéncia, a procriacáo humana nao pode ser reduzida a um ato mera
mente biofisiológico; ela deve emanar da pessoa, que é um todo
psicossomático.

Como se deduz do que foi atrás exposto, as técnicas de reprodu-


cáo artificial dissociam a totalidade da pessoa humana, tornando o
ato conjugal desnecessário, pois é substituido por intervencáo médi
ca; este modo de extrair do homem e da mulher as respectivas se
men tes vitáis assemelha a reproducáo humana á do gado ou á do
animal irracional. Dissociam-se um do outro o componente corpóreo
(as células germináis) e o componente psico-espirítual (o exercício
pessoal da sexualidade). É por isto que a Moral católica se opóe ás
técnicas de fecundacáo artificial, que despersonalizam a procriacáo
humana e acabam explorando ou mesmo manipulando o corpo huma
no, especialmente o da mulher e o da crianca.

2.2. A Pessoa Humana, Nó de Relacoes Sociais

Além de ser único ou singular, o ser humano também é social ou


tendente a se relacionar com seus semelhantes; ele é "para o outro".
Disto se segué que a procriacáo nao é apenas um fato biológico; é
também o fruto de um relacionamento social. A doacáo mutua de ho
mem e mulher, para ser plena, reclama necessariamente a presenca
de um terceiro sujeito, que é a prole; esta faz que marido e mulher
ultrapassem os limites de suas perspectivas pessoais ou do seu ego
ísmo congénito para se encontrarem no amor ao filho que espelha e
consolida o amor de esposo e esposa. Hoje mais do que nunca, bons
autores definem a familia a partir da descendencia ou em funcáo déla.
O casamento sem prole nao chega a constituir familia. Dizer "procria
cáo" é dizer "relacóes que dio origem á familia por exigencia da pró-
pria personalidade humana".

Nao obstante, a tendencia de muitos dentistas e pensadores


modernos é ignorar ou negar o aspecto relacional da procriacáo; ela
é tratada como algo de privado ou mesmo clandestino... como fruto
da decisáo de um individuo ou de um casal ou ainda como um proble
ma biológico de fecundacáo, raramente como um ato que fundamen
ta relacóes sociais.

406
DISNIDADE DA PROCRIAgÁO HUMANA EM XEQUE 25

Somente quem aceita a procriacáo como ato que relaciona os


individuos entre si, pode admitir os direitos e deveres ¡nerentes á
procriacáo; se o filho é a expressáo da mutua relacáo de esposo e
esposa, segue-se que os direitos e deveres dos componentes da fa
milia nao sao absolutos, mas devem levar em conta cada um dos
membros da familia; os direitos dos genitores tém que se harmonizar
com os da prole e vice-versa; e os direitos de cada familia háo de se
harmonizar com os das demais familias.

Quem nao respeita estes dados, corre o risco de solapar a fami


lia, entregando-á dissolucáo e esvaziando os conceitos de paternida-
de e maternidade. "Familia" torna-se um rótulo ou urna etiqueta, como
alias acontece na recente legislacáo brasileira, segundo a qual "a leí
do concubinato dá direito a bens até para casal que nao vive sob o
mesmo teto" e "urna uniáo sem lagos do casamento agora é legal"
(Jornal do Brasil), 14/5/96, p. 5). "Familia" entáo quer dizer regula-
mentacáo de relacionamentos sentimentais desvinculados de qual-
quer compromisso estável; ver Apéndice ás pp. 412s deste fascículo.

Na realidade, a estima da familia vinculada por lacos jurídicos,


que signifiquem amor comprometido, e pela consangüinidade de país
e filhos nao é somente urna expressáo da fé católica; ela decorre,
sim, do direito natural, que todo ser humano pode reconhecer, inde-
pendentemente de qualquer eren9a religiosa. É o Santo Padre Joáo
Paulo II quem o afirma:

"A familia, célula primordial da sociedade, está fundamentada


sobre o direito natural, que une todos os homens e todas as mulhe-
res. E urgente tomar consciéncia deste aspecto... A insistencia da
Igreja sobre a ética do matrimonio e da familia é interpretada de manei-
ra equivocada, como se a comunidade crista quisesse impor a toda a
sociedade urna perspectiva de fé válida apenas para os erantes... Na
verdade, o matrimonio, enquanto uniáo estável de um homem e de
urna mulher que se comprometem ao dom recíproco de si e se abrem
para a geragáo da vida, nao é apenas um valor cristáo, mas é, sim,
um valor oriundo da criagáo. Prescindir desta verdade nao ó proble
ma só para os que tém fé, mas é um perígo para toda a humanidade"
(Ángelus, 20/6/1994).

Em suma, a Moral e o Direito devem estar fundamentados mima


base objetiva, válida para todo ser humano,... base objetiva que é a
natureza humana ou a racionalidade imersa na corporeidade, a fim
de transfigurá-la ou dar caráter transcendental ás próprias funcóes
biológicas do homem e da mulher. Aqui está o cerne da problemática,
atual referente á sexualidade e á genitalidade: conservar-se-á o sen
tido humano da sexualidade e da procriacáo ou reduzir-seráo estas
funcóes ao plano meramente físico-químico?

Neste debate a Moral católica professa que o uso do sexo há de

409
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

ser sempre humanizado e personalizado; em última análise ele vem a


ser a hnguaguem mais expressiva (após a palavra oral) de um eu e
de um tu que se encontram e se complementam. A sexualidade é
sim, o meio mais intimo e humano de comunicacáo e relacionamento
entre um homem e urna mulher. Sao palavras do Santo Padre Joáo

"Como dimensáo inscrita na totalidade da pessoa, a sexualidade


constituí urna linguagem específica a servigo do amor, e nao pode ser
vivida como puro instinto. Há de ser gobernada pelo homem como ser
inteligente e Itvre. Todavía a liberdade humana nao implica que a se
xualidade possa ser manipulada segundo o bel-prazer dos interessa-
dos" (Ángelus, 26/6/94).

"A uniáo dos corpos sempre foi a linguagem mais forte que dois
seres podem dirigir um ao outro. Contudo essa linguagem que toca o
misterio sagrado do homem e da mulher, exige que nunca se prati-
quem gestos de amor sem que estejam asseguradas as condigóes de
urna aceitagao total e definitiva do outro, e sem que o compromisso
seja assumido publicamente no matrimonio" (Discurso aos Jovens em
París, 1/6/1980).

Ao conceito de genitalidade como diálogo de um eu com um tu


opde-se o do egoísmo. Este faz que a genitalidade seja o diálogo do
eu consigo mesmo utilizando o tu alheio. O prof. Polaino propoe a
seguinte fórmula para definir o falso amor egoísta: "Eu para mim mes
mo... através do outro e na medida em que preciso do outro para a
minha plena auto-satisfacáo" (Polaino Lorente, A., Sexo y Cultura,
p. 186). Tal egoísmo é a contrafacáo do amor; na medida em que
instrumentaliza a pessoa, vem a ser um atentado á dignidade huma
na e um golpe desferido contra o próprio fundamento da sociedade.

Em perspectiva crista, a estrutura psicológica e biológica da se


xualidade manifesta a sua intrínseca orientacáo para a comunháo do
homem e da mulher e o nascimento de novos seres humanos. Res-
peitar essa estrutura nao é "biologismo" nem "moralismo", mas é dar
atencáo á verdade do homem e do ser pessoa; cf. Joáo Paulo II,
Ángelus de 26/6/1994.

Em particular consideremos aínda o que se chama atualmente

2.3. Direito a um Filho

Ñas reflexóes sobre procriacáo alega-se freqüentemente o direi


to da pessoa a ter um filho, quando nao por vias naturais (dentro do
casamento), ao menos poryias artificiáis (das quais existem diversas
modalidades). Esta proposicáo merece atencáo.

Na verdade, as técnicas de procriacáo artificial ou, como se diz,


procriacáo assistida, afetam, em muitos casos, o auténtico desen-

410
DIGNIDADEDAPROCRIAQÁOEMXEQUE 27

volvimento da personalidade dos filhos, favorecendo disturbios físi


cos e psíquicos e suas conseqüéncias. Leve-se em consideracáo,
por exemplo, a situacáo de urna crianca que a mié priva do convivió
com o pai desde que a crian9a abre os olhos; tais sao

- o filho nascido de doador anónimo, ao qual se nega o direito


de conhecer seu pai biológico;

- o filho que a tia trouxe em seu seio durante nove meses e deu
á luz num ato de generosidade, que a pode deixar frustrada;

- o filho esbocado pelos genitores, que escolhem o sexo e até


certas características morfológicas do mesmo;

- a enanca obrigada a crescer entre dois homossexuais ou duas


lésbicas.

Qualquer destas situacóes, do ponto de vista pedagógico e


pediátrico, é nociva ao desenvolvimento harmonioso e á adaptacao
social da enanca. Sao palavras de Joáo Paulo II:

"Mediante tais procedimentos o ser humano é defraudado em


seu direito de nascer de um genuino ato de amor e segundo as nor
mas próprias da tramitacéo biológica; desde o principio de sua exis
tencia, ele é marcado por problemas de ordem psicológica, jurídica e
social, que o acompanharáo por toda a vida" (Ángelus, 31/7/94).

