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MARIO FERREIRA DOS SANTOS ||) O HOMEM PERANTE | O INFINITO LL? edigfin, julho de 1956 2. edigho, janeiro de 1958 OBRAS DO AUTOR 8° edigio, Janeiro de 1900 “= *Fllogotia © Cosmovisio" — 4° ed. "Légion © Dialéctiea” — 4 ed. = *Paleologia” — 4 ea, — *Teoria do Conhosimento” — (Gnosiclogia e Criteriologia) — 8. ed. = *Ontologia © Cosmologin” — (Aw Citncias do Ser e do Cosmos) — wm Campo de Batatha” — (Prélogo de *Vontede de Nietzsche") — Eegoteda. — "Cure de Oratérin e Retétien” — 1.8 ed "0 Homem ae Naseau Péstumo” — 2 vols, — 29 ed. \ssim Falava Zaratustra" — (Texto de Nietzsche, com andlise sim- = Esgotada. — *Realidade do Homer” — (Com paeudnimo de Dan Andersen) — : Bsgotada, ie Dialdetiea do Mauxismo” — Eagotada, de Intogragio Pessoal" — 8.4 ed. alo de Heonomin" — (ei mimeogratada) — Esgotads. (Reaxposigio anslitics-didéticn do tex: tien dos mais fhmoso9 comentaris- bhat para eviler a estranheza que poses enusar a emmaervasco ile tal grafia, MARIO FERREIRA DOS SANTOS “Pritioaa de Oratiris” — 2" ed, "Assim Deus Fatoa aos Homens" — 2: ed. — "Vida néo € Angumento” — 2 ed “Certas Subtflezas Humanas” — 28 ed. = "A Luta dos Contrésios” — 2° ed, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A SAIR x "Bria db Sabir” — 8 vl, %‘Dicondro de Pintia¢ itslas Afi” — 6 vol | 5°05 Vernon Satie do Pégoras x "Toatado do Bodice Tondo de Equa i "Tein oval dan Tena Xone e Bina da Calera x sTratado Denials de Brom “Tend «Prolene dan Cit Soi X *AnTebe Gran te Kat 5 Hegel « inet ~ 54 vimos, Em face do mundo, o ser humano pri ante forgas adv Sua A obteneao de ios da existéncia, pOs-se a venerar, a prestar homenagens por palavras (logos), por atitudes, gestos, ademanes as fOrcas © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 35 ue le mi mente procurava dominar, ou desviar, ou ape- primarismo do homem nessa fase em que o8 poderes opositivos eram para éle motivo de terror. E terror e veneragdo aterrorizada foi a sua primeira ma- nifestagiio Mas tum poder do mal, h4 um poder do bem. Aterroriza-o o poder bom, Entre o terror ea sa- inido do temor, € iando a especulacio teolégica se forma, ¢ a eoneebida como mé, mas apenas como justa, é que a religido se torna e) are do amor, sem que os elementos de terror @ nismo) HA religizo do amor, indo 05 valdres positives, que sio jortanto, divinos, surger ao ho- 1e causa o terror @ 0 temor eésmicos, que déle se apossam ante a morte, ante o espago e ante o tempo, que jé se Ihe esbo- que nao pode veneer nem dominar. pendiamos as mala seguras 0 ygénese © Neoginese na “Novlogia” © vvem do grego daimon ¢, nesta époea, no ramente opositiva, pois um dafmon podia sor 36 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS nos factores emergentes, que so 8, com a contribuicao dos factires clamente construidos sobre aquéles, emprega a anallise das erengas religiosas, que ti © grande simbolizado, 0 Ser Supremv. © ser humano, tda a vez que nip pode resolver uma di fieuldade por melos téenicos, lane mao de, meios mi Na Téeniea, que & o emprégo jeneao de fins, adequads, pois pode grandes efei Nao hi sociedade sem Maxi ‘a relagdo entre ambas pode vai elas a desaparecer totalmente. ‘Veenica. No entanto, chegando nenhuma Na génese da igifo, no entanto, néo pertence apenas ao eampo his- 1, pois nela penetram os faetires emergentes, que jiondraicos ¢ 03 psicolégicos, que E nesses factores (examinados na "Deca é arte, em pensamento, em querer. Por isso, uma arte, sem um pensamento, ¢ gem um gu Estudemos agora ns diversas teorias sébre a origem da religiao, TEMA 1 ARTIGO 2 AS TEORIAS EVOLUCIONISTAS SOBRE A ORIGEM DA RELIGIAO samento cientifico no séeulo pasado, caracteriza- a tendéncia a reduzir as formas superiores gio dos povos inferioves, “a qual se ajuntaram novas contribuigdes especulativa: mano. Para os nuturalistas, a religiéo surge da personific fdas foreas da natureza, as quais sho adoradas, Daf, Augusto Comte admitir o fetichisn priméria de religiao (1). come & forms © fetichismo juleado pelos positivistas eomo 0 eulto mais is ta adoragio das colaas elementar do homem. Consist como sendo encarnacées de espiritos imagens que construimos possuem, em si uperior. Deus niv pode ser representado de estar em nenhuma hebitacho « 2 38 MARIO FERREIRA DOS SANTOS da polo homer. Deus esti no alto, ¢ bem no alto, e de 14 niio deste". E Trifles, citado por Foslguié, diz que um pigmeu, tecondo comentirios sobre essas coneepeses dos brancos, pro: nunciou estas palavyas: “Como devem ser estipidos os bran- cos para acreditarem que fossemos to estipid No enianto, se hi entro os adoradores de feitigos spenas 6 simbélico de fais coisas, hi, e sobret ados, os que acreditam em poderes feals sobrenatw Jmanentes a certas coisas (1). Convém notar que 08 pr ‘08 primitivos tém um pensamen- to predominantemente simbélico, E sentem com muito mais acuidade o simboto de que nés. B © que nos poética predominante em todos os simo érro julgar que @sses tichista t20 forte, como se pensa, nés que 0 simbolo é sempre rrioso, ao que est além de i rimitivos, e poderia ais tendemos & ic 2m um pensamento fe sm melhor do que ‘oculto, ao miste Com, Max da religto, © homer, ao contemplar o eft, a0 ver. os pla ‘tas, 08 mistérios que ceultam, a alternfincia do di presenga do sol, eda nolte, comm a presenea de Iva, a influén cia que o sol exeree em certos paises, e a da lua, predominante em outros, expli ia a formagio das religi iam, assim, de en 16 ligada a ésses vida, Nas regides, portantes, e como as fa Gela considerada a maior divindade; enquanto noutros, onde a, & ate 0 adorado, como eram de origem desen- papel evidentemente iGo egipela estructura-se nquanto as da Mesopotamia, em tdrno de em torno de © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 39 ‘Uma apreciagdo meramente superti ‘tes. Mas compreender-se simbalic éa ordem césmiea e no um ial leva a aceitar esta os a Thot (Hermes Trismesistos, desde logo, que io. B verdade rar que a maloria nao apreende esoti mente as religides, mas apenas exotéricamente atra polos e ndo dos referidos que éles apontam. Mas ha em las esas concepedes um qué de verdade, como teremos opor- ie de salientar em nossa andlise ducadialéetiea da re- sol 6 apenas ‘que se pode cor Outea concepeiio evolucionista 6 a do animismo, Enquan- to os naturalistas fundam a religito no culto das forgas da natures, 3 animistas fundam-na no conheeimento da alma humana, s mostrariam aos homens a presenga de um "du- plo”, um duplo subtil, animado, pois seus antepassados, j4 mor- tos, ‘surgiam vivos em sonho. Havia, assim, para éles, uma ja apos a morte. E mesmo quando’ sonhando sobre si mes mo, via-se 0 homem, em sonhos, percorrer eampos em felizes ou dosastrosas cacadas, viajando por regi6es desconhecidas, eoneluiu que havia néle um outro, um duplo, que podia sair do corpo ¢ dirigir-se a varias regides, bom como perdurar apés a morte, A aceitacko da imortalidade da alma, ou, pelo menos, de sua sobrevivencia a0 corpo, seria o ponto de partida para uma seqtigncia de especulacdes posteriores sébre a vida de -timulo e a estructuracio mais complexs, posterior, das Herbert Speneer chamou de maniamo (de manes, almas dos) 0 eulto que se preston aos antopassados, e u, através de rituais e priticas, a religiio. Sur- ge, dai, uma nova manifestacao do ev/ smo, culto @ eon ‘eep¢io que vem de eras primevas, que proclama que os deuses nada mais silo que herdis mortos, divinizados pelos povos. HG, assim, em tOda religiao, uma porsonifieagao da di- vindade, que assume caracteristicas semelhantes as do ser humane, 40. MARIO PEREIRA DOS SANTOS 0 no se observa entre os animais, que so ieanente semelhantes aos homens. A religiae 4, assim, ordem animal, iso, indo Durlcheim, € o eulto do totem (qui tempo), culto aos antepassados, que seria a grigem da religio, 0 totemismo seria a forma mais elemen- No entanto, Frazer nos mostra que o totem no 6 um deus nem € adorado'pelos indfgenas. é ‘ma verdadeira pratica religiosa, Se o indigena ge abstém de comer a carne do animal totem, também se abstém de comer seu pai e irmflos, acrescenta Frazer, fle ve no semeli a rior, nem tampouco tim mie e nfo tm sil disso, pode alegar-se que o totemismo, se é bas- tante difundido, nio é universal 108, efectuades por Andrew Lang, ¢ con- por muitos, que le impor uma hi sive nas da Mesopotamia, um ostudo cuidadoso dos textos, que sabram, vem em favor da tese do P. Schmidt, ‘Todos primitivos nos revelam a aceitagio de um se deve mais, como até hé pouco se fazia, laica, ja que o encontramos em todas as coneepgées esotéricas das réligiges, em todas as altas silica” aio oxaminados oe trabal © HOMEM PERANTE 0 INFINITO a 18 © até no pensamento esot tingente de magia, dos povos primitivos. brido de maior con- AN religifio deve ser considerada sob 2) como esotériea — pensamento das sempre monotefsta, que aceita um grande simbolizado, que b) ezotéricumente se manifesta através dos si confundidos como simbolizados, levam as formas id pulares, Ropri por Fo a0 livro a seguir ressivas € mrs de mes soixante ans d’apostola “Um indio de Mackensie disse-me um i de te ter visto, eu sabia que Deus existe”. — Como 0 sabins? Creio que fui o primeiry a te falar de Deus. « ® : "Padre, a1 — Na ve havia falado le — retrucon — antes de ¢ e contudo eu sabia que hi ‘Um dia, quando tinha eatorze on quinze anos, fui A caga jeu arco © minhas flechas. Conhecia os ‘bosques, os por onde havia passado, buscando matar alguma e dia, no vero, eheguei A borda de um lago cer lesciam sobre a Agua, o sol bri- 18; 14 Ionge, montanhas elevavam-se, a milo podia is corretamente, Mas, quando tu nos ensin pai todo poderoso, Griador do e6u e da ten logo © disse a mim mesmo: “Hilo; eu sabia TEMA 1 ARTIGO 8 FUNDO COSMICO DA RELIGIZO Fundando-nos na dialéctica ¢ na decadialéctica, torne-se facil colocar o tema da origem da religiiio em bases realmente Ha em todas as posigées filoséficas, nas suas afirmativas coneretas, uma positividade. Se considerarmos os factOres internos e externos, temos de classificar: Factéres internos (emergentes) : 0s colégiices, que estructuram 0 histérico-s0ei Se considerarmos 0s factéres externos, os predisponentes, temos 0 ecoldgico e o histérico-social. BionSmicamente, encontramos no terror e temor edemicos, que tam a sua origem mais profundamente vital, biolégiea, no Impeto de conservagao biolégien, uma origem do terror A mor- to, a0 desapareeimento, que aterroriza a todos os séres ani Ruperiores, sem que haja ainda nitidamente uma consciéncia Ga morte. Por outro lado, o estremecer do homem ante os pe rigos e os poderes superiores da natureza, explicam-nos facile Trente quanto ha désse temor e disse terror césmicos que néle ho manifesta ao enfrentar as forgas antag Como o ser humano & psiaui fo mais eomplexas, gragas & sua eapacidac Go esquemas, ésses temores e terrores se mat de uma eatharsie, que j4 tivemos oportunida a gue precipita, conseqiicntemente, a formagdo e sedimentagio Ga estractura histérico-soeial que aclua, por sua ver, como fac~ for predigponente, O temor e 0 médo, 0 pavor, terror ante (© desconhocido, sido estruc ‘em atiludes Gefensivas, em arte, em religigo, etc. Desta forma, as teres do naturalism, do evelucionisno, fo animismo, do evhemerismo, encontram alguns fundamentos 8 a : jeas, em seu sentido amplo, ex- onémicos © 08 psi- (0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO podem predispor & precipitagio désses esquemas na construgio de uma atitude de resp. dveas da natureza, e as teorias de Miller e a do sociologismo encontram, também, elem: coneretos para justifiearem suas posigdes Cometom elas 0 érro abstravionisla, quando negam, quane do excluem outros factores voorden Dastiares da realidad rel mamente racional), que ua poder tn Omalor de todos a fonte's origem dé Sidon © pensamento simbélieo dos homens primitivos, que véem oa presenga actual do. poder supremo, est em lugar de..., que 6 0 verdadeiro simbolo, leva-os a compreender, por um impulso io, que verm da raiz da vida e até de uma “, primeva e anterior a tudo, que ipremo preside a toda a existéncia 'a estructura; que &0 erfador, em sum, posterior do pensamento teolégica surg, 1, coadjuvada pelos métodos da filosofia, fobretudo os usados pela metafisiea, e se precipita num pen samento eoordenado ¢ poderoso. ‘Também se poderia fazer uma anélise decadialéctica, se grundo os planos do sujeilo e do abjecto, observando os aspee- tos do eonhecimento do desconhecimento, quer Facional, quer intuilivo, bem como objectivamente ha. antinomia das ordens ide e de extensidade, para aleangarmos, afinal, 2 ‘én forma religiosa, apesar da varians ‘ore ss que nos as, tal an . i 'e "Decadialéstica®, € de fécil Desta forma, ante as abservagGes de Andrew Lang e P. Schmidt, e das concepedes evolucionistas, naturalistas, ete. po- demos dizer que a religido 6 uma estructuracho de um pathos muito mais profundo do ser humano, com sas vaizes na sen- jdade, que, por sua vez, penctra no proprio eésmieo, que A iza em osquemas abstraetos. Nio 6, como se vé, mera erlacio do esptrito humano, inane, sem um conteido mais profunde nem apenas um produto de factores predisponentes; mas, como tudo quanto 6 erindo pelo omen, tem uma oviger nos factbres emergentes, eujas relzes se aprofundam em toilo 0 80 le apreciagho, a timese parabélica, que ‘comparagio com a sua perfeicéo esp at MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘Toda a natureza, tudo quanto existe, tem o intuito de al- cangar o seu Bem. 0 Bem est presente, eomo meta e como impulso, em tudo quanto se agita no universo, como origem e como'finalidade. Tédas as coisas buseam a sta perfeieéo, Nos séres humanos, revela-se uma posse virtual da perfeigho. Se entre varios verdes sabemos quais so os mais verdes ou fos menos verdes, e se diseutimos, fazemo-lo com conviegao, Podemos construir conceitos de perfet bedoria, de bem, ¢ 0 da propria perfei¢a tanto, no saber operatdriamente exp6-l: ‘que @ razo deseja. Mas nfo podemos neyar que temos a viveneial de tais conceitos, que os vivemos com conviecso, que 86 poucos podem estructurar em esquemas abstractos, Se examinarmos 06 séres, nos diversos planos do nosso co- onto, que se referem ‘a0 quaterndrio, ao campo tetra- 19. plano da 'fisico-auimies, da phe dimensional de nosso cosmos, Diologia, da psicologia e da gociologia, vemos qi © set bem, todos tém um impeto para a perfeiedo da sua espé- fmpeto ora mais ou menos frustrado pelos outros séres, ue também useam a sua perfeigho, Pode nio haver cousciéucia psicoldgica, quando do plano psicalégico e social, mas ha ésse impulso que se revela, desde a microfisiea ao microteos humano. Hé em téda a natureza a obediéncia & uma lel, que por ora chamaremos a lei do Bem, que Dusea, através do mk 61 Yogicamente dominante no plano da logia, no Essa ke plinos, tem por ser ontoldgica, tem de, referia-se éle & nossa capacidade d ‘que niio temos a experiéneia( emp! iio para aetualizar em nés. Sabemos que « yerfeigio se da, mas podemos néo saber ‘ela, delimité-ls, “prendé-la” num conceito rigidamente gstructa Sabemios que uma coisa € mais ou menos per- © HOMEM PERANTE o INFINITO 5 Podemos, assim, mediy as ‘metimos, tomando por medida dimos qualitativamente o v idades, como n a perfeigan eapect verde perfeitarten que tenhamos a medida perfeita do verde. fm, pod Yer que este @ mals sible que saber, pc felts,” E sentirmos uo do base a sun fado quanto pode’ sex perda, isto 6, sleangando ao ne ira, toda coberta ¢ sabemos que o acto Ing uma pert i8 potoneia, qui 0 q re actualizar; portanto, ainda é 1@ perfeigio maior ao actualizar 1 ims . uma imporfet. toda sisténcia quo se prefina tudo quanto pawte ser, nao atinge simesma. Bl sendo prefixada, sempre no’ limite, wm nao sabemos e sentimos que todo almente da sistenct 86 pode ser 0 que é tude quanto de tudo quanto pode ser. E como ios € um bem limitado e, portanto, um © prefixad Senca actual do bem e do mal segundo os pine cas Jacionamento déstes mesmos entes, Himitado, ao bem supremo, a0 bem que feigio das perfeigdes, 0 Deus das religides 46 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS és de todos op nomes que a filosofia, no decorrer do tempo, [es omeado, emo vontade schopenaveriana, vontade niet cheana, Eros, o inconseiente de Hartmann, élan vital, ete, éste saber da perfeigdo, que ni 6 um mero saber judicatério, mas um saber pathico, viveneial, desperta-se 10 homem pela experiencia do’ mundo empfrico. Nao surge da experiénela, mas é algo que ultrapassa 0 campo desta vida, dizin Platio, e, portanto, 6 algo que recoréamos do mundo dat formas perfeitas, mas 4) despertou, actuando como pred ciéncia religiosa, com a sua simbélica, Bese impeto A perfei Sabemos que isto ndo é a perfelefo da sua espéele; sabe- ‘mos que ha uma perfeigio da espécie, Mas essa perfeigio nao est topicaments ia. Neste momento, hé de haver no mundo um ledo qu mais plenamente @ leonidade, como o diria um platin ina, porque pode ter ha- pode ainda sobrevir um Mas aste mio ¢ a perfeigio do que dle, ‘mais eho do que Be. Nao sei qual 6 a perfeicto do lefio se me pergunt ‘Mas sei que, neste momento, hé um leao que 6 0 mais dos ledes vivos, ¢, ma historia de toda a espécie I haver um exemplar que atinja a maior perfeigéo da sua raca dem de ea ‘entendedar ‘Se entendo de ledes, como certos hom Que ignorantes? H14, nesses e sentir. Vamos expor. raga 6 maga e nfo ¢ pera, tivista, um 2, famentos, que a toma magi e no péra, que Ihe dé esta sendems, tee, captar 0 que 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO aT nao pode negar o materialista que hé relacio- namento e Telacionamentas. E que este relacionamento nao 6 Portanto, nesta magi so deu um certo relacionamento, que ndio & um qualquer. Este, se no fdsse como é, daria, conse- qlentemente, um outro ser} digamos, uma péra. Mas'a ques- tHo 6 que deu maga, porque é diferente do que dé a péra. Mas, 0 que @ dsse relacionamento? fle ¢ téda relacao implica ndmero, pois entra o nume jonamento da magi é, portanto, um nimero que, orna um ser magi e nao pora. ‘Sabemos que a relagio tem um ser, um ser rel nao é um mero nada, porque se 0 fOsse, como se daria a rel go? Portanto, 0 nimero da mac& ndo’é um mero nada. Sa- bemos que em todo o universo, dda a vex que se © nimero-relacionamento da magi (para falar uma proxima aos materialistas), la munca poderia ter ois por ser nada n porque o nade. ter nada, nenhu- ma eficdeia. Pt nada nfo 6 © se nfo é nada, 6 ser, um modo de ser que nio é © modo de ser da mae& quando surze xr formal (em sentido platni- de, mas esté aqui e agora, E um modo de co). Nio s¢ dé aqui nem ali, nfo tem topi io. na grande po. promettico do ser, porque as formas que ainda nao fora ‘nosso cosmos, também nko podem ser considera ‘das como nada. Assim, a frata V, que ainda possa surgir, ou a nascer, tas que ainda nao é aqui ¢ gue & um rel como 9 dixia o matezialista, que é um nimero a actualizar-se, é nada? Se é nada, no tem aptidio a ser. Ki se um dia for, qui e agora, tinha aptidao a existir. Era, portanto, um modo lo ser que nfo apresenta as earactoristicas da topicidade do que € aqui e agora, portanto um ser que ndo é agui nem agora. espaga, nem se dé no tempo, mas que se dit no niversal, como uma possibilidade do ser univers ‘indo quanto possa vir a set, ja esté ao menos em possibilidade ser. Portanto, no ser, no ger supremo, ha tudo quanto pode ‘Nao é a hibridez de nosso acto e poténeia (tempo-espa- mas é da sua etemnidade, porque tudo quanto pertence imetéico e ao prometéico, ge se dev, ot se se dé, ou ee se ou nfo para nés, esta fundado no acto do Ser, sustenta, Se no conhecemos o epimetéico e 0 prome- quo éles esto em poténeia, virtualizades para nés, mas 48 MARIO PEREEIRA DOS SANTOS esto 14, no ser, contemporiineos, ¢ veneendo 0 tempo, eternos na eternidiade do ser. Chegamos, assim, a captar algo da perfeigio do Ser, que & tudo quanto pode ser, e 0 é eternamente, enquanto nos, como particinantes déle, temos apenas uma visio de participacas ?Portanto, a parte nfio tem a posse actual da perfeicho, mais apenas a posse virtual, porque € parte. Mas