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‘elon henarai sk a Toa 10 Ping thea = tabedade ‘ee or Bat Bo = S59 haute 8 ‘ely Gp S77 989 ae CU Se aot palsalonacome Cahn cons ody clon © cat se elu ts ata Sumério Abresentagdo drarndiho 1 = MONOCUITUKAS DA MENTE... (0s stewas do sober *dosoperecidost As rchachuss de (ragmentagto ‘A destruc da diversities, vita come *eevadaninha ‘as divorce ¢ a8 econones“anlagronas ‘A silvieaiurs “soul” © a Gevore ‘milagroai" © cvcnipre {A Revoliglo Wore a semenies “ieee A insustentailidece das monocklas A deaocraizagio do sabec Refer2acas biblingalicas.. 2 BIODIVERSIDADE: UMA PERSERCTIVA DO. “TERCEIRO MUNDO. A ens a ve154886 oss As principals rneayes & biodwenicade 36 a 4 6 6 6 mn a Bs as Os efeitos da erosio da biodiversidade © bioimperialismo do Primeiro Mundo € os conilitos Norte-Sul As limitagdes das abordagens dominantes a preservagio da biodiversidade Do bioimperialismo a biodemocracia Referén« Bibliogrificas ... BIOTECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE Introdugio : € tiscos biolégicos Biotecnologi Biotecnologia € riscos quimicos Biotecnologia e biodiversidade .. Substitutos da biotecnologia e privacio econdmica no Terceito Mundo Biotecnologia, privatizacdo € concentragio Biotecnologia, patentes € propriedade privada dos seres vivos .. Apéndices Referéncias Bibliogrificas A SEMENTE E A ROCA: DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO E PRESERVACAO DA BIODIVERSIDADE Introduga0 Desenvolvimento tecnolégico € sustentabilidade Diversidade € produtividade A preservacao da semente ¢ a roca Conclusio . Referencias Bibliogrificas 94 100 104 110 116 17 . 118 132 138 140 142 145 155 158 159 . 159 161 163 169 174 177 5 - A CONVENCAO SOBRE BIODIVERSIDADE: UMA AVALIAGAO SEGUNDO A PERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO APENDICE 1 - Convengio sobre Biodiversidade, 5 de junho de 1992 APENDICE 2 — Declaragio de Johanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade Direitos Humanos ... Pequena Biografia de Vandana Shiva Bibliografia da Autora 179 189 232 239 . 240 5 efeitos da erosio da biodiversidade ie 94 | 5 — A CONVENGAO SOBRE BIODIVERSIDADE: © bioimperialismo do Primeiro Mundo ¢ os UMA AVALIACAO SEGUNDO A conflitos Norte-Sul 100 PERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO wu 179 As limitagdes das abordagens dominantes & . preservagio da biodiversidade 104 APENDICE 1 — Convencio sobre Biodiversidade, Do bioimperialismo 4 biodemocracia 110 | 5 de junho de 1992 ssn 189 Referéncias Bibliograficas : seenenee 116 APENDICE 2 — Declaracao de Johanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade € 3 = BIOTECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE wes 17 Direitos Humanos -oororernnnnrnn oo Introdu . 17 Pequena Biografia de Vandana Shiva sues 239 Biotecnologia ¢ tiscos biO16giCOS wanunnennnnnns 18 Bibliografia da Autora .. : 240 Biotecnologia ¢ riscos quimicos veces 12 Biotecnologia ¢ biodiversidade 138 Substitutos da biotecnologia € privagao econdmica no Terceiro Mundo ... 140 Biotecnologia, privatizagio € concenttag40 wn 142 Biotecnologia, patentes e propriedade privada dos seres vivos ... : : 45 Apéndices . 155 Referéncias BibliOgEAFICAS wensnnnnnnsenannn 158 4 A SEMENTE E A ROCA: DESENVOLVIMENTO. TECNOLOGICO E PRESERVAGAO DA BIODIVERSIDADE ree 159 TnttOdUGAO ornare : 159 Desenvolvimento tecnolégico ¢ sustentabilidade .... 161 Diversidade ¢ produtividade ..... sence 163 A preservacto da semente e a roca 169 Condlusio .... . — 174 Referéncias Bibliogrificas... seve VT A\presentag&o © livro Monoculturas da Mente da escritora Vandana Shiva chega ao Brasil ap6s 10 anos‘de sua edigio original em inglés e num momento muito significativo: logo apés o dificil didlogo sobre Meio Ambiente e De: Johanesburgo em 2002, no contexto da avaliagio da Rio 92 + 10. As questdes relativas a0 cuidado da biodiversidade apareceram novamente como estrelas de primeira grandeza no cenétio da mudanga do paradigma de desenvolvimento e, como conseqtiéncia, estiveram também entre as questdes de maior impasse nas negociagdes entre paises detentores da biodiversidade do mundo e paises detentores da tecnologia Staying Alive, o livro anterior de Vandana Shiva tradu- zido ao espanhol pela Rede do Terceiro Mundo com o titu- lo feliz. de Abrazar la Vida, mostrou com muita veeméncia a necessidade do didlogo planetitio sobre a vida da Terra € da espécie humana com ela. Nesta nova publicagio, a auto- ra traz outra importante contribuigao, fundamentada em andlise muito bem documentada sobre o tema da biodiver- sidade e da biotecnologia. Vandana tece uma critica sétia e corajosa aos programas de biotecnologia e de monocultura impostos por grandes empresas ou institutos de cooperacao técnica, financiados prineipalmente por agéncias internacio- nais que destroem a biodiversidade ¢ abafam milénios. de saber da humanidade, envolvimento ocorrido em ‘MONOCULTURAS DA MENTE © cariter insustentavel do “antidesenvolvimento" oca- sionado por estes programas exportados pelo Norte aos paises do Sul, aplicados por empresas particulares nacio- do poder piblico, trazido pela autora por meio da descrigao de uma coletdnea de fra- nais, com 0 aval ou tolerdnci cassos evidentes ¢ jé mensurados: os fracassos técnicos produtives da monocultura, que tiveram como expressio mais evidente a Revolucio Verde; 0 fracasso ecolégico de “reflorestamentos” monoculturais, que estio deixando de- sertos para as geracdes futuras no lugar de floresta susten- taveis; o fracasso estrutural derivado da concentragao de terras nas maos de uns poucos ¢ evidente no abandono de pequenas propriedades, nas quais principalmente as mu- Iheres agricultoras vém-perdendo seus meios de vida ¢ vendo seus conhecimentos seculares serem inutilizados; 0 fracasso sociocultural que inclui emigrag © espaco urbano com as seqilelas de desemprego e excli- silo social; 0 fracasso da mudanga de valores, que se crista liza no dilema entre superproduzir para superconsumir em > do campo para vex de produzit para viver; finalmente, o evidente fracasso econdmico desse modelo “no qual mais alimento significa mais fome", conforme jé demonstrado em estudos realiza- dos inclusive por agéncias internacionais. Para a autora, a raiz deste antidesenvolvimento vai muito além da tecnologia e dos programas que mantém este modelo. A questo fundamental esta na ideologia domi- nante que Vandana chama de monoculturas da mente, as ‘quais trazem em seu bojo a convicgao absoluta de que este Paradigma 6 a solugio para os problemas de todos os luga- res do planeta, independentemente de localizagio geogri- fica, ecossistemas, clima, populacdes instaladas com organi- zagbes sociais e politicas proprias e com tradi¢&es milenares de cultivo da terra, com cuidado da biodiversidade que inclui respeito aos ciclos da vida. 10 ARRESENTAGAO As monoculturas da mente cristalizam-se em ideolo- gias e valores. Estes, por sua vez, orientam ¢ justificam as politicas, as estratégias, as técnicas € os métodos utilizados em programas para o antidesenvolvimento agricola e flo- restal dos paises do hemisfério Sul, particularmente dos paises pobres, em que se instaura, a forga, a dependéncia econémica e tecnol6gica Entretanto, a monocultura mental vai além, Ela conduz, a uma verdadeira devastagio da sabedoria milenar existente na humanidade, contrapondo-a a mesma a exclusividade do recente saber cientifico, transferindo a ideologia ¢ os valores da monocultura 20s produtores € produtoras, consumidores € consumidoras por meio do controle ideol6gico, sociocul- tural e econémico. Uma verdadeira “cruzada” é desenvolvida por grupos interessados encabegados por multinacionais € certos governos, para convencer as pessoas € a5 instituigées que os sistemas tradicionais de producao sto ineficazes para a abundancia e ineficientes para o mercado, que nio ‘outro sistema melhor do que © da biotecnologia e da mono- cultura intensiva e que é inttil querer oporse a elas ou procurar outra solugio. Propagandas veiculadas atualmente pela televisdo brasileira constituem um exemplo ilustrativo deste fenémeno. Por meio das monoculturas da mente, a exploracio dos mais fracos € assegurada € 0 modelo hege- ménico do antidesenvolvimento € confirmado. ‘A autora mostra como o verdadeiro desenvolvimento 86 pode ser um desenvolvimento ecolégica e socialmente sus- tentivel, Sua anilise critica orienta a busca de politicas ¢ estratégias de desenvolvimento para sait do que ela chama de bioimperialismo, que impde as monoculturas, ¢ construir a biodemocracia com quem respeita/cultiva a biodiversidade, (© que fazer? Vandana levanta questdes que j4 esto na Agenda Internacional ¢ formam parte do actimulo plane- tirio, fruto do envolvimento € compromisso de milhoes de 1 Te MONCCULTURAS DA MENTE atores sociais do mundo inteiro que buscam “um outro jeito de ser” capaz de tornar possivel a continuidade da vida na Terra em todas as suas formas e manifestagdes. Entre ou- tros, reafirma a necessidade de analisar, reconhecer ¢ admi- tira importincia e o valor produtivo da biodiversidade para 0 desenvolvimento sustentével, que no é predador e nem pode ser imediatista, ¢ reafirma o alto valor dos conheci- mentos tradicionais em agricultura ¢ a capacidade de inte- gracdo de adequadas mudangas biotecnolégicas pelos agri- cultores tradicionais, Também mostra a importincia de reconhecer que a agricultura diversificada & a base para a integraco das inovagdes nos programas de desenvolvi- mento agricola ¢ que os produtores e produtoras devem ser 0s primeiros e principais agentes e integradores das mu- dangas materiais e culturais. Contudo, a chave das solugdes nao esté no aspecto técnico. Situa-se no nivel da vontade e do poder politico, como bem demonstra 0 diltimo capitulo do livro em que a autora tece comentirios a respeito da Convengdo da Biodi- versidade, documento emblematico em nivel planetario, ‘cujo primeiro signa: , na qualidade de anfi- trido da Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Am- biente ¢ Desenvolvimento em 1992 Monoculturas da Mento vem $01 tos estudos; anilises e agé arse, e1 pr6-positivas dos que acreditam que este assunto € estratégico para nosso pais e requer siner- gia de interesses e didlogo entre os varios poderes constitu dos: dos grupos de poder econdmico, dos diversos setores € niveis do poder ptiblico, do poder do saber cientifico e do Poder de conhecimento € organizagio da sociedade, todos. em interface com © poder dos meios de comunicagio que Precisam transformar-se em canais de comunicacao. © equilibrio do controle de recursos genéticos entre Pafses detentores de biodiversidade e paises que possuem 0, aos mui- AIRESENTACAO tecnologia, assim como 0 equilibrio entre “a evidéncia cien- tifea. consistente” e a “integridade cultural das comunidades detentoras de conhecimentos tradicionais" ja nao so meros temas para anilise ¢ discussio. Sao temas para novas for- mas de agio. Ao demonstrar, hd 10 anos, o mal-estar do Pla- rneta e seu proprio mal, Vandana langou sementes de refle- x40 que hoje estdo espalhadas por todo o mundo e fazem parte do universo de pessoas que atuam em lugares e cam- pos muito diversos. ‘A empresiria inglesa Anita Rodick, por exemplo, co- menta: “O meu maior medo € um dia chegar a ver no s6 0 mundo dos negécios, mas o planeta como um todo, domi nado por um pequeno grupo de corporagdes transnacionais gigantes. Sinais disso jf existem e, para enxergi-los, basta Constatar como as marcas globais estdo se infiltrando no tiindo de nossos filhos: sto elas que thes dao lazer, ali ‘mento, roupa, remédios e insinuam formas de relacionamen- 10 social. £ como se comecasse a ser plantada uma ‘mono- cultura’, no caso, uma cultura exclusiva e uniforme, para ser adotada por todos!” (Meu jeito de fazer negdcios, p. 12). Marina Silva, uma das figuras proeminentes do Brasil fem relagao 20 respeito/cuidado da biodiversidade como . assunto prioritério para 0 poder piblico e a sociedade civil, efatiza: “Que uma mudanga vai acontecer, disso nao tenho s. A questiio ambiental, que esta na esséncia da pro posta do desenvolvimento sustentivel, no € um modismo passageiro. A populagio do mundo cresceu muito nas tilti- mas décadas, Os recursos naturais tornam-se cada vez mais escassos. A utilizacio do petréleo como principal fonte de energia tem prazo de poucas décadas para terminar. AS hovas tecnologias, especialmente derivadas da biologia ¢ a. informatica, estio modificando as culturas, os estados € 5 mercados. Todos esses fatores empufram © mundo para a superagio dos modelos econémicos atuais e paia a descoberta de novos modelos, mais ‘geis e adequados tanto as mudangas globais quanto as demandas regionais até comunitérias. A idéia do desenvolvimento sustentado é um sinal de alerta, um ctitério basico para avaliar os rumos da civilizacto ¢ mudar enquanto & tempo” (Uin sonbo sus- tentavel, doownload, 2002). Para 0 Brasil, que detém 50% da biodiversidade do mundo € tem um patriménio em recursos de biodiver dade na ordem de mais de dois trilhdes de délares, segun- do avaliagao feita pelo Ibama, o tempo é agora! Vandana Shiva € bem-vinda ao Brasil, particularmente na roda de sinergia de interesses que retine diversas cul- turas da mente que respeitam/cultivam a biodiversidade com respeito/cultivo da diver condiclo sine qua non do desenvolvimento sustentado que se constr6i em sociedades sustentaveis diferentes com responsabilidade global, em contraposic: ras da mente. Como complemento a esta apresentagio da versto brasileira, foi incluido 0 Apéndice 2 com a Decla- ragao de Jobanesburgo sobre Biopirataria, Biodiversidade ¢ Direitos Comunitarios, redigida por ocasido da Cipula da Terra. Trata-se de um documento ilustrativo da forma de pensar, sonhar, atuar e articular da roda sinérgica da biode- ‘mocracia ja presente e atuante em todos os recantos do mundo, com a qual se identifica plenamente 0 contetdo deste livro. ia as monocultu- Moema Viezzer* * Soci6loga, educadora, autora de Se me detxam falar... depotmento de Domitila, uma mulber das minas da Bolivia © O problema nao esté na mulber... entre outros. 14 Introdusao Os cinco ensaios deste volume escritos meus produzidos duranté’a itima década refle- tem sobre as causas do desaparecimento da diversidade ¢ © desafio que € a sua preservagio. ‘A principal ameaca a vida em meio a diversidade deriva do habito de pensar em termos de monoculturas, o que chamei de “monoculturas da mente”. As monoculturas da mente fazem a diversidade desaparecer da percepgio ¢, conseqiientemente, do mun- do, O desaparecimento da diversidade correspond ao desa- parecimento das alternativas — e leva a sindrome FALAL (falta de alternativas). Com que freqiéncia, nos tempos de hoje, o exterminio completo de natureza, tecnologia, comu- nidades ¢ até de uma civilizagdo inteira nao € justificado pela “falta de alternativas’? ‘As alternativas existem, sim, mas foram excluidas. Sua incluso requer um contexto de diversidade. Adotar a diversidade como uma forma de pen- saf; como um contexto de ago, permite o surgimento de muitas opgdes Os artigos aqui apresentados baseiam-se na partici- pacdo em movimentos voltados para a defesa da diversi- ade na natureza e na cultura. Minha preocupacdo com as inonoculturas comegou com © movimento Chipko, em Garhwal, no Himalaia. As camponesas de Garhwal sabiam que as monoculturas de pinheiros nao eram florestas, que no tém condigses de realizar as miltiplas fungdes de fornecer Agua e conserva sas comunidades com espécies que possam servir de ali- mento, forragem, fertlizantes, fibras e combustiveis (as espé- cies dos SF, na lingua chipko) A segunda experiéncia com a natureza empobrecida e empobrecedora das monoculturas foi associada a uma auditoria ecolégica de plantagdes de eucaliptos, principal- mente nas zonas semi-Aridas do Estado de Karnataka, onde um programa de administracio florestal ¢ social do Banco ‘Mundial estava levando & erosiio da diversidade agricola e & conseqiiente erosio do solo e do abastecimento de agua, assim como das condigdes de subsisténcia ¢ do suprimen- to de biomassa para uso local. Em 1983, o movimento dos agricultores — 0 Raitha Sangha — comegou a arrancar os bro- tos de eucaliptos do viveito florestal ¢ a substitui-los por brotos de varias espécies, como manga, tamarindo, jaca, pongamia etc. Um estudo posterior sobre a Revolugao Verde na agri- cultura mostrou que se tratava basicamente de uma f6rmu Ja para introduzir as monocultura 0 solo, nem de prover as diver- e acabar com a diversi- dade. Também estava ligada 4 introdugio do controle cen- tralizado da agricultura e erosio da tomada de decisées descentralizada a respeito da organizaglo das safras/A uni- formidade ¢ a centralizagio levam 4 vulnerabilidade e a0 colapso social e ecoldgico/ A biotecnologia € a revolugio genética na agricultura € na inddstria florestal ameacam agravar as tendéncias a erosio da diversidade e & centralizagao que comegaram com a Revolucao Verde. E nesse contexto da produgio de uniformidade que a preservagio da biodiversidade deve ser compreendida. A pre- servagao da diversidade corresponde sobretudo a produgao de alternativas, a manter vivas formas alternativas de pro- 16 InrsopucAo dugio. Proteger as sementes nativas € mais que uma ques- to de preservar a matéria-prima para a indGstria da biote- cnologia. As diversas sementes que agora estto fadadas extingio carregam dentro de si sementes de outras formas de pensar sobre a natureza e de outras formas de produzir para satisfazer nossas necessicacles. O tema critico de todos 0s artigos € que/a uniformidade e a diversidade no sto apenas maneiras de usar a terra, so maneiras de pensar € de viver/Os ensaios também discutem os mitos de que as monoculturas so essenciais para resolver os problemas de escassez € que, para aumentar a diversidade, nao ha opcao além da destruigao da diversidade. Nao € verdade que sem as monoculturas de 4rvores haverd escassez de madeira para combustivel e que sem as monoculturas na agricultura monoculturas z de comida. Na verdade, haverd escass 10 uma fonte de escassez. ¢ pobreza, tanto por destruir a diversidade e as alternativas quanto por destruir 0 controle descentralizado dos sistemas de producao € consumo. A diversidade € uma alternativa 2 monocultura, a homogeneidade ¢ a uniformidade. Viver a diversidade na natureza corresponde a viver a diversidade de culturas. As diversidades natural ¢ cultural so fontes de riqueza e alternativas, primeito ensaio, “Monoculturas da mente”, foi escrito para o programa WIDER da Universidade das Nagdes Unidas sobre “O sistema de saber enquanto sistema de poder’, Procura mostrar que @s monoculturas ocupam pri- meiro a mente e depois sto transferidas para o solo. As monoculturas mentais geram modelos de produgio que destroem a diversidade e legitimam a destruigdo como pro- gresso, cimento e melhoria/ Segundo a perspectiva da mentalidade monocultural, a produtividade e as safras pare- cem aumentar quando a diversidade é éliminada e substi- tuida pela uniformidade. Porém, segundo a perspectival da 17 ‘Mono diversidade, as monoculturas levam a um declinio das safras e da produtividade. Sao sistemas empobrecidos, qua- litativa © quantitativamente. Também sao sistemas extrema- mente instiveis ¢ carecem de sustentabilidadey As mono- culturas disseminam-se ndo por aumentarem a produgao, ‘mas por aumentarem 0 controle,’ expansio das mono- culturas tem mais a ver com politica e poder do que com sistemas de enriquecimento ¢ melhoria da produgio biolé- Isso se aplica tanto Revolucdo Verde quanto revo- lugao genética ou as novas biotecnologias. Os ensaios sobre biodiversidade e biotecnologia foram preparacios como artigos da Rede do ‘Terceito Mundo (Third World Network) para a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio trar como as negociagdes em torno da biodiversidade podem ser separadas das negociagdes em torno da biote nologia. Afirmam que tratar a biodiversidade como simples natéria-prima” deriva de uma postura antinatureza ¢ ra cista que pée em risco a natureza ¢ o trabalho dos povos do Terceiro Mundo ao considerd-los como algo sem valor A biodiversidade niio adquire valor apenas por meio da biotecnologia e da engenheria genética praticadas por “homens brancos em roupas brancas de laborat6rio”, para citar Pat Mooney. ‘Tem valor intrinseco e também um gran- de valor de uso para as comunidades locais, O artigo tam- bém € uma adverténcia contra tratar a biotecnologia como um milagre ecol6gico ¢ como solugao para toda e qualquer mazela ambiental. A biotecnologia devia estar resolvendo problemas ecol6gicos mais graves do que aqueles que afir- ma solucionar, Também ha um uso enorme e injustificado de poder e politica quando a biodiversidade e seus produ- tos so tratados como uma heranga irrestrita e comum da humanidade quando vém do Terceiro Mundo, 20 mesmo tempo em que os produtos da mesma biodiversidade sio considerados propriedade privada e patenteada quando mbiente € Desenvolvimento € procuram mos- 18 Inmrovucao sio ligeiramente modificados pelos laborat6rios do Norte. /4 diversidade enquanto modo de pensar levaria a um trata- “ mento mais justo € equitativo das contribuigdes do Norte e do Sul. © quarto ensaio € um artigo meu que faz parte do liveo Conservation of Biodiversity for Sustainable Deve- lopment, de O. T. Sandulund. K, Hindar e A, H. D. Brown e publicado pela Scandinavian University Press, Oslo, em 1992. Questiona as nogdes distorcidas de obsolescéncia da biodiversidade viva inerente a0 paradigma das monocul- turas, que anda de maos dadas com os direitos de mono- pélio sobre 0 controle da biodiversidade e ameaca-nos com desastres imprevisiveis sob a forma de revolucdo genética ‘A semente nativa torna-se um sistema de resistencia contra as monoculturas € os direitos de monopélio. Passar da uni- formidade para a diversidade € essencial tanto ecoldgica quanto politicamente. E um imperativo ecolégico porque ido na diversidade respeita os direi- sustentivel. Também & um apenas um sis tos de toda imperativo politico porque a uniformidade anda de maos dadas com a centralizagio, enquanto a diversidade requer um controle descentralizado. A diversidade, enquanto ma- neira de pensar enquanto maneira de viver, € necessaria para superar 0 empobrecimento gerado pelas monoculturas ment: cio da Convengio sobre Biodiversidade, realizada em Nairobi em maio de 1992, e da qual participaram 154 pafses durante a “Conferéncia de Cipula” Unced em junho de 1992. Esse ensaio chama a atengio para varios defeitos que apontam para a probabi- lidade de que a Convengdo tenha impactos negativos sobre © Terceiro Mundo. Em consideragio ao leitor, reproduzi- ‘mos na integra 0 texto da Convengao séb a forma de um Apéndice. cle Monoculturas da Mente Os sistemas de saber “desaparectdos” Na Argentina, quando o sistema politico dominante enfrenta discordancia, reage fazendo os dissidentes desa- parecerem. Os desparacidos, ou dissidentes eliminados, tém o mesmo destino que os sistemas locais de saber no mundo inteiro, que tém sido subjugados por politicas de eliminagio, ndo por politicas de debate e didlogo. © desaparecimento do saber local por meio de sua interacdo com o saber ocidental dominante acontece em muitos planos, por meio de muitos processos. Primeiro fa- zem 0 saber local desaparecer simplesmente nao o vendo, negando sua existéncia. Isso € muito fécil para o olhar dlis- tante do sistema dominante de globalizacéo. Em geral, os sistemas ocidentais de saber sio considerados universais. No entanto, o sistema dominante também € um local, com sua base social em determinada cultura, classe ¢ género. Nao € universal em sentido epistemolégico. £ ape- nas a versio globalizada de uma tradigéo local extrema- mente provinciana. Nascidos de uma cultura dominadora € colonizadora, os sistemas modernos de saber sio, ¢les préprios, colonizadores. istema ‘Monocutrutas ba Menre A ligacao entre saber € poder € inerente ao sistema dominante porque, enquanto quadro de referéncia concei- tual, esté associado a uma série de valores baseados no poder que surgit com a ascensio do capitalismo comercial. A forma pela qual esse saber & gerado, estruturado e legiti- mado e a forma pela qual transforma a natureza e a socie- dade geram desigualdades ¢ dominagao, e as alternativas sio privadas de legitimidade. © poder também é introdu- ido na perspectiva que vé o sistema dominante nao como uma tradi¢ao local globalizada, mas como uma tradigio universal, inerentemente superior aos sistemas locais, Con- tudo, o sistema dominante também é produto de uma cul- tura particular. Como observa Harding, Agora podemos discernir os efeitos dessas marcas cul- turais nas discrepancias entre os métodos do saber e as visdes de mundo apresentadas pelos criadores da moderna cultura ocidental e aquelas caracteristicas do resto de nés As crengas favoritas da cultura ocidental refletem, as vezes de forma clara, as vezes de forma distorcida, nao. o mundo como ele 6 ou como gostariamos que fosse, mas os projetos Sociais de seus criadores historicamente identificaveis.! A dicotomia universal/local € desvirtuada quando apli- cada as tradigdes do saber ocidental e autéctone porque a tradicao ocidental € uma tradigio que se propagou pelo mundo inteiro por meio da colonizacio intelectual, (© universal deveria disseminar-se imparcialmente, O local globalizador espalha-se pela violencia pela detur- Paco. O primeiro plano da violéncia desencadeada contra 08 sistemas locais de saber € ndo considerd-los um saber. A invisibilidade & a primeira razdo pela qual os sistemas lo- cais entram em colapso, antes de serem testados ¢ com: Provados pelo confronto com o saber dominante do Oci- Pr | Monocutrunas ba Mente dente. A propria distancia elimina os sistemas locais da per- cepelo. Quando o saber local aparece de fato no campo da visio globalizadora, fazem com que desapareca negando- Ihe © status de um saber sistematico ¢ atribuindo-lhe os adjetivos de “primitivo” e “anticientifico". Analogamente, o sistema ocidental € considerado o Gnico “cientifico” e uni- versal, Entretanto, os prefixos “cientifico” para os sistemas modemos ¢ “anticientifico” para os sistem: saber tém pouca relagio com o saber e muita com o poder: Os modelos da ciéncia moderna que promoveram esas visdes derivaram menos da familiaridade com uma pritica cientifica real e mais da familiaridade com versdes ideali- zadas que deram a ciéncia um status epistemolégico espe- cial. © positivismo, o verificacionismo e o falsificacionismo basearam-se todos no pressuposto de que, ao contratio d crengas tradicionais, das crencas locais do mundo, que sto construidas socialmente, pensava-se que o saber cientifico moderno era det jo social. Os cien- tistas, de acordo com um método cientifico abstrato, eram vistos como pessoas que faziam afirmagdes corresponden- tes as realidades de um mundo diretamente observivel. Os conceitos te6ricos de seu discurso eram considerados, em principio, redutiveis a afirmagées observacionais dlireta- mente verificdveis. Novas tendéncias da filosofia e da socio- logia questionaram os pressupostos positivistas, mas nao questionaram a suposta superioridade dos sistemas ociden- tais, Assim, Kuhn, que mostrou que a ciéncia nao é nem de Jonge aberta como se pensa popularmente, e sim o resul- tado da fidelidade de uma comunidade especializada de cientistas a metéforas ¢ paradigmas pressupostos que deter- minam o sentido dos termos ¢ conceitos constituintes, ainda afirma que o saber moderno “paradigmatico” € superior ao saber pré-paradigmiitico que represent’ uma espécie de estagio primitivo do saber.? erminado sem a mediaga Horton, que questionow a visio dominante do saber dominante, ainda fala das “faculdades cognitivas superio- res” das formas de pensar da cultura cientifica moderna que constituem formas de explanacio, previsio e controle de uma competéncia sem rivais em qualquer época e lugar. Essa superioridade cognitiva deriva, em sua opiniio, da “abertura” do pensamento cientifico moderno e do “fecha- mento” do saber tradicional, Segundo sua interpretagao: “Nas culturas tradicionais ndo existe uma consciéncia articulada das alternativas ao corpo estabelecido de niveis te6ricos, ao passo que, nas culturas de orientagao cientifi- Ca, essa consciéncia é extremamente desenvolvida."3 No entanto, a experiéncia histérica de culturas nao Ocidentais sugere que os sistemas ocidentais de saber é que sdo cegos a alternativas. O rétulo de “cientifico” atribui uma espécie de sacralidade ou imunidade social ao sistema oci- dental. Ao se elevar acima da sociedade ¢ de outros sis- temas de saber e simultaneamente excluir outros sistemas de saber da esfera do saber fidedigno e sistemitico, o sis- tema dominante cria seu monopélio exclusivo. Paradoxal- mente, os sistemas de saber considerados mais abertos é que esto, na realidade, fechados ao exame e a avaliagao. A cigncia ocidental modema nao deve ser avaliada, deve ser simplesmente aceita. Como disse Sandra Harding: Nem Deus, nem a tradigo sao privilegiados com a mesma credibilidade de que desfruta a ractonalidade cien- ‘ifica das culturas modernas... O projeto que a sacratidade da ciéncia transformou em tabu & 0 exame da ciéncia exa- tamente da mesma forma que qualquer outra instituigao ou conjunto de praticas sociais4 ‘Monocutueas on Mere ‘As rachaduras da fragmentagao Além de tornar 0 saber local invisivel ao declarar que ndo existe ou ndo é legitimo, o sistema dominante também faz as alternativas desaparecerem apagando ou destruindo a realidade que elas tentam representar. A linearidade frag- mentada do saber dominante tompe as integracdes entre os sistemas. O saber local resvala pelas rachaduras da frag- mentagao. £ eclipsado com 0 mundo ao qual esta ligado. Desse modo, o saber cientifico dominante cria uma mono- cultura mental ao fazer desaparecer o espaco das alternati- vas locais, de forma muito semelhante a das monoculturas de variedades de plantas importadas, que leva a substi- tuigao e destruigao da diversidade local. O saber dominante também destrsi as proprias condigdes para a existencia de alternativas, de forma muito s introdugao de monoculturas, que destroem as proprias condigoes de exis- téncia de diversas espécies. Enquanto metéfora, a monocultura mental talvez. seja mais bem exemplificada no saber ¢ na prética da silvi- cultura e da agricultura. A silvicultura “cientifica” € a agricul- tura “cientifica” dividem artificialmente a planta em domi- nios separados sem partes em comum, com base nos mer- cados isolados de bens aos quais fornecem matéria-prima € recursos. Nos sistemas locais de saber, 0 mundo vegetal nao € artificialmente dividido entre uma floresta que for- nece madeira comercial ¢ terra cultivavel que fornece mer- cadorias em forma de alimentos. A floresta ¢ 0 campo sao um continuum ecolégico, ¢ as atividades realizadas na flo- resta contribuem para satisfazer as necessidades alimenta- res da comunidade local, enquanto a propria agricultura € melhante modelada de acordo com a ecologia da floresta tropical Alguns habitantes das florestas obtém comida diretamente iloNocuTueas oa Menre SISTEMAS LOCAIS DE rowrae be Forregom / ABER A pera Agua oisaginosas|| Cereals Comic [teow] aes SISTEMAS DOMINANTES DE SABER N > [ aon | | Ne=P7/ | \ Florestas, madeia| | Comic | 0s Espacos Desaparacidos Figura 1. O saber dominante ¢ o desaparecimento das alternativas. Monee TURAS DA Mente de seu meio ambiente, enquanto muitas comunidades pra- ticam a agricultura fora da floresta, mas dependem da fer- tilidade da floresta para a fertilidade da terra cultivavel No sistema “cientifico” que separa a silvicultura da agii- cultura e reduz a silvicultura ao fornecimento de madeira, comida no & mais uma categoria relacionada a silvicultura, Portanto, essa separagao apaga 0 espaco cognitive que rela- iona a silvicultura 4 produgao de alimentos, quer direta- mente, por meio dos elos de fertilidade. Os sistemas de saber que nasceram da alimento so, por conseguinte, eclipsados e finalmente des- truidos, tanto pelo descaso quanto pela agressto.5 ‘A maioria dos sistemas locais cle saber tem-se bas na capacidade que as florestas tém de manter a vida, na no valor comercial de sua madeira. Esses sistemas entram no beco sem saida de uma perspectiva de se baseia exclusivamente na exploracao comerc restas. Se alguns de seus usos locais puderem ser comer- Cializados, é atribuido a eles o status de “produtos secund ros’, sendo a madeira considerada © “produto principal” da silvicultura, Desse modo, a criagio de categorias frag- mentadas faz com que os olhos se fechem para espagos inteiros que o saber local compreende, saber que est mu to mais perto da vida da floresta e € muito mais represen- sidade. A ciéncia dominan- te na silvicultura ndo tem espago para o saber dos hanunus das Filipinas, que dividem as plantas em 1.600 categorias, entre as quais os botinicos especializados s6 conseguem distinguir 1.200.6 Os fundamentos do saber dos sistemas de safras baseados em 160 tipos de plantas da tribo lua, da ‘Tailandia, no so considerados saber, nem pela silvicultura dominante, que s6 vé a madeira comercial, nem pela agri- cultura dominante, que s6 vé a agricultura quimicamente -nsiva, Portanto, os sistemas alimentares baseados ‘na pacidade que a floresta tem de fornecer lo tativo de sua integridade e dive 27 MONOCULTURAS DA Men floresta, quer dlreta, quer indiretamente, sdo coisas que no existem no campo de visio de uma silvicultura e de uma agricultura reducionistas, mesmo que tenham sido e ainda sejam a base do sustento de muitas comunidades do mundo. Por exemplo: as florestas timidas do sudeste da Asia fornecem toda a madeira necessiria 208 ¢: quenis, aos punan ba e aos penans, que tiram-na ‘4 € praticam uma agricultura de subsisténcia. O povo tirurai depende da flora silvestre das florestas, que é a sua principal fonte de alimento e de satisfago de outras neces- sidades.” Os suprimentos vegetais so colhidos principal- mente da floresta a sua volta, e cerca de 223 tipos basicos de plantas sao aproveitados regularmente. Os artigos ali- ‘mentares mais importantes siio cogumelos (luats), samam- baias e fetos (pakus) ¢ 0 miolo de varias plantas (hot), entre as quais brotos de bambu, palmeiras-silvestres ¢ bananas, Vinte e cinco variedades diferentes de fungos sto comidos pelos quenids e 43 variedades sto consumidas pelos ibans® Sagu, o alimento basico dos penans do Bornéu, é 0 amido contido no miolo da uma palmeira chamada Bugeissone tuilis. Na Nova Guiné inteira (a Nova Guiné dos papuas dos irian jaya), 100 mil consumidores produzem 115 mil toneladas métricas de sagu por ano.? © trabalho etnobot nico com diversas tribos da india também esti descobrindo © saber profundo ¢ sistematico que elas tém das florestas. No Sul da india, um estudo realizado entre os soligas, nas montanhas beliranganas de Karnataka mostrou que eles usam 27 variedades diferentes de verduras em diferentes €pocas do ano, € um grande némero de tubérculos, folhas, frutas e raizes sto usadas pelas tribos por suas proprie- dades medicinais. Um menino irula analfabeto, de um po- voado perto de Kotagiri, identificou 37 variedades diferentes de plantas, citando seus nomes irulas e seus diferentes usos.10 28 i | | | MonocuLTunas DA Mente Jim Madia Pradesh, embora o arroz (Oryza sativa) as jedades de paingo ou milhete (Panicum miliaceum, varied Bleusine coracanae Paspalum scrobiculatum) constituam a ‘ile fsica das tribos, quase todas elas suplementam-na an ¢,folhas¢ frutas de mu. |mesosas plantas silvestres abundantes nas florestas. Grigson ‘observou que a fome nunca foi problema em Bastar, pois metade da comida consumida pelas tribos sempre derivou dos inémeros produtos comestiveis da floresta. Tiwari pre- ‘parou uma lista detalhada de espécies de plantas silvestres consumidas pelas tribos de Madia Pradesh. Citow 165 tes, arbustos ¢ trepadeiras. Entre elas, a primeira categoria ‘contém uma lista de 31 plantas cujas sementes so torradas ce comidas. Ha 19 plantas cujas raizes ¢ tubérculos sto con- sumidos depois de assados, cozidos ou beneficiados de alguma outra forma; h4 17 cujo suco € tomado fresco ou depois de fermentado; 25 cujas folhas s4o comidas como verdura € 10 cujas pétalas sio preparadas como verduras. HA 63 plantas cujas frutas so consumidas cruas, maduras, assadas ou em forma de conserva; ha 5 espécies de Ficus que do figos para os habitantes das florestas. As frutas do Pithcellobium dulce Cinga dulcis), também chamadas de jalebi silvestre, sio as favoritas das tribos. As sépalas da ‘mobwa sio comidas avidamente e também fermentadas para obter-se uma bebida alcGolica, A Morus alba, a amora, fornece alimento tanto para ser humano quanto para os passaros. Além disso, a Ziziphus mauritaniae a Z oenoplia dao frutas deliciosas que tm sido consumidas pelos habi- desde a época do mesolitico.!1 florestas fornecem ali- tantes das floresta ‘Também as areas nao tribais da mento e meio de vida com suas contribuigdes criticas para a agricultura por meio da conservagio do solo e da agua € dos suprimentos de forragem ¢ fertilizante orgiinico. As priticas da silvicultura autoctone baseiam-se em maxin o sustentivel ¢ renovivel de todas as diversas formas fungées das florestas € das Arvores. Esse conhecimento popular da silvicultura € transmitido de geragto a geragio por meio da participagto nos processos de renovacio da floresta e de obtengao do sustento em seus ecossistemas Em paises como a india, a floresta tem sido a fonte da renovagio da fertilidade agricola, A floresta enquanto fonte de forragem e fertilizantes tem sido uma parte significativa do ecossistema agricola, No Himalaia, as florestas de carva Iho tém sido cruciais para a sustentabilidade da agricultura. Nos Ghats Ocidlentais, as terras “beta” t€m sido criticas para a sustentabilidade das antigas plantacdes de especiarias como a pimenta, o cardamomo e as nozes da areca. As esti mativas indicam que mais de 50% do total de suprimento de forragem para as comunidades camponesas do Himalaia vem das florestas, visto que as rvores das florestas entram com 20% do total.!? Em Dehra Dun, 57% do suprimento ‘anual de forragem vem das florestas.3 Além de contribuir com a forragem, as florestas também sao importantes para @ agricultura praticada nas colinas em razdo do uso da bio- massa vegetal como a palha na qual o gado se deita. As flo- estas so a principal fonte de folhas secas caidas e de fol- has verdes cortadas das drvores € de espécies herbéceas que so usadas para o gado se deitar e para fazer compos- {0s orginicos. A biomassa da floresta, quando misturada 40 esterco animal, constitui a principal fonte de nutrientes do solo para a agricultura das colinas. Segundo uma estima- tiva, 2,4 toneladas métricas de palha e esterco sido usadas Por hectare de terra cuttivacla anualmente.M4 A medida que essa contribui¢do diminui, a produgio agricola também dectina Os diversos sistemas de saber que evoluiram com os diversos usos da floresta como fonte de alimento ¢ auxiliar da agricultura foram eclipsados com a introdugio da silvi 30 Monocutrutas oA MeNre como fonte fica”, que trata a floresta apena Hiiluara-“cientifica’, que trata a s con acs dustrial e comercial, As ligagdes entre flo- idle thadeira indust mee Ps e agricultura foram rompidas, e a funcao da flores rae z orcebida, TE emo fonte de alimento deixou de ser percebic: i. ‘Quando 0 Ocidente colonizou a Asia, colonizou suas Trouxe consigo as idéias da natureza ¢ da cultura juanto derivaces do modelo da fabrica industrial. A flo- Ser delxou de ser vista como uma entidade que tem valot | {els Depois de exaurr suas florestas nativas, os paises eur0- FS Beus comecaram a destruir as florestas da Asia. A Inglaterra ‘explorou a madeira das coldnias para sua marinha porque as florestas de carvalho j tinham sido arrasada ©) vs As necessidades militares de obter a teca india = fam a-uma proclamacio imediata que arrancou o direito a (essa drvore das mos do governo local € colocouo © mos da Companhia das Indias Orientais. $6 depois de Anais de meio século de destruicao desenfreada das flo- |= festas pelos interesses comerciais ingleses € que foi feita = 1a leva- "ineira Lei Florestal Indiana (VII de 1865) foi promulgada © pelo Conselho Legislativo Supremo, autorizando 0 govemo + Aapropriar-se das florestas das populagdes locais e adminis- " Wrlas como reservas florestais. feresses.industriais chamaram de_administracac {clentifica’. No entanto, para as populagdes nativas, foi sind- Fo imo do comeco da destruigio das florestas e a erosto dos o direitos do povo de usi-las. Contudo, as florestas no sio | apenas uma mina de madeira, sio também a fonte de ali- nentos das comunidades locais. E, com 0 uso das florestas J Para obter alimento € como auxiliar dt agricultura, esto Aelacionados diversos sistemas de saber Sobre a floresta. A 31 MONOCULTURAS DA MENTE separagio entre silvicultura e agricultura € 0 foco exclusive na produgio de madeira como o objetivo da silvicultura levaram a criacdo de um paracigma unidimensional da silvi- cultura ¢ a destruigao dos sistemas de saber multidimensio- nais dos habitantes das florestas ¢ de seus usuarios A “silvicultura cientifica” foi a falsa universalizagio de uma tradi¢ao local de exploragao dos recursos florestais que nasceu dos interesses comerciais limitados que viam a floresta somente em termos de madeira com valor comer- cial. Primeiro reduziu 0 valor da diversidade da vida das florestas ao valor de umas poucas espécies que tém valor comercial e depois reduziu o valor dessas espécies 20 va- lor de seu produto morto - a madeira. O reducionismo do Paradigma da silvicultura cientifica criado pelos interesses industriais ¢ comerciais violentam tanto a integridade das Mlorestas quanto a integridade das culturas florestais que Precisam das florestas e de sua diversidade para satisfazer suas necessidades de alimento, fibras ¢ moradia. Os principio’ correntes da administragao florestal cien- fica levam a destruicao do ecossistema das florestas tropi- cais porque se baseiam no objetivo de modelar a diversi- dade da floresta viva a uniformidade da linha de monta- gem. Em vez de a sociedade tomar a floresta como modelo, como acontece nas culturas florestais, € a filbrica que serve de modelo a floresta. © sistema de “administragio cientifi- ca", tal como tem sido praticado ha mais de um século, Portanto, um sistema de desflorestamento tropical, que trans. forma a floresta de recurso renovavel em recurso nao-reno- vavel. A exploragio da madeira tropical transforma-se, por conseguinte, em algo parecido com a mineragao: as flores- {as wopicais sto reduzidas a uma mina de madeira. Segundo uma estimativa da FAO, nas proporgdes atuais de explora- ‘$40, as florestas da Asia tropical estariam totalmente exau- ridas na virada do século, Monocuutas DA MENTE {s florestas tropicais, quando seu modelo € a fabrica ¢ fando sio usadas como uma mina de madeira, passam a Be, sccurso ndo renovive. Os povos tropes também ye tomnam um lixo hist6rico descartavel. Em lugar de plu- . 