Você está na página 1de 36

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “PSICOMOTRICIDADE”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O


DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL.

Por: Sabrina Pontes Costa

Orientador
Prof. Fabiane Muniz

Niterói
2007
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “PSICOMOTRICIDADE”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O


DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL.

Apresentação de monografia à Universidade


Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicomotricidade.
Por: Sabrina Pontes Costa
3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, por ter me


presenteado e enfeitado meu caminho
com pessoas maravilhosas.
Ao corpo docente do departamento de
Psicomotricidade, pelos ensinamentos
e disponibilidade para auxiliar.
Enfim a todos os colegas, pelos
momentos bons que compartilhamos.
4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu noivo


Rafael, meus pais Izabel e Leodomar,
como resultado dos momentos em que
estive ausente, pessoas estas que desejo
compartilhar esta conquista e dividir os
louros de mais uma vitória.
Aos meus familiares, amigos sinceros, e a
todos que contribuíram direta ou
indiretamente.
5

RESUMO

Há muito tempo discute-se a questão dos jogos e brincadeiras e sua


importância no desenvolvimento da criança. Atualmente, vários pesquisadores
mostram preocupação em compreender este fenômeno buscando,
principalmente, responder questões como: a função que estas atividades
exercem sobre o desenvolvimento infantil; motivos pelos quais a criança deve
brincar; o que a brincadeira proporciona à criança no que diz respeito à
aprendizagem etc. A fim de discutir estas e outras questões relacionadas ao
tema “brincadeira” e considerando que o brincar tem uma importância
característica para a criança, o presente projeto pretende apresentar uma
definição de brincadeira, relatar um breve histórico da brincadeira e sua
relevância na educação e, por fim, analisar as possíveis contribuições que a
brincadeira proporciona ao desenvolvimento infantil devendo ser valorizada e
privilegiada no contexto educacional.
6

METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a realização deste projeto foram leituras de livros,


artigos de revistas, textos e aulas acompanhadas durante o período desta pós-
graduação, buscando assim identificar, descrever e analisar a utilização do
lúdico no desenvolvimento psicomotor na educação infantil.
A fundamentação teórica está baseada em alguns autores, experiências,
pesquisas e estudos sobre brincadeiras, brinquedos e jogos.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A importância dos jogos e brincadeiras na ed. infantil 10

CAPÍTULO II - Desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo


através dos jogos e brincadeiras. 17

CAPÍTULO III – A ludicidade no desenvolvimento infantil. 26

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33

ÍNDICE 35

FOLHA DE AVALIAÇÃO 36
8

INTRODUÇÃO

Este trabalho traz uma ampla visão da importância dos jogos e brincadeiras no
processo ensino-aprendizagem e na formação da personalidade humana. A
conscientização desta importância cabe ao educador, que se torna
responsável pela aprendizagem e deve trabalhar a criança em sua múltipla
formação, nos aspectos biológicos, sociais, cognitivos e afetivo- emocionais.
Através dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para superar
suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o
mundo. Pela variedade de estímulos que oferecem, pela atmosfera de alegria
e encantamento que proporcionam e, principalmente, pela presença de certas
normas, o jogo e a brincadeira devem fazer parte do cotidiano escolar nas
diversas áreas do conhecimento. Dão ao aluno oportunidade para se
desenvolver e atendem às suas necessidades básicas no processo ensino-
aprendizagem. A criança precisa brincar, inventar e criar para crescer e manter
seu equilíbrio com o mundo. Nos jogos e brincadeiras infantis são
reconhecidos os mecanismos de identificação cultural e de formação
educativa.
Tão fundamentais ao ser humano como o alimento que o faz crescer são os
brinquedos e os jogos. Vão muito além do divertimento. Servem como suportes
para que a criança atinja níveis cada vez mais complexos no desenvolvimento
sócio-emocional e cognitivo. O presente artigo surgiu da preocupação com o
repensar do processo educacional, onde temos, em nossas mãos, alunos
ativos, inquietos e participantes. É preciso que haja mudanças na preparação
desses alunos para a vida e não apenas para o mero acúmulo de informações.
É preciso, também, conscientizar o trabalho pedagógico para a importância da
formação desses alunos como um todo, com sua afetividade, suas
percepções, sua expressão, seu sentido, sua crítica, sua criatividade, seu
interior... É possível orientar o aluno a ampliar seus referenciais de mundo e a
9

trabalhar com todas as linguagens ( escrita, sonora, corporal, dramática,


artística, etc.), integrando-o e construindo sua própria visão do universo.
É importante conhecer as características do aprendiz para sabermos quais são
as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e quais as esquecidas,
quais os transtornos que esse desequilíbrio pode causar no desenvolvimento
do indivíduo e como podemos estimular a criança para o processo ensino-
aprendizagem. A criança deve ser vista sob três dimensões: a corporal, a
afetiva e a cognitiva, que devem se desenvolver simultaneamente. Se uma
estiver sendo desenvolvida em detrimento da outra, certamente haverá um
desequilíbrio do indivíduo em sua dimensão global.
10

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO


PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM.

Definir a brincadeira não é tarefa fácil. De acordo com Kishimoto (1997), uma
criança atirando com um arco e flecha pode ser uma brincadeira ou pode ser
uma criança que está se preparando para a arte da caça (como pode ocorrer
num contexto indígena). Como diferenciar? Vários autores têm caracterizado
a brincadeira como a atividade ou ação própria da criança, voluntária,
espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, constituída por
reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesma e tendo uma
relação íntima com a criança (Bomtempo, 1987; Brougère, 1997; De Rose e
Gil, 1998; Kishimoto, 1997; Piaget, 1978; Santos, 1998; Wajskop, 1995). A
partir destas informações, é importante ressaltar que o brincar faz parte da
infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores) propõem
determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir os critérios
acima discutidos, mas que são chamadas de “brincadeiras” pelos próprios
adultos. Atenção! Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a
criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer
outra atividade. Uma mesma atividade pode ser considerada uma brincadeira
para uma criança mas não para outra, o que torna o trabalho do educador
ainda mais complexo. São várias as dificuldades que existem com relação à
definição e caracterização da brincadeira, entretanto, é certo que a brincadeira
assume um papel fundamental na infância; numa concepção sociocultural, a
brincadeira mostra como a criança interpreta e assimila o mundo, os objetos, a
cultura, as relações e os afetos das pessoas, sendo um espaço característico
da infância (Wajskop, 1995).
Mas desde quando a brincadeira foi alvo de discussão? Partindo-se de uma
11

