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Poema Cames Amor fogo que arde sem se ver Amor fogo que arde sem se ver; ferida

ida que di e no se sente; um contentamento descontente; dor que desatina sem doer; um no querer mais que bem querer; solitrio andar por entre a gente; nunca contentar-se de contente; cuidar que se ganha em se perder;

querer estar preso por vontade; servir a quem vence, o vencedor; ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos coraes humanos amizade, Se to contrrio a si o mesmo Amor? Lus de Cames

Verdes so os campos Verdes so os campos, De cor de limo: Assim so os olhos Do meu corao. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Vero, E eu das lembranas Do meu corao. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento No no entendereis; Isso que comeis No so ervas, no: So graas dos olhos Do meu corao. Lus de Cames Transforma-se o amador na cousa amada Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; No tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela est minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcanar?

Em si smente pode descansar, Pois consigo tal alma est liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, Est no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matria simples busca a forma. Lus de Cames

Se tanta pena tenho merecida Se tanta pena tenho merecida Em pago de sofrer tantas durezas, Provai, Senhora, em mim vossas cruezas, Que aqui tendes u~a alma oferecida. Nela experimentai, se Desprezos, desfavores Que mores sofrimentos Sustentarei na guerra sois servida, e asperezas, e firmezas desta vida.

Mas contra vosso olhos quais sero? Forado que tudo se lhe renda, Mas porei por escudo o corao. Porque, em to dura e spera contenda, bem que, pois no acho defenso, Com me meter nas lanas me defenda. Lus de Cames

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