ha essa perfeigio. mental ‘do eterno; & 0 simbolo do etern¢ recesse a muitos & sua contradigto, O devi actualizar das possibilidades; o devir € 0 constante real da poténcia em acto. O la-se no ser, que ¢ perfeito, ren~ fizando-se na existencialidade prefixads. ‘0 ser @ tudo quanto pode ser, eo devin, um modo de ser, que Ihe pertenee como poder-ser, pois, do contrério, como se daria o devir? Nio Rponta o devir a perfcigfio? Pois néo afirma éle o ser em modos de ser? Nao afirma que o ser 6, nesse imenso senda ido de todo ser? Mas tudo o que esté em devir é um ser participado, que nao é todo 0 ser; & o ver existencialmente prefixado, O devir Busca o actualizar constante, eterno e ineansfvel de todo o ser fem seus modos de ser, que 34 estdo contidos, em acto, no ser Gnguanto sex, pois tudo quanto pode ser ja é néle, pois, do eontrario, como podia vira-ser? ‘Seo que vera a ser no é, o vir-acser promettico vi o nada teria aptidao de ser, o que 38 Garia uma eficaeidade e deixaria de ser mada para ser ser. Neste caso, tudo quanto se dé no devir jd & ¢ 0 devir apontar do que €; ¢ 0 apontar do ser. 0 devir é portanto, simbolo do ser E como em todo simbolo hé um analogante em relagio a tum anslogado, ba entre 0 devir o o ser um momento de iden- tifieagao que esté em ser. 0. tanto, ndo mega o ser, mas afirma, Vé-se como dialéeticamente se pode perfeita Inente reunit os contrérios numa concrecio. O devir © ser ‘conerecionan-se no proprio ser. O devir € 0 ser que se tem- poraliza, que sucede. do. ‘Todo ente procura realizar & pl tum impeto que & 0 veetor do seu existir. O que o obsta 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 49 tem um valor opositivo. # o ma, inbora tal obstdeulo seja outro ente, que também’ procura vale reat iain ya opositivo ao que éle se opde. E uma lade, mas ob, a m0 st & 0 valor supremo do ser, enquanto ser. E todos Jeuram-no porque ja 0 fem, Temos a posse virtual tem o ente, mas, como séres essencialmente pre peso set, opmo-s as aes eh wees do ser por iss, somes, neste ™o- mento de tefto midi, um valor opocttive, mae ue os leva estiar a plenitude do bem é prépro © ser em nés. O ser em nox é bem, mas nid sleanga @ plenitude do bem porque somos séres existoncialmen- Portanto, a perteigao, a posse virtual da per- nko € algo gai extant oprstnnments stave da aio Gn nossn eons o éa nose consitneia dn perfec, perfepior il ingopende de osm consid, porque ‘ido tenemos ou aA eo im w6 vector: bus , no homem, tomou conseiéneia. rtanto, ha um impeto emergente em nos que vem das micas, que permitem que, no homem, onde o ser exis~ ente prefixado tomou eonsciénea, surgisse nas formas 50 MARIO FERREIRA DOS SANTOS o temor, 0 médo, 0 terror, istas, te. fado quanto mate lowistas, ete, SWwom'ako apenas os pretextos para a aclualizagdo de um im- pulso universal, o impulso afirmativo e 0 mais afirmativo de Yodos, © mais real e concreto de todos, o impeto de plenitude da perfelgao que agita, impele e conduz todo o existir & fonte, origem e firm de tudo, 0 ‘Todo o existir é assim, um querer 0 no homem, @ a maneita objectivada que toma ésse grande pulso, essa grande realidade (1). 0s factos do (1) Fezemos este anotast Muitos avgumentam com exe ara a sus destruleto, argument 6 de mixima frag (quem procara 9 raly basea ainda um bem, até fia on no, youeo imports, TEMA aprico 1 DO NOSSO CONHECIMENTO DB DEUS 0 nosso saber dos objectos varia segundo @ fun de do nosso espitite (nous). Na funcgao da int hi: um saber da singularidade, que nos 6 dado pela sensivel, directamente, imediato; ¢ um saber mediat fo, operat ‘atorio, que 6 0 racional, A ndesis, na lidad se com 0 objecio, & gnosis, & cum-nos- ¢, conhecer, a qual nos dé um eonteddo, um nome go). Este é singular, por referir-se ao singular, que é proprio Ga intuigao sensivel. 14, ademai a racional, mitico & féctico no prime jade), no segundo. resis intuitioa @ vferece, num ‘8 opera (com funegées discurs edit £0 esquema abstracto-eidético, da ra- funcciona assim como um. vel, da sensibilidade, object tum conhecer, que & nasi odo que so a aos esquemas inte- lade, ao tornar-se conseiente, leetualizado, € serve, portanto, de cbjecto de eo- ¥io cognoscitiva intelectual, como ja vimos y gue € um viver ei r vivencial das coisas, mas um saber consigo mesmo, MARIO FERREIRA DOS SANTOS ia 6 w viveneia de si mesma, em que s uma evidéneia subjectiva, que é mai a. sua gama afectiva -omo todo conhecimento da singularidade intrans- ‘os conceitos apenas mi vencial pathieo é intra em sua singularidade, © & © HOMEM PERANTE © INPINTTO 53 identifiengio nBo muito remoto. KE. bolo, mas apenas um pseudo. Por isso, poder-se-ia simb6lico de Deus através 4 objectivacio de De y sens6rio-metri, no da sensibilidade, ~motriz, como fun chama organizecdo, Resta apenas que coloquemos © simbolo onde o pode ser colvendo quanto a sua apreensfio: na polaridade in telectualidade-afectividade. E desde que o coloquemos al, ott. ® imo conjunto dos esquema: to primario do que Restsriam, assim, dois caminhos para al intelectualidade e 6 da afectividade. 0 conhee! mnas afectivo. Paseal, por exemplo, quando ‘que sente Deus © nfo a razso, His o que € a fé: Deus sen sivel ao cornedo © nfo & razd0”, coloca-se na posi¢ao afectiva ‘Toda a ver que alguém atirma que o conhecimento de Deus pelo homem se processa pela afectivida rieneia pithica, é classifienda como partidari experiéncia misticn de Deus, Os térmox mistien © mistieo slo sobejamente conhecidos por nds. E sabemos estar fechaudo, dai mysiagoges, 0 a mestério (mysterion), © que permanece oetlto, 0 que ¢ segrédo, 2 que ndo 6 revelado, o que exige que alguém procure, comece 8 proeurt sea, que € 0 iniclado, o mystos, 0 ‘gue comega Eim sentido teologico, é mistic irecto e experimentalmente. ai Ba MARIO FERREIRA DOS SANTOS Chama-se de teclogia misticn a cidneia, eujo objecto ¢ a da divindade, a qual estuda as comut direetas entre a alma humana e a divindade. 0 conecito de mistia dt tornar clara a nossa posi, par os sentidos. Esta era a acepelo classic arte 6 um en- sentides, Os Pode-se ainda ampliar 0 con sua extensio tudo quanto tem para nos uma presenca actual © captamos. xemplo, 6 uma presenca actual, para n izado por éle referido, que se nos ocull pois ela, em s Festagoes, procura penetrar nos simbolos. £ uma misti simbolo. Mas a-mistica 6 um aprofundar-se, + de Simbélica’ fer mais, no site lizado, que, por sua vez, & 1¢ 6 simbolo teres facto de afirmar que do contra a temp 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 55 Passaro voando, como simbolo de liberdade, nfo é apenas um simbolo primario conseiente, mas também terciério, pois aponta ao inconseiente colectivo humano. ‘Tal simbolo surge tem todos os povos e em todas as eras, e revela o anseio humano ém da prisio da superfieie, que Ihe € um obs imite a0 anseio maior de liberdade, no sentido pri- "de locomocio, No “Tratado de Simbéliea”, estudamos os outros sete planos do simbolo, que nos permitem passar do simabo! Wzado, Podemos dizer, desde 14, aue todo 0 simbolizado, porque’ todos 03 séres participam das perfei¢des que 0s analoga, 0 que ss de identifieagdo, que nos ‘permi- jea analdgica de profundas con: , afinal, que tudo ¢ simbolo do Grande remo (1) Desta forma, a marcha através dos simbolos sensiveis a0 0 qual eseapa 20s sentidos, é mfstiea. E uma empre um ponetrar no oculto, no mysterion. A. Com @stos elementos, podemos agora examinar como se a6 a experiéneia mistica, Caracteristicas da experiéncia mistica A oxperidneia mistiea, na forma como é compreendida em. geral, ¢ antecedida pela passividade de quem a experimenta. que levam uma vida de purificacio, produto na ascese (exereicio) de despojamento de ‘mundano, comum, Revelam tais exp clareza é uma obscuridade, um penetrar por entre trevas, clarear de sombras mas sem luz. Falam os misticos em invisivel”, “treva luminosa”, e expresses semelhantes, Consistem mais em estados de alma do que em viedes in- telectuais; sdo mais afectivos, portanto. 6a forea de que dispoem. ‘temem 02 perigos, enfrentam-no com humildade © seguri pois confiam em Deus. icaghes da experiéneia Todo aquéle que ndo experimenta estados_mi naturalmente a tendéneia a néo admiti-los, Falta-the a ex 56 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ein viva da realidade mistica para que ela ge torne wvamente evidente, Como nao é possivel negar que os m Yicos comhecem estados especiais, deve-se procurar exp! A soluefio. mais & declarar que tais estados so morbidos. Essa 3 juer fisieamente, no passava ‘om o eampo retrafdo, ao mo- s viram apenas no amor mfstieo um amor sexual. Argumentos como tais procedem nos easos patologicos, de cortos doentes mentais, que realmente revelam tais fraqueza: . Max ha easos, como o de Santa Tereza de Avi presentava Traquezas fisieas, pois era ela sau sistente. Os grandes mfsticos do eristianismo nfo mostrayam no ser humana. Bsia é a verdade, nada expliea. Por que © subeonseiente opera assim em uns @ nfo em outros? Ade mminagdes geniais, a clareza que se auperior, revelam-nos algo que no & apenas uma operacao do pois seria substaneializé-lo. per! X, € ainda neste, nfo mais pelo menos, Jea, e nos estados pathiens do mistico, ha algo mais rnflo estamos sempre em face de de- icieneias, como revelam os realmen € 08 misticos realmente grandes 0 HOME PERANTE: © INFINITO Witliam James, em "Psychology", nos afirma tados mistieos, que’ pertencem & aceao do. subconse! ‘iconseionte, naa tem apenas uma explieagio. somtien, pois um penetrar, um entrar em comunicacdo com outro mundo, Desta man iveis nos factos estudadas pola’ “O homem vé claramente que seu eu superior ou potencial 0 seu verdadeiro eu. Chega a compreender que ésse eu su- pperior fa Jguma coisa de maior que éle, mas da mesma natureza: coisa que aetua no universo fora dé que pana e apoia, Bems um Jaa estuilos sobre a experiéneia rel — Os estados mistieos, chegados ao seu pleno desen- impoem, de facto e de direito, com uma abso- \de, aos que os experimentar, 2.° — Por outro lado, nada obrista aos que nao os expe- rimentam a aveité-los sem critica. 3.8 — Bles se opdem, contudo, & autoridade da conseién- cia puramente racional, fundada inieamente no entendimento fe nos sent ciéncia. Abrem ums perspective sobre verdades de outra or- dem, 2 somos livres de erer, na medida em que corres- pondem a nossa vida interior”. Estudnremos a seguir as experiéncing natura TRMA Or ARTIGO 2 A EXPERI®NCIA NATURAL DE DEUS ai ia, nem pode nos mostrar 9 que ée é Aleanca-se, assim, a uma ati agnéstiea quanto as possibilidades da conhecimento racional ou , da néesis meramente racional. saber aliguma coisa de Deus. 6 pelo sentimento chegévamos até éle, ou entio pela ex- periéneta imediata, Deus nos é imanente. "O conhecimento religioso é a experiencia do divino operando em nés” (do Pro- grama dos Modernistas) ‘Um célebre axioma eseolisticn diz: quidauid reeipitur ad ‘modum reeipientis reeipitur, 0 que & recebido o é segundo as Gisposigdes do recipiente. Chegamos a Deus por’ Portanto, ie Edouard Le Roy, fe em 0% ineficazes, pi mente, 0 encontra, mas por que o vive numa experiéncia inte- , através da tomada de eonsciéncia dos dados obseuros, im- plicados nas exigenecias da vida e da pratica. © pensamento conereto implica a erenga em Deus. E eis como E. Le Roy o prova: “Alirmar o valor absoluto do pen- impliea esta afi firmagio de Deus maco: logo, todo pensamento imp! Le Roy usa 0 silogimo, processo dedi provar a sua tese, que é proposta para di ‘a radio nfo 6 eapaz de dar. vo racfonal, para corteza de que © HOMEM FERANTE 0 INFINITO Es) fas tal nfio implica que o seu silogismo soja falso. A afirmar o valor se afir nto (sentido amplo), como oluto do pensamento’ como acto de pensar (sentido restricto). Como amplo, concedemos, pois 0 pensamento & 0 ser, como J vimos, em tidas as suas modatidades ¢ afirma, por- tanto, sempre o ser. Como restrieto, eomo acto de pensar, tem am valor absoluto como tal, mas apenas o ser que nél iio prova a adequagdo entre Ble ¢ o seu conte uma verdade, mas apenas uma certeza, ea certeza, por ser subjectiva, pode ser ldgieamente falsa, A Deus chegamos, segundo éle, nfo pelo racioeinio, mas a tese de E, Le Roy de pretender con- ‘0 que © nosso subeonseiente trae vés de operagoes diseursivas complexas, numa rapidez tal, que niio podemos.perceb Blondel reconhece o valor e a necessidade das 's, mas afirma que 89 a acg2o nos pode conceder um verdadeiro conhecimento de Deus, ‘porque ultrapassa a frialdade da razio, que consiste numa tomada de consciéncia. Desta maneira, s6 através de uma colaboragio constante do pensamento discursive e do intuitive, podemos ter ums verda- deira idéia de Deus. Critica A vordadeira experiéneia mistica nfo é a patoléaica, mér- bida. A penetraedo no cculto, no que fica além do simbolo, oferece uma escalaridade; tem’ graus, portanto. Penetrar no mais profundo até alcangar 0 que ultrapasea ico, e ter uma v de de estudar na “Noologia”, pois as te intencionais, que o nosso espirite eapta, sem a esquema- ser examinadas aqui stas, e pelos que ainda sesuem a grandemente descabida, 60. MARIO PEREIRA pos SANTOS #8 facil, ante o que em expécie examinamos naqueles livros, gbservar quanto hi de postivo em todas as concopgOes. | Assim. Wwidade no na coneepeao pragmatis 10 bergsontiano, na teoria aecao de Blondel, no imanenti teoria da ueeio de B, Le Roy, ‘eoneopedes do ontologismo resentantes do ontologismo mitigado, como Ubagh dos admitem que aleaneamos divindad caminhos irracionais, através de experiéncias Os fildzofos da ixreja eatétien negam tal intuiedo, e 36 litem de modo sobrenatural pelos beatificados, inalean- sive nesta vida até pelos santos, salvo as excepeten de Moisés © de Cristo, Podemos, no ental pelos mistieos © pelos ‘afectiva ou no conhecimenta do singular, intuiti em parte, na capacidade mistiea que tem o ser ros casos 6 certo, de captar, através dos simbol satisfagZo que muitos tém uma lemma © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 6 tuimos, om raros rulavidade em "io a0 geval ‘Ao captarmos, 20 percebermos algo, num désses raros mo- mentos de inluigo pura, em que o facto é senti sma unicidade, sem que se dé sua imé mos uma sensagio esquisita de novidade, de un! ‘inico, em suma. Tais estados s6 nos surse! ‘mentos, como no orgasmo sexual, em certos apresentam unieidade, oferecendo, entio, ‘embora ripido. a eapacidade de se fa presenca viva da Sngelavidads (0 que nfo pode sor transmitida por coneeitos, mas ou casla un conhece em raros instantes de sua vida, como 0 9 © grande artista quando capt o eternamente actual, mbolizado oferece-nos momentos com. tologia. Postog stes temas, resta-nos agora examinar o conheei- mento racional de Deus, 0 que iremos mostrar uns provas de e, portanto, 0 que melhor est aparelhado pat Nao negam os intelectualistas 0 valor da fi 62 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Se tivéssemos uma intuicao imediata de Deus, teriamos um cone sneia désse conheeimen- to. Mas, na_verdade, ndo temos nenhuma eonseiéneia dessa Gognigho, portanto, nfo temos um eonhecimento imediato de 20)0, o que hi de concretamente positivo nas diversas concep- bes, sem desprezar o que elas, por abstraclas, excluem, TEMA ARTIGO 1 DA EXISTENCIA DE DEUS Por nao ser suficiente a muitos, a ndesis pathica (a fr6. nese), com a divindade, e por nfo Yerem éstes, mente, uma vivencia de'Deus, a prova de sua outros melos, os intelectuais, para fundaments Deus nfo se prove, Deus provado, dizia B. Le Roy. Mas nem todos tém ess experiéncia de Deus. Nos periodos de grande #6, nfo ha necessidade da prova da sua e Esta surge entre os teologos, quando hé uma creseente des- erenga e a £6 esté ameagada. " Nao se destina, & compreen: Agu cus, mas apenas aos outros, acs que ainda duvidam, ads que ainda’ gentem vacilar as suas erengas. E tais argumentos, surgidos em diversas ocasifes em que hé perigo de deserenea, tomaram tal vulto e tal forma, que hoje os sntos em favor da existéneia de Deus, conservam apenas 2 autoria da origem, mas sio do patriménio comum do pensamento kumano. Silo infimeras as provas apresentadas, bem como os argu- mentos opositives. Iremos expor as prineipais, acompanhadas dos argumen- tos favoraveis e dos contrarios, tecendo, sempre que convenien- te, uma erftica aos argumentos taftvicas, proves ft resea no sfo as cl As provas @ p: fas que partem de nogdea que in- cluam uma existéneia, e ndo de um facto da experiéneia, como procedem as provas @ posteriori. sifiengdes, mas as provas, As provas @ priori fundam-se no principio de identidade, enquanto as outrs m-se no de rueta suficiente. Antes de ate f Ins, teriamus que partir or MARIO FERREIRA DOS SANTOS 0 HOMES PERANTE 0 INFINITO 65 ver se a existéneia real Ihe convém, pode ter maior realidade que 0 sujeito, proposigéo, Deus tem uma intuigdo, desta for te, ou nko & Se € evidente, ni a sus existéneia, Se nao é, conven ade Deus? Eis outi E se & que é em suma, Deus? dessas perguntas ¢ dae ve 0, fanto, & prova da rea- 105 que no o simples enun- de Deus € ra existéncia de Deus? Nao se acei- ie € de £é nio se pode provar, porque femos, pois erer no que se ve, como € possivel demons 1 Além disso, s6 poderiamos tentar Ja, por seus efeitos. Mas tais efeitos yhuraa proporeiio com éle, 34 Ds 22) s6em si mesma e nfo quanto @ nés. Uma proposigéo ¢ evidente quando o predicado esté incin proporeionado, como possivel provar a existéncia de Deus? Ante tais objeegdes, surgem diversas respostas. H& duas espécies de demonstragio, esclarece Tomas de i it que se baseia na causa, e discorre partindo do ser, todo e parte, ¢ outros ibidas, que ninguém as ignora, Mas, ‘que em absoluto 6 anterior em diree¢o ao que é posterior (ar- a pred. gumento a priori) ; a outra parte do efeito, © se apoia no que cao, 2 proposiedo em si mesma sera, s evidente, @ anterior inicamente com Fespeito a n6s (a posteriori). mas no a sera para aquéles isso sucede, como diz Boécio, «\ ‘8 sibios: por exernp] Desta forma, partindo de am e conhecimento da eausa e da sua es Quanto & demonstral ‘mos encontrar as seg 14) nega-se, , podemos chegar ao elo objectivo; 2.4) se ha ésse meio, o homem nfo é capaz, por falta de luz e foreas, de partir dos efeitos para alcangar a causa, © primeiro argumento & 0 dos agnésticos, Os tradiciona- Jistas, quo se apoiam na f6, usam o segundo argumento, bem ‘como também 05 kantianos, © 03 modernistas, que aceitam ape- nas o sontimento, a vivéncia de Deus, nio sendo, portanto, antefatas, Sabumos que o etvito é semelhante ao agente que o realiza, segundo a forma como opera, efelto subordina-se e dopende a que 0 produziu. “O conhecimento do efeito leva logi- camente a0 conhecimento da causa; 0 conhecimento da subor- e da dependéneia actual do’efeito, ao conhecimento, a0 8 P sejam menos evidentes, quer dizer, por se s de Aquino que ten e Dens. Dens € se "9, Mas nfio € tal coisa eonhecer 66 MARIO PERREIRA DOS SANTOS dopendénela actual de um efeito nos descobre a existéncia de sua causa; e a semelhanga mais ou menos perfelta, que tem com a cause, nos manifesta, com maior ou menor perfeigdo, a jesma” (Franeisco Mufiiz) 'o inverso se dari Para que uma causa impdem os seguintes requisitos : 1.8) que essa eausa tenha efeitos; 2.0) quo ésses efeitos, formalmente considerados sob a ra- inagdo, sejam mais conhecidos trada por seus efeitos, se ‘que a causa. Tomas de Aquino, por ser realiste (¢ earacterolégiea © morfo-psicoldgicaments 6 evidencia o seu biotipo) acetta que S existéncia do Deus néo pode ser demonstrada a priori, (por que néo € um efeito de uma causa, pois & por virtude de sun propria esséncia), mas a oraue tam efeltos, 2 dstessio, mals conherios, e désts pode: de cansalidade que chegaremos & prova Combater ésse principio, ¢ alirar-se no lo, € alcangar Deus inevithvelmente (1) assim, diz Tomés de Aquino: “Embora, pelos efeitos desproporeionacios a uma causa, nfo se possa fer um eonhecl- am efeito qualquer, pode de- monstrar-se, sem caber di deste modo, 6 possivel seu efeitos, embora éstes ndo possam dar-nos a comhecer, como ¢, em’sua esséncia, © principio de causalidade pode nos lovar a saber que jonstrar