perspectiva histórica, desde a Antiguidade as crianças participavam de


diversas brincadeiras como forma de diversão e recreação (Wajskop, 1995).
Jogos de demolir e construir, rolar aros, cirandas, pular obstáculos são
exemplos de brincadeiras existentes desde a Antiguidade (Fundação Roberto
Marinho, 1992). Por outro lado, vale a pena ressaltar que apenas na era do
Romantismo que a brincadeira passou a ser vista como expressão da criança e
a infância a ser compreendida como um período de desenvolvimento
específico e com características próprias. Neste período as principais
brincadeiras eram: piões, cavalinhos de pau, bola etc. (Kishimoto, 1990). A
partir deste período, vários pesquisadores surgiram desenvolvendo propostas
pedagógicas com a utilização de brinquedos e jogos, como por exemplo:
Froebel (educação baseada no brincar), Decroly (que elaborou materiais para
educação de crianças deficientes com a finalidade de desenvolver a
percepção, motricidade e raciocínio) e Montessori (que desenvolveu uma
metodologia de forma a implementar a educação sensorial (Kishimoto, 1990).
Já no século XX, outros pesquisadores começaram a discutir a questão das
brincadeiras, entre eles, Piaget (1978), afirmando que a partir da brincadeira a
criança pode demonstrar o nível cognitivo que se encontra além de permitir a
construção de conhecimentos e Vygotsky, que compreendeu a brincadeira
(como qualquer outro comportamento humano) como resultado de influências
sociais que a criança recebe ao longo do tempo. Vale a pena ressaltar que o
brinquedo cria na criança uma zona de desenvolvimento proximal e através
dele que a criança obtém as suas maiores aquisições (Vygotski, 1984) As
diferentes abordagens pedagógicas baseadas no brincar bem como os
estudos de psicologia infantil direcionados ao lúdico, permitiram a constituição
da criança como um ser brincante (Wajskop, 1995) e a brincadeira deveria ser
utilizada como uma atividade essencial e significativa para a educação infantil.
Sem dúvida, foi necessário um longo período até se chegar nestas conclusões
e a brincadeira ser levada como algo “sério”. Hoje, esta importância e
seriedade em relação ao tema podem ser expressas através do advento das
brinquedotecas, dos congressos cujo tema central é a brincadeira infantil, do
crescente número de artigos e trabalhos científicos com base no estudo das
12

brincadeiras etc. Na educação, não podemos deixar de nos referir ao


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) que ressalta a
importância da brincadeira quando afirma que educar significa “propiciar
situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas” (p.23).
Mas como a brincadeira permite o desenvolvimento e a aprendizagem? Vamos
neste momento discutir as inúmeras possibilidades que o brincar proporciona à
criança a partir de diferentes referenciais teóricos permitindo ao educador um
maior embasamento a respeito do tema.
Pense no desenvolvimento social. Como criar oportunidades lúdicas para a
criança incrementar o seu repertório social bem como desenvolver relações
inter-pessoais? Quando a criança brinca de faz de conta, por exemplo, ela
deve supor o que o outro pensa, tentar coordenar seu comportamento com o
de seu parceiro, procurar regular seu comportamento de acordo com regras
sociais e culturais. Além disso, para Vygotsky (1984), a criança, ao brincar de
faz de conta, cria uma situação imaginária podendo assumir diferentes papéis,
como o papel de um adulto. A criança passa a se comportar como se ela fosse
realmente mais velha, seguindo as regras que esta situação propõe. Nesse
sentido, a brincadeira pode ser considerada um recurso utilizado pela criança,
podendo favorecer tanto os processos que estão em formação ou que serão
completados.
Outros autores que estudam a ampliação das interações sociais a partir da
brincadeira afirmam que a criança, enquanto brinca, se constitui como
indivíduo diferente dos demais, entra em contato com diferentes papéis sociais
e evolui quanto à diferenciação eu - outro (Almeida, 1995; Carvalho, 1981;
Carvalho, 1989; Oliveira e Rossetti-Ferreira; 1993; Pedrosa e Carvalho, 1995).
Certamente não é apenas o desenvolvimento social que é enriquecido durante
uma brincadeira. Podemos pensar na criança envolvida numa atividade que
exige um certo raciocínio necessitando levantar hipóteses e solucionar
problemas; ou ainda numa brincadeira qualquer na qual ela tenha possibilidade
de construir conhecimentos e enriquecer o desenvolvimento intelectual (Piaget,
1978).Por fim, não podemos deixar de mencionar as situações que a criança
revive enquanto ela brinca; por exemplo: situações que lhe causaram alegria,
13

ansiedade, medo e raiva podem ser revividas em forma de brincadeira o que


favorece uma maior compreensão de seus conflitos e emoções.
Diante destas informações, a brincadeira pode e deve ser privilegiada no
contexto educacional (não apenas na Educação Infantil mas no Ensino
Fundamental também). A escola, atenta aos inúmeros benefícios que a
brincadeira traz, bem como nas possibilidades que elas criam de se trabalhar
diferentes conteúdos em forma lúdica, deve “lutar” sempre pra que tais
atividades sejam privilegiadas e bem aceitas pelas crianças e pelos adultos
responsáveis.Vale lembrar que não são necessários espaços muito
estruturados ou objetos complexos para que ocorra uma brincadeira. Espaços
simples, com objetos fáceis de serem encontrados e manipulados podem se
transformar em grandes aliados do educador.
Pense um instante: o que as brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega,
passa-anel, bingo, boliche, morto - vivo; queimada, pular corda, corre cutia
favorecem? Várias habilidades e conhecimentos, não é mesmo? Todas elas
propiciam cooperação, estabelecimento e cumprimento de regras,
aprendizagem de se colocar no lugar do outro etc.
Poderíamos citar várias, desde aquelas que podem ser realizadas com bebês
até aquelas que exigem certo nível de conhecimento. Alguns exemplos
incluem: brincadeiras com móbiles e fantoches (para a criança explorar),
bonecas e carrinhos (para a criança dramatizar), blocos de
construção(favorecendo a descoberta de conceitos como tamanho, forma,
quantidade, relações espaciais, seriação, noção de espaço e causalidade,
além da imaginação e criatividade), quebra-cabeça (para estimular o raciocínio,
a concentração e o desenvolvimento psicomotor além da cooperação e
socialização); brincadeiras na água e na areia (que permitem a exploração, o
exercício motor e a socialização);brincadeiras tradicionais (como amarelinha,
pião, pipa, as quais possibilitam a compreensão de elementos folclóricos e
remete a criança a determinados períodos históricos) e, por fim, as
brincadeiras de faz de conta, que, como já discutidas anteriormente, favorecem
a imaginação, imitação, possibilitam o desenvolvimento social, afetivo e os
processos de raciocínio (Bomtempo, 1987; Kishimoto, 1997; Fundação
14