Apesar de tudo, os defensores da fecundacáo artificial alegam


que a paternidade biológica é irrelevante; o único fator importante
seria o amor e a atencáo que a cria rifa venha a receber no ambiente
em que é educada. - A esta alegacáo deve-se responder que, para
que a crianca construa a sua própria identidade, nao basta assegu-
rar-lhe amor; é preciso também que se Ihe assinale um lugar em sua
árvore genealógica. Com efeito; engañar urna crianca a respeito de
sua verdadeira procedencia, quando esta é conhecida pela máe da
crianca (e provavelmente pelo companheiro dessa mulher) é urna for
ma de ludibriar permanentemente, que pode tocar as raías do abuso.
Muitos psicólogos denunciam a acáo destruidora que exerce sobre
urna familia a conservacáo de um "segredo de familia", patenteado a
uns e mantido selado para outros. Pode-se perguntar: será que a
crianca é beneficiada quando engañada no tocante á sua verdadeira
origem?

Entre os juristas duas posicóes encontram defensores:

- nos países latinos prevalece a tendencia a guardar o anonima


to do(a) doador(a) da sementé vital, a fim de impedir que a crianca
tome conhecimento da sua ascendencia genética;

411
28 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

- nos países escandinavos e eslavos, a partir da legislacáo sueca


de 1985. dá-se preferencia á revelacáo dos ascendentes genéticos.

Recentemente o Supremo Tribunal de Justica da Holanda pronun-


ciou-se favorável ao direito, das enancas, de conhecer a identidade de
seus ascendentes. O advogado defensor de tal sentenca, Dr. T.
Koopmans, redigiu sua sentenca nos seguintes termos:

"O direito a própría identidade é parte do direito á personalidade; o


conhecimento da própría ascendencia é indispensável ao reconhecimento
da identidade do individuo. O filho que exige o conhecimento de sua
orígem, está exercendo um direito fundamental, embora o direito á per
sonalidade nao conste explícitamente da DeclaragSo Européia de Direi-
tos Humanos nem figure na Constituigáo Holandesa. O direito a conhe
cer a própría ascendencia é reconhecido pela Carta Européia dos Direi-
tos da Críanga".

Tais sao algumas das consideracóes que as recentes noticias da


imprensa sugerem ao cristáo. A grande liberdade atualmente apregoa-
da por pensadores e legisladores modernos fere o ser humano em sua
constituicáo específica, reduzindo-o, nao raro, á condicáo de coisa... e
de coisa explorada comercialmente.

Estas ponderagoes se devem, em parte, ao artigo de Ana María


Vega Gutiérrez: Etica, Legalidad y Familia en las Técnicas de
Reproducción Humana Asistida, em lus Canonicum, julio-diciembre
1995, vol. XXXV, n° 70, pp. 673-728.

APÉNDICE
Segue-se o teor da nova lei sobre o Concubinato, como noticiada
pelo JORNAL DO BRASIL:

UNIÁO SEM LACOS DO CASAMENTO AGORA É LEGAL


Nova lei do Concubinato dá direito a bens até para casal que
nao vive sob o mesmo teto

BRASÍLIA-0 presidente Femando Henrique Cardoso sancionou a


lei que regula menta a uniáo estável entre o homem e a mulher que nao
sao casados no civil e religioso. Conhecida como a Lei do Concubinato,
a Lei 9.278 estabelece que o homem e a mulher precisam apenas de
comprovar a convivencia duradoura, pública e continua para ter direito
á partilha de bens e á heranca. Antes, o homem e a mulher tinham que
ter vida em comum de, no mínimo, cinco anos ou filhos para ter esses
direito s.

A nova lei só vale para as pessoas que tém urna uniáo estável
sem impedimentos legáis, ou seja, tém quer ser viúvas, solteiras, di-

412
DIGNIDADE DA PROCRIAQÁO HUMANA EM XEQUE 29

vorciadas ou separadas judicialmente. De acordó com a lei, os bens


movéis e imóveis adquiridos pelo homem e pela mulher durante a uniáo
estável sao considerados fruto do trabalho e da colaboracáo comum
passando a pertencer a ambos, em partes iguais. Se quiser escapar
a essa regra, o casal deve estabelecer o seu desejo previamente em
contrato escrito. A lei também estabelece que, em caso de separa-
cáo, a pensáo alimenticia pode ser concedica tanto ao homem como
á mulher.

De autoría da ex-deputada Bete Azize, a Lei 9.278 regulamenta o


artigo 226 parágrafo terceiro da Constituicáo que diz que "para efeito
da protecáo do Estado, é reconhecida a uniáo estável entre o homem
eja mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conver-
sáo em casamento". Mas o presidente Fernando Henrique vetou tres
artigos que permitiam que as pessoas registrassem em cartório a uniáo
estável entre um homem e urna mulher.

"A amplitude que se dá ao contrato de criacáo da uniáo estável


importa em admitir um verdadeiro casamento de segundo grau", ar-
gumentou o presidente, na justificativa do veto.

MUDANCASNALEI

Como era antes

• Para ter direito á heranca de bens, o homem e a mulher tinham


que ter urna vida em comum de no mínimo cinco anos ou filhos em
comum.

• O homem e a mulher também precisavam de viver sob o mesmo


teto para ter direito á heranca.

• O processo para requisitar a heranca corría na Vara Comercial


e sem sigilo da Justica.

Como é agora

• Para ter direito á heranca e á partilha de bens, o homem e a


mulher tém que comprovar urna uniáo duradoura, pública e continua.
Nao há mais tempo mínimo nem a necessidade de ter filhos para ter
direito á heranca.

• O homem e a mulher nao precisara mais de viver sob o mesmo


teto para ter direito á heranca.

• O processo para requisitar a heranca corre na Vara de Familia,


assegurado o segredo de Justica.

413
Escándalo na Italia:

'MISTER ABORTO" RECONHECE OS CRIMES

O jornal AWENIRE de Miláo. edicáo de 10/3/96, noticia o caso


de um médico da cidade (bairro de Parco Ravizza), o Dr. S. B.,
designado pela imprensa como "Mister Aborto". - Denunciado por uma
sua cliente, mal sucedida no trato com o Dr. S. B., o médico reconheceu
a prática ilegal e imoral, dando ocasiáo a que a Polícia investigasse a
fundo os seus procedimentos. Eis em síntese o que se lé naquele
periódico:

O Dr. S. B. cometía abortamentos após o terceiro mes de gravidez


- o que na Italia nao somente é imoral, mas também é ilegal. Atendía
a senhoras que Ihe pagavam bem, ou seja de oitocentas mil liras a
um milháo e meio de liras por cada intervencáo. Cometeu 750 abortos
clandestinos em cinco anos. Tinha uma equipe que o ajudava em sua
clandestinidade.

As dependencias dessa clínica sao chamadas pela imprensa "la


bottega degli orrori" (a Loja dos Horrores). Os instrumentos cirúrgicos
utilizados pelo Dr. S. B. eram guardados em uma caixa para sapatos,
sem se observarem as normas de higiene mais rudimentares.
Encontraram-se no frigorífico da clínica provetas com urina ao lado
de alimentos. Também foi descoberto nessa clínica vasto material
pornográfico a ser vendido comercialmente: video-cassetes, revistas,
manifestos, fotografías, símbolos eróticos... Mais: diz o jornal que, em
oito dos apartamentos de que o Dr. S. B. era proprietário, havia
inquilinas que eram prostitutas (verdade é que aborto e prostituicáo
sao coisas diferentes, mas o fato mostra como o desrespeito as leis
da natureza pode chegar a maiores e maiores desatinos).

O Dr. S. B. é um antigo pedicure, que aos quarenta anos de idade


se diplomou em medicina e aos 62 anos se dispós a ganhar dinheiro
de forma clandestina.

Como dito, a denuncia dos crimes cometidos foi feita por uma
jovem filipina, vitima dos desmando do médico. Ela foi procurar o Pronto
Socorro do Hospital San Cario de Miláo em situacáo de emergencia,
pois sofría de grave hemorragia. O motivo era um abortamento
incompleto realizado na clínica de "Mister Aborto" após o terceiro mes

414
"MISTER ABORTO" RECONHECE OS CRIMES 31

de gravidez. Os agentes de saúde do Hospital procuraram chegar á


raíz desse incidente e descobriram finalmente a clínica do Dr. S. B.
Entre outras coisas que resultaram das investigacoes entáo realizadas,
estava o fato de que o médico clandestino possuia naquele momento
tres bilhóes de liras em conta corrente.