6 lbtica produz monoculturas : cultural € biologico, a Fabrica pr i ociedade, Nao ha insignificante nao tem valor. A “lugar para o pequeno; © insigr lor diomidade onganica é substituida pelo atomismo ¢ pela “qnes — de plantas e pessoas — tém de ser administradas de fora porque no sio mais auto-reguladas e autogeridas. Aque- Jes que nfo se ajustam a uniformidadé so declarados incom- ‘petentes. A simbiose cede lugar 4 competicéo, & eee “6 a condigao de descartivel. Nao ha sobrevivéncia possivel “fara a floresta ou seu povo quando eles se transformam em. "nsumo para a indlstria. A sobrevivéncia das florestas 0. FPicais depende da sobrevivéncia de sociedades ie [cujo modelo sdo 0s principios da floresta. Essas ligdes de gobrevivéncia ndo saem do texto da “silvicultura cientifica to incrustadas na vida nas crencas das populagdes flo- estais do mundo inteiro. Na Asia existem dois paradigmas de silvicultura - um a ivel, que favorece € renova os sistemas de alimento e de ja. A manutengo da capacidade de renovacio € seu ior meio da extraciio comercial € o principal objetivo admi- iStrativo do segundo. Como maximizar os luctos resulta na lestruictio da capacidade de renovagao, os dois paradigmas lo cognitiva e ecologicamente despropotcionais. Hoje em nas florestas da Asia, os dois paradigmas estao Iutando 33 MONOCULTURAS DA MENTE centre si. Essa luta est muito clara nos dois slogans da utili- dade das florestas do Himalaia, um que deriva dos conceitos ecolégicos das mulheres garhwalis ¢ 0 outro, dos concei- tos setoriais daqueles associados ao comércio dos produtos florestais. Quando 0 Chipko se tornou um movimento eco- logico em 1977, em Adwani, o espirito da ciéncia local foi captado no seguinte slogan: 0 que as florestas produzem? Solo, dgua e ar puro, Essa foi a resposta ao seguinte slogan da ciéncia domi- ante, aceito por muitos: 0 que as florestas produzem? Lucros com resina ¢ madeira. A percepeao desses slogans representou uma mudan- ¢4 cognitiva na evolugio do Chipko. O movimento trans. formou-se qualitativamente, deixando de se basear exclusi- vamente em conflitos em tomo dos recursos e pasando a envolver-se em conflitos em toro de saberes cientificos € abordagens filos6ficas natureza. Essa transformacao tam- bém criou aquele elemento do saber cientifico que permitiu 0 Chipko reproduzir-se em diferentes contextos ecols- gicos € culturais, © slogan transformou-se na mensagem cientifica ¢ filos6fica do movimento e langou os alicerces de uma ciéncia alternativa da silvicultura, voltada para o interesse piblico € de natureza ecoldgica. O interesse com- ercial tem como principal objetivo maximizar o valor de toca com a extracdo de espécies comercialmente valiosas. Por conseguinte, os ecossistemas florest reduzidos A madeira das espécies que tém valor comercial. esto sendo 34 Monecutruras pa MENTE Em sua forma atual, a “silvicultura cientifica” € um sis- tema reducionista de saber que ignora as relages com- plexas no interior da comunidad florestal e entre a vida vegetal ¢ outros recursos como o solo ¢ a “gua. Seu mode lo de utilizagao de recursos baseia-se na “produtividade” ccrescente desses alicerces reducionistas. Ao ignorar as liga- ‘goes do sistema com o ecossistema florestal, esse modelo de uso de recursos gera instabilidades no ecossistema € eva ao uso contraproducente dos recursos naturais no pla- no do ecossistema. A destrui¢do do ecossistema florestal € das miltiplas fungdes dos recursos florestais prejudica, por sua vez, 0s interesses econdmicos daqueles setores da socie- dade que dependem das fungdes diversificadas dos recur- 08 florestais para sua sobrevivéncia, Entre eles temos a estabilizacio do solo e da Agua e a provisdo de comida, for- ragem, combustivel, festilizante ete. Movimentos florestais como 0 Chipko so simultanea- mente uma critica a silvicultura “cientifica” reducionista ¢ a 10 de um quadro de referéncias para uma ciéncia florestal alternativa que € ecol6gica ¢ tem condigoes de | proteger o interesse piblico. Nessa ciéncia florestal alter- ativa, os recursos da floresta ndo sio vistos isolados dos do ecossistema. E 0 valor econémico de fo € reduzido ao valor comercial da |, Outros recursos “uma floresta também madeira Aqui, “produtividade”, “rendimento” -mico” sio definidos em virtude do ecossistema integrado “para uma utilizacdo mélipla. Seu significado ¢ medida sao, _ Portanto, inteiramente diferentes do significado ¢ da medida j, empregados pela silvicultura reducionista. Assim como na E passagem da fisica newtoniana para a einsteiniana o sig: hificado de “massa” mudou, deixando de ser um termo inde- iRendente da velocidade e pasando a serium termo depen- Bilonte dela, na passagem da silvicultura reducionista para a “valor econé- i 35 i /MONOCULTURAS DA MENTE ecolégica, todos os termos cientificos deixam de ser inde. pendentes do ecossistema e passam a depender dele. Assim, enquanto para as tribos e outras comunidades flo- restais um ecossistema complex é produtivo em termos de ervas, tubérculos, fibra, patrimdnio genético ete., para o explo- rador reducionista esses componentes do ecossistema das florestas so intiteis, improdutivos, descartdveis. Os movimentos Chipko ¢ Appiko sio movimentos de comunidades agricolas contra a destruigao das florestas que sustentam a agricultura. Os bloqueios madeireiros dos pe- nans € de outras tribos de Sarawak sio lutas de populaces florestais contra sistemas de silvicultura que destroem a flo- esta e seus habitantes, Segundo essas tibos: Essa é a terra de nossos antepassados, e de seus ante- Passados antes deles, Se ndo fizermos nada agora para pro- teger 0 pouco que resta, ndo restard nada para nossos fi- thos. Nossas florestas sdo derrubadas, as montanhas sitio niveladas, os tiimulos sagrados de nossos ancestrais foram brofanados, nossas aguas e nossos rios sao contaminados, nossa vida vegetal é destruida e os animais da floresta sao ‘mortos ou tém de fugir. O que mais podemos fazer além de fazer nossos protestos serem ouvides, de modo que algo ‘possa ser feito para nos ajudar? AVEK MATAI AME MANEU MAPAT (vamos bloquear essa estrada até a morte) 15 A\ destruisao da diversidade, vista como “erva-daninha A destruigdo da diversidade biol6gica € intrinseca a Propria maneira pela qual o paradigma florestal reducio- 36 VJ TT TTT YF Ista concebe @ floresta. A floresta € definida como *nor- Al de acordo com 0 objetivo de adminisré-la para maxi Fiza a producto de madeira comercializavel. Como a flo- "posta tropical natural € caracterizada pela riqueza de ous diersiade, que inca dversade de espécies no come slzaveis sem uso industrial, o paraligna dssivicltor Gientiica” declara que a floresta natural € “anormal”. Se- B judo as palavza de Sclich, a adminstragfo flrestal impli- téaque “as condigdes anormais sejam eliminadas”!6 e, se- indo Troup Para chegarmos a ter uma floresta normal a partir da “condigao anormal da floresta nalural existente & preciso fazer um certo sacrificio tempordrio, Em termos gerais, manto mais rapida a passagem para o estado normal, into maior o sacrificio; por exemplo: & possivel obter flo- Gompletas seguidas de regeneracdo artificial, mas, numa E loresta irregular e sem uniformidade na idade de suas Uspécies, isso significa o sacrificio de muitas drvores jovens BY no caos nos leve a exercitar consideravelmente a nossa mente B2in relacao a administragao florestal.7 a F' Portanto, a floresta natural, com toda a stia diversi- dade, é vista como “caos". A floresta fabricada pelo homem ‘2 ordem”. A administrago “cientifica” das florestas tem, uniformidade € & ladas e todas da mesma faixa etéria, € F ideal de floresta normal que todos o5 sistemas da silvi- jultura almejam. A destruigio € © carter descartavel da 37 MONOCULTURAS DA Mente diversidade € intrinseca a administragdo florestal guiada pelo objetivo de maximizar a produgio comercial de ma- deira, que vé as partes nao comercializdveis e as relacées de um ecossistema florestal como algo sem valor - como ervas-daninhas que devem ser eliminadas. A riqueza da natureza, caracterizada pela diversidade, € destruida para riar riqueza comercial caracterizada peta uniformidade. Em termos biol6gicos, as florestas topicais s20 0s sis- temas biol6gicos mais produtivos de nosso planeta. Uma grande biomassa costuma ser tipica das florestas tropicais As quantidades de madeira sto particularmente grandes nas florestas tropicais © sua média é de 300 toneladas por hectare. A média das florestas temperadas é de 150 tone- Jadas por hectare. No entanto, segundo a silvicultura comer- cial reducionista, a produtividade global nao é importante, nem as fungdes das florestas tropicais tem valor para a sobrevivéncia de seus habitantes. Essa silvicultura procura Somente as espécies utilizadas industrialmente € que po- dem ser comercializadas com lucro, e avalia a produtividade em termos somente da biomassa industrial e comercial. Vé © Festo como lixo ¢ ervas daninhas. Como afitma Bethel, um Consultor internacional de silvicultura, referindo-se a grande biomassa tipica das florestas dimidas dos trépicos: B preciso dizer que, de um ponto de vista do supri- mento de matéria-prima industrial, isso 6 relativamente insignificante. O importante 6 quanto dessa biomassa re. bresenta drvores ¢ partes de drvores das espécies proferidas que podem sor comercializadas com lucro... Segundo os modelos de utilizacao de nossos dias, a maioria das drvores dessas florestas tropicais timidas 6 claramente, do ponto de vista da matéria-prima industrial, erva-daninha 8 © ponto de vista das matérias-primas industriais é a sil- vicultura reducionista do capitalismo que divide a demo- 38 MoNocuTuRAs DA MENTE Je Hlixo", que devem ser destruidos. Esse “lixo”, por : Riera que contém a Agua € 0s ciclos dos Griqueza de biomassa qi ; isientes da natureza e que satisfuz as necessidades de pd forragem, fertilizantes, fibras ¢ remédios das comu- nidades agricola po aan como a silvicultura “cientifica” exclui as funed =e producdo de alimento da floresta € destréi sua divers “Gade, vista como “erva-daninha”, a agricultura “cientifica “jambém destréi espécies que podem ser paeeeeco mento, apesar de nfo poderem ser vendidas no mercado. 2). A Revolugio Verde substituiu nao s6 as variedades de “fementes, mas safras inteiras do Terceiro Mundo. Assim das comunidades locais eram conside- ‘inferiores” ¢ “de ma qualidade”. $6 uma agronomia + tendenciosa, enraizada no patriarcado capitalista, poderia “chamar safras nutritivas como 0 nachinim ¢ 0 jowarde infe- Stiores. As camponesas conhecem as necessidades nutri- _ sionais de sua familia ¢ 0 teor nutritive das safras que cul- > tivam. Entre as plantas cultivadas, preferem aquelas com | méximo teor nuttitivo as que tém valor de mercado. O que quais todos os nento” agricola esto. g Subordinados. A Tabela 1 mostra que aquilo que a Revo- B lcdo Verde declarou setem cereais “inferiores” so, na ver- 39 MONOCULTIRAS DA Mere dade, superiores em teor nutritivo aos cereais tidos como “superiores”, 0 arroz ¢ 0 trigo, Uma habitante de uma aldeia do Himalaia disse-me: “Sem nosso mandua'e nosso jan- gora, nao trabalhartamos como trabalhamos. Esses gros so nossa fonte de satide e forga.” Tabela 1. Teor nutritivo de diversas plantas cultivadas. Proteina| Minerais | ca | re | (ex) | Googe 200 mg) Bajra 116 23 42 5,0 Nachinim |_73 27 344 64 Jowar 10,4 16 25 58 Trigo Garinba) |g 06 3 Arroz (farinba) 68 06 10 3, __ Nao sendo comercialmente tteis, as safras populares sao tratadas como “ervas-daninhas” e destruidas com vene- nos. O exemplo mais extremo dessa destruigao foi o da batua, uma verdura importante com um elevado teor nutri. Ivo ¢ rica em vitamina A, que cresce associada a0 igo. Todavia, com o uso intensivo de Fettilizantes, a batwa tornase um grande concorrente do trigo e, por isso, declararam que cla € uma “erva-daninha”, que é eliminada com herbicidas. Quarenta mil ctiangas da India ficam cegas todo ano por falta de vitamina A, ¢ os herbicidas contribuem para essa tagédia ao destruir as fontes de vitamina A que s siveis a todos. Milhares de 10 aces- mulheres da grea rural que 40 MONOCULTURAS DA MENT resistentes a herbicidas vai Golmos. A introdugio de sal © -qumentar 0 uso desses produtos quimicos e, com isso, vai au- io de plantas titeis econdmica € |} mentar també ecologicamente. A resisténcia aos herbicidas também exclui ‘a possibilidade de rotacio de culturas € de safias mistas, icultura sustentavel e ecologicamen- spécies sio destruidas pelos hherbicidas, Estimativas norte-americanas mostram hoje um $$ 4 bilhdes por ano devido a perda resul- a destrui- idade com 4 base nas plantas e na biomassa, ‘As estratégias da engenharia genética voltadas para E tesisténcia ¢ que esto destruindo espécies de plantas titeis ‘também podem acabar criando superetvas-daninhas, Ha o intima entre as ervas-daninhas € as safras agri- f colas, principalmente nos tr6picos, onde as variedades dani- Ee nhas e as variedades cultivadas interagem geneticamente - remente, produzindo novas varie- = dades. Os genes da tolerincia a herbicidas que os enge- | ftheiros genéticos esto tentando introduvir na agricultura "podem ser transferidos para as ervas-daninhas das proxin ‘ades em conseqiiéncia de um cruzamento genético que | ocorre naturalmente. | Rescassez de variedades de plantas titeis em nivel local |) foi criada pelos sistemas de saber dominante que despre- § 72m 0 valor do saber local e declaram que as plantas Gteis “para as comunidades locais sto “ervas;daninhas". Como 0 _ saber dominante € criado com base na perspectiva de gma § produco comercial cada vez maior € s6 reage aos valores 41 ‘MONoCULTURAS ba Mente do mercado, nio tem condigées de perceber os valores atribuidos a diversidade biolbgica pela visto local. Desse modo, a diversidade & destruida em comunidades vegetais, | na floresta € nas comunidades camponesas, pois, de acor- do com a l6gica comercial, ela nao tem “utilidade" disse Cotton Mather, 0 famoso cagador das bruxas de Salem, Massachusetts, “o que nao é atil 6 maligno". Por- tanto, deve ser destruido, Quando o que € itil e 0 que nao € Util € algo determinado unilateralmente, todos 0s outros sistemas de determinagiio de valores so derrubados, Declarar que uma espécie ail em nivel local é uma erva-daninha € outro aspecto da politica de extingio, pelo do qual 0 espaco do saber local definha até desaparecer. O campo de visio unidimensional do sistema dominante percebe somente um valor, aquele baseado no mercado, € essa percepeio gera priticas de silvicultura e de agricultura que tém por objetivo maximizar esse valor. Relacionado com a destruicio da diversidade como algo sem valor temos a inevitabilidade da monocultura como o ‘nico sis tema “produtivo” e de “rendimento elevado”. como As drvores ¢ as sementes “mi agrosas A perspectiva unidimensional do saber dominante esté baseada nas ligacoes intimas da ciéncia moderna com o mercado. A medida que as integragdes multidimensionais entre agricultura e silvicultura em nivel local so rompidas, novas integragdes entre mercados no locais ¢ recursos lo- Cais sto criadas. Como © poder econdmico est concentra- do nos centros dle exploractio remotos, o saber desenvolve- se de acordo com a l6gica linear de maximizar 0 fluxo em nivel local, A floresta e a fazenda integradas cedem lugar as esferas separadas da silvicultura e da agricultura. Os dliver- 42 1/14/1171 1117 7 MONOCLILTURAS DA MENTE F gos ecossisteras florestais e agricolas so reduzidos a espé- : pela a seletiva da diversidade © Ges “preferidas” pela aniquilagao seletiva i scl do ponto de vista do mer do, © espécies que nao sio “it sa cade He snenee, as prOprias espécies “prefers tem cdc | pela engenbara genética sto intraduridas com base as | eancterisics "prefers". A divesidade mata! satis gubstituida pelas monoculturas de drvores € safras agricolas. ‘Na silvicultura, a medida que a indiistria do papel e da polpaalcancaram prosminnci, a espécies que prot pop passaram a ser a5 “preferidas” pelo sma de ser dominant. As florestasnaturas foram desmubadas ¢ subst | uidas por monoculturas de Eucalyptus, uma espécie estran- # geira que produz muita polpa. Entretanto, a silvicultura “cien- fica” nao projetou essa pritiex como uma resposta esfiec [fica 20 interesse espectico da indistria de polpa. Fez sua “escolha com base em critérios universais e objetivos de “ screscimento rapido” ¢ “rendimento elevado". Na década de '80, quando a preocupagio com o desflorestamento € seu ‘ s comunidades locais e a estabilidade eco- ogica criaram 0 imperativo dos programas de refloresta- ‘mento, o eucalipto foi apresentado mundialmente como uma {arvore “milagrosa”, Contudo, as comunidades locais de todas ul as partes do mundo tém outra opiniti. © principal impulso de lutas pel x n ‘0. movimento Chipko, € que as florestas ¢ as drvores sto sustentacgdo da vida e devem ser protegidas s. A mentalidade la preservagio, como “tegeneradas por suas fungdes biosf a © monocultural, no entanto, vé a floresta natural e as arvores como “ervas-daninhas” e converte até o feflorestamento em desflorestamento e desertificagio. De sistemas de susten- ‘clo da vida, as arvores silo tansformadas em ouro verde = todo plantio € motivado pelo slogan “o dinheiro dé em E Arvores”, Quer sejam propostas como silvicultura social ou Bcomo recuperacao de terras devastadas, os programas de 4B MONOCULTURAS DA MENTE reflorestamento so concebidos em nivel internacional por “especialistas’, cuja flosofia de livre plantio encaixa paradigms reducionista de produzir madeira para o merca do, no biomassa para manter os ciclos ecolégicos ou para satisfazer as necessidacles locais cle comida, forragem e ferti- lizantes. Todos os programas oficiais de reflorestamento, que tém grandes financiamentos € um sistema centralizado de tomada de decisdes, agem de duas formas contra os sistemas de saber locas: destroem a floresta enquanto sistema diver- sificado que se reproduz sozinho e destroem-na enquanto bem comum, partilhado por uma grande diversidade de gru- Pos sociais, entre os quais até os mais humildes tém direitos, acesso € prerrogativas. ¢ no A silvicultura “social” ¢.a drvore “milagrosa” Os projetos de silvicultura social sio um bom exemplo de grandes plantagdes de uma tinica espécie, cle uma tinica mercadoria, com base nos modelos reducionistas que divor- ciam a silvicultura da agricultura e da administragao dos recursos hidricos, e as sementes do mercado. Um estudo de caso patrocinado pelo Banco Mundial sobre silvicultura social, no distrito Kolar de Karnatakal9 ilustra 0 reducionismo ¢ a deformagao da silvicultura que se estende as terras cultiviveis. A agrosilvicultura descen- tralizada, com base em méltiplas espécies e em responsabi- lidade privada e comunitéria pelas arvores, é uma estratégi antiga que a india usa para manter a produtividade agrico- Ja em zonas dridas e semi-Aridas. O bonge, o tamarindo, a jaca ¢ a manga, a jola, gobli, o kaglie o bambu fornecem tradicionalmente comida ¢ forragem, fertilizantes e pestici das, combustivel ¢ lenha. O quintal de toda residéncia raral era um viveiro, € todo camponés era um silvicultor. O mo- 44 MoNocuLTUtas oA Men era i escentializado da agrosilvicultur Gio invisivel e descentra eutors e Be lame porque até a mais humilde das espécies e a Es bun dele; e, com es- Bis umilde das pessoas podia participar dele; e, com Price para o pequeno, todos se envolviam com a proteclo oe . 6 plant. A mentalidade reducior 1 tomou conta do plantio de ‘com a “silvicultura social”. Foram feitos projetos em nais € internacionais por pessoas que talvez, Apores Pipitais nad x honge e do neem e, pot iss, jie conhecessem os usos do honge e do m p Gsideraram-nos ervas-daninhas. Os especiisas chega- Bin a conclusto de que o saber autécione aio tinha valo Fi(gum, era ‘anticientifico’, passaram a a a an ide das especies nativas substitvindo-as por files e file fs de mudas de eucalipto em sacos de pléstico,vindas de Piieios governamentais. As sementes que 2 natureza ofe= facia localmente foram jogadas fora; o saber as energi eis das populagdes locais foram jogados fora, Com eon 3 especializados veio U ginentes importadas ¢ conhecimento: : eae i vidas € a exportagao de B cimportacio de empréstimos ¢ dividas e a exportacto EF radeira, solos e pessoas. As frvores, enquanto recurso vivo Fesponsi a alidade do solo, da esponsivel pela manutenclo da vitaidade do solo, da pguae das populagdes loais, foram substividas por outras ores euja madeira mora ia dirto para wma Fabrica de 3 stincia. A menor da a a centenas de quilémetros de distinc ac exncare ws ja-prima para a imentos para s locais, A mao-de-obra local, que ligava as cue foi substituida i ‘ f fazendas tornou-se um fornecedor de ma vores as safras agricolas, desaparec : Bf els miode-obra de itermediéros que trouxeram os euci- f liptos por causa da industria. Os indlustriais, os silvicu Bii¢.0s burocratas adoram 0 eucalipto porque ele cresce reto Be tem uma madeira excelente para fazer polpa, a0 contrario i/o bonge, que protege o solo com seus galhos profusos : ESua copa densa, ¢ cujo verdadeiro valor é ser uma aryor Pkiva numa propriedade rural 5 MONOCULTURAS DA Mente O bongetalvez.seja a idéia que a natureza tem de um: dtvore perfeita para a arida Karnataka. Seu crescimento rapido exatamente daquelas partes que voltam a terra — as folhas ¢ 0s galhos pequenos ~ enriquecendo- do-a, conserva sua umidade e fertilidade. via, considerado em termos ecolégicos, & negativo, porque essa visio aval dlutividade” das a a € protegen- © evcalipto, toda- improdutivo e até lia © “crescimento” € a “pro- Atvores em relacio ao ciclo da agua e sua Conservacio, em relagio a fettilidade do solo e as necessida. dles humanas de alimento ¢ produgio de alimento. O euca, lipto destruiu 0 ciclo da agua das regides dridas em vitusde de sua grande demanda de gua e sua incapacidade de Produzir hémus, que € © mecanismo da natureza para con. servar a Agua, A maioria das espécies nativas tem uma produtividade biolégica muito maior que a do eucalipto, quando se con, sidera a produgio de ‘gua e sua conservacao, A biomases das drvores que nao € constituida de madeira nunca fot avaliada pelas mensuragdes e quantificagdes florestais den. tro do paradigma reducionista; no entanto, € exatamente essa biomassa que atua no sentido de conservar a agus ¢ CTiat solos. Nao & de surpreender que as mulheres de Garhwal chamem uma drvore de “dali” ou ramo, porque vem a Produtividade da drvore em termos de do € madeira € que tem uma funcdo cr Agua ¢ dos nutrientes no interior d. sua biomassa que ‘ucial nos ciclos da la floresta, nos fertilizan- tes verdes ¢ na forragem das terras cultivadas, Ocucalipto © @xgumento mais convincente em favor da expansio do eucalipto € que seu crescimento & mais ripido do que todas as alternativas locais. Trata-se muito daramente de ‘ima Inverdade em ecozonas onde 0 eucalipto nfo tem pro. AAI E utividade devido aos estragos. provocados plas. estes, “também nao é verdade em zonas com solos pobres e Pouca + Agua, como 0s relat6rios sobre a produtvidade ‘omara aoe dente. Aé onde fatores biticos ¢climsticos favorecem se ceescimento, © eucalipto no tem condigdes de compa com uma série de expéces natvas de erescimento sido, © Quando afirma Secs b crescimento do eucalipto estavam sendo usadas pa a | vener rea forests naturis em monoculturts de euctlipt, “com base no aumento da produtividade da 4rea, 0 eee 7 Pesquisa Florestal do Instituto de Pesquisa Horestal (Pi afrmou eategoricamente que “algunas especies natas ere “cem to depressa quanto e, em alguns casos, até mais do que 0 valorizadissimo eucalipto”. Como justificativa, apre BS sentou uma longa lista de espécies nativas de a f 'répido que tinham taxas de erescimento que excediam a do eucalipio que, nas melhores condigbespossves, € de cera de 10 m por hectare por ano e, em média, & de cerea de 5 m® por hectare por ano CFabela 2. As drvores cae aquelas nativas do solo indiano ou si0 plantas estrangeiras que se aclimataram no decorrer de milhares de anos. Essas dados baseados em plantacdes de florestas arti- ficiais no incluem espécies de drvores das fazendas e que tém um crescimento répido, como a Pongamia pinata, a Grewia optiva etc., que tém sido a eae agricolas para as propriedades rurais, mas que nao despotarmo inerese de svcltrd comercial Apes de ser uma lista incompleta das drvores nativas de crescimen- 10 ripido, os dados sobre a produtividade das florestas arti. Ficais revelam, muito adequadamente, que 0 eucalipto esta entre as espécies de erescimento mais lento até em termios da produgao de biomassa de madeira. © hibrido do cus lipto, a espécie mais plantada do Eucalyptus, tem diferentes taxas de crescimento em idades diferentes e em Iocais diferentes, como mostra a Tabela 3. ices cientificas bombastica ‘Moncuvtueas ba Mere E aren Tabela 2. Algumas espéctes nativas de crescimento Ihela 3. Produtividade do bibrido do eucalipto. relativamente rapido. iajidade da | Wade | 1AM mo/ ona Nome da espécie _|Idade (anos)|_IAM (m3/hectare) Bes tere ce cam Duabanga | : sonneratioides 47 19 3 81 = Alnus nepalensis 22 16 : q 13 10,6 Terminalia 2 ae 3 myriocarpa a a e ae 71 Evodia meliafolia Tt 70 a Be we ‘Michelia Campaca S 78 E eI Be 30" Tophopetalim So 5 133 7 fibriatum 17 15 TT i1,6 5,2 Casuarina iG r 2 11,0 35 equisetifolia — cE] 10,4 3,6 Shorea robusta 30 q | Ef: 4 99 a7 [ Toona ef L359 cy 98 19 Trewia nudifiora 13 3 3 0,1 7 Artocarpus a of fs chaplasha ae oe i 5 7 ut Dalbergia sissoo 7 34 c pe uf Gmelina arborea 3 2 ee u os a Tectona grandis 10 2 S i ws i Michelia oblonga 74 18 y ie E e 10 10 1,3 Bischofia javanica 7 B - 10 ii Brousonatia a B iz 07 apyrifera 10 25 a B 10 os Bucklandia 2 14 09) 08 bopulnea 15 9 EF 15 09 Of Terminalia ox tomentosa i. 70 th ono al : Kydia calycina 10 ti ‘. 48 : ° MONOCULUIRAS DA Mente Os pontos que surgem das Tabelas 2 ¢ 3 sio: Em termos de produtividade medida como incremento anual médio (AM), 0 eucalipto produz lentamente a biomassa de madeira até em solos muito férteis e com abundancia de agua. 2) Quando a terra é de ma qualidade, como solos erodidos ou aridos, a produtividade do cucalipto € insignificante 3) A taxa de crescimento do eucalipto nas melhores condi- Bes possiveis Dv io € uniforme nas diferentes faixas eta rias. Cai drasticamente depois de 5 ou 6 anos. A evidéncia cientifica relativa a produtividade da bio- massa nao corrobora a afirmaclo de que 0 eucalipto cresce mais ripido do que outras espécies alternativas, nem de que cresce bem em terras degradadas. Com um bom regi- me de chuvas, 0s maiores rendimentos do eucalipto tém ido de 10 toneladas anuais por hectare. Todavia, Segundo os doutores K. 8. Rao e K. K. Bokil (relatorios inéditos), um hectare de Prosipis dé 31 toneladas de carvdo or ano. Em Vatua, no distrito de Abmedabad, estado de Gujarat, a produgao anual de carvao com madeira da Prosopis tem sido de 25 toneladas anuais por bectare com um bom regime de chuvas Uma comparagao da taxa de crescimento de dez espé- ies, feita pelo Departamento Florestal de Gujarat, mostra ue © eucalipto ocupa o tiltimo lugar da lista, Esta muito claro que © eucalipto ndo vai preencher a lacuna na de- inda de biomassa de madeira com mais eficiéneia do que oulras espécies de crescimento mais rapido e que, além disso, estio mais bem adaptadas ao clima indiano. As florestas ¢ as arvores produzem varios tipos de bio- massa, satisfazendo diversas necessidades humanas tanto, a moderna administragio florest Entre- al surgi como res- ASDA Mente demandas por biomassa de madeira voltada para to, a taxa de cres- pela silvicultura jtivos comerciais € industriais. Port ‘ento das espécies que sto fornecida derna esti limitada por dois fatores: primeiro e sté limi- Entretanto, as necessidades humanas no se restrin- fin apenas a0 consumo € uso da biomassa de ma deira. A : uten¢io dos sistemas de sustentagdo da vida é uma icf realizada principalmente pela biomassa da copa das ores. £ esse componente das arvores que conitribui pes uae dos. > sob a produgao de biomassa voltada para o consun 2 fotma de combustivel, forragem, adubo, frutas etc. A silvi- Riltura social, em contraposi¢o A silvicultura comercial , em | pretende ser um corretivo, esta voltad: aximizacio da producdo de todos os necessidades basicas € diversifica- 10 do crescimento € Reologica e satisfazer a Bilis de biomassa. A unidade de avalia ndo pode, evidentemente, ser superada com 0 ABlantio de arvores dle crescimento rapido do ponto de vista c jo absolutamente impro- ivas no que diz. respeito s de forragem. A avaliagao da produtividade na silvicultura social tem is necessidadk 51 MONOCULTURAS DA MENTE insumos a0 agroecossistema. Quando o objetivo do plantio de drvores € a produgdo de forragem ou de fertilizantes naturais, é importante avaliar a produtividade da biomassa da copa. A fndia, com sua rica diversidade genética dle plan- tas ¢ animais, foi generosamente dotada com varios tipos de drvores de forragem que tém uma produgio anual de biomassa da copa muito superior a biomassa total criada elas plantagdes de eucalipto, como indica a Tabela 4 Tabela 4. Produtividade da biomassa da copa de algumas Grvores famosas por sua forragem. Nome da espécie | ‘Toneladas anuais por hectare da biomassa da copa Acacia nilottea 15-27 Grewia optiva 33 Baubinia F Ficus 75 Leucena lewcocepbala 75 Morus alba Prosopis sineraria 30 Uma produgio importante de biomassa das drvores que nunca é levada em conta pelos silvicultores que procu- ram madeira é a quantidade de sementes e frutas das Arvo- res. Arvores frutiferas como a jaqueira, a jaman, a man. Bucira, o tamarineiro etc. so componentes importantes das formas de silvicultura social tal como tem sido praticada ha séculos na India, Depois de um breve periodo de gestacio, as drvores fornecem safras anuais de biomassa comestivel nunia base sustentavel e renovavel, © tamarineito produz frutas durante mais de 200 anos, Outras drvores, como o neem, a pongamia e © sal tem MONOCULTURAS BA Ment 7 is de sementes que so transformadas em va- ffas anuais de ; flosos Gleos ndo comestiveis. Essas diversas safras da bio- iE ituem fontes importantes de subsisténcia para turais. O uusadas na cobertura de cabanas, ¢ sustenta a grande Gndastria de fibra de coco do px Eilvicultura social, em sua forn Como os programas de Hf) extcaido das sementes. E, 0 que € mais importante ainda, Feomponentes da biomassa da copa que so colhidos das ondicdes de realizar suas fungdes ecolégicas essenciais em mos de conservacdo do solo ¢ da 4gua. A biomassa do sm sido indevidamente fgerados pelo mito de seu ci pido e de sua Hinde produtividade. O mito disseminou-se em virtude de fina propaganda anticientitica ¢ injustficada da espécie. E EYE @ ajuda do crescimento linear do eucalipto numa Gnica aiihensio, ao passo que a maioria das Arvores nativas tem (eas frondosas que se desenvolvem em trés dimen: 55 pia op opSenuatsns ap spusss so rind oxditvone op masypundiiuog opsynqusuoo ¥ ems ty 1a vp opdequaisns ap spilt nd 0 aneae ‘Monocu.rutas A MENTE [ropes soe Sus bp opSojuarsns ap spwiarsts so Bund sazonup ap sjruoioipasy so192ds0 Sop 0 oF ep ees MoNocULTLIRAS DA MENTE Monccutitas ba Mere A Revolusao Verde ¢ as sementes “milagrosas ‘Também na agricultura a mentalidade reducionista criow a safra de monoculturas. O milagre das novas sementes tem sido comunicado muito freqtientemente pela sigh VAR (Variedades de Alto Rendimento). A categoria VAR é crucial no patadigma da Revolugio Verde. Ao contratio do que o termo sugere, no existe uma medida neutra ou objetiva de “produtividace”, cujo fundamento seja sistemas de cultivo baseados em sementes milagrosas que tm comprovada- mente um rendimento maior do que os sistemas de cultivo que substituem. Agora tem aceitag2o universal a afirmacio de que nao existem termos observacionais neutros nem nas mais rigorosas das disciplinas cientificas, como a fisica, To- dos os termos sao estabelecidos pela teoria, A categoria VAR tamb cional neutro. Seu ém no € um conceito observ: gnificado € sua mensuragao sio deter- minadlos pela teoria e pelo paradigma da Revolucao Verde. E esse significado nao é ficil nem diretamente traduzivel em termos de comparacdo com o conceito agricola dos sis- temas nativos de agricultura por uma série de motivos. A categoria de VAR da Revolugio Verde é essencialmente tuma categoria reducionista que descontextualiza prop dades tanto das variedades autéctones quanto das novas Com o proceso de descontextualizacdo, os custos e os im- Pactos sto externalizados ¢ a comparagio sistémica com alternativas € impossibilitada. Em geral, os sistemas de cultivo envolvem uma intera- So entre 0 solo, a gua e os recursos genéticos das plan- tas. Na agricultura nativa, por exemplo, os sistemas de cul- tivo incluem uma relacdo simbiética entre solo, agua, plan- tas ¢ animais domésticos. A agricultura da Revolugao Verde MONCCULTURAS DA MENTE B iniegracao de insumos como as sementes e os produtos 4 Fnicos. © pacote semente/produto quimico estabelece suas rOprias integracdes particulares entre os sistemas de solo dio levados em conta na ava. igua que, no entanto, nao E iacao da produtividade, F ltacao da produt Conceitos modernos de cultivo de plantas como as is agricolas a safras individuais e a artes das safras (Figura 4), Depois as safras componentes as ‘Omparagdo parcial como essa €, por definigdo, tenden- {iosa no sentido de tornar as novas variedades “extrema- S sejam. Os sistem: flinias de rotagio de culturas de cereais, legumes, sementes leaginosas com diversas variedades em cada safra, en- WWanto © pacote da Revolugio Verde baseia-se em mono- turas geneticamente uniformes. Nunca é feita uma ava- Elldcio realista da produtividade das diversas safras produ- F7idas pelos sistemas mistos e de rotagio de culturas. Em Pieral, 0 rendimento de uma Gnica planta, como o trigo ou #6 fuilho, é destacado ¢ comparado a produtividadle de novas pyariedades. Mesmo que a produtividade de todas as safras Posse incluida, é dificil converter a medida da produgio de blecumes numa medida equivalente de trigo, por exemplo, gPorque, tanto na alimentaco quanto no ecossistema, tém IngSes distintas, © valor protéico dos legumes € 0 Valor calérico dos is agricolas tradicionais baseiam-se em sis MONOCULTURAS DA MENTE MONOCULTURAS DA Menre sc SC; brada, mas ce formas diferentes, ¢ um nao pode substituir © outro, como ilustra a Tabela 1. Da mesma forma, a capa- cidade de fixagio de nittog; ttibuicio ecolégica invisivel para a produtividade de cereais associados a eles. Portanto, os sistemas de cultivo comple X08 e diversificados das variedades nativas nao sao ficeis de comparar com as monoculturas simplificadas das se. mentes VAR. Uma comparagio desse tipo tem de envolver sistemas inteiros ¢ ndo podem ser reduzidos a comparagao de um fragmento de um sistema agricola. Nos sistemas agi. colas tradiciona vacdo das condicdes da produtividade. A medida do rendi- mento e da produtividade do paradigma da Revolucio Verde esta divorciada do entendimento de como os proces 508 de aumento da produgo afetam os processos que man- fem as condligdes da producdo agricola, Bssas categorias reducionistas de rendimento © produtividade, além de per. mitirem uma destruicio maior que afeta safras futuras, tam bem excluem a percepcio das diferencas draméticas entre Os dois sistemas em termos de insumos (Figura 5). Os sistemas nativos de cultivo baseiam-se exclusiva- mente nos insumos orginicos intemnos. As sementes vem da Fazenda, a fertilidade do solo vem da fazenda ¢ 0 con. trole de pragas ¢ feito com a mistura de safras. No pacote cla Revolucio Verde, as safras estio intimamente ligadas 4 compra de insumos sob a forma de sementes, fertilizantes uimicos, pesticidas, petr6leo e irrigagao intensiva e acura. da, Uma produtividade elevada nao € intrinseca as semen. fes: so uma funcao da disponibilidade dos insumos neces sitios que, por sua vez, tém impactos ecologicamente des- trutivos (Figura 6). nocultura da Revoluglo Verde ‘nio dos legumes é uma con- de Cultivo Misto * oleaginos: [re Tiversficatas de coral, a » @ produgio também envolve a conser | Reduzidas a Reduzidas a Pane da safia PS; Parte da safra PS) pn cer Figura 4. Como a Revoluedo Verde distorce as comparagées. ao cientifica deveria ser feita entre * A verdadeira comparagao cient i os dos 2, com a inclu: 08 dois sistemas de cultivo - SC, € de todo o leque de insumos ¢ produtos. ‘ade * Essa seria a comparagio se SC, no recebesse imunida em termos de uma avaliacao ecologica. comparagio fala ene PS, e@ PS * Portanto, embora PS, > PS}, em geral SC > SCz 59 58 wT Monocu.rutas Da Mesre pesto uot Fonte: Shiva (1989), Figura 5. Sistema agricola de insumos internos. Como 0 Dr. Palmer concluiu no estudo com 15 nagdes * 0 Instituto de Pesquisa de Desenvolvimento Social das Nagdes Unidas sobre 0 impacto das sementes, “variedades de alto rendimento” , due as novas sementes sto naturalmente de grande produ tividadle. Contudo, a caracteristica distintiva dessas seme tes € que sdo extremamente receptivas a certos chave como fertilizantes e ittigagao, otermo para © termo € enganoso, pois implica insumos- Por isso Palmer suge gar de “variedades de alto rendimento” 29 Sem os insumos adicionais de fertilizantes € ittigagao, o desempenho das novas sementes é inferior a0 das variedadles natives Con © insumos adicionais, 0 aumento da producio € insignif, cante comparado ao aumento dos insumos. A medida da 6o WA das para produzir LOCULTURAS DA Men producao também € tendenciosa pelo fato de se restringir : 3 parte comercializavel das safras. Mas, num pais como a fndia, as safras tém sido tradicionalmente criadas ¢ cultiva- » 86 comida para os seres humanos, mas também forragem para os animais ¢ fertilizante organi- co para os solos. Segundo A. K. Yegna Narayan Aiyer, uma autoridades em agricultura das maior “Importante enquanto forragem para o gado e, na ver- dade, a tinica forragem em muitas terras, a quantidade de pallsa que pode ser obtida por acre tem muita relevdncia em ~ nosso pais. Algumas variedades que sao boas produtoras de © grios tém o inconveniente de sérem pobres no que diz respeito a patha,’21 E ilustra a variagao nas proporgdes de grio-palha pro- duzidas na fazenda Hebbal. De acordo com as estratégias de reprodugdo da Revo- lugdo Verde, os miiltiplos usos da biomassa vegetal pare- cem ter sido conscientemente sactificados em nome de um ‘nico uso com o consumo nao sustentivel de fenilizantes © Agua. © aumento de produgio de griios comercializaveis foi conseguido a expensas da reducio da biomassa para - animais € solos € diminuigio da produtividade do ecossis- tema devido ao uso excessivo dos recursos. = {© aumento na produgio de grios para o mercado foi obtido com a estratégia da Revol da biomassa para uso interno da propriedade rural, o que € explicitado pela afirmagao de Swaminathan; As variedades de alto rendimento de trigo ¢ arroz tém | Brande produttvidade porque podem usar eficientemente quantidades maiores de nutrientes e Ggua do que as varie~ dades mais antigas, que tendiam a enctuar ou ndo crescer bem quando cultivadas em solos férteis... Por isso tém'um 61 Monee ows CusTos DE INSUMOS (Ete eas ba Mente Novos cusTOs DE lmpactos ECOL Gcicos| tit ost om i¢80 atmosforica _, Aa Deficiéncia de 7 mesratntes Pestodas —a Ca 2d do semenres \— tanpae madera pola dou ‘esalngagso » Nx Dosetveagso ¢ Horioiies 7? eseassee de dou * Geste pmttn XN, Rec de iomssa ‘para fortagern @ ‘adubo organico iropte biorshe Sona auto rat gg Peele Fonte: Shive et al (1981) Figura 6. Sistema agricola com insumos externos MoNocuLTitas ba MENTE ela 5. Produgao de gréio e palha nas variedades de arroz. Gite sa vledade Gao Paha : em tbs po ace_|em tbas por acre Eppa canna Tea 3a ee fidume 1.820 : 2.430 Falubbalu 1700 0 Ge Chandragut 1s 7850 Fila trata Tae 3580 tava Brat 7e55 Si Pa Sora 265 5365 Ip Aiur senna 1220 3500 i ‘Bangarkadai 7.420- 1760 Fata osiio a is - is05201 1510 1700 BGES. t 1300 3) Nindice de producao” (isto 8 a proporgao entre o rendi- mento econdmico ¢ o rendimento biolégico total) que é mais | favordvel ao bomem. Em outras palavras, se wma variedade dle alto rendimento e uma variedade comum e mais antiga sde irigo produzem ambas, numa determinada série de condig6es, 1.000 quilos de matéria bruta, a variedade de Halto rendimento pode dividir essa matéria bruta em 500 Uquilos de gréos e 500 quilos de palha. A variedade comum, ‘por outro lado, pode ser dividida em 300 quilos de graos ¢ 700 quilos de palba2? A redugio na produgio de biomassa em termos de [ -palha provavelmente nao era considerada um custo muito P grande, uma vez que os fertilizantes quimicos eram vistos como um substituto completo para o adubo orgiinico, ¢ a mecanizagio era vista como um substituto para a tragio | Animal, Segundo um autor: 63 Monocut Tunas DA Mente Acreditava-se que 0 tipo de mudanca provocado pela ‘Revolucao Verde” permitiria uma produgao maior de §raos com a alteragho da proporzao folbagem-gratos Houve uma época em que era urgente aumentar a produ- $40 de graos; uma abordagem de engenbaria para alterar o mix de produtos numa planta individual pode ser acon- selbdivel, até mesmo inevitdvel. Isso pode ser considerado um outro tipo de mudanga tecnolégica de sobrevivéncia, Usa ‘mais recursos, retorna ao que talvez nao tenha mudado (se ndo tiver diminuido)23 Portanto, reconhecia-se que, em termos de biomassa vegetal global, as variedades da Revolugao Verde poderiam diminuir a produgao global das safras ¢ criar escassez em termos de produtos como a forragem. Finalmente, agora hé cada vez mais evidéncia mos- também podem ter grande produtividade, dados os insumos necessitios. Richaria fez uma contribuicdo importante para o reconhecimento de que 0s camponeses tém criado variedades de grande pro- dutividade ao longo dos séculos. Diz Richaria trando que as variedades nativa Uma pesquisa agronémica recente de variedades ‘mostrou que quase 9% do total de variedades cultivadas em UP entram na categoria de tipos de alto rendimento (3.075 quilos ou mais por hectare). Um agricultor que plantava uma variedade de arroz chamada Mokdo de Bastar e que adotou seus préprios méto- dos de cultivo obteve cerca de 3.700 a 4.700 quilos de arroz com casca por hectare. Outro plantador de arroz da chii- cara Dhamtari (Raipur), com apenas um hectare de plan- tagdo, que faz parte de uma categoria muito comum de lavradores, disse-me que obtém cerca de 4.400 quilos de arroz com casca por hectare com a variedade Chinnar, um 64 ba MENTE Famoso tipo perfumado, ano apés ano, com poucas flutua- Eyes As vores usava um suplemento de FYM com uma bguena quantidade de fertilizantes de nitrogénio. Nas ter tbaixas da chdcara Farasgaon (Bastar), uma variedade Bs de arvoz que ndo encrua, a Surja, com gritos bem for- idos ¢ ligeiramente perfumados, tem condigdes de com- otir com a variedade Jaya em potencial de produtividade B fom doses menores de fentilizantes, segundo um agricultor Focal que me mostrou recentemente sua safra de Surja. E Durante uma visita recente que fiz & regido de Bastar Fen meados de Novembro de 1975, quando a colbeita de Bina nova safra de arroz ainda estava a pleno vapor numa pcalidade, em uma das propriedades de um agricultor adi- F fasi, Baldeo, da tribo Bhatra da aldeia de Dbikonga da cha if ir Judeapur, observe! um campo de Assam Chudi pronto lara a colbeita, com 0 qual o agricultor adivast tinba se pro- Bitsio competir. O agricultor aplicara uma quantidade de ytilizante de cerca de 50 quilos de N por hectare e ndo usot Ei ibuma forma de protegdo as plantas. Esperava uma safra Melcerca de 5 mil quilos por bectare. Ha bons exemplos de Gblicacdo de uma tecnologia intermedidria para aumentar Ui producdo de arroz. As safras obtidas por esses agricultores Bilem estar na faixca minima ou acima dos limites minimos Havia as variedades de alto rendimento, e esses métodos de Euiltivo merecem toda a nossa atencdo24 P \ India € um centro Vavilov, ou centro de diversidade Behética do arroz. Com essa diversidade espantosa, os cam- Prieses e os membros de tribos indianas seleci . feicoaram muitas variedades nativas de grande produ- Bividade. No Sul da india, nas regides semi-dridas de Decan, fas chegaram a 5 mil qullos por hectare com tratores igagdo de pogos. Com adubacio erginica intensiva, leriam ter sido maiores ainda. Como diz Yegna Narayan Monocutrueas ba MENTE A possibilidade de obter safras fenomenais e quase ina- creditavelmente grandes de arroz na India esta se concre- tizando em conseqiléncia das competicdes de safras orga- nizadas pelo governo central e realizadas em todos os esta- dos, Assim, mesmo a safra mais modesta que participa dessas competicoes & de aproximadamente 5.300 libras por acre, 6.200 libras por acre em Bengala Ocidental, 6.100, 7.950 e 8.248 libras por acre em Thirunelveli, 6.368 e 7.666 quilos por hectare em Arcot do Sul, 11.000 libras por acre em Coorg € 12.000 libras por acre em Salem25 O pacote da Revolug a diversidade genética em dois niv mistas € a rotago de diversas culturas como 0 trigo, 0 milho, 0 paingo, legumes € sementes oleaginosas foram substituidas por monoculturas de trigo e arroz. Em segun- do lugar, as variedades de trigo ¢ arroz que foram introdu- zidas e reproduzidas em larga escala como monoculturas tém uma base genética limitadissima, em comparagao com a grande variedade genética da populagio tradicional do ttigo € do artoz. Quando as sementes “VAR” substituem os sistemas de cultivo autéctones, a diversidade perdida é insubs- titutvel. A desttuigto da diversidade e a criagio da uniformida- de envolvem simultaneamente a destruigao da estabilidade a criagdo da vulnerabilidade. No entanto, o saber local con centra-se no uso miiltiplo da diversidade. © arroz nao € so- mente um gro, ele fornece palha para os tetos de sapé € para a fabricacao de esteiras, forragem para o gado, farelo para 08 tanques de peixes, matéria-prima de combustivel. As variedades locais das safras sto selecionadas para satis- fazer esses usos miltiplos. As variedades VAR aumentam a producdo do grio ¢ diminuem todos os outros componen- tes, aumentam os insumos extemnos € introduzem impactos ecologicamente destrutivos, is. Primeiro, as safras 6 > Verde foi criado para substituir ‘ecolégicos apropriados, ndo pelos experimentos ¢ avali MONOCULTLURAS DA MENTE Os sistemas de saber local desenvolveram variedades altas de arroz.