Roberto Marinho, 1992; Oliveira et al, 1992; Oliveira, 2000)Estas idéias servem
para ilustrar alguns exemplos de brincadeiras que podem ser utilizadas na
escola e o que elas proporcionam em termos de aprendizagem e
desenvolvimento mostrando a importância de cada uma delas. Sugere-se que,
a partir desta leitura, cada educador desenvolva e crie atividades adequadas
aos seus alunos potencializando o desenvolvimento de cada um deles. De
acordo com Brougère (1997), o brincar exige uma aprendizagem; sendo assim
o professor terá este papel fundamental de inserir a criança na brincadeira,
criando espaços, oportunidades e interagindo com ela.
O desenvolvimento infantil está em processo acelerado de mudanças, e as
crianças estão desenvolvendo suas potencialidades precocemente em relação
às teorias existentes. Diante dos avanços tecnológicos, a criança deste novo
milênio está evoluindo. O cuidado com o recém-nascido, e os estímulos que o
bebê hoje recebe são muito diferentes dos cuidados de algumas décadas
atrás. A mudança de hábitos e atitudes dos adultos para com o recém-nascido
ocasionou alterações em todo o desenvolvimento infantil. As diferentes áreas
do cérebro humano se desenvolvem por meio de estímulos que a criança
recebe ao longo dos sete primeiros anos de vida. Como os estímulos são
diferentes, as reações também são. Os padrões de comportamento para com
o bebê e para com a criança na primeira infância se modificaram, e as crianças
de hoje são mais espertas e mais inteligentes do que as crianças de algumas
décadas atrás, gerando situações inesperadas. Atualmente, pais trabalham
fora , as famílias são menos numerosas, e as crianças freqüentam, desde
cedo, berçários, creches e escolinhas maternais, onde recebem estímulos
diferentes dos que recebiam aquelas que eram criadas em casa pelos irmãos e
que só eram levadas para a escola aos sete anos. É, portanto, com essas
crianças que o educador tem que saber lidar, tem que reconhecer suas
necessidades e procurar atendê-las dentro do contexto educacional atual. A
criança, nos dias atuais, parece mais esperta e se desenvolve antes do tempo
previsto, pois algumas habilidades foram estimuladas. Já pode expressar suas
vontades, e seu intelecto é muito mais ativo. Porém, apresenta diferentes
formas de ansiedade, de medos e de insegurança com as quais o educador
15

tem que estar preparado para lidar. Temos, hoje, educandos com
características próprias de uma era tecnologicamente desenvolvida; mas
temos, também, grande número de crianças imaturas e com dificuldades
motoras que necessitam suprir as defasagens para o desenvolvimento de suas
potencialidades como pessoa. O desenvolvimento infantil precisa acontecer,
ao mesmo tempo, nas diferentes áreas para que haja o equilíbrio necessário
entre elas e o indivíduo como um todo. Quando o desenvolvimento acontece
apenas numa área, certamente outras ficarão em atraso, e a criança ficará
desequilibrada de alguma forma. Muitas crianças passam a maior parte do seu
tempo na frente da televisão ou com jogos eletrônicos. As imagens
hiperestimulam a área cognitiva, mas a criança não está desenvolvendo as
áreas afetiva e motora. É importante conhecer as características do aprendiz
para sabermos quais são as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e
quais as esquecidas, quais os transtornos que esse desequilíbrio pode causar
no desenvolvimento do indivíduo e como podemos estimular a criança para o
processo ensino-aprendizagem. A criança deve ser vista sob três dimensões: a
corporal, a afetiva e a cognitiva, que devem se desenvolver simultaneamente.
Se uma estiver sendo desenvolvida em detrimento da outra, certamente
haverá um desequilíbrio do indivíduo em sua dimensão global. A criança utiliza,
de forma eficiente, os sentidos, e cabe a nós, educadores, vê-la como um ser
completo, porém inexperiente, que temos de trabalhar e a quem precisamos
propiciar oportunidade de pleno desenvolvimento. Se o educando mudou,
igualmente o educador precisa mudar. Os métodos tradicionais de ensino não
atraem mais a criança: ela quer participar, questionar e não consegue ficar
parada horas a fio, sentada, ouvindo uma aula expositiva. A criança da
atualidade é extremamente questionadora e não engole os conteúdos
despejados sobre ela sem saber o “porquê” ou “para quê”. Portanto, o
professor deve saber como a criança aprende e como ensinar. É muito mais
fácil e eficiente aprender por meio de jogos. E isso é válido para todas as
idades, desde o maternal até a fase adulta. O jogo em si possui componentes
do cotidiano, e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz, que se torna
sujeito ativo do processo; a confecção dos próprios jogos é, ainda, muito mais
16

emocionante do que apenas jogar. Muitos jogos ganham motivação especial


quando a criança os confecciona. As crianças devem iniciar o trabalho por
meio da escolha, o que é algo muito difícil para algumas. Aquelas crianças
muito tímidas, com baixa auto-estima, com sentimentos de inferioridade,
possuem grande dificuldade para escolher. Crianças que não conseguem
superar, nas séries iniciais, suas dificuldades de aprendizagem ou emocionais
vão, a cada ano, carregando um sentimento de frustração e, muitas vezes,
discriminadas pelos colegas e, às vezes, até pelos professores, tornam-se
crianças arredias e relaxadas com seu material, não se relacionam consigo
mesmas e nem com os demais, criando sérios problemas de indisciplina em
sala de aula. Para a criança, o jogo é o exercício, é a preparação para a vida
adulta. A criança aprende brincando através de jogos que a fazem desenvolver
suas potencialidades. O professor pode adaptar o conteúdo programático ao
jogo, onde estará trabalhando a motricidade, a área cognitiva e afetiva de seus
alunos. Ao inter-relacionar diversas áreas de conhecimento, o professor atende
às necessidades do educando de modo que o mesmo seja sujeito ativo do
processo ensino- aprendizagem.
17

CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-


AFETIVO ATRAVÉS DOS JOGOS E BRINCADEIRAS
“O nascimento e desenvolvimento do
universo são o jogo de uma criança que move suas peças num
tabuleiro. O destino está numa criança que brinca”.