Logo que a Policía italiana soube que o Dr. S. B. praticava


abortamentos iiegais em larga escala, resolveu apurar melhor a
questáo, enviando dois agentes policiais dissimulados á clínica;
alegavam que urna senhora precisava de abortar. Respondeu o
médico: "Nao há problema. Isto se resolverá em poucas horas". Diante
de tal resposta os dois policiais se identificaram como tais. Entáo o
sangue gelou ñas veias do Dr. S. B., que teve de reconhecer as suas
práticas iiegais. A Poiícia chamou também algumas das muiheres que
haviam recorrido ao aborto na clínica clandestina, pois também elas
eram condenáveis por burlarem a lei italiana n° 194. Eram sujeitas a
penalidades, que em alguns casos Ihes foram aplicadas e em outros
nao. A clientela de "Mister Aborto" compunha-se de italianas e
estrangeiras; geralmente estas eram clandestinas na Italia,
provenientes das Filipinas e da América Latina.

Foi ainda averiguado que o Dr. S. B. tinha tantas clientes que,


quando nao era capaz de atender a todas, mandava algumas a um
colega vizinho, dos arredores de Miláo, que se prestava a colaborar
com o Dr. S. B. Foram também apuradas as causas de tanta procura
de aborto; os pesquisadores verificaram que muitas das muiheres que
procuravam abortar eram pressionadas ou pelo marido ou pelo
companheiro de concubinato, sendo ás vezes ameacadas de
humilhacáo pelo seu parceiro. Arriscavam a própria vida no abortório
para eliminar a vida de suas criancinhas inocentes.
* * *

Esta historia hedionda, mas real, ilustra o que é a permissividade


abortista. A legalizado do aborto parece algo de humanitario; seria o
alivio prestado á mulher, poupando-lhe os incómodos da gestacáo.
Verifica-se, porém, que o pretenso alivio redunda em exploracáo da
mulher, sujeita ás injuncóes dos homens (parceiros e médicos) que
se aproveitam délas para extorquir-lhes a honra ou o dinheiro e a
liberdade.

A Igreja, consciente de que toda violacáo da lei do respeito á


vida (que é a lei de Deus) acarreta graves males para o ser humano,
opóe-se á legalizacáo do aborto e apregoa a defesa da pessoa humana
contra os interesses do hedonismo, do dinheiro e da manipulacáo.

415
Réplica:

'QUEM NAO PODE TRANSAR,


NAO PODE CASAR"
por Rubem Alves

Alguns leitores solicitaram á nossa revista uma resposta ao artigo


de Rubem Alves "Quem nao pode transar, nao pode casar" publicado
na FOLHA DE SAO PAULO, edicáo de 5/5/96, p. 3. - Já abordamos o
assunto em PR enfatizando que impotencia nao é esterilidade. Rubem
Alves critica a Igreja zombeteiramente na base de uma falsa premissa,
pois confunde impotencia e esterilidade. Na verdade, a Igreja nao se
opoe ao casamento de pessoas esteréis (pessoas que podem realizar
o ato sexual, mas, por um motivo qualquer, nao sao capazes de
fecundidade), mas, sim, opóe-se ao de pessoas que definitivamente
nao podem realizar o ato sexual ou conjugal. A atitude da Igreja é
baseada na própria nocáo natural de matrimonio; este nao é apenas
convivencia amiga de um homem e uma muiher, mas é a formacao da
célula fundamental da sociedade, célula que é familia, com pai, máe
e filhos. No casamento o esposo e a esposa se complementam em
todos os planos - no psíquico e no físico. Se nao é possível a
complementacáo física, haja convivencia casta do homem e da muiher
que se querem apoiar e ajudar mutuamente, vivendo sob o mesmo
teto.

O próprio Deus, ao instituir o matrimonio, preceituou: "Sede


fecundos e prolíficos; enchei a térra e dominai-a" (Gn 1,28).

O artigo de Rubem Alves exige ainda a seguinte observacio: a


Igreja é contraría ao que, na giria, se chama transar, pois isto supóe
libertinagem sexual. A Moral católica apregoa a castidade pré-nupcial:
o amor do jovem e da jovem deve ir desabrochando até chegar á
consumacáo no matrimonio, quando a uniáo se toma estável e apta
para conceber e educar a prole decorrente do consorcio sexual. Antes
do matrimonio, nao há compromisso definitivo dos dois jovens entre
si, de modo que falta a condicáo indispensável para que possa haver
contatos sexuais; estes, por sua própria índole, podem levar á
fecundidade e á prole. Esta precisa de pai e máe firmemente
comprometidos para realizarem a obra educacional de seus filhos.

Abaixo transcreveremos o final do artigo de Rubem Alves, ao qual

416
"QUEM NAO PODE TRANSAR, NAO PODE CASAR" 33

se seguirá um comentario, assaz duro, do Pe. Paschoal Rangel ao


mesmo, extraído do jornal O LUTADOR, edicáo de 19 a 25 de maio de
1996, pp.1 e 2.

Escreve Rubem Alves:

"Prazer, ternura, alegría, que normalmente associamos ao ato


sexual, segundo o doutor da igreja,1 nao pertencem á sua esséncia.
O propósito do sexo nao é a realizacáo da felicidade humana, mas a
realizacáo da demografía divina.

Essa idéia de sexo como maquineta de fazer enancas me é


repulsiva. Só podem té-la aqueles que nao leram os "Cánticos dos
Cánticos", livro táo sagrado e canónico quanto os evangelhos. Nao
existe naquele livro urna única sugestáo de que sexo seja para procriar.
Ali, sexo é só para a alegría do amor. Claro, a igreja se livrou do
incómodo transformando o poema erótico numa alegoría do amor de
Cristo pela igreja. Foi bom que o bispo tivesse falado. Assim todos
puderam ver com clareza a doutrina da igreja sobre o sexo e o
casamento: casamento nao é para amar. Casamento é para transar.
Quem nao pode transar nao pode casar."

Rubem Alves, 62, educador, escritor e psicanalista, doutor em


filosofía pela Universidade de Princeton (EUA), é professor emérito
da Unicamp Estadual de Campiñas.

Responde o Pe. Paschoal Rangel:

"CASAMENTO, AMOR E TRANSA

Rubem Alves, ex-pastor presbiteriano, ex-teólogo, ex-professor


da UNICAMP, psicanalista divertido, "avec sa logique amusante",
escritor que, de vez em quando, como aconteceu agora na Folha de
S. Paulo de 5/5/96, p. 3, se mete a falar de coisas que nao chega a
entender...

Ele nao entendeu, por ex., por que um casamento em que é


impossível copular, nao é casamento de verdade; com isso,
transformou o sexo em transa e pos essa bobagem, por sua conta e
risco, na boca da Igreja, que nunca ensinou tal geringonca; nao
entendeu tampouco que impotencia sexual nao se confunde com
infertilidade ou incapacidade de gerar; nao sabe mais (já ex-teólogo)

1 S. Agostinho, no contexto (N.D.R.).

417
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

que nao é a Igreja que insiste em que o pecado original foi urna
desordem sexual, e sim a exegese da sacanagem anticlerical; que a
influencia de S. Agostinho sobre a moral sexual da Igreja é ¡negável,
mas nao é nem táo negativa, nem táo exclusiva de outras influencias,
e um de seus melhores e mais famosos discípulos, o franciscano s'.
Boaventura, fala do casamento de um modo admiravelmente positivo
á lur do amor unitivo, sem se fixar apenas na procriacáo como
justificativa da vida conjugal.

Quando a Biblia afirma que, casado, o homem deixará pal e máe


e se unirá á sua mulher e seráo os dois urna só carne; todas as
vezes que as Escrituras comparam o amor de Deus para com o homem
com o amor do esposo á esposa (e nao apenas no Cántico dos
Cánticos); quando S. Paulo relaciona o amor, no casamento, com o
amor de Cristo á sua Igreja; nesses momentos todos, a fé nos está
mostrando que casar nao é transar, até porque transa é descompromisso,
é sexo sem amor, é brincar com o sexo e tentar um prazer sem
conseqüéncias, com todas as conseqüéncias que vém dessa
inconseqüéncia irresponsável.
*

Mas, por outro lado, o casamento nao é um amor sem sexo, pelo
menos normalmente. Porque os dois se tornam urna só carne. A uniáo
matrimonial é também, por natu reza, de carne. Há lindos comentarios
de teólogos católicos sobre a expressáo "una caro" = "urna só carne".
Lamento que Rubem Alves nao tenha levado a serio a doutrina da
Igreja e nao tenha percebido o quanto está sendo injusto com a Igreja
Católica, que jamáis defendeu sexo sem amor...

O prazer nao pode ser um fim em si. Pode até justificar-se como
meio, como caminho para algum fim1. No caso do prazer sexual, se
sua busca e fruicio se transforman! num fim em si mesmo, dá-se urna
subversáo dos valores crístáos. Nao é necessário, de modo absoluto,
que a finalidade da uniáo sexual seja exclusivamente a geracáo de
filhos (e, de fato, nunca foi.isso que a Igreja, seja a Igreja oficial, seja
a Igreja pelos seus melhores doutores, jamáis ensinou). Desde Paulo,
táo mal compreendido por alguns desafetos da sua época e de todas
as épocas, a Igreja repete que o sexo, a fruicáo do prazer sexual se
justifica, no casamento, como urna forma de saciacáo humana que

1 A Moral católica condena a procura do prazer pelo prazer - o que redunda em


hedonismo materialista e epicurismo. Todavía e/a aceita o prazer como meio
de recreagáo ou restauracáo das torgas ou aínda como estímulo para que o
homem realizo certas fungóos naturais como sao a conservagáo do individuo
(pela alimentacáo) e a conservagáo da especie (pela procriagéo). (N.D.R.).