a imo fim de todos os @stes o: predmbulos da £6 (preambula fidei) de Tomés de Aquino. Todo o ente é inteligivel. Admitida a entidade de Deus, bilidade. Mas a entidade de D , portanto, a inteligibilidade sera infinita, Mas dade implica escolha, Uma inte- (e infinita exeluiria escolha, separagéo. Conseqilen- pio de eausalida oa tomistas, 1evon = que, diste wea prover a exis (© HOMEM PERANTE 0 INFINITO or fereceria para nos uma inteligibilidade pro- mt entidade. foiidade em si, é suma intel quoad now (para n porgio a ni mas cor negase Neste caso, surge tuma pergunta: qual © nosso conhecimen- ‘A adequagio dy nosso conheeiment Portanto, le (quoad 26), mas » € preciso entio distinguir: se em pro: argaO dos nossos esquemas), eoncorde-se: perfeitamente adéquade a Gle, tod to depende de nossos Waco quoad nos omnes im proporcionada & ‘A verdade de Deus, para we € em si (quoad ae); para nds (quond podemos dispd-to em dois lados lemonstracdo da exisiéneia de Deus (po- quino) : a) ép sicho de T em geral). stram-nos que hf uma poss) ia entre nds ¢ Del ima. proporcao 105 co efeito-simbolo para 8 entre causas e efeitos causa eamea aequat ssotia e Cosmovisao™), ingir apenas , hd transmutagi, que 0 efeito € ie Jé estudamos a 6 efeito), estamos reisimente o efeito, pois 1m @ etusa € oUt onhecemos $40 finitos, © a os efeitos dé De ir no pan- 1 que aos rreional a0 gragas 20 68 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘nos, finitos, @stes nfio padem dar um conhecimento proporcio- nem 0 conhecimento quoad se déle, que s6 Dens nflo nés, porque eonhecer, para nés, 6 intelee- elimitado, O mesmo se daria na relacio, causa & ‘$6 a fasio com Deus, 0 bakhti yoga nos hindus, a heatitude dos misticos, nos levaria a Bl ‘eonhecimento by por fuss, frénese mistien com’fle, o que a Tgreja nega sex possivel ao homem, enguanto tal, pela limitagao de sua propria natureza, ‘Néo podemos deixar de aceitar que a verdade existe, Ou amos Tomas de Aquino: “B evidente que existe a verdade, porque quem nega sua existOneia concede que existe, pois se A verdade niio existisse, seria verdade que a verdade no exis- te, e € claro que s¢ algo é verdad preciso que exista a ‘A verdade existe pelo menos quoad se. Resta saber se existe quoad nos. Deus é a verdade, teremos neste caso, a aceitar que hé uma evidéncia imediata de Deus. esponde Tomis de Aquino, que é evidente que a sm geral, existe, mas mio o 6 para nés que existe imitir. Chegariamos, entio, de de provar a existéncia de Deus. gies intuieionistas de Det no entanto, ter um conhecimento exacto, Sete exige a prova. todos o aceitam. ia 6 que vale, € nao a autorid ve para dar a evidencia, ‘nago, nfo 6 bastante por fal prio fs provas de ‘oportunidade ‘capital ‘que, por sta subtilez das as diversas manei TEMA Ww ARTIGO 2 ARGUMENTO ONTOLOGICO DA EXISTENCIA DE DEUS Como vimos, parte-se, nas provas @ priori, nfio de um facto da experi mas de uma nogaa, ou, segundo Tomas do Aquino, de uma causa para explicar 9 efeito, Apolam-se tais argumentos no prinefpio de identidade, Desde Platio, na filosofia grega e através de Santo Agos- tinho, e modernamente em Descartes, 6 a im conjunto de idéias, independentes da experiéncia, as ‘nos permitem propor uma prova a privri de Deus. tes, Tomas de Aqu rojeitam tais p: damentam « poster 10 € os racionalistas-empiristas para aceitar apenas aquelas que se f ri (1). Nossa critica dialéctica, através de nossos livros, demons- ios na "Noologia”, através ‘0 que implica uma contemporaneidade lo com o facto assimilado, torna-se, desde ha um conhecimento absolutamente’ aprio- ristieo nem absolutamente aposterioristico. Um nfo se dé sem 0 outro, Hi escalaridade, pelo maior 0 MARIO FERREIRA DOS SANTOS cimento, ou o estimulo sébre o esquema, Mas se actuslizamos lizamos outro, cometeres ui érro. “Urna vio ramente dialéetica tem de fundar-se numa “Eteaista, que afirma a presenes, a conteroporanesdade dos dol: aspectos,'e a sua reeiprocidade,'sem os quais nfio seria possi- vol estructurar-se nenhuma forma de conhecimento, nemos um dos axzumentos mals debatidos da teo- ja atengfo & seqitén + que @ste argumento tem jor nd o terern en- i¢a, modificaram-no uns, refuta- tos inadequados, e desprezaram- -no muitos. Alongaremos esta parte, porque se impée o seu exame euidadoso. Reproduziremos wras de Santo Anselmo; a de Gaunilon, que se tor- a, ¢, finalmente, uma sintese da res- .Teeeremos alam enciaremos, pari pasty, as falsifieagdes que éle sofrou, Desejamos, desta fazer justign 20 grande pensador de Bee, tantas ves através ssamento teo- jo deu todos os Zrutos pos- E_verdade que @ste argumento surge muitas vézes ni filosofia, modificado por um ou por outro, como 0 foi Deseartes. Mas as investigagées historicas mostram-nos que @ste nunca let! a obra Santo Anselmo, como nem tampoueo a lew Tomas de Aquino, Sho tals raz6ex que Ievaram a éstes a nio captar em toda ‘a sua intensidade e extensidade a grandeza déste arcumento, ‘que & a priori, mas que possul uma base de experiéneia e de aposterioridade, virtuatizada 2 visi nalista, nao porém, 3 dialécticn, E se nos prolongamos, estamos certos de que fazemos jus- tiga a0 argumento, tantas’vozes combatide. Quando expuser- mos as refutagdes de Gaunilon, teremos oportunidade de acres- centar outras que foram propostas, que, em suma, so apenas corroboradoras daqueles arguments, com pequenas variantes. Antes de expormos, com as prdprias palavras de Santo Ansélmo, o seu famosa argumento, desejamos ehamar a aten- © HOMEM PERANSE © INFINITO a edo para o estilo em que & vazada essa exposigao, Trata-se da maneiva dialéctiea de expor na Made Média, quando ainda uravam as eoneepedes platdnicas. O estilo pesado, e, em muitos pontos, de bem dificil eompreensio, Impde-se uma leitura muito cuidadosa, paciente, a fim de que modar nossos esquemas aos esquemas dessa época, permit afinal, uma inteligéncia cal assunto, por melo de uma assimilagio que, ilo, & Ses que era de tos, poder: csirios info esgri 0, do tetradimension: locado transcendentalmente, A exis- maior se pode eonceber mas uma existéncia ot s ‘Nao pretendia, com ésse argumento, 10s térmos existenciais das coisas tempo-espaciais, a i 0 que nfo compreenden Gaunilon, © fazem ainda outros, do fandados na experiéneia, ponto de quando San franscondentalmente a n6s, mas “sustentieulo ¢ subsisténein do ser infinito, ‘Ougamos, primeiramente Santo Anselmo 0m Este argumento traduzimos do “Proslogio “Capitulo I — Que Deus existe ve insensato diga cm a4 Pois, Senhor, To, -me, na medida em que sabes conv que Tu existes, como nés 0 cremos, e que Tu és tal como ere- Ora, erémos que ‘Tu és algtima coisa tal, que maior pode ser concebida (pelo pensamento) ber se existe uma natureza semelnante, pord! ‘ingen ao: “Deus néo eaister” ( Mas, 0, quando entenda o que e deiramente, ‘Deus néo existe teligéncia da £6, concede- ite, que eu compreenda 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS compreende o que cuve — e o que éle compreende esti em sua inteligéncia, mesmo que nfo compreenda que tal objecto de set pensamento existe, Pois, ¢ uma coisa ter a idéia de um bjecto qualquer, e outra, compreender que ésse objecto existe. Quan- doo pintor pensa de antem&o no quadro que vai fazer, pos- ito, mas sabe que ainda nao existe, pois u. “Mas, apds havé-lo pintado, @le mio 86 sensato também deve convir aue éle tem, igéneia, alguma coisa que éle nao pode con- caber outra que the soja’ maior, pois, quando ouve tal pensa- fle 0 compreende, e tudo quanto & compreendido esti éncia, Mas, certament na intel Portanto, se 0 mente no espirito, pode ser concebito esta wsmo que nada de maior se pode eon. ceber, @ outra maior se pod due nfo seria, portanto, uma concluséo legitima. em qualquer divids, alguma coisa de que nada di sonceber, nem na inteligénela, nem na real julo IIT — De como néo se pode pensar que Deus néo existe, Pelo que acabamos de dizer, Deus existe tio realmente, flo se pode pensar em jo-existéneia, Porque, po voneeber um ser tal que no possa ser pensado como jstente na realidade, e que, pi seguinte, & superior le cuja idéin mio implica necessiriamente a existéncia, por que, se 0 ser, acima do qual nada maior se pode conceber, & passivel de ser considerado como niio existente, se- guo-se que éste ser, que no tinka igual, j4 ni ‘do qual nfo se pode conceber coisa maior,’ concluséo necess’n mente contraditéria, Existe, portanto, verdadeiramente um ser acima do qual ndo podemos eoneeber outro maior, e de tal maneira que nio se possa sequer pensar como niio existente; Ste ser és Tu, 6 Deus, Senhor nosso! ¢ to verdadeiramente sequer ‘possivel pensar-Te como nfo existente, e com Porque, se uma inteligéneia pudesse eoneeber algo qué 1@ Tu, a criatura se elevaria por cima do Cria a sor o seu juiz, o que é absurdo. Ademai vie, pelo pensamento, sor suposto como ni 86, entre todos, pertence a qualidade de existir Existes, pois, 6 Senhor, Deus me que nto razio. foxse dor, e menos Tu tindo. A (0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO m verdadeiramente, e no mais alto grau, Tudo 0 que nao és Tu, nio possui mais que uma realidade inferior e recebeu 0 ser em menor grau. Por que, entio, 0 inscnsato disse em acu co- ragao: Nao hd Devs, quando 6 {Ao ffeil a uma alma racional compreender que existes, mais facilmente do que todas as co! sas? Precisamente porque 6 insensato e sem inteligéneia Capitulo IV — Como o insensato disee em sen eoragao 0 que niio se pode pensar. ‘Mas, como 0 insensato disse em seu coragdo 0 que néo pode pensar ou como nao pode pensar o que disse em seu co- Tago? E so se pode dizer verdadeiramente que o pentou, pois © disse em seu coraciio, © ao mesmo tempo que nfo o disse fem seu coragio, porque néio péde pensé-lo, 6 preciso admitir tas maneiras de dizer em seu coraglo ou pensar. aso de distinto mode uma quando se pensa ‘quando a inteligéneia pereebe e eompreende No pritneiro sentido, pode-se pensar que Deus no segundo, nfo. Aquéle que compreende 0 que é ‘Deus nio existe, embora possa pro- tas palayras em si mesmo, ja sem atribulr-lhes ne- nhum significado, ja atribuind significado estranho, porque Deus é um ger gue Ble. O que bem tempo que tal ser nio Por conseguinte, aquéle que compreende estas condigoes da existéncia de Deus, ndo pode pensar que nfo existe, Gracas, pois, te sejam dadas, 6 Senhor! Porque o 41 eipio pelo dom que me fizeates, compreende-o agora pl com que me jluminas, e ainda quando nao quisera erer existes, nao poderia eoncebé-lo™. Numa nota a éste capitulo, Julian Alameda tece éstes co- mentarios: “O sentido exacto déste capitulo € @ seguinte: Se alguém representa a Deus de maneira vaga e defeituosa, pe sando no que uma definieao puramente nominal ou gramatical de Dens pode dar a conhecer, podera cair, ser contradizer-se, A Mas, se fixar seu pensamento sobre a “ MARIO FERREIRA DOS SANTOS cinio seria falso. Porque, nesea hipétese, poder-se-ia pers tar, sem cair em nenhuma contradicio, se existe realmente um objecto que responda a essa imagem, j& que antes de dover admitir a existéncia de Deus sobre o’testemunho dessa idéia, seria necessério demonstrar a fidelidade desta altima”. Antes de fazormos nossa eritien final ao argumento onto- Iogico, vejamos as razdes apresentadas em favor do “insensa- to” por Gaunilon, a defesa de Santo Anselmo, e, finalmente, as criticas mais eélebres que Ihe foram enderegadas. As objecedes de Garniton As objecedes de Gaunilon fundam-se numa série de argue mentos que procuraremos sintetizar com 2 maxima elareza, pois o seu ponsamento obscuro é sempre uma das maiores di- fleuldades para todos quantos se debrugam sébre o texto, oma éle a defesa do insensato. Nao que nfo creia em Deus, pois é um monge, mas apenas nega valor prabativo ao arguinento ontelégico, também eonhecido por arzumento a si- io de que existir na inteligéncia e na ‘xistir apenas na inteligencia, Seo objecto buseado esté apenas ne inteligéncia, seria menor que © outro que estivesse em ambas. Neste easo, ae o objecto bus- endo existir apenas na inteligéncia, néo se Jor de todos, © gue contradiria © coneeito que dele temos. Portanto, segue ~se daqui, como coisa necesséria, que © que 6 maior que tudo © mais, euja idéia esta na inteligéneia (0 que J& se provou), Gove existir na realidade, pois, do contrario, nio seria. o maior de todas, Ora, afirma Gaunilon, apenas porque compreendemos as palavras que 0 expressam, no devemos esquecer que muitas coisas falsas e inexistentes podem também ser compreendidas ao ouvir as palavras que xpressam. Haveria diferenea se o objecto de aue se trata estivesse nas mesmas condigdes das coisas falsas, no son- de que, nfo sdmente, compreen (© HOMEM PERANTE 0 INFINITO 16 a simples inteligoneia das palavras, ea inteligéncia do préprio objecto, que, neste caso, implica sua Portanto, hi 0 objecto pensado, e 0 objecto como Admite, ainda: e se pode pensar na nfo existénci de Deus; b) pode-se whecer a existéncla de Deus; do con- trio, para que haveria preocupac&o ema demonstré-la? Bag j& aqui, modifica o pensamento Anselmo, no “Proslogion” éste nfo fala ainda em Deus, mas apenas esté acima de todos os séres, aquéle ser quod uma prova ineontestiv ie nflo se pos- ‘sa, nem de love, dav deste o momento ‘em que 6 pensado, ¢ ndo apenas que existe na minha inteligen- porque a inteligéncia poderia, como pode, conter idéias covas ¢ fleas at, embora eompreendias, quando pronun- ntor que pretende reali na inteligéneia, e s6 quando o re 1m _quadro, t iza dite uma e Como nfo conhego 8 Deus, née posso também coneluir x soa existéncia pela analogia com algo que Ihe seja parecido, pois Santa Ansélmo afirma que Deus é tal que nada pode ser sIhe semelhante. Se ougo falar de um homem que me é desconheeido, posso contudo representé-lo como um ser real, segundo a idéia ds homem, Mas poderia tal homem no existir, apesar de eu t2lo representado sob a imagem de algo verdadeiro, Ese ‘quando ougs posso té. ‘aneira Zell como, por ser maior e no pen- 76 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Ha, aqui, nesta frase de Gauniton (“ali quae valent’ cogitari”), uma modificagio do. pensamento Selmiano. Poraue nfo se trata de pensar nvm ser maior as coisas que #e podem pensar, mas, atm, de gue se pode pen sar num ser maior do que tddas as coisas, quer pensadas ou ni ‘mains omnibus Bste esclarecimento € importante co ocutor, ja cia efectivamente maior que todo outro abjecta real, concedo mais existéncia, se assim posso chamécla, que aque The dé o esférco que realiza 0 men espirito para sentar uma coisa que néo conhece mais do que por pal . Como se pode demonstrar, entiio, prossegue Gau- » que Gste sor, maior que todos os outros, existe ¢ mples facto de ser tal, quando eu 0 nego, ox, pelo mei ° éste ber, maior que mentum esta em minha intoligéncia, nem em meu pensamento, como, de ual maneira, posso dizer de muitas outras coisas divi incertas? Aaui esté 0 esquema da refutagio de Gaunilon, que pos- teriormente seria usado por todos os que cor um 0 argu: mento ontolégico, Para corroborar as suas palavras, apresen- amos que so afirma ‘quezas ¢ delicias incalea! ia que nas. Ihas Afortunadas, e que, em produtos, ultrapassa a tédas ax terras habitadas pelos hemen ‘a poderin com preender ficilmente estas minhas palavras, is, com a impresséo de quem tira uma con- Mas, se dep 3 esse que no se pode mais duvidar, da- (© HOMEM PERANTE 0 INFINITO a lidade do que sd- do contrério, qualquer outra terra existente seria, mais importante «i ‘com semelhantes quisessem fazer-me admitir @ existéncia de tal itha, que o argumentador brinea, ou nfo saberia eu qual de nés dots é mais insensato, Esto aqui compendiadas as razdes a favor do insensato. Vejamos agora, A resposta dle Santo Anselmo a Gaxnilon De inicio, Santo Ancelmo, em sua defesa, faz a afivmativa monstracéio de Gaunilon é improcedente, sobretude aproveita o ergumento da ilha perdida. Inieia Sant Anselmo com estas palavras a sua defesa: ‘Se o ser do qui ada se possa coneeher maior nflo 6 comproendido pela int ligéneia, nem sequer concebido no pensamento, isto é, nem se- quer imaginado, certamente teremos de dizer: ou que Deus nfo €o ser acima do qual nada se pode conceber maior, ou niv 6 nem compreendido pela inteligéncia nem eoncebido pelo pen- samento, A propria fé e a propria consciéncia de Gaulilon demonstram que pode ser concebido. Portanto, compreende- emos na inteligoncia e no pensamento, igo (is do que nenhuma outra coisa”. E dirigin- jas tous ataque nio so verdadeiros, ou as conclusbes que déles tiras nao sio legitimas", Mostra processo do pensamento de seu opasitas, que sintotiza da seguinte maneira: 1.9) que se pode pensar uma coisa acima da qual outra nao se pode conceber; 2°) mas dai nio se segue que ésse algo esteja na inteli gencia; 32) e se estiver na intel necessAriamente na realidade, ia, no se sesue que ox firmo, com ser pen erteza, que existe ne “o ser acima do qual nada se pode wipio e nflo pode ser con went, porque tm possivel po 7B MARIO FERREIRA DOS SANTOS necessiriamente. E nfo existe apenas pelo pensamento, por- que 0 que nega, e 0 que duvida, que haja algo acima do qual nada se possa conecber io nega, nem duvida que ésse objecto, se existisse, poderia simultaneamente existir realmen- te e no pensamento, Pois o contririo, nio seria o ser acima do qual nao podia imaginar-se nada maior, e tudo que pode ser pensado ¢ nao existe, poderia, embora nko exis- inteligéncia 0 que é tal’ que nio pode imaginar-se coisa mais perfeita, existe ne- mente, bastando apenas possa ser pensado. Mas, sit pode conceber-se, contradigao totalmente absurda”, Em sintese, Santo Anselmo quer dizer: eu penso aum ser acima do qual nfo se pode imaginar outro. Nilo cone! plesmente, pela sua exista entra, entio, na clas: jos sores que ie ser e no ser e, eonseqtienteniente, no pode ser aguél le acima do qual nio se pode eonceber outro. 20 mesmo tempo, F uma coisa mais p ser acima ossa conceber nada, ¢ isso teria lugar, aindi Jecto nifio fsse senfo per: raziio se pudeste ser comp E aerescenta Santo Anselmo existe em tal tempo e em tal Ingar determin: em outro tempo e Ingar, pode, eontudo, ser ideado como née existente em nenhuma em certo tempo. 0 gue nio existia ontem e existe hoje, es munca ter ex gue nao existe aqui, mas sim, em outra par jétente em’ nenhuma parte, & como se i. Ocorre o mesmo com ¢ sujas par- jem tdas 0 mesmo lugar ow no existam so mesmo ser considerado i parte e em nenhum tempi por consesruinte, a seu todo. Porque, embora se a universo existem, pode-se pensar que nenhuma delas exista, e como as © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 9 diversas partes do universo nfo ocupam o mesmo Iigar umas com as outras, podem ser pensadas como nfo existentes em nenbuma parte lecomposto e concebido como ni exi que nao existe integralmente em fem todos os casos, ser st ‘tida parte © sempre, pod no existir. Mas 0 & 2, Nido poi de outro modo niio seria ta) qu déle, © que € contr: Nao esté, pois, integral em parte alguma. nem emg ‘mas integral em tédis as partes, © 52 E pergunta Santo Anyelmo concebemos estas propriedades, ser pensado aido jsamento ¢ na inteligéne! eoncebido, tampoueo podem estas propriedades Ihe serem atri- buldas. E se dizes que nfo se pode ter na inteligéncia 0 que nil pode cer integralmente concebido e compreendido, é como se disesses que aguéle que ndo pode sofrer o Drilho da luz do no qual mpreen. 