Heráclito
Fragmento 52

Os jogos da criança pequena são fundamentais para o seu desenvolvimento e


para a aprendizagem, pois envolvem diversão e ao mesmo tempo uma postura
de seriedade. A brincadeira é para a criança um espaço de investigação e
construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo. Brincar é uma
forma de a criança exercitar sua imaginação. A imaginação é uma forma que
permite às crianças relacionarem seus interesses e suas necessidades com a
realidade de um mundo que pouco conhecem. A brincadeira expressa a forma
como uma criança reflete, organiza, desorganiza, constrói,destrói e reconstrói o
seu mundo.
Bruno Bettelheim, fala que a brincadeira é uma ponte para a realidade e que
nós, adultos, através de uma brincadeira de criança, podemos compreender
como ela vê e constrói o mundo: quais são as suas preocupações, que
problemas ela sente, como ela gostaria que fosse a sua vida. Ela expressa o
que teria dificuldade de colocar em palavras. Ou seja, brincar é a sua
linguagem secreta que devemos respeitar mesmo que não a entendamos.

O brincar é um direito assegurado na Constituição Federal do Brasil. É uma


necessidade para as crianças, pois é fundamental para o seu desenvolvimento
psicomotor, afetivo e cognitivo, sendo uma ferramenta para a construção do
seu caráter.
O desenvolvimento psicomotor é a base de sua relação com o mundo, pois é
através de seu corpo que ela vai se relacionar consigo mesmo, com os outros,
18

com os objetos, enfim, com o mundo ao seu redor. O jogo através do


desenvolvimento psicomotor contribui para as relações entre a psiquê e o
motor, promove a união entre a ação e o pensamento, assim é uma atividade
integradora do corpo como um todo, não segue o modelo cartesiano de divisão
corporal.
O fator afetivo inclui os relacionamentos intra e inter pessoais; ao brincar a
criança vai experimentar diversas situações, positivas (quando vence uma
brincadeira, alcança um objetivo, entra em acordo com os colegas, etc.) e
negativas (perde alguma atividade, não consegue realizar o esperado, entra
em conflitos com os colegas, etc.) e é através destas situações que a criança
aprenderá a conviver com os outros.
Por fim, o aspecto cognitivo se refere ao desenvolvimento do intelecto durante
as atividades lúdicas. As crianças aprendem brincando, aumentam seu
conhecimento através dos parceiros e podem vivenciar a aprendizagem.
Quando a criança busca superar situações desagradáveis. É como se ela
zombasse de suas próprias limitações e as enfraquecesse. Em cada momento
do seu processo de desenvolvimento, a criança utiliza-se de instrumentos
diferentes e sempre adequados às suas condições de pensamento. À medida
que ela cresce, as brincadeiras modificam-se, evoluem.
Existem diferentes tipos de jogos. Jogos de exercícios ou jogos funcionais.
Têm início aproximadamente aos quatro meses de idade, quando a criança
começa a ter uma melhor coordenação da visão e da apreensão. Os jogos de
exercício envolve ações mentais, isto é, o pensamento, como acontece nos
jogos de combinações de palavras. EX: “Hoje é domingo pede cachimbo...”, ou
“Um, dois, feijão com arroz...” Essas atividades lúdicas não necessitam de
qualquer técnica particular, são simples exercícios.
Os jogos de manipulação são praticados a partir do contato da criança com
diferentes materiais, movidos pelo prazer que a sensação tátil proporciona.
Os jogos de construção acontecem quando a criança faz ordenações sobre os
objetos. São responsáveis por aquisições para o desenvolvimento motor e
intelectual da criança, tais como classificação, a seriação, o equilíbrio, as
noções de quantidade, tamanho e peso, bem como a discriminação de formas
19

e cores.
Os jogos simbólicos também chamados de “faz-de-conta”. Por meio deles, a
criança expressa a sua capacidade de representar dramaticamente. Entre 1
ano e meio e 3 anos de idade, a criança começa a imitar suas ações cotidianas
e passa a atribuir vida aos objetos.
No jogo de “faz-de-conta”, a criança experimenta diferentes papéis sociais,
funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos.
Dos 4 aos 7 anos, a busca pela aproximação ao real vai caracterizar os jogos
simbólicos. A criança desejará imitar de forma mais coerente.
Nos jogos de regras é necessário que haja cooperação entre os jogadores e
isso exige, certamente, um nível de relações sociais mais elevados. As
brincadeiras e os jogos são espaços privilegiados para o desenvolvimento
infantil e para a sua aprendizagem.
Cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil, o
professor deve elaborar propostas de trabalho que incorporem as atividades
lúdicas. Deve também, propor jogos e brincadeiras. Não há necessidade de o
jogo ser espontâneo, idealizado pela criança. “O que faz do jogo um jogo é a
liberdade de ação física e mental da criança nessa atividade”. (BRASIL, 1995b,
p.103).
Para que um professor introduza jogos no dia-a-dia de sua classe ou planeje
atividades lúdicas, é preciso, que ele acredite que brincar é essencial na
aquisição de conhecimentos, no desenvolvimento da sociabilidade e na
construção da identidade.
Existem funções diferenciadas que podem ser assumidas pelo professor,
conforme o desenrolar da brincadeira, a função de observador, na qual o
professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a segurança
e o direito à livre manifestação de todos, a função de catalisador (perceber),
procurando, através da observação, descobrir as necessidades e os desejos
implícitos na brincadeira, para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade e
a função de participante ativo nas brincadeiras, quando como um mediador
das relações que se estabelecem e das situações surgidas.
A comunicação corporal é carregada de valores e componentes emocionais,
20

