Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net
Prescrição Penal
Tipos de prescrição
1. Introdução.
Advindo o fato delituoso nasce para o Estado o ius puniendi. Esse direito, que se
denomina pretensão punitiva, faz com que o Estado estabeleça critérios limitadores para o
exercício do direito de punir, e, levando em consideração a gravidade da conduta delituosa e da
sanção correspondente, fixando prazo dentro do qual o Estado estará legitimado a aplicar a
sanção penal adequada.
Exaurido o prazo que a própria lei estabelece, observadas suas causas modificadoras,
prescreve o direito estatal à punição do infrator. A prescrição corresponde, portanto, à perda do
direito de punir pela inércia do Estado, que não o exercitou dentro do lapso temporal previamente
fixado.
A prescrição é causa extintiva da punibilidade prevista no art. 107, IV, primeira figura do
Código Penal, além de ter sido regulada pelos artigos 109 a 119 do mesmo diploma legal. Há
duas maneiras de se computar a prescrição: a) pela pena in abstracto; b) pela pena in concreto.
Nesse sentido confere o disposto na Súmula 146 do STF: “a prescrição da ação penal regula-se
pela pena concretizada na sentença quando não há recurso da acusação”.
O presente trabalho tem o escopo de trazer noções sobre esse instituto, sem a pretensão
de exaurir o tema, contudo, ao menos tentar um melhor entendimento aprimorando os
conhecimentos jurídicos na esfera penal.
2. Teorias justificadoras.
a) Teoria do esquecimento: baseia-se no fato de que, após o decurso de certo tempo, que
varia conforme a gravidade do delito, a lembrança do crime apaga-se da mente da sociedade,
não mais existindo o temor causado pela sua prática, deixando, pois, de haver motivo para a
punição;
b) Teoria da expiação moral: funda-se na idéia de que, com o decurso do tempo, o criminoso
sofre a expectativa de ser, a qualquer tempo, descoberto, processado e punido, o que já lhe serve
de aflição, sendo desnecessária aplicação da pena;
c) Teoria da emenda do delinqüente: tem por base o fato de que o decurso do tempo traz, por
si só, mudança de comportamento, presumindo-se a sua regeneração e demonstrando a
desnecessidade da pena;
d) Teoria da dispersão das provas: lastreia-se na idéia de que o decurso do tempo provoca a
perda das provas, tornando quase impossível realizar um julgamento justo, muito tempo depois
da consumação do delito. Haveria maior possibilidade de ocorrência de erro judiciário;
e) Teoria psicológica: funda-se na idéia de que, com o decurso do tempo, o criminoso altera o
seu modo de ser e de pensar, tornando-se pessoa diversa daquela que cometeu a infração penal,
motivando a não aplicação da pena.
Em verdade todas as teorias em conjunto, explicam a razão de existência da prescrição,
que não deixa de ser medida benéfica e positiva, diante da inércia do Estado em sua tarefa de
investigação e apuração do crime.
3. Espécies de prescrição.
Quando essa tiver como base a pena em abstrato, deve-se considerar para efeitos de
contagem do prazo prescricional o limite máximo previsto para a pena privativa de liberdade
cominada ao delito perpetrado (art. 109, caput, CP), verificando-se:
A prescrição da pretensão punitiva, por sua vez, subdivide-se em: prescrição abstrata,
prescrição retroativa e prescrição intercorrente.
Nesses termos, a prescrição retroativa pode ser considerada entre a consumação do crime
e o recebimento da denúncia, ou entre este e a sentença condenatória (art. 100, § 2º do CP). A
pronúncia, nos crimes contra a vida, também cria um novo marco interruptivo para a prescrição
retroativa. Para sua caracterização o seguinte deve ser examinado:
O decurso do tempo sem o exercício da pretensão executória faz com que o Estado perca
o direito de executar a sanção imposta na condenação. Os efeitos dessa prescrição limitam-se à
extinção da pena, permanecendo inatingidos todos os demais efeitos da condenação, penais e
extrapenais.
Neste caso, leva-se em conta a pena a ser virtualmente aplicada ao réu, ou seja, a pena que
seria, em perspectiva, cabível ao acusado por ocasião da futura sentença.
Dessa maneira, por uma questão prática, não haveria razão de se esperar o final do
processo, com o trânsito em julgado da pena inferior a 1ano, para, então, declarar extinta a
punibilidade pela ocorrência de prescrição. É o que julgamos mais justo e célere.
Aliás, quanto à posição dos que invocam o princípio da presunção de inocência, vale
ressaltar que os direitos e garantias fundamentais não podem servir de pretexto para prejudicar o
réu, pois constituem a sua proteção contra o abuso do Estado. Logo, é muito mais razoável
arquivar-se, de logo, o inquérito do que submeter o réu a longo processo para, ao final, ser
julgado e condenado – o que ficará inscrito na sua folha de antecedentes – para então constatar-
se a prescrição. Inexiste fundamento lógico para tanto.