¢ trigo para satisfazer necessidades miiltiplas, Desenvolveram as variedades doces batizadas de cassava, cujas folhas sio comestiveis como verduras. No entanto, toda a pesquisa dominante sobre o cassava concentrou-se na criaglo de novas variedades que dessem tubérculos, cujas folhas nao podem ser consumidas. Tronicamente, criar novas sementes que trouxessem uma redugio na sua utilidade é visto como algo importante na agricultura, porque os usos além dos que atendem 0 mercado nao sto percebidos, nem levados em conta. Os novos custos ecolégicos também so deixados de fora co- mo “externalidades”, convertendo dessa forma um sistema ineficiente ¢ pautado pelo desperdicio em um sistema pro- dlutivo. Além disso, ha uma distorcAo cultural que favorece 0 sistema moderno, uma distorgao que se torna evidente no nome dado as variedades de plantas. As variedades nativas, ou espécies autOctones, que evoluiram tanto em virtude da selecdo natural quanto da selegio humana, produzidas e utilizadas pelos agricultores de todo 0 Terceiro Mundo sao ‘chamadas de “sementes primitivas". As variedades criadas pelos especialistas modernos em centros internacionais de pesquisa agricola ou por grandes empresas transnacionai de sementes sio chamadas de “avangadas” ou “de elite”. | ‘No entanto, © Gnico aspecto em que as novas varie- dades representam de fato um “avanco” & nos seus sistemas ‘$0es, e sim pela rejeicao anticientifica do saber local como algo primitivo e a falsa promessa de “milagres" — de arvores fF € sementes “milagrosas”. Contudo, como Angus Wright observou: Onde a pesquisa agricola tomou um caminbo errado foi exatamente ao dizer e permitir que dissessem que um o7 MONOCULTLRAS DA MENTE milagre estava sendo realizado... Historicamente, a ciéncia € a tecnologia fizeram seus primeiros avangos rejeitando a fdéia de milagres no mundo natural, Talvez fosse melbor voltar a essa postura26 A insustentabilidade das monoculturas A caracteristica crucial das monoculturas € que, além de substituir as alternativas, destroem até mesmo a sua base. Nao toleram outros sistemas € no sao capazes de se reproduzir de maneira sustentavel. A uniformidade da flo- resta “normal” que a silvicultura “cientifica” esti tentando ctiar transforma-se numa formula de insustentabilidade. A substituigio dos conhecimentos florestais locais pel silvicultura *cientifica” comespondeu 20 mesmo tempo uma petda da diversidade florestal e sua substituic0 por mono- culturas uniformes. Como a produtividade biolégica da flo- resta baseia-se ecologicamente em sua diversidade, a d truigao do saber local e, com ele, da diversidade vegetal, levam a degradacto da floresta € a0 solapamento de sua sustentabilidade. O aumento da produtivicade do ponto de vista comercial destr6i a produtividade do ponto de vista das comunidades locais. A uniformidade da floresta adminis- trada tem por objetivo gerar “safras sustentaveis". No entan= to, a uniformidade destr6i as condigdes de renovagio dos ecossistemas florestais € € ecologicamente insustentavel. No paradigma da silvicultura comercial, “sustentabili- dade” € uma questio de oferta para 0 mercado, nao de reproducdo de um ecossistema em sua diversidade biol6- gica ou em sua estabilidade hidrica € climatica. Como diz Schlich: “Os projetos florestais regulam as coisas de ma- neira que, segundo a época e a localidade, a administragio das florestas realize tanto quanto possivel os objetivos da 68 ‘Monocutrunas DA MeNre indéstria."?7 A administracdo sustentavel das safras tem por objetivo produzir “os melhores resultados financeiros, ou 0 maior volume possivel, ou a classe mais apropriada de pro- dutos’. Se isso pudesse ser feito a0 mesmo tempo em que fosse mantido o ecossistema florestal, teriamos a sustenta- bilidade da natureza, e nao apenas uma sustentabilidace de curto prazo para suptir 0 mercado com madeira industrial € comercial. No entanto, 0 “cultivo sustentével”, tal como o compreende a administracdo florestal, baseia-se no pre posto de que a floresta real, ou a floresta natural, nio uma floresta “normal”, é uma entidade “anormal”. Quando a “normalidade” ¢ determinada pelas demandas do merca- do, 0s componentes no comercializiveis do ecossistema da floresta natural pelas recomendagdes dos projetos flores Uniformidade na floresta é uma exigéncia dos merca- dos centralizados e da indiistria centralizada. No entanto, a uniformidade € contréria aos processos da natureza, A transformagdo de florestas naturais mistas em monoculturas uniformes permite a entrada direta do sol e das chuvas tro- Picais; 0 sol resseca os solos com o seu calor, as chuvas arrancam a camada superior fértil do solo. Menos umidade €4 razio de um rapido retrocesso das regides florestais. Os incéndios recentes de Kalimantan esto intimamente rela- cionados com a ari provocada pela conv florestas timidas em plantagdes de eucaliptos e acicias. Inundagdes € secas sfo criadas onde antigamente a flores- ta tropical amortecia o impacto das chuvas. Nas florestas tropicais, a derrubada seletiva de espé- cies comerciais produz somente pequenas saftas (5-25 m3 Por hectare), a0 passo que © corte indiscriminado pode chegar a 450 m} por hectare. A insustentabilidade de der- Tubadas seletivas também pode ser vista‘na experiéncia-do Picop, um empreendimento conjunto criado em 1952 entre vistos como “anormais” ¢ destruidos > de 69 rueAs DA Mente ‘Monoci a International Paper Company, uma empresa norte-ameri cana e a maior produtora de papel do mundo, e a Andre Soriano Corporation, clas Filipinas, Esse empreendimento retira apenas 10% do volume total de madeira, aproxima- damente 67 m? por acre da floresta virgem, Entretanto, as medidas do crescimento anual feitas pela companhia mos- tram que o segundo corte 86 vai produzir 34 m3 de madeira Util por acre, a metade do primeiro corte, insuficiente para manter a produc&o de madeira compensada ¢ de folheados, © as serrarias da empresa funcionando num nivel lucrativo, A Picop pode obter “saftas sustentiveis” reduzindo © didmetro da extragio. No momento, © governo permite que a Picop retire todas as étvores com mais de 80 cm de did- metro, e uma certa proporgdo daquelas que tém 60 cm ou mais de diimetro. Se no segundo corte a empresa puder derrubar todas as arvores com mais de 30 ou 40 cm de dia- metro, poderiam ter condigdes de um terceiro corte, Mas cortar arvores menores na segunda rodada nio faria, evi- dentemente, com que a floresta crescesse mais ripido para uma terceira, uma quarta e uma quinta rodada, As plantagdes da Picop também fracassaram. A em- presa teve de replantar 30 mil acres de uma variedade de eucalipto da Nova Guiné Papua que foi atacada por uma Praga, Suas plantagdes de 25 mil acres de pinheiros tam- bém fracassaram. A US$ 400 por acre, foi um erro de US$ 10 milhoes. Angel Alcala, professor de biologia da Siliman Uni- versity, das Filipinas, observa que a derrubada seletiva de arvores € boa teoricamente, mas nfo da certo 1a pritica, “Com a derrubada seletiva, supoe-se que vocé vai reti- rar somente algumas drvores e deixar o resto crescendo, de modo que vai poder voltar depois e retirar mais algumas, sem destruir a floresta. Esse 6, supostamente, um sistema sustentavel. No entanto, aqui, embora usem a expresso 70 VUACCANNNITII ITNT MONOCULTURAS DA MENTE F derrubada seletiva, ba apenas uma colheita, uma grande EF colheita. Depois nao ha mais nada."8 Um estudo descobriu que 14% da rea madeireira € derrubada para a construgio de estradas e outros 27% para a passagem de caminhdes sapatas. Assim, mais de 40% Em florestas dipterocarpicas, com uma média de 58 Arvores pot acre, para cada 10 derrubadas deliberadamen- = te, outras 13 so quebradas ou danificadas. A derrubada seletiva danifica mais 4rvores do que retira. Em uma flores- ta dipterocirpica da Malisia, somente 10% das drvores fo- ram retiradas; 55% foram destruidas ou gravemente dani- ficadas. S6 33% ficaram intactas. Na Indonésia, segundo © | gerente da Georgia-Pacific, eles danificam ou destroem um ( namero de arvores mais de trés vezes superior ao que der- rubam deliberadamente.30 : Segundo um relat6rio da Unesco sobre ecossistemas Bi florestais dos tr6picos, nao ha muitas florestas ricas 0 bas- ¥ tante para permitir uma derrubada realmente seletiva — a remogio de cada drvore (da espécie desejada) assim que © cla atinge o tamanho comercializével. Além de toda firvore ‘causar danos consideraveis ao cair, 0 equipamento pesado necessitio a derrubada causa mais danos ainda. Em sintese, a derrubada realmente seletiva € impraticivel, independen- temente da estrutura, composi¢o e dinamismo das pro- Postas originais, Esse paradigma, que destr6i a diversidade da comuni- dade florestal tanto pelo corte indiscriminado quanto pelo seletivo, destr6i simultaneamente as proprias condigées de Tenovacio da comunidade florestal. Embora a diversidade das espécies seja o que torna a floresta tropical rica bio- logicamente, ¢ sustentivel, essa mesma diversidade leva a MONOCULTURAS DA MENTE densidade das espécies individuais. Portanto, 0 paradigma reducionista converte um sistema biologica recurso empobrecido e, em conseqiiénci mente rico num, nao renovavel. Desse modo, embora a produgio biolégica anual da flores ta tropical seja de 300 toneladas por hectare, em compara do com as 150 toneladas por hectare, a produgao anual de madeira comercial € de apenas 0,14 m3 por hectare em mé- dia nas florestas tropicais, em comparacdo com os 1,08% m3, Na Asia tropical, a produgio comercial € de 0,39 m3 por hectare, devido riqueza da diversidade de espécies comer- ciais das florestas dipterocérpicas31 No sistema dominante, as estratégias de sobrevivéncia financeita determinam 0 conceito de “safra sustentével” ¢ sdo, em geral, uma violagio dos principios da produtivi- dade biolégica sustentavel. As safras sustentéveis baseadas em categorias de plantas com um diametro cada vez menor que podem ser derrubadas leva ao suicidio biol6gico ¢ a destruigao total das florestas. Fahser fala de um projeto florestal do Brasil, com obje- tivos de “auto-ajuda” e satisfaco de necessidades bisicas, que destruiu tanto as florestas quanto as comunidades cuja melhoria de condigdes de vida era a meta: Com a fundacao da primeira Faculdade de Ciéncia Florestal e a disseminagdo do saber da silvicultura moder’ na, um fato marcante aconteceu de fato nas florestas do Brasil. Um conbecimento maior de economia incentivou ‘pessoas treinadas a adotar novas abordagens: a floresta ‘natural, com suas muitas espécies, foi substituida por imen- sas plantagées de pinheiros e eucaliptos para a indiistria madeireira; trabalbadores fracos e que ndo inspiravam confianca foram substituidos por uma poderosa maquina- ria de coleta de madeira; as cordilbeiras litordineas, intactas até esse momento, foram conquistadas, com o uso de guin- dastes como elegante meio de transport. 72 MONOcuLTURAS Da MENTE Desde que comecou 0 programa de ajuda ao desenvol- vimento florestal, 0 reflorestamento do Parand caiu de cer- ca de 40% para seu nivel atual de 8%. A transformagado em estepe, a erosiio e as inundagées periddicas esto aumen- sando. Nossos congéneres brasileiros altamente qualificados agora esto voltando os olbos para as regibes amazénicas do Norte, onde ainda ha muitas florestas ¢ onde estiio “administrando” plantagées de madeira para obter celulose (como a Gmelina arborea, por exemplo) com perfodos de rotagdo de apenas seis anos. © que aconteceu a populagao durante o periodo de cerca de 20 anos do projeto, aquelas pessoas cujas necessi- dades basicas deviam ser satisfeitas e que deviam receber ajuda para que pudessem ajudar a si mesmas? Hoje 0 Parand perdeu grande parte de suas florestas e esta coberto de agricultura mecanizada. A maioria dos indios e muitos imigrantes que viviam ali numa economia de subsisténcia, ‘ou como pequenos fazendeiros, desapareceram silenciosa- mente, empobreceram e foram para as favelas dos arredores das cidades grandes. Na unidade florestal de capital inten- sivo, 0 modelo de mecanizacdo da América do Norte e da Escandindvia agora predomina, SO uns poucos especialistas wns poucos assalariados ainda sao necessdrios para as &pocas de pico do trabalho Onde © saber local nao € extinto por completo, as comunidades resistem 2 destruig30 ecolégica perpetrada pela introducdo de monoculturas. “Disseminar o verde” ‘com eucaliptos € algo contririo A natureza € a seus ciclos € est enfrentando a resisténcia de comunidades que depen- dem da estabilidade dos ciclos naturais para obter seus sus- | tento sob a forma de comida e Agua. Nas condigdes especi- ficas das regides onde ha pouca chuva, as necessidades absurdas que o eucalipto tem de nuttientes € Agua nao deixam nada no solo além de terpenos que, por sua vez, 3 ruRas ba Mens ‘Monceut inibem 0 «1 escimento de outras plantas e so t6xicos para organismos do solo responsaveis por sua fertilidade e pela melhoria de sua estrutura. O eucalipto certamente aumen- tou o fluxo de dinheiro e mercadorias, mas resultou numa interrupgao desastrosa dos fluxos de matéria of Agua no interior do ecossistema local. Seus proponentes ndo calcularam os custos em termos de destruig € do solo, do esgotamento das reser sez de comida e forragem que o cultivo do eucalipto cria E também nao viram que, na india, enquanto procuravam diminuir 0s intervalos entre as derrubadas, 0 tamarineito, a jaqueira e o bonge tém ciclos muito répidos de um ano, em que a biomassa coletada € muito superior a do eucalipto que, apesar de tudo isso, declaram ser uma drvore “mila- grosa”. © “x” da questdo é que a produgo de fruta silvicultura em seu paradigma reducio- ‘to da vida de Agua ¢ da escas- s nunc foi de interesse nista ~ concentrou-se apenas na madeira, e exclusivamente na madeira para o metcado. O eucalipto € uma espécie estrangeira introduzida com total desconsiderago por sua adequagio ecoldgica ¢ torou-se um exemplo de reflores- tamento antivida.33 Populagdes de todos os lugares do mundo resistiram a expansio do eucalipto porque ele destr6i os sistemas hidri- cos ¢ alimentares, assim como 0 solo. No dia 10 de agosto de 1983, os camponeses das aldeias Barha ¢ Holahalli, no distrito de Tumkur (Karnataka) marcharam em massa até 0 viveiro florestal ¢ arrancaram milhdes de mudas de eucalip- tos, plantando sementes de tamarindo e manga em seu lu- gar. Esse ato de protesto, pelo qua tra a destruigio virtual ¢ planejada dos sistemas de agua ¢ solo pelo cultivo do eucalipto. Também questiona a domi- nagio da ciéncia florestal que reduziu todas as espécies a uma Gnica (0 cucalipto), todas as necessidades a uma tinica G da indéstria de polpa) e todo saber a um tinico (0 do Banco Mundial ¢ das autoridades florestais). Questiona o foram presos, fala con- URS DA MeN © tamarindo e a mito da Arvore mitagros manga sao sim- bolos das energias da natureza e da populacdo local, dos vinculos entre suas sementes € 0 solo, € das necessidades que essas Arvores — ¢ outras como clas — satisfazem a0 manter a terra € as pessoas vivas, Silvicultura voltada para a produgio de alimentos — alimentos para 0 solo, para os animais criados nas fazendas, para as pessoas — utas das mulheres ¢ dos camponeses giram em toro desse tema, quer sejam travadas em Garhwal ou em Karnataka, nas Santhal Perganas ou em Chattisgarh, em reservas flo- restais, em fazendas ou terras comunitarias. Em junho de 1988, em protesto contra o plantio de eucaliptos, os aldedes do norte da Tailandia queimaram viveiros de mudas de eucaliptos num posto florestal jodas as A destruigio da diversidade na agricultura também € uma fonte de insustentabilidade. As variedades “milagro- sas” substituiram as safras cultivadas tradicionalmente e, gracas 2 erosto da diversidade, as novas sementes torna- ram-se um mecanismo para introduzir ¢ aumentar as pra- gas. As variedades nativas ou espécies autéctones sio resis lentes a pestes e doencas locais. Mesmo que certas doengas se manifestem, algumas variedades podem ser atingidas, ‘enquanto outras mostram resisténcia ¢ sobrevivem. A rota- Go de culturas também ajuda no controle de pragas. Como muitas delas so especificas de determinadas plantas, o * ‘plantio em diferentes estacdes e em diferentes anos leva a grandes redugdes na populaglo de pragas. Entretanto, Plantio da mesma safra em grandes Areas ano aps ano Promove © aumento das pragas, Os sistemas de cultivo baseados na diversidacle tem, portanto, um sistema inato de protecio. Depois de destruir os mecanismos de que a natureza spde para controlar as pragas com a destruig&o da diver- Sidade, as sementes “milagrosas” da Revolugao Verde trans- formaram-se em mecanismos de criaglo de novas pragas € MONocuLTuRAs DA Menre ‘Monocutrunas ba Men de novas doengas. A grande roda de criagao de novas va- riedades gira incessantemente A medida que variedades eco- logicamente vulneriiveis criam novas pestes, que criam a maiores aplicagdes de fertilizantes quimicos tornaram-se necessiirias para mantet a producdo, aumentando assim os Custos sem retoros crescentes. A demanda das sementes VAR por insumos intensivos ¢ uniformes de ‘gua e produtos quimicos também tornou as monoculturas de larga escala ‘um imperativo €, como as monoculturas so extremamente vulnerveis a pragas € doengas, um novo custo foi criado: a aquisicao de pesticidas. A instabilidade ecolégica inerente as sementes VAR traduziu-se, portanto, em inviabilidade econd- mica, As sementes milagrosas nao so milagre nenhum, afi- nal de contas, A agricultura sustentivel baseia-se na reciclagem dos nutrientes do solo. Isso implica devolver ao solo parte dos nutrientes que vém dele, seja diretamente como fertilizante organico, seja indiretamente por meio do esterco dos ani- mais criados nas fazendas. A manutengdo do ciclo de nutri- entes e, por meio dela, da fertilidade do solo, baseia-se nessa lei inviolavel do retorno, que é um elemento atempo- ral, essencial & agricultura sustentavel, © paradigma da Revolucdo Verde substituiu © ciclo dos nutrientes por fluxos lineares de insumos de fertilizan- tes quimicos comprados de fabricas e produtos comercial zados de bens agricolas. No entanto, a fertilidade dos solos | no pode ser reduzida a NPK de fabricas, ¢ a produtividade agricola inclui necessariamente retornar ao solo parte dos Produtos bioldgicos que ele fornece. As tecnologias nao tém condicdes de substituir a natureza € 0 trabalho fora dos Processos ecol6gicos da natureza sem destruir a prop base da produgio, E os mercados também nio podem cons- tituir a Gnica medida de “producao” e “tendimento” A Revolugio Verde criou a idéia de que a fertilidade do solo é produzida nas fabricas de substincias quimicas € que a produtividade agricola s6 pode sér medida por meio das mercadorias vendidas. Safras que fixam o nitrogénio, necessidade de criar outras novas variedades © Ginico milagre que parece ter sido realizado com a estratégia de criagdo de sementes da Revolugio Verde € 0 surgimento de pragas ¢ doengas e, com elas, a demanda cada vex maior por pesticidas. No entanto, 05 novos custos das novas pragas ¢ pesticidas venenosos nunca foram con- siderados parte do “milagre” das novas sementes que seus criadores modernos trouxeram ao mundo com © nome de ‘seguranca alimentar” crescente. As “sementes milagrosas” da Revolugio Verde tinham como objetivo libertar 0 agricultor indiano das restrigoes impostas pela natureza, Em vez disso, monoculturas em lar- 42 escala de variedades estrangeiras geraram uma nova vule nerabilidade ecol6gica com a redugio da diversidade gené- tica © a desestabilizacao dos sistemas do solo e da 4gua. A Revolugio Verde levou a uma mudanga das antigas rota- des de culturas de cereais, sementes oleaginosas ¢ legu- mes para uma rotacao de arroz/trigo com insumos intensi- Vos de irrigacao e produtos quimicos, A rotagio arroz/trigo criou um retrocesso ecolégico com problemas graves de alagamento em regides irrigadas por canais € esgotamento dos leng6is freaticos nas regides irrigadas por canos. Além disso, as variedades de alto rendimento levaram a deficién- ccias em larga escala de micronutrientes nos solos, princi- palmente de ferro, onde 0 artoz é cultivado, e de mangani onde o trigo € cultivado. Esses problemas foram criados pela ecologia das se- mentes VAR, ainda que nao deliberadamente. A grande de- manda de agua dessas sementes requer maiores quantidades de agua ¢ a conseqiiéncia é 0 risco de aridizagao devido a0 alagamento de algumas regides e desertificagio em outras. A grande demanda de nutrientes causou deficiéncias de micto- 76 7 MONOCULTURAS BA Men como os legumes S40, portanto, descartadas, Os paingos ou milhetes, que tém uma produtividade clevada do ponto de vista do retorno de matériaorgiinica 20 solo, foram rej. tadlos como saftas “marginais". Os produtos biol6gicos que nao sto vendidos no mercado, mas que sio usados como insumos internos parx manter a fertilidade do solo foram totalmente ignorados nas equagdes de custo-beneficio do milagre da Revolugao Verde, Nao aparecem na lists de insumos porque no foram comprados, ¢ nao aparecem como produtos porque nao foram vendido No entanto, © que € “improctutivo” ou “lixo” no co texto comercial da Revolugio Verde agora esté comecando 3 aparecer como algo produtivo no contexto ecoldgico ¢ Como o Gnico caminho para uma agricultura sustentivel Ao tratar Os insumos organicos essenciais que mantém a integridade da natureza como “lixo", a estratégia da Revo lucio Verde assegurou que os solos férteis © produtives Sto, na verdad, um monte de lixo, A tecnologia de “me Ihoria da terra” mostrou ser uma tecnologia de degradacao € destruigdo do solo. Com 0 efeito estufa ¢ o aquecimento global, uma nova dimensio foi acrescentad: logicamente destrutiva dos fertilizantes quimicos. Os fear lzantes & base de nitrogénio liberam Oxido nitroso. ng atmosfera; este € um dos gases de efeito estufa que esti’ causando © aquecimento global. Portanto, a agriculture Guimica contribuiu para a erosio da seguranca alimentay Por meio da poluicdo da terra, da agua e da atmosfera 34 A democratizagéo do saber As silviculturas modernas sio um sistema de saber exclusivista que girt unicamente em torno da producto de madeira industrial tomaram o lugar dos sistemas de saber locais que véem a flores do ponto de vista da produgio MONCCULTURAS BA MENTE Jc alimentos, da producto de forragem € da produgio de E igua. O foco exclusivo na madeira industrial destr6i a capa- F erade de produlo de alimento, forragem e agua da fo. Festa. Rompe as ligacdes entre a silvicultura e a agricultura eS so tentar aumentar a produgdo de madeira comercial/in- uma monocultura de espécies de Arvores. 0 A agricultura moderna gira exclusivamente em ED da produgio de mercadorias agricolas. Toma 0 lugar dos sistemas de saber locais que véem a agricultura como a producao de diversas saftas com insumos internos, Se tuindo essa diversidade por mogoculturas de variedades estrangeiras que precisam de insumos industriais externos. mercial destr6i as safras diversificadas de legumes, aa tes oleaginosas e paingo e rompe os ciclos ec -O6gicos locais; na tentativa de aumentar a produgao de uma nica safra, cria monoculturas de certas variedades. O VAR tornou-se um simbolo dessa monocultura. A cctise do sistema dominante de saber tem muitas facetas: a) Como o saber dominante tem relages muito intimas como 0 economicismo, nao tem vinculo nenhum com as necessidacles hhumanas, 90% dessa produgio de saber poderia ser descartada sem nenhum tisco de privagao humana, Ao contrério: como uma grande parte de: saber € fonte de perigo e ameagas a vida humana (Bho- pal, Chernobil, Sandoz), seu fim aumentaria as possibili- dades de bem-estar humano. b) As implicagdes politicas do sistema de saber dominante sio incompativeis com a igualdade e a justiga. Rompe a coestio no seio das comunidades locais ¢ polariza a so- entre os que tém acesso 2 ele € os que nao tém, ciedade ; tanto em relacao aos sistemas de saber quanto ao sis- tema de poder 79 Monocutruisas ba Menre ©) Sendo inerentemente fragmentador e tendo uma obso- lescéncia inata, © saber dominante cria uma alienagao entre saber e conhecimento, dispensando o primeito, ) Inerentemente colonizador, inerentemente mistficador, Promovendo a colonizacdo com a mistificagao. ©) Afasta-se dos contextos concretos, desqualificando 0 sae bet local e pritico como inadequado. : Impede o acesso e a participagio de uma pluralidade de sujeitos. ) Descarta uma pluralidade de caminhos que levam ao conhecimento da natureza e do universo, cultura mental uma mono- Tabela 6. Comparacdo entre os sistemas de saber local e dominante, Sistome local Sistema dominante 1. Sivicultora agriculture vou Seales Siete © epicure cope 2. Os ‘sistemas integrados tem rodugdes. muitisimensi 2, Todo sist sionas, 0 sistema separado tomese ‘As focestas produzem madeira, Unigimensional. As tiorestas forrogem, Sous ete. A aor Produzem apenas madeira co. {ura prodiz uma grande cree mercial A saricuture produe so- Seae de mian ogra mente sats comarces 3. A produtividade do siste A prod A lel é uma mada utisinan. | crdmenions, Sa cae que tom um aspecto de | nau com arose preservacao. : oman 40 aumento ds proauivsade | @ earena Ge peauiilele rodugdes dversicadas, servo ders neocons nesses 6 divas, ©. Sistema sustontavel 80 ‘MoNocULTURAS DA MENTE O saber ocidental moderno é um sistema cultural par- © ticular com uma relagao particular com o poder, No entan- to, tem sido apresentado como algo que esti acima da cul- tura e da politica. Sua relago com o projeto de desenvol- vimento econémico é invisivel e, por isso, tornou-se parte de um processo de legitimacdo mais efetivo para a homoge- neizagio do mundo e da erostio de sua riqueza ecol6gica e cultural. A tirania e os privilégios hierérquicos que fazem parte do impulso de desenvolvimento também fazem parte do saber globalizante no qual o paradigma de desenvolvi- mento est enraizado e do qual deriva sua argumentagio ogica € sua legitimagio. O poder com 0 qual o sistema de saber dominante subjugou todos os outros torna-o exchi- sivista e antidemocratico, ‘A democratizacao do saber transformou-se num pré: requisito crucial para a liberactio humana porque o sistema de saber contempordneo exclui o humano por sua propria estrutura, Um processo desse tipo de democratizagio envol- veria uma tal redefinicao do saber que o local ¢ diversifi- cado viria 2 ser.considerado legitimo € visto como um saber indispensdvel porque a concretude é a realidade, a globalizagio © a universalizagio sio meras abstragdes que violam 0 concreto , por conseguinte, o real. Essa passa- gem da globalizagio para o saber local importante para © projeto de liberdade humana porque libera o saber da dependéncia de formas estabelecidas de pensamento, tor- nando-o silmultaneamente mais autOnomo e mais auténti- co. A democratizagdo baseada numa “insurreigo do saber subjugado" é um componente desejivel e necessirio dos processos mais amplos de democratizagio porque 0 para~ digma anterior esté em crise e, apesar de seu poder de manipulacto, € incapaz de proteger tanto a sobrevivéncia da natureza quanto a sobrevivéncia humana. 81 MONOCULTURAS DA MENTE Referéncias Bibliogréticas 1. HARDING, 8. The Science Question in Feminism. Hhaca: Cor University Press, 1986. p. 8. 2. KUHN, T. The Structure of Sclentfic Revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1972, 3. HORTON, R, “African Traditional Thought and Westesn Science Africa 37, p. 2.1967, : 4. HARDING, op. cit. p. 30. 5. SHIVA, V. Ecology and the Politics of Survival, Nova Déthi: ONU ‘Tokyo and Sage, Londres: Newbuty Park, 6. CAUFIELD, C. In the Rainforest, Londres: Picador, 1986. p. 60. 7. HONG, E, Natives of Sarawak Malisia: Institute Masyarakat, 1987. p. 137. 8, CHIN, S. 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Bcological Audit of Eucalyptus CCultieation. Debea Dun: Research Foundation, 1985. 39. SHIVA, V. The Violence of the Green Revolution. Dehra Dun Research Foundation of Science and Ecology, 1989. 83 2 Biodiversidade: uma Respectiva do Tercet ro Mundo A crise da diversidade A diversidade é caracteristica da natureza ¢ a base da estabilidade ecolégica. Ecossistemas diversificados fazem surgir formas de vida e culturas diversificadas. A co-evolu- cdo de culturas, formas de vida e habitats em conservado a diversidade biol6gica nesse planeta, A diversidade cultu- ral ea diversidade biol6gica andam de maos dadas, ‘As comunidades de todos os lugares do mundo cria- ram uma forma de saber e descobriram maneiras de tirar seu sustento das dadivas da diversidade da natureza, tanto em sua vertente silvestre quanto na domesticada. As comu- nidades cagadoras e coletoras usam milhares de plantas € animais para obter comida, remédios ¢ teto. As comuni- dades pastorais, camponesas e pescadoras também criaram saber ¢ desenvolveram um modo de vida sustentével com base na diversidade da terra € dos rios, dos lagos ¢ mares. 85 MoNocULTutas DA Me Os conhecimentos ecolégicos profundos e sofisticados da biodiversidade originaram regras culturais para a preserva- so, que se refletem em nogdes de sacralidade e tabus. Contudo, hoje em dia, a diversidade dos ecossistemas, dos seres vivos e dos modos de vida das diferentes comuni- dades esti sob ameaga de extinglo, Os habitats foram cer- cados ou destruidos, a diversidade tem softido erosées e 0 sustento derivado da biodiversidade esté ameagado, As florestas tropicais timidas cobrem apenas 79% da superficie da terra firme, mas contém pelo menos metade das espécies da Terra. O desflorestamento dessas regioes est4 continuando em grande velocidade, com estimativas muito cautelosas sugerindo indices de até 6,5% na Costa do Marfim e com uma média de aproximadamente 0,6% por ano (cerca de 7,3 milhdes de hectares) nos paises tropicais em sua totalidade. Nesse ritmo, que € uma cifra liquida, ¢ incorporando © reflorestamento € 0 crescimento natural, todas as florestas tropicais cercadas serio derrubadas em 177 anos (FAO, 1981). Raven (1988) estima que cerca de 48% das espécies vegetais do mundo vivem dentro ou em tomo de Areas florestais ¢ que mais de 90% de seu habitat serd destruido nos proximos 20 anos, levando a extingao de aproximadamente um quarto das espécies. Wilson (1988) estimou que 0 indice atual de extingdo € de mil espécies Por ano. Na década de 90, esperava-se que esse ntimero rescesse para 10 mil espécies por ano (uma espécie por hora). Nos 30 anos seguintes um milhao de espécies seriam varridas da face da Terra. A diversidade biol6gica dos ecossistemas marinhos também é impressionante, ¢ os recifes de coral As vezes sto comparados a florestas tropicais em termos de diversidade (Connell, 1978). Os habitats marinhos ¢ a vida matinha es- t€o correndo grande perigo; com a destruigio da diversi- BroDrvERsIDAvE: UMA PERSFECTIVA DO TERCEIRO MUNDO dade, a base da pesca da maioria das regides litorineas do mundo esti a beira do colapso. A erosio da diversidade também € muito grave nos ecossistemas agricolas. A variedade das safras desapareceu 0 cultivo durante a fase da “Revolugdo Verde” passou de centenas € milhares de plantas diferentes para trigo e arroz derivados de uma base genética muito restrita. As sementes de trigo que se disseminam pelo mundo inteiro vindas do Centro de Melhoria do Milho e do Trigo (CMMT) por meio de Norman Borlaug € seus “apéstolos do trigo” sio resul- tado de nove anos de experimentago com o trigo japonés “Norin”. © “Norin”, que chegou ao Japao em 1935, é um cruzamento entre © trigo japonés ano chamado “Daruma” € 0 trigo norte-americano chamado *Faltz”, que © governo japonés importou dos Estados Unidos em 1887. O trigo “Norin’ foi levado para os Estados Unidos em 1946 pelo Dr. D. G. Salmon, um fazendeiro que trabalhou como assessor militar dos Estados Unidos no Japio; mais tarde, 0 Dr. Orville Vogel, um cientista do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, fez um cruzamento do “Norin” com as sementes norte-americanas da variedade “Bevor’. Vogel, Por sua vez, enviou-o ao México na década de 50, onde foi usado por Borlaug, que fazia parte da equipe da Fundagio Rockfeller, para criar suas famosas variedades mexicanas, Das milhares de sementes ani criadas por Borlaug, s6 trés foram usadas para lancar as mudas de trigo da “Revolugao Verde", que se espalharam pelo mundo inteiro. Os supri- mentos de comida de milhdes de pessoas dependem dessa base genética estrangeira e limitada.t Durante os Gltimos 50 anos, a India provavelmente cultivou mais de 30 mil variedades nativas ou autéctones de artoz, Contudo, a situagio mudou drasticamente nos dlti- ‘mos 15 anos ¢ o Dr. H. K. Jain, diretor do Instituto de Pes- quisa da Agricultura Indiana, de Nova Délhi, prevé que 87 MONOCULTURAS DA Mente daqui a 15 anos essa enorme diversidade de reduzida a nao mais de 50 varied; importantes respondendo p. arroz dese subcontinente.2 As populagdes de gado também es geneizadas e sua diversidade Perdida. As racas puras de gado indiano, desenvolvidas Sere [maior cuidado, estdo em vias de extingo, As ragas Sahival, Red Sindhi, Rathi, Tharparkar, Hart na, Ongole, Kankreji e Git sto ragas criadas para diferentes econichos, onde tinham de sobreviver fa arroz sera lades, com as 10 mais oF tes quartos das culturas de 10 sendo homo est sendo ineversivelmente > © Sua Contribui¢ao de fertili. Zan ortinico sendo substituida por fertlizantes quimicos, © solo, a fauna e a flora também se extinguem, As bactérias locais fixadoras de nitrogenio, os fungos que facilitam a assimilaglo de nutrientes por meio de associagio com os nian OS: Predadores de pragas, espécies que farers poli- 2 ne © dispersam sementes e outras que co-evoluiram 20 longo de séculos ¢ prestavam Servigos ambientais aos ae temas tradicionais extinguiram-se ou tiveran sud base genética dramaticamente restringila Privados da flora com a qual co-evoluitam, os micr desaparecem (Norgaard, 1988), A crosio da biodiversidade dé inicio a uma reagdo em Gadela. © desaparecimento de uma especie cath relaciona- lo 4 extingao de intimeras outras com relacionada por meio de redes € cadeias as quais a humanidade biodiversidade nao é ap. to de espéceis que tém Brandes empresas, se as quais esta inter- alimentares e sobre € totalmente ignorante. A crise da enas uma crise do desaparecimen- © potencial de criar dolares para as "vindo de matéria-prima industrial. B, 8 | As principats ameasas & biodiversidade @ Causas principais 114 duas causas principais para a destruigdo em larga escala da biodiversidade. A primeira € a destruigao do babi- tat devo & megaprojeos com Endncaments inesecte nal, como a construgao de represas e rodovias ¢ atividades de mineragio em regides florestais ricas em diversidade ee unda principal causa da destruigao da biodiversi- dade ‘om Areas cuhivaas € 2 tendéncia tecnolégica e eco- nOmica de substituir a diversidade pela homogeneidade na silvicultura, na agricultura, na pesca e na criag&o de ani- mais. A Revoluglo Verde na agricultura, a Revolugao oe ca nos laticinios ¢ a Revolugio Azul na pesca so a goes baseadas na substituicio deliberada da diversidade biol6gica pela uniformidade biologica e monoculturas. a) A destruig¢do da biodiversidade devido aos projetos de desenvolvimento em areas florestais As represas de Narmada vao submergir grandes areas florestais no vale do Narmada, na india. O Projeto SardarSarovar vai submergir 11 mil hectares € 0 ma igar vai submergir quase 40 mil hectares de a ‘Alem da destruigao direta da biodiversidade ne: 8 flo a submersao vai destruir itreversivelmente a base da téncia das tribos da regiao, Coreen senses eee ree HRAs ba Mente Na Tailéndia, a represa Nam Choan ia inundar as termas do vale do Tung Yai ¢ 0 santuadrio da vida selvagem de Hai Kha Khaeng que, juntos, compreendem 0 maior bloco intac- to de areas florestais transformadas em reservas para a pre- o da vida selvagem desse pais. Portanto, a represa ameacava d servag struir © habitat das maiores populacde nescentes de elefantes € banicug, bem como um grande néimero de outras espécies ameagadas ou em isco de extingdo, como o tigre, 0 gaur (boi selvagem da india, 0 Bos gauurus), 0 tapit ou anta € aves como a green pea foul (ave selvagem comestivel) (Tuntawiroon e Samotsa-Korn, 1984) No Brasil, o Programa da Grande Carajis, envolvendo as represas do Tucurul, mineracao de ferto € batxit indstrias de proces samento ameagam a biodiversidade ¢ a diversidade cultural do Amazonas. A Amaz6niga contés mais vida selvagem que qualquer outra regito da ‘Te tanto por unidade de drea quanto por ser uma regiao sub- continental. As estimativas indicam que ha “mais de 50 mil espécies de plantas superiores, um ntimero pelo menos igual de fungos, um quinto de todas as aves de nosso pla- neta, pelo menos 3 mil espécies de peixe, sendo dez vezes mais numerosos que as espécies de peixe de todos 0s tios da Europa, € espécies de insetos cujo tot incontéveis na Amaz6nia. 10 milhoes A idade venerivel e 0 grande tam seu clima fa ho das florestas, /ordvel (quente € timido), o fato de terem per manecido intactas durante milénios ¢ a presenga de con- centages muito grandes de espécies em determinadas areas (conhecidas como Abistocene refiugia) sio fatores que contribuiram todos para a diversidade sem paralelos da regio. Por exemplo: um hectare tipico da floresta amaz6- nica contém entee 200-300 variedades $6 de arvores" 3 Durante a €poca em que o reservat6rio de Tucurui estava sendo enchido que inundou pelo menos 2.150 90 Dt: LMA peesrecriva vo TescrRO M quildmetros quadrados de floresta tropical Gmida durante muitos meses, foi feita uma tentativa de salvar os animais que estavam se afogando. Num tnico dia, 4.037 mamiferos, 4.848 réptels, 6.293 insetos como escorpides ¢ aranhas gigantes, 717 aves e 30 anfibios foram capturados por ho- mens em barcos ~ cerca de 15.925 criaturas de uma parte da laguna. Os ecologistas brasileiros calcularam que esse total era uma fragio diminuta do ntime 0 real que habitava a florest - Os 10% de espécies mundiais que vivem na Amaz6nia ndo so distibuidos uniformemente, eles se aglomeram do rio. A maioria é endémica ou tem dis por toda a bi (0 limitada. Inevitavelmente, a grande diversidade Quanto mais o desenvolvimento se intensifica, tanto maior a probabilidade de extingdes. Em nde projetos isolados envolvem a regides como Carajas, derrubada de milhares de quilémetros quadrados de flo dividuais, mas babitats intei- estas, no apenas espécie: ros estio desaparecendo rapidamente.4 b) Substituig@o da biodiversidade por monoculturas Segundo o paradigma dominante de producao, a diver: sidade opée-se a produtividade, ctiando um imperative de uniformidade € monoculturas. Isso gerou a situacdo para doxal em que a melhoria da planta tem-se baseado na destruico da biodiversidade que a usa como matéria-pri- ma, A ironia da criagio de novas espécies de plantas € ani- mais 6 que ela destrdi exatamente as unidades bisicas da qual a tecnologia depende. Os projetos de desenvolvimer to Mlorestal introduzem monoculturas de espécies indus triais como 0 eucalipto e levam a extincao a diversidade de sidades locais. Os pro- espécies locais que satisfazem neces jetos de modernizacio agricola introduzem safras novas ¢ on ‘MoNocuLrunas DA MENTE uniformes nos campos de cultivo e destroem a diversidade das variedades locais. Nas palavras do professor Garrison Wilkes, da Universidade de Massachusets 880 0 mesmo que tirar pedras dos alicerces de um edificio para consertar ° tclhado Essa estratégia de basear 0 aumento da produ- tividade na destruigao di iversidade € perigosa e e- tad ipo da diversidade € perigosa e desne A diversidade nao sera preservada enquanto a lgica da produgao nao for transformada, A ‘melhoria do ponto de vista das grandes empresas, ou do ponto de vista da agricultura ocidental, ou da pesquisa florestal”, costuma set uma perda para o Terceiro Mundo, principalmente para os pobres do Terceiro Mundo. Portanto, a produgao contra- por-se a diversidade nao tem nada de inevitivel. A unifor- midade enquanto modelo de produgio s6 se torna inevi vel num contexto de controle e lucratividade. A disseminagao de monoculturas de espécies de “cres- cimento répido” na silvicultura e de “variedades de alto rendimento” na agricultura tem sido justficada em nome da ‘melhoria” € do maior “valor econémico”. No entanto, “me Ihoria” ¢ “valor” no so termos neutros. S40 contextuais € determinados por um quadro de referéncias, A melhoria de espécies de drvores significa uma coisa para a indtistria do papel que precisa de madeira para transformar ef polpa, € outra inteiramente diferente para o agricultor que precisa de forragem e adubo organico vegetal. A melhoria de espé- ces cultivadas significa uma coisa para a inddstria alimen- setae cure totalmente diferente para um fazendeiro auto- No entanto, as categorias de “rendimento”, ‘produtivi- dade” ¢ “melhoria” que surgiram com © ponto de vista da grande empresa tém sido tratadas como universais e neu- tras em termos de valor. Desse modo, todos os projetos de Plano de drvores financiados por instituigdes.interna- nais nos Gltimos anos e incentivados pelo Plano de Agio 92 iovivessivae: UMA PaKsrECTIVA DO TERCEIRO MuNvo da Silvicultura Tropical (Past) disseminaram monoculturas de eucalipto — de crescimento supostamente rapido ~ pela Asia, pela Africa € pela América Latina, O Gnico cresci- mento ripido para o qual 0 eucalipto contribui € de ‘madeira para transformar em polpa ~ no tem crescimento rapido em termos de produgio de madeira destinada a ou- tros objetivos e, em termos de produgio de biomassa que nao seja madeira, destinada 4 forragem, ndo produz nada, 10 gado ndo come suas folhas. Dado que o setor industrial nao se beneficia da diversidade das espécies € de usos das Arvores, os programas florestais destroem deliberadamente ‘a diversidade a fim de aumentar a produgio de matéria- prima industrial. Ver a diversidade como um grande nGmero de ervas- daninhas leva a extingio daquela diversidade que tem grande valor ecolbgico € social, mesmo que nao dé Iucros 2 indistria. O modelo de destruigio da diversidade tem sido o mesmo tanto na silvicultura quanto na agricultura. ‘A melhoria de plantas na agricultura tem-se baseado no aumento da produtividade de uma caracteristica deseja da a expensas das partes indesejaveis da planta. No entan- to, 0 produto “desejado” ndo € 0 mesmo para a agroindéis- tria e para um agricultor do Terceiro Mundo. Que partes de lum sistema agricola serio tratadas como “indesejiveis” depende da classe € do género. O que ¢ indesejével para a agroindiistria pode ser desejével para os pobres; e, quan- do a agroindéstria elimina esses aspectos da biodiversi- dade, o “desenvolvimento” da agricultura promove @ po- breza e a deterioragio ecol6gica ‘Na india, a estratégia de “alto rendimento” da Revo- lugto Verde eliminou os legumes ¢ as sementes oleagi- nosas, essenciais para a nutrigdo ¢ a fertilidade do solo. As monoculturas de variedades ands de trigo e arroz também climinaram a palha que era essencial como forragem e fer- tilizante do solo. A produtividade € “grande” para os obje- 93 MONOCULTURAS DA MENTE tivos de controle centralizado no comércio de gris ali- menticios, mas no no contexto da diversidade das espé- cies © produtos na propriedade rural € para o agricultor. Portanto, a produtividade difere, dependendo de ser medi- da pela diversidade ou pela uniformidade. (I) Causas secundarias da erosto da biodiversidade A visio dominante ignora as causas principais da di truigio da biodiversidade, preferindo concentrar-se nas cau- sas secuncrias, como a pressio populacional. No entanto, as comunidades estaveis, em harmonia com seu ecossiste- ‘ma, sempre protegem a biodiversidade. Somente quando as populagdes sio desalojadas por represas, minas, fibricas € agricultura comercial € que sua relagao com a biodiversi- dade passa a ser antagOnica, em vez de cooperativa. O des lojamento de pessoas ¢ a destruigio da diversidade andam de mios dadas, ¢ pessoas desalojadas destroem mais ainda a biodiversidade como um efeito secundario das causa principais de destruigo identificadas anteriormente, Os efeitos da eroso da biodiversidade A erosio da biodiversidade tem graves consequiéncias ecolégicas e sociais, uma vez. que a diversidade € a base da estabilidade ecolégica € social. Os sistemas sociais ema riais destituidos de diversidade sdo vulnerdveis a0 colay © 8 desintegragao, : a © Vulnerabilidade ecolés dade ecole ce monoculture de “varie dades melhoradas” meats dog OOM 2m 1970-71, um enorme cinturio de mitho los Estados Unidos foi atacado por uma doenga misteriosa, Dos itrsatyyan opp naeey py epeee BOOIVERSIDADE: LIMA RERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO jdentificada mais tarde como “raga ‘T” do fungo Helminis- ‘porium maydis, que provocou a Praga da Folha do Milho © Go Sul, como a epidemia foi batizada. Bla deixou campos de milho devastados com plantas murchas, talos quebrados e malformados ou sabugos completamente podires com um p6 acinzentado. A forca ¢ a velocidade da Praga da Folha foi resultado da uniformidade do milho hibrido, cuja maior parte derivava cle uma ‘nica linhagem masculina € estéril do Texas. A constituigao genética do novo milho hibrido, responsével por sua reprodugio em répida e larga escala por empresas que vendem sementes, também explica sua valnerabilidade a doenga. Pelo mengs 80% do milho hibri- do dos Estados Unidos continham o citoplasma da varie- dade masculina estéril do Texas. Como disse um patolo- gista da Universidade de Iowa, “tama plantacdo tao grande ¢ homogénea & como uma pradaria completamente seca a espera de que uma fatsca a faca pegar fogs”. Um estudo da Academia Nacional de Ciéncias, intitu- lado Viulnerabilidade genética das principais safras aficana: “A safra de milbo caiu vitima da epidemia por causa de uma peculiaridade da tecnologia que redesenbou as variedades do milbo dos Estados Unidos até que, de certo ‘modo, todas elas se tornaram parecidas como gémeos idén- ticas. Tudo quanto torna uma planta suscetivel, torna todas elas suscetiveis” (Doyle, 1988). ago B: Em 1996, o Instituto de Pesquisa Internacional do Arroz apresentou uma variedade “milagrosa” de arroz, 0 IR-8, que foi rapidamente adotado em toda a Asia. O IRS cra particularmente suscetivel a um grande leque de doencas € pragas: em 1970 ¢ 1971, foi devastado por uma doenga tropical chamada tungro. Em 1975, 08 agricultores da Indo- de acres das variedades de igarras cicadiilicas. Em principais doencas nésia perderam meio mill arroz da Revolugdo Verde para as 1977, 0 IR-36 foi criado para resistir 95 [MONOCULTURAS DA MEN € pragas que atacavam 0 IR-8, entre os quais pragas bacte- rianas © tungro. Contudo, essa variedade foi atacada por novos virus, 05 ragged stunt (que provoca ma formag4o) 08 wilted stunt (que faz. a planta definbar). ‘A vulnerabilidade do arroz a novas pragas ¢ doengas por causa da monocultura