416
"QUEM NAO PODE TRANSAR, NAO PODE CASAR" 35

pode trazer a paz interior, o equilibrio e pacifica9áo das paixóes, dos


apelos e desejos carnais. Mais que isto, porém, o prazer sexual, vivido
entre esposos, aprofunda a uniáo conjugal, ajuda o amor a crescer,
pode e deve ser urna expressáo do dom de si ao outro e do desejo de
se entregarem mutuamente para ser urna só carne e até - por que
nao? -simbolizar e manifestar melhor a totalidade de urna especie de
"ofertorio" de Cristo á sua Igreja e da Igreja a seu Cristo...

Se, decididamente, um casal excluísse de suas intencóes a


vontade, qualquer idéia, qualquer possibilidade de ter filho, ele estaría,
querendo ou nao, impossibilitando essa "coisa" chamada "casamento".
Faz parte da natureza mesma do casamento estar aberto á procriacáo.
Aínda que os cónjuges possam, por motivos serios e cristáos,
programar, planejar o nascimento e o número de filhos que,
responsavelmente,1 possam ter, deve manter-se a abertura ao filho
que vier ou que se pretende que venha. Nao se trata de que todo ato
conjugal, cada ato singular seja procriativo, pois isso, até hoje, seria
praticamente impossível; nao se trata de tornar todos os atos
conjugáis fecundos, de tal modo que, quando a procriacáo é
impossível, nao seja permitido ao casal ter relacóes sexuais. Nada
disso. Trata-se de estar sempre em estado de disponibilidade, de
abertura para a geracáo da vida, se, mesmo contra as previsóes, ela
vier a acontecer.

E nao se trata de tornar cada ato conjugal singular fecundo, pois


nao é exclusivamente para a procriacáo que a relacáo sexual se dá.
É também para alimentar o amor, para reavivar e fazer crescer a uniáo.
E isto, de certo modo, é mais essencial aínda que a geracáo de filhos,
como vimos há pouco".

1 A Igreja neo ó contraria ao planejamento familiar ela o preconiza, como pre


coniza a paternidade responsável. Apenas ela pede, em nome do Criador, que
nao se violem as leis da natureza; dal a recusa dos métodos artificiáis de limita'
cSo da prole, em favor da continencia periódica; a natureza mesma 6 estéril na
maior parte dos dias do mes, oferecendo aos cónjuges a ocasiSo de cópula sem
conseqdéncias prollficas. (N.D.R.).

419
Sarcasticamente agressivo:

'POR QUE MARÍA CHORA? "


porJ.T.C.

Em síntese: O opúsculo "Por que María chora?" responde a esta


interrogagáo alegando tres causas para tanto: María é chamada "M§e
de Deus"; é tt'da como imaculada; é invocada como intercessora. Por
último o autor quer derivar a devogao a María SSma. de cultos pagaos
á Rainha do céu. - O livreto é tendencioso e superficial; interpreta
os textos bíblicos de maneira preconcebida. Quanto ao culto de
Semíramis, figura lendária que J. T. C, diz ser o prototipo da Virgem
SSma., está longe de qualquer semelhanga com Nossa Senhora. De
resto, a veneragáo a María SSma. é muito anterior ao ano de 300
(data proposta pelo autor para o surto da devogSo), pois S. Ireneu, S.
Justino e S. Inácio de Antioquisjá no sáculo II (S. Inácio morreu em
107) atestavam essa estima profunda pela segunda Eva, que resgatou
o papel da primeira Eva, seguidora do anjo mau.
* * *

O protestantismo tem espalhado ¡mpressos diversos, que atacam


as verdades da fé católica, nao raro em estilo sarcástico; nao recusam
a imprecisáo ou mesmo alegacóes falsas, no intuito de destruir a
piedade do povo católico. Entre outros, está o panfleto "Por que María
chora?", da autoría de J.T.C. É impresso nos Estados Unidos com a
rubrica PORTUGUESE 834/d e distribuido em Sao José dos Campos
(SP). O autor repete clássicas objecóes já freqüentemente refutadas
pelos católicos e, no final, pretende identificar o culto de veneracáo a
María SSma. com o culto de urna deusa do paganismo. O opúsculo
bem atesta a ignorancia cega do respectivo autor, que parece mais
odiar a fé católica do que amar a verdade; como quer que seja, pode
impressionar o leitor despreparado. Daí a conveniencia de Ihe
fazermos algumas considerares.

1. O CONTÉUDO DO OPÚSCULO
Podem-se distinguir duas partes nesse livreto. A primeira pretende
explicar por que María chora, e aponta tres razóes para isto: a) chamam
na "Máe de Deus"; b) ensinam que ela nao tem pecado; c) oram a ela
como intercessora. A segunda parte do opúsculo alega que a devocáo
a María SSma. é mero sucedáneo do culto a urna deusa da Babilonia
chamada Semíramis; terá sido promovida por Satanás a partir do ano
de 300, quando "surgiu o Catolicismo Romano"; para "prová-lo", o
autor cita pretensos fatos colhidos na historia das religióes de maneira
superficial e pouco científica.

420
"POR QUE MARÍA CHORA?" 37

Consideremos as alegajes de J.T.C.


2.ARESPOSTAAJ.T.C.
2.1. A Maternidade Divina

Lé-se no opúsculo: "Maria chora porque os homens a chamam


Mae de Deus. Cristo e divino, sou apenas humana... Eu fui escolhida
como vaso para trazé-lo na forma de homem. Mas Cristo era Deus
antes mesmo que eu nascesse'".

Como se vé, o autor ridiculariza a expressáo "Máe de Deus"


entendendo que se trata de Deus em sua eternidade. Está claro qué
ninguém é anterior a Deus, de modo a poder ser chamado "Máe de
Deus" na eternidade.

Quanto á alegacáo de que Cristo é divino e Maria é apenas


humana, pode-se dizer que é verídica, mas exprime urna semiverdade.
Com efeito, Cristo é divino, como Deus-Filho, mas também é humano
Ele chorou sobre Lázaro (cf. Jo 11,35), sobre Jerusalém (cf. Le 19,41);
sentiu fome, sede, cansaco... Isto decorre do fato de que Deus Filho,
na plenitude dos tempos, quis assumir a natureza humana no seio de
Maria SSma. (J.T.C. diz que Maria foi "o vaso que trouxe Jesús na
forma de homem"). Pergunta-se entáo: quem nasceu de Maria SSma.?
- Deus Filho feito homem ou revestido da humanidade que María
SSma. Ihe transmitiu na qualidade de Máe. Por isto pode-se e deve-
se dizer que María é verdadeira Máe de Deus, nao de Deus em sua
eternidade (María é criatura de Deus), mas é Máe de Deus feito homem
no tempo. Ela exerceu o verdadeiro papel de Máe desde que ela
concebeu do Espirito Santo e foi recoberta pela sombra do Altíssimo.
Disse o anjo Gabriel a María: "O Espirito Santo viré sobre ti e o poder
do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isto o Santo que nascer
de ti, será chamado Filho de Deus. Ele será grande e será chamado
Filho do Altíssimo" (Le 1,35.32). Destas palavras conclui-se que
María é realmente a Mae do Filho de Deus que entrou em seu seio e
quis ser gestado como homem durante nove meses para nascer de
Maria na qualidade de Deus feito homem. Daí o título Theotókos,
que desde o século III é atribuido a Maria SSma.; já se encontra nos
escritos de Orígenes de Alexandria (t 250).

Com outras palavras: toda máe é máe de urna pessoa. Qual é a


pessoa que nasce de María?-A segunda Pessoa da SSma. Trindade,
3ue déla assumiu a carne humana. Máe, porém, nao é máe apenas
a carne humana, mas de toda a realidade do seu filho. Ora o Filho
de María tinha urna só Pessoa, um só Eu (divino). Daí dizer-se que
María é Máe de Deus, nao enquanto Deus sem mais, mas enquanto
Deus feito homem. Alias nao se pode esquecer (e é o que fazem os
protestantes) que o título Theotókos (Máe de Deus) foi definido pelo
Concilio ecuménico ou universal de Efeso em 431; essa definicáo
resultou de longas reflexoes sobre o patrimonio da fé. A Igreja assumiu
conscientemente, como sua doutrina oficial, a profissáo de fé na
Maternidade Divina de María, profissáo já encontrada em fórmulas do
século III.

421
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

De resto, faz-se oportuno aínda citar Le 1,43: Isabel chama María


"Máe do meu Senhor". Ora Senhor traduz a palavra grega Kyrios e a
palavra Kyrios traduz o hebraico Javé. Donde se deve entender que
Isabel se refere a María SSma. como sendo a Máe de Javé ou "a Máe de
meu Deus", pois Javé é o nome de Deus no Antigo Testamento. Vé-se,
pois, que o título Míe de Deus nada tem de pagáo, mas é genuinamente
bíblico.