isto é, a expressão do imaginário consciente e inconsciente. O gesto, o olhar, o


tônus muscular falam de sentimentos, medos, desejos e conflitos. A
Psicomotricidade, como a própria palavra denota, tenta romper a dialética
cartesiana corpo x mente.
Segundo Le Boulch, a educação do movimento com atuação sobre o intelecto,
numa relação entre pensamento e ação, que engloba funções neurofisiológicas
e psíquicas. Assegura o desenvolvimento funcional, tendo em conta as
possibilidades da criança e ajuda a sua afetividade a se expandir e equilibrar-
se, através do intercâmbio com o ambiente humano.
O corpo e a aprendizagem caminham juntos. “É através do corpo que o
indivíduo entra em contato com o conhecimento”. (Vieira, 2003) É uma
ferramenta eficaz no processo de desenvolvimento psicomotor, afetivo,
cognitivo e social do ser humano. Não possui objetivos pedagógicos diretos,
mas interfere de forma clara sobre as dificuldades social e escolar, na medida
em que visa proporcionar o equilíbrio e ajustamento global, através do corpo
psicossomático.
O desenvolvimento psicomotor engloba em si, a inter-relação do
desenvolvimento motor, do psiquismo e da inteligência. O ato motor isolado
não tem significado. Este desenvolvimento é adquirido numa seqüência de
etapas que começa com a aquisição do esquema corporal. Através dessa
noção, a criança vai desenvolvendo a consciência do próprio corpo e das
possibilidades de expressar-se por meio dele.
Conforme Ajuriaguerra: “A criança é o seu corpo, pois é através dele que ela
elabora as suas experiências vitais e organiza sua personalidade”.
A organização do esquema corporal se dá através das sensações e
percepções oriundas do próprio corpo e na troca de relação com o corpo do
outro.
Na etapa seguinte, a criança adquire noções de lateralidade, que consiste na
consciência perceptiva de que os membros não reagem da mesma forma, e
que existe um lado dominante, ou seja, que na realização das atividades
utilizamos um lado do corpo (direito ou esquerdo) com maior proficiência que o
outro. A criança deverá ser levada a perceber o seu lado dominante, e que se
21

utiliza do lado direito e esquerdo do corpo simultaneamente, mas que o lado


não dominante, somente ajuda o trabalho do outro lado.
A seguir observamos a aquisição da estruturação espacial, que “é a
orientação, a estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiro ao eu
referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em
movimento”. (J. M. Tasset).
Dizemos que a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em
um meio ambiente, isto é do lugar e da orientação que pode ter em relação às
pessoas e coisas, e também da consciência da situação das coisas entre si. É
a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca.
Organizar as coisas entre si, colocá-las em um lugar, movimentá-las. Perceber
diversas formas, grandezas, quantidades (enfileirar de forma crescente ou
decrescente). Nessa etapa, insere-se também as noções de frente, atrás, em
cima, embaixo etc.; bem como de direção gráfica ( situar um objeto segundo a
colocação ordinal).
A orientação temporal é uma noção mais elaborada e exige da criança um
desenvolvimento mais avançado, pois é necessário uma conscientização e
conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo.
Ainda nesta etapa destacamos o ritmo, que abrange a noção de ordem, de
sucessão, de duração, de alternância. O trabalho desta etapa inicia-se pela
percepção do ritmo interno, de ritmos externos e, por último, a percepção e
reprodução de estruturas rítmicas.
O último procedimento consiste na aquisição do desenho e do grafismo.
Através do desenho e do grafismo a criança tem a oportunidade de expressar
sua visão de mundo, a passagem do sonho para a realidade.
Consiste ainda numa aprendizagem real da manipulação do lápis (motricidade
fina). Seu domínio progressivo prepara a criança para a escrita.
Entraves na aquisição destas etapas podem ocasionar dificuldades
relacionadas ao desempenho motor, afetivo, cognitivo e social; e são
detectadas principalmente durante a escolaridade.
Estas atividades são desenvolvidas através de trabalhos práticos, utilizando-se
sempre da ludicidade, a qual permeia toda infância. O brinquedo é a essência
22

da infância; é o veículo do crescimento. É um meio natural que possibilita a


criança explorar o mundo, descobrir-se, entender-se, conhecer os seus
sentimentos, as suas idéias e a sua forma de reagir.
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona
idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas
compatíveis com o seu crescimento físico e o seu desenvolvimento global.
O jogo e a brincadeira exigem movimentação física, envolvimento emocional e
provoca desafio mental. Neste contexto, a criança só ou com companheiros
integra-se ou socializa-se. O movimento resulta da expressão interna de um
organismo que, vivo, se expressa.
Segundo Kishimoto (1996), “... os jogos colaboram para a emergência do papel
comunicativo da linguagem, a aprendizagem das convenções sociais e a
aquisição das habilidades sociais.”
A evolução da brincadeira está intimamente relacionada com a aquisição da
linguagem, a maneira como a criança brinca pode ser importante modo de
avaliação do desempenho infantil. “As brincadeiras podem ser o elemento
chave para a estimulação linguística.” (Kishimoto, 1994).
Os jogos e as brincadeiras, apresentam uma evolução que acompanha o
desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança.
Para Goldfeld (2004), Fonoaudióloga e Doutora em Distúrbios da
Comunicação Humana, a evolução dos jogos e brincadeiras segue uma
cronologia que inicia-se com brincadeiras do tipo motora e de construção, os
quais seguem a motivação de estímulos externos.
Segue-se então, as brincadeiras plásticas, que consistem na manipulação de
plasticina, pintura, argila etc., na tentativa de representar os objetos do mundo
adulto.
Após, inicia-se o período de brincadeiras projetivas ou “jogos de enredo”, nos
quais as regras sociais estão presentes. A criança tenta imitar situações
vivenciadas no seu dia a dia, utilizando para tal suas lembranças. Através de
objetos em miniatura utilizados no cotidiano, ela brinca de “casinha”, “mãe e
filha” e etc. Nesta fase, ela brinca com mediação, sozinha ou ao lado de outra
criança sem, no entanto, interagir com a mesma.
23