e de uma base genética limitada € muito grande, © IR-8 € uma variedade melhorada de arroz que deriva de um cruzamento entre uma variedade indonésia chamada “Pea” e outra de Taiwan chamada “Dee-Geo-Woo-Gen". © IR-8, o Taichung Native 1 (TNI) ¢ outras variedades foram trazidas para a India e tornaram-se a base do Projeto Coordenado de Melhoria do Arroz de toda a India, destinado a desenvolver variedades anas, foto-insensiveis, de curta duragdo € alto rendimento de gros, adequadas a condigées de muita fertilidade. Sabia-se que a disseminacao em larga escala de variedades estran- geiras de arroz com base genética limitada implicava risco de disseminagao em larga escala de doengas ¢ pragas. Uma publicagdo intitilada Rice Research in India~ An Overview CA pesquisa de arroz na india — um resumo”), da CRRI, sin- tetiza a questio: A introdugao de variedades de alto rendimento reali- zou uma mudanca evidente na situagéo das pragas de insetos como gall midge, brown planthopper, leaf folder, whore maggot etc. A matoria das variedades de alto rendi- mento sito até hoje suscetiveis a muitas pragas com uma perda de safra que vai de 30% a 100%... A maioria das VARs so derivadas do TNI ou do IR-8 e, por isso, t€m 0 gene andio da Dee-Geo-Woo-Gen. A base genética limitada criou uma uniformidade alarmante, causando vuinerabilidade 4 doengas e pragas. A maior parte das variedades dissemi- nadas ndo sio apropriadas para as regiées montanhosas baixadas tipicas que, em conjunto, constituem cerca de 75% da Grea total de arroz do pats 96 BlODnvERSIDADE: UMA PERSECTIVA DO TeRCERO MUNDO As variedades “milagrosas" substituiram a diversidade das saffas cultivadas tradicionalmente e, com essa erostio da diversidade, as novas sementes transformaram-se em mecanismos de introdugio € promocio de pragas. AS va riedades nativas de arroz, s4o resistentes a pragas € doencas Jocais, Mesmo que certas doengas ataquem, algumas das variedades podem ser suscetiveis, enquanto outras tm resistencia suficiente para sobreviver. A rotagao de culturas também ajuda no controle de pragas. Como muitas pragas sio especificas de determinadas plantas, cultivi-las em esta- des diferentes ¢ em anos diferentes leva a grandes reduces nas populacdes de pragas. Todavia, cultivar a mesma safra fem grandes dreas ano apés ano incentiva o aumento das pragas. Os sistemas de cultivo baseados na diversidade tém, portanto, uma protecio inata (I) Vulnerabilidade social dos sistemas bomogéneos 10 e manutengao © dois principios nos quais a produ da vida se baseiam sio: a) o principio da diversidade; 'b) o principio da simbiose e da reciprocidade, também chamado freqiientemente de lei do retorno Esses dois principios no sto independentes, ¢ sim inter-relacionados. A diversidade faz surgit 0 espago ecol6- gico do dar e tomar, da mutualidade ¢ da reciprocidade. A destruigio da diversidade est ligada a criagdo de monocul- turas ¢, com a criagio de monoculturas, a organizagao auto- regulada e descentralizada de sistemas diversificados da lu- gar a insumos externos @ controle externo € centralizado. Esquematicamente, a transformago pode ser traduzida grafi- camente, como mostram as ilustragdes da pagina seguinte, ‘A sustentabilidade e a diversidade esto ligadas eco- logicamente porque a diversidade oferece a multiplicidade de interagdes que pode remediar desequilibrios ecolégicos 97 ‘Monocutrusas DA MENTE de qualquer parte do sistema. Insustentabilidade ¢ unifor- midade significam que uma perturbagio de uma parte se traduz em desequilibrios de todas as outras. Em vez de ser contida, a desestabilizacdo ecol6gica tende a multiplicar-se Intimamente ligada a questo da diversidade e da uniformi- dade est a questo da produtividade. Uma produtividade maior tem sido 0 principal argumento para a introdugio da uniformidade e da légica da linha de montagem. O impe rativo do crescimento gera o imperative de monoculturas. No entanto, esse crescimento é, em grande medida, uma categoria socialmente construida € determinada pelos valo- res. Existe como “fato” ao excluir e apagar os fatos da diversidade ¢ da producdo com diversidade. h ‘As monoculturas estéo associades a insumos externos, & regulamentagéo ‘ontralzeda @ a uma grande vuierabiidade & desintegracdo ecolégice. OD 03 sistemas baseados na divorsidade estio associados & utoregulagto descentralizada @ @ uma grande resisténcie. RODIVERSIDADE: UMA PERSPECTIVA BO TERCEIRO MUNDO Os sistemas diversificados tém miltiplos produtos ¢ grande parte deles volta para o sistema, permitindo um processo de “poucos insumos extemnos”, de modo que a produgio € possivel sem 0 acesso a0 poder de compra, crédito e capitais. A criagao de gado € 0 cultivo das safras ajudam a manter a produtividade um do outro de forma simbitica e sustentavel. Os diversos tipos de safras tam- bém se mantém uns aos outros, como feijées, paingo ¢ legumes, em que os legumes fornecem nitroger principal safra de cereal fixa. Além de oferecer estabilidade ecol6gica, a diversidade também garante meios de vida diversificados ¢ satisfaz mél- tiplas necessidades por meio de trocas reciprocas. (Os sistemas de produgio homogéneos ¢ unidimen- sionais desintegram a estrutura da comunidade, desalojam as pessoas das diversas ocupagdes © tornam a produglo dependente de insumos externos € mercados externos. Isso gera vulnerabilidade e instabilidade politica e econdmica, porque a base da producao é ecologicamente instavel ¢ os mercados de bens so economicamente instiveis. (Os negros das Filipinas sofreram um desastre econd- mico porque toda a sua economia dependia da cana-de- agicar e, quando os substitutos do agticar passaram a deri- var do milho, 0 mercado tir. A vulnerabilidade da Africa € enorme porque 0 colonia- lismo introduaiu a dependéncia exclusiva de monoculturas de safras lucrativas para exportaco ¢ acabaram com a bio- diversidade que atendia as necessidades locais de aliment io. Muitos paises africanos dependem de uma Gnica safra para suas divisas de exportagao. Com o surgimento de novas biotecnologias € a produ- 60 industrial de substitutos dos produtos biol6gicos das grandes plantagées, € de se esperar que haja graves dese- quilibrios da economia ¢ da sociedades desses pafses. cana-de-agécar deixou de e9 99 Monocuritas oA MENTE O btoimperialismo do Primeiro Mundo ¢ 0s conflitos Norte-Sul A riqueza da Europa na era colonial baseo grande medida na transferéncia de recursos biologicos das colénias para os centros de poder imperialista ena substi- o da biodiv matérias-primas pa ‘A. W, Crosby chamou a transferéncia biol6gica de rique- za das Américas para a Europa de “troca colombiana”, porque, com a chegada de Colombo na Am* feréncia em massa de milho, batata, abGbora dligua, amen- doim, feio, girassol e outras safras por meio do Atlantico, Varias especiarias, acticar, banana, café, cha, borracha, anil, algodio ¢ outras safras industriais comegaram a mu- dar-se para novos locais de produgio sob 0 controle de poténcias coloniais recém-emergentes € suas companhias apoiadas pelo Estado. ‘A violencia e 0 controle foram parte intrinseca desse processo, pelo qual 0 Norte acumulou capital € riqueza assu- mindo o controle sobre as recursos biol6gicos do Sul. A destruicao da biodiversidade que podria usar ou controlar se em sidade das col6nias por monoculturas de a indiistria européia, ca, comegou a trans foi o outro lado menos visivel dese processo de colonizacao. m 1876, os ingleses contrabanderam borracha do Brasil ¢ introduziram-na em suas col6nias do Sri Lanka ¢ da s a brasileira de borracha entrou em colap- so €, em seu lugar, a fome passou a imperar. (Os holandeses cortaram 75% dos pés de cravo € noz- moscada das Molucas e concentraram a produgao em trés ilhas muito bem protegidas. ‘A violéncia fisica talvez nao seja mais © principal instrumento de controle, mas o controle da biodiversidade do Terceiro Mundo para © lucto ainda é a légica primordial 100 BrobiVERSIWAKE, UMA FERSPECTIVA DO TexcxRO MUNDO das relagdes Norte-Sul em termos de biodiversidade. A introducao em larga escala de monoculturas no Terceiro Mundo por meio da Revolugao Verde foi liderada pelo Cen- iro Internacional de Melhoria do Milho ¢ do Trigo (CIMMT), do México, e pelo Instituto Intemacional de Pesquisa de ‘Arroz (IPA), das Filipinas, controlados pelo Grupo de Consultoria Internacional de Pesquisa Agricola (GCIPA), que foi ctiado pelo Banco Mundial em 1970, Nas Filipinas, as sementes do HPA adquiriram 0 nome de “sementes do imperialismo". Robert Onate, presidente da Associagio de Economia e Desenvolvimento Agricola das Filipinas, observou que as priticas do HPA tinham eria- do uma nova dependéncia de insumos agricolas, sementes e dividas, “Essa é a Logica da Revolucao Verde,” observou ele. “Novas sementes dos sistemas de sementes globais do GCIPA, que vao depender de fertilizantes, pesticidas e ma- quinas produzidas por conglomerados de grandes empresas multinacionais.” ‘A Agencia Internacional de Recursos Genéticos Vege- tais (AIRGV), que € administrada pelo sistema GCIPA, foi ctiada especificamente para a coleta e preservagio de recur- sos genéticos. No entanto, surgit como um instrumento para a transferéncia de recursos do Sul para o Norte Embora a maior diversidade genética do planeta se encon- tre no Sul, das 127 colecdes basicas do GCIPA, 81 esto em paises industrializados, ¢ 29 esto no sistema do GCLPA que & controlado pelos governos € grandes empresas dos pat ses industrializados do Norte, Somente 17 sio colegdes nacionais dos paises do Terceiro Mundo. Das 81 colecdes bisicas do Norte, 10 esto nas maos dos paises que finan- ciam a AIRGY. . ot MONOCULTURAS DA MENTE Os Estados Unidos acusaram os paises do Terceiro Mundo de estarem envolvidos em “pritica comercial deso- nesta” se ndo adotarem as suas leis de patente que permi- tem direitos de monopélio sobre seres vivos. No entanto, os Estados Unidos € que se envolveram em priticas deso- nestas relacionadas a0 uso dos recursos genéticos do Ter- ceiro Mundo, Tomaram gratuitamente a diversidade bio- logica do Terceito Mundo para lucrar milhdes de délares, nenhum dos quais foi dividide com os paises do Terceiro Mundo, os donos originais do germoplasma, Segundo Prescott-Aleen, as variedades silvestres con- tribuiram com US$ 340 milhdes por ano entre 1976 € 1980 para a economia rural dos Estados Unidos. A contribuigao total do germoplasma selvagem para a economia norte- americana tem sido de US$ 66 bilhdes, que € mais que a divida internacional total do México ¢ das Filipinas. Esse material silvestre € “propriedade” de Estados soberanos das populacdes locais. Uma variedade de tomate silvestre (Lycopresicon chom- releuskii), retirada do Peru em 1962, contribuiu com US$ 8 milhoes por ano para a indtstria de beneficiamento do tomate por aumentat 0 teor de s6lidos soliveis. No entanto, nem um centavo desses lucros ou beneficios foi dividido com o Peru, a fonte original do material genético. (A indiistria farmacéutica rouba as plantas medicinais do Terceiro Mundo A indéstria farmacéutica do Norte beneficiou-se igual- mente da coleta gratuita da biodiversidade tropical. A esti- mativa do valor do germoplasma para a inddstria farma- céutica varia entre os USS 4,7 bilhdes de agora € os USS 47 bilhdes esperados para 0 ano 2000. ‘A medida que a inckistria farmacéutica compreende que a natureza oferece ricas fontes de lucro, comega a cobi- 102 BopveRsDADE: LA PeRsPECTIVA vo TecEIto MUNDO ar a riqueza potencial das florestas tropicais timidas como fonte de remédios. Por exemplo: a pervinca de Madagascar é a fonte de pelo menos 60 alcaldides que podem tratar a leucemia infantil e © mal de Hodgkin. Drogas derivadas dessa planta correspondem a cerca de US$ 160 milhoes vendas por ano. Entretanto, uma outra planta, a Ranwolfa serpentina, da india, € base de remédios que correspon- dem até a US$ 260 milhdes por ano em vendas s6 nos Infelizmente, foi estimado que, com a velocidade atual das florestas tropicais, de 20% a 25% das espé- cies do mundo vegetal estardo extintas no ano 2000. Em conseqiiéncia, as grandes empresas farmacéuticas agora esto analisando e coletando plantas naturais por meio de uma terceirizacto, Por exemplo: uma empresa britanica, a Biotics, é um intermediario conhecido por fornecer plantas exéticas para anilise farmacéutica € por compensar inade- quadamente os paises de origem do Terceiro Mundo. Os funciondrios da empresa admitiram que muitas companhias da inddstria farmacéutica preferem “surupiar” as plantas do Terceito Mundo a passar pelos canais competentes de negociacio, ‘A andlise de coleta abrange plantas, bactérias, algas, fungos, protozoarios e um grande nimero de organismos marinhos, como corais, esponjas ¢ anémonas. Outro método € aquele do Instituto Nacional do Cén- cer dos Estados Unidos, que patrocinou a maior de todas as coletas isoladas de plantas recrutando a ajuda de etnobo- tinicos que, por sua vez, extorquem o saber tradicional clos povos indigenas sem nenhum tipo de compensagio, D 0 bioimperialismo do Primeiro Mundo Apesar de a contribuigio incomensurfvel que a biodi- versidade do Terceiro Mundo tem feito para a riqueza dos 103 Monocunutas oa MENTE paises industrializados, as grandes empresas, governos € 6rgios de assisténcia do Norte continuam criando estru- turas legais ¢ politicas para fazer o ‘Terceiro Mundo pagar por aquilo que deu originalmente. As novas tendéncias do comércio ¢ da tecnologia globais trabalham inerentemente contra a justi¢a € a sustentabilidade ecol6gica. Ameagam criar uma nova era de bioimperialismo, baseado no empo- brecimento biol6gico do Terceiro Mundo ¢ da biosfera. A intensidade desse assalto aos recursos genéticos do Tetceito Mundo pode ser avaliada com base na pressio exercida pelas grandes companhias farmacéuticas ¢ de insu- mos agricolas e seus governos nacionais sobre instituigSes internacionais como 0 General Agreement on Tariffs and ‘Trade — Gatt - (Acordo Geral de Tarifas ¢ Comércio) ¢ a Food and Agriculture Organization (FAO), entidades das Nagdes Unidas para Agricultura ¢ Alimentagio para que reconhes: esses recursos como *heranga universal”, a fim de thes ga- rantiro livre acesso s matérias-primas, Os acordos de paten- tes ¢ licenciamento vio ser cada vez mais usados para asse- gurar 0 monopélio sobre materiais genéticos valiosos que podem ser transformados em remédios, alimentos ¢ fonte de energia As limitagées das abordagens dominantes 4 preservacao da biodiversidade ‘As abordagens dominantes 4 conservagao da biodiver- sidade sofrem das limitagOes de terem uma visio nortista © cega para 0 papel do Norte na destruicao da biodiversidade do Sul Nao ha davida alguma de que A conservagdo da diver- sidade biolégica do mundo (am estudo publicado pelo 104 BobIVERSIDADE: UMA PERSPECTIVA Bo TeRCEIRO MUNDO Banco Mundial, pelo Instituto de Recursos Mundiais, pela Unido Internacional para a Preservagio dos Recursos da Natureza e pelo Fundo Mundial em prol da Natureza) surgiu. no Norte. No entanto, até esse estudo sofre de uma ise tendenciosa e de prescrigdes tendenciosas. a ( Desprezo pelas principais causas da destruigao Nesse estudo, embora a ctise da erosio seja tratada como um fendmeno exclusivamente tropical € do Terceiro Mundo, pensar e planejar a preservagio da biodiversidade sio atividades projetadas como monopélio de institutos € Orgiios sediados no Norte industrial ¢ controlado por ele. E ‘como se a inteligéncia e as solugdes estivessem no Norte, enquanto a matéria € os problemas estio no Sul. Essa polaridade ¢ dualismo esto por baixo dos defeitos basicos do livro, que poderia ter recebido um titulo mais honesto: ‘As propostas do Norte para a preservago da diversidade biolgica do Sul. E claro que é verdade que 0s trépicos sdo o berco da diversidade biolégica do planeta, com uma multiplicidade e variedade incompariveis de ecossistemas € espécies. Contudo, a erostio da diversidade ndo s6 € uma crise igual- mente grave no Norte, como também € no Norte que esto as raizes da ctise de diversidade do Sul. Esses aspectos da destruigio da diversidade nao sao tratados no livro. Intimamente relacionado com o desprezo pelas forgas ¢ fatores do Norte como parte do problema esti o despre- 20 pela crise de diversidade no que € considerado esferas le produgdo” ~ silvicultura, criacdo de gado e agriculture. Entre as causas identificadas como aquelas que levam a perda dos recursos biolégicos esto a derrubada ¢ a quei- mada nas florestas, a coleta excessiva de plantas € animais € 0 uso indiscriminado de pesticidas. Contudo, nos sltimos 20/30 anos, além desses fatores, tem havido uma substitui- 105 ee ‘Monocutuicas 0A ME io deliberada da diversidade pela uniformidade das safra frvores e gado — por meio de projetos de desenvolvimen- to financiados por 6rgios internacionais de assisténcia, Assim, esse estudo ignora as duas causas principais da destruigdo da biodiversidade, que sto de cariter global, ¢ concentra-se em causas secundarias de menor importincia, que muitas vezes tém um caréter local. Portanto, acusa as vitimas da destruicio da biodiversidade pela destruicao, ¢ coloca a responsabilidade por sua pre s das fontes da destruigao. (WA doenga apresentada como remédio © Banco Mundial, que continua introduzindo planos de agio de biodiversidade, nos tiltimos 10 anos financiou a destruicto da diversidade genética do Terceiro Mundo, Financiou a Revolugio Verde que substituiu os sistemas locais de cultivo geneticamente diversificados do Terceiro Mundo por monoculturas vulneriveis e geneticamente uni- formes, Contribuiu para a erosdo genética incentivando instituigdes de pesquisa centralizadas € controladas pelo Grupo de Consultoria Internacional de Pesquisa Agricola (GCIPA), que © Banco Mundial criou em 1970. 0 Plano de Agio para a Floresta Tropical (PAFT), que € citado como exemplo de uma estratégia de preservacio de habitats, tem sido responsavel pela destruigao cla biodi- versidade tanto das florestas naturais quanto dos ecossis- temas agricolas. A introducao em larga escala de monocul- turas de eucalipto € outras espécies industriais foi acelera- da pelo PAFT, que substituiu as espécies nativas de arvores, safras agricolas e animais. Na verdade, o PAFT tornou-se um instrumento para dar subsidios piblicos a grandes empresas multinacionais como a Shell ¢ a Jako Poyry na Asia © na América Latina 106 loDIvERSIDADE: UMA PERSPECTIVA DO Tece© MUNDO (1D Quem produz e quem consome a biodiversidade? A. perspectiva nortista do estudo do Banco Mun- dial/UIPN/IRM/EM também € evidente em sua andlise do valor da biodiversidade. Nas economias auto-suficientes do Terceiro Mundo, os produtores so simultaneamente con- sumidores e preservadores. Na verdade, admite-se que “a mudanga genética total realizada pelos agricultores ao longo dos milénios foi muito maior que aquela realiza- da pelos cem ou duzentos anos de atividades mais sistema- ticas baseadas na ciéncia” (Kloppenberg, 1988). Se essa contribuigao ao saber € ao desenvolvimento da biodiversidade é reconhecida, os agricultores ¢ membros das tribos sio os produtores originais, ¢ os cientistas das gran- des empresas privadas e do setor piiblico consomem seus produtos finais como matéria-prima de mercadorias. A abordagem dominante coloca essa relago entre produtor € consumidor diante de todas as outras. Provavelmente, © tratamento dado pelos autores 6rgfos do Norte como parte da solucio, em vex de parte do problema, esti relacionado a sua abordagem eco- nomicista. No Capitulo sobre “Os valores da diversidade bioldgica”, o estudo reconhece que 0s recursos s0 valores sociais, éticos, culturais e econémicos. “Mas,” dizem 0 autores em seguida, 40s ‘para competir pela atengdo das autoridades que tomam decisGes nos governos do mundo de hoje, as politicas relativas @ diversidade bioldgica precisam demonstrar primeiro o valor dos recursos bioldgicos para o desenvolvi- ‘mento social e econdmico de um pais em termos econémicos. Os valores econdmicos dos recursos biolégicos sto entio divididos nas seguintes categorias: 107 Monocui.rukAs DA MENTE * “valor de consumo” ~ valor dos produtos consumidos diretamente sem passar pelo mercado, como lenha, for- ragem e came de cava; + “valor de uso produtivo” — valor de produtos explorados comercialmente; € + “valor de uso sem valor de consumo” ~ valor indireto das funcdes do ecossistema, como a protegdo dos recursos hidricos, fotossintese, regulagao do clima € produgao de solo. £ assim que se constréi um interes ante quadro de referéncias dos valores, que predeterminam a and cea opgdes. Se 0 Terceiro Mundo pobre, que deriva seu susten- to diretamente da natureza, s6 “consome'”, € os interesses co- merciais s4o os tinicos “produtores’, segue-se muito natu- ralmente que o Terceiro Mundo € responsavel pela destrui- de sua riqueza biol6gica e que s6 o Norte tem a capaci dade de preservi-la, Essa linha divis6ria ideologicamente construida entre consumo, producio € preservacao esct de a economia politica dos processos que estdo por baixo da destruigao da diversidade biol6gica. Definir a producao como consumo € 0 consumo como produgio é algo que também se encaixa na exigéncia de direitos de propriedade intelectual por parte do Norte € nega as contribuigdes intelectuais dos habitantes do Sul, que sao os produtores primétios do valor. () A preservagao comercializada A perspectiva economicista limita as opgdes de preser- vagio a uma abordagem comercializada, em que os meios 05 fins da preservagio sio valores financeiros de met ‘A preservacao comercializada esti vinculada ao surgi mento de novas biotecnologias que transformaram 05 cursos genéticos de nosso planeta em matéria-prima pata a cado. 108 RowiveRsiwaDe: UMA rexsrEcTivA DO TexcEIRO MUNDO producio industrial de alimentos, remédios, fibras, energia etc, A presetvagzio comercializada mede ¢ justifica 0 valor da preservagio em termos de seu uso atual ou futuro para bar a geracdo de lucros. Nao leva em conta que isso vai ac: completamente com a diversidade genética. A preserva da biodiversidade € vista aqui apenas em termos de criar reservas em ecossistemas intactos com 0 objetivo de pre- serviclos. Essa abordagem esquizofrénica a biodiversidade, que adota uma politica de destruicto da diversidade em pro- cessos de produgao e uma politica de preservagio em sreservas”, nao pode ser eficiente em termos de preserva- cdo da diversidade das espécies. A biodiversidade nao vai ser preservada, a menos que a producdo em si se baseie numa politica de preservagio da diversidade. ‘A dependéncia exclusiva do valor econémico como a razio de ser da preservagio € um conceito errado para ini- iar um programa de preservaciio. Como observou Ehrenteld: “Ao atribuir valor a diversidade, simplesmente legiti- mamos 0 processo que a esta varrendo da face da Terra, 0 (processo que diz, ‘a primeira coisa que conta em qualquer decisdo importante é a magnitude tangivel dos custos € beneficios em délares...’ Se quisermos que a preservacao tenba éxito, o priblico tem de compreender o erro inerente & destruigdo da diversidade biolégica” (Ehrenfeld, 1988). (W) A abordagem reducionista ‘A abordagem dominante 4 biodiversidade € inade: quada para a preservacdo ndo apenas porque s6 valoriza a biodiversidade como mercadoria, como também porque percebe a biodiversidade de uma forma fragmentada € atomizada. Vé a biodiversidade apenas como uma catego- ria aritmética, numérica, aditiva. Assim, “a preservagao da diversidade biolégica do mundo” usa a biodiversidade como 109 Ps vmmmenaniy MONOCULTURAS DA MENTE “um termo genérico para o grau de variedade da natu- reza, incluindo tanto 0 mimero quanto a freqiiéncia de ecossistemas, espécies ou genes de uma determinada linha de montagem” (McNeely et al., 1990). Isso leva a uma abordagem reducionista da preser- vaso, que € muito favoravel para os objetivos comerciais, mas ndo atende os critérios ecoldgicos. A preservacao ex situ em bancos de genes de tecnolo- gia avangada é a resposta A preservacao da biodiversidade. Essa abordagem é estitica e centralizada. E um meio efi- cieme de preservagao de matéria-prima sob a forma de co- eta de germoplasma. ‘Tem, porém, suas limitagdes, tanto Porque retira 0 controle sobre a biodiversidade das mios das comunidades locais, de cuja guarda o Germoplasma foi tomado, quanto porque remove a biodiversidade dos abi. tats onde a diversidade evolui e se ambientais em proceso de mudanga. idapta em condigdes Do btotmperialismo a biodemocracia A preservacao da biodiversidade com base na ecolo- gia ena justica © Ecologia, justica e eficiéncia Uma abordagem ecologicamente sustentivel ¢ justa a preservacio da biodliversidade tem de comecar com o fim (0 das principais ameacas A biodiversidade, Isso implica interromper a ajuda e os incentivos & destruigdo em larga escala dos habitats onde a biodiversidade floresce e acabar com os subsidios ¢ assisténcia piblica A substituicao da diversidade por sistemas centralizados e homogéneos de 110 BIODIVERSIDADE: UMA FERSPECTIVA DO TeRCEIRO Mend produgao na silvicultura, na agricultura, na pesca e na cri do de animais. Como o impulso para essa destruigao vem da ajuda e do financiamento internacional, 0 comego do fim da destruigio da biodiversidade e 0 inicio 4 preserva- do tém de acontecer nesse plano. Paralelamente, € preciso dar apoio aos modos de vida e sistemas de produgio que se baseiam na preservagio da diversidade e que tem sido marginalizados pelo modelo dominante de desenvolvimento. Ecologicamente, essa mudanga envolve © reconheci mento do valor da diversidade em si. Como disse Ehrenfeld: *O valor é uma parte intrinseca da diversidade.” ‘Todos os seres vivos tém um direito inerente-a existéncia e essa dev ser a razo Suprema para nao permitir que ocorra a extin- do de uma espécie No plano social, os valores da biodiversidade em dife- rentes contextos culturais precisam ser reconhecidos. Os bosques sagrados, as sementes sagradas, as espécies sagra- das tém sido meios culturais de tratar a biodiversicade como algo inviolavel ¢ nos dao os melhores exemplos de preser- o. Além disso, precisamos reconhecer que o valor de mercado e o valor em délares so apenas valotes limitados € muitas vezes perniciosos A biodiversidade. A biodiversi dade tem outros valores, como o de prover sustento € sig- nificado, € esses valores no precis tratados como, subordinados € secundiirios aos valores de mercado. © recomhecimento dos direitos da comunidade a bio- contribuigdes dos agricultores « membros diversidade das tribos para a evolugio € protegdo da biodiversidade também precisam ser admitidos — tratando seus sistemas de saber como sistemas futuristas, € no como primitivos. No plano econdmico, se a preservacio da biodiversi- dade tiver realmente como objetivo a preservagio da vida, € no dos lucros, entdo os incentivos dados a destruigao da biodiversidade e as dificuldades que passaram a assoc MonocuLtueas DA MENTE a preservagio da biodiversidade precisam ter um fim. Se o quadro de referéncias da preservagao da biodiversidade guiar o pensamento econdmico, em vex do contririo, fica evidente que a chamada grande produtividade dos sistemas homogeneos € uniformes é uma medida artificial, artificial- mente mantida pelos subsidios piblicos. Se meia caloria de energia produz uma caloria de alimento em sistemas que tém uma base de biodiversidade que nao é industrial, ¢ 10 calorias de energia produzem uma caloria de alimento em sistema industrial homogéneo, € claro que nao € a eficién- cia ¢ a produtividade que levam a substituicao dos primei- 10s pelo segundo. A produtividade ¢ a eficiéncia precisam ser redefinidas, refletindo o insumo miiltiplo, a produglo miltipla € os sistemas de insumos internos caracterizados pela biodiversidade, ‘Além disso, a légica perversa do financiamento da preservacao da biodiversidade em troca de uma pequena porcentagem clos luctos gerados pela destrui¢ao da biodi- versidade equivale a dar licenga para a destruigao ¢ reduz a preservaco a um espeticulo, ndo a uma base de vida ¢ producao. As desvantagens de preservar os sistemas deri- vam dos privilégios dados 4 destruigio dos sistemas; nio hé como chegar a preservacio aumentando esses privilégios € aprofundando as desvantagens. Os governos do Terceiro Mundo precisam se lembrar cle que no possivel proteger a propria casa contra 0 roubo pedindo ao ladrio para devolver uma pequena parte do saque. Para haver prote- do, € necessirio impedir que 0 assalto aconteca. Ecologia, justiga e eficiéncia convergem na biodivers dade, mas se contrapdem umas as outras nas monoculturas € nos sistemas homogéneos. A diversidade assegura a esta- bilidade ecolégica. A diversidade assegura o sustento de muitos € a justiga social, A diversidade também assegura eficiéncia num contexto multidimensional. Entretanto, a uniformidade 2 BIODIVERSIDADE, UMA PERSPECTIVA DO TERCEIRO MUNDO a) instabilidade ecologica; b) controle externo, que acaba com a economia de subsis- ténci © efi solapada no jéncia numa estrutura unidimensional, mas que é el dos sistemas, (QD Quem controla a biodiversidade? Nem a sustentabilidade ecolégica, nem a sustentabili- dade da economia de subsisténcia podem ser asseguradas sem uma resolugio justa do problema de quem controla a biodiversidade. ‘Até pouco tempo atris, eram’as comunidades locais que usavam, desenvolviam € preservavam a diversidade ioldgica, que eram as guardiis da riqueza biol6gica deste planeta. E 0 seu controle, 0 seu saber ¢ os seus direitos que precisam ser fortalecidos se quisermos que @ preservagdo da biodiversidade seja real ¢ profunda, Esse fortalecimento tem de ser feito por meio da aco local, da agio nacional € da acto global. Depois de séculos em que o Sul geneticamente rico contribuiu com recursos biolégicos gratuitos para o Norte, (08 governos do Terceiro Mundo nao estao mais dispostos a ver sua tiqueza biol6gica ser levada de graca e revendida 20 Terceiro Mundo por pregos exorbitantes sob a forma de sementes “melhoradas” ¢ pacotes de remédios. Do ponto de vista do Terceiro Mundo, é extremamente injusto que biodiversidade do Sul seja trataca como a *heranga comum da humanidade" € 0 fluxo de mercadorias biol6gicas que volta para c4 seja de artigos patenteados, cotaclos ¢ tratados ‘como propriedade privada dle grandes empresas do Norte. Essa nova desigualdade e essa nova injustiga esto sendo impostas ao Terceiro Mundo pelo sistema de paten- tes e direitos de propriedade intelectual ‘do Gatt, do Banco Mundial e da Lei do Comércio dos Estados Unidos. As 113 nes ‘Monocunruas Da Ment novas assimetrias que Norte-Sul vao gerar levam a um mundo instével € sao, evidentemente, uma questo muito preocupante. Igualmente sério € 0 solapamento da sobera- nia do Tetceiro Mundo. No entanto, muito mais séria € a erosio total da sobe- rania das comunidades locais, os guardiaes originais da bio- diversidade, e da soberania da diversidade dos seres vivos que sio nossos companheiros de co-evolugao, € néo sim- ples minas de genes a serem explorados a vontade para a aquisigao de lucros e controle. Atribuir valor a0 gene por meio de patentes faz com que biologia vire de ponta-cabega. Organismos comple- x05 que evoluiram durante milénios na natureza e com as contribuigdes de camponeses, membros de tribos e curan- deiros do Terceiro Mundo sio reduzidos a suas partes € tratados como simples insumos da engenharia genética Portanto, patentear genes leva a desvalorizacao dos seres vivos ao reduzi-los a seus constituintes € permitindo que sejam repetidamente possuidos como propriedade privaca Esse reducionismo e essa fragmentagao podem ser conve- nientes para empresas comerciais, mas viola a integridade da vida, bem como os direitos de propriedade comum dos povos do Terceito Mundo. Com base nessas falsas nocées de recursos genéticos e sua propriedade por meio de direi- tos de propriedade intelectual € que sio travadas as “bio- batalhas’ na FAO € as guerras comerciais do Gatt Para remediar 0 desequilibrio Norte-Sul e reconhecer as contribuiges das comunidades locais para o desenvolvi- mento da biodiversidade, € imperativo que o regime basea- do no bioimperialismo seja substituido por estruturas ba- eadas na biodemocracia. Gandhi mostrou que o poder absoluto baseado em alicerces antiéticos € antidemoeriti- cos 86 pode ser questionado pelo ressurgimento da ética € da democrac 114 BIODIVERSIDADE: UMA FERSPECTIVA DO TexCEIRO MUNDO ‘A biodemocracia envolve 0 reconhecimento do valor intrinseco de todos os seres vivos ¢ seu direito inerente a0 éxito. Envolve também o reconhecimento das contribuicdes € direitos originais de comunidades que co-evoluiram com a biodiversidade local. ‘A biodemocracia implica que os Estados nacionais pro- tejam esses direitos mais antigos da erosdo levada a cabo pelas reivindicagdes 4 propriedade privada de seres vivos por meio de patentes ¢ direitos de propriedade intelectual defendidas pelas grandes empresas. ‘Quanto maior a devolugao € descentralizacao dos di- reitos a biodiversidade, tanto menores as chances de as ten- déncias monopolistas assumirem © poder. Os governos do Sul s6 podem-se fortalecer se fortale- cerem seu povo ¢ sua biodiversidade ¢ se derem apoio ¢ protegio aos direitos democriticos a vida das mais variadas espécies ¢ das comunidades diversificadas que convivem com elas. Se os Estados do Sul se juntarem ao movimento de negagio dos direitos ¢ da perda do controle da biodi- versidade por parte das comunidades locais, eles também se enfraquecerdo e perderdo seus direitos soberanos & bio- diversidade e a seu controle para as poténcias econdmicas do Norte, cujos impérios globais na era da biotecnologia serio construides sobre a destruicao e colonizacao da bio- diversidade do Sul. 115 MONCCULTURAS DA MENTE Referéncias Bibliograticas Pena es cen oi ate al 3. TREECE, D, Bound in Misery and iron. Survival International, ar p.62. ae Biotecnologia eMeio A\mbiente 5. DOYLE, Jack. Altered Harvest. Nova York: Viking, 1985. p. 205 6, FAO. Tropical Forest Resources. FAO Forestry Paper, 30, Rom 1981. pes 7. RAVEN, P. “Our Diminishing Tropical Forests’. In: Wilson, EO. Introdugao ee 8. WILSON, #0. "The Curent Sate of Biologia Dives. Wilson, E. 0. (org). Btadiversty. Washington: National Academic Press fi re D: et aeadetole Ere © fato de um dos itens da agenda da Conferéncia das Nag6es Unidas sobre Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento (CNUMAD) ser “a administragio ambientalmente saudvel da tecnologia” indica que a biotecnologia esta envolvida em ansiedade social € ecoldgica ‘A primeira ansiedade surge do fato de que as novas biotecnologias adulteram 0 proprio tecido da vida e exigem ‘uma reestruturagao fundamental de nossa consciéncia, de nossa ética, de nosso meio ambiente, de nossos valores € relagées sociais e econdmicas. Embora em seu sentido mais amplo a biotecnologia seja um grupo muito antigo de tec- nologias, sio as novas biologias que geram novos riscos sociais, ecol6gicos, econdmicos € politicos. As novas biotec- nologias consistem em dois grupos principais de tecnologias. (© primeiro grupo, a “engenharia genética”, refere-se as novas tecnologias derivadas dos avancos da biologia molecular, da bioquimica e da genética. segundo grupo baseia-se nos novos procedimentos celulares cujos alicer- ces so a tecnologia mais antiga da cultura de tecidos. 117 Monocutruitas oA MENTE A engenharia genética € uma técnica muito poderosa gue, teoricamente, permite que qualquer gene seja removi- do de qualquer organismo ¢ introduzico em outro, A tecno- logia de recombinagio do DNA tem o potencial de tans- formar os genes num recurso global que pode ser usado para ctiar novas formas de vida. E esse poder técnico que Ihe dé 0 potencial de se tornar mais difundida do que qual- quer tecnologia do pasado. A nova biotecnologia ji encontrou aplicagdes em inddstrias primétias (agricultura, silvicultura ¢ mineragao), em inddstrias secundatias (produtos quimicos, remédios, alimentos) ¢ em indtstrias tercidrias (tratamentos de satide, educagao, pesquisa e servigos de consultoria) Além do grande ntimero de aplicagdes da biotecnolo- gia, temos o fato de que o desenvolvimento de novas tec- nologias esta quase inteiramente sob 0 controle de empre- sas transnacionais, mesmo que universidades © pequenas empresas tenbam criado as técnicas. Essas corporagées estdo diversificando-se em todos os campos que usam orga- nismos vivos como meio de produgio. Setores da industria tradicional esto tornando-se menos distintos € as frontciras das grandes empresas so virtualmente inexistentes (Fowler et al., 1988). Essa integracdo, centralizacao e controle tra- zem consigo uma desestabilizagio inerente aos planos social, econdmico e ecolégico. Biotecnologia e riscos biolégicos a) O apelo dos cientistas por seguranga A inovagdo tecnolégica e a mudanga cientifica nao trazem soment€é beneficios, Também tém custos sociais, ecol6gicos € econdmicos. 118 I VVVVVWTFIVTTTTOYVWievoveyymmmpmm BotechoLociA & Melo AMsiENTE Os primeitos a mostrar preocupacio com 0 surgimen- to da nova tecnologia foram os cientistas mais ligados 4 engenharia genética. Em 1973, um grupo de cientistas emi- nentes pediu garantias para certos tipos de pesquisa devi- do aos riscos € perigos desconhecidos associados com a possivel evasio ¢ proliferacao de novas formas de vida, Em 1975, na Conferéncia Asiloniar, parte da comunidade cien- tifica, liderada por Paul Berg, um bidlogo molecular de Berkeley, tentou chegar a um acordo sobre a necessidade de regulamentar a pesquisa biotecnol6gica (Krimsky, 1982), Declaragao dos cientistas sobre os bio-riscos potenciais de moléculas de DNA recombinantes ‘vengos recentes nas tenis de iolrnento © recom nag de segrentos do ONA agorspermitom contra nro do’ moldcules recombinanes do DNA aves Botogizamento. Por tempo. as enconuclases de reatigbo co DNA, que germ eg. Mores de DNA contendo extteriades aderentes especialmente apropiaos 8 recomoneto, tm sto ude pat er Ravos : i funcionais que tém marcadores pos de plasmas becterinos funconais que tom : de resistnci 8 ato, o também para gr © DNA rosso 0 do Xenopus ovis eo DNA de um plasmid bacterano. Este tm paso recombinado temae reproduc dome et vel an Escher ol, onde Sntetea© RNA cormplementr 2 BNA do X. laevis a mesma forma, segmentos do DNA cio- mosebce da Broo ten sito ncaa aio a DNAS do Pasmiiosqueio ge bacteregcs para rods ress Ni Gas que podem nfectar ese repro no cl " “Roo, vaios grupos de centstas esto lenelando usa essa oerlog fre alr DNAS recor 9 pr dU Embora sje provivel quo esses experimentos fecitem a solugso Ge importantes problomes blsios, tart teens quanto tos, tombe pecan resuitar na rag de novos tos de ot Tmeitoo de DNA infoccosc, cjse romiedades biligies no com ser ntoarente preston do arte. Exist si reo- Stpecse de aue algunas deseas molecule atcils com DNA rocomtbirante venharn ese mostarbologcamente petgosas, Um) Perigo poor! dos expermartos corenion dove dh nseesh Sade do user uma bacteria come a Ecol para doner 2s moldcules 119 MoNocutitas DA MENTE BorECNOLOGIA E Meto AmrentE Tecombinantes de DNAs ampllar sou numero. As variedades de E. coliem goral resider no trato intestinal humana e sao capazes de ‘trocar informacdes genéticas com outros tipos de bactéries, algu- mas das quais patogénicas para o ser humano. Assim, nowos ele- mentos de DNA introduzidos na E. colipodem se totner extrema- mente disseminados entre populagdes humanas, bacterianas, vogetais ou animais, com efeitos imprevisives. ‘A preocupaeo com essas capacidades emergentes foi apre- sentada por cientistes que participararn da Conferéncia sobre Acidos Nucléicos de 1973 da Gordon Research, os quais pedirem que a ‘Academia Nacional de Ciéncias considere essas questéas. Os mem- bros abaixo-assinados de um comité, agindo em nome da Assen bigia das Ciéncias da Vida do Conselho de Pesquisa Nacional e com seu endosso nessa questa, fazern as seguintes recomendagoes: ‘A primeira © mais importante & que at6 que os perigas poten- ciais dessas moléculas recombinantes de DNA tenham sido mais bem avaliados, ou até quo sejam desenvolvidos métodos adeque- os de impedir sua disseminaco, os cientistas do mundo inteiro juntam-se aos membros desse comité no sentido de adiar volun- tatiamente os seguintes tipos de experimentos: ‘Tipo 1: construggo de novos plasmidios bacterianos cape: es de se reproduzir autonomamente © que poderiam resultar na introdugdo de determinantes genéticos para resisténcia a antbist cos ou formagéo de toxinas bacterianas em variedades de bacté- fas que, no presente, no tém esses determinantes; ou consttugio de novos plasmidios bacterianos contendo combinagdes de resis- téncia a antibiéticos uteis clinicemente, a menos que os plasmi- dios contendo essas combinagdes de determinantes resistentes a antibidticos jé existam na natureza. * Tipo 2: Ligagao de todos ou alguns segmentos de DNAS provenientes de virus oncogénicos (indutores de céncer) ou outros virus animais a elementos de DNA que se reproduzem autonoma- mente, como plasmiios bacterianos @ outros DNAs virais. Essas ‘moléculas recombinantes de DNA podem ser facilmente dissemi- rnadas em populagdes bacterianas dos seres humanos e outras, espécies e, desse modo, possivelmonte aumentar a incidéncia de cancer e outras doengas. Em segundo lugar, os planos de ligar fragmentos de DNAS animais a DNA de plasmidios bacterienos ou DNA bacteri6fego dever ser cuidadosamente pesados & luz do fato de que muitos tipos de DNA de células animais contém seqiiéncias comuns 20 FINA de virus que causarn tumor. Como a ligagao de quslauer DNA, festranho @ um sistema de reprodugéo de DNA cria novas molécu- las recombinantes de DNA, cujas propriedades bioldgicas no podem ser previstas com certeza, esses experimentos nao devem ‘efeitos levianamente. Washington, DC 20418 120 CATEGSTS gar PROS BS OTST NWOT TTT af Heath que considers medatrnente a eregso de um conte de anettorsencanogce de) superusonar sm programa exper Srontl pare evatr.os porns loose ecléglees potencals Gos tpce suprectacos de rlecinsrecombnantes do DNA i) Starprececmontes que minmzom a Sisseminagao desses mole Gules onto av populagdeshurnanas e utes efi cer dretraes serem seguidos por investigadores que tebalhem com molecu ins rovoribnantes NA potencalmerte perigosss tr quota ger une rouno Intereronel cos censtas envlidos todo undo deve ser Maric para 0 comero So prowimoano com chetno ce erarinar 0 pregrsso cetfica nese Sfeno scl relor formes aropradas de her com o= porees Hlleicos potorels ds roles recombinates de DNA se eeornendagtes comma si tas com @ conic de ue () nossa meoomgogo so bases ern evaigto de isco pot. Sele no de'tece demnonsted, ura ver que’ poucos Sages Sipormentas capontvs sobe 08 perigns dessas molecules de BAe i quo e edosto ae nossas pina recomendagbes Impce o edemonte cu posse! sbandono de cates tos de Crpormenics Contiicamenterelevants. Atm isso, mos cons Senco ds mutes dfelcades tecioas © praieasimpetas ra Sratagso dos pergos cesses mlecuas recombinantes de DNA Gore ores humans, Apesr sso, nso preoespagzo cam a8 Eonseqincio possvelmontefunestas de plagso rasimine Ge costes tenieas motvernos esr pare que fodos os cent tes qe tbolnam ess aoa jumtemse nes, concordando em Teo ina expormentos dos tipos Te 2 supredes até tom ti fetastontatnas do var os rs lgum solo pare os Guests em pata tena sido enconada aul Bera, presidente Dovid Batmore Herbert W. Boyer Stanly N. Conon Dave S Hogness Denil Nathans rotard Robin James B Wetson sherman Weissmen ‘Norton D. Zinder Comite de Molécules Recombinantes de DNA Assembleia das Ciéncias da Vida Conselho Nacional de Pesquisa Academia Nacional de Ciéncias 121 MoNocuLTURAS OA MENTE Mais tarde, a medida que muitos cientistas foram en- volvendo-se na aplicacio comercial das novas tecnologias = 0 que 0 congressista Gore chamou de “vender a drvore do conhecimento para Wall Street” — a autocritica € a auto- restriclo da comunidade cientifica foi desaparecendo. A manutengio da anilise sobre o impacto social das novas tecnologias tomou-se entio responsabilidade de cientistas e ativistas individuais. O tema mais persistente da ctitica tem sido 0 medo de consequéncias ecolégicas ¢ epi- demiolégicas adversas, que podem surgir da disseminagao acidental ou deliberada na biosfera de organismos autopro- pagadores que passaram pela engenharia genética. Cientis- tas famosos como Liebe Cavalieri, George Wald ¢ David Suzuki argumentaram que 0 proprio poder da nova tecno- logia ultrapassa nossa capacidade de usé-la com segurang: € que nem a resisténcia da natureza nem nossas proprias instituigdes sociais si protecio adequada contra os im- pactos imprevisiveis da engenharia genética (Kloppenburg, 1988). b)_O clamor ptiblico contra os testes e disseminagéo delibe- rada no Norte (@ A historia da bactéria “sem o gene do gelo” Como os prejutzos causados pela geada é uma grande ameaga no clima mais frio do Norte e chegam a US$ 14 bi- Ihdes por ano no mundo inteiro, os biotecnélogos esto procurando tornar as plantas mais tolerantes a geada. Isola- ram um gene \que desencadeia uma nucleagao de gelo nas células vegetais e deletaram-no de uma certa bactéria cha- mada Pseudomonous syringae. A idéia era que, quando essa bactéria sem o gene do gelo fosse pulverizada numa safra, como a de morangos californianos, ela tomaria o lugar das bactérias que formam gelo e que ocorrem natu- 122 BOTECNOLOCIA £ MeIO AmaenTe ralmente, ¢ as plantas ndo congelariam, como normalmente o fariam. Em 1983, Steven Lindow, de Berkeley, ¢ a Advanced Genetic Sciences, uma empresa que estava financiando seu trabalho, receberam permissio do Comité de Consultoria sobre DNA Recombinante do National Institute of Health — NIH (Instituto Nacional de Satide) de fazer um teste de campo, Contudo, no dia 4 de setembro, um grupo de cida aos e grupos interessados no meio ambiente, sediado em Washington, DF - entre os quais estava Jeremy Kifkin, a Foundation on Economic Trends (Fundagio de Tendéncias Econémicas), a Environmental Task Force (Forga-Tarefa Ambiental), a Environmental Action (Acdo Ambiental) € a Humane Society (Sociedade Humanitéria) deram inicio a lum processo contra o NIH por aprovar um projeto deles. Entre outras coisas, 0 processo acusava 0 NIH de nao ter feito uma avaliagao adequada dos riscos potenciais ao meio ambiente do teste de campo de Lindow e de “ter sido gritantemente negligente em sua decisao de autorizar a disseminagao deliberada dos primeiros seres vivos a passar pela engenbaria genética”. Entre os riscos que 0 processo de interesse piblico contra 0 NIH apontou estava a dramética possibilidade de que as bactérias de prevencdo a geada fossem levadas para as camadas superiores da atmosfera, destruindo a formagao natural de cristais de gelo e acabando por afetar o clima local ¢ possivelmente alterando o clima global. Cientistas eminentes como Eugene Odum e Peter Raven falaram dos perigos ecol6gicos da disseminacdo deliberada de microor- Banismos, pois eles se reproduzem rapidamente € suas inter-relages com as plantas supetiores como as Arvores-e outras nao so conhecidas. MONOCULTURAS DA MENTE © clamor ptiblico associado ao teste de campo da ba téria que previne a formagio de cristais de gelo esta levan- do os governos ¢ grandes empresas do Norte a fazer seus experimentos em outros paises com pouca ou nenhuma regulamentagdo, 0 que significa paises do Terceiro Mundo. A historia do BST © horménio de crescimento bovino, 0 Bovine Soma- totropin (BST) (Somatotropina Bovina) € o primeiro hor- ménio da nova geragao biotecnologica. O BST natural é um horménio & base de proteinas que as vacas produzem em quantidades suficientes. Nos animais jovens, regula a for- macao dos misculos e o crescimento e, nas vacas adultas, controla a produgao de leite. © BST que passou pela engenharia genética nio é produzido pelas vacas, € sim por bactérias que passaram pela engenbaria genética, Administrado diariamente as vacas, a produgao do leite aumenta entre 7% ¢ 14%. Entre os efeitos negativos indesejéveis do BST biotec- nol6gico esto a grave deterioragao da satide da vaca ¢ 0 aumento do excedente em regides onde os excessos de leite jd esto expulsando produtores de laticinios do neg6- jo. Uma estimativa mostra que, se BST tivesse sido per- mitido no Reino Unido, em 1994-1995 haveria 10% mais de produtdres de laticinios saindo desse ramo do que se nio tivesse sido permitido. Também nfo se sabe se fragmentos do horménio tém ou nao efeitos colaterais no corpo hu- mano. Nao ha testes para saber se © horménio de cresci- mento no leite da vaca é natural ou se sofreu alteragao da engenharia genética. Nao hé testes para descobrir 0 que a versio recombinante pode fazer com o equilibrio hormonal das pessoas que consomem o leite com BST (Ram's Horn, 1991). Além disso, a reducdo da imunidade da vaca as 124 BlOTECNOLOOIA & Mato AmalENTE doengas vai implicar uso maior de remédios ¢ qualidade inferior de leite. Os ativistas que lutam pelos direitos dos animais, fazendeiros e consumidores do Norte conseguiram proibir o BST em lugares como Wisconsin € Vermont, nos Estados Unidos. Trés provincias canadenses proibiram a venda do leite com BST, e foi lancada uma campanha nacional, a «Campanha pelo Leite Puro”, para bloquear a permissto de usar BST. O Parlamento Europeu aprovou uma resolugio pedindo a proibigio mundial do BST. O BST foi proibido na Dinamarca, na Suécia e na Noruega. Nos Estados Unidos, uma coalizdo na deiros e consumidores esti organizando um boicote a Monsanto, a American Gynamid, a Lily e A Upjohn para impedir essas empresas de comercializar 0 BST. ‘ional de fazen- Gil) A exportagéto de riscos para o Terceiro Mundo A medida que proibigdes ¢ regulamentagdes adiarem os testes @ a comercializagio no Norte, os produtos da biotecnologia serio cada vex mais testados no Sul para chiblar a regulamentacao € o controle publico. © povo, os cientistas € os Orgiios oficiais dos pa ‘onde essas tecnologias esto sendo criaclas tém consciéncia de seus perigos. Por isso mesmo, as empresas de engenha- ria genética enfrentam restrigdes regulamentares, protestos piblicos ¢ imposi¢des judicidrias em seus paises de origem, comegaram a realizar seus experimentos com onganismos recombinantes nos paises em que os obsticulos parecem menotes devido a legislacao mais branda e & menor cons- ciéncia pablica. Como disse 0 Dr. Alan Goldhammer, da Associagio de Biotecnologia Industrial dos Estados Unidos, ‘caminho para conseguir aprovacio tem menos obsticu: los nas nagdes estrangeiras". 