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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I


Turno da Noite/Turma 1 – 2008/2009

Nota: Os casos práticos que se seguem, excepto o primeiro, elaborado


pela Dra. Maria de Lurdes Pereira, são da autoria do Dr. Pedro Múrias.

Caso prático n.º 1

Maria vendeu o seu automóvel a Noémia, devendo o preço ser pago


daí a seis meses. Para não esperar tanto tempo, Maria passou o seu
crédito a Otília, por um preço relativamente inferior ao seu valor
nominal. Findos os seis meses, Otília não conseguia que Noémia lhe
pagasse e, por isso, pretende resolver o contrato de compra e venda
do automóvel. Quid juris?

Caso prático n.º 2

Teresa comprometeu-se perante o Laboratório a realizar quatro


estudos técnicos, pelo valor total de € 10.000, a pagar daí a seis
meses. Teresa vendeu o crédito a Umbelina quando já tinha entregue
dois dos estudos. Disso se notificou o Laboratório. Teresa, porém, não
entregou mais nenhum estudo. E os dois primeiros estavam cobertos
de defeitos. Quid juris?

Caso prático n.º 3

Em Janeiro, António obrigou-se por contrato a fornecer a Bento, ao


longo de um ano, certas quantidades de carnes de qualidades
variadas, a certos preços. Do contrato ficou a constar uma cláusula do
seguinte teor: «Durante a vigência do contrato, Bento terá o poder de
indicar uma pessoa que o substitua definitivamente nos direitos e
obrigações provenientes deste contrato. Nesse caso, as carnes

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passarão a ser entregues nas instalações da pessoa nomeada,


conquanto sitas no concelho de Lisboa.»
Por contrato celebrado a 1 de Junho entre Carlos e Bento, o
primeiro «assume os direitos e obrigações» provenientes do contrato
celebrado com António. Em troca, Bento obrigou-se a pagar a Carlos,
até ao dia 1 de Julho, € 500.
a) Acha verosímil o contrato entre Bento e Carlos? Que figuras
jurídicas aí encontra?
b) No dia 8 de Junho, António entregou uma remessa a Bento,
mas este recusou recebê-la, informando nesse momento António do
contrato com Carlos. António guardou, então, as ditas carnes num
armazém frigorífico perto das instalações de Bento, informando-o de
que poderia ir lá buscá-las se quisesse. No dia seguinte, António
facturou as carnes a Carlos. As carnes vieram a estragar-se, por
ninguém as ter ido levantar. Quid juris?
c) No dia 15 de Junho, ao receber a remessa seguinte, Carlos
descobriu que Bento o tinha enganado quanto aos fornecedores de
António, e pretende anular o contrato. Quid juris?
d) Bento não pagou os € 500 a Carlos. No dia 8 de Julho, este
informa António de que não recebe nem paga carnes algumas
enquanto Bento não lhe pagar o que deve. Quid juris?
e) Daniel era fiador de Bento. Às tantas, foi surpreendido por
António, que lhe exigia um pagamento que Carlos não realizara. Quid
juris?
f) Suponha que, no caso da alínea b), Bento recebia e pagava
a remessa de carnes daquele dia. Pode impor uma «redução do preço»
a Carlos?
g) Pode Carlos passar a Eduardo a sua relação com António?

Caso prático n.º 22

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António conduzia o automóvel que o seu irmão, Gabriel, lhe