Num segundo momento, ela se utiliza do “faz-de-conta”, que para Vygotsky e


Kishimoto, são de maior importância e tipicamente infantis. A presença da
situação imaginária é o que distingue a brincadeira de outra atividade.
Outra característica desta brincadeira é a dissociação do significado do objeto.
A criança sente a necessidade de representar o mundo adulto em suas
brincadeiras, mas na impossibilidade de manipular os objetos pertencentes a
este mundo, ela utiliza artefatos substitutos para representar os do mundo
adulto (como por exemplo, a utilização de uma caixa de fósforos no lugar de
um barbeador). É importante ressaltar que os artefatos substitutos permitam a
realização dos mesmos gestos dos objetos reais.
Esta é a fase do egocentrismo, do uso da fala e de histórias. A criança brinca
com mediação, sozinha ou junto aos colegas.
Num terceiro momento, fase descrita como devaneio, não há fala social e nem
a presença do objeto. A linguagem interior é marcante.
“O conhecimento deixa de estar preso ao aqui e agora, aos limites da mão, da
boca e do olho e o mundo inteiro pode estar presente dentro do pensamento,
uma vez que é possível ‘imaginá-lo’, representá-lo com gesto no ar, no papel,
nos materiais, com os sons, com palavras.” Dias, in Kishimoto (1996).
Numa etapa posterior, a criança entra na fase dos jogos com regras, os quais
as regras são arbitrárias, e não mais sociais. A criança que brinca de pique-
esconde, precisará conhecer todas as normas para participar do jogo, e isto só
é possível em torno dos cinco/seis anos, pois a criança menor infringe as
regras.
“Dominar as regras, significa dominar seu próprio comportamento, aprendendo
a controlá-lo, aprendendo a subordiná-lo a um propósito definido.” Leontiev
(1988).
Segundo Vygotsky, a última categoria são os jogos limítrofes, ou seja, o teatro,
os esportes e os jogos didáticos.
É inquestionável o papel da linguagem na evolução do brinquedo. A linguagem
é altamente propícia para evocar e criar situações. Linguagem e brinquedo se
desenvolvem ao mesmo tempo e se influenciam mutuamente. A situação de
brinquedo abre espaço para a linguagem fluir, como que solicitando todos os
24

recursos representativos. Por outro lado, a linguagem reforça o simbolismo do


brinquedo, na medida em que o sustenta e o dirige.
O jogo é importante para o indivíduo dando a possibilidade de se expressar
graças à prática lúdica. A brincadeira infantil possibilita com que a criança lide
com a fantasia, com o medo, com a imaginação e com o faz-de-conta. Junto
com o processo de formação da personalidade constrói a sua identidade.
Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu
lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades
privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e tem um significado.
CAMARGO (2002) afirma que o brincar, a diversão e o lúdico são traços de
todas as sociedades conhecidas, em todas as épocas da História, e podem
acontecer com qualquer momento do cotidiano dos indivíduos, estejam eles
trabalhando ou estudando.
As crianças passam por um período que é caracterizado por aumentos lentos,
porém estáveis, na altura e no peso, e por um progresso em direção à maior
organização dos sistemas sensorial e motor. Esse lento período de
crescimento permite à criança acostumar-se ao seu corpo, fator importante na
melhoria da coordenação e no controle motor durante a infância.
Se não tiverem oportunidade para prática, instrução e encorajamento, nesse
período, muitos indivíduos não vão poder adquirir as informações motoras e
perceptivas necessárias para desempenhar eficientemente atividades motoras.
A criança, cognitiva e fisicamente normal, progride de um estágio a outro, de
maneira seqüencial, influenciada tanto pela maturação quanto pela
experiência.
Condições ambientais incluindo oportunidades para a prática, o encorajamento
e instrução são cruciais para o desenvolvimento de padrões amadurecidos de
movimentos fundamentais.
FREITAS e FREITAS (2002) consideram o movimento como um elemento
essencial na aprendizagem, visto que é através dele que o ser humano explora
o ambiente. Disso se poderá facilmente concluir que quanto mais experiências
motoras tiver uma criança, melhor e mais sólido será o seu desenvolvimento.
25

Segundo GOMES et al. (2001), é de grande importância que a criança tenha o


maior número de experiências e de formas diversificadas de movimento.
A relação entre cada ser e o exterior se materializa com base em
manifestações motoras. GOMES et al. (2001), enfatiza que os jogos e
brincadeiras têm um caráter de diversão e espontaneidade, sendo incentivado
o brincar das crianças, tarefa essencial do educador. As brincadeiras
estimulam a imaginação, geram um sentimento de felicidade e auto- estima. A
afetividade, a interação social e o processo cognitivo será considerados no
decorrer das aulas. Uma das metas fundamentais expostas é promover a
autonomia dos alunos e valorizar o universo da cultura lúdica.
26

CAPÍTULO III

A LÚDICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

As experiências lúdicas de uma criança, desde bebê, vão lhe sofisticando as


representações do seu universo social. Pelo brinquedo acontecem as
adaptações, os acertos e erros, as soluções de problemas é que vão tornar-
lhe sujeito autônomo.
A natureza da criança é lúdica, de movimento, de curiosidade, de
espontaneidade. Negar esta natureza é negar a própria criança.
Ao se observar uma criança brincando, verifica-se o quanto se concentra no
que está fazendo. Naquele momento, ela incorpora as suas fantasias e
reproduz cenas do seu cotidiano, que tanto pode ser violento, tenso e cheio de
privações, quanto alegre, terno e prazeroso.
Através do “faz-de-conta” a criança pode liberar sonhos ou medos partindo em
busca de um lugar de pertinência familiar e social, pela construção do seu
próprio ego.
Uma criança com possibilidades lúdicas variadas terá mais riqueza de
criatividade, relacionamentos, capacidade crítica e de opinião. O contato, a
exploração do meio a ambiente, brinquedos, expressão musical, artes, dança,
teatro e vivências corporais ampliam sua visão de mundo na medida que com
ele interage. Assim sendo, ela própria vai instituindo seus limites, desafios e
criando novos brinquedos.
Muitos autores contemporâneos definem o lúdico como um estado de prazer,
com razão própria de ser, contendo em si mesmo o seu objetivo. As crianças
brincam por brincar, seu interesse vem de uma motivação interna de
curiosidade e experimentação, podem se sujeitar às regras externas, mas
jamais vão brincar sem desejo.
27