7” Se nao pole 8 idéia de um ser acima do qual nada se pode imaginar, um ser tal que The podemos atribuir em todo conhecimento as qui tants vézes meneionadas?” Prossegue Santo Anselmo, mostrando que o que soncia, ¢ necessariamente compreendido, pols o que & pen- sado, & pensndo pelo pensament, ¢ existe no pensnraen io, como 0 que é com fe achawse na ou no representa, Se nal Jar que nfo exista, se, a0 contr a MARIO FERREIRA DOS SANTOS possam ser aereditadas como nfo existentes, pode-se pensae 10 nao existentes, excepto o ser que esta acima de tudo. las as coisas que tenham um principio e fim, podemos pen- siclas como nao existentes, ma pode pensar como nao ncipio nem fim, que ndo existente aguito estd composto Podemos, pela’ imagina- istir, € supormos a is, que sabemos que no existem, nilo jam assim, ma‘ 105, 20 mesmo ti que nao podemos 6 pensar que existe e nfo existe ao mesmo E alirma: so alguém distingue, por conseguinte, desta duas prop ‘que acabo de reenderd que na 10 de sua exis ‘que contudo, imaginar nada, tudo » pode ser pensado quando se sabe que Jéncia as futuras objecebes, pros- te-se atengdo a estas palavras de Santo Anselmo: “em primelto lugar, recordas com freqiléneia que eu diss ie € maior ‘que tudo mais que esta na inteligéncia; pois se esta na inteli- géncia, esti tamhém lade, porque, de outro modo, este ser maior gue todos nfo 0 seria, Pois bem, em nenhuma parte, em nenbuma de minhas palaoras, a eneontra semelhante ra- Porque, para provar que o ser existe na realidade, nilo é igualmente ‘concludente dizer que € maior que todos, ou que € tal que o pensamento nao possa formar um mais perfeito. ‘ou pode ser pensado nfo existi existe p que pode eer p cima do qual nada Se pode pensar de maior. Ese nko existe, nip € mona certo que, se existisse, nao scrin éste ser acima do qual nada s2 pode imaginar de maior. Mas no se pode Alger do ger acim do qual € im 20 existe, nao 6 aguéle ach .B, pols faleo que no existe, que possa nao existir ou que possa ser pensado ndo porque, do eontrério, se existe mio € 0 que se diz que e se existisse nfo seria o que se diz que © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 8. E, para terminar, Santo Anselmo faz estas iiltimas consi- deragdes “Mas ainda quan: eoneeber um ber uma coisa que esteja possivel encontrarem-2e hom negar a existéncia de um ser acima do qual ginar outro, contudo, sua audacia nao ird sustentar que compreendem o sentido das expressoes quals se designa éste ser; e se algum déles fosso capaz de afirmiclo, ter-se-ia ‘que repelir suas palavras e ainda a sua propria pessoa com desprézo. Portanto, todo homem que nega que existe um ser fio se pode imaginar nada, compreende, pelo rena © sentido da nezagio que expressa; negagiio que nia compreendida, sem que suas diversas partes 0 sejam qusimente, ‘Suito bem, uma destas partes 60 ser tal que mala de pode sere ‘Assim, © que expressa esta mo- aco, compreende, quer que seja, e pensa o sentido dex lavras: nada maior pode conceder-ee, Mas é claro que wente pensar e coneeber que éste ser niko pode nilo existir. Pois bem, aqua cove um ser maior que aq) seu pensamento poderia mui Por conseguinte, quando se pena uma coisa aeima da qual nao se possa imaginar outra maior, se se eré que pode nao existir, nfo ¢ J4 uma coisa tal que nao se possa concever outra maior. Mas 0 mesmo objecto ndo pode ser ac mesino tempo pensado e Pelo qual, aqudl pens ‘Ao pensa o que 0 que pensa, wxinte, po jo 0 que pode no exis. tir ndo € 0 que éle pensa; um ser lal, que no poile conceber-se e certo que se pode pensar e qual outro nao poder Conhegamos primeiramente algumas das famosas objec Ges ao argumento de Santo Anselmo. TEMA W ARTIGO 3 OBJECGORS AO ARGUMENTO DE SANTO ANSELMO Refutagio de Locke tenho a idéia complexa de substancia, solidez ¢ exten- a3, a que chamo “matéria": prova isto que éste vo- Jume de matéria existe? Nao. E se @ isto acrescento a idéia de existéncia necesséria prova isto que & matéria existe necessiriamente? Nao, Ex- perimente-se com o espirito © aconteceré o mesmo. A razfio esté em que o juntar ou separar, incluir ou excluir, uma ou mais idéias, quaisquer que eu tena em minha eabeca, niio tém nenhuma influéncia sébre o ser das coisas exteriores a mim para que existam, quando junto idéias em meu espfrito. Mas Se dira que a idéia de Deus inclui a existéncia necesséria, por isto, Dens tem uma existéneia necessiria. Contesto: a idéin de Deus, enquanto a palavra Deus, sig- nifiea @ eterna causa primeira, inclui a existéncia necessiria. B, neste sentido, 0 ateu e o telsta ostio de acérdo; ou me- thor, nao ha ateu que negue um Ser primeiro, eterno, que te- nha’ existéneia necesséria, teista do ateu 6 0 soguinte: 0 tefsta 2 que Oste S01 » que fem existéncia necesséria, € um espirito comnoseente; 0 aten diz. que é matéria cega desprovida ensamento, Se para decidir a questio se une a idéia do necessdria A Substinein oa Ser primeiro e eterno, wnha nada, E preciso provar, de alguma ou outra ma- neira, que ésse Ser primeiro eterno, necessiriamente existenta, € material ou imaterial, pensante Ou nfo pensante; e sdmente ido se haja provada assim a existéncia de Deus, a exis- sncia necessfria estaré in ia de Deus; mas nio antes, Porque um Ser eterno, necesshriamente existente, ma- terial e sem sabedorie, nfio é 0 Deus do teista. De modo, pois, que ambas as partes supdem a existéncia real; e a, reunido, fem nosso pensamento, da idéia de existéncia necesséria a uma jdéia de substaneia material desprovida de sensagao ou & idéia de espirito imaterial cognoscente, no as converte em existen- © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 83 tes nem altera em nada a realidade de sua existencta, porque Nossas idilas mio alteram em nada a realidade das coisas Por exemplo, o ateu pord a existéneia necesséria na que quiser, mas rovar primeiro, e por meios difer existéneia de uma matéria eterna que tu aver provado que sua Idéia ¢ evidentere ‘entio, nfo seré mais que uma idéia precéria, construida & sua vontade, que nada prova da existéncia real, pela razaio acima mencionada; quer dizer, que nossas idéias nfo realizam ou al- teram em nada a existineia real das coisas; e tampoueo se hi de inferir que na natureza existe uma eoisa que The corres- ponda, porque podemos eta, em noss0s espiritos, Peas cOrdo das idéias que tém ura existéncia ideal semelhante em nosso espirito; mas daqui nfo passamos, nem provamos ne- nhuma existéncia real, pois a verdade que assim eonhecemos 6 simente de nossas fdélas e sdmente se aplica As coisas, na medida em que se supde que existam, em correspondéneia com tais idéias, Mas qualquer idéia, simples ou complexa, pelo mero facto de estar em nosso espirito, nfo evideneia a existén- cia real do uma coisa exterior a nosso espirito que corresponda Aquela idéia. real; ¢, portanto, a existéncia real de Deus simente se pode provar pela existéncia real de outras coisas: de outras coisas exteriores a nds, somente nos pode ser evi- denciada por nossos sentidos; mas conhecemos nossa propria existéncia por uma certeza ainda maior do que a que nossos sentidos nos podem dar da existéneia de outras coisas, e isto € uma percepcao interna, autoconseiéneia ou intuigdo; de que, portanto, pode extrair-se, por uma corrente de idéias, a mais existéncia real seria longo reproduzi-las, como as de Kant, Hegel, ete, Na verdade, nada acrescentam de novo, além das velhas objec- des ja conhecidas, que sezuem o modélo de a de Gaunilon. 84 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Refu cio de Hellin in também procura refutar o argu Pole, na verdade, se um sujelto ¢ posavel, o predicade ficeional, o ‘pre + portanto, Neste argu mento — prossegue Hellin — a maior decorre de eonvengio; a menor é semelhante em sua base, porque se mo existisse 2, niio seria © maximo pensivel; pois se poderia pensar ia, no s6 na mente, mas posto: que Deus ¢ pensiivel, concede. Que contém a existéncia real mera- mente cogitada, assim como meramente cogitado sujeito que ‘imo cogitado, também concede. Se tem existéncia rest Se 6 demonsteada a poate- sxcogitado, mas tam Mas se decorrente apenas da no¢ & ea, ximo exeogitav E, dai, surgem 2 de excogitada, conc demonstrado a poste cede, Mas se 6 decorre da nogao de exeosit: ainda que se possa pensar algo maximo excogi Verdade, que exisia (sto & megn quo posse existir pois 0 cogitado sritavel, meramente cogitado, (0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 8 © mesmo argumento serve como objeccio aos argumentos do Leibnits © de Descartes, que sdo, em parte, decorrentes do argumento anselmiano, e que examinamos mais adiante. Refutagio de Muiitz nselmo empre do 0 poder de seu engenho em por de manifesto a continéneia da existéncia actual no pré- ‘to que todo homem tem de Deus. ‘Todos os homens io falam de Deus, querem ex- perfeito que se pode pensar bem, se éste ser carecesse de existéncia, ar, pore istente — pelo simples facto de exist ‘Logo, no proprio eoneeito Quem bem e imaginar. Mui ro seria o mais perf ‘que um ser qualquer todos os homens: #6 0 néscio pode dizer ‘ste bstaneia, o eélebre argumento de Santo An- diversas sob a pena de Deseartes, diz Mui, astinalow qui que demonstve a sua exi ‘era sempre um salto ilegitimo da ordem ideal la ovdem logiea, ou do pensamento, A ordem ontoldgica; e @ste vicio radieal do argumento ontotégieo, em qualquer forma que se presente, Vejamos tenela real “Deus é 0 ser mais perfeito que se pode pensar, Fixemos ie pode ter esta proposiedo. Primeiro: perfeito que se pode pensar, Tomada neste sentido a proposi¢fa, supée a realidade e existéncia de Deus, que 6 precisamente 6 que se intents demonstrar contra 86 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS vida alguma que entranha a existineia ideal, ou soja, a exis- #€ncia real concebida; pois 6 impossivel conceber uma coisa como a mais perfeita que se possa pensar, sem que, ao mesmo ‘tempo, seja representadn como existent. ' Por isso, quem pen- sa em Deus, como 0 ser mais perfeito que se posta conceber, pense-o também como realmente existindo, Mas que a razdo do homem pense uma coisa como real- mente existente, segue-se que realmente exista? Aqui est a passagem da ordem ideal a real, rea & ontolégica. Uma coisa 6 0 pensamento da existéncia real, ¢ outra, muito distinta, a realidade da existéncia pensada. 'O homem pode pensar que a felicidade consiste nas riquezas ou nos prazeres que 0 direito esté na fOrga, que a alma perece com o cor} ¢ tantas e tantas outras coisas. EB, contudo, estas coisas, sadas pelo homem como reais e existentes, no tém real nem existéncia alguma fora da inteligéncia que as representa e eoneebe. O homem pode, do mesmo modo, pensar em Deu como real e existente; mas inferir, daf, que existe realmente, confundir duas ordens completamente distintas, como sio a ordem do ser ea do pensamento”. TEMA ARTIGO 4 ANALISE DA CRITICA AO ARGUMENTO ANSELMIANO A leitura das objecg6es 20 argumento ontol Anselmo, feita rapidamente, parece mostrar a improcedéncia de tal argumento. & to ffeil a refutacfo dada por teistas @ ateistas, que logo deveria provocar, em quem as le, uma davi- da, que’e nosso método da suspiedcia logo nos indica. B de admitir que Sa ésses “pontos de fraquer: moditado préviamente em t0das as possiveis refutagies? Seria © grande beneditino to ingénuo que se deixasse arrastar por uma confusio de ordens, que qualquer estudante de l6gica, desde logo compreenderia? Bstaria tao eego em sua, paixa fe erenga, que se delxasse levar por um argumento frégil? 0 Anselmo niio tivesse percebide De antemdo, respondemos que nao o estava, E vamos mostrar por que. Mas antes, impde-se que reunamos todos 08 argumentos contrérios que, mais ou menos, se repetem, Ana- Tisemos ésses argumentos e depois procuremos, no proprio argumento ontol6gico, 0 que, néle, ldgicamente, j4 estava im- plicito, ¢ que Santo'Anselmo julgava que outros pudessem captar, Se fizemos questo de coligir objecgées ¢ estampé-las nes- ta obra, procedemos assim por espfrito de honestidade para com © grande filésofo, que foi, propriamente, o iniciador da escolistica, © que The marcou o primeiro grande passo ascen- lente. Em primeiro lugar, nflo esquegamos a posielio filoséfica de Santo Anselmo. éle genuinamente platonico. A posigaio platonica earacteriza-se pela aceitacao de uma realidade des formas (ou idéias, como freyllentemente se diz) além da rea- Tidade do mundo empirico. ‘Mas reconhece, que éste, em que a matéria eopia com mais ou monos perfeigéo ax forms, ¢ um mado de realidad, tfe- or, pols 6 um mundo do fendmeno, wm mundo da A imax porte 38. MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘mais sibios ou menos sibjos. ste mundo de escalaridade nos compostos de forma e matéria revela uma hierarguia inferior a0 maundo das formas (idéias), onde estas no sofrem esca- laridade, mas apenas estio hierdrquicamente colocadas, pois & idéia de bem é sempre, em sua pureza, bem, e ndo menos bem nem mais bern, ista-empirista de Aris- e negar, por exemplo, ‘elas nfo se dao afastadas da matéria, que @ modelada por elas, A forma € activa predominantemente, pois é acto, ¢ a matéria 6 pas. siva, predominantemente, pois € paténcia. Neste eaco, o realismo das formas dos platénicos ¢ rejei- tado pelos aristotélicos. Ora, Santo Anselmo coloer-se na posigio que aceita 0 realismo das formas (ou idéias). BH a leitura da sua argumentagéo nos mostra que procura provar, eo faz sem duivida, a realidade ideal do ser que nada ser pensado, Segundo todos os objectores, o argumento de Santo Ansel: ‘mo apenas prova a realidade na idéia, e nao a reulidade em si Mas, pert ue realidade se deseja considerar? A jea ou uma realidade transfisica? Se qi © ser, que mi se a hivesse, 1: Portanto, a i ide empirica, fisica, € légieo aue ia de maior pode ser concebido, nio a saber se 0 simples entinciade do Maior prova transcendental, ito que se da o que Tomas de Aquino salientou legitimo do légico ao ontolé latoni- Santo. Mas, afeitos como devemos estar a0 pensamento © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 89 Podemos, em primeiro lugar, pensar no Maior. Ou pensamos que o Maior existe ou que o Maior nao e te. Em qualquer dos casos, sempre pensamé pensamos que 0 Maior néo existe, o seu pei refere ao Maior, pois o pensamento do Maior implica sua existéncia, Resta agora provar que éle exist ‘Vejamos os pensamentos implicitos nesse jufzo. Como podemos imaginar o Mair? ‘Temos experiéneia sensivel déle? Absolutamente nio. E se nfo temos experiéneia sensivel déle, como podemos concebé-lo? © argumento da itha Perdida nfo provede, porque, 0 que nossa ilha é maior, 0 & em comparagao ao que conhecemos por Mas, no caso do Maior, 0 que conhecemos ndo é por O Maior é a Perfeicdo Absoluta e esta nao nos 6 dada pela empiria, como j4 mostramos ao estudar a “times pparabélica” e a posse virtual de Perfei¢ao. Diré o empirista ‘que nos é dada por negacao das coisas finitas que conhecemos, Mas escas coisas finitas podem eer coneebidas como nfo existentes, © nao podemos coneeber com 3 podem ser eoncel mas o ser 180 pode! im. seas eoisas tém co 0, 6 eterno, E ser eterno nde 6 uma me ito e do tempo; uma superagio do finito ¢ do negacao do tempo. E née podemos concebé-lo, ese Maior, e éle existe neces- shriamente, nao por que podemos concebé-lo, mas podemos con E por que néle estamos e como é portanto, salto, mas a espresso de uma vivénc mais profunda que hé em nds, de uma experiéncia qi vram tantos homens, por mais que a queiram ocultar, p mais que a na ‘mas que thes fala através ‘simbolos, mais om mus qu todos, ‘a mesma afirmagao, ov pode ser con le, sera sem: @ 0 maior que possamos conceber seré sempre um. dale. Nao somos nés que o criamos com o nosso pen: nosso pensamento que & uma vaga expresso 90 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Em resumo: mano pereebe no 56 esp tédas as perfeigdes deve ter um re- presentante que as possua intrinsecamente num grau mais elevado que os outros. 29) Conseqtientemente, o ser humano pode conceber um ser que tenha a maior perfeigio, sem que um outro o ultra: Passe, pois, do cor éste seria o de maior perieigao. 8°) Pode- conceber um ser, acima do qual nada de maior se iwinar ou eoneeber.' Até aqui, todos os refutadores esto de acordo. Resta provar que éste ser, mai coneebido como o maior de todos, ue todos, que é por nés iste necesshriamente, i gar, nfo podemos concebé-lo como no existente, pois nao seria o maior. Agora, prestemos bem atenqlo a esta passagem de Santo Anselmo quando diz: "Das concebé-las como nfo de-se concebé-las como a das coisas que exis- dade elas existem, di como nio existentes. podemos pens hierarquia das pert jocke, uté o atefsta, quando conse- de um ser que nao teve prinefpio ia, energi ‘onhecem que éle nko tem principio nem firs, pois, viria do nada, ‘odemos, pela imaginagiio, uir muitas coisas que sabemos existir, e supormios a exis ras, que sabemos que nfo existem..." E ‘aie nfo podemay é pensar que existe © zando as suas palavras, iste, no acto de existir, ndo tente,’ mas podemos pensé-lo velmente no existente, embora exista, Mais adian- ‘Todo ser contingente pode ser ‘tudo © que pudemos pensar ‘acima do qual nada se pode © HOMEM FERANTE 0 INFINITO a1 sxiste, e se podemos pensar nél fio’ existia. Nem podem’ deixar de exist das perfeigoes e, con ser que néio tem p do contrério, teria de admitir que tais per! nada. Conseqientemente, no podemos deixar de reconhecer ‘que se pensamento anselmiano foi exposto em t da concepeio filoséi Essa premissa & 0 re pensamento humano, e ta quem nZo possa tal cois homem f6sse dadeira. fa verdade desta pre- rissa. 1g objectores poderia deixar de reco- nhecer que ela nao surgiria esponténeamente ao pensamento humane, se nio fosse precedida por uma longa especulagio, ir que haja que um 35 Se Santo Anselmo expds em térmos pl mento, éle, no entanto, pode ser just fandamoente eomproonden essa figura is Seot, o grande doutor franci \do por outros caminhos, e acreseentande novos argumen- : ou esta prova, tornando-a logica & irrefutavel. 0 que teremos oportunidade de exar ‘do estudarmos as provas, seguindo os caminhos (vias) de Seot (2). TEMA Ww ARTIGO 5 AS PROVAS IDEOLOGICAS Sio chamadas de provas ideolégicas, todas aquelas que se fundam em idéais, que partem de nogées, portanto, de argu- mentos propostos @ priori A prova das verdades eteruas ¢ nocessérias: — B esta ias por Santo Agostinho, e pelos agos- repetida posteriormente por muitos le, 6 verdade que existe: se nfo exist ‘20 existia. 'Também no poderin com 4 verdades eternas e necessérias, Or vias nao podem existir em sre mas em um ser que seja eterno e ne- negariamos ‘e afirmamos que hit sternas, mas tais verdades silo as rea ‘amadas verdades eternas de ser pensadas, derentemente, & ‘eolégieas, que vamos reeneontra- Objecta-se, aind lo & a prior’ que se pode concluir. ve verdades cternas @ necessérias, a existoncia de um ser © argumento fundamenta-se apenas no ta idéias eternas e necessarias, cuja mas em Deus, 0 HOMEM PERANTE © INFINITO 93 tes as coordenadas em que vivemos. Se a matematica diz que © todo 6 igual 2 soma das suas partes, Lal, quantitativamente, 6 verdade. Mas poder-se-ia dizer que uma soma de partes po- deria dar, qualitativamente, um todo diferente, o que também verdade, porque um todo ico no é apenas a soma das jas partes, mas 6 slgo qualitativamente diferente. Que as mat rigneia, pois, visdes @ nos nitiens © so realmente, 0 comprovam @ expe- contrivio, néo haveria tanta justeza nas pre- los. Mas poderia alguém objectar que tais 18 outras combinagdes de pai forn ‘em que penetrassem nelas valores, além de opositivos ‘tives, como energias negativas que pudessem di do ‘todo, acarretando uma dimim relagio & parte. Neste ea: ‘Mas retrucaria 0 defensor do argumento: a dif erence con! as leis da matemétiea, as verdades da mat forma alguma, a verdade eterna que o “todo 6 igual & soma das suas partes E se se objectasse que se poderia dar um muni tudo fosse invertido, que obedecesse outra orden fa nossa, outro cosmos, em suma, poderinm nossas verdades eternas ‘nio serem validas. O defensor do argumento acres eentaria que, primeire, essa opiniéo se fundaria a possivel. Mas, 0 que & verdade, pois o imaginado seria ainda fundado numa ver- dade eterna, Pois o que é que se imagina? Uma ordem dif uma ordem que ni ssa, a actual, E sem relugbes os imprevistos féssem possiv ma pereira’ daria elefantes, ante sairia voando, uma diguia rastejaria sdbre @ superfieie da terra, ¢ penetraria ‘onde, nas cachoeiras, as aguas subiriam em ver de descer, 0 que quiser p mado, mas nao se podem negar as leis do se ia 0 objector: tal verdade nao é eterna mudada, a verdade deix de destruir 4 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS Tal ordem deixaria de ser actual para ser uma pos idade, e outra se actualizaria, em nosso cosmos no um simbolo tabilidade, a cternidade e isto e aquilo? Toda e eternidade ¢ a verdade de um ser capaz de ser o que € tanto, o que esta prova pode auxiliar a provar 6 a grande rea- ica do sex, como principio de tudo quanto 6 walquer ordem que surja (1 A nosso ver, o argumento vale apenas como exemplo do apontar simbélico de um ser que antecede eternamente a tudo, eque é a verdade. A prova pelow posstveis a exigéneia real de um ser necessério; portanto, ser necessari necessfrio, senfio chegart te, 08 possiveis so possi + por outro lado, si que compreender, 's, 08 fact a faz par- ente, e uma possibilidade é de outros para fa- sar o intrinsecamente possivel da situagao de poténcia a de acto. 