havia emprestado, quando surgiu à sua frente, de forma totalmente
inesperada, Bárbara, criança de dois anos idade. António circulava
com cuidado e respeitando os limites legais de velocidade, mas, para
evitar uma colisão com a criança, de outra forma inevitável, mudou
bruscamente de direcção para a direita, vindo a embater
violentamente contra a traseira do carro de César que se encontrava
ilegalmente estacionado em segunda fila. Os automóveis ficaram
seriamente danificados e António sofreu um traumatismo craniano
profundo que o pôs em estado de coma durante dois meses. Bárbara
encontrava-se à guarda da ama, Dora, que havia sido
cuidadosamente escolhida pelos seus pais, Elsa e Fernando. No
momento do acidente, porém, Dora conversava distraidamente com
Helena, ama de outra criança, dado que esta a havia informado que
àquela hora raramente passavam carros pela rua. Na realidade,
contudo, tratava-se de uma rua bastante movimentada.
a) António pretende pedir uma indemnização pelos danos
decorrentes do acidente. A quem e em que termos poderá fazê-lo?
Considere apenas aplicáveis as regras da responsabilidade civil.
b) Isabel, mulher de António e proprietária de um pequeno
café, foi obrigada a fechá-lo durante os dois meses em que o seu
marido esteve internado. Os médicos asseguraram-lhe que a presença
de um familiar próximo auxiliaria a recuperação. Isabel pretende
agora saber se pode exigir uma compensação pelos danos que sofreu
com o encerramento temporário do café. Que resposta lhe daria?
c) César verificou que os custos da reparação do seu carro
ascendem a 10.000,00€. Esses custos são excepcionalmente altos, já
que aquele carro, ao contrário da generalidade dos veículos da mesma
espécie, tem o motor na parte traseira. Tendo em conta que o valor de

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mercado actual do automóvel é de 3.000,00€, a quem e em que


termos poderá César exigir o pagamento da reparação?

Caso prático n.º 23


O carro de Deolinda foi seriamente danificado num acidente
devido a negligência de Efigénia. O carro era muito velhinho, de modo
que Deolinda não o conseguiria vender por mais de 100 contos. Mas a
verdade é que andava e não tinha problemas mecânicos! A reparação
custa 200 contos. Como deverá Deolinda ser indemnizada por Efigénia
(ou pela sua seguradora)?

Caso prático n.º 24


Uma empresa de consultoria, a CCC, fez uma avaliação errada
do valor da sociedade comercial JJJ, L.da, cujos sócios estavam a pensar
vendê-la. A CCC agiu nos termos de um contrato com a JJJ. António
veio a comprar as quotas da JJJ, mas percebe agora que fez um
péssimo negócio. Poderá pedir responsabilidades à CCC?

Caso prático n.º 25


Gilberto é veterinário e dono de algum gado. O seu vizinho
Hélio, também criador, teve os seus animais infectados com
carbúnculo, mas não tomou as medidas necessárias para impedir a
propagação da doença, nem sequer avisou Gilberto, de modo que
vários animais do vizinho foram afectados. Gilberto administrou-lhes o
tratamento adequado segundo os cânones da medicina veterinária,
mas, porque se tratava de uma estirpe rara e não identificada da
bactéria, esse tratamento veio a agravar a doença. Gilberto perdeu
assim 50% do gado infectado, quando as mortes não costumam
exceder 30%, se for aplicado o tratamento devido. Quid juris?

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Caso prático n.º 26


Zebedeu conduzia uma camioneta do seu patrão, Xavier. Certo
dia, quando estava quase a chegar ao armazém de Xavier, aparece-
lhe subitamente, a seguir a uma curva, uma pilha de caixas de
mercadorias que um seu colega de trabalho (Vasco) ali tinha deixado,
mesmo no meio do caminho. Zebedeu travou correctamente, e tudo
teria corrido bem se os travões não tivessem avariado naquele preciso
momento.
Na verdade, veio depois a descobrir-se uma fragilidade
impensável nos discos dos travões, que se partiram com a travagem
brusca. A camioneta fora fabricada pela sociedade Automóveis de
Portugal, S.A., e os discos dos travões, pela sociedade Trava a Fundo,
Lda..
Zebedeu, contra ordens expressas de Xavier, tinha dado boleia a
um amigo seu, Sérgio, que ali ia procurar emprego.
O acidente foi sério. A camioneta despistou-se, destruindo as
ditas caixas de mercadorias, cujo conteúdo pertencia a Quirino, um
cliente de Xavier, e atropelando Rui, que ia a passar. Zebedeu ficou
incólume, mas Sérgio deu uma grande cabeçada, de modo que teve
de ser assistido no hospital, e ainda se lhe estragou a roupa nova que
levava. A camioneta ficou seriamente danificada. Que
responsabilidade civil haverá?