2.2. A Imaculada Conceicáo

Continuando a perguntar: "Por que María chora?", J.T.C. responde:


"Porque os homens ensinam que ela nao tinha pecado". - Que dizer?
a) É certo que somente Jesús nao teve nem pecado nem o débito
do pecado; Ele era Deus e nao poderia ser sujeito de pecado; sería urna
contradicáo. María nao era Deus; era filha de Adáo; por isto ela teve o
que se chama "o débito do pecado"; ela devia nascer com o pecado
original, ou seja, sem a graca santificante, como todos os homens e
mulheres nascem. Mas ela foi remida por Cristo, e os méritos de Cristo
Salvador foram-lhe anticipadamente aplicados, de modo que o débito
do pecado nao se atualizou ou transformou em pecado. Desta maneira
María nao é igual a Cristo nem a Deus; é urna criatura remida por Cristo;
ela judo deve a Jesús, mas, em vista do papel de Máe de Deus que ela
devia desempenhar, ela foi preservada do pecado original logo que
concebida, ao passo que os demais seres humanos sao purificados do
pecado original mediante o Batismo.

b) A propósito seja recordado o que se entende por "pecado original".


O pecado original, na enanca, nao é um pecado propriamente dito;
nao é um ato consciente e voluntario de desobediencia a Deus. É, sim, a
ausencia dos dons gratuitos que nossos primeiros pais receberam no
inicio da historia e perderam por soberba e desobediencia; deviam ter
guardado esses dons (graca santificante, ausencia de concupiscencia,
ausencia de dor e de morte violenta...); deviam té-Ios guardado para os
transmitirá seus descendentes; todavia perderam-nos porque cometeram
um verdadeiro pecado de revolta contra Deus; este é o pecado original
originante. Tal perda redunda em que nascemos privados da graca
que deveriamos receber dos primeiros pais; é essa falta da graca
santificante que se chama pecado original originado. Como dito, na
crianca nao é um pecado propriamente dito, pois nao é urna falta
consciente e voluntaria. É mero efeito da solidariedade que existe entre
os membros da mesma familia ou, no caso, da grande familia humana.
Ora a fé ensina que María nao nasceu privada da graca santificante,
mas foi concebida como criatura portadora da graca.
c) Merece atencáo aínda o fato, citado por autores protestantes, de
que o dogma da Imaculada Conceicáo só foi definido por Pió IX em
1854. Na tradicáo crista tres grandes Santos e Doutores nao aceitaram
a proposicáo da Imaculada Conceicáo, a saber: S. Anselmo de
Cantuária (t 1109), S. Bernardo (t 1153) e S. Tomás de Aquino (t 1274).
Por que nao a aceitaram?

422
"POR QUE MARÍA CHORA?" 39

Eis a resposta. Nos séculos XII e XIII nao fora definido o dogma
da Imaculada Conceicáo; era assunto livremente discutível pelos
teólogos, de modo que os mencionados santos nao ¡ncidiram em
heresia, quando negaram a Imaculada Conceicáo. Foi somente no
século XIV, depois de S. Tomás, que um franciscano, Joáo Duns Scotus
(t 1308) encontrou a fórmula exata para conciliar a Imaculada
Conceicáo de María com a redencáo universal realizada por Cristo.
Joáo Duns Scotus afirmou que María foi remida, sim, por aplicacáo
antecipada dos méritos de Cristo. Tal fórmula foi aceita pela Igreja e
abriu o caminho para que o Papa Pió IX proclamasse o dogma da
Imaculada Conceicáo em 1854, confimando a fé do povo de Deus
professada desde remotas épocas.

2.3. Veneracáo de Maria Santíssima


O autor do opúsculo alega aínda: "María está chorando por causa
das multidóes de engañados que a visam como intermediaria... E
eles oram a ela... A Máe de Deus que os católicos adoram, nao é a
Máe da Biblia".

Já se tem dito repetidamente que os católicos nao adoram Maria


SSma., mas a veneram. Adorar é reconhecer a absoluta soberanía
de alguém - o que só se pode fazer frente a Deus. Venerar é
simplesmente honrar, reverenciar - o que se faz em toda familia e em
toda comunidade em relacáo aos grandes vultos do passado; ora María
Santíssima é certamente, dentre todas as criaturas que seguiram o
Cristo, a mais digna de reverencia e veneracáo.

Quanto á intercessáo de Maria em favor dos homens, note-se o


seguinte:

Partimos do fato de que nao existe graca meramente individual


ou graca dada a um individuo para esse individuo apenas. Toda graca
tem valor comunitario, pois pertencemos todos a urna grande familia,
na qual quem se enriquece de bens espirituais, enriquece a familia
inteira. Como?

Nao há dúvida de que "só existe um Mediador entre Deus e os


homens, o homem Cristo Jesús, que se deu em resgate por todos"
(1Tm 2,5). Salva esta verdade, verificamos que desde o Antigo
Testamento Deus quis chamar homens e mulheres para levar a termo,
como mediadores, a salvacáo destinada a todo o povo. O título de
mediador é explícitamente aplicado por Sao Paulo a Moisés em Gl
3,19: "foi mediador da Lei", mas também mediador da saída do Egito,
da Alianca, e intercessor em favor do povo; cf. Ex 32,11 s. 31-34. Foram
também chamados a exercerum ministerio de mediacáo: Abraáo, que
intercedeu pelas cidades depravadas (cf. Gn 18,22-32); os levitas,
que ofereciam o sacrificio pelo povo e pediam para este a béncáo do
Senhor (cf. Nm 6,22-27); os profetas portadores da Palavra de Deus
e intercessores em favor do povo (cf. 1Sm 7,7-12; 12,19-23; Am 7,1-
6; Jr 15,1...).

423
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

Assim também no Novo Testamento, os cristáos sao chamados a


interceder uns pelos outros (cf. 1Tm 2,1-4), a fim de que cheguem ao
conhecimento da verdade e se salvem; Deus quer salvar uns mediante
os outros. "Urna alma que se eleva, eleva o mundo inteiro" (Joáo Paulo II,
Exortacao sobre Reconciliacao e Penitencia n° 16). Nao tém valor
as palavras de Caím, que perguntava se era guarda do seu irmio, como
quem se isenta de responsabilidade (cf. Gn 4,9). Essa mediacáo, longe
de negar ou diminuir a intervencáo singular do Filho de Deus, póe-na
em evidencia; é por efeito da mediacáo sacerdotal e única de Cristo que
o cristáo pode fazer algo em prol do seu irmáo. O Senhor exerce sua
mediacáo servindo-se daqueles que Ele livremente quer associar á sua
obra em favor dos homens.

É sobre este paño de fundo que se coloca a intercessáo materna


ou medianeira de María em favor dos homens peregrinos.
_ A funcáo de intercessora, que cabe a todo cristáo em prol dos seus
irmáos, toca a María de modo especial, pois ela ocupa um lugar único na
Comunháo dos Santos; é a Máe do Redentor e, por extensáo, Máe de
toda a humanidade, que Jesús Ihe confiou pouco antes de morrer; cf. Jo
19,25-27. Como toda máe na familia desempenha urna funcáo peculiar,
María a desempenha na Igreja. O fundamento dessa funcáo é a relacáo
de María com Jesús, relacáo que nao se limita ao individuo Jesús Cristo
(pois este nunca existiu senáo em funcáo da humanidade pecadora),
mas se estende ao Cristo total (Cabeca e membros do Corpo Místico,
Redentor e remidos, Cristo e Igreja). É o Concilio Vaticano II que o diz:
"Um sóéo nosso Mediador segundo as palavras do Apostólo: 'Porque
há um só Deus, também há um só Mediador entre Deus e os homens, o
homem Cristo Jesús, que se entregou para a redengao de todos' (1Tm
2,5s). Todavía a materna missSo de María em favor dos homens de modo
nenhum obscurece ou diminuí a mediagao única de Cristo, mas até
manifesta a sua eficacia. Com efeito; todo o salutar influxo da Bem-
aventurada Virgem em favor dos homens... se origina do divino
beneplácito. Decorre dos superabundantes méritos de Cristo, repousa
na mediagSo de Cristo; déla depende inteiramente e déla tira a sua forga.
De modo nenhum impede, mas até favorece, a uniSo ¡mediata dos fiéis
com Cristo" (Constituigáo Lumen Gentium n° 60).
O S. Padre Joáo Paulo II dizia o mesmo aos 12/12/1981,
comemorando o 450° aniversario das aparicóes de Nossa Senhora de
Guadalupe:
"A maternidade espiritual de María sobre todos os homens está
intimamente unida á maternidade divina. Com efeito, na devogáo em
Guadalupe aparece, desde o inicio, o trago característico que os pastores
sempre incutiram e os fiéis sempre viveram com firme confianga. É um
trago apreendido por quem contempla María em seu papel singular dentro
do misterio da Igreja, derivado da sua missSo de Máe do Salvador.
Precisamente porque ela aceitou colaborar livremente com o plano
salvífico de Deus, Ela participa de maneira ativa, unida a seu Filho,
na obra da salvagáo dos homens".