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 95 © possivel, como sabemos, é apenas 0 que nfo contr: f coisa ao qual € atribuido. ' Podemos intrinseco, como negar um possivel ext afirmar 0 poss{veis intrinsecos ao existente e negar a existén~ fveis extrinseeos, 0 que nos levaria a negar a Deus hi 0 ser, niio Deus Pois ge 0 ser néo quem 08 captasse. téncia, a afirmacéo da existéncia, que 6 sempre, consegtiente- mente, @ afirmagdo do ser, E sdmente a tanto que leva éste argumento. atirmagio do ser 6 implicita em tOda afirma- mar & jé postular o sor e também postular sua ivel que, nfo havendo possiveis a nogagio de todo possi urgido algo que pudesse postular uma afirma Portanto, 0 possivel sempre implica wm go qual se possa atri ‘buir, ¢ bsse ¢ 0 ser, eterno e necessério (1 Mostram-nos os argumentos a priori (@stes ideolégicos), ‘que no podemos provar Deus ainds, mas apenas 0 ser eterno fe necessirio, o que j4 6 0 apontar de um atributo d lade 10s dos tedlogos, s6 pod ‘A prova de Deus, portanto, para m lencias que 9 e: to, so cooperantes cor podemos postular, e afirmar s®l cessidade do ser, mas esta accitacio também a a fas, que aceitam a eternidade e neces: atéria ou da energia, e nfo ainda guom a divindade da mera existéneis sn dizorse que se mio an impossivcis, 0 que tornae-ee algun ibuido @ Kant, mas por aqué- sams. A prova do ser necessirin rio segue Gage caminko, como j& vimos, © ainda veremon m TEMA ARTIGO 6 DAS PROVAS A POSTERIORI — AS CINCO “VIAS” DE TOMAS DE AQUINO Os argumontos a posteriori da existineia de Deus — os gue parlem de factos da experiencia ¢ nla apenas de, nose, se apolam no prineipio de razio suficiente — so elas” sificados em: 8) provas eosmol6wieas; ») provas psicolégicas; ©) provas moraia As provas cosmoldgicas fundam-se nos factos de experién- cia externa, por meio da qual conkecemos o mundo exterior B sébre tals factos que Tomés de Aquino construiu suas pro- vas, através de einen vias Como so trata aqui de matéria que merece uma exposieao dosa e a mais Zundada nos textos, reproduzimos a seguir os comentarios prévios apresentados por Muiliz a tais provas. “Téda via para demonstrar @ existéneia de Deus constard do ou ponto, que nao pode ser outro que a causalidade nseca, € de um térmo de chegada, que é a causa, Deus 0 ponto de partida é sempre um efeito sensivel, manifesto, eto de experiencia -dinagiio de causas ef n fim. Como déstes factos de experidneia pode a raz var-se a Deus? © primeiro passo que tem que dar a raz que tais factos entrankam a condigio de efeitos: que sadue; por exemplo, © que se move ¢ movido por outro; ums sansa suboriinada & movida por outra superiors 9 ser eon por tim ser necessério; ma per pada em distintos graus 6 causada pela mesma + um ser cog we opera por fim, € caus io v din " © HOMEM PERANTE 0 INEINITO 97 Rem assegurado éste cardcter de efeito, a razto, em vir~ tude do principio de causalidade, passa a demonstrar a exis- téncia da causa, Um seyrundo passo, comum a tédas as vias, 6 4) subordinagio per ge de causas, nfo se pode proceder nite, mas que é absolutamente necessario chegar @ una pri- meira enusa, da qual dependem todas as outras, Logo, tem de existir um primeiro motor que tudo move, ira causa que poe em setividade todas as outras} necessério, que é causa de todas os sérex necess fonte e origem las coisas existom; e uma primeira inteligencia, dirige todas as coisas @ seus respectivos fins, Esta Gltima causa 6 Deus Por conseguinte, tddas as vias de Tomés de Aquino teréo, pelo menos a) Um ponto de partida: consignago de um facto da ex- periéncia, b) Primeiro grau da via: éste facto de experléncia & no- cessiriamente eausado, ©) Segundo gra da via: em wma subordinagio per si de eausas é preciso cherar a uma primeira a) Término final da via: essa causa primeira ¢ Deus. Logo, Deus existe, is aqui o marco legal, dentro do qual é preci todas ¢ cada uma das vias de Tomés de Aquino} td pretacio a @ste marco esta evi 0 Doutor, @, p uma. Teria sido ea- um nove e interessante problema da suficiéncia e conexio das cineo vias. Nao falta quem ponse que nem todas as vias do Angélico ‘Mestre tém valor proprio e independente para demonstrar a existéneia de Deus. ins negaram valor demonstrative a trés destas vias (1.', priedade e hi quem chegue ao extremo de dizer que ne mas que silo como itegrais de um argumento total, 0 qual sdmente tem monstrativa. Os que se expressam desta mai ver chegsdo ao fundo do pensan ira, demonstram mi Tomiis de A 93 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Sem nemhuma intengéo de diivida, para 0 Angélieo Doutor, tédas, e cada uma das vias, so apoditicamente demonstrati- vas; 0 qual nfo $6 se infere que é assim do exame dos jeus Griador”, segundo Dizer Ha, pois, para Tomas de Aquino cinco vi firmes e kegurss, que Tevar, de modo certo e indubitavel, a Deus. Os autores tém 90 esforgado em organizar ou sistema- tizar estas eineo vias, i las ¢ 0 porque de seu tros, ao eon ponto de io que fa nam as vias com os diversos 90) f evidente quo Tomas de Aquino distingue, ordena @ de- nomina suas cineo do os distintos pontos de partida. Cinco dis partida, de onde procede a ace sempre por via de causalidade eficlente, até chegar a Deus. Em conformidade com a letra e o espirito do Any Doutor, podemos propor a_se istematizago das cinco vin, que nfio 86 nos mas que, a0 mes- mo tempo, nos demonstre porque néo podem ser 1 Téda demonstragio da existéncia de Deus deve partir do ser eriado, que n6s cor Pois bem, 0 ser cri divide adequadamente em: a) Ser eriado b) Ser est ou esta fazendo-se (em mov te). Por conseguinte, as provas da proceder: 1s ou em movimento, Porque tug Ou do ser criado em movimento, ou seja do ser inimicamente considerado (vias dindmicas). 1 do ser criado, estitica € tivamente cone siderado (vias estdticus ou entitativas) Mas a movimentacao, a fieré, em sua acepcdo aristotélico- -tomista, compreende trés elementos: wot etn mobitis) 2° — & acto, ao mesmo tempo, do motor (actus mataris) 3° — B 6, além disso, tendéncia ao térmoa (via aid ter- minum) © HOMEM FERANTE © INERNITO 99 Do movimento, enquanto é acto do mével, procede a pri= motra via; do mesmo, enquanto é acto do motor, ou seja da poténeia activa do motor, arranca a segunda; e enquanto & via e tendencia ao termo, funda a quinta. : em todo movimento entram trés irecedio a um térmo, Do mével, par= tea primeira via; do motor, a segunda, e da direegio ao térmo, a quinta, No ser eriado, est te no ser eriado, & pr: mente considerado, ou simplesmen- iso distinguir duas formalidades: 1." — A existéncia ou o esse. wrago no existir (duratio in esse perdurans). Ne primeira for objecto de nossa exper guinle, causado, vomo na segunda, © ser crlado, ancia, & limitado, finito’e, por conse iino: do cantingente e do necessario. 8, além d supse que no & igo da de fora, ab extr ta via eaminho que se serue na se infere que, das cinco vias, tres sflo dinamicas estaticas ou entitativas; afirmagao que se corrobora, considerando o térmo de chegada, pois umas nos demonstram a Deus so 0, @ sob o aspecto enti- A existéncia de um motor imével, de wma causa efi- ira, de um diretor ou gover namicos, operativos, sob os quais nos descobrem a Deus as sogunda ¢ quinta. M ros ares, © a de for, da onda de toda outen perfegao enguanto existe, sa itativos da Divindade, tal como se chega a ver nas 100 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS os Alstintas pontos desde ond a razko humana pode elevar-e Senn de has ois, nem pode haver sexta Vine Quantes argumentos se aluntem alm Gas cldsseas cinco vias, ou nfo Sie demonstrativos ot, se. tem algum valor, tém-no porque nao so outa coisa que aspectos parsiais de dis ead vas, ‘Tédas elas partem de um ser criado; mas algumas dc eriado, considerado desde um aspecto extrinseco ¢ acc ‘enquanto é sujeito de movimento, principio de actividade tendéneia a um tim (primeira, segunda, quinta) ; outras, contrario, do ser eriado, olhado sua duragio (aspecto ail razfio de existe do (quarta via) 0 profundo e mé op. eit. I, pags, 118-118). TEMA WV ARTIGO 7 A PRIMBIRA VIA, EXPOSTA POR TOMAS DE AQUINO — A VIA DO MOVIMENTO “A primeira e mais clara se funda no movimento. & inegével, e consta pelo testemunho dos sentidos, que no mundo hd coisas que se movem. Pois bem, tudo o que se move & ‘do por outro, j4 que nada se move mais que enquanto esta ia a respeito daquilo para o qual se move. Mas, mover requer estar em acto, j& que mover nao é outra coisa ‘que fazer passar o que est em acto, A maneira como o quente em acto, por exemplo, o fogo faz que uma lenha, que esta, ite em poténeia, passe a estar quente em acto. Multo bem nfo é possivel que uma mesma coisa esteja, ao mesmo tempo, em acto e poténcia a respeito do mesmo, senio a respeito de coisas diversas, o que, por exemplo, é quente om acto, nao pot ser quente em poteneia, e sim, que, em poténcia, é, a0 mesmo tempo, frio. , pois, impossivel que uma coisa seja, por isso eda mesma maneira, motor e mével, eomo também 0 6 0 que se move a si mesma. Por conseguinte, tudo o que se move é movido por outro. Mas, se 0 que move a outro é, por sua vez, {rio que o mova um tereeiro, e, a éste, outro. Nao se’pode porém seguir indefinidamente, porque assim no hjaveria um primeiro motor ¢, por eonseruinte, nfo haveria mo- ‘tor nenhum, pois og motores intermédios, nfo’ movern mais que ‘em virtude do movimento que recebem do primeizo, da mesma forma que um bastdo nada move a nfo ser que o impulsione a mio. Por conseguinte, é necessirio cherar a um primeiro motor, que nflo sejx movido por ninguém, e éste € 0 que todos entendem por Deus” Tomas de Aquino, “Summa Theologica”, 1, q. 2, 2, primefra parte). Anélise de Muniz “128 — Ponto de partidta. — 0 facto de experiéucia, de que parte a primeira via, € a existéncis do movimen' orto, e consta p enisas que se mover 02 (MARIO FERREIRA DOS SANTOS: espiritual ou sensivel, substancial on accidental, local ou de al- teragio, ou de au de uma perfeielo para faz falia saber se todos os séres do universo se mover desta maneira: basta-nos que alguns se movam, Que ha no mu certamente ae fo alguns séres que se movam, prova-nos iéncia, tanto interna como externa, A ex- afectos © de todos Que esti sujeito nosso es 108 pensamentos, m nos sentimentos. A experiéneia externa, por me os sentidos, mostra-nos um mundo submetido a malt dangas, transformagies ¢ movimentos, que t na torra e nos mares. Ninguém pode por sériamente em di- vida a existéncia do movimento, saseneialmente algo eausado, 6 flo, ‘Tomas de Aquino recorre 2 experiéneia, mas remonta i andlise metaffs dos conceitos de mover e'ser movido. Diz-se que uma coisa se move ou é movida, quando esté recebendo uma entidade ou perfeicdo de que antos earecia. A agua move-se, ou se trans~ forma, ou se muda de fria em quente quando est actualmente reeebendo 0 ealor, Uma vex que ja receben o calor, cess movimento, 4 se verificou a mudana; antes de comecar 9 receber o calor, a figua estava completamente iria, sdmente tinha poténeia para recebé-lo. A Agua no se muda ou trans- forma enquanto esté em pura poténeia para receber o calor; tampoueo, quando jf possui o calor plenamente. O movimento, mudanga ou transformacio da Agua se verifiea quando a po- ténela da figua para o calor se vai a pouco e pouco actualizando, enquanto estd aciualmente recebendo o calor. ‘Uma coisa tanto se move ou é tanto € sujeito do mo lem ao acto ou port ra tor uma perfeiedo signi tual da mesma, e por outro, eapacidade nao tivesse capacidade para receber de facta; portanto, nunea experimen! im mesmo, se a Ai wmapoueo poderia experimentar a vida quanto é sujeito do cieneia, virtude, ete.), & acto ot per para possui-los. sta potd que faz 0 movimento. acto, é actuar a acto ou perfei- ito actua sua capacidade de Logo, mover 10 que se move, carece actualmente da perfeigao para’a qual se move. Do que se ine fere que, se um mével se movesse a si mesmo, seria, ao mesmo ‘tempo, motor © mével em ordem a uma mesma perfeigao oi acto. ‘Enquanto mével, eareceria actualmente de perfeigéo para a qual se move; @ enquanto motor, teria actualmente a perfeiczo ou acto a que reduz 0 mév jeilo, ea um mesmo tenepo, teria actualmente uma perfeigio e actualmente careceria del mesmo aspect Jutar se move € movide por outro" acto senfo por um ser em acto”, & analitico, necessario, un! versal ¢ infalivel; que tem aplicagio a todas’ as madangas ot miutagdes, em todos os séres e em todos os tempos e lugares, Vale o mesmo nas mudangas materiais como nas espiri- tuais. A agua nio pode mover-se a si mesma ao ealor porque, enquanto € movida ao ealor, carece actualmente déle, ¢ enquan- to a move o calor, j4 0 possui actualmente, poraue ninguém pode dar o que nao tom. Logo, a Agua, movendo-se a si mesma ao calor, a um mesmo tempo teria actualmente calor e actual- mento earcceria déle, Logo, 6 necessario que o motor seja um sujeito distinto do mével. Logo, tudo 0 que se move 6 movido por outro, por um motor realmente distinto do mével. \dimento ndo pode reduzirse a si mesmo ao acto io, nem a vontade ao acto de querer (a.3, ad2). momento, no es 104, MARIO FERREIRA DOS SANTOS segundo momento, consideremo-los sob os actos de entender e querer, respectivamente, Ambos experimentaram uma mudan- a, uma mutagio: 0 entendimento, de passivo, se transformon em activo, de inoperante, em operante; je passou do 6cio & acedo. Nesta mudanca, entendimento e vontade rece- entidade, acedo (inteleeeao, nto, néo tinham. Ao receber ‘em si mesmos ste 8 respectivos 7 egamos que mover & dar je a actual posse do mesmo. poi ontade dio seus respec! Eque os tinham antes de os dar, porque, de outra maneira, no tinkam 0 acto, quando ainda esta vain om poténea pare thos, Logo, a um tnosmo tempo tinham endo tinkam os Actos de entender e querer. Lo de actos de entender e quert ,e que dar acto suy dos por outro ser A operagio. Fica, pois, provado que tudo o que ge move (cambia, muda ou se transforma) € movide por outro da vida. — sabe um processo i ‘0 moter, © qual is de haver demonstrado que “tudo 0 que se move é Agora, $6 nos resta exami na uma subordinagio ind razio qualquer. bordinacao esseneial ou de per si; tal ou per accidene. NO © HOMES PERANTE 0 INFINITO 105 desenvolvimento das vias de Tomés de Aquino 86 se tem em conta a subordinacso essencial ou per si. Esta, propésito pormo-nos a demonstrar se 6 ou nfo po: Subordinagéo per accidens indefinida, 0 motor, para mover e por 10, Ha subordinago essencial e per si no seguinte caso: o bastio move a pedra, porque & movido pela mio, e a m&o move o bastdo, porque ¢ movi vontade. A aceao, pela qual 0 © proprio basto, torna-0 mével; e, por conseguinte, a acgdo do bastao (0 bastéo sod a razao formal de motor) € causida no bastio por outro motor, que é a mio. Assim mes- ‘mo, a aecao pela qual 2 mao move o bastio, altera e modifica ver 0 movel, é éle também mo ma, Por onde a acc por outro motor superior. E assim sucessivamente. ‘Tratando-se de uma subor género, é al tamente impossivel que raziio € porque numa série mente subor; motor imovel nao podem mover os motores subordiados, c, se éstes ndo move, nfo haveré movimento nas coi que se . "Ese pomos nquan- » todos os motores sm sem causa que os mova; a série fiea sem ex- motores movides nio podem mover, e no movimento. Diz muito bem Tom: 108. MARIO FERREIRA DOS SANTOS E assim eo iculo por uma série i ‘trumentos subordinados, sem caulsa principal, no 0 ¢ menos admitir uma série indefinida de motores, que nia movam sem ser proviamente movidos. Todos éstes motores sao como ins- trumentos do motor imével. Tiremas @ste, ¢ todos os demais ficariam privados de movimento, ta de ins 42 — Térmo da via. — Logo, 6 necessirio ehegar & um primeivo motor que nfo seja movido por nenhum outro, a um motor completamente imével, ao qual todos coneebem como Deus. Logo, Deus existe. A existineia de um motor absolutaments imével concebe- ~se como conseaiiéncia léeiea © necessaria, das duas premissas expostas no primeiro e segundo grau da’ via, A identidade déste motor absolutamente imével com Deus SI ise do que significa um motor absolutamente imével, ‘a compare com 0 eonceite vulgar e comum de Deus. Este motor absolutamente imével & A) Primeiro motor, que move todos os outros motores. 1° — Logo, sua actividade se estende a tidas as coisas ‘que move e as que so movidas = wniversalidade da causali- dade devina. 2° — Logo, t8des as cvisas esto subordinadas & causa- dade déste primeiro motor — providéneia divina, 32 — Logo, esta presente a tédas as coisas, porque em t0das opera = omnipresenca divina, 4° — Logo, contém de antemfo e, actualmente, thdas as ‘9s motores inferiores adquirem sob o influxo 1° — Logo, é acto pois um ser opera tanto eareee de tida poténeia, téda vez que a pot ‘ao acto por um ser jf em acto. 10, € perfei¢éo pura ow pl de perfeigao; © acto 6 perfelelo, e acto puro 6 perfeigho pura — om: Dens, © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 107 tencia, com a qual se entremescla = unidade ¢ unicidade de Deus = monotetsmo, se identifica com o seu existir, ¢ s Porgue n'Ble nao cabe compo- io de potencia e acto, pois & acto puro = ser subsistente. 