Santo Agostinho em “Confissões”, já referenciava o lúdico como


eminentemente educativo no sentido em que constituí a força impulsora de
nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, princípio de toda a
descoberta e de toda a criação (Correio da UNESCO, 1991).
A visão de lúdico e a importância do ato de brincar já eram valorizadas na
Antigüidade, ultrapassou os tempos, permanece nas culturas, mantendo-se os
jogos e as brincadeiras de caráter universais. Existem referências do século I
dC. de utilização de jogos e brinquedos como cavalo de pau, par ou impar,
cara ou coroa, carrinhos de madeira, montagem de casinhas (Medeiros, 1975).
Na França, 1601, já eram relatadas as brincadeiras que Luis XIII utilizava na
primeira infância: o cata-vento, o pião, as cartas, o xadrez, miniaturas de
madeira e jogos de bola.
As crianças do oriente ou ocidente brincam dos mesmos brinquedos. A pipa,
as rodas cantadas, o cabo de guerra, as sapatas ou amarelinhas. Existem
algumas brincadeiras mais regionais pelas características do clima, relevo e
cultura.
Com a modernidade e a era da informática os brinquedos virtuais aparecem,
tomando conta de quase que todo o tempo livre das crianças. Não cabe negá-
los, mas não deixar de possibilitar vivências lúdicas corporais em vários
ambientes e espaços, com materiais e equipamentos múltiplos, que vão
efetivamente, contribuir no desenvolvimento infantil.
O que diferencia o homem das outras espécies é a sua imaturidade
neurológica e funcional, uma vez que nasce despreparado até para respirar.
Diferentemente dos outros animais, ele precisa amadurecer dos atos reflexos
aos conscientes e dirigidos. Nas relações sociais, ele sai da simbiose materna
para individualidade e vida em grupo. Mas o fantástico da vulnerabilidade de
maturação do homem, nos primeiros anos de vida, é que esta vai permitir-lhe
possibilidades imensas de adaptações, criações, associações, resoluções de
problemas e interferências no seu cotidiano.
A evolução da criança tem duas origens: filogenética - a da espécie humana, e
ontogenética - maturação biológica (neuropsicomotora). Para ao
desenvolvimento pleno, necessita de mediatização adequada do adulto e da
28

cultura social. Assim sendo, a interação dinâmica e perpétua entre maturação


biológica (natura) e relação com o meio, com os objetos e com o outro
(cultura), que, na primeira infância, é praticamente por via lúdica, é que vai
propiciar seu o desenvolvimento total.
De acordo com Bousquet,(1991) impulso lúdico -também chamado de impulso
de curiosidade ou de exploração- dá à espécie e ao indivíduo, evidente
vantagem de seleção natural; afirma também, que a capacidade e o hábito de
explorar, ao acaso, o meio ambiente resultam em situações de instrução e
enfrentamento de imprevistos.
Uma criança ao entrar no universo do brinquedo estará vivenciando e lidando
com a sua própria estruturação e desenvolvimento da inteligência.
No primeiro período de vida, que vai do nascimento até o surgimento da
linguagem, é chamado por Piaget, do ponto de vista da inteligência, de
sensório-motor. Nele podem ser distinguidos três estágios: o dos reflexos, o da
organização das percepções e hábitos, e o da inteligência propriamente dita.
Cronologicamente, esse período é sucedido por outro que engloba as idades
entre um e dois anos de idade aproximadamente que é chamado de latência, a
fase de “fazer”, nela o brinquedo serve para manipular, explorar, imitar,
centrado na própria criança.
A partir da aquisição da fala, que normalmente ocorre por volta de um ano e
seis meses a dois anos, a criança ingressa no período simbólico, também
chamado de primeira infância, período pré-operatório ou intuitivo.
É nesse momento que, segundo Le Boulch, surge à função de interiorização
permitindo à criança conscientizar-se de aspectos de seu corpo e exprimi-los,
verbalmente, através da função simbólica. O indivíduo começa a representar
as ações que vive no mundo. Nessa fase em que não consegue resolver
problemas mentalmente, vai fazê-lo corporalmente.
Na primeira infância a criança vai se desenvolvendo em termos qualitativos, de
elaboração do pensamento, pelo processo simbólico, sendo que o brinquedo e
o faz-de-conta vão auxiliar na estrutura da compreensão de realidade, de
tempo, de objeto, do espaço, e da causalidade. Aos poucos vai substituindo o
concreto pelo abstrato, podendo usar suas representações mentais para
29

interagir no mundo de relações e lhe dar suporte para maturação mental,


afetiva e social. É o tempo de fazer e compreender.
Por volta dos a seis aos sete anos a criança começa a fase de cooperação e
raciocínio lógico, que é denominado operatório-concreto. Ela é capaz de
resolver problemas e relacionar-se com o outro, embora ainda esteja ligada
aos limites da prática e do concreto.
O brinquedo passa a ser mais elaborado, sendo o indivíduo capaz de aprender
e criar estratégias e regras dos jogos, explorar situações e desafios, usar o
corpo com destreza, representar situações do cotidiano ou de fantasia.
Quando a criança atinge a faixa etária entre dez e doze anos inicia a fase da
adolescência caracterizada pela introdução do indivíduo no período operatório-
formal ou hipotético-dedutivo, sendo mundo dos sistemas e teorias. Nessa
ocasião ele rompe as barreiras da realidade concreta e da prática atual,
passando a e interessar-se por problemas hipotéticos.
O brinquedo na adolescência esta mais voltado para jogos desportivos,
competições, desafios, testes de habilidades físicas e intelectuais.
Nas primeiras fases de maturação da criança e jogo servem como um dos
principais suportes de formação da inteligência, personalidade, coordenação
psicomotora e auxiliam nas relações com o meio, com os objetos e o outro.
Quando toda a criança indiscriminadamente puder brincar em espaços
alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de
várias faixas etárias, descobrir o novo, manipular e construir brinquedos,
desafiar seus limites, constituir regras, ser intuitiva e espontânea
transformando-se em bruxa, Super-homem, batman, rainha...-estará se
atingido o principal objetivo que é o de fazer com que ela incorpore a sua
essência e constitua-se num sujeito mais inteligente e social.
Cabe às famílias, escolas e instituições que atuam na fase da infância
responsabilizar-se pela disponibilização de espaços que darão oportunidades
para o desenvolvimento de projetos e programas lúdicos para o mundo infantil
que, por natureza, é infinitamente rico, criativo, curioso e investigatório de
conhecimento, possibilitando crianças mais felizes integradas na sociedade.
30