424
"POR QUE MARÍA CHORA?"

Com outras palavras aínda: se durante a sua vida mortal Mana teve
como missáo cuidar de Jesús, guiá-lo e orientá-lo, atualmente este cuidado
se volta, de maneira própria ao seu estado glorificado, em favor do resto
do Cristo total ou em favor dos membros do Corpo Místico de Cristo que
aínda peregrinam na térra. Poristo a Igreja a interpela como intercessora
ou como Maternidade orante e a contempla como a imagem da
consumagáo que esperamos alcangar".

O Antigo Testamento alias apresenta um caso explícito de intercessáo


de fiéis que passaram para o além, em favor de seus irmáos
remanescentes na térra. Encontra-se em 2Mc 15,12-14: Judas Macabeu
tem a visáo de Onias, "que fora Sumo Sacerdote,homem honesto e bom,
modesto no trato e de caráter manso, desde a infancia exercitado em
todas as práticas da virtude; ... estava com as máos estendidas,
intercedendo por toda a comunidade dos judeus. A seguir, apareceu
um homem notável por seus cábelos brancos e pela dignidade, sendo
maravilhosa e majestosíssima a superioridade que o circundava. Tomando
a palavra, disse Onias: 'Este é o amigo de seus irmáos, aquele que
muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremías, o profeta
de Deus".

2.4. Semíramis, a Rainha do Céu

J. T. C. vai buscar na Babilonia as origens do culto de veneracáo


tributado a María SSma.: Semíramis, "lindíssima feiticeira, se tomou a
rainha da Babilonia e se casou com Ninrode... Satanás os usou para
criar urna seita diabólica táo poderosa que se espalhou pelo mundo inteiro;
multidóes passaram a ver Semíramis como a sua deusa-máe... Quando
surgiu o catolicismo romano cerca de 300 anos após Cristo, os líderes
sabiam que, se pudessem adotar a adoracáo da deusa-máe no seu
sistema religioso, ... entáo pagaos incontáveis se converteriam ao
Catolicismo.

Mas quem poderia tomar o lugar da Grande Máe dos Pagaos?

María, a máe de Jesús, era lógicamente a pessoa certa. Pouco a


pouco a adoracáo dessa paga foi transferida a María".

Que dizer a propósito?

- Os melhores Dicionários sao sobrios em relacáo a Semíramis.


Eis, por exemplo, o que escreve a Encyclopaedia Britannica, vol. 20,
p. 314:

"Semíramis (800 a. c), famosa princesa assíria em tomo da qual


muitas lendas se acumularam. Estas dizem o seguinte:

Semíramis era a filha da deusa-peixe Atargatis de Ascalon na Siria,


e foi milagrosamente preservada por pombas, que a alimentaram até
que foi encontrada e levada por Simmas, o pastor regio. Depois que
e/a se casou com Onnes, um dos Generáis de Ninus, este ficou táo
impressionado com a bravura e coragem dajovem que resolveu toma-

425
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

la em matrimonio depois que Onnes se suicidou. Ninus faleceu; entao


Semíramis Ihe sucedeu no poder, e atravessou todas as regióes do
imperio, fundando cidades grandes (especialmente Babilonia) e
constmindo monumentos estupendos ou abundo estradas pormontanhas
agrestes. Só foi infeliz quando quis atacar a india. Finalmente, após um
reinado de quarenta e dois anos, entregou o reino ao seu fílho Ninyas, e
desapareceu ou, de acordó com o que parece ser a forma original da
lenda, e/a foi transformada em pomba e daí por diante, adorada como
divindade".

O Dictionnaire Encyclopédique d'Histoire, por Michel Mourre,


nouvelle édition, volume Q-S, pp. 4251 s, traz a seguinte noticia:

"Semíramis foi urna rainha iendéria da Assíria. Segundo tradigóes


da Pérsia, referidas por Ctesias e Diodoro da Sicilia, ela foi a esposa do
reí Niños e, após a morte deste, governou a Assíria durante quarenta e
dois anos. Ela subjugou a Armenia, o Egito, a Arabia, urna parte da Libia
e da Etiopia e toda a Asia até o rio Indus. Atribuem-lhe também a fundagSo
de Babilonia e dos famosos jardins suspensos desta cidade. A lenda de
Semíramis terá sido inspirada pela rainha assíria Samuramat, que
realmente existiu e foi regente durante a menor idade de seu fílho Adad-
Nidari III, de 810 a 805 a. C".

Como se vé, o autor do panfleto vai procurar urna origem muito


artificiosa ou fantasiosa para a veneracáo de María SSma. Os bons
historiadores sao sobrios em relacáo a Semíramis, em vez de a apresentar
como Rainha-Máe adorada por todos os povos do Oriente. Alias, os
escritos de J.T.C. procuram na mitología a origem de práticas católicas,
sempre de maneira superficial e preconcebida. Na verdade, é muito
compreensível que a partir das próprias prerrogativas de María apontadas
pelo Evangelho, se tenha desenvolvido a veneracáo á Santa Máe de
Deus. Longe de a adorar, os fiéis católicos reconhecem a grandeza única
que Ihe cabe em virtude da sua funcáo de Máe de Deus,... Máe que
Jesús quis fosse também a Máe dos homens (Jo 19,25-27). De resto, a
devocáo a Maria SSma. nao comecou em 300, "quando surgiu o
Catolicismo Romano"; temos indicios de veneracáo a María nos fins do
século I ou no comeco do século II, quando S. Inácio de Antioquia (f 107)
escreveu:

"Nosso Deus, Jesús Cristo, tomou carne no seio de Maria segundo


o plano de Deus...

Permaneceu oculta ao principe deste mundo (cf. Jo 12,31; 14,30) a


virgindade de Maria e seu parto, como igualmente a morte do Senhor,
tres misterios de grande alcance, que se processaram no silencio de
Deus" (aos Efésios n° 18 e 19).

Embora S. Inácio combata os docetas, que negavam a realidade


plenamente humana do corpo de Jesús, nao deixou de afirmar o modo
singular como essa humanidade foi concebida e nasceu: a Máe de Jesús
foi Virgem. - O santo julga que este misterio ficou oculto ao demonio,

426
"POR QUE MARÍA CHORA?" 43

como haviam de pensar outros escritores antigos. Por falta de dados


mais precisos referentes ao demonio, nao nos é possível aprofundar a
afirmacáo de Inácio sobre esse "silencio de Deus".

Sao Justino (t 165) desenvolve o paralelismo entre Eva e María


SSma. A primeira Eva foi recapitulada pela segunda Eva, que resgatou o
papel de Eva; esta deu crédito ao anjo mau, ao passo que María acreditou
no anjo Gabriel:

"Fezse homem, por meio da Virgem, a fím de que o caminho que


deu origem á desobediencia instigada pela serpente, fosse também o
caminho que destruiu a desobediencia. Eva era virgem e incorrupta;
concebendo a palavra da serpente, gerou a desobediencia e a morte. A
Virgem Mana, porém, concebeu fé e alegría quando o anjo Gabriel Ihe
anunciou a boa nova de que o Espirito do Senhorviria sobre ela, a Forga
do Altíssimo a cobriría com sua sombra, de modo que o Santo que déla
nasceria, seria o Filho de Deus. Entáo respondeu ela: 'Faga-se em mim,
segundo a tua palavra'. Da Virgem, portento, nasceu Jesús, de quem
falam tantas Escrituras... aqueie por quem Deus destrói a serpente"
(Diálogo 100, 4-5).

S. Ireneu (f 202) retoma o tema da recapitulado, atribuindo a María


o mesmo papel de resgate da atitude pecaminosa da primeira Eva:

"Da mesma forma que aquela (Eva) foi seduzida para desobedecer
a Deus, esta (María) se deixou persuadir a obedecer a Deus para ser
ela, a Virgem María, a advogada de Eva. Assim o género humano ,
submetido á morte por urna virgem*; foi déla libertado por urna Virgem,
tornándose contrabalangada a desobediencia de urna virgem pela
obediencia de outra" (Contra as Heresias V 19).

S. Ireneu usa o conceito de recirculacáo, ao lado de


recapitulacáo, entendendo-o do seguinte modo: o pecado cometido
ñas origens da historia é apagado mediante um circuito contrario: Cristo
retorna a Adáo e dá ao Pai o Sim que o primeiro Adáo Ihe recusou; a
cruz toma o lugar da árvore da queda; María faz Eva re vi ver
auténticamente o papel de "Máe da Vida". Eis como, em outra passagem,
S. Ireneu expóe a re-circulacio:

"Por conseguinte,... encontrase María, Virgem obediente... Eva,


aínda virgem, fezse desobediente e tornouse para si e para todo o
género humano causa de morte. María, Virgem obediente, tornouse
para si e para todo o género humano causa de Salvagao...A partir de
María até Eva há retomada do mesmo circuito (= a recirculagSo). Pois
nao existe outro modo de desatar o nó se nao fazer que os fios da corda
que deu o nó, percorram o sentido contrarío...