125 MoNocutunas pa Menre © governo indiano abriu os bragos para 0 carro aleg6- rico da biotecnologia de companhias estrangeiras diluindo as regulamentagdes € erodindo as estruturas democriticas que existiam no pais. O Programa de Aplicagao de Vacina (PAV) destina-se claramente a driblar as regulamentagdes de seguranga dos Estados Unidos, pois 0 memorando das rnagdes participantes afirma que toda pesquisa de engenha- ria genética *serd tealizada de acordo com as leis e regula- mentacdes do pais em que for feita”. Como a india nao tem leis que regulamentem a engenharia genética, testar vacinas na India equivale a disseminar deliberadamente certas subs- tancias sem nenhum tipo de controle. (© PAY teve infcio em 1985 como parte da iniciativa Ciéncia e Tecnologia Reagan-Gandhi; 0 acordo foi assina- do em Délhi em 9 de julho de 1987. O documento do pro: jeto afirma que: “A instituigdo do PAV é um reconbecimento importante de que as vacinas esto entre as tecnologias de saiide com ‘maior beneficio em termos de Custos ¢ que seu Uso genera- lizado em ambos os paises é a chave para controlar a carga das doencas que podem ser prevenidas com vacinas.” © objetivo primordial do projeto é permitir um grande leque de testes de vacinas que passaram pela bioenge- nharia em animais e seres humanos, As Areas prioritarias identificadas foram o cOlera, a febre tif6ide, rotavirus, hepa tite, disenteria, raiva, coqueluche, pneumonia e maléria, mas podem softer alteragdes nos préximos anos do proje- to A medida que outras dreas de oportunidade de pesquisa forem sendo identificadas. Em 1986, 0 instituto Wiktar, sedindo na Filadétia chegou as manchetes dos jornais por testar vacinas contra a raiva que passaram pela bioengenharia em gado da Argentina sem 0 consentimento do governo ou do povo deste pais. Quando 0 governo argentino ficou sabendo do 126 BorrenoLocta & MeIO Avs experimento em setembro de 1986, este foi imediatamente suspenso. O Ministério de Satide da Argentina alegou que a mio-de-obra que cuidava do gado vacinado havia sido contaminada com a vacina. O Wistar foi expulso pelo governo argentino, mas 0 govemno indiano abriu-the os bragos para participat do PAV. Na verdade, 0 documento do projeto do PAV preparado pelo governo norie-americano aplaude o Wistar por seus feitos no campo de desenvolvimento de vacinas € men- ciona especificamente a vacina contra a raiva bovina para testes de campo € outras pesquisas f evidente que 0 governo norte-americano esta ditan- do os termos € as condigdes para eSses experimentos sob 6 guarda-chuva do PAV. O programa est sendo financiado pela Agencia dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (Usaid) ¢ pelo Servigo de Satde Pablica dos Estados Unidos. O custo total do projeto € de US$ 9,6 mi- Ides, do qual os componentes norte-americano ¢ indiano (0, respectivamente, de US$ 7,6 milhdes € USS 2 milhdes. Por meio do insumo financeiro, 0 governo norte-americano controla o programa. Assim todos “os documentos, proje- tos, especificagées, contratos, fixagio de datas € outros itens com qualquer tipo de modificacao” tém de ser aprova~ dos pela Usaid. Todavia, cientistas © Srgios cientificos da india que expressaram preocupagao direta com a questao foram excluidos das discussdes sobre o programa. 1. Atividades secretas ¢ violagao da soberania © controvertido projeto de vacina indo-norte-ameri- cano foi assinado ignorando 0 comité consultor de biotec- nologia cientifica de alta poténcia fundado pelo governo da fndia. O Dr. Pushpa Bhargava, membro do comité e diretor do Centro de Biologia Celular e Molecular, disse que os cordo referente As vacinas “esto Passos postulados no a MONOCULTURAS DA MENTE fadados a ser obstéculos no caminho de criar nossa propria pesquisa ¢ desenvolvimento”, ¢ ameagam a soberania na nal da india, © ministro das Ciencias, K. R. Narayanan, nao foi informado dos detalhes do acordo, nem Dr. V. S. Aru- nachalam, consultor cientifico do Ministério da Defesa. O diretor-geral do Conselho Indiano de Pesquisa Médica afir- mou categoricamente que n4o vai permitir que nenhuma vacina seja testada em indianos a menos que também seja aprovada para uso nos Estados Unidos. Em consequéncia de protestos de cientistas e do ptiblico em geral, a imple- mentagio do programa tornou-se mais secreta ainda, total: mente afastada do othar pitblico. Um programa que vai expor 0 povo indiano a riscos desconhecidos de virus vivos usados como vacinas nega 08 sujeitos humanos desses experimentos 0 direito ético a0 consentimento bem informado que deve ser dado antes da realizagio dos testes. Os seres humanos de todos os lugares do mundo tém o direito fundamental de saber quando esto sendo tratados como cobaias, e tm o direito de se recusar a participar se tiverem medo de que a expo- sigdo Ihes traga riscos desnecessirios. Com vacinas geneti- camente manipuladas, os riscos sio de fato muito grandes, A maioria dos pesquisadores considera extremamente peri- 2080 0 uso de virus letais atenuados como vacinas vivas. Criar virus hibridos tem sido visto como uma forma de con- tomar esses tiscos. A tecnologia de recombinagao do DNA pode ser usada para acrescentar um gene a fim de obter um antigene de um virus letal ¢ inseri-lo no genoma de um virus inofensivo, na tentativa de criar um virus hibrido vivo que seja in6cuo € que, se usado como vacina, oferega imu- nidade contra o virus letal, Contudo, como dizem Wheale © McNally em Genetic Engineering: Catastrophe or Utopia? (Engenbaria Genética: Catdstrofe ou Utopia?), a pesquisa Fecente mostrou que a manipulagio genética de virus ino- 128 fio ITENOLOGIA MIO AMBIENTE fensivos pode tornd ra” que tenha passado pela manipulacdo genética Embora o PAV seja totalmente irresponstivel no que diz respeito 4 protegao da satide do povo e A seguranga do meio ambiente a luz dessas implic: grande preocupagio com a protecao dos Iucros das gran- des empresas, ‘Tem uma clausula especial para um acordo de propriedade intelectual com tentativas de eliminar 0 teor de interesse pGblico do sistema indiano de protegio as patentes, A Argentina € a India no sao os tinicos paises para os quais os bio-riscos estio sendo exportados. Numa Confe- réncia Nacional sobre Biotecnologia Vegetal € Animal, que durou uma semana em fevereiro de 1990, os funcionarios da Usaid pressionaram os paises africanos no sentido de permitirem experimentos de campo de organismos geneti- camente manipulados que talvez ndo fossem permitidos pelos sistemas regulamentadores do Norte. A preocupa era tal que 0 Ministro de Pesquisa, Ciéncia e Tecnologia fez um apelo pablico no segundo dia da Conferéncia, afirman- do que 0 Quénia nao se transformaria num local de testes de novos produtos perigosos da biotecnologia. O Dr. Cales tus Juma, diretor do Centro Africano de Estudos Tecnols- gicos (Caet), advertiu os cientistas de que a U tivando os paises do Terceiro Mundo da Asia da América Latina a permitir testes semelhantes feitos por empresas norte-americanas (African Diversity, junho de 1990). Jos perigosos. Nao existe vacina “segu- “Ges arriscadas, mostra id est incen- Gv) Bio-riscos e bio-seguranga A ignordincia sobre os impactos da sobre 0 meio ambiente € a satide humana € muito maior que 0 conhecimento necessirio a sua producto. Como afir- mou Jeremy Ravetz, a ignorincia, € nao o saber, caracteri- 24 0 nosso tempo, € manter ignoranci novas tecnologias sobre nossa igno- 129 Hy ITI Mowocui turns ba MENTE cultura tecnoeritica (Ravetz, rancia € um tabu cru 1988). Foram necessarios 200 anos de producio baseada no combustivel fossil para os cientistas perceberem que a queima desse tipo de combustivel estava tendo efeitos pa colaterais imprevisiveis - a desestabilizago do clima, a polui¢io da atmosfera ¢ a criacao do efeito estufa © DDT foi considerado a tiltima palavra para garantir a sade pablica, Um Prémio Nobel foi a recompensa por sua invencio. Hoje sabemos que © DDT e outeos pesticicas téxicos implicam grandes custos ecol6gicos e de satide e, por isso, foi banido dos paises industrializados. Union quimicos na india, anunciando orgulhosamente que: “Temos tum dledo no futuro da india.” Esse futuro incluiu a more de 3 mil pessoas inocentes em dezembro de 1984, quando o gis MIC vazou da fabrica de pesticidas da Carbice em Bhopal Produtos e processos quimicos perigosos tém sido eria- dos mais rapidamente do que as estruturas de regulamen- rbide instalou suas Pibricas de produtos tagdo e controle pablico. Ainda nao temos critérios real- mente ecolégicos para uma administragio ambientalmente segura de tecnologias baseaclas em combustivels fosseis inventadas pela revolucdo da engenhatia mecanica. Os tes- tes dos produtos da revolucao da engenharia quimica para uma administracao ecologicamente segura 2 a sua primeira infancia, levando 4 comercializagio de subs- ancias, processos € residuos que esto revelando-se eco: logicamente ana da revolugio da engenharia genética ainda nao foram criados, uma vez. que a interagao dos seres vivos geneticamente modificados com outros onganis mente desconhecido e sem nenhum tipo de mapa. Além disso, a0 contrario de procutos quimicos peri- 20505 como os pesticidas e outras ecologicamente pernicio- nda es em Iministraveis. Os testes de segu 108 € um territ6rio inteira- 130 FONOLOGIA & MEI ANIIENTE 508, como 0s CFCs, 0s produtos cla engenharia genética nao podem ser retirados do mercado. Como disse George Wald em The Case Against Genetic Engineering (Contra a “Os resultados serao organismos essencialmente novos, que se austoperpetuam e, por iso, permanentes. Depois de cria. dos, ndo poderao ser destruidos.” (¥) Transferéncia de tecnologia e opedo tecnoldgica Na biotecnologia, mais que em qualquer outra area, a falta de conhecimento dos perigos nao pode ser conside rada seguranga, Portanto, prudéncia @ cautela sao cons deradas as Gnicas estratégias razodveis para a permissiio do uso de tecnologias de alta poténcia que podem implicar riscos graves num contexto de ignordincia quase total Para os paises «lo Terceiro Mundo, existe 0 petigo espe cifico de serem usados como locais de testes € cobaias. Alem disso, as incertezas do Sul so agravadas pelo fato de que os governos de seus paises querem acesso as novas tecnologias do Norte. Em sua pressa de obter acesso as novas biotec- nologias, os governos do Sul podem, inadvertidamente, co- Jocar a si mesmos ea seu povo € meio ambiente nesse papel de cobaias. Portanto, para aumentar os beneficios das novas tec nologias ¢ redluzir seus impactos negativos, o ‘Terceiro Mun dro de referén- cias para avaliar a biotecnologia com base em seu impacto ecol6gico, social e econdmico. A transferéncia de tecnolo- gia, uma questi importante para as necessidades do Sul, Precisa ser negociada dentro de um quadro de refer desse tipo, a fim de que a transferéncia de tecnologia social mente dlesejivel possa ser feita, ao mesmo tempo que a Wansferéncia indesej arriscadla possa ser evitada, do precisa desenvolver rapidamente um qua éncias Monocurueas bA MENTE Na 4rea da administracio ambientalmente segura das biotecnologias, € importante ter critérios de demarcagao entre tecnologias € produtos perigosos ¢ desnecessitios © aqueles que sto seguros € desejaveis. Isso requer comp: ragdo ¢ avaliagao relativas a opgdes tecnologicas diferentes, € © tratamento dado as novas biotecnologias deve ser ape nas o de uma entre muitas alternativas viiveis para chegar a0 mesmo objetivo. Em tiltima instancia, a avaliagao da tec- nologia € das opgées requer que a tecnologia seja tratada pelo que é, um meio, ¢ no um fim em si mesma, Biotecnologia e€ riscos quimicos Embora a 4tea dos riscos quimicos seja em grande parte um territério desconhecido, depois de 40 anos convi- vendo com eles sabemos com certeza que seria preferivel que as comunidades humanas vivessem sem eles. Seré que a biotecnologia vai levar a alimentos mais seguros € com menos residuos quimicos de pestic outros agrot6xicos? Sera que as novas abordagens biolégi- cas vao substituir os agrotOxicos atuais? A medida que o milagre da Revolugao Verde se des- vanece enquanto desastre ecol6gico, a revolucdo biotecno- Jogica esta sendo anunciada como um milagre ecolégico para a agricultura, Est sendo oferecida como uma solugio sem produtos quimicos € sem riscos para os problemas ecolégicos criados pela agricultura quimicamente intensiva. Os timos 40 anos de quimicalizagio da agricultura levou a ameacas ambientais graves a vida vegetal, animal e huma- na, Do ponto de vista popular, “quimica” passou a se com “perigos ecolégicos". As alternativas ecologicamente seguras tém sido comumente rotuladas de “biol6gicas”. A biotecnologia beneficiou-se por entrar na categoria “biolé- a BIOTEENOLOGIA E Meio AmmeNTE gica”, que tem conotagdes de ser ecologicamente segura. A indGstria da biotecnologia descreve suas inovacdes agrico- as como “mais ecologicas”, Entretanto, talvez seja mais frutifero contrastar 0 para- digma ecoldgico com o da engenharia e situar a biote: nologia neste tiltimo. © paradigma da engenharia oferece solugdes tecnolégicas a problemas complexos e, a0 ignorar a complexidade, gera novos problemas ecol6gicos que depois sao considerados “efeitos colaterais imprevisiveis" ¢ “externalidades negativas”. No ethos da engenharia, é im- possivel antecipar € prever 0 colapso ecoldgico que uma intervengao da engenharia pode causar. As solugdes da engenbaria sao cegas em relagao a Seus impactos. A biotec- nologia, enquanto engenharia biolégica, ndo tem condi- sées de oferecer um quadro de referéncias para avaliagao de seu impacto ecolégico sobre a agricultura. O primeiro mito da biotecnologia é que ela € ecologi- camente segura, © segundo mito € que a biotecnologia vai inaugurar um periodo de agricultura sem agrot6xicos. No entanto, a maior parte das pesquisas e inovagdes da biotecnologia agricola esta sendo feita por multinacionais de produtos quimicos, como a Ciba Geigy, a ICI, a Monsanto e a Hoechst. A estratégia imediata dessas companhias é aumentar 0 uuso de pesticidas € herbicidas desenvolvendo variedades tolerantes a esses produtos quimicos (Tabelas 1, 2 ¢ 3). O foco predominante da pesquisa em engenharia genética io € safras sem fertilizantes e sem pesticidas, € sim varie- dades resistentes a pesticidas ¢ herbicidas. Vinte ¢ sete grandes empresas estio trabalhando em praticamente todas as grandes safras alimentares para desenvolver tolerncia a herbicidas. Para as multinacionais das sementes ¢ dos pro- dutos quimicos, isso pode fazer sentido, comercial, como observarain Fowler e seus colaboradores, pois € mais bara- 133 MONoctitURas DA Mente Tabela 1. Foco da pesquisa: biotecnologia agricola eo setor privadocatividade da empresa por regiéio. BoreNOLOciA £ Melo AMBENTE ‘Tabela 2. A indstria global de pesticidas: as sete maiores empresas em 1986 (em US$ milhdes) ‘Molhoria da proteing Diagndstioo vegetel “Alimenteora gem vegetal ‘Outros prodatos fins 2/2 {2 1_| 5 Total final 7 a7 | 16 | ar Mimore de gopresoe | stobais | a herbicides ‘po de produto | EUA] one Europe] Amt | : Latina [ Bayer ‘Alemanha_| 2344 | ‘Sim Saranies = Z CheGoay | Suce | 2070 | 1 Sin Resist @ ‘cr | feo ute | 1800 | oF Soongas hone Franca | 1.500 2 ‘sim —— Monsanto_| __€UA 1152 7 ‘Sim Toetist | Aomanta | 102 [8 Sin 7 DuPont eua | 1000 | 6 Sim prose 7s see 70380 | ei Fests masses Fonte: Manny Ratafia © Terry Puriton, Grupo de Gestéo de Tecnologia, "World Agicultural Markets” BiofTechnology,p. 281, mar. 1968 to adaptar a planta ao produto quimico do que adaptar produto quimico a planta, O custo de criar uma nova va- riedade vegetal raramente chega aos US$ 2 milhdes, enquanto 0 custo de um novo herbicida excede os US$ 40 milhdes. A resistencia a herbicidas e pesticidas também vai aumentar a integracdo sementes/produtos quit controle de grandes empresas transnacionais na agricultura Um bom ntimero de grandes companhias petroquimi- cas esté criando plantas com resisténcia aos herbicidas fa- Fonte: Develop 3X Dialogue: "The Laws of Life Tabela 3. A induistria global de suprimentos genéticos: as dez maiores empresas em 1987 (em US$ milhées). Empresa Pats | Vondas de | % das vendas | Toloréncia sementes | globals | @ herbicidas Pioneer zua__| e910 655 | Sim ‘Shel! ino | Unidatolanda| 360.0 287 | _sm Sando Suga | 2098 2.13 sim DokalbyPizer| Eua | 2014 148 ‘Sim Upjohn eua_| 2000 147___| No so sabe Limagrain | Fran TS. 126 | Nao ch Reino Unido | 1600 | 119 | _Sin Ciba-Geioy | Suga 152.0 12 ‘Sim Latargea Franca | 1500 1.10 ‘No so sabe | Volvo Soécia | 1400 | 103 Nao 56 Sabo As do lores |2706.7 19.69% | 6 onve 10 Fonte: Development Dialogue: "The Laws of Life 135 Monocutruiras Da Manne bricados por elas. A soja tornou-se resistente aos herbici- das Atrazine da Ciba-Geigy, 0 que aumentou suas vendas anuais de herbicida em US$ 120 milhdes. Também esté sendo feita pesquisa para criar plantas resistentes a outros herbicidas, como o Gist € 0 Glean da Dupont ¢ 0 Round-up da Monsanto, que so letais para a maioria das ervas e, por isso ndo podem ser aplicados diretamente nas safras. A ctiagio € a venda bem-sucedida de sementes resistentes aos herbicidas de uma determinada marca vao resultar em mais concentragio econdmica no mercado da agroindiis- tria, aumentando 0 poder de mercado das companhias transnacionais, Para o agricultor do Terceito Mundo, essa estratégia de empregar mais produtos quimicos t6xicos em variedades de plantas resistentes a herbicidas ¢ pesticidas € suicid num sentido literal, Milhares de pessoas morem anua mente em decorréncia de envenenamento por pesticidas, Em 1987, mais de 60 agricultores da regido indiana que produz nosso melhor algodao, no distrito de Prakasam, em Andhra Pradesh, cometeram suicidio ao consumir pesticida Por causa das dividas contraidas para a compra do produ- to, A introdugio de algodao hibrido criou problemas de Pragas. A resisténcia a pesticidas resultou em epidemias de uma lagarta que ataca algodoeiro, contra a qual os agri- cultores usaram mais pesticidas toxicos e caros, contraindo grandes dividas.e, assim, sendo levados ao suicidio (Ram- prasad, 1988). Mesmo quando os pesticidas e herbicidas nao acabam com as pessoas, acabam com sua fonte de renda. O exemplo mais extremo dessa destruigao € 0 da batua, uma verdura importante com elevado teor nutritivo © que cresce associada 20 trigo. Contudo, com o uso inten- sivo de fertilizantes quimicos, a batua tornou-se um grande concorrente do trigo e foi declarada “erva-daninha”, que morta com herbicidas € venenos contra ervas-daninhas. 136 BlorecNoLoci £ MEIO AMBIENTE A resisténcia aos herbicidas também exclui a possibili- dade de rotagao de culturas e de culturas mistas, essenciais para uma forma de agricultura sustentivel e ecologicamen- te equilibrada, uma vez que outras safras seriam destru‘da: mostram pelo herbicida. Estimativas norte-americana agora um prejuizo de US$ 4 bilhdes por ano em perda de safras resultante do borrifamento de herbicidas. No Ter- ceiro Mundo, a destruigao vai ser muito maior por causa da maior diversidade vegetal e do predominio de ocupacdes diversificadas com base nas plantas ¢ na biomass, Milhares rurais, que ganham a vida tecendo est de mulheres das cestos € esteiras com juncos silvestfes € gramineas perdendo seu meio de vida porque 0 aumento do uso de as gramfneas. A intro- herbicidas esta matando os juncos dugio de safras resistentes a herbicidas vai aumentar 0 uso desse produto quimico e, dese modo, vai aumentar tam- bém os danos a espécies vegetais titeis econdmica ¢ eco- logicamente. As estratégias dla engenharia genética para criar resis- que estao destruindo espécies vegetais téncia a herbicida liteis, também podem acabar criando superervas-daninhas. HA uma relacdo intima entre ervas daninhas ¢ safras agri- colas, ptincipalmente nos trépicos, onde as variedades de interagem geneticamen- ervas daninhas e plantas cultivadas te ha séculos ¢ se hibridizam livremente, produzindo novas variedades. Os genes para tolerancia a herbicidas, resis se que os engenheiros ge- po- sem cia a pragas e tolerincia a estres néticos esto tentando introduzit nas safras agricola dem ser transferidos para as ervas-daninhas proxima transferéncia natural de genes conseqiiéncia de um (Wheale e McNally, 1988, p. 172). 0 Terceiro Mundo tem de proibir a introdugio de safras agricolas resistentes a herbicidas e pesticidas por causa de ‘seu impacto na satide, no meio ambiente e na economia, 137 ‘MoNOcULTURAS DA MENTE que inclui a perda de emprego para a mao-de-obra e 0 aumento do uso intensivo de capital na agricultura Biotecnologia e biodiversidade Existe um equivoco generalizado de que o desenvol- vimento da biotecnologia vai levar automaticamente 3 preservacio da biodiversidade. O maior problema de ver a biotecnologia como uma solucao milagrosa para a crise da biodiversidade est4 relacionado ao fato de que as biotecno- logias so, em esséncia, tecnologias para a criagio da unifor- midade em plantas e animais. As grandes empresas biotec- nol6gicas falam realmente em contribuir para a diversidade genética. Como afirmou John Duesing, da Ciba-Geigy, “A protecdo as patentes vai servir para estimular o desenvolvimento de solugdes genéticas diversificadas com- petindo entre si, com o acesso a essas solugdes diversificadas asseguradas pelo livre-mercado em atividade nas indtistrias de biotecnologia ¢ sementes.” No entanto, a “diversidade” das estratégias das grandes empresas ¢ a diversidade dos seres vivos desse planeta no slo a mesma coisa, ¢ a competicdo entre as grandes empre- sas nao pode ser considerada um substituto da evolugao da natureza na criacdo da diversidade genética. As estratégias e produtos das grandes empresas po- dem levar a diversificago de mercadorias; nao tém con- digdes de enriquecer a diversidade natural, Essa confusio entre diversificagdo de mercadorias € preservagio da bio- diversidade encontra um paralelo na diversificagio de matérias-primas, Embora os criadores de animais obtenham material genético de muitos lugares como insumo de ma 138 Brorrenoxde1a £ Melo AuBENTE téria-prima, a mercadoria semente que esta sendo reven- dida aos agricultores @ caracterizada pela uniformidade. A uniformidade e os suprimentos monopolistas de sementes andam de mios dadas. Quando esse controle monopoliza- dor € obtido por meio da mentalidade molecular, a d truigio da diversidade acelera-se. Como advertiu Jack Kloppenburgh, Embora a capacidade de movimentar o material gené- lico entre as espécies seja um meio de introduzir variacdes adicionais, também é um meio de chegar @ uniformidade das espécies por meio da engenbaria genética.” A aplicagdo da transferéncia de DNA pata a melhoria das safras agricolas pode resultar num grau maior de unifor- midade genética entre as plantas cultivadas. Calgene tem um gene de bactéria que pode ser transferido para a planta do tabaco e, quando sua expressio € bem-sucedida, confere resisténcia ao herbicida Glyphosate (Monsanto's "Round-up") Poderiamos dizer que Calgene aumentou a variabili- dade do patriménio genético do tabaco. Contudo, se esse gene tiver éxito comercial € for incorporado 4 maioria das plantages de tabaco, resultado pode ser uma maior uniformidade genética nessa safra agricola (Kloppenburg, 1988). E foi a ampla distribuigao de uma nica caracteristi- ca genética que levou a epidemia do milho, em 1970, nos Estados Unidos. Accaltura de tecidos também vai gerar uniformidade na agricultura e na silvicultura. Companhias como a Shell, ‘Weyerhaeuser ¢ Intemational Paper estio considerando a possibilidade de produzir em massa sementes genetica- mente idénticas. Normalmente, as populagées de orga ‘mos so diversificadas, Alguns tém capacidade de resistit a uma doenga, provocada por um fungo, por exemplo, en- 139 MoNOCULTURAS DA Mere quanto outras nao tém. A diversidade permite a sobrevi- véncia de uma espécie. No entanto, se arvores uniformes geneticamente clonadas se mostrarem suscetiveis a um agente patogénico ou a uma praga, milhdes de acres de flo- resta € anos de producto podem-se perder: A Biotecnologia pode muito bem diminuir a diversidade genética ¢ aumentar a vulnerabilidacle genética CYoxen, 1986, Kloppenburg, 1988) ‘A maioria das plantagoes de espécies comerciais em larga escala est sendo introduzida agora no Terceiro Mun- do. A Shell conseguiu 60 mil hectares no Uruguai, com financiamento do Banco Mundial. A Shell também esta apo- derando-se de grandes pedacos de terra na Tailndia para plantio de Arvores. Se as futuras plantagdes financiadas pelo Plano de Ago da Silvicultura Tropical usar clones de eucaliptos e pinheiros tropicais, os custos ecolégicos e finan: ceiros do colapso serio pagos pelos paises do ‘Terceiro Mundo, além dos custos atuais da destruigao da biodiver- sidade ¢ desalojamento das comunidades locais (Lohmann, 1990, Substitutos da biotecnologia e privacao econémica no Terceiro Mundo Provavelmente o impacto mais grave da biotecnologia seré a substituicao de algumas mercadorias agricolas de exportago do Terceiro Mundo, com os impactos afins sobre nivel de empregos © a economia nacional. A cul- tura laboratorial de tecidos vegetais oferece grandes possi- bilidades de substituir condimentos por artigos de produ- 40 industrial. Muitos produtos valiosos derivados de plan- tas ¢ usados para fabricar remédios, corantes, flavorizantes @ aromas podem ser substituidos em decorréncia da atual pesquisa COced, 1989). 140 BoreeNoLociA & Me1O AmmENTE A mudanga de foco na bidversidade 2.28 igagdes com a biotecnologia 1, Dols tercas da biodvarsidade do mundo estdo no Tercere Mundo. 2. A elagdo mais signifiatva ont biodiversidade e biotecnologia & quo 2 primeira otue como uma fonte de matéries;primas para industries que tém a biotecnoogia como base e se situam no Norte @ no sator privado 2.0 foco nas discussdes sobre bicdversidade rastiingiuse até agora 20 item 1. Na verde, o foco dovena estar no item 2, que permite @ evolu (0 de um quadro de referéncias coerentes e intearadas para dlscutir fquestdes como 9 controle sobre recursos bioligicas, preservacso da bo ‘iversideds, ransferénaia de tecnologia, macanismas de financiemento, ‘édigos de conduta rolativas ao impacto das novas tecnologias sobre a ‘20d © a soguranga do meio ambionte, impactos econdmices sobre 0 ‘emprego @ a exporiagso de mercadorss. Ielistria do biotecnotogia ‘no Sotor Privade item 2 do Norte NS fuxo de rmercadorias SAV fo do recursos ‘materisis como imatériasprimas biotegicas item 1 Biodiversidede no Terceiro Mundo © 1000 no item 1 durante as negociagses globais ameaca orodi os direitos dos guardées locais da biodversiésde © 2 soberania dos governos hnacionas do Terceiro Mundo e passa o controle da boalversidade do Su! para 0 Norta, a0 mesmo tempo que ignore a3 problemas pics, fconémicas 6 ecoldgicas levantados pelas nova biotecnologias. O foco ho item 2 permite uma discusséo intograds e abrangente de todos os fspectos de biodiversidade e da biotecnologis, 80 mesmo tempo que preserva a soberania das comunidades locsis e dos governos nacionis. 141 ‘Monocuritas ba Men © impacto da produgio bem-sucedida de substitutes vai ser sentido pela maioria dos paises que, numa divisio anterior do trabalho internacional, tornaram-se dependentes das exportagdes dle produtos naturais. Isso vai ser particu- larmente destrutivo para as economias da Africa, que depen- dem inteiramente de safras agricolas de uma tnica planta para 2 maioria de seus ganhos com exportagdes, Embora historicamente a Africa tenha sido usada para cultivar as safias necessirias Europa, na ordem mundial que esta surgindo, com base nas novas biotecnologias, a Aftica vai-se tornar descartavel a medida que © Norte for encontrando substitutos biotecnolégicos para as safras deste continente Quando as fibricas fecham no Norte, os operirios Fecebem uma compensagio. Quando as safras introduzidas primeiramente pelas empresas agricolas globais 40 substi- tuidas por tecnologias desenvolvidas por essas m presas agricolas globais, 0 pequeno agricultor e o trabalha- dor rural ficam “a ver navios", assim como seus paises. O Sul precisa criar uma politica de compensacao que se baseia na nogio de justiga histérica e que pode ser discutida antes da completa organizacao das novas biotecnologias que estio sendo desenvolvidas para reduzir a dependéncia do Ter- ceiro Mundo (Hobblink, 1991; Fowler et al., 1988). ssmas em- Biotecnologia, privatizacao ¢ concentragao A maioria dos impactos adversos da biotecnologia esté elacionada ao fato de que as novas tecnologias esto evo- luindo sob o controle do setor privado transnacional, A biotecnologia nasceu nos laboratorios das universida- des ¢ outras instituigdes ptiblicas de pesquisa. Depois alguns cientistas sairam e fundaram suas proprias empresas de biotecnologia. Agora sto as transnacionais gigantes do setor 142 1 rrr RorECNOLOGIA £ Mero Amucite Tabela 4. Lista de exemplos das atividades de pesquisa em torno da cultura de tecidos vegetais. Planta eujo Pais de | Orga de | Valor da | Tamanho tocido ests crigem da| pesquisa | producdo | do mer- sendo feitas planta por kg | cado culturas. em wuss) | (uss mi- laboratories | cultures thdes) thos Shikonin | Cordis, | Miisui | 48500 | ermuny Chine | Potro cchemicat ‘Wepéo) | Piewo Piretrinas | Tanzinia, | Universi-| 300 | 20(EUA Equador, | dado nde | oe Minnesota Papouia frquia 350__| B0EUA ‘Sapotizero ‘América | Lote Contra | (apo) _ Catharantus | Vincristine Canadian | 6000 | 16:20 National eu) Research Couneit sasmineiro | Jasmin | Muitos 500006 mundlian Dedaiaia | Digitoxina Univ de | 3000 | 26-55 Digoxina Tubingen (eu) Boctingor- Mannneim ‘Alerranhe) hinchona | Guinina | indondsie | Plant ou quine Science Lid. (RU) Coco Gordura | Bras, | Corel! 99 e.coco | Gana | University (round Hershey, Nests : | Thaumato- | Taumatina | tibéria, | Tate and coccus Gana, | tylte (AU Masia : Rauwotfa | Reserpine BO (EUA, Fonte: Kennay e Bute, F “Bloteewology: Propects end Dilemmas for Third World Devoiopment” Develoement and Change, v.16, 1, 1986. 143 | | Hi ‘Monocurrutas ba Mente de agroquimica, industria farmacéutica € de proc de alimentos que dominam a pesquisa ¢ os mercados. Ao lado da tendéncia a privati ico, temos a tendéncia 4 concentragio, Como disse Henk Hobbelin, “o némero das poucas est ficando menor ainda ¢ as grandes ficam cada vex maiores” (Hobbelink, 1991). Se em meados da década de 70 havia 30 fabricantes envolvidos na ctiagdo de pestici- das nos Estados Unidos, hoje resta apenas uma dézia, Durante décadas, os 30 maiores produtores de remé dios continuaram os mesmos. Hoje, 10 grandes empresas controlam 28% do mercado mundial gracas as fusdes. As grandes empresas transnacionais esto comprando a maioria das companhiass que produzem sementes, Atual- mente, as dez maiores companhias controlam mais de 20% do mercado global ¢ tém interesses em produtos quimicos, esticidas ¢ produtos farmacéuticos. Espera-se que em 2000 as dez maiores controlem a maior parte do mercado de se- mentes, incluindo aqueta '$ companhias controladas por agri- cultores que produzem suas proprias sementes e aquelas controladas pelo sistema pablico de pesquisa agricola, que desempenharam um papel crucial no desenvolvimento e dis seminagao das variedades de sementes da Revolucao Verde As tendéncias de privatizacio sio claras nas mudangas da politica indiana relativas as sementes. Também estao aparecendo na China, uma pioncira no desenvolvimento do arroz hibrido, que € capaz de aumentar as safras em até 25%. Contudo, a variedade de arroz que permite sua pro- ducdo — uma linhagem de arroz chamada estéril-masculina que nao reproduz suas sementes — nao esta sendo dis- twibuida na Asia. Sabe-se que duas multinacionais — a Cargill Seeds © a Occidental Petroleum’'s Ring Around Products — assinaram acordos exclusivos com 0 governo chinés para 0 desenvolvimento, producao e comercializagto de sementes em determinadlos pais 144 sialaniaorianimaseies BorEeNOLOCIA E Meio AMBIENTE Um acordo entre 0 governo chinés ¢ as duas compa nhias norte-americanas proibe a disseminacao de informa- des © materiais relativos ao arroz hibtido com outros go- vyernos ou a0 IRI, Portanto, o governo chinés foi obrigado a retirar seu apoio a um curso de treinamento em arroz hibrido do IRRI (Robert Walgate, 1990). A erosio de um sistema piiblico de controle ¢ regula- Jo crescente. mentacio €, portanto, inevitivel com a privatiza ‘A pesquisa da Oced sobre os principais problemas industriais e governamentais levantados pela hiotecnologia mostra que ‘08 mercados sio a maior forga propulsora da inclistr i de se esperar que a divergéncia entre o imperative de lucros privados e a prosperidade do povo cresca. As grandes empresas vio tentar ajustar a sociedade a sua necessidade de lucros. Vio usar cada vex mais o Estado para reestruturar as relagdes entre os povos do Norte e do Sul de forma a se adequarem as suas necessidades. A ques- tao da privatizagio esta tornando-se cada vez mais uma ameaca a democracia ¢ a vontade dos povos, uma vez que os mesmos cientistas que trabalham sob contrato para as grandes empresas transnacionais atuam como consultores nos Orgaos de regulamentago do governo e dominam a pesquisa cientifica. Nesse contexto, cabe aos cidadaos, livres lo controle das grandes empresas transnacionais e do go- verno, manter acesa a chama dos problemas ¢ prioridades piiblicos ¢ conseguir espaco para o controle publico das novas biotecnologias, Biotecnologias, patentes ¢ propriedade privada dos seres vivos A expressdo suprema da privatizagao da biotecnologia a ungéneia desesperada das grandes empresas transna 145 MONoCULTURAS DA MaNTE cionais, operando por meio do US ‘Trade Representative (epresentante do Comércio dos Estados Unidos), Banco Mundial, Gatt e Wipo para ter um sistema uniforme de patentes que Ihes permita apoderar-se de toda a vida desse planeta como sua propriedade privada No contexto da agricultura e producio de alimentos, as patentes envolvem a propriedade sobre seres vivos ¢ processos vitais. A propriedade monopolista da vida gera uma crise sem precedentes para a seguranga da € dos alimentos ao transform agricultura 8 biolégicos do bem ‘comum em mercadoria. Isso também gera uma crise de valo- tes ¢ fins que orientam a organizagao social, a mudanca tecnol6gica ¢ as prioridades de desenvolvimento. Os debates sobre © desenvolvimento por todo 0 Sul revelaram que desenvolvimento ndo € uma categoria neu- tra. Desenvolvimento para alguns implica subdesenvol vimento para muitos, Isso é valido tanto para o desenvolvi- mento agricola quanto para o desenvolvimento em outras esferas, como mostrou a experiencia com a Revolugo Ver- de. Na agricultura, as patentes estio sendo impostas pelos govemos © grandes empresas do Norte como um fator essencial para o desenvolvimento agricola do Terceiro Mun- do. Ralph Hardy, da DuPont, declarou que ‘A posicdo competitiva da indtistria norte-americana em termos de biotecnologia melboraria se houvesse con- vengdes internacionats que levassem a uma uniformidade maior com respeito di patenteabilidade e aos direitos de prom Priedade. Ha alguns paises que ndo reconhecem [os direitos de propriedade] e isso vai retardar significativamente o desenvolvimento e a comercializagéo imediata de produtos que melborariam a satide e 0 suprimento de comida desses paises.” BioTEENOLOGIA E MEI AMMENTE Entretanto, ndo so os paises que supostamente se beneficiariam com a protegao da propriedade intelectual no mundo inteiro que estio exigindo a protegio as patentes. do as multinacionais. Nicholas Riding, da Monsanto, Hardy, da Dupont, ao dizer que palavras de “O maior desafio dos cientistas e das empresas da engenharia genética, bem como dos governos nacionats, é proteger os direitos uniformes de propriedade no mundo inteiro.” Essa é apenas uma outra forma de dizer que 0 mono- pélio global sobre a agricultura € os sistemas alimentares deve passar para as maos das multinacionais como um direito. Na verdade, com a protegio mundial as patentes, 0 negocio da agricultura e © comércio de sementes estdo ten- tando obter um poder realmente global. Embora a ret6rica seja de desenvolvimento agricola do Terceito Mundo, a patentes em termos de imposigio de rigida protecao a propriedade monopolista de processos vi subdesenvolver a agricultura do Terceiro Mundo de uma ais vai solapar série de formas. Em primeiro lugar, vai solapar nosso tecido cultural € ético baseado na agricultura, no qual os processos vitais basicos sao considerados sagrados, € nao mercadorias serem compradas e vendidas no mercado. A vaca sagtada a lugar ao gado patenteado e, segundo a lei de patentes dos Estados Unidos, os descendentes do gado patenteado também seriam sujeitos a cobranga de royalties durante os 17 a 22 anos de protegio as patentes. Fowler ¢ seus colabo- radores consideram essa versio das patentes 0 *pecado original” de antigamente. Vai afetar no s6 0s animais, mas também as plantas. As sementes, que tem sido considers 147 (MoNocULTURas DA MENTE das sagradas, presentes trocados gratuitamente pelos agri- cultores, vao se transformar em mercadorias patenteadas, Hans Leender, secretirio-geral das companhias de semente: ¢ de seus compradores, propés abolir © direito dos agricul- tores de guardar parte da salta como semente. Diz. ele que “Embora seja uma tradicho na maioria dos paises que © agricultor guarde uma parte de sua safra como semente, nas atuais circunstanctas, que estdo mudando, néio é justo que um agricultor use essas sementes e venda uma safra produzida com elas sem pagar royalties... a indtistria de sementes vai lutar ferozmente por uma protegdo maior.” ‘A exigéncia das grandes empresas de transformar uma heranga de todos em mercadoria ¢ tratar os luctos gerados por meio dessa transformagdo como direito de propriedade vai levar a erosdo nao s6 da esfera ética e cultural, mas tam- bém da esfera econdmica dos agricultores do Terceiro Mundo. © agricultor do Terceiro Mundo tem uma relagto triplice com as grandes empresas que exigem 0 monopélio dos seres vivos e dos processos vitais. Em primeiro lugar, 0 agricultor é fornecedor do germoplasma das grandes em- presas transnacionais. Em segundo lugar, 0 agricultor & um concorrente em termos de inovagio e direitos aos recursos genéticos. Finalmente, 0 agricultor do Terceiro Mundo é um consumicor dos produtos tecnolégicos ¢ industriais de grandes empresas transnacionais. A protecdo as patentes descarta 0 agricultor como concorrente, transforma-o em fornecedor de matéria-prima gratuita ¢ torna-o inteiramente dependente das indtstrias para obter insumos vitais como sementes. O apelo frenético por protegao as patentes na agricultura € sobretudo um apelo por protecao contra os agticultores, que so os criadores originais dos recursos biol6gicos na agricultura. Dizem que a protecao as patentes € essencial & inovago ~ no entanto, é essencial somente 148 BOTECNOLOGIA & MeIO AMBIENTE para a inovacao que traz lucros para as grandes empresas. Os agricultores fizeram inovagdes durante séculos, ¢ as instituicdes piblicas fizeram inovagdes durante décadas sem neahum direito propriedade ou protegio as patentes. Além disso, a0 contrario dos direitos daqueles que criam novas sementes de plantas, a nova utilidade das patentes tem uma base muito ampla, permitindo direitos de monopélio sobre genes individuais ¢ até is. O8. direitos dos que criam novas sementes nao so proprie- dade sobre 0 germoplasma das sementes; s6 dio direito de monopélio para a venda e comercializagio de uma varie- dade especifica. Os direitos de monopélio das patentes industriais vio muito mais longe. Permitem miltiplas rein- vidicagdes que podem abranger ndo s6 plantas inteiras, como partes das plantas € processos vegetais também. Assim, de acordo com o advogado Anthony Diepenbrock, racteristic: Voce pode pedir protecao de algumas variedades de safras agricolas, de suas macropartes (flores, frutas, semen- tes etc.), de suas micropartes (células, genes, plasmidios ¢ congéneres) e de quaisquer novos processos que vocé desen- volver para trabalbar com todas essas partes, todas usando uma reivindicacao miiltipla.” A protegio as patentes implica exclusio dos direitos do agricultor sobre recursos que tém esses genes € carac- teristicas. Isso vai solapar 0 proprio fundamento da agri cultura da india, Por exemplo: recentemente foi concedida uma patente a Sungene, relativa a uma variedade de giras- sol com um teor muito elevado de Acido oléico. A patente concedida diz respeito a caracteristica em si (elevado