52 — Logo, 6 absolutamente imutivel, por carecer de toda potén conseqilentemente, eterno = tmutabitidade ¢ eternidade de Deus. 62 — Logo, possul g6es_que os motores subor: mente = € sempre igualmente per lade, t6das as perfel- adquirindo sueessiva- Qualquer que compare 0 significado de motor absoluta- mente imével com o conceito que todos os homens tém de no deixard de compreender a perfeita identidade de ambos. Logo, Deus existe” (Idem, pags. 118-123). Critica do argumento Sao bastante conhecidas as objecgdes que se tém oferecido avesta via, Mas tédas elas podem ser sintetizadas em poucas palaveas, ° — Tomfs de Aq apodietiea, que & o prinefpio de eaus 1a causa, 9 que forma um nexo de antecedente com o con- “Filosofia e Cos movisio”, 0 conceito de causa ¢ efeito, onde analisamos algu- mas das Critieas de Hume e as posteriores de Schopenhauer ¢ Nietzsche, Pode a cidneia, como o fax hoje, abandonar a rigider que fa razio empresta ao conceito, para substitut-lo por factor, vee- tor, condigho, funcedo, 0 ja. Mas o sentido genuino do térmo, ¢ como o emprega Tomés de Aquino, cabe, de qualquer forma, & filosofia como A ciéneia, para a escoldstica, 6 0 que produz io, no todo ou na parte, ou impele ‘A relaedo causa ¢ efeito é inseparavel. hé eausa, e vice-versa. Remontando-se do efeito A eauss, gurseia’a uma causa primeira, eausa prima, causa e das coisas, a qual, por sua vez, nfo seria causada por ou incriad’. Seria um ente necessi 108 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Os objectores de Tomas de Aquino, partem, portanto, da seguinte posi¢ao: se for negada a eaten prima, ipso facto caem por terra todos os seus argumentos, pois, como vimos, todas elas (as cinco vias) fundam-se nesse postlado, apodi. tieo para ele. Ora, podemos conceber que causas ¢ efeitos formam uma ordem sem prinefplo nem fim, como uma seqiiéneia circular, em que umas fossem causas de outras, ¢ estas, por sua vez, gansas das subsegientes, até um retirap que a tormasse cause ete, da primeira, ‘ssa objecgio leva a situagdes aporéticas: a) @ aceitagio de um eterno retérno; b) admitir, finalmente, mesmo, pois o efeito ter uma cause ‘Teriamos ent&io de concluiz, que o a , temos de atribuir a0 todo, pi se tudo empre uma east , & causa de si mesmo. ‘Teria- reconhecer, com antecedéncia, no ser, o poder de ser causa, ¢ como subseaiiénela o de ser éfeito, e © todo, enquanto ‘N&o terjamos, portante, de forma 1, que continuaria em pé, até aqui, de que ha uma causa prima, 2° — A outra objecgio, que se faz, é referente 20 pri meiro motor. Costumam os objectores abandonar 0 amplo as peeto em que esta prova 6 mostrada por Tomis de Aquino, © apenas acerear-se do da matéria, Entio argumentam: sc a a 6 absc jerte, oxigiria a presenga de um mo- tor para mové-la, Mas a matéria nio é absolutamente inerte, alegam, pois a ciéncia 0 mostra, primeiro lugar, estamos em face de um deslocamento ee fi em te isico, sobremaneiramente isieo (& matoria fisiea). eriagdo e da exposigo do argumento igo se vé que dle nao aveita fosse a mn jimultaneamente no mesmo acto erisdor 0 que encontramos de activo 0 HOMEM PERANTR 0 INFINITO 9 na matéria é 0 acto que a produz, é 0 ser de que ela parti ¢ ésse ser é 0 que a move, A diferenea est que o cont de matéria significa apenas a parte pussiva da existéncia, e quanto 0 de forma se refere & parte activa da existencia, cuja oposi¢éo fundamental explies todo o existir. passivo no existir fi bsolutament como 2 forma gio da forma. A ‘0 pensamento to- meramente materia al e absoluta act Portanto, 0 que dé movimento & matéria 6 un a matéria é primava, é arqué, como o pretendem os materia- istas metafisicos, ela se distin; como act) seria ‘pura’ 7 ontoldgicamente & parte passiva de seu préprio’st oq ‘go mesmo tempo eas, a matéria seria teneia, e sob a mesma razio, o que é absurdo, A prove de Tomis de Aquino, estabel anteriotidade ontolézica do acto puro & poténcia; do motor ao movido, Esta aceitagio leva a t6das as conseqtiéneins que sho apresentadas ma argumentagio ¢ nos comontérios de Muniz, aie j& expusemos. principio de causalidade e a exitien que sido feita, carente de fundamento, 110 MARIO FERREIEA DOS SANTOS to quanto suede, sobrevenha de algo que 0 antecede, de algo ia e que deve podor tudo quanto é e serd, pois, no vindo de um ser, viria do nada, o que é um, Ademais, convém salientar que os ataques feitos ao prin- io de causalidade se devem a uma alegariam que hé uma evolugio da mater ‘para mais perfeita. Tal argumento 6 sim Se a matéria conhece uma evolugio per~ @-acTescentamento de valor, de perfeiedo, ou Viria Gela ‘aue 38 conterla, ou mio” Se a contém, a evolugao E apenas relativa, Se nis a cantém, ese suprimento ae per. feigdo Viria do nada, instalar-se-ia, mais uma vez, 0 absurdo,, TEMA W ARTIGO & A “SEGUNDA VIA” DE TOMAS DE AQUINO — A SUBORDINACAO DAS CAUSAS EFICIENTES Ba soguinte a exposigdo: ia se funda na causalidade eficiente. Acha- existi indefi eficionte qualquer, e, portanto, nem efeito ‘iltimo, nem eausa eficiente intermédia, coisa falsa desde logo. Por conseguinte, 6 necessdrio que todos chamam Deu (Tomds de Aquino, ¢. 2, a. 3). Anilise de Mutiz ia. — O ponto de partida é também um ‘Consta-nos certamente pela experiéneia que se do no mundo causas eficientes, essenciaimente subor- Ginadas, as quais concorrem para a produgho de um efeito ‘com A experiéncia testemunha-nos, nfl sdmente a existéneia de eausas eficientes — contra as oeasionais — mas também fa ordem ou série ou subordinaglo de vitrias causas eficientes nacho, que nos oferece a experiencia, é essencial e per se; todas 23 causas se nos apresentam ‘como operando, enquanto sho préviamente movidas pela precedente. 2. MARIO PERREIRA DOS SANTOS io fossem eausados pela acgio do sol, ete. jas causas eficientes, essen= antag, coneorrem para «produ ie 6 0 fruto, Toxo; 0 fozo ista, fost, carvao em combustiio, va- ‘que € manifestamente absurdo. Portanto, se na subordins- de catsas, 30 suprimisse aquela que imediatamente produ efeito, éste nflo poderia existir, porque a si mesmo no se pode dar o ser Rada pode ser causa de «| mesmo na cxdem da perac&o, pela © HOMER PERANTE 0 INFINITO 13 eficientes as causas das que as precedom, ipso acto fiearam p vidade, porque elas nio podem dar a si mesmas a op. os e per se Porque t6das estas ¢ m tum dos casos em que nos encontramos com tal subor- inagho, 6 preeiso chegar a uma caus primera da série, que ndo soja causada por nenhuma outra, a uma primeira causa eficiente incausada. FE essa ante primeira, qual operar. rie razo sera seu ser, De onde se infere que ay so, nela, a mesma @ idéntica 4 incausada enquanto ser, 0s efeitos que reeobom seu ser quanto operacio, pela sas subordinada Esta causa incausada 6 Deus. Vejamo-lo: I~ & primeira causa efiviente. 1°) Logo, é causa da caus de ou acco de tédas as outras causns — eausalidaie universal 2.°) Logo, tédas as causas criadas est&io submetidas & sua sseg8o = pr 3.°) Logo, esta wsente a todos os agentes, nos quais 14 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 1 — & causa incausada, 1.9) Logo, sua causalidade, ou acgio, se identifica com sua esséncia = simplicidade divind, 2.9) Logo, 6 seu proprio ser, porque o operar supde ¢ im- plica o ser = ser subsistente, 3°) Logo, € acto puro, perfeigio pura, infinita, uma e , pelo mesmo que € ser subsistente, ser puro e do = omniperjeigdo divina, 49) letamonte imutiivel e eterno, por sor acto puro, sem mesela de poténeia = imutabilidade ¢ eternidade de Deus. Logo, Deus existe” (Ibidem, pigs, 123-126). Objecgdes ao argumento As objecgdes aue se costumam fazer a éste argumento 56 foram esltidadns quando do argumento da primeira via. Veja- ros, perm outras razdes apresentadas: Mas, arsumenta Lae! “Se protendo inferir a exis. téneia de Deus da consideragao do unlverso, como, por exem- que eonclui do eferto & causa, cometo’ um paralo- is , todo efeito supde cansa da mesma ordem que éle, segundo as leis do tendimento’ Em prim jna causa, mas uma 0 neto da, 0, que en Ademais, nfo se pode con- ra geja da mesma ordem que a causa qualquer relasio criagdo. TEMA Ww ARTIGO. 9 A “TERCEIRA VIA" DE TOMAS DE AQUINO — DA CONTINGENCIA DOS SERES Esta @ a exposigio: terccira via considera o ser possivel ou contingente, 9 necessiirio, e pode formular-se assim: acham cotsas que podem existir ou nfo existir, pals v4 produzem, ¢ séres que se destroem, e, portanto, ha possi Dileade tame de que na exiktam, Muito! bem, ! que o5 séres de tal condigao tenham existido sem: © que tem possibilidade de nao ser teve um tempo fem que nfo fol. Se, pois, tédas as coisas tém a poss ae houve um tempo em que nenhuma exist. iade, tampoueo deveria existir agora coisa algut © que niio existe, n&o comega a existir, a n8o ser te, © porlanto, se nada existia, fal sgasse a existir qualquer eoisa, ©, em cone encia, agora néo haveria nada, coisa evidentemente falsa, Por conséguinte, nem todos os séres so possivels ou contin, ntte Ges, forgosamente, ha de haver algam que ua necessidade de depende de imos ao tratar das lefinida de coisas neces \e soja necessdrio por sf causa de aun necessidade, ja causa da necessidade dos outros, ao qual todos (Toms de Aquino, 1, 4. 2, a, 8). Anélise de Muniz ente. Ser contingente, potineia intrinseea us MARIO FERREIRA DOS SANTOS e deixam de existir por eorrupesio; so sOres que ttm uma du- racdo limitada, pois comecaram a existir ¢ terminam nao exis- tindo, Nostes séres, o no existir precedou & existéncia e a nfo isténcia seguiré ao existir. ‘Tals séres sto chamados pelo Angélio Doutor possibilia esse et non esse: sBres que poem ser'e mo ser, referindo-se sempre a uma poténcia real ¢ in- trinseca dos mesmas. 8) Ponto de partida. — ¥ evidente que existem na natu- reza séres que podem ser e nao ser (possibilia esse et non esse), thda vez que hf séres que vom a ser por geracio, e deixam Yodo ser que é engendrade supse porque, do contré- rin, nao pi mF goragao; @ todo ser que delxa Ge existit por corrupeso, inelut em si mesmo poténeia para nae ser. A existéncia de coisas que comegam a existir por geragdo, e deixam de eer por eorrupedo, é um facto que proclamam os séres da natureza, particularmente os viventes. Como isto implica manifestamente poténcia do ser e nis lutamente ceria # existéncia de séres que uma poténeia b) Primero grau da via. — 1 absolutamente impossive! que todos os séres jam de tal condi¢ao que pos- Além desses pho possa deixar de existir, mas que exista necessAriament: © desde toda a eternidade. tOda manelra imprescindivet a existéneia de um ser necessario, para explicar a existe dos séres contingentes que nos oferece a experiéncia. Se todos os séres do universo f0ssem de condie®o que pu- dessem existir e nfo existir, entio teriamos que toda o uni- verso haveria comecado a existir, e, portanto, seria preciso admitir um momento em que nada’em absoluto existia na ren- idade.| ‘Mas se admitimos éste momento do nada absoluto, tomos ldgieamente de negar a existéncia da reslidade actual, porque do nada absoluto nada pode sair, toda vez que, o que hilo é nfo pode dar o ser a si mesmo. Ao admitir o nada sbsoluto, segue-se necessh negacéo de tudo quanto actualmente existe, cois inte, que ninguém pode oferecer difiet warece tio claro e evidente € como, 20 © que néo ‘que todos os © HOMEM PERANTE 0 INFINITO uy “Nonhuma soisa que tenia pote ss 8 poténcia parm nfo ser, pote aver xii sonore: 6 ao conker ta to tx gor ima duraei © Timitada e, portanto, um coméco € un térmo em sua duragto, De onde ‘ec i se todos os séres do universe ten poténcn para nas exe inteeo nao poterla existir Semple pols tesa wee ooo eee a antes que universo comeganse a oerd O nada a potineia para niio eer, pode haver io sempre”. A poténeia do niio ser impos necessirie. mente um limite na di da poténeia do ser, 0 © mesmo, a poténcia de mio ser si durante uma duragao finita ¢ limi de ser sempre, momento deter ntradi mm juntar-se’em um mesmo sujeito, Aparecerd clara esta oposigo a quem penetre a fund gue € potincia de ser e 0 que 6-0 acto de existir sempre, Pe tencia de ser 6 eapacidade, inelinaglio, tendéncia, apetite de set. Mas, esta inciinagio a'ser é natural e necessiria, por tédas as coisas amam, natural e necessiriamente, a sua’ propr existéncia e se esforcam por conservé-la quanto podem! defen, dendo-a de todos os agentes corrupti 8 agentes corruptivels, Por conseguinte, todo ser, enquanto tem poténeia para existir, necessdriamente existe, @ sdmente deixa de existir quando ja nao pode existir il lade natural de no existis » thee ORE Sie hy at lee He éncia para existir sempre, tempo, e, portanto, no po. rem um mesmo tempo, o qual @ us. MABIO FERREIRA DOS SANTOS © WoMEM PERANTE O IN¥INITO 9 absolutamente absurdo, Com efeito: 0 que pode existir 4°) Logo, & imutfvel ¢ eterno, porque todo sor mutivel pre, pode ex ler diterenga ov paste Go fe consta de aeto'e poténeia = imulabilldeds ¢ elernidade. fos’, in paste do tempo em que pode tam Tl — 0 ser necessavio, por si meso, causa a exaténcta ben ao em todos 08 outros, De ofide resulta que um ger, aue tenha poténeia natural 1S) Logo, esti em tddas as coisas, nas quais causa 0 nfo pode haver exist ido sempre, ser — emaipresensa divine. 2 existin. ‘Supor que to: 2.) Logo, eontém a perfeigio de todos os sBres, pois de sso fenham poténela natal ¢ intrinseea todos @ causa — Picco diving, mis eorso comegoa a existe 32) Logo, todes os séres causadg, enquanto tm ser, ex fe tedos os eres do uni tap sempre’ ‘actuaimente pendentes to sor nowesnde verso, no esa exietonela, receboram, contudo, 0 feito do sui causa = coniereagéo das eolsas pele de outzos semethantes que os precederaam, e dstes de otros, Devs e assim ind O ser que reiine em si tOdas estas propriedades € A tal se responde « inita na duragdo, eons- tamente Deus. Logo, Deus existe” (Idem, pags. 128 tituida por séres de duracio finite, ow uma série sem coméeo, aes res o2 quais todos tera comégo no ex Le absurdo. # impossivel uma série inti a existénein de Mas um ser, que nfo tenha comecado ipre; logo, & um ser com po- logo, necessAriamente exis- ser que tingente que postula am a fdéia de contingéneia ido grau da vic, — Logo, 6 preciso admitir a je um ser necossirio, que sempre existiu. Pois bem, pecessirio ou tem por si mesmo a existéncia ou a re outro ser neeesedrio superior, parte de um tor ‘tanto, , um argumento frégil, O todo é'9 conjunits ema neér- ca disse ser necesséirio superior: ou tem a existéncia por si rreamo ot alm recsbida de outro, | Na subordtnagio sts Séres nocessérios, que tem a existencla recebida de outro su mos ainda dentro do campo rior, nio se pode proceder indefinidamente, porque todos, 19s ainda dentro do eampo lésico. muitos, finitos ou infinitos, teriam a existés re- Se Podos 08 sé causa alguma da qual pudessem reeebé-le. a) Térmo da via, — Logo, 6 necessiio admitir a existe cia de um ser necessArio, que no tor a existéncin reeeh {Ie outro, mas que existe por si mesmo, em virtude de sua pré- prin naturera, Tal ser necessAvio 6 Deus. Logo, Deus existe. A identidade entre o ser necessirio por st mesmo e Deus rida, dos Zactos singul € manifesta, fe 86 legiea, mas ontoldaica T— E ser necessérfo por si mesmo, | Sener mes. 19) Logo, néle se identificam esséncia e existencia, ‘ating, due @ do oncem ati ‘existe em virtude de sua propria natureza — sor subsistent foto ids responder que sendo contingentes t0- das a8 partes de um todo, éste geria contingente, mas estaria- s pois existem como po- tir, e tem um coméco e tm fim, o sex, como ne- essdrio, sem o qual no podemos ter nada, nfo tem eoméco nem fim. Dialeetionmente, eelto de contingén da intuigio, outro da razao, rado dos factos singulares; outro, actualizado tae ilimitada'= omniperfeigdo divina, (2) Em “Pilogotia Conereta” wsstnos outras provi ) Logo, & um e nico, porque o acto 6 se multiplica 4 justifiengan do ser contingente decors potineia ‘= monoteismo, ‘ao inverea da provi anni exposta, sen TEMA ARTIGO 10 A“QUARTA VIA” DE TOMAS DE AQUINO — 0S GRAUS DA PERFEICAO Assim a expée: jarta via considera os graus de perfeigio que hf nos ‘Vemos nos séres que uns so mais ou menos bons, verda- deiros ¢ nobres que outros, eo mesmo sucede com as diversas qualidades. Mas, 0 mais ¢ 0 menos s¢ atribuem as coisas, se- gundo sua diversa prosimidade ao maximo, e por isto se ai Por © que é verdade n é ‘dade. Muito ben maximo em qualquer género é eausa de tudo 0 que naquele que tem o méxime ealor, & causa do calor de todo o quente, segundo diz Aristételes. Existe, por eonsoguinte, algo que ¢ para tOdas as coisas causa de seu ser, de sua bondade ¢ de todas as suas perfeigées, ¢ ao qual cha- mamos de Deus” (Tomas de Aquino, I", q. 2, a. 8) Andtise de a A) — Ponto de purtida, —"O facto de experiéneia de ‘que se parte, na quarta via, ¢ assim formulado por Tomas de Aquino: "H& nas coigas perfelgSes transeendentais, realiza- das em diversos graus, como a perfeigao de bondade, a ver- dade ontolégiea, de nobreza ¢ outros semelhantes”, Sao varios ¢ muito e ver-se no seguint versos os géneros de perfeicbes como cesquerna: 122, Ano FE SRA DOS SANTOS Diversos géneros de perfeiedes ‘Todas as porfelgtes essen ciais (genGriens « expecifiens). 8) Na mesma rsalo unfvoea. ‘Tam mais ou se nos dentro da temperance, ete, roema eepieis UW — Per que poem ‘versos graus, 2) Transeenden- ‘ais, com> o ser, fa verdnds, a bon: dade, ete, ratio analogs, Aa pie ho trans: Les, at ceendontais, p. ex: cqusis podem ser 2 vida, o entender, © querer, ete Ha perfeigées que nfo admitem graus, mais ou me ge tm em toda a sua plenitude oa ni se possul, nada elas. mn, ‘que uma coisa ou é homem ou niio é homem, om @ planta ou néo é planta, ete., pols, nio cabe ser mais ou me- nos homem, mats ou menos Com rao, disse Aristé- teles que ab porfcigdes essenciais ‘so como os niimeros, que niio admitem mais ou menos, © mimero quatro ou é quatro ‘ou nfio o €; mas nunea pode dar-se que o seja segundo distintos graus, mais ou menos. Portanto, convém dizer que tais per- feigtes ficam excluidas do ponto de partida da quarta via. HA, no entanto, outras perfeledes que podem ter seu mais ou me- nos, que podem encontrar-se realizadas em graus divers que tom lugar alguma vez entre as univocas, mas principal- mente nas aniilogas. Perfeiebos so cortas perfeigdes accidentais, como o habito da cidnecia, da sabedoria, da justia; pois pode o homem ser mais ow menos sbio, mais ou menos virbuoro, mais ou menos justo, ete, Tam- poucd estas flo consideradas ‘na quarta via, wples chamam-se aquelas que em definigfo, ndo implica nenhum © HOMEM PEEANTE 0 INFINITO 123 quis podem realizar-se em infinitos graus. Destas, umas siio transcendent: '$ assim por encontrar-se em todas as coisas; por exemplo: 0 ser, a verdate, a bondade. ..; outras, isas, como a vide, a inteligéneia, a vontade. De que perfeigbes se ‘Toms de Ag trata-se da bondade, da yerdade, Thantes; isto 6 de perfeicées B é vorda naturais, distintos em pefeito que o vegetal, e éste mais perfeito que o E dentro dos reinos mineral le de espécies est inerall vegetal ¢ animal, ha ainda ves, segundo diversos graus de perfeieio, ‘Todos éstes reinos, de verdade, de nobreza, tém a perfei- do de ser, de bondade, de verdade, do nobreza..., mas em iso homem tem um ser mals perfeito is perfeito que o vegetal, e, éste, que o © mesmo se ha de dizer da bondade, da’ verdade, da © necessiriamente eansada, tals, JA enumoradas, pam em diversos graus, segundo m: forcosamente causadas, e, precisamen sue essas mesmas perfeigdes em gi a verdade, a bondade, a nobre: amplidio, mis de Aquino formula éste primeiro grau da seguinte se que diversos sujeitos participam em distin. 1a mesma perfei¢ho comum, enquanto s€ api ser que pos- , que seja 0 ser, em téda a sua extensio & 324 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘Tao clara era esta afirmagio para o Angélico Doutor que nio se detém a explicar seu sentido e alcance, e menos ainda apresentar alguma prova em sua confirmaao. Aparentemen- te tampouco faz referéneia a qualquer género de causalidad © menos a efick io tem mais on menos, undo se acerque, aproxime-se m: essa perfeigio em'maximo grau. de Aquino pode oferecer muita luz para entender o sentido ¢ leance déste prinefpio: como “aquilo que é mais quente por ue esté mais proximo ao fogo”. Nada importa que o exem- plo tenhe on deixe de ter valor nas ciéncias fisicas modernas {eda ve que deve ser entendido e interpretado na Fisica vv gar, e nio sepundo as exigéncias das ciéncias de nossos tempos. Falage em dito exempto de algo que é mais ou menos quen- te e de algo que 6 quontissimo, Este mazimaum calidum no fogo, que € o calor por esséneia, a plenitude do calor, a qual nilo pode ter mais ou mi todo 0 ealor. As coisas que so mais ow menos quentes 8m calor, mas no sla por esséneia calor; por conseguinte, tem-no reeebido ab extrinseeo, do méximo quente. © mais ou menos ealor nos corpos explica-se segundo a maior ow menor aproximacéio ao fogo, de onde todos o rece- ‘a0 aproximar-se mais do iminuindo, segundo os corpos ao afastando-se mais ¢ mais do inflixo do f0go. Bote 6 0 sentido simples e byio do exemplo, to freatien- temente citado pelo Angélico Dout e entremos de chelo na inteli- quando varios sujeitos tén esmo mananeial on fonte, possul-la. gray, segundo a sua sproximacio da fonte de onde a recebem, Colocado o principio nesta forma, nfo oferece nenhuma culdade e é de evidéncia imediata, Requer-se que a expe- admita graus e, ademais, que seja causada. Sempre que varios sujeitos tenkiam uma perfei¢ae eusceptivel de mais recebida de uma causa extringeea, possul-ln-fo, se- undo diversos graus, em proporglo com a'maior ou menor jmaeho A enuss, ou menor aproximaelo & causa 6 a razio @ 0 ou o porque dos diversos graus dessa. perfel unciado expressa o transite de causa © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 125 a efeito; da aproximagio ou causa & realizagio em diversos graus, Mas pode form! uma perfeicio de diversos gr aproximacio a0 prinefpio de (causa). Esta ¢ a forma na qual se propde o principio na quarta via, Partindo de um facta de experiéneia, qual é a realizagao ws perfeigdes do ser, verdade, bondade, no- dos a haviam recebido Como se pode demonstrar a legitimi Tomas de Aquino aponta para isto um triplice procedimento, que chama platénico, aristotético (De Potentio, 4. 