1 Virgem, porque só depois do pecado ó que o texto sagrado narra que ela teve
retacees com Adáo. Como se vé, S. Ireneu se ateve estrítamente á letra do texto
bíblico. (N.D.R.).

427
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

Eis por que Lucas inicia a genealogía de Jesús comegando pelo


Senhor; ele sobe até Adao (cf. Le 3, 23-38), evidenciando que o
verdadeiro movimento da geragáo nao procede dos antepassados até
Cristo, mas vai de Cristo a eles segundo... o Evangelho da vida. Assim
é que a desobediencia de Eva fot resgatada pela obediencia de María;
com efeito, o nó que a Virgem Eva atou com a incredulidade, María o
desatou com a fé" (Contra as Heresias 3,22).
Vé-se assim que a figura de María emerge naturalmente do plano
de Deus bem compreendido; ela tem sua raíz no próprio designio do
Criador. Era espontáneo aos cristáos atribuir a María um papel de
destaque na obra da salvacáo dos homens, papel que eles deduziam de
urna leitura atenta das Escrituras Sagradas.

No século III, como dito, aparece o título Theotókos sob a pena de


Orígenes (f 250). Além do qué, um papiro do Egito datado de fíns do
século III apresenta a oracáo que até hoje os fiéis católicos repetem: "Á
vossa protecáo recorremos, Santa Máe de Deus; nao desprezeis as
nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos
os perigos, Virgem gloriosa e bendita".

É, pois, evidente que, bem antes de 300, a veneracáo a María SSma.


já era elemento integrante da piedade crista, decorrente de fiel
compreensáo da Palavra de Deus.
Impóe-se aínda urna obseryacáo a respeito dos dizeres de J.T.C.:
"Satanás sabia que Jesús deixaria o céu para nascer de urna virgem, a
fim de se tornar o Salvador e Mediador entre Deus e o homem... Entáo
ele fez urna plano táo vil para induzir o povo a por sua confianca numa
virgem falsa, que Satanás mesmo críou".
Pergunta-se: como pode J.T.C. saber que Satanás conhecia o plano
da Encarnacáo do Filho de Deus e de seu nascimento virginal? A S.
Escritura dá a entender que os arijos váo descobrindo o plano de Deus
á medida que este se revela mediante a Igreja:

"Foi revelado aos profetas que nao era para eles mesmos, mas para
nos, que eles transmitiam esta mensagem que agora os pregadores do
Evangelho vos comunicaran) sob a agio do Espirito Santo enviado do
céu, que os anjos desejam perscrutar" (1Pd 1,12).
Satanás ignorava o plano de Deus a tal ponto que tentou Jesús,
presumindo poder induzi-lo ao pecado (cf. Mt 4,1-11; Le 4,1-13). Donde
se vé quáo insegura é a base do "plano vil feito por Satanás para induzir
o povo a por sua confianca numa virgem falsa que Satanás críou". De
resto, Satanás nao críou a Virgem María, que nao é "urna virgem falsa",
mas é auténtica virgem, que concebeu virginalmente, como se depreende
de Le 1,26-38; Mt 1,18-23.
Muito se poderia aínda dizer a propósito do vil opúsculo de J.T.C.
O que foi exposto até aquí, parece suficiente para mostrar que o autor
é tendencioso e nao merece crédito.

Ulteriores informagóes encontram-se no Curso de Mariologia da


Escola Mater Ecclesiae. Caixa postal 1362, 20001-970 Rio (RJ).

428
Panfleto protestante:

"O DOM INEFÁVEL "

por Charles Chiniquy

A propaganda protestante recorre a muitos meios - nem sempre


lícitos e evangélicos - para denegrir a Igreja Católica. Entre os diversos
panfletos assim editados, está um intitulado "O Dom Inefável", da
autoría do ex-padre Charles Chiniquy, do Canadá. É um livreto antigo,
que tem sido freqüentemente reproduzido sem escrúpulos, repetindo
as conhecidas objecóes levantadas pelos protestantes especialmente
com re I acáo á veneracáo de María Santíssima. s

O opúsculo nao tem valor doutrinário. As censuras dirigidas á


Igreja foram já muitas vezes refutadas. Como quer que seja, publicamos
aqui urna noticia sobre o autor, noticia suficiente para desabonar o
livreto. Os traeos biográficos de Chiniquy sao pouco honrosos,
reconhecemo-lo; só os publicamos, porque se faz necessário dá-los
a conhecer ao público a fim de esclarecer e dissipar mal-entendidos.

O Pe. Charles Chiniquy viveu na primeira metade do século


passado como sacerdote da arquidiocese de Montreal (Canadá).
Levava, porém, conduta de vida pouco moral; pelo que o respectivo
arcebispo o suspendeu do uso de ordens. Chiniquy entáo transferiu-
se para os EE. UU. Já que nao se emendava, incorreu em nova
suspensao. Tempos depois, dirigiu-se ao bispo de Chicago (U.S.A.),
pedindo-lhe o exercício do sacerdocio nesta diocese por algum tempo;
o prelado, julgando que havia corrigido seu comportamento, admitiu-
o benignamente no clero de seu bispado. Chiniquy, porém, continuava
a sua vida escandalosa. Terminou entáo incorrendo em excomunháo.

Diante disto, o infeliz sacerdote anexou-se a urna denominacáo


protestante, da qual foi expulso por desviar ¡licitamente os fundos
financeiros da igreja. Passou-se para outra corrente protestante, da
qual também acabou sendo rechacado pelo mesmo motivo... - Visto

429
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

que, para a grapa de Deus, tudo é possível, pode-se crer que ao


menos na hora da morte se tenha arrependido sincera e
definitivamente, salvando a sua alma.

Eis em breves trapos o genuino currículo de vida do "herói"


apresentado pelo folheto protestante. Como se vé, o fundo do
problema de Chiniquy nao era doutrinário, mas moral (como muitas
vezes acontece em casos congéneres). Foi o seu género de vida
devassa que o levou a romper com a Igreja e a procurar em outra
denominacáo religiosa urna cobertura para maus hábitos (coisa, alias,
que ele nao conseguiu). Estes fatos tiram toda a autoridade as
acusacóes que Chiniquy faz á Igreja Católica em nome da Biblia. Tais
acusacóes sao meros pretextos mal arquitetados. Na verdade, a Igreja
nunca pensou nem pensa em admitir outro Mediador ao lado do Cristo
Jesús.

A refutacáo das objecóes protestante" á veneracáo de María


SSma. encontra-se as pp. 423-427 deste fascículo.

Infelizmente, o folheto "O Dom Inefável" tem conhecido numerosas


edicóes nos últimos 60 ou 70 anos, iludindo muitos leitores
desprevenidos. Dá a ver como a propaganda protestante pode tomar
caráter sectario, caráter que certamente nao condiz nem com as
exigencias primarias do espirito evangélico. Em favor de quem
trabalham os que divulgam folhetos tais: em favor de Cristo (a Verdade
e a Vida) ou em prol de Satanás, o pai da mentira?

Estévao Bettencourt O.S.B.

CARO LEITOR, PROCURE CONHECER MELHORA FÉQUEVOCÉ


PROFESSA. O DESCONHECIMENTO DO CRISTIANISMO É, EM GRANDE
PARTE, A CAUSA DO SURTO DE NOVOS E NOVOS MOVIMENTOS
RELIGIOSOS, NEM SEMPRE SADIAMENTE ORIENTADOS. A ESCOLA
"MATER ECCLESIAE" PÓE A SUA DISPOSICÁO TREZE CURSOS POR
CORRESPONDENCIA (CUJAS APOSTILAS PODEM SER ADQUIRIDAS
SEM OBRIGACÁO DE PROVAS) EVINTE OPÚSCULOS SOBRE JESÚS
CRISTO E AS NOVAS CORRENTES RELIGIOSAS (PROTESTANTES,
ESPIRITAS, ORIENTÁIS...).

ULTERIORES INFORMACÓES PODEM SER SOLICITADAS A RÚA


BENJAMÍN CONSTANT 23, 3o ANDAR, RIO (RJ). CEP 20241-150,
TELEFAX (021) 242-4552.

430
LIVROS EM ESTANTE

Vém ao caso, antes do mais, tres livros que abordam o problema da


sexualidade considerado ñas páginas deste fascículo.

A Missao da Familia Crista no Mundo de Hoje., por D. Hilario


Moser. - Ed. Salesiana Dom Bosco, Sao Paulo 1996 (2a edicáo, 135 x
180mm,47 pp.