Caso prático n.º 27


O Museu dos Museus, instituição particular de utilidade pública,
é de visita gratuita. Nuno é seu empregado, acompanha os visitantes
e dá-lhe explicações do que vêem. Odete, electricista, foi contratada
pelo museu para uma série de arranjos previamente definidos. Nuno
não era um moço especialmente honesto: muitas carteiras de

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visitantes foram desaparecendo até se descobrir que era ele o autor


dos furtos. Odete não era muito cuidadosa: estava em cima do
telhado quando deixou escorregar a mala das ferramentas, que
atingiu um transeunte que não tinha nada a ver com o museu. Será o
museu responsável por estes danos?

Caso prático n.º 28


Isabel e Joana são vizinhas. Isabel é dona do Bobi, um cãozinho;
Joana, do Cérbero, um canzarrão. Os bichos costumavam brincar e
lutar nas cercanias — enfim, o Bobi tentava sobretudo fugir... — sem
nunca terem feito mal a ninguém.
Ali perto passa a A-13. Nos termos da lei, as «auto-estradas
devem ser vedadas, em toda a sua extensão, de modo a impedir a
entrada de animais ou pessoas», e as concessionárias devem
assegurar constantemente o bom estado de conservação das
vedações.
Kramer é dono de um terreno vizinho dos de Isabel e Joana e
contíguo à A-13, ao longo de 1 km. Kramer não costuma encontrar-se
nesse terreno. Mesmo junto à vedação da auto-estrada, havia um
enorme e velho eucalipto que, desde o último temporal, ameaçava
claramente cair. Kramer ordenou a Manuel, seu empregado, que
abatesse a árvore, mas este, por preguiça, andava a adiar o trabalho,
dizendo ao patrão que já o fizera. Pois o eucalipto veio a cair por si,
deitando abaixo a vedação naquele sítio. A Lisa, S.A., concessionária
da A-13, exigiu a Kramer que consertasse a rede. Perante a sua
recusa, aquela propôs uma acção em tribunal pedindo que Kramer
fosse condenado à reparação. Entretanto, o buraco mantém-se, com
conhecimento de todos.

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Em mais uma sessão de «morde e foge», o Cérbero perseguiu o


Bobi através do buraco aberto. O Cérbero não chegou à faixa de
rodagem, mas o Bobi entrou por ali a correr.
Nélia conduzia a cerca de 135 km/h quando o Bobi se lhe
atravessou à frente. Nélia atropelou-o antes de o ver, perdeu o
controlo do carro, bateu no carro de Patrícia, que ia a uma velocidade
semelhante, e capotou. O carro de Nélia saiu dali para o ferro-velho. O
carro de Patrícia ficou ligeiramente danificado. Patrícia seguia sem
cinto de segurança, foi cuspida do automóvel através do pára-brisas e
morreu ao bater com a cabeça numa pedra. Não há qualquer indício
de que os danos fossem menores se Nélia ou Patrícia seguissem a 120
km/h.
Onofre, médico, parou o carro na berma para socorrer Nélia.
Tirou-a do carro, que se incendiou pouco depois, e telefonou para o
112. Nesse momento, porém, Onofre lembrou-se de que estava quase
na hora do SPORTEM / Real Madrid, pelo que continuou viagem em
busca de uma televisão, deixando Nélia sozinha à espera da
ambulância.
Nélia sofreu lesões muito graves, cujos resultados finais ainda
estão por determinar.
Patrícia não tinha parentes nem cônjuge, mas vivia com uma
amiga, Quitéria, a quem deixou todos os seus bens por testamento.
Que responsabilidade civil haverá?

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