teor de Acido oléico) nio apenas aos genes que produzem essa caracteristica. A Sungene notificou outros envolvidos na criagao de sementes de girassol que o desenvolvimento 149 ‘MonocutuRas ba MENTE de qualquer variedade com elevado teor de Acido oléico seri considerado uma infracao. No julgamento Ex parte Hibberd, de 1985, o cientista de genética molecular Kenneth Hibberd € seus colabora- dores receberam patentes relativas 4 cultura de tecidos de sementes e da planta inteira de uma variedade de milho selecionada entre suas culturas de tecidos. A petigao de Hibberd incluia mais de 260 reivindicagoes diferentes, que dao aos cientistas da genética molecular © direito de impe- dir que outros usem todos esses 260 aspectos. Embora aparentemente Hibbed apresente um novo contexto legal para a competi¢ao entre as grandes empresas, o impacto mais profundo seri sentido na competicio entre os agricul- tores ea indi stria de sementes. Como observou Klopeen- burg, Hibberd instaurou um quadro de referéncias judi- ementes realizar lentados: impor a todos os agricultores a dependéncia das compa- nhias todos os anos. As patentes industriais vo permitir 0 diteito de usar 0 produto, ndo de fabricé-lo, Como a se- mente se reproduz, isto é, fabrica a si propria, uma patente de utilidade extrema relativa as sementes implica que um agricultor que compre semente (cultiva-la), mas nao o direito cle fabricar sementes (guardar uma parte das sementes de sua safra ¢ replanta- la). © agricultor que guarda ¢ replanta variedade patent cidrias que pode permitir 4 indiistria de um de seus objetivos mais antigos e mais aca is sementes teria 0 direito de us ‘ementes de uma tara transgredindo a lei. Esses processos de transformar em criminosos os guar dies originais dos recursos genéticos das plantas vao acon- tecer lentamente. Contudo, a protecdo as patentes € crucial para as grandes empresas agricolas transnacionais, que deixam bem clato que é seu monopélio sobre os mercadlos € nao o desenvolvimento dos agricultores do Sul que esti em jogo. 150 BroreeNoLociA & Melo Aamewre [As patentes € 0s direitos de propriedade intelectual sto os Giltimos obsticulos a serem superados para a distribuicao) ‘em larga escala de sementes biotecnolégicas por parte das grandes empresas transnacionais, Um exemplo: uma das cléusulas da nova politica de sementes na india exige que todas as companhias de importacdo de sementes coloquem disposigao do banco de Nacional de identemente, uma pequena quantidade delas genes do governo, controlado pela Agencia Recursos Genéticos das Plantas (ANRGP). E\ os gigantes transnacionais no esto dispostos a aceitar essa cléusula © querem sua eliminago. Como observou Jan Nefkins, diretor-geral da Cargill South-east Asia Limited: ‘Nenbuma companbia vai se dispor a doar algo que levou anos para conseguir e gastou milbées de délares para f uma questo de direito de propriedade inte- desenvolver. lectual. Os direitos de propriedade intelectual no setor agrico- la vao marginalizar nfo s6 os agricultores, mas também o sistema nacional de pesquisa € criagdo de sementes que esta sendo construido com tanto cuidado. Os sistemas ptt stria privada blicos so o segundo concorrente que a indi precisa eliminar, uma vez que trabalham com a criagio de sementes baseados no interesse piblico, ¢ no no lucro privado. Todos 0s tipos de pressio ja estdo sendo feitos para reduzir 0 papel das instituicoes pablicas na pesquisa © desenvolvimento agricolas. Os processos de patentes conseguem isso sem que haja sequer uma decisio politica ementes sao hi Patentes sobre técnicas de criagto de muito tempo anitema para os criadores de sementes das instituigdes pablicas, porque sew objetivo & impedir que outros tenham acesso aos meios de realizar a pesquisa. O a propriedade do produto, mas ‘Com reivindicagSes amplas que esti em questi nio é © direito de “fazer ciénci 151 Monocurutas ba MEN bascadas na patente, grandes Areas de pesquisa podem-se tornar monopélio das grandes empresas, como no caso d patente norte-americana n° 4.326.358, emitida em 1982 para a Agrigenetics: Res reivindicagdes distintas, mas, em esséncia, deu uch Associates. Essa patente fez 14 A Agtige- netics Research Association direitos ao proceso de usar variedades clonadas para criar novas linhagens de plantas hibridas. Embora supostamente as patentes estimulem a ino #0, na verdade asfixiam-na. Uma conseqiiéncia dos direi- tos de propriedade sobre os sistemas vivos relaglo 2 pesquisa na Area de cria genética vegetal, € restrigdes a troca do germoplasma. O segtedo exigido pelas patentes, combinado a exclusivi- dade, vao extinguir toda e qualquer troca cientifica sobre a genética vegetal, Além disso, em vez de simplesmente estimular a inovacdo, © sistema de patentes aplicado & ma- téria viva redireciona a atencao para aqueles produtos que Jevam a protegdo mais ampla e mais facil as patentes, nao para o maior bem pablico, Como observa Jack Doyle: © segredo em 10 de sementes e da “As patentes e os direitos de propriedade intelectual sao mais uma demarcagéo de territ6rio do que uma medida de inovacéo. Contudo, quando esses ‘territérios’ sao comida e as substancias que estiio por tras de sua produgdo, ba um imperativo de poder protegido que é amplo e de longo alcance.” As leis de patentes da india excluiram 0 monopdlio sobre processos bioldgicos que sio essenciais para 0 sus- tento € a sobrevivencia. Alimentos, varie lades de plantas € animais, assim como processos biol6gicos para a produgio de plantas ¢ animais, nado podem ser patenteados 152 foLocia & Meio AMHENTE No entanto, 0s organismos vivos sio cruciais para os processos de produgio da biotecnologia. A necessidade de direitos de propriedade sobre organismos vivos € essencial para 0 proximo estigio da acumulagio de capital das grandes empresas globais. No dmago das companhias esto 0s direitos de propriedade e patentes que garantem lucros, excluindo todos os outros dos direitos meios de sobrevivencia, Fspera-se que os pagamentos de royalties por parte dos agricultores rendam US$ 7 bilhdes aos detentores das patentes. Argumentando que esses lucros potenciais ndo esto sendo ganhos devido & falta de"uma aplicagso mun- dial da lei de patentes norte-americana, os Estados Unidos afirmam estar perdenco de US$ 100 bilhdes a US$ 300 bi- Ihdes. O ‘Terceiro Mundo jé entrou em colapso com o paga- mento das dividas ¢ dos juros, levando a uma transferéncia de fundos da ordem de US$ 50 bilhdes do Sul pobre para s pelas grandes bre recur- € do acesso aos © Norte rico. Rendas adicionais gerad ‘empresas do Norte por direitos de propriedadk sos vivos é uma exigéncia impossivel de ser atendida, em- bora tipicamente abusiva ‘A acusacao de “pirataria” que os Estados Unidos esto do Terceiro Mundo €, na verdade, muito ‘adios Unidos. Numa estima- fazendo aos p mais aplicivel aos proprios E: tiva recente baseada num estudo com sete paises, os Esta dos Unidos afirmaram que suas companhias esto perden- do US$ 135 milhdes por ano em royalties relativos a pro- dutos quimicos agricolas, ¢ US$ 1,7 bilhdes em produtos farmacéuticos. Extrapolando para todo © Terceiro Mundo, essa perda em royalties corresponderia a USS 202 milho relativos a produtos quimicos agricolas e US$ 2,5 bilhOes farmaceuticos. para os produtos © Fundo Internacional de Progresso Ru que, se as contribuigées do Terceiro Mundo forem levadas I mostrou 153 MONocULTURAS DA Mens em conta, os papéis de “pirata” invertem-se substancial- mente. Os Estados Unidos devem ao Terceito Mundo US$ 302 milhdes em royalties pelas sementes dos agricultores ¢ US$ 5,1 bilhdes pelos produtos farmacéuticos. Em outras palavras, nesses dois setores da incldstria biol6gica, os Esta- dos Unidos deve US 2,7 bilhdes ao Sul Quem deve para quem € uma questio capciosa, prin- cipalmente quando se trata de lucrar com recursos biologi- ram do Terceiro Mundo e que continuam dando sustento ¢ garantindo a sobrevivéncia de milhdes de agricultores, imbém se reproduziram gra- tuitamente e tém sido acessiveis a todos, servindo de meio de vida e atendendo as necessidades de nuttiga diana de patentes excluiu a propriedade privada dos fun. nentos biologicos da agricultura para garantir que © direito 4 comida © & nutrigao sejam os mais amplos pos- siveis. As grandes empresas transnacionais, com a ajuda do Gatt, do Banco Mundial ¢ de instrumentos como o Super 301 da Lei do Comércio d do a incluso desses recursos vivos no sistema de patentes € propriedade privada. Uma incluso dessas vai acabar com nossos direitos & sobrevivéncia enquanto pais ¢ enquanto Povo. A soberania na questdo da lei das patentes é essen- cial porque € uma questio de sobrevivéncia, principal- mente para os setores economicamente mais fracos, prote- gidos unicamente pelo interesse piblico, e no pela moti- 10 do lucro. A opgio é clara. E a protecdo a vida con- tra a protegdo aos lucros. cos que se origina eS recursos (0. A lel in- stados Unidos, esto exigin- NOLOCIA £ MEI AMBENTE Apéndi Tabela 1. Os dez maiores fabricantes de pesticidas (vendas de 1988, em US$ bilbdes, adaptadas para compras, vendas @ associagoes diversas entre as grandes empresas feitas recentemente). f ‘Vendas de % do | Pestcida aroado global [ieessear ar ae a [2 ayer omens 27 037 ana os | Rhone Poulenc (Franca) _ 8.7 Sao EU ie [Te ow Enco EOF a [Caton eo 3a [ener ra - ae [Ce-bssr onan aos [Cio San tour ie a TS dnd la rea a eo mt ot 1 da pastcida da Dow Chemicals e Eli Lilly (Elancolfundiarm-se na 19. Outros grandes faricantes do pesticida so (com van © As dies Daw Elanao om 1 das ce (Cyanamid (EUA, USS 0,69 bites), a Sandoz (Sua, USS 0,60 bihées) e 8 Kumi (Japéo, USS 0,48 bihdes) ery] fa F° 92, p. 1,28 jul 1989. Fonte: AGROW. “Cie-Gey stil number ane in 19682" 8. 28 CCtedo em HOBBELINK, Henk. Biotechnology and tho Future of World Agricul ture, Zed Press, 1991 MONOCULILRAS DA MENTE orECNOLCOIA £ MIO AMBIENTE Tabela 2. As dez maiores empresas da indiistria farmacéu- tica (vendas de 1987 em USS bilbées, adaptadas para compras, vendas e associagées diversas entre «as grandes empresas feitas recentemente). ‘Tabela 3. As dez maiores empresas da indiistria de sementes (vendas de 1988, em US$ milhées, adaptadas para compras, vendas e associacdes diversas entre as grandes empresas feitas recentemente). Vondas de produtos % do Vondas de % _Farmacéuticos | mercado mundial sementes mercado global aoe 3.53 1. Proneer Hered EDA) 73 4.90 SmithKline Boocharn Samia + 7 a (EUA-Reino Unido! 4.00 3.93 2 Seniesa or fa imeprin Fang 3 Bristol M-Seuibb - — ey 3.90 3.25 [ 4. Upjohn (UA) 280 187 Hoechat (lemanha) a a 5. Atos Franca 257 ii Glaxo fPeino Unio) 337 a @.1CI (Reino Unido) | 280 1.67 i FoutensForer Corgi (EVAL 730 1.58 (FrangaeUA) 3.0 2.75 @. Shell Holonda/EUAD 200 | 1.38 ‘Gibs-Goiay (Suga) 37 i 26 ‘9. Dekaib-Pozer (EUAD 1H 116 Bayer (lemanhal 2.96 2.87 10.Gibe Geigy (Sule) 150 1.00 ‘Am. Home Products TOTAL das doz maiores 3.098 20.65 cua) ° ae ‘MERCADO GLOBAL [18.000 "100,00 Senos (Ste) 278 228 * A Sandoz comproua Hilleshog da Vol (S 8, com iss, aumentou substan- “TOTAL des doz maiores 34,12 23.43 Calmente as vendas de sementes (9 estimativa de 1987 foi de USS 290 mi MERCADO GLOBAL 720,00 100,00 Indes). A Artois @ agora uma nova associagdo de capitis na qual a Rhone Poulenc ¢ 2 Lafergue-Coppee estéo fundindo seus intoresses no setor de sementos. © novo grupo inchi @ Clause, o Iker do mercado francés em sementes de plantas comestivels @ omamnentais. Um estudo arma que 23 vendas de sementes de Ciba-Geigy chegem a USS 245 mihdes e 2s de Artois a apenas USS 104 mies. A Shell vendu parte de seus interesses fem sementes para a Limagiain e, com isso, aerescentou cerca de USS 100 mikes as rendas da companhia francesa. Outras compras @ vendas recen: tos: a Limagiain comprou a Shissier Seed Co. (EUA), a ICl comprou 8 Contisoed a Continental Gran (EUAY, a Cargill comprou a Canola Corp. @ Unilever comprou a PBI (Reine Unido) © a Barenburg (Holanda). Outs ‘grandes companhias de sementes so a KWS (Alemanhal, a Lubcizol (EUA), 2 Tok (Jando), @ Cebocco (Holanda) © @ Ef Aquitaine (Snot ~ Franca. Fontes: “Les chimistes tentent de se constiter de nouveau bastions sur le marché mondial des semence’ in: Le Monde, Pais, 21 now. 1989 (com base em fstimativas do empreendimento conjunto’ de. ICI; Rhone-PoulencfLaferge- Coppee, AGROW, Richmond RU, n° 95, 8 set. 1989; véris outtos numeros de AGROW foram usados) 156 Ht vrrvvurinnanneerentunayarvg MoNocULTURAS Da Mente Referéncias Bibliogrdticas 1, FOWLER, Cary et al. “Laws of Life", Development Dialogue, Dag Hammarsjold Foundation, Uppsala (1988). 2. KRIMSKY, Sheldon, Genetic Alchemy: The Social History of the Recombinant DNA Debate. Cambridge, MA: MIT Press, (1982). 3. WHEALE, Peter; MCNALLY, Ruth, Genetic Et trophe or Utopia? Harvester, 1988 4.OBCD. Biotechnology International Trends and Perspectives 5. HOBBELINK, Henk. Biotechnology and the Future of World Agriculture, Londres: ZED Books, 1991. 6. WALGATE, Robert. Bi gineering: Catas- ‘hmology: Londres: Barthscan, 1990. 7. LENDERS, Hans W. Reflections on 25 years of service to the International Seed Trade Federation, Seeds Men's Digest 37:5 (eaio): 8-9, 1986, 8, DOYLE, Jack. Altered Harvest: Agriculture, Genetis and the Fate of the World's Food Supply. New York: Viking, 1985 158 4 A Semente ea Roca: Desenvolvimento Tecnoldgico e Reservacdo da Biodiversidade Introdusaéo Em geral, a preservacio da biodiversidade € vista como algo independente das tecnologias de produgao que usam e transformam os recursos biol6gicos. Este capitulo demonstra a interdependéncia desses dois fatores. Nos paises do Terceiro Mundo, onde esta concentraca a maior parte da biodiversidade do mundo, muitas comunidades tribais e camponesas tiram seu sustento € satisfazem suas miltiplas necessidades diretamente da rica diversidade de recursos biologicos. As tecnologias de produgio baseadas ‘em monoculturas uniformes de arvores, safras agricolas ou gado ameagam a economia de subsisténcia, ao mesmo tempo que acabam com a biodiversidade, © equivoco comum de que a diversidade est ligada a baixa produtivi- dade e que a uniformidade é essencial para a alta produ- tividade sera discutido aqui. Este capitulo mostra também que quando a multiplicidade de produtos ¢ valores dos si 159 JAS DA Me Monoc temas biol6gicos € realmente levada em conta, a diversi- dade nao se contrapée a alta produtividade. Usando o sim- bolo da roca de Gandhi, este capitulo insiste numa teflexdo mais profunda do contexto social e ecolégico em que o desenvolvimento tecnolégico tem lugar: A riqueza biolégica nao se distribui uniformemente pelo mundo. Esta concentrada nos paises tropicais do Terceiro Mundo. No entanto, a maioria dos projetos coren- tes de preservacao da biodiversidade originam-se no Norte € trazem consigo as categorias sociais de desenvolvimento € planejamento que lizados e afluentes Segundo © paradigma predominante de produgao, diversidade contrapé um imperativo de uniformidade e monoculturas. Isso gerou a situagao paradoxal em que a melhoria de plantas ¢ ani- mais tem-se baseado na destruigao da biodiversidade que ela usa como matéria-prima, A ironia da melhoria das varie- dades de animais € plantas existentes ¢ que ela destroi exatamente suas unidades constituintes, da qual a tecnolo- gia depende. Os projetos de desenvolvimento florestal intro duzem monoculturas de espécies industriais como 0 euc lipto © Ievam a extingéo a diversidade de espécies locais que satisfazem necessidades do lugar. Os projetos de mo- demizagao agricola introduzem novas safras uniformes nos campos dos agricultores e destroem a diversidade das va- riedades locais, Nas palavras do professor Garrison Wilkes, da Universidade de Massachusetts, isso 0 mesmo que tirar as pedras dos alicerces de um edificio para consertar 0 telhado (Myers, 1985), Na agricultura ¢ na silvicultura, na pesca e na criagdo de gado, a produgio esté sendo incessantemente empurra da rumo a destruigdo da diversidade. A produgio baseada na uniformidade passou a ser, portanto, a maior ameaga a sustentabilidade e 4 preservacio da biodiversidade. io caracteristicas de paises industria- se a produtividade, criando assim 160 A Senne £ A ROCA. Entretanto, essa ameaga a biodiversidade, represen- tada pelo desenvolvimento tecnolégico, tem sido pouco compteendida ¢ pouco analisada, Este capitulo é uma ten- tativa de preencher essa lacuna € enriquecer a compreen- sfo das relagdes entre tecnologia, recursos naturais ¢ necessidaces humanas. Concentra-se particularmente no impacto social ¢ ecoldgico das mudangas causadas pela tecnologia em dreas relacionadas aos recursos biol6gicos. Desenvolvimento tecnolégico e 3 sustentabilidade ‘A ciéncia ¢ a tecnologia so convencionalmente vistas como aquilo que os cientistas € tecnélogos produzem, € 0 desenvolvimento é visto como aquilo que a ciéncia € a tec nologia produzem. Os cientistas € os tecnélogos, por sua vez, sao vistos como aquela categoria sociolégica que rece- beu uma formacio tradicional na ciéncia € tecnologia oci dentais, quer em instituigdes ou associagdes do Ocidente, ‘quer em instituigdes do Terceiro Mundo.que imitam os para- digmas do Ocidente, Essas definigdes tautol6gicas no sto problematicas quando se deixa 0 povo de fora, principal- mente os pobres; quando se ignora a diversidade ecolégi- 's historias civilizatorias ¢ naturais distintas ca e cultural € de nosso planeta, que criaram culturas ecossistemas diver- sificados e tinicos. Segundo esse ponto de vista, o desenvol- vimento € sindnimo de introdugio da ciéncia ¢ da tecnolo- 2 ocidentais em contextos nao ocidentais. A identidade ma- gica € desenvolvimento = modemnizagio = ocidentalizacao, Num contexto mais amplo, no qual as ¢ tas como “Formas de saber" e as tecnologias como “formas de fazer", todas as sociedadles, com toda a sua diversidade, do vis- ci 161 ‘Monocutruitas oA MENTE tiveram sistemas cientificos € tecnolégicos nos quais seu desenvolvimento distinto ¢ diversificado se baseou. As tec- nologias ou sistemas de tecnologias sto a ponte entre os recursos da natureza ¢ as necessidades humanas. Os sis- temas de saber ¢ cultura fornecem 0 quadro de referencias para a percepgio e utilizagao dos recursos naturais. Duas mudangas ocorrem com essa alteragio da definicio de ciéncia ¢ tecnologia. A ciéncia e a tecnologia deixam de ser vistas como exclusivamente ocidentais e passam a ser con- sideradas uma pluralidade associada a todas as culturas ¢ civilizagoes. E uma determinada ciéncia e tecnologia nao se traduzem automaticamente em desenvolvimento em todos 0s lugares. Uma ciéncia e uma tecnologia ecolégica ¢ eco- nomicamente inadequadas podem tornar-se causas de sub- desenvolvimento e empobrecimento. A inadequacao ecols- gica € uma associacao clesastrosa entre 0s processos ecol6- gicos da natureza que renovam os sistemas de sustentacao da vida, as demandas por recursos os impactos dos pro- cessos tecnolégicos. Os processos tecnolégices podem levar a extragdes € consumos maiores dos recursos naturais ou a acréscimos maiores de poluentes do que 0s limites ecol6gi- cos permitem. Nesses casos, contribuem para 0 subdesen- volvimento por meio da destruigio dos ecossistemas. A inadequagio econémica € uma associacdo desastro sa entre as necessidades da sociedade e as demandas de um sistema tecnolégico. Os processos tecnolégicos criam demandas por matérias-primas € mercados, € tanto © con- trole sobre as matérias-primas quanto sobre os mercados tomna-se parte essencial da politica de mudanca tecnol6gica A falta de conhecimento te6rico das duas pontas dos processos tecnol6gicos, seu comego nos recursos naturais vu fim nas necessidades humanas basicas, criou 0 para- digma corrente de desenvolvimento econdmico € tecnol6- gico que requer extragdes crescentes de recursos naturais ¢ 162 A Stent A ROCA. gera acréscimos cada vez maiores de poluentes, a0 mesmo tempo que marginaliza e langa na miséria um néimero cada vex maior de pessoas, tirando-as do processo produtivo Essas caracteristicas do desenvolvimento industrial ¢ cienti- fico contemporiineos sao as principais causas da crise eco- égica, politica ¢ econdmica, A combinacio de tipos de ciéncia e tecnologia € cia de critérios para avaliar sistemas cientificos tecnologi- cos, em termos de uso eficiente dos recursos ¢ capacidade de satisfazer necessidades basicas, criou condicbes em que ‘a sociedade esta sendo impelida, cada vez mais, na diregao da instabilidade ecol6gica ¢ econdmica, ¢ no tem uma resposta racional e organizada para deter ¢ controlar esas tendéncias destrutivas (Shiva et al., 1991). Nas economias do Terceiro Mundo, muitas comu- nidades dependem dos recursos biolégicos para sua sub- sisténcia e bem-estar. Na sociedade, a biodiversidade é mesmo tempo um meio de produgio ¢ um objeto de con- sumo. fa base da sobrevivéncia que tem de ser conserva- da. A sustentabilidade dos meios de vida esti, em altima instancia, ligada a preservacao € uso sustentével de recur- sos biol6gicos em toda a sua diversidade, No entanto, as tecnologias com base na biodiversidade das sociedades tribais e camponesas tém sido vistas como retrOgradas e primitivas e substituidas por tecnologias que uusam 05 recursos biolégicos de uma forma que destréi a diversidade e 0 meio de vida de milhdes de pessoas. Jlogicamente destrutivos ¢ a ausén- Diversidade e produtividade Ha um equivoco generalizado de que os sistemas de produgao baseados na diversidade so sistemas de baixa produtividade. No entanto, a alta produtividade dos siste- 163 MonoctirTueas va Mate mas uniformes ¢ homogéneos é uma categoria construida contextual € teoricamente, que tem como base levar em conta apenas 0 rendimento € a produgdo unidimensionais. Segundo esse mesmo construto, a produgio multidimen: sional dos sistemas de producao baseados na diversidade sio excluidos € ignorados. Sera que as sementes ‘milagro- sas” da Revolucdo Verde eram inerentemente superiores € “avancadas” em comparagio com a diversidade das safras agricolas variedades nativas que elas substituiram? © mi- lagre das novas sementes tem sido freqiientemente anun- ciado com 0 termo “variedades de alto rendimento” ou VAR. Como dissemos no Capitulo 1, a categoria VAR é uma categoria central no paradigma da Revolucao Verde. Ao contrario do que 0 termo sugere, nao existe uma medida neutra ou objetiva de “rendimento” com base na qual se pode dizer que os sistemas de safras agricolas dependentes das sementes milagrosas ttm um rendimento superior aos sistemas de cultivo que substituiram. A categoria VAR também nao & um conceito observa- cional neutro. Isso jé foi explicado antes, no Capitulo 1. Seu significado € mensuragdo sto determinados pela teoria e pelo paradigma da Revolucio Verde, que, por uma série de motivos, ndo é ficil nem diretamente traduzivel para com- paragao com os conceitos agricolas dos sistemas de cultivo nativos. A categoria VAR da Revolugdo Verde é essencial- mente uma categoria reducionista que descontextualiza pro- priedades tanto das variedades nativas quanto das novas. Por meio de processos de descontextualizagao, os custos € impactos sio externalizados e a comparacdo sistematica com alternativas € impossibilitada. Em geral, os sistemas de cultivo envolvem uma inte ragio entre o solo, a Agua € os recursos genéticos das plan- tas. Um exemplo: na agricultura nativa da india, os sistemas de cultivo incluem uma relacio simbiética entre solo, 4gua, 164 A Seatente & A ROCA: animai € plantas das propriedades rurais. A agricultura da Revolucio Verde substitui essa integracao no nivel da pro- priedade rural pela integragao de insumos como sementes € produtos quimicos. O pacto semente/produto q estabelece suas proprias interagdes com os solos ¢ os sis- temas hidricos que, apesar disso, nao sao levados em conta na avaliagaio da produtividade. © Capitulo 1 forece detalhes da maneira pela qual conceitos moderos de cultive de sementes como a VAR reduzem os sistemas de cultivo a safras agricolas indivi- duais e a partes delas. Os componentes da safra de um si tema so entdo comparados aos componentes da safra de outro sistema, Como a estratégia da Revolugio Verde tem como objetivo aumentar a produgio de um tnico compo- nente de uma safra agricola, a expensas de reduzir outros Componentes ¢ aumentar insumos externos, essa compara cdo parcial , por definigio, tendenciosa no sentido de fazer parecer que as novas variedades tém “alto rendimen- to”, mesmo que, no nivel dos sistemas, talvez. ndo tenham. s sistemas de cultivo tradicional baseiam-se em safras mis- tas e rotagao de culturas de cereais, legumes ¢ sementes oleaginosas, com diversas variedades de cada safra, en- quanto 0 pacote da Revolugio Verde base culturas. uniform avaliago realista da produtividade dos sistemas de safras mistas € rotagao de culturas. Em geral, 0 ren uma Gnica safra como © trigo ou 0 milho é selecionado e comparado ao rendimento das novas variedades. ‘A medida da produtividade também é tendenciosa por se resttingir A parte comercializvel das safras. No entanto, num pais como a india, as safras tém sido tradicionalmente semeadas ¢ cultivadas para produzir ndo 86 comida para os seres humanos, mas também forragem para 0 gado e fertili- zante orginico para os solos. se em mono- geneticamente. Nunca foi feita uma 165 MonocutTuras 04 Me ‘A Tabela 5 do Capitulo 1 ilustra 0 quanto a proporcio entre grio ¢ palha das diversas variedades de arroz podem ser diferentes. Segundo a estratégia da Revolucdo Verde, os miiltiplos uusos da biomassa vegetal parecem ter sido deliberada- mente sactificados em nome de um tnico uso, com um consumo insustentivel de agua ¢ fertilizantes, O aumento da produtividade comercializavel do grao tem sido conse- guido a expensas da redugio da biomassa destinada aos animais ¢ aos solos, e 4 redugio da produtividade do ecos- sistema devido ao uso excessivo dos recursos. O aumento na produgio de graos para o mercado foi conseguido pela estratégia da Revolucio Verde gracas & redugio da biomas- sa destinada ao uso interno da propriedade rural. Da me ima forma, os sistemas nativos de criagao de gado na india tém sido considerados “improdutivos” € todos os progra- mas de criagao de gado tém por objetivo substitui-los por variedades estrangeiras de gado Jersey, Holstein, Friesina, Red Dane ¢ Brown Swiss. O gado indiano, porém, no pro- uz s6 leite. Produz energia ¢ fertilizantes, cruciais para os sistemas agricolas, £ preciso notar que dois tergos ou mais da energia necessitia as aldeias indianas sio fornecidos pelo trabalho de cerca de 80 milhdes de animais, dos quais 70 milhdes so a prole masculina do que a perspectiva ocidental vé como animais “intiteis” sem producao de leite. Ja foi calcu- lado que, para substituir a energia da tragdo animal na agri- cultura, a india teria de gastar cerca de US$ 1 milhdo anual- mente em petr6leo. O gado indiano produz 700 milhoes de toneladas por ano de esterco recuperivel; metade disso € usado como combustivel, liberando 0 equivalente térmico de 27 milhdes de toneladas de querosene, 35 milhdes de toneladas de carvio ou 68 milhdes de toneladas de ma- deira, todos esses recursos escassos na india; a metade 166 A SeMENTEE A ROCA: remanescente € usada como fertilizante. Quanto a outra produciio do gado, talvez seja suficiente mencionar que a exportagao de peles, chifres etc. traz US$ 150 milhdes por ano para os cofres nacionais. Com recursos limitados, a produgio do gado nativo tem uma multiplicidade de usos (George, 1985). © gado indiano fornece mais comida do que aquela que consome, em contraste com os Estados Unidos, onde © alimento obtido deles equivale a apenas 1/6 daquele que Ihes € fornecido (Leon, 1975) (Tabela 1). No entanto, esse sistema alimentar extremamente eficiente, baseado nos miiltiplos usos do gado, esté sendo desmantelado em nome da eficiéncia ¢ do “desenvolvimento” pelas estratégias redu cionistas da Revolugao Verde € da Revolugio Branca, desin- tegrando e dicotomizando um sistema integrado de pro- dugio de safras agricolas e ctiagtio de gado, necessérios a manutengio sustentével tanto de uma quanto de outra (Ghiva, 1988, 1991), ‘A baixa produtividade de sistemas di multidimensionais ¢ a alta produtividade dos sistemas uni- formes ¢ unidimensionais da agricultura, da silvicultura da criagio de gado na nem uma medida cientifica, e sim uma categoria tenden- ciosa, que distorce a realidade em nome dos interesses comerciais para os quais maximizar a produtividade unidi- mensional é um imperative econémico. No entanto, esse impeto de uniformidade solapa a diversidade dos sistemas biol6gicos que constituem o sis- tema de produgio. Solapa também os meios de vida da pessoas cujo trabalho est associado ao uso diversificado miiltiplo dos sistemas de silvicultura, agricultura ¢ criacio de animais, Um exemplo: no Estado de Kerala, na india, que deriva seu nome do coqueiro, 0 coc faz. parte de uma cultura intensiva de varios andares, que inclui bétel e pi- jficados € 6, portanto, uma categoria neutra, 167 MONOCULTURAS OA MENTE ‘Tabela 1. Instumos e produtos titeis do gado norie-ameri- canoe do gado e biifalos indianos (1972). Citado em Leon (1975). Insumos e produtos | Matéiia | Energia Protein t10%Kg)_—_| (10% calorias) | (10% kad EUA, India _| EUA, india EVA, India (Que 0 homem ar 16021 ‘Que o homem 222 0 1205 | 251 333 TOTAL 344 12i6 1222 | 411 354 Produtos Tabeho 650 ‘Leite 2.03) Carne x 223, [Fees Estero, 16.16 TOTAL 4426.98 ficionca (8) 9 2 2 menta, banana, tapioca, drumstick, mamdo-papaia, jaca, ‘manga, legumes e verduras. Em comparagao com a deman- da anual de trabalho de 157 homens-dia por hectare numa monocultura de coqueiros, o sistema de safras mistas aumenta o emprego para 960 homens-dia por hectare (Governo de Kerala, 1960. Nos sistemas agricolas das terras secas de Decan, a passagem da safra mista de paingos com legumes ¢ semen- tes oleaginosas para as monoculturas de eucalipto levou perda de emprego de 250 homens-dia anuais por hectare hiva e Bandyopadhyay, 1987). Quando a mio-de-obra € escassa ¢ dispendiosa, as tecnologias que a substituem so produtivas e eficientes. Quando a mao-de-obra é abundante, a sua substituiglo € 168 A Sewente£ A ROCA improdutiva, pois leva A pobreza, a perda das posses ¢ destruigio de meios de subsisténcia. Portanto, nas situagdes do Terceiro Mundo, a sustenta- bilidade tem de ser alcancada em dois niveis a0 mesmo tempo: a sustentabilidade dos recursos naturais ¢ a susten- tabilidade dos meios de subsisténcia, A preservagio da bio- diversidade tem, por conseguinte, de estar ligada a preser- vagio da subsisténcia humana derivada da biodiversidade. A preservasao da semente e a roca ‘A preservacao dos meios de subsisténcia, combinada a preservacio dos recursos, tem sido uma preocupacao espe- ial para nds aqui na india. Foi a base de nosso movimen- to de libertagao e da luta contra 0 colonialismo, Mahatma Gandhi reconheceu que a pobreza ¢ o subdesenvolvimen- to da india originavam-se da destruicao dos empregos vin- culados a nossa rica indistria téxtil. A regeneracio dos meios de subsisténcia era central para 0 processo de recu- perar a independéncia. Gandhi afirmou categoricamente que 0 que € bom para uma nagao que vive em determi- nadas circuns iiamente bom para outra que vive em outras circunstincias. O que € alimento para uma pessoa, é veneno para outra, A mecanizagao € boa quando faltam bragos para o trabalho a ser realizado Contudo, segundo Gandhi, é um mal quando ha mais bra- 0s que 0s necessatios para 0 trabalho, como no caso da India (Pyarelal, 1959). ‘A roca de fiar tornou-se, para Gandhi e para a India, ‘© simbolo de uma tecnologia que preserva recursos, os meios de subsisténcia de seu povo € 0 controle popular sobre seus meios de vida. Em contraste com o imperialis- mo da inddstria téxtil briténica, que destruiu a base indus- \cias niJo é neces: 169 Monocutikas DA MENTE trial da fndia, a charkha era descentralizada ¢ gerava tra- balho, em vez de acabar com ele. Precisava das mios ¢ da inteligéncia das pessoas, em vez de traté-las como exce dentes ou como meros insumos de um proceso industrial Fssa mistura critica de descentralizagio, geraclo de emprego, preservagio de recursos ¢ fortalecimento da autoconfianga foi essencial para acabar com o desperdicio da centralizagao, da destrui¢ao dos meios de subsisténcia, do esgotamento dos recursos ¢ da criagio de dependéncia econdmica € politica que tinha sido engendrada pela indus- trializag2o associada ao colonialismo. ‘A roca de fiar de Gandhi é um desafio as nogdes de progresso ¢ obsolescéncia que decorrem do absolutismo falso universalismo dos conceitos de desenvolvimento da ciéncia e da tecnologia. A obsolescéncia ¢ 0 desperdicio sio construtos sociais € tém ambos um componente politi- co @ ecolégico. Politicamente, a nogio de obsolescéncia acaba com © controle que as pessoas tém sobre sua vida € meios de subsisténcia ao definir 0 trabalho produtive como improdutivo © ao tirar das maos das pessoas 0 controle sobre a producao em nome do progresso, Prefere desper- digar bragos a desperdigar tempo. A obsolescéncia também desir6i a capacidade regenerativa da natureza ao substituir a sua diversidade pela uniformidade fabricada artificialmen- te. A obsolescéncia tecnolégica traduzida como obsoles- céncia da biodiversidade. Essa dispensabilidade induzida dos mais pobres, por um lado, ¢ da diversidade, por outro, constitui a ecologia politica do desenvolvimento tecnolégi- co orientado por nogdes estreitas ¢ reducionistas de produ- tividade. As nogdes provincianas de produtividade, enten- s, roubam as pessoas 0 controle de seus meios de reproduzir a vida € roubam a natureza sua capacidade de regenerar a diversidade. didas como univers 170 A SenientE A ROCA. _A crosio e a desttuigao ecolégicas dos meios de sub- sisténcia estao ligadas entre si. Acabar com a diversidade € acabar com as fontes de subsisténcia das pessoas decorrem ambos de uma visto de desenvolvimento e crescimento baseada na uniformidade criada pelo controle centralizado. Nesse processo de controle, a cigncia ¢ a tecnologia redu- ionistas funcionam como lacaias dos grandes interesses econdmicos. A Juta entre a fibrica e a roca de fiar continua @ medida que surgem novas tecnologias para a manipu- lacio dos recursos biol6gicos. Assim como a roca era vista como retrograda € obso- leta pela industrializagao das fabricas de tecidos tes dos agricultores estdio sendo vistas como obsoletas € sem valor pela mudanga tecnolégica associada a industr lizagio da produgao de sementes. As variedades nativas usadas na agricultura evoluiram 20 longo de milénios de selegio natural e humana. Essas vatiedades produzidas e usadas pelos agricultores de todo © Terceiro Mundo silo chamadas de “sementes primitivas” As variedades criadas pelos modemos fabricantes de se- mentes em centros de pesquisa internacionais, ou pelas transnacionais das sementes, sto chamadas de avangadas” ou “de elite". A hierarquia em palavras como “primitivo” e “de elite” tem raizes culturais profund: mo quando essas palavras so usadas em esferas cientificas. Por baixo dessas categorizagdes est um preconceito ine- Tente que pressupde que as tecnologias surgidas no Norte industrializado sio superiores num sentido absoluto, No entanto, a experiéncia da Revolugio Verde nos diz. que, no dominio da biodiversidade, 0 desenvolvimento da tecnolo- gia pode levar a0 progresso para um grupo de interesses, mas cria subdesenvolvimento para outros. semen- ‘sementes. , mes- A mudanga da natureza da semente’é justificada pela ctiaglio de um quadro de referéncias que trata a 171 MONOCULTURAS DA MENTE auto-reprodutiva como “primitiva” e como germoplasma que € “matéria-prima”, e a semente que é inerte sem insumos e incapaz de se reproduzir como um produto acabado. A totalidade € transformada em parte, a parte em totalidade. A semente transformada em mercadoria ecologicamente incompleta e desintegrada em dois niveis: 1, Nao se reproduz a si mesma, a0 passo que, por definigdo, a semente & um recurso regenerador, Por tanto, por meio da tecnologia, os recursos genéticos so transformados, deixando de ser renoviveis, 2, Nao produz sozinha. Precisa da ajuda de insumos Para produzir. A medida que as empresas de semen- tes € de produtos quimicos se fundem, a dependén- cia dos insumos vai aumentar, na diminuir. E, eco- logicamente, quer um produto quimico seja acres- centado externa ou internamente, continua sendo um insumo externo no ciclo ecolégico da repro- dugao da semente. E a passagem dos processos ecoldgicos de reproducdo bara os processos iecnolégicos de produgao que esta por baixo tanto do problema do empobrecimento dos agricul- tores quanto da erosao genética, As novas biotecnologias vegetais vio seguir o exem- plo das sementes VAR mais antigas da Revolugao Verde ao levar os agricultores para uma situaco dificil em termos tecnolégicos. f de se esperar que a biotecnologia aumente 4 dependéncia de insumos comprados pelos agricultores, mesmo que acelere o proceso de polarizacio. Vai aumen. tar até o uso de produtos quimicos, em vez de reduzi-lo. foco predominante da pesquisa na engenhatia genética ndo € em variedades que dispensem os fertiizantes ¢ sejam resistentes a pragas, e sim variedades resistentes a pestici- dadas e herbicidas. Para as multinacionais das sen mentes 172 A Sestente A ROCA: dos produtos quimicos, isso pode fazer sentido comercial- mente, pois € mais facil adaptar a planta ao produto qui co que 0 contrario, O custo de desenvolver uma nova varie- dade de safra agricola raramente excede os US$ 2 milhdes, 20 passo que © custo de um novo herbicida excede os US$ 40 milhdes (Fowler et al., 1988). Como as tecnologias da Revolugao Verde, a biotecno- logia na agricultura pode tornar-se um instrumento para tirar a semente do agricultor enquanto meio de produgao. ‘A mudanga da produgao de sementes da propriedade rural para 0 laborat6rio das grandes empresas transfere 0 poder € 0 valor do Sul para o Norte, € dos agricultores para as grandes empresas. Estima-se que a eliminagio do cultivo doméstico de sementes aumentaria dramaticamente a de- pendéncia dos agricultores em relagdo as indéstrias biote nolégicas em cerca de USS 6 bilhdes por ano (Kloppen- burg, 1988), Pode tornar-se também um instrumento de expro- priagdo ao remover seletivamente aquelas plantas ou partes, das plantas que nao servem ao interesse comercial, mas que sfo essenciais para a sobrevivéncia da natureza ¢ do povo. “Melhoria” de uma caracteristica selecionada numa planta € também uma sele¢ao contra outras caracteristicas que sao iteis 4 natureza ou ao consumo local. A melhoria nao € um conceito neutro de classe ou género. © aumen- to de uma eficiéncia que divide tudo em compartimentos baseia-se no aumento da produtividade da mercadoria desejada a expensas das partes indesejaveis da planta. Entre- tanto, a mercadoria desejada nao € a mesma para ticos ¢ pobres, ou para paises ricos € paises pobres, e a eficiénci também nao. No lado dos insumos, as pessoas ¢ paises mais ricos tém escassez de mao-de-obra, a0 passo que as pessoas ¢ 0s paises mais pobres tém escassez de capital € terra, No entanto, a maior parte do desenvolvimento agri- 173 | | MONocULTURAS DA Mente cola aumenta o insumo de capital ao mesmo tempo em que reduz a necessidade de trabalho ¢, dese modo, destréi meios de subsisténcia. Do lado do produto, quer partes de uum sistema agricola ou de uma planta serio tratados como “indesejaveis” € algo que depende de sua classe e género, © que é indesejavel para os mais ricos pode set desejavel para os mais pobres. As plantas ou “partes das plantas” boas para os pobres sto aquelas cuja oferta € reduzida pelas prioridades normais da methoria em resposta a forgas comerciais. Conclusao A destruico dos meios de subsisténcia e sobreviven- cia das pessoas anda de maos dadas com a crosio dos recursos biolégicos ¢ sua capacidade de satisfazer diversas necessidades humanas 20 mesmo tempo em que se regene- ram € se renovam, As tentativas de aumentar os fluxos de mercadoria numa direcdo geram muitos tipos de escassez em produtos afins, © aumento do gro leva a redugio da forragem e do fertilizante. O aumento dos cereais leva 4 reducao dos legumes € das sementes oleaginosas. © au: mento € medido. A redugio passa despercebida, exceto por aqueles que sofrem privagdes pela criagio de uma ova escassez, Tanto © povo quanto a natureza estéo em- pobrecidos; suas necessidades nao sio mais. satisfeitas pelos sistemas de produgio unidimensionais que substi- tuem ecossistemas biologicamente ricos e diversificados ¢ que aumentam a carga nos bolsdes remanescentes de bio- diversidade para satisfazer suas necessidades A extincao dos meios de subsisténcia das pessoas e intimamente ligada a erosio da biodiversidade. A protegio a biodiversidade s6 pode ser assegurada pela regeneracdo 174 A Sementé EA Roca. da diversidade como base da producio na agricultura, na A pritica da diversi- silvicultura € na criagio de anim: dade é a chave de sua preservacio. A biodiversidade ndo poderé ser conservada enquan- to a diversidade no se transformar na légica da produ Se a produgio continuar se baseando na I6gica da uni- formidade e da homogeneizagio, a uniformidade vai con- tinuar tomando o lugar da diversidade. O que é “melhori do ponto de vista das grandes empresas ou da pesquisa agricola do Ocidente costuma ser uma perda para o Ter ceiro Mundo, principalmente para os pobres do ‘Terceiro Mundo. Portanto, nao ha nada de. inevitavel na contra- posicao entre produtividade e diversidade. A uniformidade, enquanto modelo de produglo, s6 se toma inevitével num contexto de controle ¢ lucratividade. Todos os sistemas de agricultura sustentivel, quer do passado, quer do futuro, funcionam com base nos princi pios perenes da diversidade ¢ da reciprocidade. Esses dois principios nao so independentes, sio inter-relacionados. A diversidade gera o espaco ecolégico para dar ¢ tomar, para a mutualidade e a reciprocidade. A destruigao da diversi- dade esté vinculada 4 criaglo de monoculturas e, com a criag’o de monoculturas, a organizagdo auto-regulada € descentralizada clos diversos sistemas d4 lugar a insumos externos ¢ controle centralizado extemo. A sustentabi dade ¢ a diversidade estao ecologicamente ligadas porque a diversidade oferece a multiplicidade de interagdes com as quais reequilibrar as perturbagdes ecolégicas de qualquer parte do sistema. A insustentabilidade e 2 uniformidade sig- nif de qualquer parte se traduz em perturbaco em todas as outras, Em vez de ser detida, a desestabilizagao ecol6gica tende a multiplicar-se. E a ques- tao da produtividade esta intimamente ligada a questo da diversidade ¢ da uniformidade. Rendimento maior € pro- ‘am que # perturbaga 175 ‘Monocut.ruras va Me dlugio maior tém sido o principal objetivo da introdugao da uniformidade e da légica da linha de montagem. O impe- rativo do crescimento gera o imperativo das monoculturas, No entanto, esse crescimento €, em grande medida, uma categoria socialmente construida, impregnada de valores, $6 existe como “fato” se excluirmos ¢ esquecermos os fatos da diversidade € da produgio por meio da diversidade. A sustentatibilidade, a diversidade e a organizacio auto-regu- ada e descentralizada esto, portanto, todas ligadas entre si, assim como a insustentabilidade, a uniformidade ¢ a centralizagao. A diversidade enquanto modelo de produgio © nao apenas de preservacdo, assegura o pluralismo ea descen- tralizagio, Previne a dicotomizacao dos sistemas biolgicos em “primitivos” ¢ ‘avangados’, ou dos sistemas de saber em “primitives” ¢ “avancados". Assim como Gandhi ques- tionou os falsos conceitos de obsolescéncia € produtivi dade na fabricagao de tecidos com sua valorizagaio da roca de fiar, grupos de todo o Terceiro Mundo esto questio- nando os falsos conceitos de obsolescéncia na produgao agricola que, necessariamente, geram a insustentabilidade Esto lutando pela diversidade de sementes usadas pelos agricultores ha séculos e fazendo delas a base de uma agri- cultura futurista, auto-suficiente e sustentivel (Altieri, 1991; Shiva, 1991). 176 A Seutre €4 ROCA: Referéncias Bibliogréficas 1. AUTIER, M. “Tradkional Farming in Lain America”, Heologst 21, 1991. p. 93:56 P POWLER, C; LACHKOVICS, E. MONEY P; SHAND, H, “The tans if Lies Another Development and the New Biotechnologies’ ‘Bretopment Dialog (-2), 1988. p- 1-350. BGEORGE, 8. Operation Hood. Nova Delhi: Oxford University res, 1985, A GOVERNO DE KERALA, Relatirio do Comité de Alto Nivel sobre ecursis de Solo e Agua. fda: Tevandrum, 1984 KLOPPENBURG, J. First he Seed. 