O lúdico é um importante componente na aprendizagem. É pelo lúdico e com o


lúdico que o sujeito vai se construindo e se apropriando da realidade, tecendo
suas relações sociais e exercitando-se de corpo inteiro. Na vivência lúdica
experimenta situações novas, desafios, aventuras. No espaço lúdico ele
também vai formando seus conhecimentos, vai somando aquisições de
valores, aprendendo limites, trabalhando a auto-estima, além de superar seus
medos e adquirir autoconfiança.
31

CONCLUSÃO

O jogo é a mais importante das atividades da infância, pois a criança


necessita brincar, jogar , criar e inventar para manter seu equilíbrio com o
mundo. Convivemos dentro das escolas com certos preconceitos, entre eles o
de que jogar e brincar são atividades reservadas somente para o horário do
recreio; em sala de aula é necessário ter seriedade. Mas há professores que
afirmam serem o jogo e a brincadeira “enrolação de tempo”. Porém, mal
sabem eles que todos os jogos, por sua própria essência, são educativos e
contribuem para o desenvolvimento infantil. Jogar é uma função indispensável
à criança. Jogar com ela, deixá-la jogar com seus parceiros e em grupos é um
compromisso que todo educador deveria ter, uma vez que o jogo favorece o
seu desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo. O jogo, como proposta
pedagógica em sala de aula, proporciona a relação e a interação entre os
parceiros. Durante a brincadeira, a criança estabelece decisões, resolve seus
conflitos, vence desafios, descobre novas alternativas e cria novas
possibilidades de invenções.O jogo passa a ter mais significado quando o
professor proporciona um trabalho coletivo de cooperação e socialização. Isso
dá oportunidade às crianças de construírem os jogos, de decidirem regras, de
mostrarem como se joga, de perceberem seus limites através dos direitos e
deveres e de aprenderem a conviver e a participar, mantendo sua
individualidade e respeitando o outro. Em outras palavras, através do jogo a
criança desenvolverá a capacidade de perceber suas atitudes de cooperação,
oferecendo a ela própria, que está em formação, oportunidades de descobrir
seus próprios recursos e testar suas próprias habilidades, além de aprender a
conviver com os colegas nessa interação. É, também, na atividade lúdica que
pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte de sua realidade
interior. Na brincadeira, a criança aprende a se conhecer melhor e a aceitar a
existência do outro, organizando, assim, suas relações emocionais e
estabelecendo relações sociais. Educadores e pais necessitam ter clareza
quanto aos brinquedos, brincadeiras e/ou jogos que são necessários para a
criança: precisam saber que trazem enormes contribuições ao
32

desenvolvimento da habilidade de aprender a pensar. No jogo, ela está livre


para explorar, brincar e/ou jogar com seus próprios ritmos para auto controlar
suas atividades. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e
brincadeiras na prática pedagógica pré-escolar é uma realidade que se impõe
ao professor. Brinquedos não devem ser explorados só como lazer, mas
também como elementos bastante enriquecedores para promover a
aprendizagem.
Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que
traz enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender
a pensar, para o desenvolvimento motor e sócio-afetivo.
33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AJURIAGUERRA, J. A escrita infantil: evolução e dificuldades. Porto Alegre:


ArtesMédicas, 1988.

ARAÚJO, V.C. O jogo no contexto da educação psicomotora. São Paulo:


Cortez, 1992.

BOMTEMPO, E. Aprendizagem e brinquedo. In: G.P.Witter e J.F.B. Lomônaco


(orgs). Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1987

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular


Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BROUGÉRE, G. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez Editora, 1997.

BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria & prática. São Paulo: Lovise, 1998.

Fonseca, Vitor da, Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese/


Vitor Fonseca 2. ed.rev.e aum., Porto Alegre, Arte Médicas, 1998.

Freire, João Batista, Educação de corpo inteiro: teoria e prática da


educação física, São Paulo, SP, Scipione, 1991.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar: Crescer e Aprender: o resgate do jogo infantil.


São Paulo: Melhoramentos, l996.

FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO. Professor da pré-escola. 2ª ed. São


Paulo: Globo, 1992.

KISHIMOTO (1990) O brinquedo na educação: Considerações históricas. IN: O


cotidiano na pré-escola, nº7, São Paulo, FDE, 1990.

KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez,


1997.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
34

OLIVEIRA, Fátima. Bioética: uma face da cidadania. São Paulo: Moderna,


1997.

OLIVEIRA, V.B (org) O brincar e a criança do nascimento aos seis anos de


idade. Petrópolis: Vozes, 2000.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem


e representação. 3ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

Revista Correio da UNESCO, julho de 1991. Brincadeiras e jogos” n


170.p.5 ,artigo “Um Oásis de felicidade”, de Martine Mauriras-Bouquet/ p
14, Um impulso vital. de Chalva Amonachvili

ROSA, A.P.; NISIO, J. di. Atividades lúdicas: sua importância para


alfabetização. Curitiba: Juruá, 2002.

VYGOTSKI, L.S. A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes,


1991.

WAJSKOP, G. O Brincar na Educação Infantil. Cadernos de Pesquisa, 92, 62-


69, 1995
35

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I
(A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA
ED. INFANTIL). 10
CAPÍTULO II
(DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E
SÓCIO-AFETIVO) 17
CAPÍTULO III
( A LUDICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL) 26
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33
ÍNDICE 35
36

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A importância dos jogos e brincadeiras para o


desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo na educação infantil.

Autor: Sabrina Pontes Costa

Data da entrega: 28/07/07

Avaliado por: Conceito:

Você também pode gostar