O Sr. Bispo de Tubaráo (SC) D. Hilario Moser apresenta ao público


o contéudo, em perguntas e respostas, da Exortacáo Apostólica
Familiaris Consortio do Papa Joáo Paulo II, datada de 22/11/1981 e
mu¡to atual ainda hoje. O livro vem a ser um catecismo da vida familiar,
levando em conta luzes e sombras da familia de hoje (4-10), o plano de
Deus sobre o matrimonio e a familia (11-16), os deveres da familia crista
(17-64), a Pastoral Familiar com suas etapas, suas estruturas
responsáveis e situacóes (65-85). Tem-se assim um manual de reflexóes
nao somente para esposos, pais e filhos, mas também para os agentes
da Pastoral Familiar, obra composta em estilo didático, fácil e seguro.

Afetividade e Sexualidade Humana no Plano de Deus, por D.


Amaury Castanho. - Ed. própria, Rúa dos Andradas 53, CEP 13300-170
Itu (SP), 150 x 210mm, 105 pp.

O Sr. Bispo Coadjutor de Jundiaí (SP) D. Amaury Castanho escreve


para adolescentes, jovens e casáis um livro de importancia, pois aborda
com franqueza e profundidade os temas mais candentes relacionados
com afetividade e sexualidade: namoro e noivado, casamento, familia,
virgindade, homossexualismo, masturbacáo, planejamento familiar, AIDS...
D. Amaury tem ampia experiencia de trato com os jovens na qualidade
de professor universitario emérito e jornalista. Responde ás questóes
da juventude, baseado nos documento da Igreja, nos escritos de
especialistas, como Carnot, Joáo Mohana, Pe. Zezinho, (José de
Oliveira)... Sintetiza com sabedoria quanto a Moral católica ensina a
respeito de assuntos relevantes para a sociedade; é certo, diz ele com o
Papa Joáo Paulo II, que o futuro da humanidade passa pela juventude
de hoje, maltratada pelos meios de comunicacáo social, ciosos de
sensacionalismo, e carente de quem Ihe aponte um ideal de vida e a
nobreza do amor. O livro é muito válido para leigos e clérigos.

Evangelizara Sexualidade, publicacáo do Movimento Internacional


das Equipes de Nossa Senhora. Traducáo do francés por Peter Nadas.
Edicáo brasileira, Sao Paulo 1995,140 x 210 mm, 214 pp.

Esta obra é o resultado de ampia pesquisa realizada entre as Equipes


de Nossa Senhora sobre questóes atinentes á vivencia da sexualidade
no matrimonio. A Equipe Responsável Internacional colheu depoimentos

431
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 412/1996

de cerca de 10.000 casáis e conselheiros espirituais pertencentes as


Equipes pelo mundo e publica esses textos, procurando concatená-los
em ordem lógica: Homem, Mulher, Casal, Imagem de Deus (cap I)
Construir o Casal (cap. II), A Fecundidade (cap. III), Ética Sexual (cap!

Léem-se ai belas páginas sobre o amor, a vocacáo crista, a ascese...


resultantes da perseveranca fiel á Lei de Deus apesar dos embates a
ser aturados. Mas também se encontram depoimentos que refletem a
insatisfacáo de casáis no tocante á Moral Católica; principalmente os
capítulos sobre a fecundidade e a Ética Sexual traduzem urna certa critica
tendente a ceder a pressóes liberáis do mundo contemporáneo; os textos
portadores de insatisfacáo sao apresentados com objetividade como
materia de estudo e ulterior reflexio. Ao lé-los, nao se pode deixar de
observar que a Igreja presta um servico á humanidade (crente e nao
erente), apregoando ao mundo a fidelidade ás leis da natureza, que sao
a Lei dé Deus. Pode ser penoso a um sacerdote ou a um agente de
Pastoral dizer Nao a certas tendencias liberáis da atualidade; todavía os
filhos da Igreja tém consciéncia de que a fidelidade é um valor impreterível,
cujos frutos cedo ou tarde se evidenciam.

O livro vem a ser um "canteiro de obras", oferece material "cru", que


há de ser prudentemente ponderado por casáis e conselheiros espirituais
á luz da sabedoria da Igreja, que é Máe e Mestra; Ela diz Nao quando
necessário para garantir a felicidade de seus filhos.

Por que Perdoar?, por Doris Hoyerde Carvalho. - Ed. Bom Pastor,
Rio de Janeiro 1995,130 x 190 mm, 164 pp.

A autora do livro foi certa vez em 1975 impressionada pela Palavra


de Deus, que afirma ser Cristo a Paz, Aquele que anulou na Cruz toda
¡nimizade (Ef 2,14-18). Compreendeu entáo o valor da magnanimidade
do perdió e houve por bem escrever a respeito um belo livro. Disserta
sobre as licóes do Evangelho e as dificuldades de as por em prática;
apresenta sugestóes para superar os obstáculos a esse gesto de amor
e justica, preponderando ai a oracáo ou a súplica ao Senhor para que
sua graca venca as resistencias da natureza; por fim, sao expostos os
frutos do perdáo, entre os quais a liberdade interior e a alegría.

O livro inteiro é redigido sob a forma de um depoimento pessoal ou


de um "pensar alto" (p. 157), em que a autora fala de sua própria
experiencia econsegue evidenciar realmente o valor desse nobre gesto
que é o perdáo. As páginas fináis do livro trazem urna longa oracáo em
que a Sra. Doris agradece ao Senhor a sua misericordia e pede a graca
da perseveranca até o extremo. A obra é interessante e recomendável,
pois, entre outras coisas, faz sentir o impacto da graca de Deus sobre o
coracáo humano.

E.B.

432
NOVIDADE

SS^3 AB EXCELSIS é um CD de música sacra


interpretada por Ir. Félix Ferrá, osb, contendo arranjos
instrumentáis de quatorze composicoes de Palestrina e
Lassus, os dois maiores músicos católicos de todos os
tempos.

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Credo do Povo de Deus", de Paulo VI. Especialmente para curso superior em Semi
narios e Faculdades. 691 págs o* 3¿ Rn
O MISTERIO DO DEUS VIVO, Pe. Albert Patíoo* OP.'iradü^o enotasde D Cirilo"
' S'SÍl °£e«Sl 0SB> Tratad0 de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole
didática. 230 págs o» 1fi 80
DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. DomEstéváoBettencourt OSB
3a ed., ampliada e revista, 1989. '
340 págs RS 1fi M
GRANDE ENCONTRÓ, Dom Hildebrando P. Martins, OSB.Semana da Míssa na Paró-
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2 - O ANO LITÚRGICO ; R$5f50.

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ao povo. Traducáo e notas de D. Híldebrando P. Martins R$7,20.

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(Número limitado de exemplares) R$ 40,00.
NOVIDADEÍ
EF A EXPERIENCIA DE DEUS
NO ANTIGO TESTAMENTO
DOM BENTO SILVA SANTOS, O.S.B. ■;

Este novo livro de Dom Bento Silva Santos é dedicado á experiencia de Deus tal
como foi concedida a grandes vultos do Antigo Testamento, a comecar pelo Patriarca
Abraáo... Jaco, Moisés, Davi, Jó e Jeremías. O autor expóe como a Escritura revela o
encontró de Deus com o homem. A resposta do homem bíblico á iniciativa totalmente
gratuita de Deus, que deseja estabelecer urna comunháo de vida com a criatura, se ■■
converte em paradigma para o leitor de hoje em virtude de seu caráter inspirativo e .
emblemático.

Bento SILVA SANTOS, A experiencia de Deus no Antigo Testamento.


Aparecida (SP). Editora Santuario, 1996, 144p.

Prego: R$ 9,00

^ FE E SACRAMENTOS NO
EVANGELHO DE SAO JOÁO
BENTO SILVA SANTOS

O autor prolonga os estudos sobre o Evangelho de Sao Joáo, já publicados sob o


titulo "Teología do Evangelho de Sao Joáo" (Ed. Santuario, Aparecida, 1994, 421p.}. ,.
Desta vez, o autor aborda o tema.peculiar "FÉ E SACRAMENTOS NO EVANGELHO DE
SAO JOÁO". O livro procura estabelecer a relacáo entre fé e sacramentos na existencia
crista: "Sao duas condicóes independentes de salvacáo ou se interpenetram? Como
harmonizar a invisibilidade do ato de fé que adere á pessoa de Cristo e a visibilidade da
fé nos sacramentos?" (p.71). 1995, 134p R$ 12,56.

- TEOLOGÍA DO EVANGELHO DE SAO JOÁO, Dom Bento Silva Santos,


O.S.B., Editora Santuario, 1994, 423 p R$ 28,80.

Palavras de Dom EstévSo Bettencourt O.S.B.:

"O presente livro se presta tanto ao estudo científico do quarto Evangelho quanto á
meditacáo e á Lectio Divina dos fiéis cristáos. Quem o lé tem a impressáo de estar
entrando, aos poucos, no misterio de Deus - o que suscita urna atitude de reverencia e
adoracao. "Realmente este lugar (este livro) é santo, é a porta do céu... e eu nao o
sabia!", poderá o cristáo dizer, parafraseando a exclamacáo de Jaco, consciente de que
tomara contato com o Senhor Deus em Betel (Cf. Gn 28,17).

Para pedidos: Edicóes "Lumen Christi".


Atendemos pelo Reembolso Postal ou conforme 2a capa.

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