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TS se iolagy and te Poltics of Survival Conflicts Over Natural Ray ein gt. Londres: UNU, Tokyo and SAGE, New Delhi/Newbury Park, 1991 16. YEGNA IYENGAR, A. K. Field Cmpsof Inia Bangalores BAP- 0 Geimpresso em 1980), 1944 177 5 A Convensdo Sobre Biodiversidade: Uma Avaliagao Segundo a Respectiva do Terceiro Mundo A Convengio sobre Biodiversidade comecou basica- mente como uma iniciativa do Norte para “globalizar” 0 controle, a administragio € a proptiedade da diversidade biol6gica (que, por razdes ecol6gicas, encontr maior parte, no Terceiro Mundo) de modo que garanta livre acesso a0s recursos biolégicos que sio necessirios como ‘matéria-prima” para a indistria da biotecnologia. No entanto, era de interesse do Norte manter 0 aces- so 4 biodiversidade desvinculado do ac egulamentacio intemacio- nal da preservagio da biodiversidade. A questo da regula- mentacio da biotecnologia nao apareceu em nenhum dos rascunhos da Convengio até julho de 1991 Entretanto, depois das reunides do Comité de Prepa- ragao da Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Am- biente e Desenvolvimento, em Genebra, em agosto de 1991, os vinculos entre as negociagdes sobre biodiversidade ¢ as se, em sua piotecnolo- gia e concentrar-se somente | 179 [a MONOCULTURAS DA MENTE questdes da biotecnologia fortaleceram-se ¢ foram introdu- zidas segDes sobre a biosseguranga e a necessidade de regu- lamentagao da biotecnologia. Esse foi, em parte, o resulta- do da interagao intensiva entre 0 grupo de 77 paises da Rede do Terceiro Mundo (Third World Network), que man- teve sessdes regulares de discussio com os delegados sobre as questdes mais importantes. A Convencio teve inicio com a finalidade de ctiar um documento reflexivo, onde tanto a biodiversidade quanto a biotecnologia, ¢ tanto o Norte quanto o Sul, seriam regula- mentados internacionalmente. Foi com esses elementos diversos que o rascunho do documento feito pela Conven- $0 foi para a tltima reunito do comité de negociagdes internacionais em Nairobi. A declaracao do presidente Bush de que nio vai assi- nar a Convencio sobre Biodiversidade na Conferéncia de CGpula da Terra provavelmente foi o evento mais significa- tivo relacionado a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Meio Ambiente © Desenvolvimento. Os governos e ONGS, assim como celebridades da midia, todos pressionaram Bush para que seguisse o exemplo dos outros paises e assi- nasse 0 tratado sobre biodiversidade. ‘A recusa dos Estados Unidos tem como base a afir- magdo de que o texto tem “falhas graves”. Segundo a pers- pectiva ecolégica, € verdade que o texto tem falhas, mas ‘do so aquelas indicadas por Bush. Na verdade, as falhas foram introduzidas pelos Estados Unidos nas negociagdes finais em Nairobi € relacionam-se em particular a questées de patenteamento € direitos de propriedade intelectua Segundo Bush, a Convencio nao tem uma énfase suficiente ‘nas patentes, Mas isso € apenas um expediente para arran- car mais concessées ainda do Sul. Na realidade, a Conven- ‘so tem uma énfase excessiva nas patentes ¢ uma énfas insuficiente nos direitos de propriedade intelectual ¢ ecold- 180 A CONVENCAO Somes BODIVERSIDADE gica dos povos nativos e comunidades locais. O texto pro- duzido em Nair6bi nao é inteiramente satisfat6rio do ponto de vista dos cidadaos. Br is do texto atual, hé um problema crucial no Artigo 3, que afirma o seguinte: Os Estados, de acordo com a Carta Constitucional das Nagdes Unidas ¢ com os Principios da Lei Internacional, tém o diteito soberano de explorar seus proprios recursos em conformidade com suas politicas ecolégicas, ¢ a res- ponsabilidade de assegurar que as atividades dentro de sua jurisdicAo ou controle nao causem dano ao meio ambiente de outros Estados ou de Areas além dos limites da juris- digio nacional O que esté faltando € 0 principio do direito soberano das comunidades locais que conservaram ¢ preservaram a biodiversidade ¢ cuja sobrevivéncia cultural esta intima- Jbrevivéncia da biodiversidade, 4 conser- f irOnico que uma re as fall mente ligada fagdo € uso da diversidade biolégi convengio feita para a protego da biodiversidade tenha sido distorcida a ponto de se transformar numa convengao para explora Outra falha da convencio € 9 pressuposto de que a biotecnologia é essencial para a preservacio ¢ uso susten- Uivel da diversidade biolégica: como afirma o Artigo 16), diversas espécies existem independentemente da tecnolo- gia, embora a biotecnologia dependa da biodiversidade para obter matéria-prima para objetivos comerciais.” Ao con- tratio de outras mercadorias, as mercadorias biotecnol6gi- cas tomam o lugar da biodiversidade original que elas con- ria-prima e substituem-na. induzida pela biotecnolo- somem como mat f essa dupla transforma gia que tem um impacto significative sobre o Terceiro Mun- do. A biodiversidade nao s6 ¢ desvalorizada, deixando de ser um “meio de produgio" € pasando a ser simples matéria-prima, como também & substituida pelos produtos 181 MonocuLTunas Da Mente geneticamente uniformes da biotecnologia. £ essencial lem- brar que as novas biotecnologias so essencialmente tecno- logias para a produgio da uniformidade A terceira falha da Convengio sobre Biodiversidade é © fato de ter aceito patentes na area dos recursos vivos. As clausulas sobre patentes foram introduzidas somente na rodada final das negociagdes em Nairobi. © Artigo 17, pari grafos 2 € 3, do rascunho do dia 20 de fevereiro, trataram da questio de transferéncia de tecnologia em termos justos € concessionais, sem compromissos com patentes, nem com @ protegio da propriedade intelectual. O rascunho final da Convengao introduziu uma cléusula afirmando que: "No caso da tecnologia sujeita a patentes e a outros direitos de propriedade intelectual, como acesso e transfe- réncia, esse acesso e transferéncia devem ser dados em ter- ‘mos que reconbecam e sejam coerentes com a protegdo ade- quada e efetiva dos direitos de propriedade intelectual.” Embora os Estados Unidos tenham conseguido intro- 48 patentes na Convenglo sobre Biodiversidade, ainda no estdo satisfeitos com a linguagem, em particular que 05 Direitos de Propriedade Intelectual (DPIs) sejam mais um impedimento do que um pré-tequisito para a transferéncia de tecnologia. Os Estados Unidos também esto insatisfeitos com o Artigo 16 (5), que afirm: As Partes Contratantes, reconbecendo que as patentes © outros direitos de propriedade intelectual podem ter influéncia sobre a implementagao desta Convengdo, devem cooperar nesse sentido, submetendo-se a legislagdo nacio nae d lei internacional a fim de assegurar que esses direitos Promovam esses objetivos, em vez de se contraporem a eles, Outra mudanga de Gltima hora que os Estados Unidos Conseguiram introduzit por meio de manipulagdes na Con- A CONVENCAO Sotee BODIVERSDADE vencio sobre Biodiversidade em Nairdbi foi a exclusio do bancos de genes das safras agricolas do mundo inteiro. Ao nao incluir a questo da propriedade € dos direitos afins sobre 0s recursos genéticos que estdo atualmente nos ba cos de genes, a Convengio sobre Biodiversidade pode resul- tar em graves perdas econémicas para os paises em desen- volvimento, 4 medida que os paises industrializados (onde est a maior parte dos bancos de genes) correrem, como é de se esperar, para patentear esses materiais genéticos. Os especialistas em associagdes piblicas internacio- nais que tém seguido de perto os processos recentes nas negociagdes sobre biodiversidade advertem que, se a Con- vengdo entrar em vigor, os governos dos paises industria- lizados vao tomar medidas legislativas para possibilitar o patenteamento de materiais genéticos que esto estocados no presente momento nos bancos de genes de seus paises. Grande parte desses materiais foi coletada nos paises em desenvolvimento por institutos internacionais de pes- quisa agricola, € dois tergos das sementes bancos de genes esto em paises industriais ou guardadas em centros internacionais de pesquisa controlados pelos paises do Norte e pelo Banco Mundial. A propriedade desses matetiais genéticos nao foi clara~ mente definida no plano internacional, pois grande parte deles foi coletada com financiamento pablico internaciona € suas origens s20 principalmente os paises em desenvol- vimento, enquanto os bancos de genes estiio no Norte. Essa falta de clareza sobre a propriedade e os direitos desencorajou a tentativa dos governos do Norte e dos cen- tros de pesquisa internacional de patentear os materiais genéticos, No entanto, isso agora pode mudar se a Conven- 40 sobre Biodiversidade entrar em vigor. (© motivo € que a Convengio trata somente do acesso 08 recursos genéticos a serem coletados no futuro, ao mes- sstocadas em 183 ‘Monocutturasoa MENTE mo tempo que exclui as centenas de milhares de amostras agora estocadas em bancos de genes ou jardins botinicos. Desse modo, ndo ha nenhuma obrigaco imperativa em nivel internacional de esses bancos dle genes ou jardins botd- nicos pagarem aos paises de origem dos recursos genéticos, nem de dividir eqilitativamente com eles os beneficios do uso dos materiais € da tecnologia Em reunido feita no dia 22 de maio de 1991, o Grupo de Consultoria sobre Pesquisa Agricola Internacional (GCPAD anunciou sua intengao de patentear parte de seus materiais genéticos para colaborar com as grandes empre- sas privadas em relacdo a seu uso. Também é de se espe- rar que os governos do Norte criem uma legislaglo Ge necessitio) para possibilitar © patenteamento dos materiais, genéticos dos bancos de genes, mesmo que tenham sido coletados nos paises em desenvolvimento com um acordo tacito de que estariam a disposi¢ao facil ou gratuitamente para uso piiblico. Agora os bancos de genes estao plane- jando selecionar os genes titeis para patenteamento entre suas muitas milhares de amostras. Em seguida, os materia patenteados podem ser colocados a disposi¢io das empre- sas de biotecnologia € outros (até mesmo os agricultores do ‘Terceiro Mundo), que terio de pagar royalties. Esses royal- ties no vao para os verdadeiros paises de origem dos recursos genéticos (0 Sul); na verdade, ironicamente, 0 Sul tera de pagar para ter acesso a eles Depois que o material genético for patenteado, os paises em desenvolvimento nao terao 0 direito legal a eles mesmo que os recursos genéticos tenham sido coletados nesses paises com financiamento ptiblico internacional do GFPAI ou da Agéncia Internacional dos Recursos Genéticos das Plantas (AIRGP), que € associada a um 6rgio das Nagoes Unidas controlado pelo GCPAL Os bancos de genes, cuja maioria esté nos paises do Notte ou sob seu controle, dispoem de 90% dos recursos 184 [A CONVENCAO Som BIODIVERSIOADE: ‘genéticos conhecidos das mais importantes safras agricolas. ‘A exclusio desses materiais valiosos de regras obrigat6rias 6, portanto, uma falha fundamental da Convengdo sobre Biodiversidade. Pior ainda: a Convencdo, ao manter silén- cio sobre a forma como esses materiais devem ser tratados, abre a porta para os paises do Norte patentearem os recur- s0s que esto em seus bancos de genes. Eles poderio dizer que, como o principal instrumento internacional de regula~ mentaclo (a Convengio) nao trata da questo dos direitos € obrigages relativos aos recursos genéticos dos bancos de genes ¢ jardins botanicos, entio os governos tém a liber- dade de introduzir suas proprias leis. ¢ regulamentos que possibilitam a protegao aos direitos intelectuais sobre esses materiais. (© resultado do patenteamento € que os paises em desenvolvimento teriam de pagar precos elevados por sementes € materiais genéticos desses bancos de genes € de materiais geneticamente modificados. Ao mesmo tempo, nao seriam compensados pelos conhecimentos de seus agricultores habitantes de suas florestas, que so a fonte do uso evolutivo das sementes € outros materiais da produ- Gio agricola, A Convengio sobre Biodiversidade nao reco- nhece 0 direito de inovadores informais (entre os quais os agricultores) serem compensados. ‘Uma quinta falha da Convengio sobre Biodiversidade alteragoes de tiltima hora nas definigdes. Termos como “pais de origem”, “condicdes in situ” ¢ “ecossistema” foram definidas de maneira a se prestarem a interpretagbes con- venientes para os interesses do Norte, Especialistas interns cionais sa0 de opinido que a Convengio sobre Biodiver- sidade, se adotada e entrar em vigor, acabaria por mostrar que facilitou a abertura da comporta do dique que impedia 6 patenteamento dos recursos genéticos que agora estio nos bancos de genes, além de dar direitos aos controlado- 185 MONOCULTURAS DA MENTE res dos bancos de genes € jardins boténicos (situados no Norte) similares aos direitos dos paises de otigem onde esses recursos surgiram naturalmente, isto é, 0 Sul. Se isso acontecer, a Convengao acabaria reve para os interesses econdmic vimento. ando-se desvantajosa dos paises em desenvol- Uma sexta falha da Convengio sobre Biodiversidade que ela aceitou os Recursos do Meio Ambiente Global do Banco Mundial como o mecanismo financeiro provisério, Um mecanismo independent de financiamento, chamado Fundo da Diversidace Biol6gica, sobre 0 qual o ‘Terceiro Mundo insistindo em rascunhos anteriores, foi sacrificado ___ Sobre patentes, acesso aos recursos genéticos, acesso a tecnologia ¢ mecanismo financeiro, perdemos terreno sis- tematicamente no plano da biodiversidade. ; A luz dos pontos fiacos citados, que foram subli- nhados pelos especialistas da Rede do ‘Terceio Mundo fio Rio de Janeiro, apesar de as aparéncias, a Convengio sobre Biodiversidade corre 0 tisco de favorecer mais os Estados Unidos do que 0 Terceiro Mundo. Muito vai depender das interpretagdes © emendas futuras. Provavelmente 0 Gnico specto que os Estados Unidos gostariam de diluir ainda mais € aquele relativo as cléusulas sobre biosseguranga do Artigo 19. Esse artigo foi introduzido depois da terceira teuniio de preparagdo em Genebra. Foi diluido durante as negociagdes finais em Nair6bi em maio de 1992. Nos Arti- gos 193) e 19(4), que eram os Artigos 20(3) € 20(4) no quinto rascunho elaborado a 20 de fevereito de 1992, a referéncia ao termo mais acurado “organismos genetica mente modificados" (OGMs) foi eliminada e substituida pelo termo vago “organismo vivo modificado em conse- qugncia da biotecnologia’. Apesar dessa diluicao da termi: nologia, as cldusulas sobre biosseguranga sobreviveram. A questo da biosseguranca ¢ a regulamentacio da biotecno- 186 A CONVENCAO So%RE BIODIVERSIDADS © principal motivo para a decisio de Bush de nao logia assinar 0 tratado. © relat6rio recente dos Estados Unidos foi um des- mantelamento sistematico do quadro de referéncias das regulamentagdes para garantir a saGde e a seguranca ambi- ental na drea da biotecnologia. As regulamentagbes da FDA tém sido drasticamente enfraquecidas. Em seu lugar, 0 Conselho da Casa Branca sobre Competitividade, dirigido por Dan Quayle, insistiu pata que todos os érgios acele rassem a liberagio de produtos geneticamente modificados. Em conseqiiéncia, 0 Ministério da Agricultura dos Estados Unidos aprovou 22 testes de campo de organismos geneti- camente modificados no periodo compreendido entre 20 de marco e 21 de abril de 1992. As regulamentagdes fede- ais que incluem aquelas relativas ao controle da biotec- nologia foram suspensas por uma morat6ria de 90 dias, que depois foi estendida por outros quatro meses em 29 de abril de 1992. Mais secentemente, 2 FDA concluiu que os produtos alimentares alterados pela engenharia genética nao levan- taram questoes de seguranga novas ou tinicas € nao vao ser regulamentados de forma diferente dos alimentos criados por meios convencionais. Desse modo, os alimentos que tém genes de animais introduzidos neles devem ser trata- dos “como naturais" e “seguros’, tendo por base que a tran: feréncia de genes ocorre naturalmente no organismo origi- nal, Genes humanos jé foram transferidos para porcos, ¢ genes de galinha para plantas. Nesses casos, complexos problemas ecol6gicos, éticos, culturais e religiosos podem surgir, problemas que tém sido totalmente ignorados ou mesmo suprimidos. Muito claramente, 0 Artigo 14 da Convengio sobre Biodiversidade, que trata das questdes de biosseguranea, tomaria necessfrio examinar a seguranga na biotecnologia 187 | i MONOCULTURAS DA MENTE ¢ tornar ilegal internacionalmente a desregulamentagao que est acontecendo nos Estados Unidos. Todavia, a Conven- io deve fortalecer a regulamentagio a respeito da satide das pessoas e do meio ambiente. Essa cléusula que protege © ambiente ¢ as vidas humanas ¢ 0 que o st. Bush chama de “falha grave", pois est abertamente comprometido com a causa da indastria. © governo Bush nio quer que a Conferéncia de Capula da Terra coloque no seu devido lugar toda ¢ qual- quer regulamentagéo internacional sobre seguranga na indistria da biotecnologia; insistiu, 20 contrétio, na regula mentagdo das patentes, para proteger os lucros da indtst © governo Bush quer dar a indiistria uma garantia de que ela tera permissio de fazer experimentos ¢ manipular seres vivos com a protegio das patentes, sem nenhuma responsabilidade ética, social ou ambiental Os comentaristas chamaram a Convengio sobre Biodi- versidade de “roubo legalizadio”. O que esté em jogo para nGs € © proprio alicerce de nossa subsisténcia e de nossa civilizagdo. Os governos do Terceiro Mundo precisam garantir que as emendas ¢ interpretagdes da Convencdo sejam feitas de tal forma que a sobrevivéncia de nossas diversas comunidades espécies com as quais convivemos ndo seja sacrificada, Para nés do Terceiro Mundo, a. pro- tecdo as plantas € sindnimo de protegio as pessoas que foram suas guardias ao longo da historia. £ essa associagao entre biodiversidade viva e comunidades vivas que a Convencao sobre Biodiversidade tem de preservar 188 HNN VNNNNSEEUELNHHAN PLOT A\péndice 1 Convengao sobre Biodiversidade 5 de junho de 1992 Preambulo ‘As Partes Contratantes, Conscientes do valor intrinseco da diversidade biol6- gica e dos valores ecol6gicos, genéticos, sociais, econdmi- Cos, cientificos, educacionais, culturais, recreativos e estéti- cos da diversidade biolégica e de seus componentes, Conscientes também da importéncia da diversidade bioldgica para a evolugao € manuteng&o dos sistemas de uustentago era, st timed ques presevacte da deride bog ca é um interesse comum da humanidade, Reafirmando que os Estados tém direitos soberanos seus proprios recursos biol6gicos, ee eaimandatamidém ue os Estados so responsive pela preservacio de sua diversidade biol6gica e do uso de seus recursos biolégicos numa base sustentivel, Preocupadas porque a diversidade biol6gica esté sendo significativamente reduzida por certas atividades human: 189 Monocucturas on Mente Conscientes da falta generalizada de informagdes € conhecimento a respeito da diversidade biolégica e da necessidade urgente de desenvolver recursos cientificos, técnicos e constitucionais para fornecer a compreensio basica a partir da qual planejar e implementar medidas apropriadas, Notando que é vital prever, prevenir € atacar as causas da reducio significativa ou perda da diversidade biol6gica na fonte, Notando também que onde existe ameaga de uma reduco significativa ou perda da diversidade biologic: falta de plena certeza cientifica nao deve ser usada como argumento para adiar medidas destinadas a evitar ou mini- mizar essa ameag: Notando ainda que o requisito fundamental para a preservagio da diversidade biolégica € a preservagio in situ dos ecossistemas ¢ habitats naturais ¢ a manutengio ¢ recuperacao de populagdes vidveis de espécies em seus ambientes naturais, Notando, além disso, que as medidas ex situ, de prefe- réncia no pais de origem, também tém um papel impor- tante a desempenhs Reconbecendo a dependéncia intima ¢ tradicional de muitas comunidades nativas ¢ locais que personificam mo- dos de vida baseados em recursos biol6gicos, ¢ a deseja- bilidade de dividir equitativamente os beneficios derivados do uso do saber tradicional, de inovagdes e priticas rele- vantes para a preservagio da diversidade biolégica e do Uso sustentével de seus componentes, Reconbecendo também © papel vital que as mulheres desempenham na preservagao € uso sustentivel da diversi- dade biolégica ¢ afirmando a necessidade da participagao plena das mulheres em todos os niveis da tomada de deci- sdes € implementagto da preservagio da diversidade, Arenvice + Sublinbando a importincia € a necessidade de pro- mover a cooperagio internacional, regional e global entre os Estados ¢ organizacées intergovernamentais € nao go- vernamentais para a preservacao da diversidade biol6gica (© uso sustentavel de seus componentes, ‘Admitindo que se pode esperar que a provisto de recursos financeiros novos € adicionais e que 0 acesso apropriado a tecnologias relevantes faga uma diferenca substancial na capacidade do mundo solucionar 0 proble- ma da perda da diversidade biolégica, Admitindo também que € necessiria uma proviso especial para satisfazer as necessidades dos paises em desenvolvimento, inclusive a provisio de recursos finan- ceiros novos ¢ adicionais, assim como 0 acesso apropriado a tecnologias relevantes, Notando, nesse sentido, as condigdes especiais dos menos desenvolvidos € dos pequenos Estados-ilha, Admitindo que investimentos substanciais so neces- sétios para preservar a diversidade biol6gica € que ha expectativa de um leque ‘amplo de beneficios ambientais, econémicos € sociais derivados desses investimentos, Reconbecendo que o desenvolvimento economic social ¢ a erradicagao da pobreza sito as prioridades mais urgentes e prementes dos paises em desenvolvimento, Conscientes de que a preservacio € 0 uso sustentavel da diversidade biolégica tém uma importéncia critica para a satisfagio da necessidade de alimento, satide ¢ outras da crescente populagio mundial, para a qual 0 acesso e a divisio tanto de tecnologias quanto de recursos genéticos sao essenciais, ‘Notando que, em tiltima instancia, a preservagao € uso sustentivel da diversidade biol6gica vai fortalecer as rela- ‘cOes amistosas entre os Estados € contribuir para a paz da humanidade, pai 191 (MonocuTutas DA Mente Desejando melhorar © complementar os acordos inter- nacionais existentes para a preservagio da diversidade biologica ¢ uso sustentavel de seus componentes, e Determinadas a preservar ¢ usar de forma sustentivel a diversidade biol6gica em beneficio da geracio atual e de geracdes futuras Concordaram com o seguinte: Artigo 1. Objetivos Os objetivos desta Convengio, a serem alcangados com suas cldusulas relevantes, sio a preservagio da diversidade biolégica, o uso sustentivel de seus componentes e a divisio justa © eqititativa dos beneficios decorrentes da utilizagio dos recursos genéticos, inclusive pelo acesso apropriado a esses recursos genéticos e pela transferéncia apropriada de tecnologias relevantes, levando em conta todos os direitos sobre aqueles recursos € tecnologias, ¢ através de financia- mento apropriado, Artigo 2. Uso dos Termos Para os objetivos desta Convengio, ‘Diversidade biolégica’é a variabilidade entre os seres vivos de todas as fontes, inclusive, inter alia, terrestre, ma- Tinha e outros ecossistemas aquaticos e os complexos eco- logicos dos quais fazem parte; isso inclui diversidade no interior das espécies, entre as espécies e dos ecossistemas. ‘Recursos biolgicos’ incluem recursos genéticos de organismos ou parte deles, de populagdes ¢ de qualquer outro componente biético de ecossistemas com uso ou valor real ou potencial para a humanidade. ‘Biotecnologia’ significa toda € qualquer aplicagao que usa os sistemas biol6gicos, organismos vivos ou detivativos 192 Avtnvice 1 destes para fazer ou modificar produtos ou processos de uso especifico. ‘Pais de origem dos recursos genéticos’ significa 0 pais que possui esses recursos genéticos em condigdes in situ. ‘Pais provedor de recursos genéticos’ significa 0 pais que fornece os recursos genéticos coletados de fontes in situs, entre as quais populacées tanto de espécies selvagens quanto domesticadas, ou retiradas de fontes ex situ, que podem ou nao ser originirias deste pats ‘Fspécies domesticadas ou cultivadas’ significa espé- cies onde o processo evolutivo tem sido influenciado pelos seres humanos para satisfazer as suas necessidades. ‘Bcossistema' significa um complexo dindmico de comu- nidades de plantas, animais ou microorganismos ¢ seu am- biente inerte interagindo como uma unidade funcional, ‘Preservagio ex situ’ significa a preservacaio de compo- nentes da diversidade biol6gica fora de seu habitat natural ‘Material genético’ significa qualquer material de ori- gem vegetal, animal ou de microorganismos contendo uni- dades funcionais de hereditariedade. ‘Recursos genéticos’ significa qualquer material genéti- co de valor real ou potencial ‘Habitat’ significa o lugar ou tipo de lugar onde um organismo ou populagao ocorre naturalmente. ‘Condigées in situ’ significa condicdes nas quais os fem dentro de ecossistemas € babi: recursos genéticos exis tats naturais ¢, no caso de espécies domesticadas ou culti- vadas, nas regiées onde desenvolveram suas propriedades distintas. ‘Preservagiio in situ’ significa a preservagaio de ecos- sistemas e habitats naturais e a manutencdo € recuperagao de populagdes vidveis de espécies em seus locais naturais e, no caso de espécies domesticadas ov cultivadas, nas regides onde desenvolveram suas propriedades distint 193 MONOCULTURAS DA Mere ‘Area protegida’ significa uma area geograficamente definida que é designada ou regulamentada ¢ administrada de forma a alcangar objetivos especificos de preservacao, ‘Organizagao da integragao econémica regional’ si nifica uma orgenizagio constituida por Estados soberanos de uma determinada regido para a qual scus Estados-mem- bros transferiram competéncia a respeito de questoes go- vernadas por esta Convengao e que foi devidamente autori- zada, de acordo com seus procedimentos internos, a ass nat, ratificar, aceitar, aprovar ou concordar. “Uso sustentdvel’ significa 0 uso de componentes da diversidade biolégica de uma certa forma e numa certa pro- Porgio que, a longo prazo, no leva ao declinio da diver- sidade biolégica, mantendo assim seu potencial de satis- fazer as necessidades © aspiragdes da gerac&o atual ¢ de geragdes futuras, Tecnologia’ inclui biotecnolo; Artigo 3. Principio Os Estados, de acordo com a Carta Constitucional das Nagdes Unidas ¢ com os principios da lei internacional, tém © direito soberano de explorar seus proprios recursos em conformidace com suas préprias politicas ambientais, e a responsabilidade de assegurar que as atividades dentro de sua jurisdigao ou controle no causam danos a0 meio ambiente de outros Estados ou de areas além dos limites da jutisdigo nacional, Actigo 4. Esfera Jurisdictonal A respeito dos direitos de outros Estados, e exceto quando houver cléusulas expressas elaboridas por esta Convencio, as cldusulas desta Convencdo aplicam-se, em telagdo a toda Parte Contratante: 194 Artie + a) No caso de componentes da diversidade biolégica den- tro dos limites de sua jurisdi¢ao nacional; € b) No caso de processos ¢ atividades, independentemente de onde se manifestam os seus efeitos, realizados den- tro de sua jurisdig&o ou controle, dentro da rea de sua jurisdicZo nacional ou além dos limites da jurisdicao nacional. Antigo 5. Cooperasao Toda Parte Contratante deve, tanto quanto possivel ¢ aptopriado, cooperar com outras Partes Contratantes, dire- tamente ou, quando apropriado, por meio de associagdes internacionais competentes, com respeito a areas além da jurisdi¢2o nacional e sobre outras questdes de interesse € uso sustentivel da diversidade mGtuo, para a preservaca biol6gica Artigo 6. Medidas Gerais para a Preservasao ¢ Uso Sustentével ‘Toda Parte Contratante deve, de acordo com suas con- dicoes e capacidades particulares a) Desenvolver estratégias, projetos ou programas nacio- nais para a preservacio e uso sustentiivel da diversidade bioldgica, ou adaptar para esse propésito estratégias, projetos ou programas ja existentes que devem refletir: inter alia, as medidas estabelecidas nesta Convengio relevantes para a Parte Contratante interessada; € b) Integrar, tanto quanto possivel ¢ apropriado, a preser- vaglo € uso sustentivel da diversidade biologica em projetos, programas e politicas relevantes em nivel de setor ou em nivel intersetorial 195 MONOcULTURAS DA MENTE Attigo 7. Identificaséo e Monitoramento Toda Parte Contratante deve, tanto quanto possivel e aptopriado, em particular para os propésitos dos Artigos 8a 10: a) Identificar componentes da diversidade biol6gi importantes pata stia preservaclo @ uso sustentivel, Jevando em consideragao a lista indicativa de categorias apresentada no Anexo 1 Monitorar, por meio de amostragens e outras técnicas, 05 componentes da diversidade biol6gica identificados em conformidade com o parigrafo (a) acima, prestando uma atengao particular naqueles que requerem medidas ungentes de preservacio e aqueles que oferecem 0 maior potencial de uso sustentével Identificar processos € categorias de atividades que tm ‘ou em que haja probabilidade de ter impactos adversos significativos sobre a pres 10 € uso sustentavel da diversidade biolégica, € monitorar seus efeitos por meio de amostragem ¢ outras técnicas; ¢ Manter e organizar, através de todo ¢ qualquer mecanis- mo, 0s daclos derivados das atividades de identificacao € monitoramento em conformidade com os subpara- grafos (a), (b) ¢ (©) acima. A\ttigo 8. Preservasao ln situ Toda Parte Contratante deve, tanto quanto possivel € apropriado: a) Estabelecer um sistema de areas protegidas ou areas onde medidas especiais precisem ser tomadas para con- servar a diversidade biolégica. b) Desenvolver, quando necessitio, diretrizes para a sele- so, criag’o ¢ administracio de Areas protegidas ou 196 ° a ° 2 Avtnoice 1 ireas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biol6gica. Regulamentar ou administrar recursos biolégicos impor- tantes para a preservacao da diversidade biol6gica, tanto dentro quanto fora das 4reas protegidas, com vistas a assegurar sua preservacdo © uso sustentivel. Promover a protegao dos ecossistemas, habitats natu- raise manutengio de populagdes vidveis de espécies em ambientes naturais, Promover um desenvolvimento ambientalmente sauda- vel e sustentivel em areas adjacentes as dreas protegi- das com vistas a favorecer a protecao dessas areas. Reabilitar © restaurar ecossistemas degradados e pro- mover a recuperagao de espécies ameacadas, inter alia, por meio da criago ¢ implementagao de projetos ou outras estratégias administrativas. Criar ou manter meios para regulamentar, administrar ou controlar os riscos associados ao uso ¢ liberagio de onganismos vivos modificados resultantes da biotecno- logia e que tém probabilidade de ter impactos ambien- tais adversos que podem afetar a preservacdo ¢ uso sus- tentavel da diversidade biol6gica, Ievando também em conta os riscos para a sade humana. Prevenir a introdugio, controlar ou erradicar aquelas espécies alienfgenas que ameagam ecossistemas, habi- tats ou espécies. Tentar ctiar as condicoes necessérias 4 compatibilidade enire os usos atuais e a preservagio da diversidade biolégica ¢ o uso sustentavel de seus componentes m conformidade com sua legislagao nacional, respei- tar, preservar € manter os conhecimentos, inovacdes € priticas das comunidades nativas ¢ locais que perso- nificam modos de vida tradicionais relevantes para a preservagao ¢ uso sustent4vel da diversidade biol6gica fe promover sua aplicacao mais ampla com a aprovacdo 197 ‘MONOcULTURas oA Mente € envolvimento dos detentores desses conhecimentos, inovagdes € priticas, e encorajar a divisio eqiiitativa dos beneficios derivados da utilizagio desses conheci: mentos, inovacdes e priticas. Criar ou manter a legislagdo necessiria e/ou outras cléusulas regulamentadoras para a protecao de espécies © populagdes ameagadas. Onde um efeito adverso significative sobre a diversi- dade biolégica tiver sido detectado de acordo com 0 Artigo 7, regulamentar ou administrar os processos € categorias relevantes; ¢ m) Cooperar com a provisio de recursos financeiros e ou- tras formas de apoio a preservagao in situ apresentada em suas linhas gerais nos subpardgeafos (a) a (D acima, principalmente para os paises em desenvolvimento Artigo 9. Preservasao Ex situ Toda Parte Contratante deve, tanto quanto possivel ¢ apropriado, e predominantemente com 0 objetivo de com- plementar as medidas in situ: a) Adotar medidas para a preservagdo ex situ de compo- nentes da diversidade biol6gica, de preferéncia no pais de origem desses componentes, Griar ou manter condigdes para a preservagao ex situ e pesquisa de plantas, animais e microorganismos, de preferéncia no pais de origem dos recursos genéticos, Adotar medidas para a recuperagao € reabilitagio de espécies ameacadas e para sua reintrodu babitats naturais em condigées apropriadas. Regulamentar e administrar a coleta de recursos biologi cos dos habitats naturais com vi 2 preservacio ex situ de forma a nao ameagar ecossistemas e populagdes in situ de espécies, exceto onde medidas én situ tem- 198 poririas ¢ especiais forem necessarias de acordo com 0 subparigrafo (c) acima; e ooperar com o fornecimento de apoio financeiro outros para a preservaclo ex sitve apresentada em linhas getais nos subparigrafos (a) a (d) acima e com a ctia cdo ¢ manutengao de medidas voltadas para a preser: vagio ex situ de paises em desenvolvimento, Atigo 10. Uso Sustentével dos Componentes da Diversidade Brolégica Toda Parte apropriado: nntratante deve, tanto quanto possivel € a) Integrar a consideragao da preservago € uso susten- tivel de recursos biolégicos no Ambito das tomadas de decisdes ni b) Adotar medidas relativas 20 uso dos recursos biol6gicos para evitar ou minimizar os impactos adversos sobre a diversidade biol6gica ©) Proteger e encorajar 0 uso habitual de recursos biol6gi cos de acordo com as priticas culturais tradicionais que sio compativeis com os requisitos da preservacao ou uso sustentavel 1d) Apoiar as populagdes locais no sentido de criarem € implementarem a aco reparadora em areas degradadas onde a diversidade biol6gica foi reduzida; € ©) Incentivar a cooperagio entre suas autoridades gover- namentais € seu setor privado no sentido de criar mi dos para 0 uso sustentivel dos recursos biolégicos. cionais ‘Antigo 11. Medidas de Incentive ‘Toda Parte Contratante deve, tanto quanto possivel- jutares no plano econémico apropriado, adotar medic 199 MoNocULTURAs DA MENTE e social que funcionem como incentivos para a preservacao ‘© uso sustentével dos components da diversidade biol6gica Axtigo 12. Pesquisa e Tretnamento As Partes Contratantes, levando em conta as nec dades especiais dos paises em desenvolvimento, devem: a) Criar © manter programas de educacao treinamento cientificos ¢ técnicos em medidas para a identific preservacdo € uso sustentivel da diversidade biol6gica © seus componentes e dar apoio a essa educacio & treinamento para as necessidades especificas dos paises em desenvolvimento. b) Promover € incentivar a pesquisa que contribui para a Preservaco € uso sustentivel da diversidade biol6gic principalmente nos paises em desenvolvimento, inter alia, em conformidade com as decisbes da Assembléia das Partes tomadas em conseqiiéncia das recomenda- Ges do Corpo Auxiliar de Assessoria Cientifica, Técnica € Tecnol6gica; € © De acordo com as cliusulas dos Artigos 16, 18 e 20, promover € cooperar com 0 uso dos avangos cientificos dla pesquisa em diversidade biolgica para a criagio de métodlos destinados a preservagao € uso sustent recursos biol6gicos. si Avttigo 13. Educagao e Consciéncia Pablicas As Partes Contratantes devem: a) Promover ¢ incentivar a compreenstio da importnc da preservagio da diversidade biol6gic: necessirias para ta da midia ¢ a inclus educativos; & € as medidas bem como sua propaganda através Wo desses t6picos em programas 200 AveNDICe # b) Cooperar, de forma apropriada, com outros Estados © associacdes internacionais no sentido de desenvolver programas educativos e de consciéncia piblica com respeito & preservagao € uso sustentavel da diversidade biol6gica. Antigo 14. Avaliasao do Impacto e Minimtzasao dos Impactos Adversos Toda Parte Contratante, tanto quanto possivel € apro- priado, deve: a) Introduzir procedimentos apropriados que & liagdo do impacto ambiental dos projetos propostos com probabilidade de ter efeitos adversos significativos sobre a diversidade biologica com vistas a evitar ou minimizar esses efeitos e, quando apropriado, permitir a participagao pablica nesses procedimentos, b) Introduzir medidas apropriadas para assegurar que as conseqiiéncias ambientais de seus programas e politicas com probabilidade de ter impactos adversos significa- tivos sobre a diversidade biolégica sejam devidamente levadas em conta. © Promover, com base na reciprocidade, notificagao, troca de informagdes ¢ consulta sobre atividades sob sua jurisdicao ou controle € com probabilidade de ter efei- tos adversos significativos sobre a diversidade biol6gica de outros Estados ou Areas além dos limites da jurisdi- do nacional que incentivem a incluso de acordos bila- terais, regionais ou muttilaterais, quando apropriado, @ No caso de perigo ou dano iminente ou grave para a diversidade biologica que se origine em area sob sua jurisdi¢a0 ou controle e se estenda para a area sob juris- digio de outros Estados ou em reas além dos limites da jurisdi¢ao nacional, notificar imediatamente os Esta- jam ava- 201 MONoCULTURAS BA MENTE dos potencialmente afetaclos por esse perigo ou dano, bem como dar inicio a agdes que previnam ou mini mizem esse perigo ou dano; € ‘Tomar providéncias no ambito nacional para respostas de emergéncia a atividades ou eventos, sejam ou nao de causa natural, que apresentem um perigo grave € iminente para a diversidade biol6gica, e estimular a cooperacio internacional no sentido de suplementar esses esforgos nacionais e, quando apropriado ¢ de comum acordo entre os Estados ou associagées interes- sadas na integracao econdmica regional, criar planos de agio conjunta A Assembléia das Partes deve examinar, com base nos estudos a serem realizados, a questio da responsabili- dade e da compensacao por danos a diversidade biol6- gica, exceto quando essa responsabilidade for uma questo puramente interna Attigo 15. Acesso aos Recursos Genéticos 1. Reconhecendo os direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos naturais, a autoridade que determina © ACeSSO AOS recursos genéticos & aquela dos governos nacionais, ¢ esti sujeita a legistagao nacional. Toda Parte Contratante deve se esforcar no sentido de criar condigdes que facilitem © acesso aos recursos ge- néticos para usos ambientalmente sauciveis por outras Partes Contratantes € no impor restrigOes que se con- traponham aos objetivos desta Convengio, Para os objetivos desta Convencio, os recursos genéti- cos fornecidos por uma Parte Contratante, em confor- midade com as designagdes deste Artigo ¢ dos Artigos 16 € 19, sto apenas aqueles fornecidos pelas Partes 202 AreNpice « Contratantes que sio paises de origem desses recursos ‘ou pelas Partes que adquiriram os recursos genéticos de acordo com esta Convent 4. © acesso, quando concedido, deve ser em termos mutuamente aceitos ¢ sujeito as cléusulas deste Artigo. 5. Oacesso a recursos genéticos deve estar sujeito a0 con- sentimento anterior bem informado da Parte Contra- tante que fornecer esses recursos, a menos que essa mesma Parte determine outro procedimento, 6. Toda Parte Contratante deve se esforcar para desen- volver € realizar pesquisa cientifica baseada nos recur- sos genéticos fornecidos por outras Partes Contratantes com a plena participagao dessas Partes Contratantes ¢, quando possivel, nelas. ‘Toda Parte Contratante deve tomar medidas legislativas, administrativas ou politicas, quando apropriadas, © de ‘acordo com os Artigos 16 € 19 €, quando necessario, por meio de mecanismos financeiros estabelecidos pelos ‘Artigos 20 e 21 com o objetivo de dividir, de forma just ¢ eqiitativa, os resultados da pesquisa ¢ do desenvolvi- mento e os beneficios decorrentes da utilizacao comer- cial e outras dos recursos genéticos com a Parte Contra- ~ tante que fornecer esses recursos. Essa divistio deve ser feita em termos mutuamente aceitos. Antigo 15. Acesso e Transleréncia de Tecnologia 1. Toda Parte Contratante, reconhecendo que a tecnologia inclui a biotecnologia, ¢ que tanto © acesso quanto a transferéncia de tecnologia entre as Partes Contratantes sio clementos essenciais para a realizacao dos objetivos desta Convengio, submete-se as cléusulas deste Artigo para fornecer ¢/ou facilitar 0 acesso € wansferéncia a outras Partes Contratantes de tecnologias que sto rele- 203 MONOCULTLIRAS DA MENTE vantes para a preservagio € uso sustentivel da diversi- dade biol6gica ou para fazer uso de recursos genéticos € nfo causar dano significative ao ambiente, © acesso € transferéncia de tecnologia aos quais se re- fere 0 pardgrafo 1 acima aos paises em desenvolvimen- to devem ser levados a cabo e/ou facilitados de acordo com termos justos e o mais favoriveis possivel, inclu- sive em termos concessionais ¢ preferenciais quando mutuamente aceitos ¢, quando necessirio, de acordo com o mecanismo financeiro determinado pelos Artigos 20 € 21. No caso da tecnologia sujeita a patentes ¢ ou- tros direitos de propriedade intelectual, esse acesso € transferéncia devem ser levados a cabo em termos que reconhecam € sejam coerentes com a protegdo adequa- da e efetiva dos direitos de propriedade intelectual. A aplicagao deste parigrafo deve ser coerente com os pardgrafos 3, 4 © 5 abaixo, ‘Toda Parte Contratante deve tomar medidas legislativas, administrativas ou politicas, quando apropriado, com 0 objetivo de que as Partes Contratantes, em particular aquelas que sio paises em desenvolvimento que forne- cem os recursos genéticos, obtenham acesso ¢ transfe- réncia de tecnologia que faz uso daqueles recursos, em termos mutuamente aceitos, inclusive tecnologia prote- gida por patentes e outros direitos de propriedade inte- lectual, quando necessirio, por meio das cléusulas dos Artigos 20 ¢ 21 e em conformidade com a lei internacio- nal e coerente com os parigrafos 4 € 5 abaixo. ‘Toda Parte Contratante cleve tomar medidas legislativas, administrativas ou politicas, quando apropriadas, com 0 objetivo de que © setor privado facilite © acesso a0 desenvolvimento conjunto e transferéncia de tecnologia aos quais se refere o pariigrafo 1 acima para beneficio tanto das instituigées governamentais quanto do setor 204 5, As Partes Contratantes, reconhecendo que as patentes APENDICE + privado de paises em desenvolvimento e, nesse sentido, deve sujeitar-se as obrigagoes incluidas nos parigrafos 1, 2.€ 3 acima, e outros direitos de propriedade intelectual podem ter influéncia sobre a implementagao desta Convengio, devem cooperar nesse sentido, submetendo-se 2 legis- Jacao nacional ¢ a lei internacional a fim de assegurar que esses direitos promovam esses objetivos, em vez de se contraporem a eles Attigo 17. Troca de Informases 1. As Partes Contratantes devem facilitar a troca de infor- as fontes disponiveis, mages, provenientes de toda ; relevantes para a preservagio € uso sustentivel da diversidade biologica, levando em conta as necessida- des especiais dos paises em desenvolvimento. 2. Essa troca de informagdes deve incluir toca de resulta- dos de pesquisa técnica, cientifica ¢ socioeconémica, bem como informagées sobre programas de treinamen- conhecimentos especializados, saber nati- to ¢ vistori vo e tradicional isoladamente ou em combinacio com as tecnologias a que sc refere o Artigo 16, parigrafo 1. ‘Também deve, quando praticavel, incluir @ repatriagao das informagoes. Actigo 18. Cooperasato Técnica ¢ Crentilica L. As Partes Contratantes devem promover a cooperagao internacional no plano técnico € cientifico no campo da preservagio € uso sustentével da diversidade biolégica, por meio das instituigdes interna- apropriadas. quando necessirio, cionais e nacionai Monocuuitas ba Mensre 2. Toda Parte Contratante deve promover a cooperagio técnica € cientifica com outras Partes Contratantes, em particular 0s paises em desenvolvimento, na implemen- tagdo desta Convencio, inter alia, pela ctiagao ¢ imple. mentagio de politicas nacionais. Ao promover essa cooperacao, deve prestar uma atenco especial a cra Go € fortalecimento das capacidades nacionais por meio do desenvolvimento de recursos humanos ¢ da construs 10 de institui 3. A Assembléia das Partes, em sua primeira reuniao, deve determinar a forma segundo a qual estabelecer um mecanismo de camara de compensacdo, a fim de pro- mover ¢ facilitar a cooperagao técnica e cientifica 4, As Partes Contratantes devem, de acordo com a legis- lacdo e as politicas nacionais, promover ¢ desenvolver métodos de cooperacdo para o desenvolvimento € uso de tecnologias, inclusive das tecnologias nativas e tradi- cionais, em conformidade com os objetivos desta Con- vencao. Com esse objetivo, as Partes Contratantes tam- bém devem promover a cooperagao no treinamento de pessoal e troca de conhecimentos especializados. 