Reconhecemos, no entanto, que, no Código Penal, não há amparo para tal modalidade de
prescrição, embora o legislador devesse cuidar dela no futuro, prevendo-a de maneira expressa.”
Dispõe o art. 111 quanto ao tempo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a
sentença final. “Art. 111 – A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a
correr:
A regra geral para o início da contagem do prazo prescricional é de que começa a ser
contado do dia da consumação do delito. Nos crimes formais ou de mera conduta, em que o tipo
descreve conduta e resultado, ou apenas, mas se satisfaz para sua consumação apenas com a
manifestação da atividade criminosa, a prescrição começa a correr do dia da prática da ação ou
da omissão. Nos crimes qualificados pelo resultado, o prazo é computado a partir do evento
lesivo qualificador.
Por ser matéria de Direito Penal, prevalece a regra do art. 10 CP, também para a
prescrição, incluindo-se na contagem do prazo, qualquer que seja, o dia do começo.
4.2. Da prescrição da pretensão executória.
O termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível é fixado pelo art. 112:
“No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:
Nessas hipóteses, o Estado já formou o seu título executivo, restando, apenas, executá-lo.
Quando o agente descumpre as condições sursitárias ou aquelas especificadas para o
cumprimento de seu livramento condicional, sendo revogados os benefícios legais, deverá
cumprir a pena que lhe foi aplicada na sentença penal condenatória.
No que diz respeito ao sursis, deverá cumprir integralmente a pena que lhe foi aplicada,
pois que esta se encontrava suspensa mediante determinadas condições. A partir da data do
trânsito em julgado da decisão que revogou o sursis, tem-se início o prazo prescricional, que será
contado considerando-se a pena privativa de liberdade cujo cumprimento havia sido suspenso
condicionalmente.
O inciso II cuida da hipótese em que a execução é interrompida, seja por exemplo, pela
fuga do condenado ou pelo fato de ter ele sido internado em razão de doença mental, ou seja, “o
dia da fuga é o termo inicial. Na segunda parte do inciso, dá-se diferente: sobrevindo doença
mental ou internação do sentenciado (arts. 41 e42 do CP), o tempo de interrupção da execução
será contado como de cumprimento de pena, não se podendo, por isso, correr o prazo de
prescrição de maneira simultânea” (José Cirilo de Vargas).
Havendo a fuga do condenado, a prescrição será contada pelo tempo restante de pena a
cumprir, de acordo com o art. 113 do CP.
5. Causas modificadoras do curso prescricional.
São aquelas que suspendem o curso do prazo prescricional que começa a correr pelo tempo
restante após cessadas as causas que a determinam. Na suspensão o lapso prescricional já
decorrido não desaparece, permanece válido. Superada a causa suspensiva, a prescrição
recomeça a ser contada pelo tempo que falta, somando-se com o anterior.
O art. 116 do CP trata das causas em que há suspensão do prazo da prescrição, que não
corre:
Suspende-se também o curso do prazo prescricional se o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado (art. 366, CPP, com redação determinada pela Lei
9.271/96). A expedição de carta rogatória para citação do réu no estrangeiro, em lugar sabido,
suspende o prazo prescricional até o seu cumprimento (art. 368, CPP, redação determinada pela
Lei 9.271/96). E durante o período de cumprimento da suspensão condicional do processo –
SURSIS – (art. 89, § 6º, Lei 9.099/95).
O parágrafo único do art. 116 do CP ressalva, ainda, que, depois de passada em julgado a
sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso
por outro motivo. Fica em suspenso. A previsão é lógica: enquanto se encontra preso, não pode
invocar a prescrição da pena que falta cumprir, pois sua condição de preso impede a satisfação
dessa pretensão executória.
Ao contrário do que ocorre com as causas suspensivas, que permitem a soma do tempo
anterior ao fato que deu causa à suspensão da prescrição, com o tempo posterior, as causas
interrruptivas têm condão de fazer com que o prazo, a partir delas, seja novamente reiniciado, ou
seja, após cada causa interruptiva da prescrição deve ser procedida nova contagem do prazo,
desprezando-se, para esse fim, o tempo anterior ao marco interruptivo (art. 117, § 2º, CP). O art.
117 do Código Penal, de forma taxativa, enumera as causas da prescrição.