5. As Partes Contratantes devem, em termos mutuamente aceitos, promover a criagao de programas de pesquisa conjunta € de empreendimentos conjuntos para a cria- so de tecnologias relevantes para os objetivos desta Convencao. Artigo 19. Manuseio da Biotecnologia e Distribuigao de seus Benefictos 1. Toda Parte Contratante deve tomar medidas legislativas, administrativas ou politicas, quando apropriado, a fim de criar condigées para a participago efetiva nas ativi- dades de pesquisa biotecnolégica feita por essas Partes 206 Avenoice 1 Contratantes mento, que fornecem os recursos genéticos para essa pesquisa e, quando praticivel, nessas Partes Contratantes. ‘Toda Parte Contratante deve tomar todas as medidas possiveis para promover ¢ facilitar 0 acesso prioritério, uma base justa © equitativa para as Partes Contratan- tes, principalmente os paises em desenvolvimento, aos resultados ¢ beneficios decorrentes de biotecnologias fundamentadas em recursos genéticos fornecidos por ‘essas Partes Contratantes, Esse acesso deve ser obtido: principalmente os paises em desenvol em termos mutuamente accitos [As Partes devem considerar a necessidade ¢ as modali- dades de um protocolo que estabeleca procedimentos apropriados, inclusive, em particular, que apresente um, acordo bem informado, no campo da transferéncia, manuseio € uso seguros de qualquer organismo vivo modificado resultante da biotecnologia € que possa ter um efeito adverso sobre a preservacdo € © uso susten- tavel da diversidade biol6gica 4, Toda Parte Contratante deve, diretamente ou por meio de uma pessoa fisica ou juridica sob sua jurisdic que forneca os organismos aos quais se refere 0 pardigrafo 3 cima, dar todas as informagdes disponiveis sobre 0 uso ¢ regulamentagdes de seguranca exigidos por essa Parte Contratante no manuseio desses organismos, bem como toda e qualquer informagio dispontvel sobre © impacto adverso potencial dos organismos especificos referentes } Parte Contratante na qual esses organismos devem ser introduzidos. Avrtigo 2°. Recursos Financeiros de ‘oda Parte Contratante se compromete a fornecer, 1 acordo com suas capacidades, apoio ¢ incentivos finan: 207 MONOCULTURAS DA Mee ceitos aquelas atividades nacionais que se destinam a alcangar os objetivos desta Convengao, em conformi- dade com seus projetos, prioridades e programas nacio. nis. 2. As Partes que so paises desenvolvidos devem fornecer recursos financeiros novos € adicionais a fim de possi- bilitar que as Partes que so paises em desenvolvimen- to possam pagar todos 0s custos incrementais ajustados para elas implementarem as medidas que satisfazem as obrigacdes desta Convengio ¢ se benefi clausula: jarem de suas Custos estes ajustadlos entre a Parte que é pais em desenvolvimento € a estrutura institucional 4 qual se refere 0 Artigo 21, em conformidade com as prioridades da politica, estratégia e programas, critérios de elegili- bilidade € uma lista indicativa de custos incrementais determinados pela Assembléia das Partes. Outras Partes, inclusive paises que estio pasando pelo processo de transiglo para uma economia de mercado, podem assu- mir voluntariamente as obrigagdes das Partes que sto paises desenvolvidos. Para os objetivos deste Artigo, 2 Assembléia das Partes deve, em sua primeira reunio, dlefinir uma lista de Partes que sao paises desenvolvidos € outras Partes que assumem voluntariamente as obri- Bagdes das Partes que sio paises desenvolvidos. A Assembieia das Partes deve rever periodicamente €, se necessirio, emendar a lista. As contribuigdes de outros paises € fontes numa base voluntaria também devem ser encorajadas. A implementagao desses compromissos deve levar em conta a necessidade de um fluxo ade- quado, previsivel ¢ oportuno de fundos, assim como a importancia de dividir as responsabilidades entre as Partes contribuintes incluidas na lista 3. As Partes que sio paises desenvolvidos também podem fornecer, e as Partes que sio paises em desenvolvimen- 208 | a 4, A-extensio em qu Arenvice 1 to utilizar, os recursos financeiros relacionados a imple- mentagio desta Convencio por meio de canais bilate~ rais, regionais ou outros meios multilaterais. as Partes que sio paises em des volvimento vao efetivamente implementar seus com- promissos assumidos nesta Convengao vai depender da implementagio efetiva pelas Partes que sao paises desen- volvides dos compromissos assumidos nesta Conven- do no que diz respeito a recursos financeiros € trans- feréncia de tecnologia, e vai levar realmente em conta © fato de que 0 desenvolvimento econdmico € social € a erradicago da pobreza so as primeiras ¢ as mais importantes prioridades das Partes que sio paises em desenvolvimento, 5. As Partes devem levar realmente em conta as necessi- dades especificas e a situacao especial dos paises menos desenvolvidos de todos as suas agdes relativas a finan- ciamento e transferéncia de tecnologia. 6. As Partes Contratantes também devem levar em conside- ragio as condigdes especiais resultantes da dependénci da distribuigio e da localizagio da diversidade biol6gica no interior das Partes que sio paises em desenvolvimen- to, em particular os pequenos Estados-ilhas. ‘Também se deve levar em consideragao a situaco espe- cial dos paises em desenvolvimento, inclusive aqueles que so os mais vulneriveis ambientalmente, como ridas, € zonas litord- aqueles com zonas fridas € semi neas ¢ montanhosas, Avrtigo 21. Mecanismo Financetro 1. Deve haver um mecanismo para o fornecimento de recursos financeiros As Partes que sto paises em desen- volvimento para os objetivos desta Convengio, numa 209 MONOCULTLRAS DA MENTE base de subvencao ou concessio, dos elementos essen- ciais descritos neste Aigo. O mecanismo deve fun- cionar sob a autoridade e orientagio da Assembléia das Partes para os propésitos desta Convengio, € deve ser responsavel perante ela. As operagdes do mecanismo devem ser realizadas por uma estrutura institucional tal que possam ser decididas pela Assembléia das Partes em sua primeira reuniio. Para os objetivos desta Con- vencio, a bléia das Partes deve determinar as prioridades politicas, estratégi como os critérios de elegibil utilizagdo desses recursos. As contribuigdes devem ser tais que levem em conta a necessidade de um fluxo de fundos previsivel, adequado e oportuno ao qual se re- fere © Artigo 20 de acordo com a quantidade de recur- sos necessirios a ser decidida periodicamente pela Assembléia das Partes, assim como a divisio de respon- sabilidades entre as Partes s qual se refere 0 Artigo 20, pardgrafo 2. As con- tribuigdes voluntérias também podem ser feitas pelas Partes que sio paises desenvolvidos e por outros paises € fontes. © mecanismo deve operar dentro de um sis- tema de governo democratico € tansparente, 2, Em conformidade com os objetivos desta Convencio, a Assembléia das Partes deve, em sua primeira reunido, determinar as prioridades politicas, estratégicas € pro- gramiticas, bem como critérios ¢ diretrizes detalhados para elegibilidade ao acesso € utilizagio dos recursos financeiros, incluindo © monitoramento ¢ avaliaclo des utilizagio numa base regular. A Assembléia das Partes deve decidir sobre as propostas para ef grafo 1 acima depois de consulta a estrutura institucio- nal encarregada da operacao do mé is © programatica: lade relativos ao acesso € assim contribuintes incluidas na lista ctiva 0 pari- canismo financeiro. 210 APENDICE 3. A Assembléia das Partes deve examinar a efetividade do mecanismo criado de acordo com este Artigo, inclusive 08 critérios e diretrizes aos quais se refere o Artigo 2 acima, nao menos do que dois anos depois que esta Convencio entrar em vigor e, em seguida, numa base regular. Com base nesse exame, deve tomar medidas apropriadas para melhorar a efetividade do mecanismo, se necessirio. 4. As Partes Contratantes devem considerar a possibilidade de fortalecer as instituigdes financeiras existentes para fornecer recursos financeiros para a preservacdo € uso sustentavel da diversidade biolggica Artigo 22. Relagdes com Outras Convensses Internacionais 1. As cldusulas desta Convengio nao devem afetar os direi- tos ¢ obrigagdes de nenhuma Parte Contratante deriva- dos de quaisquer acordos internacionais ja existentes, exceto quando o exercicio desses direitos € obrigagd causar dano ou ameaca séria A diversidade biologica 2. As Partes Contratantes devem implementar esta Con- vengaio com respeito 20 ambiente marinho de forma coerente com os direitos e obrigagdes dos Estados sob a lei do mar. Astigo 23. A Assembléta das Partes 1. Uma Assembléia das Partes € marcada por meio deste instrumento. A primeira reunido da Assembléia das Partes deve ser convocada pelo Diretor-Executivo do Programa Ambiental das Nacées Unidas até um ano ap6s a entrada em vigor desta Convengio. Em seguida, reunides ordindrias da Assembléia das Partes devem ser 2u1 MONOCULTURAS DA MENTE realizadlas a intervalos regulares a serem determinados pela Assembléia em sua primeira reuniio. 2, As reunides extraordindrias da Assembléia das Partes devem ser realizadas em outras datas que podem ser consideradas necessirias pela Assembléia, ou a pedido por escrito de qualquer Parte, desde que em seis meses © pedido seja comunicado as Partes pelo Secretariado que tenha 0 apoio de pelo menos um tergo das Partes, 3. A Assembléia das Partes deve ser um acordo por con- senso € adotar as regras de procedimento para si mes- ma € para qualquer érgao subsidirio que possa criar, bem como as regras financeiras que governam o finan. ciamento do Secretariado. Em toda reunido ordindria desse tipo, deve adotar um orgamento para 0 periode financeiro até a reunido ordinaria seguinte. 4. A Assembléia das Partes deve manter uma supervisio da implementaga vo, deve: stabelecer a forma e os intervalos para transmitir as informagdes a serem dadas de acordo com o Artigo 26 considerar essas informa Io desta Convengio e, com esse objeti- Bes, bem como os relatérios apresentados por qualquer 6rgio subsidiitio. b) Examinar as recomendagdes cientificas, técnicas e tec nolégicas sobre a diversidade biolégica dadas de acor- do com o Artigo 25. © Considerar e adotar protocolos, como exigido, de acor- do com o Artigo 28 ® Considerar € adotar, como exigido, em conformidade com os Artigos 29 € 30, emendas a esta Convengio e seus anexos ©) Considerar emendas a qualquer protocolo, bem como a qualquer anexo a esta Convengio ¢, caso assim seja decidido, recomendar sua aclogao as partes interessadas no protocolo, 212 ITT TTT Tr APENDICE 1 Considerar e adotar, como exigido, de acordo com 0 Artigo 30, anexos adicionais a esta Convencao. ®) Criar érgaos subsidiarios, principalmente para consulto- tia cientifica e técnica, que sejam considerados necess rios a implementacio desta Convengio, 1h) Contatar, por meio do Secretariado, os Srgaos executi- vos de Convengdes que tratem de quest5es discutidas por esta Convencao com vistas a criar formas apropria- das de cooperacio entre eles; € i) Considerar e levar a cabo qualquer ago adicional que possa ser necessiria para a realizaga0 dos objetivos desta Convengio a luz da experiéncia ganha em sua operat 5, As Nagdes Unidas, seus émgios especializados e a Agén- cia Internacional de Energia Atomica, bem como qual- quer Estado que nao seja Parte desta Convengio, po- dem ser representados como observadores nas reunides da Assembléia das Partes. Qualquer outro 61gio ou agéncia, quer governamental ou nao governamental, qualificado em campos relacionados & preservagio € uso sustentavel da diversidade biol6gica, que tenha informado 0 Secretariado de seu desejo de ser repre sentado como observador numa reunido da Assembl das Partes pode ser admitido, a menos que um tergo das Partes presentes se oponham, A admissiio ¢ parti- cipacio de observadores clever estar sujeitas as regras de procedimento adotadas pela Assembleia das Partes. Antigo 24. O Secretartads 1. Um Secretariado é criado por esta Convengao. Suas fun- Ges devem ser a) Organizar e prestar assisténcia as reunides da Assem- bleia das Partes estabelecidas pelo Artigo 23. 213 MONOCULTURAS DA MENTE b) Realizar as fungdes atribufdas a ele por qualquer pro- tocolo. © Preparar relat6rios para a execuglo de suas fungdes sob esta Convengio ¢ apresenti-los a Assembléia das Partes. @ Coordenar-se de tal forma com outros 6rgios intema- cionais televantes e, em particular, fazer 0s contatos necessiirios com organizagdes administrativas ¢ contra: tuais para o desempenho efetivo de suas fungoes; ¢ ©) Realizar todas as outras fungdes que forem determi- nadas pela Assembléia das Partes, 2, Em sua primeira reunido ordindria, a Assembléia das Partes deve designar o Secretariado entre aquelas orga- nizagdes internacionais competentes que jé existem € que tém mosirado disposicao em realizar as fungdes de Secretariado de acordo com esta Convengio. Antigo 25. Orgio Substdidrio de Consultoria Crentéfica, Técatca e T 1. Um rgio subsididtio para dar consultoria cientifica, técnica ¢ tecnol6gica é criado por esta Convencao a fim de dar a Assembléia das Partes e, quando apropriado, a outros érgdos subsiditios, recomendagées oportuna: relativas & implementacdo desta Convengao. Este 6rgio deve estar aberto & participagio de todas as Partes ¢ deve ser multidisciplinar. Deve compreender represen- es competentes de governos no campo relevante de conhecimentos especializados. Deve fazer relatorios regulares para a Assembléia das Partes sobre todos os aspectos de seu trabalho. 2. Sob a autoridade ¢ de acordo com as diretrizes esta- belecidas pela Assembléia das Partes, ea seu pedido, esse Ongio deve: cnolgica 214 sy HTVNTTN IN vIomonraneseg (fff Avtnpice 1 a) Fornecer avaliagdes cientificas e técnicas da situacdo da diversidade biol6gica b) Preparar avaliagdes cientificas e técnicas dos efeitos dos tipos de medidas tomadas de acordo com as cléusulas desta Convengio. © Identificar tecnologias € know-how inovadore: tes e moderos relativos 4 preservacao © uso sustent vel da diversidade biolégica e dar recomendagées sobre as formas e meios de promover o desenvolvimento e/ou eficien- transferéncia dessas tecnologias. | d) Fazer recomendagdes sobre programas cientificos ¢ cooperacao internacional em, pesquisa ¢ desenvolvi- mento relacionados & preservacao € uso sustentével da diversidade biol6gica; ©) Responder perguntas cientificas, técnic e metodol6gicas que a Assembléia das Partes ¢ seus 6rgios subsididrios possam fazer ao Orgao. tecnologicas Artigo 26. Relatérios ‘Toda Parte Contratante deve, a intervalos a serem determinados pela Assembléia das Partes, apresentar a essa mesma Assembléia das Partes relat6rios sobre as providén- cias tomadas para a implementacio das medidas desta Convengio e de sua efetividade no sentido de satisfazer os objetivos desta Convencao. A\ttigo 27. Resolusao de Disputas s Contratantes a Conven- 1. No caso de uma disputa entre as Parte respeito da interpretagio ou aplicagao desta Conven: do, as Partes interessadas clevem buscar solugto por meio da negoci 215 Wasa Mente 2, Se as Partes interessadas no conseguirem chegar a um acordo pela negociacio, podem buscar conjuntamente 05 bons oficios, ou pedir mediagio, de terceitos, 3. Ao ratificar, aceitar, aprovar ou concordar com esta Convencao, ou em qualquer momento depois, um FE tado ou organizagao regional de integragio econdmica pode declarar por escrito a0 Depositirio que, em fun- go de uma disputa no resolvida em conformidade com © parégrafo 1 ou © parigrafo 2 acima, aceita um ou ambos 05 meios de resolugio de disputas como compulsérios, a) Arbitragem de acordo com © procedimento estabeleci- do na Parte 1 do Anexo Tl }) Submisséo da disputa ao ‘Tribunal Internacional de Justic 4. Seas Partes da disputa nao aceitarem, de acordo com 0 Pardgrafo 3 acima, este ou qualquer outro procedimen- to, a disputa deve ser submetida a conciliacao de acor- do com a Parte 2 do Anexo Il, a menos que as Partes concordem com uma outra medida, 5. As cldusulas deste Antigo devem-se aplicar com relagio @ qualquer procedimento, exceto quando houver reco- mendagées ¢m contririo no procedimento a que diz tespeito, Antigo 28. Adosao de Protocolos 1. As Partes Contratantes devem cooperar com a formu- lagao © adogao de protocolos para esta Convengao. 2. Os protocolos devem ser adotados numa reunido da Assembléia das Partes 3. Otexto de qualquer protocolo proposto deve ser comu- nicado As Partes Contratantes pelo Secretariado pelo ‘menos seis meses antes de uma reunizo, 216 1} FVIII TTTTITIVIETITIITET TI HyTpvempmmmpmommmeeeeeeceeea Artnoice + Artigo 29. Emenda & Convensao ou aos Protocolos 1. As emendas a esta Convencao podem ser propostas por qualquer Parte Contratante. As emendas a qualquer pro- tocolo podem ser propostas por qualquer Parte, 2. As emendas a esta Convencio devem ser adotadas numa reuniio da Assembléia das Partes. As emendas a qual- quer protocolo devem set adotadas numa reunitio das Partes para discutir 0 protocolo em questio. O texto de qualquer emenda proposta a esta Convengio ou a qual- quer protocolo, exceto quando houver recomendagées em contritio neste protocolo, deve ser comunicado as Partes interessados no instrumento em questio pelo Secretariado pelo menos s antes da reunitio em que sera proposta para adogio. O Secretariado também deve comunicar emendas propostas aos signatarios desta Convengio & guisa de informagao. 3. As Partes devem fazer todo o possivel para chegar a um, acordo sobre qualquer emenda proposta a esta Con- vencdo ou a qualquer protocolo por consenso. Se todos 08 esforcos de chegar a0 consenso se esgotarem, € nao se chegar a um acordo, as emendas devem, como iti ‘mo recurso, ser adotadas por uma maioria de votos de dois tergos das Partes em rela¢io ao instrumento em questio, apresentadas e votadas na reunifio, e devem ser submetidas a0 Depositdrio de todas as Partes para ratificag2o, aceitagdo ou aprovacio, 4, A ratificagdo, aceitagdo ou aprovagao das emendas deve ser notificada a0 Depositario por escrito. As emendas adotadas de acordo com o paragrafo 3 acima devem entrar em vigor etre a5 Partes que as aceitaram no nonagésimo dia depois do depésito dos instrumentos de ratificaga io do protocolo em questo, exceto quando houver determinagio em con- s me: , aceitago ou aproy 217 MONocULTURAS DA Mant titio nesse protocolo. Depois as emendas devem en- trar em vigor para todas as outras Partes no nonag mo dia depois que a Parte depositar seu instrumento de ratificagio, aceitacao ou aprovagio das 5. Para os objetivos cleste Artigo, emendas. ‘as Partes apresentarem € votarem” significa as Partes presentes e que derem um voto a favor ou contra Antigo 3°. Adosao e Emenda de Anexos 1, Os Anexos desta Convengio ou qualquer outro proto- colo devem formar uma parte integral da Convencio ou desse protocolo, conforme 0 caso e, a menos que haja determinacao expressa em contrario, uma referencia a esta Conveng’o ou a seus protocolos constitui ao mes- mo tempo uma referéncia a quaisquet anexos que Possa ter. Esses anexos devem-se restringir a questoes procedimentais, cientificas, técnicas ¢ administrativas. 2. Exceto se houve determinagio em contrétio em qual- quer protocolo com respeito a seus anexos, 0 seguinte procedimento deve-se aplicar 4 proposta, adogao e entrada em vigor de anexos adicionais a esta Conven. fo ou de anexos a qualquer protocolo: a) Os anexos esta Conven 40 ou a qualquer protocolo devem ser propostos e adotados de acordo com o pro- cedimento estabelecico pelo Artigo 29. 5) Qualquer Parte que nao tenha condigdes de aprovar um anexo adicional a esta Convengao ou um anexo a qual quer protocolo do qual faga parte deve notificar 0 Depositétio, por escrito, no periodo de um ano a partir da data do comunicado da adogio pelo Depositirio. © Depositério deve notificar sem demora todas as Partes do recebimento dessa notificagio, uma Parte pode, a qualquer momento, retirar uma declaragao prévia de 218 AreNDICE em objecdio ¢ 0s anexos devem, depois disso, entra vigor para essa Parte de acordo com o subparagrafo (c) abaixo. ©) Ao expirar um ano a partir da data do comunicado da adogdo pelo Depositirio, 0 anexo deve entrar em vigor para todas as Partes signitirias desta Convengio ou de todo € qualquer protocolo em questi que no tenha 10 de acordo com as cléusulas recebido uma notifica do subparigrafo (b) a 3. A proposta, adogao ¢ entrada em vigor das emendas a anexos desta Convengao ou a todo € qualquer proto: colo estario sujeitas ao mestuo procedimento que a proposta, adogio ¢ entrada em vigor dos anexos d Convengio ou anexos a qualquer protocolo. Se um anexo adicional ou uma emenda a um anexo estiverem relacionados a uma emenda a esta Conven- fo ou a qualquer protocolo, © anexo adicional ou a emenda s6 devem entrar em vigor depois que a emen- Convengiio ou ao protocolo em questi entrarem da em vigor. ee 1. Com excegio das determinagées do pariigrafo 2 abaixo, toda Parte Contratante que decida sobre qualquer pro- tocolo tem direito a um voto, 2. As organizagdes regionais de integraga questdes no ambito de sua competénci seus direitos de voto com um ntimero de votos i nvamero de seus Estados-membros que sto Partes Con: tratantes desta Convengio ou do protocolo relevant’. Essas organizagdes nfo deve exercer seu direilo de voto se seus Estados-membros exercerem 0S seus, vice-versa .cdo econdmica, em devem exercer igual 20 219 10111111111 Phrnsaaynaroty cig eaaes MONOCULTURAS DA MENTE Arrtigo 32. Relagdes entre esta Convengao e seus Protocolos 1. Um Estado ou organizagio regional de integragio eco- némica pode ndo se tornar uma Parte em relagio a um protocolo a menos que seja, ou se tome ao mesmo tempo, uma Parte Contratante desta Convengio. 2. As decisées relativas a qualquer protocolo devem ser tomadas somente pelas Partes envolvidas no protocolo €m questo. Toda Parte Contratante que nao tenha rati- ficado, aceito ou aprovado um protocolo pode partici- par como observador em qualquer reuniio das Partes desse protocolo. Axtigo 33. A Assinatura Esta Convengio estar aberta a assinatura no Rio de Janeiro por todos os Estados ¢ qualquer organizagio regio nal de integrag&o econémica de 5 de junho de 1992 até 14 de junho de 1992, € na sede das Nagdes Unidas em Nova York de 15 de junho de 1992 a 4 de junho de 1993. Antigo 34. Ratilicasao, Aceitasao ou Aprovasao 1, Esta Conveng’o ¢ todo e qualquer protocolo devem estar sujeitos a ratificagio, aceitagio ou aprovagao dos Estados € das organizagdes regionais de integraco eco- nOmica; os instrumentos de rat , aceitaclo ou aprovagao devem ficar depositados com © Depositirio. 2. Qualquer organizago a que se refira 0 parigrafo 1 acima, que se torne uma Parte Contratante desta Con- vengio ou de qualquer protocolo sem que qualquer de seus Estados-membtos seja uma Parte Contratante deve assumir todas as obrigagdes da Convengao ou protoco- 220 Arenvice + lo, conforme o caso. No caso dessas organizagées, quan- do um ou mais cujos Estados-membros forem uma Parte Contratante desta Convengio ou de qualquer protocolo relevante, a organizagio e seus Estados-membros devem decidir sobre suas respectivas responsabilidades quanto 20 cumprimento de suas obrigacdes em conformidade com a Convengo ou protocolo, conforme 0 caso. Nessas situagdes, a organizacdo € 0s Estados-‘membros nao de- vem ter permissio de exercer 20 mesmo tempo os dire- itos proporcionados pela Convengéo ou protocolo rele- vante. 3, Em seus instrumentos de ratificagao, aceitagdio ou apro- vagio, as organizagdes a que se refere o pariigrafo 1 acima devem declarar a extensdo de sua competéncia com respeito a questées governadas pela Convencao ou pelo protocolo relevante. Essas organizagées tam- bém devem informar 0 Deposititio de qualquer modi- ficagdo relevante na extensio de sua competéncia. Avrtigo 35. Concordancia 1. Esta Convengao e qualquer protocolo devem estar aber- tos a concordéncia de Estados e de organizagées regio nais de integraglo econdmica a partir da data em que a Convengio ou 0 protocolo em pauta forem fechados para assinatura, Os instrumentos de concordancia devem ficar depositados com Depositirio. 2. Em seus instrumentos de concordancia, as organizacdes a que se refere o parigrafo 1 acima devem declarar a extensio de sua competéncia com respeito as questdes governadas pela Convengio ou protocolo relevante. Essas organizagdes também devem informar o Deposi- Létio de qualquer modificagdo relevante da extensio de sua competéncia. 221 MoNOcULTURAS BA MENTE 3. As cldusulas do Artigo 34, parigrafo 2, devem aplicar: se a organizagdes regionais de integracto econémica que concordarem com esta Convengao ou qualquer protocolo. Antigo 36. Entrada em Vigor 1. Esta Convencao deve entrar em vigor no nonagésimo dia depois da data de depésito do trigésimo instramen- to de ratificagdo, aceitagéo, aprovacio ou concordancia 2. Todo protocolo deve entrar em vigor no nonagésimo dia depois da data de depésito do némero de instru- mentos de ratificagao, aceitagio, aprovaciio ou concor- dancia, especificados no protocolo em questio. 3. Para toda Parte Contratante que ratificar, accitar ou aprovar esta Convengao ou concordar com ela apés 0 depésito do trigésimo instrumento de ratificagao, aceita- S20, aprovaco ou concordincia, seu instrumento de Tatificagao, aceitacdo, aprovacao ou concordancia deve entrar em vigor no nonagésimo dia depois da data do depésito, por essa Parte Contratante. 4, Qualquer protocolo, exceto quando houver determi- nacao em contririo neste protocolo, deve entrar em vigor para uma Parte Contratante que ratifique, aceite ou aprove esse protocolo ou concorde com ele depois de sua entrada em vigor em conformidade com 0 pari- grafo 2 acima, no nonagésimo dia a partir da data em que essa Parte Contratante depositar seu instrumento de ratificagdo, aceitag4o, aprovacio ou concordancia, ou na data em que esta Convengao entrar em vigor para esta Parte Contratante, seja quando for. 5. Para os objetivos dos parigrafos 1 e 2 acima, nenhum instrument depositads por uma organizac20 regional de integra¢io econdmica deve ser considerado adi- Arenpice 1 cional aqueles depositados por Estados-membros dessa corganizagao. Artigo 37. Ressalvas Nenhuma ressalva pode ser feita 2 esta Convengio, Artigo 38. Saidas 1. A qualquer momento depois de dois contados a partir da data em que esta Convengao tiver entrado em vigor para uma Parte Contratante, “essa Parte Contratante pode retirar-se da Convengio, bastando apresentar uma notifica 2. Toda saida desse tipo deve ocorrer depois de expirar um ano apés a data do recebimento da notificagao pelo Depositério, ou numa data posterior que pode set espe cificada na notificacdo de saida. 3, Toda Parte Contratante que se retirar desta Convencao deve ser considerada como uma Parte que se retira tam- bém de qualquer protocol da qual ela participe. por escrito ao Depositério, Avrtigo 39. Arranjos Financeiros Interinos Desde que tenha sido totalmente reestruturado em conformidade com os requisitos do Artigo 21, os Recursos do Meio Ambiente Global do Programa de Desenvolvi mento das Nagdes Unidas, o Programa Ambiental das Na ‘ges Unidas € 0 Banco Internacional para a Reconstrugio € © Desenvolvimento devem ser a estrutura institucional a qual se refere 0 Artigo 21 numa base interina para 0 perio- do entre a entrada em vigor desta Convengio € a primeira ia das Partes, ou até que a Assembléia reuniio da Assemblé 223 TTT MONOCULTURAS DA Mant das Partes decica que estrutura institucional sera design: de acordo com o Antigo 21 Aatigo 42, Arranjos Interinos do Secretariado O Secretariado a ser criado pelo Diretor-Executive do Programa Ambiental das Nagdes Unidas deve ser aquele Secretariado a0 qual se refere 0 Antigo 24, parégrafo 2, numa base interina para o perfodo entre a entrada em vigor desta Convencao ¢ a primeira reuniio da Assembléia das Partes. Artiso +1. Depositério O Secretério-Geral das Nagoes Unidas deve assumir as fungdes de Depositirio desta Convengaio ¢ de todos os pro- tocolos, Antigo 42. Textos Auténticos © original desta Convencio, do qual os textos em be, chines, inglés, francés, russo e espanhol slo igual mente auténticos, deve ser depositado junto ao Secretario- Geral das Nagdes Unidas DANDO ISSO POR FE, os abaixo-assinados, estando devidamente autorizados nesse sentido, assinaram esta Convencao, Realizada no Rio de Janeiro, neste 5 de junho de 1992. Avnexo | IDENTIFICACAO E MONITORAMI 1. Ecossistemas © habitats: contendo muita diversidade, grandes nimeros de espécies endémicas ou ameagadas, ou Areas virgens; necessirios a aves migratérias; de im- portincia social, econdmica, cultural ou cientifi que sio representativos, tinicos ou associados a proces- sos evolutivos cruciais ou outros processos biolégicos. 2, Espécies e comunidades que: estio ameacadas; so pa- rentes selvagens de espécies clomesticadlas ou cultivadas; de valor medicinal, agricola ou outro valor econémico; de importincia social, cientifica ou cultural; de impor incia para a pesquisa da preservagao € uso sustentavel da diversidade biol6gica, como indicador de espécies; € 3. Genomas e genes descritos de importancia social, cien- 5 OU, fica ou econdmica. Anexo IT Parte! ARBITRAGEM Antigo 1 A parte reclamante deve notificar 0 Secretariado de que as Partes esto encaminhando uma disputa para arbi- tragem em conformidade com o Artigo 27. A notificagao sunto da arbitragem € incluir, em par- fa Convengao ou © protocolo, a inter- deve apresentar 0 ticular, os artigos des 225 MoNocutrutas ba Mane pretac&o ou aplicacdo que esti em questio. Se as Partes ndo concordarem a respeito do assunto da disputa antes que o Presidente do tribunal seja designado, o tribunal de arbitragem deve apresentar o assunto, O Secretariado deve encaminhar as informagdes assim obtidas para todas as Partes Contratantes ou para © protocolo televante, Artigo 2 1 Em disputas entre dua deve consistir em trés membros. Cada uma das Partes da disputa deve nomear um Arbitro ¢ os dois Arbitros assim nomeados devem designar, de comum acordo, 0 terceiro arbitro que sera o Presidente do tribunal. Este iktimo nao deve ser compatriota de uma das Partes da disputa, nem ter seu lugar usual de residéncia no ter- ritotio de uma dessas Partes, nem ser empregado de nenhuma delas, nem ter participado do caso em qual- quer outra fungao. Nas disputas entre mais de duas Partes, as Partes que tiverem o mesmo interesse devem nomear um s6 Arbi- tro de comum acordo. 3. Qualquer vacincia deve ser preenchida da forma pres- crita pela nomeagio inicial. Partes, o tribunal de arbitragem Antigo 3 1. Se o Presidente do tribunal de arbitragem nao tiver sido designado até dois meses depois da nomeagio do segundo drbitro, 0 Secretario-Geral das Nagdes Unidas deve, a pedido de uma Parte, designar o Presidente no prazo de mais dois meses 2. Se uma das Partes da disputa ndo nomear um érbitro até dois meses depois do recebimento do pedido, a outra Nexo I que deve fazer Parte pode informar o Secretirio-Gera a nomeagio no prazo de mais dois meses. Astigo # © tribunal de arbitragem deve tomar suas decisbes de acordo com as clusulas desta Convencdo € de acordo com todo e qualquer protocolo relevante, ¢ em conformidade com a lei internacional. Antigo 5 A menos que as partes da disputa nao concordem, 0 tribunal de arbitragem deve determinar suas proprias regras de procedimento, Astigo & O tribunal de arbitragem pode, a pedido de uma das Par- tes, recomendar medidas de protec interinas e essenciais. Artigo 7 [As partes da disputa devem facilitar 0 trabalho do tri- bunal de arbitragem e, em particular, usando todos os meios a sua disposi¢io, devem: ; a) Fornecer todos os documentos, informagdes € recursos relevantes; € a b) Possibilitar a convocagdo de testemunhas ou especi essitio, convocé-los ¢ acatar sua listas e, quando ne evidencia. Monocutricas DA MeNre Antigo 8 As partes ¢ os drbitros tém a obrigagio de proteger a confidencialidade de toda e qualquer informagao que rece- berem em confianga durante os trimites do tribunal de arbitragem, Astigo 9 A menos que © tribunal de arbitragem determine em contririo devido as citcunstincias particulares do caso, os custos do tribunal devem ser pagos pelas partes da dispu- a em parcelas iguais. O tribunal deve manter um registro de todos os custos ¢ deve fornecer uma declar dos mesmos as partes. (0 final Artigo 10 Toda Parte Contratante que tenha um interesse de natureza legal no assunto da disputa e que possa ser afeta- da pela decisio do caso pode intervir nos trimites com 0 consentimento do tribunal Aatigo 11 © wibunal pode ouvir e determinar alegagdes em con- trario diretamente decorrentes do assunto da disputa, Antigo 12 As decisdes tanto sobre 0 procedimento quanto sobre © teor do tribunal de arbitragem devem ser tomadas pelo voto majoritirio de seus membros. i 228 AoA ANexo tl Artigo 13 Se uma das partes da disputa nao comparecer diante do tribunal de arbitragem ou ndo conseguir defender sua posicdo, a outra parte pode pedir ao tribunal que continue com os tramites ¢ que dé sua sentenga. A auséncia de uma parte ou a impossibilidade de uma parte defender sua posigio ndo deve constituir uma barreira aos tram Antes de tomar sua decisao final, 0 tribunal de arbitragem deve certificar-se de que a reclamagio esti bem funda- mentada no fato € na lei A\ttigo 14 © wibunal deve tomar sua decisio final até cinco meses a partir da data em que estiver plenamente constituf- do, a menos que ache necessfrio estender prazo-limite por um perfodo que nao deve exceder mais cinco meses. A\ttigo 15 A decisio final do tribunal de arbitragem deve res- tringir-se ao assunto da disputa e deve apresentat as razdes nas quais se baseia. Deve conter os nomes dos membros que participaram e a data da decisao final. Qualquer mem- bro do tribunal pode anexar uma opinido distinta ou dis- cordante a decisio final. Axrtigo 15 ‘A sentenga deve restringir-se as partes da disputa. Deve ser sem apelagio a menos que as partes da disputa tenham concordado de antemao com um procedimento de apelacio. 229 MONCCULTURAS DA MENTE Axtigo 17 Qualquer controvérsia que possa surgir entre as partes da disputa a respeito da interpretagio ou forma de imple- mentacio da decisio final pode ser submetida por qual- quer das partes decisdo do tribunal de arbitragem que a formulou. Parte I CONCILIACAO, Artigo 1 Uma comissio de conciliagio deve ser criada a pedido de uma das partes da disputa. A comissio dev. que a menos S partes determinem em contririo, ser composta de nco membros, dois nomeados por cada Parte envolvida € um Presidente escolhido conjuntamente por estes membros. Artigo 2 Em disputas entre mais de duas partes, as partes que tiverem o mesmo interesse devem nomear conjuntamente € de comum acordo os seus membros da comissio. Onde duas ou mais partes tiverem interesses distintos ou houver um desacordo quanto a saber se tém os mesmos interesses, elas devem nomear seus membros em separado. Antigo 5 Se qualquer das nomeagdes nao for feita pelas partes no prizo de dois meses a partir da data do pedido para 230 Awexotl ctiar uma comissio de conciliagio, 0 Secretério-Geral das Nagdes Unidas deve, se assim The for solicitado pela parte que fez 0 pedido, fazer essas nomeagdes no prazo de mais dois meses. nce Se o Presidente da comissio de conciliagio nao tiver sido escothido no prazo de dois meses a partir da data em que 0 thimo dos membros da comissao foi designado, o Secretirio-Geral das Nacdes Unidas deve, se assim Ihe for pedido por uma das partes, designar 0 Presidente no prazo de mais dois meses. A\rtigo 5 A comisstio de conciliagao deve tomar suas decisbes por voto majoritirio de seus membros. Deve, a menos que as partes da disputa determinem em contririo, estabelecer © seu proprio procedimento, Deve apresentar uma propos- ta de resolucao da disputa, que as partes considerariio em boa-fé. Antigo 5 Um desacordo quanto a saber se a comissio de con- ciliagdo tem competéncia deve ser resolvido pela comissio. 231 Apéndice 2 Declaragao de Johanesburgo Sobre Biopirataria, Biodiversidade e Direitos Humanos Nés, pessoas representantes de comunidades locais, associagdes da sociedade civil e ONGs de todo o mundo, reunidos aqui na Conferéncia de COpula da Terra em Johanesburgo, entre agosto € setembro de 2002, discutimos temas relacionados a privatizagio de nossos recursos biol6- gicos € a protecdo dos direitos dos titulares do saber e das tecnologias tradicionais, principalmente aqucles relaciona- dos & biodiversidade. Conscientes de que 0 contetido € o espirito desta decla- ragdo € 0 apogeu de uma década de resisténcia a priva- tizagao de nossa alimentagio, Agua e biodiversidade; Reconhecendo que os seres humanos sio parte inte- grante da rede da vida sobre a Terra e que nosso bem- estar deriva e depende da satide de nossos ecossistemas € espécies; * Decididas a assegurar que os atos hui truam essa rede de relagéx nos nao des 8 ecoldgicas de apoio matuo; 232 ATENDICE # + Conscientes ¢ orgulhosos do papel fundamental desem- penhado pelas comunidades locais pelos povos indi- genas, pelos agricultores e em particular pelas mulhe- res, assim como do saber tradicional n gestio da diversidade biolégica para garantir a segu- ranga dos preservacio € limentos ¢ da satide no presente € no futuro; + Considerando as relagdes inextricéveis entre a biopros- peccdo e a engenharia genética; ‘+ Lembrando a todos que 0s modelos atuais e dominan- tes de desenvolvimento, guiados pelo neoliberalismo € pelo controle das grandes empresas aumentam as desi- gualdades em todo o mundo ¢.debilitam a soberania dos Estados-nagao para cuidar de seus povos; * Conscientes de que o aumento constante do poder das companhias multinacionais esti destruindo as comuni- dades locais e a base de seus recursos naturais com a privatizagao dos recursos biol6gicos, da terra ¢ da agua, e de que um instrumento muito potente dessa destrui- do € 0 patenteamento de organismos vivos; Considerando que as comunidades nao tém se benefi- ciado com a bioprospeccZo € que esta nao cumpriu suas promessas como fetramenta pata a preservaco bioldgica, para a justica social e para a amenizagio da pobreza € que, a0 contririo, legitimou a apropriagio injusta dos recursos biol6gicos ¢ do saber; Declaramos: * Que as comunidades, povos indigenas ¢ agricultores devem ser os guardiaes da biodiversidade e devem ter © direito inaliendvel e a responsabilidade de continuar a administré-la, protegé-Ia, intercambié-la ¢ desenvolve-la ‘acima de todo e qualquer interesse comercial externo; = Que a soberania alimentar ~ 0 direito, dos povos a uma alimentagdo suficiente ¢ saudvel em qualquer momen- 233 PUHTVOVV/H7 07 V7N7°77TTO00 PY OFT PRR MONOCULTURAS OA MENTE fo € © acesso a08 recursos naturais - é um prinefpio central, que consideragdes; + As pessoas também tém o direito basico maneira acessivel € razoavel, € aos recurs dos quais derivam beneficios para a satide; © Opomo-nos a tendéncia atual de globalizagao guiada predominantemente por interesses comerciais que debi litam nossas culturas nossa capacidade de manter controlar nossos modos de vida; + Opomo-nos a biopirataria € ao patenteamento de nos- sos recursos biolégicos e do saber a cles associado Porque séo contra nossos direitos humanos e culturais, € contra nossa identidade. Acreditamos firmemente que a distribuic4o dos beneficios € possivel sem patentes; + Acreditamos que a protegio dos sujeitos humanos na investigaclo genética é um tema de direitos humanos que requer politicas sociais ¢ leis cuidadosamente for- muladas € que sejam rigorosamente aplicadas e fiscali- zadas para proteger individuos e grupos da investigac: das priticas exploradoras; + Declaramos nossa oposicio ao patenteamento da vida € ao patenteamento de sementes e safras agricolas porque estamos preocupados com a transferéncia do controle da producao de alimentos das maos das comunidades € agricultores locais para as grandes empresas multina cionais; + Declaramos que a engenharia genética na alimentagio © na agricultura apresenta tiscos sérios e irreversiveis para o meio ambiente e para a satide; * Acreditamos que os direitos comunitirios sobre a bio- diversidade ¢ o saber tradicional sto coletivos por sua propria natureza e, por isso, nao podem ser privatizados ou individualizados. Os direitos de propriedade intelec- tual aplicados a biodiversidade e ao saber tradicional 10 deve ser matéria de outros interesses satide de 5 biol6gicos 234 Arépice & sao privados € monopolitiscos por defini¢ao , por isso, sio incompativeis com os direitos comunitérios. Os direitos de proptiedade intelectual naj podem coexistir com os sistemas tradicionais de saber, ¢ as intengdes de juntar esses dois mundos s4o equivocadas ¢ inacei- tiveis. © Neste contexto, declaramos que a iniciativa da Orga- nizacio Mundial de Propriedade Intelectual (OMPD para criar sistemas de protecdo ao saber tradicional € inteiramente inapropriada. A OMPI deveria trabalhar para acabar com a biopirataria que esta acontecendo em funcio das patentes sobre a biodiversidade, em vez de querer definir os direitos dis comunidades, 0 que \s prOprias comunidades. deve ser feito pel Propomos que: © A preocupago com o meio ambiente e a seguranca dos alimentos ¢ da satide deve ter precedéncia sobre os interesses comerciais internacionais. A Organizacto Mun- dial do Comércio (OMG) nao € a instituico indicada para decidir sobre esses temas; além disso, os acordos comerciais regionais ou bilaterais naj devem afetar 0 manejo local da biodiversidade; * Os governos devem ter a responsabilidade central de redirecionar, desenvolver € executar politicas, legislacao ¢ investigacao de acordo com uma perspectiva de desen- volvimento holistico, de promog4o do controle local dos recursos e de uma participagio ativa das comunidades locais, dos agricultores e dos povos indigenas na tomada de decisoes; © Chamamos a atencao da comunidade internacional para iniciar um processo para negociar um documento legal vinculante sob os auspicios da CDB para prevenir a bio- pirataria, garantir a soberania nacional sobre os recur- 235 MONOCULTURAS DA MENTE sos bioldgicos © genéticos e proteger os direitos dos povos indigenas ¢ das comunidades locais sobre seus recursos ¢ seu saber; © acesso aos recursos biol6gicos e genéticos ¢ ao saber associado a eles s6 deve ser permitido com o consenti- mento bem informado dos povos e comunidades locais sobre os termos ¢ condi¢des determinados por eles. Esse deve ser um pré-requisito para a distribuigao dos beneficios. Os grupos ¢ individuos potencialmente im- pactados pela pesquisa genética tém direito a uma reve- lacdo completa ¢ transparente dos beneficios e riscos de tal pesquisa, assim como a dar seu consentimento ou recusar sua patticipagio; Os sistemas baseadios na biodiversidade e na agricultura sustentiivel, que esto sob o controle das comunidades locais, devem ser adotados € promovidos como o modo Principal de produgo agricola e de qualquer outro tipo de produgdo de alimentos; Nossos governos devem assegurar um ambiente isento de organismos geneticamente modificados (OGMs) em nossos paises € em nossos sistemas agricolas, e devem apoiar nossos esforgos para conscientizar os agriculto- es © consumidores a respeito do impacto real ¢ potencial dos OGMs sobre o meio ambiente ¢ a satide humana; Uma proibicio total ao patenteamento de formas de vida € a0 uso de qualquer direito de propriedade inte- lectual sobre a biodiversidade e o saber tradicional deve ser imposta. Desejamos ver fortalecidos os direitos das comunidades ¢ agricultores nos acordos internacionais relevantes ¢ em nivel nacional para assegurar que estas. comunidades e agricultores possam continuar prote- gendo, intercambiando ¢ desenvolvendo seus recursos biol6gicos. Qs governos africanos devem tomar as medidas neces- sarias para implementar em nivel nacional a Lei-Modelo MMT APENDICE & Africana de Direitos Comunitarios. Também insistimos com a comunidade global para apoiar a implementago desta lei e desistir de toda e qualquer atividade ou poli- tica que, direta ou indiretamente, seja um obstéculo a sua adogao ou aplicagio por parte dos paises africanos; + Pedimos aos paises membros da OMC que reformulem ‘0s Acordos de Propriedade Intelectual (ADPIC) de ma neira que nenhuma forma de vida e nenhum proceso vivo possa ser patenteado por nenhum Estado-membro. Também pedimos que permitam aos paises a maxima flexibilidade para estabelecer sistemas sui generis de protecdo das variedades de plantas nos quais sejam defendidos os direitos dos agricultores e dos povos indi- genas seus recursos € a seu saber tradicional; De Nossa Parte, Comprometemo-nos a: + Reforcar nossas atividades e campanhas para impedir 0 patenteamento de formas de vida © assegurar nosso direito a um ambiente isento de organismos genetica- mente modificados (OGMs); + Reforgar ¢ promover © papel das comunidades locais e dos povos indigenas, agricultores e mulheres na preser- vacao e uso da biodiversidade, e proteger ¢ insistir em Seu direitos nesse sentido; * Proteger © enriquecer nossos sistemas de saber local sobre biodiversidade © promover ativamente sistemas integrados e diversificados de agricultura e de produgao de alimentos; + Prometemos ser generosos como a Terra, claros como a Agua, fortes como © Vento ¢ estar tio longe € tio perto como 0 Sol. E damos nossa palavra de passar de gera- Glo a getagdo o intercimbio de nossas sementes de conhecimento ¢ sabedoria. Jobanesburgo, agosto de 2002 237 br vvvevrvrnunevamnennrintienine Rquena Biografia de Vandana Shiva Vandana Shiva é uma pensadora e ativista ambiental conhecida no mundo inteiro. Fisica, feminista ¢ filésofa, tem-se destacado em agdes sociais contra a destruigéo do meio ambiente, além de ter feito criticas as mais novas tec- nologias agricolas € a engenharia genética, a: empresas gigantescas que as controlam, Lider do Forum Internacional sobre Globalizaco, com Ralph Nader ¢ Jeremy Rifkin, Vandana Shiva ganhou o Prémio Nobel Alternativo da Paz (o Right Livelihood Award [Prémio do Modo de Vi Certo), em 1993, € 0 Earth Day Award (0 Prémio do Di da Terra). Na india, € diretora da Research Foundation for Science, ‘Technology and Ecology (Fundagao de Pesquisa em Ciencia, Tecnologia ¢ Ecologia). Também é fundadora da Bija Vidyapeeth, que oferece instalagdes para a realiza do de conferéncias e semindrios num ambiente que revi- ‘gora nossa ligagio vital com a Natureza na Navdanya Biodi- versity Conservation and Agroecology Farm (Fazenda Navdanya de Conservagio da Biodiversidade ¢ Agroeco- logia), nos contrafortes do Himalaia. 239

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