A primeira hipótese é a consagrada no art. 117, I, que diz: “pelo recebimento da denúncia ou
da queixa”. Deve-se destacar que é exigido o recebimento, ou seja, a efetiva publicação do
despacho que recebe a exordial acusatória, e não somente o oferecimento da denúncia ou da
queixa. Poderá ser em 1º ou 2º(neste último caso se houver provimento do recurso da acusação
contra a rejeição do juiz), afinal, havendo pura rejeição da denúncia ou da queixa não se
interrompe o prazo prescricional. E se o recebimento ocorrer em 2º, prescinde-se o trânsito em
julgado e não se leva em conta a interposição de embargos infringentes para a interrupção ter
efeito.
O aditamento da denúncia para correção de irregularidade (art. 569, CPP), sem a inclusão
de fato novo, não interrompe a prescrição. Na hipótese de descrição de fato delituoso novo,
interrompe-se o curso do prazo prescricional. Todavia, a simples alteração de definição jurídica
do fato que importe aplicação de pena mais grave (art. 384, parágrafo único, CPP) não
interrompe o curso da prescrição. O aditamento da denúncia para inclusão de co-autor não
acarreta a interrupção da prescrição.
A impronúncia e a absolvição sumária, por seu turno, não têm o condão de interromper a
prescrição.
A terceira hipótese consagrada no art. 117, III é: “pela decisão confirmatória da pronúncia”.
A decisão da Instância Superior confirmatória da pronúncia ou mesmo a que pronuncia o réu em
razão de recurso também interrompe a prescrição. Há uma corrente majoritária que entende
mesmo havendo desclassificação pelo Tribunal do Júri, para competência do juiz singular, ainda
assim a pronúncia e a decisão que a confirma constituem causas interruptivas da prescrição.
Se, por ventura, a primeira sentença penal condenatória vier a ser anulada pelo tribunal,
deixará de interromper a prescrição. A interrupção ocorrerá com a publicação da nova decisão.
A segunda hipótese é a prevista no art. 117, VI: “pela reincidência”. Embora exista posição
contrária, a reincidência como marco interruptivo da prescrição da pretensão executória, tem o
poder de gerar tal efeito a partir da data do trânsito em julgado da sentença que condenou o
agente pela prática de um novo crime.
6. Comunicabilidade das causas interrupitivas.
Dispõe o art. 117, § 1º: “Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção
da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que
sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer
deles”.
Foi corrigido na reforma penal o lapso da lei anterior que não ressalvava a
incomunicabilidade da prisão de um autor como causa de interrupção da prescrição com relação
aos demais.
A Lei nº. 9268/96 deu a seguinte redação ao art. 114 do CP: “A prescrição da pena de multa
ocorrerá:
Segundo Cézar Roberto Bitencourt, “trata-se de uma inovação supérflua, que apenas
inovou para pior: de uma lado, a redação do inciso I já constava da redação anterior do art. 114;
de outro, a redação do inciso II constava do art. 118, que não foi revogado por tal lei. Tem o
mérito de deixar claro que a presença da multa continua sendo regulada pela Código Penal”.
Quando a pena de multa for a única que ainda não foi cumprida, o prazo prescricional
obedecerá ao lapso correspondente à pena privativa de liberdade com a qual a multa foi aplicada.
O lapso prescricional de dois anos tanto pode atingir a pretensão punitiva, quanto a
pretensão executória. Prescrevendo qualquer das pretensões estatais, seja punitiva, seja
executória a multa não poderá ser executada: estará igualmente prescrita, ao contrário de alguns
entendimentos já manifestados.
Nas leis de imprensa e de abuso de autoridade não se aplica a prescrição retroativa, pois
sempre, se atinge a pretensão punitiva no prazo mínimo de dois anos.
A nova Lei de Tóxicos (11.343/06) determina o prazo de dois anos para a prescrição da
pretensão punitiva ou executória nos crimes praticados por usuário de drogas descritos no art. 28,
caput, e § 1º, que não cominam pena privativa de liberdade, aplicando-se em relação às causas
interruptivas as regas previstas no Código Penal (art. 30).
Sendo omisso o Código Eleitoral a respeito da disciplina jurídica da prescrição penal, tem
esta, na própria lei penal comum, o seu específico estatuto de regência diante do que dispõe o
art. 12 do CP.
A Lei nº. 11.101/05, que revogou o Decreto-lei nº. 7.661/45, determina expressamente
aplicação das regras do Código Penal a respeito da prescrição nos crimes nelas previstos,
incluindo-se nestas as normas relativas aos prazos e termos interruptivos, mas, estabelecendo
como termo inicial do prazo prescricional a data da decretação da falência ou da concessão da
recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial e como causa
interruptiva especial nos dois últimos casos a decretação da falência (art. 182).
1 A fonte do artigo e informações do autor devem ser mantidas. Reprodução apenas na Internet.
Fernanda Moreira