8, a. 5). O chamado aristotélien nfo é propriamente uni procedimento exposto e desenvolvido por Aristételes; foi o pr6- ‘Toms do Aquino quem o construiu sobre prin totélicos, Em honra a concisfio e brevi apenas & exposigio déste procedimento. Parte éste procedimento da diversidade de graus de uma ‘mesina perfeigio; daqui a denominagao de elimazolégico, que The dio comumente os autores modernos (do grego climax = grau). Uma perfeigio que se encontra realizada em distintos su- Jeitos, segundo diversos graus, néo pode deixar de ser causa- Ga. 0 principio aristotélico sobre o que se baseia todo éste procedimento, é 0 seguinte: nenhuma perfeigdo, que pertenca A esstneia dé urna coisa ou que seja propriedade da mesma, pode ter mais ou menos: ou a tem totalmente, ou nao a tem’ Com efeito: as perfeigdes que pertencem & eonstittigtio da esséneia das coisas sio como os mimeros, que no sdmitem mais @ menos, salvo sua espécie, Por conseguinte, uma mudanea em uma perfeiglo essen- cial nfo pode ser uma mudanca de grav, mas uma’ mudanes ‘espeeifica dessa perfeiedo, em cuyjo caso J nilo teriamos a mes- ma perfeicdo. Assim vemos que o fogo tem toda rario de fogo e ndo hd nem pode haver um fogo que o seja em maior fou menor gran que outro. © homem tem téda a igdo de racionalidade, de ani- reidade, de sub: 126 MAWIO FERREIRA DOS SANTOS assim sucessivamente. Isto quer dizer que uma perfeicio es- se ter mais ou menos: on tem tOda plonumente, ou, do contrari ‘Com ra2a0, pois, es- ereven Tomas que convém a um sujeito, por razdo de sua prépria natureza, © néo por alguma causa extrinseea, nfio pode encontrar-se néle de maneira de- feituosa e imperfeit ‘Também as perfeiedes que so propriedades de um sujeito, como, por exemplo, 0 ealor quanto ao fogo, podem ter grau E 0 poraué se compreende facilmente, pois, dizendo-se propri ‘tudo aquilo que convém a um 36 sujeito © sempre (uni, solt et semper), & forgoso que 0 sujeito e propriedade tenham a mesma universalidade, a mesma extensdo, a mesma amplitude. De tudo quanto foi dito se infere que tda perfeigio mino- rada e deficiente, quer dizer, toda perfeigio realizada segundo diversos grau tintos sujeitos, nfo pode ser da esséncia dasses sujeitos, nem sequer propriedade dos mesmos. Logo, tém de ser causadas ab extrinseco. A razio disto é porque perfeigio encontra num sujeito, sem ser de sua € necessdriamente causada ou pela mesma essénci fou por um agente extrinseco. Pela essénein, um ser qualquer, sem pertencer a’ sua propriedade, & p por uma causa extrinseca; assim, o calor da agua e do ferro 6 causado pelo fogo. A causa extrinseea perfeieao minorada e dei , ou tem essa ‘sua amplitude, nugna 0 process0 infinito nesta subordinacio de caut- ‘sas, & preciso chegar a uma primeira causa que tenha tal per- feigdio em t6da a sua possivel amplitude e, por conseguinte, omo de sua esséneia, premo se encontre mincrada e deficiente Pois bem: as perfeigdes de ser, verdade, bondade, nobro- as om tédas as coisas, segundo di- sso mesmo, minoradas ¢ deficientes. Los das coisas, nem tampouco pro} des delas. Por conseguinte, todos ésses séres tém essas per- feigdes eausadas por um agente extrinseeo, 0 qual, se as possui versos graus, e, por © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 127 de modo deficiente e limitado, télas-4, por sua vez, causadas de outro, E_assim ascendendo, até chegar a uma primeira causa, onde todas estas perfeigées se encontram em grau sumo e em 'téda a sua plenitude; a uma causa que ser4 o ser por esséneia, da qual todos os outros recebom o ger, a verdade, # bondade, @ nobreza que tém. © — Segundo grau da via. — No térmo do primeiro gran nos encontramos com um ente que tem o ser, a verdade, a bon- dade, a nobreza em méximo grau, Pois bem: quem tem em méximo grau uma perfeigiio pura, 6 causa desta perfeico em todos aquéles que @ possuem em gran inferior. Ter uma perfeigio em méximo gray, 6 tla em esséneia, assim como possui-la por participagao. Portanto, (© mencionado principio pode também expresear-se desta outra, quem tem uma perfeicao por esséneia & © sujeito que possui uma perfeigiio pura em maximo grau ou por esséncia, n&o pode ser mais que um e nico, Perf pura om méximio grau ou por esséncia 6 uma pert tente, ¢ uma perfeicdo em téda a sua plenitude e total mas plenitude e totalidade de perfei¢io nflo pode haver senio 1m efelto: suponhamos duas autovidas; uma ¢ outra sto plenitude, totalidade, integridade de vi podem oko, da vide, pois uina @ outra tem toda Ide vida, Se houvesse mais on menos v fo de vida, nao seriam plenitude, 1&0 6 poderiam diferir por algo tinto da vida, por algo acrescentado de fora a modo de Gente; haveria, entio, uma distinedo acci cia comum. Mas, els ag cto alguma imperfeicio, se encontram. Quando essas Muito bem: supor que uma perfeieso pura subsistente to- nha ou ret igo estranho a sua natureza, 6 ‘como also potencial, pois tudo o que recebe ou tem em si ma perfeigio é sujeito on potdneia receptiva da mi 18 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Esta mesma afirmagdo adquire evidéncia meri do so trata de perfeicdes puras transcendentais, como no caso es perfeigées, por serem puras, nio eatranham nade de imperfeigta; e por serem tranecendentais, até o pont je no esteja invadido ticipe em seu grau e pei yadade, de nobreza... As ttentes so plenitude de ser, so plenitude de bonda Fora da plenitude de ser no pode have! ‘0 que diferiasem en- tiva que tem uma e que carece Muito bem: esta j4 néo poderia dizer-se ple- firio, concedemos seja imperfeicdo, aquela que tivesse essa imperfeic&o, tam- pouco seria plenitude de ser e de perfeicio. Por tudo quanto foi jen bem demonstrado que uma perfeie#o pura subsistente nfo pode ser mais que wma Do qual imediatamente se infere que todos, absoluta- rude — tenham tal per- de um modo fragmentéri misegutinte, causa Portanto, a) Bm toda a sua plenitude, b) De um modo fragmentario e limitado, do pura, em téda a sua plenit Os que a possuem de modo ise @ dist se segundo 0s Rraus ‘a causa no pode ser outra ipria perfeigdo em toda a sua plenitude. © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 19 do grau, podemos con idey suma by verdade, da bond: er em si mesmo da bondade e da nobreza, & es em todas as coisas; e a éste ser todos pert chamam Deut, idade entre 0 térmi ‘comumente entendemos por Dew: bemos a Deus como um ser sti pertfei . 9 e de quanto ndle hi. Pois eis ito, porque 6 a pleni- nobreza, 2° — Principio e causa do t8das as coisas, porque, em ‘todas, causa o ser, a ide e tédas as outrs Fpertelesen, a esta prova estilo co apresentam os monistas e os dualistas, as quais slo rea pondidas no lugar oportuno, TEMA W ARTIGO 11 A “QUINTA VIA” DE TOMAS DE AQUINO — ‘A FINALIDADE Assim a expde: “A quinta via decorre do govérno do mundo, Vemos com efeito, que as coisas que earccem de conhecimento, como os corpos naturals, operam por um fim, como se comprova ob- servando que sempre, ou quase sempre, operam da mesma maneira para conseguir 0 que mais lhes convém; por onde se compreende que no vio 20 seu fim, operando ao acaso, mas intencionalmente, Muito 16 eareee de conheeimento, nfo tende a um fim, se ndo 0 dirige alguém que entenda ¢ conheca, & maneira dirige a flecha. Portan- to, existe um ser inteligente que dirige tx visas nati para o set fim, ¢ a éste chamamos de Deus” (Tomas de Aquino, Tg. 2 a. 8) Anilise de Muiiia que existe na da seguinte maneira: "A quint natureza, © po provede formular-s a) Ponio de partida, —. A experiéneia vulgar e as cidneias naturais nos mostram que existem no mundo séres que, eare- cendo de conhecimento, operam, contudo, por um fim. Sperim de Ato eneresr suas operagdes, qual permite aos eentifics f0r- tmular ae leis que regen sun setividade, EB quando operam desta mancira, fixa e constantemente, logram conseguir sua plena evolucao ¢ desenvolvimento, a con servagho de sua espéeie por meio rodueaio, € cantribuern ‘com sua actividade a manter o equilibrio, ordem e formosura de todo o universo. © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 131 0 isto & sinal inequivoco de que a acti séres leva a ramo e orientagdo fixa para um fim determinado; @-sinal de que operam por ura fit, b) Primetro gran da via. — Os séres que earecem de com nheeimento ndo podem tender a um fia, sendo enquanto aio Girigidos e ordenados por ui ser inteligente que conheca dito fim, Marear rumo para um térmo, orientar a actividade a um objective, adaptar um meio a um fim, siio coisas impossiv sem. ‘onhecimento do térmo, do objecto e do fim, Mas ste conhecimento do fim © da proporgéo entre 0 fim e os 86 é possivel eny uma inteligéncia. Como os séres nati de que falamos, earccem de conheeimento, nao podem ten- ‘a seus respectivos fins sendo enquanto sao ordenadas © dirigidos por um ser superior inteligente, como a seta ou 0 projetil, que marcham para um determinado alvo ou objective, mereé 4 direegdo que Tae imp Aisparou. Logo, existe uma inteligéncia todos os séres naturais a seus respectivos ¢ geral do univers, ©) Segundo graw da via, — Esta inteligéncia directors, ou é sua propria intelecedo ou esté ordenada a entender por ‘a inteligéncia superior. Na segunda hipétese v colocar 0 mesmo problema aeérea da inteligéncia ordenadora: on és inteleegic, ou esta ordenada a entender por outra inteligencia, Nao cabe um processo infinite, wrque no teriamos in entender por sem que exista essa ontra intoligéneia por que as outrs ia 6 potencia d transeendenta ‘De nenhuma maneira: porque a ordenagio a um fim n&o se pode fazer sem um conliecimento actual de dito fim, ¢ a io pode conhecer actualmente, senio depois que "r (em um mesmo sujeito o acto segue n depois que esti transcendentalmente or conhecer. Esta ordenagio & ore 192, MARIO PEREIRA DOS SANTOS prévia ao acto de conhecer. Logo, nao pode ser eausada pela Inesma inteligéneia ordenada; deve ser causada por outra in- teligénei B assim se vais chegar a uma suprer telecgio. ad) Térmo da é seu proprio acto de entender, 1g0, Deus existe. ‘A identidade entre esta inteligéncia e Deus € clara ¢ ma- nifesta. A-5 1.9 — Logo, € um entender subsistent fo entender (acto) se limita e jeia, que aqui nao tem lugar. 2° — Logo, é infinitamente imaterial e ineorpéreo, téda vex que a imateri ‘do conhecimento. B° — Logo, infinitamento cosmoseitiva — eiéneta nita e perfectissima. 4° — Logo, 6 transcendente ¢ realmente distinta do mun- ia de De 5° — Logo, & também subsistente em seu ser, porque a subsisténeia de operar supe a subsisténcia do existir. B — Esta inteliggncia dirige todos os séres inferiores seus Zins respectivos. 1° — Logo, tem a providéncia das coisas, porque as or: dona e dirige a seus proprios fins. 2° — Logo, é fazedor e formador da prépria naturere, porque dirige todas a3 coisas 2 seus respectivos fins nio de um modo violento, mas por melo de prinoipios naturais ¢ in- trinaccos & coisa, de modo eonatural e suave. . wees figéncia retine cabalmente tédas aquelas perfei- mens eomumente atribuem a Deus. Logo, Deus por esta série de inteligénela, ate géneia, que ¢ a sua propria ine iste uma inteligencia_que pamamos Deus Jeligéncia suprema é sue propria intelecedo. Estas provas que acabamos de expor para demonstrat a existéneia de Deus, podem ser compreendidas de duas manei- ras muito diversas. Podemos considerd-las em téda a sua ex- tensto € free, e segundo todo o rigor téenico da demonstragao, ‘etjn caso no esto ao aleance de qualquer, pois exigem 1a sdlida preparagio, que nem todos tém. Mas também no podem eompreender estas provas, ou algumas delas 20 menos, Bem necessidade de formulé-las ‘segundo o rigido teeniclemo fda légiea, © sbmente enquanto demonstram em geral a exis- (© HOMIEM PERANTE © ININITO 1 téncia de um sor superior, que rege e governs as coisas dis cangar & vor, pelo momento, o& outrow pre rios da divindade. " tte» as provas pare demonstrar a sina Slay ho 1 ou is pode tnlponta © fen’ o contents de Aquino : e 2 contum @ confuse, ue etd como impress na mene de fote Rowen, ae puree ttexisténcia de Deus 6 uma verdade eviente e manifesta, como da existéni de Deus. 1m efeito: vendo os homens que as coisas naturais ge Ivem, se reproduzem, e operam segundo uma ordem de- torminada e’fixa, e, com) por outra parte, que nao Pode haver orem sem uma ncia ordenadora, coneebem comumente a ni mmitir a existéncia de'um ser ji teligente superior e ordenador da natureza, Quem & e qual 6 éste ordenador dn naturoany se 6 um ou os, jf io se aleanga aver Togo, por éate primeira cnfuso; assim, quando vernog que. © homem se as outras fanceoes, Inferimos imedigtamen- cite Ihe @ préprio © exclusiva, a0 : "ants o moment ue fate conhecimento romas de Aquino, nfo 6 nhecimento de Deus, sob a denadora da natureza), mas coneebido de um modo vago confuso. Fuso e comum de que aqui fala Este conhecimento préprio ¢ discursivo, mas vago ¢ con faso, est ao aleance de toda inteligéncia humana que queira os olhos & luz e & verdade, muito distinto daquele outor, ao expor a ques Aquéle conhe- TEMA WV ARTIGO AS PROVAS PSICOLOGICAS Os_argumentos feos, sfio con por Aristételes, jeazes, Ambos acelt aquéles que se fundam nos factos da experiéncia. Os agosti- nianos, no entanto, fundam-se néles, e consideram mais fracos 6s cosmologicos, fundados na experiéneia. ‘omum néo surgir nos livros de teologia tais provas, ‘mas neste Zazemos questo de expé-las, com as objecgdes pro- postas, e apresentantlo nossa critica final. 6ificas partem também de factos de expe- ia, nflo da. experidnci Go captar idéias gorais e principios univer os. B tals idéas Implicam a existencla de Deus, pois é née, que vernas, com os olhas do espirito © no do corpo, estas gerais, Como prova de tal postulado apresentam os seguintes argumentos: Podemos, a struir a idéia do per nfo deve ser confundida com a iddia do perfeito priori, ja estudada anteriormente. E um facto psicologica a eapacidade de construirmos # idéia de perfeito. Esta prova é defendida por Descartes, cujos argumentos “Quando, depois, 0 pensamento passa em revista as dis uu nogdes que néles esto, e encontra a de um, sumamente perfeito, julga ti- wente, pelo que nota nesta idéia, que Deus, que é aguéle perfelto, 6 ou existe: pois embora tenha idélas distintas de vax nolas no repara he _asse- gure a existéncia de seu objecto; quando ni 136 MARIO FERREIRA DOS SANTOS mente uma existéneia possivel, como nas outras, mas uma existéneia absolutamente necessaria e eterna. E, as fo ver na idéia que tem a rospeito do tridngul sériamente incluida a de que seus trés Angulos sejam ‘persuade-se absolutamente de que o triangalo tem ials a dois retos; énela necesséria e eterna esti necessAriamente a que tem a respeito de um ser perfeito, deve que éste ser todo perfeito é ou existe”. “Meu argume ‘© que concebomos clara e dis tintamente como proprio da natureza, esséneia ou forma imu- tivel e verdadeira de alguma coisa, pode louvar-se nesta com toda verdade; uma ver considerado com atencao suficiente 0 que € Deus, clara e distintamente concebemos que o existir proprio de sua natureza verdudeira ¢ imutdvel: logo, podemos afirmar com verdade, que existe, Esta conclusio, ao menor, é legitima, ¢ a maior incontestavel, pols j4 concordamos antes Jiro tudo o que clara e distintamente conce- Resta tinieamente a menor, na qual confesso que ha difieuldade, e nfo peguena. de, em primeiro lugar, nutras coisas, a disti sseéneia, que no pomos suficiente a pertence & esséneia de — nio distinguindo tem ‘nivamente por fiee2o de nosso entenlimento ge elaramente vejaraos que @ existinela 6 propia da es se cia possivel est , que clara ou distintamente nogao ou ides coneehemos; mas Nao duvide que todos os que atentamente considerem esta ferenga que existe entre a iddia de Deus e t6das as outras, ‘eompreenderio que, embora sempre coneehamos as outras sas como existentes, por isto nfio se conclui que existam, mas simente que podem existir, pois n&o coneebemos que seja ne~ cessiiria @ unio da existéneia actual com suas restantes pro- Priedades; mas de coneeber (como concebemos), com inteira a, que a existincia actual esté sempre e nocessiriamente 08 outros atributos de Dous, conclui-se necessiriamente Deus existe, er a segunda parte da dificuldade coi que n&o contém naturezas v as ficlicias e compostas pelo entendimento, jo de sou pensamento, mas por wma 9} de maneira que as coisas que o ente pote dividir assim, indubitivelmente nao foram postas por éle. Por exemplo, quando me represento um ea- valo alado, ou um leo, actualmente existente, ou um tridngulo inserito num quadrado, concebo fcilmente que poderin repre- sentar-me, pelo contrario, um cavalo sem asas, um Tedo que na isse, ou um triangulo sem quadrado, e que, portanto, estas sas no possuem naturezas verdadeiras e imutév me represento wm triangulo e um quadrado (e nio falo do leao nem do cavalo, porque nao conhecemos inteiramente suas na- turezas), com inteira verdade afirmarei do triangulo todas as coisas que reconhecerel que em suz idéia se eontém, como que seus tres angulos sic iguais a dois rectos, ete., e 0 mesmo a respeito do quadrado; pois embora possa conecber um tridn- gulo, restringindo meu pensamento de tal modo que niio con- cebo mais que seus trés Angulos iguais a dois rectos, niio poss negar isto mediante uma operacio clara e distinta, quer d entendendo claramente o que digo. Se considero um tridngulo inserito em um quadrado — nflo para atribuir 20 quadrado 0 que sémente pertence ao triangulo, ou, a éxte, o que pertence Aguele, mas, para examinar as coisas que da unio de ambos se originam — a natureza desta figura, eomposta de um tridn- gulo ¢ um quairado, nfo seré menos’ verdadeira e imutavel que a do triangulo ou do quadrado sdzinhos; de modo que po- ‘dade que 0 quadrado nao é menos quo cerita néle, ¢ outras coisas semelhantes, ‘que, na idéin de um corpo perfeitissimo, esté contida a exis téncia, porque ¢ maior perfeiso; existe efectivamente e no entendimento do que sdmente neste, daqui no posso concluir que exista éste corpo perieitissimo, mas sbmente que pod tir E reconhego que esta idéia foi formads meu ent reunindo num conjunto todas as perte corporais, e que 2 smanou das out bes compreendidas na corpo, porque s mar ou negar igualmente que existam, quer dizer, coneebélas, como existentes. a necessiria (nica ie se trata neste lugar), tao propria é da matureza ito que possa ser, como o 6 de uma mont 138. ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS carecor de vale, ou de um trifingulo ter trés Angulos maiores que dois rectos, Se, tratando-se ndo de um corpo, mas de uma coisa, qual- vetina t6das as porfeiedes quo podum jun- se, perguntamos so entre elas deve contar-se existéncia, porque nosso espfrito fin -las separadamente, conhecera, & primeira i, Mas se consideramos deroso, e que classe de existéneia clara e distintamente pode- vemos’ comhecer: em primeiro lugar, que Ihe € ailequado ao menos a existéneia possivel — como’ a todas as outras coisas de que temos idéia ive as que so imaginadas por nos espirito — ¢ depois, como nao podemos pensar que sua exis- téncia é possivel, sem que ao mesmo tempo, fixando-nos em infinita, reconhegamos que pode por sua pré- pria forga, concluiremos que existe realmente, e existiu de toda lade, por ser manifesto (a luz natural’o diz) que 0 que existir por eua propria forea, existe sempre, Desta ma- ‘conheceremos que a existoncia necesst a sr soberanamente poderoso, nfio por fieeéo do iment, mas porque o existir é proprio da verdadeira ¢ imutavel natureza de semelhante Ser; e Igualmente facil nos serd conhecer que é impossivel que ste Ser soberanamente perfeito nfo posaua todas as demais perfeigdes contidas na dia de Deus, pela qual todas elas, por sua propria natureza @ sem flee do entendimento, existem juntas em Deus. Coisas tidas evidentes para aquéle que sériaments pensa, © quo em nada diferem daguelas que anteriormente eserevi salvo na forma em que as explieo e que alterei de propésito para acomodar-mo & variedade das inteligéneias. Confessa a libentade, que éste argumento é de tal natureza que Imente 0 tomar por um sofisma os que nfio s@ recordam sas que coneorrem para a sua demonstracéo, je a prinefpio se me serviria ou nfo déle, temen- ‘para que dezeonfiassem dos restantes atgumen- tos os que nio entenderam éste, mas como n&o hi mais que ao ios para provar que hé Deus, a saber: provi-lo por ‘efeitos, ou por sua essencia ou natureza, e o primeira ji tagan, nevediiei Em suma, o argumento pode ser sintetizado: tenho a id8ia do perfeito; ora, a idéia do per’ pode ser tirada do ser perfeito; logo, hé um ser perfeito, 8: — Objecta-se da seguinte forma: a maior wwem de certeza, A idéia de perfeicao, afirmam © HOMESC PERANTE 0 INFINITO 139 ‘alguns, pode ser uma idl ne nogativa, como idéia de ilimitado; quanto A se ymem, eaptada imperfeitas, particulares e con- Gle mesmo, completo, io limitada, como ere . Mi é a peri como a do Ser, enquanto st ‘Alem irar das ies imperfeitas a no esta con- pertel imperteict que ultrapassa’ os dados da ex; Pode-se objectar contra o argumento de Descartes, dept de reduzi-lo a um silogismo, pelo modo que segue. "0 silo. gismo O ser necessirio necessiriamente existe, Logo, necessiriamente existe, for e na menor, diferenca de supléncia, pois, na se apenas ldgicamente que se h& um ser neces- sério, Ole nocessiriamente tem de existir, 0 que nao pode pa- decer davida, pois se nfo existe nfo seria necessdrio. Na menor, afirma-se que Dous 6 0 ser necossirio, mas tal provado, nem da esfera logica se pode passat para a ir uma eonelusio correta, No entanto, nem A primeira forma silogt se pode, com justiga, reduzir o argument esquegamos suas palavras finais: “Ha dois caminhos 108 ou por sua . Ja fizera a primeira prova; restava- ra nfo omitir'a segunda, KE esta 6 fundada na natu- reza de Deus. O que Descartes quer na verdade dizer 6 0 se- guinte: nfo resta divida, em face de andilises anteriores, que hd um ser necess4rio, por uma exigéncia da prépria contin- éncis, que é fundada, esta, na experiéneia e na razAo. Ha seves, 40 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Rte corpo cai necessit mite, como nos indiea a lei gravidade. Mas no 6 absolutamente neeessirio éate eorpo que eai, pois a sua ndo existéncia 6 possivel. Os séres con- tingentes, que existem, poderiam nio © nham em'si mesmos a sua necessidade, e exigem um ser necessario, que necessiriamente existe, Ora, ‘© que compreendemos de Deus se nfio 0 ser absolutaraente, ne- cessiirio, © primeiro de todos os séres, fonte e origem de tudo quanto existe? Consegiientemente, asse ser nec: Esta prova aver uma prova absolutamente aprioristica, ramos @ priori j& esti construfdo em nés apbs longa expi cia, Ademais, a leitura do texto cart revela-nos que dudes e procarou \do-as de modo a impedir que’o leitor se desviasse do con- io real do seu pensamento (1) 0 argumento dos grave Ainda em apoio se eharna gilentemente de argumenio dos graus de perfeigdo. Sinte- se asin, As coisas rovelam-noe graus de perfeiedo; ora, no se pode ‘Ao seni por referencia A perfei- omhecemos um ser no qual se realiza & perfeigao absoluta, ste argumento decorre destas palavras de Santo Agosti ho: "Nés nfo dirfamos que uma ois é melhor quo outra ‘se néo houvesse, impressa em n6s, a nogéo do proprio ber, segundo a yprovamos isto, ¢ 0 preferimas aquilo”, Diecussdes: — A premissa maior é evidente. A pre menor ¢ discutivel. Na verdade, pode accitar-se que mos, como jé 0 mostramas, a posse actual da perfeicao. Mi 19s capazes da timese parabdliea, que nos permite jul que Uma coisa & mais perfeita que outras portanto, que essa ima mais ou menos de uma perfeigia ou dela se afasta. Se ndo somos eapazes de perfeitamente delimitar fo de um género, tal no implica genflo a nossa de- , analisamos, seguindo ontras vias, © (0 HOMEM PERANTE © INFINITO ua “in de uma delimitagao actual, mas revela, de qui ‘que temos alguma idéia da perfeicio, euja posse € vir- tual. "Para exemplitiear: podemos comparar as eircunferén- cias que tracemos com uma eireunferéncia idk As verdades eteruas ¢ necessérias Este argumento jé foi exposto apri joldsieamente prinefpios da razo como 0 de identidad te, ete.) or: podem provir =: um ser eterno @ necessirio; portanto, ha um ser eterno © neeessirio, Discussdes: — J4 comentamos, por varios camit avgumento, A éle se aplicam as mesmas objeegtes perfeicio, ‘Os empiristas negam validez & maior, pois vom da experiénela e sfc, portanto, eontingentes. A mi 6 refutada pelos empirio-racionalistas, porque admitem a tos singulares. J4 mostramos a fraqueza Quanto ao argumento do: i de reeonhecer que wseende x mtingentes, para que possam les ul- trapassar a ,, 8 propria experiencia. dada nos pi 3s, tendem a desprezar tals ar- _gumentos, pois, para Gles, o espfrito humano tem a propriedade de abstrair do factos concretos certos aspectos ¢ nao a de eap- tar a perfei¢do directamente, wres de tais argumentos repelem tais atirmati- wm o espirito humano como w © ser Absolute. Poder-se-ia dizer, em objeccio, que tais idéias slio cogi- idade na mente. Dai afirmar uma existéncia ‘é sair de uma ordem para outra ordem, Lembremos do estudo decadialéctico que fizemos do argumento an: mente nfio constrdi tais idéias a po nas a priori, mas por um processo totalmente justifi mente, © dilhe TEMA W ARTIGo 13 DAS PROVAS PSICOLOGICAS — A PROVA EUDEMONOLOGICA ‘Todos os que defendem & posi¢ho de que Deus, como um bjecto para nés, ealoea-se como a exigéneia de um impeto que vem das raizes da afec apenas da razio, afirm: cidade, de tum absoluto que nos avassala ¢ n eterno’ querer mais, que & um afirmar-se insaei “Somes um impulso para o absoluto... ¢ & j p wrlo impulso que o absoluto se faz eouhever a nds” (Henri de wubae). © argumento eudemonolégico funda-se nesse Smpeto, € pode construir-se silogisticamente da seguinte mancira ‘© homem tendo naturaimente para o bem no poderia ser va, ¢ ela 0 ‘itado; portanto, ha um bem mem, que tem eausas mais profundas e por si so, no expl aria tudo como desejam os defensores de tal argumento, po na Antropoxénese, ramos muitas explieagdes para tal de- sejax, No entanto, é verdade, que hé em todo 0 existir uma manifestacdo de um melirotten, de que tala Nietzsche (o » que € & vontade de potencia, que se actualiza distintas, como vontade dé poderio, vontade proprio de todo ente que se nfo con para conservar-se. Na “Teoria Gi 0 no eammpo da ciéneia, veremos simbolos ‘versal pelo mais, que implica sempre um mais, que, por sua im ilimitado querer, que leva ao desejar, ao aspirar a 0 MOMEM PERANTE 0 INFINITO 3 A premissa maior 6 diseutivel por um Indo, mas oferece outros elementos que sio bastante sisnificativos, e que encon- tram bases em outros sectores do saber epistémieo humano. Na verdade, hé uma certeza: a de que hé um aspirar A per- feigdo om todo o ser lnumano. N&o se argumente com a con- cepeéo bidiea, considerada nibilista, Em primeiro lugar Buda, ha mais de ‘anos, declarow que nao era nihilista, mas apenas pregava a a io da dor, E a dor sobrevém do Imitado, A vietéria sobre o limite & a victoria sobre a dor. Portanto, até no fmpety nirvanico hé um querer ultrapassar os limites. Tal impeto é comproensivel, ontologicamente, como uum pathos de todo ser que, por ser ser, 6 accional, 6 activo, & sempre um querer ir além, o que nfo é apenas uma afi poétiea, isemos agora a menor: também é uma afirmativa que m diivida, sob seus dois enunciados: 4) que téda tendéncia natural no soja. vi; b) que sem a existincia de Deus serfa va, to & primeira proposigho, acrescenta: ntimeros exemplos de desejos vas, 0 que da tendéncia, como ja vimos na psicologi alegam que todas as nossas tendéncias so. vis, poi nfio ten- dem a nenhum fim, pois nfo podem ser satisfeitas. A insatis- fatibilidade das tendéncias demonstraria que sho vas, Mas sueede que os exemplos oferecidos nao procedem, pois alegar- -s0 0 easo de seis eagadores, que desejam enear Iebres, quando 86 Jif uma lebre, e que apenas um dos cagaderes satistard 0 seu desejo, enquanto os outros cineo vamente o conseguiréo, niio procede, porque nao estamos em face propriamente de uma tendéncia, mas apenas de um desojo, que pode ser vio, E esse spenas simbolo de wna tendéncia, que é mais profun- ‘faz, aspirar o homens go nfo seré vA, por- . Mas o homem aspire 1, € seria vo ésse aspirar 4 mais, mais elevado, ao bem suprem se Deus nfo existisse, ese aspirar do homem vem de uma tendéncia mais pro- funda, de um querer o bem, que esta ein todo o existir, que bbusea’o seu bein. Mas hf bens maiores e menores, e nessa hierarquia hé um querer ao bem supremo, fonte e aspiracao de todo o ser, consciente ou inconsciente. Asse aspirar 6 mais profundo, e nao pode ser vio, pois éle é o que di 2 ordem de todo o existir, o grande Eros, dos gregos, 0 Bem, de Plato, a nostalgia do infinite de outros, ete. 144 {MARIO FERREIEA DOS SANTOS ste argumento se funda em parte nos anteriores, pols 0 tende o homem 60 bem, 0 perfeito, a verdade eterna, para Conhecemos porque imitiva que 0 conhecimento, como j& vimos na “Psi- n defensor déste argumento ainda poderia aerescentar ‘que achamos Deus, porque temos a tendéneia ao bem. A prova a existéncia de Deus esti nesze mesmo anclar, que prova si mesmo, o impeto que leva ao perfeito, cuja perfeigin, causa Ge todo ¢ nosso anelo, 6 positiva, porque, do contrério, teria- mos uma intencionalidade sem transitividade e sem cbjecto, f¢ perderia, conseqiientemente, t0da a sua razio suficiente. A villa nao €'sem porqué, pois thdo tem uma razdo, Esse impeto, gem um porque, nao ia, Sua pos constante de Insatisfaeio 6 a prova da positividade do bem su- prem, portante, de Deus. #0 que levou Pascal A sua famosa frase:’ “Eu nfo te procuraria se j4 ni to tivesse encontrado”. TEMA W ARTIGO 14 AS PROVAS MORAIS DA EXISTSNCIA DE DEUS, Hé um conjunto de p: para cooperar Jas de provas mi tras, enquanto, de per vas de pouen valia, mas que tém a as outras j4 expostas, e que so vem para eorroborar as ou~ sao relativamente frdgels. Uma delas Nao foram poucas as vézes que, no decorrer da hi de filosofia, encontramos esta provi, que a usou cero, os primeiros padres na fase da patristies, ¢ até os esco- lasticos modernos. no facto de a idéia de Dous ser univers je ateus & diminuto e, sobretudo, paneo consistent em sua argumentagio. imo, no evolueionismoe e no psicalogismo, en- icacao, dando-Jhe uma origem meramente so- cial, eomo sejam maitos, médo aos tiranos, enganos dos s dotés, ignordneia das causas naturais, o animismo, a mn: ja de Deus, como a estructuraria pelos factores histérieo-socia: sto predisponentes. Neste caso, 0 papel reproducao ou modelagéo ampliada, a0 m que & visto neste mando, e ecolégicos, que logiea & apenas lo nfo visto, do Outros apenas afirmam que 0 argumento earece de valor ¢ tom apenas uma forga persuasiva, vis suasiva, quando corre- borade por outros. Os defensores déste argumento esgrimem varias razbes, consideradas geralmente como frageis, eomo a de que uma con- a ‘ndo se pode atribuir uma Grr, resulta, por isso, de uso normal da razio: ora, 0 resul- tado' de uso normal da razio no pode ser erréneo; portanto, a A wia de Deus nav é -onviegilo universal relativa & Pode-se argume ervos da Fazio que 6 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘mente dela, afirmam os racionalistas, mas pela acgio dos im- pulsos de femor os dos desejos, ou da imaginacio, que leva a azo a afirmar mais do que lhe cabe. Sabemnos que tudo quanto o homem estructura em seu pen- samento ¢ produto da eoopera¢ao dos factéres emergentes ¢ dos predisponentes. Explicar um apenas pelo outro é explicar abstractamente e nfo concretamente. Se 0 homem estructura uma idéia de Deus, e eré néle, e se pensarmos que tal surge apenas pelas razéet apresentadas que se fundam em factéres predisponentes, é negar uma raiz muito mais profunda no ho- mom, que déle emergo ¢ se actualiza, quando da eooperagio dos factdres predisponentes, A idéia de Deus tem, no homem, a mesma raiz cdsmica que mostramos quanto & religiao. Do contrério, se no existisse ‘no homem essa capacidade de actualizar a idéia no se actualizaria apenas pela predisposicéo dos facléres’ extrinsecos, como os factores predisponentes no po- derao fazer que uma pedra germine uma planta, sem a pre- senga da semente, como factor emergente. Os factos eitados pelos opositores déste arzumento apenas predispdem 0 surgimento da idéia de Deus ¢ da afi o oriam. Portanto, tem 0 homem em si mais profunda que o prende a algo superior que se estructura pelas formas simbélicas, portanto variantes, das diversas ro- Higides, sem que se posse negar que, atrds de tudo isso, apon- tando para algo, esté 0 grande simbolizado, que 6 Deus, Uma visio deeadialéetiea impede que se veja neste argu- mento apenas uma fraqueza, fle tem uma forga probativa, menor que outros, mas, contudo, traz consigo mais um motivo que corrobora ésse aspecto emergente da idéia de Deus e da roligiéo, que as moras explicacdes, dentro desta ou daquela inela ‘particular, apenas mostram os simbolos, com que cla se reveste, © ndo explicam o grande simbolizado a que elas se referem. iGo tm mostrado a convenién- cial. Reconhe- ro temor humano A pritica de actos ey em risco a propria ordem social, ou trazer ‘a08 proprios homens. & ffeil desde logo reconhecer © HOMEM PBRANTE 0 INFINITO ug que tal argumento é apenas de utilidade, e nio implica nenh ma prova da existéncia de Deus, mas apenas uma convenién: da erenca , no entanto, meditar equi sbbre um aspecto im- - AS relagdes humanas so o grande campo que serve de objecto no estudo da Etiea, E presidem a essas relagdes, niio s6 0 que ¢ emergento, mas 0 que os faclores predisponents vermitem e facilitam actualizar, Tem o homem a possibl je de actualizar sua emergéncia benevolente como malovolente, 's extrinsecas podem facilitar ou criar abstéculos A sua actualizagao, Uma sociedade sem fé, pode levar ao facil surgimento de normas de relagdes sociais que predisponham uma acentuada actualizagao da emergéncia malevolenta, Uma sociedade, para manter-se cem uma base ética, exige uma di- tedura, um poder estatal férreo, Uma sociedade, com uma base étiea, fundada no mutuo respeita, néo precisa, eonseqiien- temente, de um poder de tal espécie, pois a coagho moral suibs- titui com grandes vantagens a coagio estatal, sempre provocn” dora de formas viciosas. © argumento é mais de valor ético que propriamente teo- logico, Serve para argumentar com outros, mas, de per de grande fragueza. Esta prova moral, néo aceita pelos tomistas, e, no entanto, a preferida por Kant, que a considera a tiniea prova da exis: téncia de Deus. Seguindo as mesmas pegadas temos 0 argumento pelo sentiment de obrigagdo exposto por Foulaulé de sexuinte forma: A eonseitneia moral nos impie certas aegdes como obrigatdrias. Ora, n&> odemos ser obrigados sento por um ser superior a néw. Por. tanto, hd um ser superior a nds, e ésso sor ¢ Deus, £ combat wento pela sua fragitidade para provar a existéneia de Deus, apesar de degendi lustres pensadores. Segundo éstes, ‘0 homem nfo tem um verdadero Sentimento da obrigactio moral gem a idéia de Deus. Oxgamos “Sem 0 conh ‘0 de Deus, da lei de Deus, nenhum eonkeei da obrigagdo moral, ne- nhum, nenhum”, Nilo encontra o homem uma razio sui gagio moral, a no ser que aceite um legislador si Estas palavras de Littré, em seu us ‘MARIO FERREIGA DOS SANTOS niio sei a quem pedir perddo”. Essa necessidade de alguém falém de nés, maior que n6s, € uma exigéncia do coragio hu- meno, € um indicio de um poder maior due nos fica além, Mas hi objecgdes ¢ convém consideri-las. As obrigacdos morais podem surgir das relagées kumanas, da influéncia da ‘eriucacho, © ésse pedir perddo pode ser explicado como um es ‘quema infantil, ainda persistente em nés. Quando erramos 880 oss pais aie nos catizam ou nos perdoam. una pro- jeceao do pai, ou dos pai Sua génese seria explicdvel, pois a erianca, quando faz algo, ainda ndo sabe se é bem ou mal, e é pela educagio que ela vai formar os esquemas éticos, Nio tem éles, portanto, nenhuma outra orixem do due a social. No entanto, os psicélogos observam factos interessantes entre as eriancas. Desde @ mais tenra {dade, como 0 podemos tulos do Psicoxénese ¢ Noogénese, examinados na revela a crianga uma tendéneia & captar 0 ethos (o valor étieo), © dever-ser, 0 sollen avin, em cada facto, Ao organizar seus brinquedos de rezras, 9 crianga eapta as regras tas que devem ter. iquedos, @ sao tio fe ou atentado provoca sanegdes ¢ tum agropamento qualquer, ao realizar uma’ prat tende o ser humano a estabelecer regras, que sh A estructura que se processa, HA uma’ ética imanente, mana dentro do préprio objecto estructurado que o hore Bla instaura normas dtieas i, 6 preciso ver também quantas o so ¢ quantas nas- em espontaneamente, gas que siio eriadas sem receberem 0 castigo nem r de seus pais, como se observaya em certos iros cla zona do Rio Grande do Sal, que o P. em cen grande livro “Poranduba rio-gran- a castigos aos erros infantis, e, no entanto, ie uma ordem em sua sociedade que superava dos outros. A erianea punia.se a si mesma, quando errava, embora nfo encontrasse da parte dos pais nenhuma acco pu: nitiva, Penotramos aqui num campo que invade mais profun- © HowEM PORANTE 0 INFINITO M9. pela necessidade de uma sancgio Ao estabelecer os postulados da razao prética, Kant pro © soguinte argumento, que pode ser sintetizado déste modo: 0 bem deve ser reeompensada, 9 mal 5 ora, a naturesa € indiferente ao bem e a0 mal, pois bei 'e mal-estar estio Fepartidos sem consideragio 4 virtude; portanto, deve haver, neima da naturea, um sor que restabelecerd a ordem violada isamos primetramente esclareeer os térmos bem-estar tantas vezes com cidade é uni estado permanente ‘odos os bens que the sao convenientes, sem a admi aralquer mal, como 0 expo0 @ ceases, enqusnie glee ae bem-estar apresenia apenas uma satisfagao transeunte de bens, sem a total exclusio do mal, O estado de felieidade, € um estar le bem-estar, estado humano, apresen- do mundo'nos oferece exemplos de Ihecem estaclos de bem-estar, em- lade, enquantos outros, gue pra- sncontram-se muitas vézes em esti~ ‘Tal aspecto € escandaloso para todos os que combatem a ‘Tal facto mostraria um na ordem humana que coragao. Bste argumento aceliagao de ume compensacio posterior, pois, ios sko epenas a prévia posiedo que posterior, embara passageiro, tran- anieceda a um eq seunte, Kant, na vordade, nfo apresenta éste arzamento como ma prova, mas apenes como um postulada étie. Repugnn-nos, fe Gualquer form, acctar a injustigay poraue, como nos mostes ‘téda a psicologia de profundidade bem orientada, o sentido da esté mais enraizado no coracio humano do que € co- Pensar-se, tomo veremos na "Sologin" Se os objectores déste argumento eneonteam m rmenios para desmereeé-o, nfo deveriam, no entanta, eaquerse 150 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS asso aspecto mais profundo da justign, que se manifesta nas Criangas, £ verdale que, quanido entra em jogo 0 bem do Individuo, éste descamba para 0 ijusto muitas vézes, atenden- tio apenas aos sens interdsses. Mas, em face de situacio em tue ndo € parte, mas apenas especiador ot juiz, e que mio Ge refira ditectamente aos seus sentimentos, até entre os mais alos eriminosos, tém 08 psiedlogos modernos encontra~ ‘do provas evidentes de tim senso de justiga muito forte, Por- fanto, eneontramos na justica uma Yaiz remota. agul tam- bem, como 0 fizemos mos outros, a atengéo para os factores emergentes.€ impres para que se vela que tal argu- mento, se nfo € dos dos, tem, porém, alguma fora Dubative, que serve para corroborar outros arguments me- hhos eontroversos, entre os que se dedicam ao estudo aprofum- fiado e nao superficial da Teoiogia. Argumento fundado na termodindmica Um argumento que modernamente tem sido. proposto, © entye sous defensores encontramos Donat, Hontheim, Boedder, Podemos sintetizé-lo assh » pois § fe, pela entropia, srda, eonseyiientemente teve um pr ’e tora nm fim, ‘mo. Do contririo, seria eterna, e entraria em contra- tligio com o conecito de energia e com a experiéncia que a jermodinimica nos mostra. Por outro lado, se o movimento ‘no tempo, flo havia antes, e n&o poderia, por ‘0 mundo em movimento, partindo do principio da, ia. pois precisaria um poder que 0 pusesse em movimento. ‘yoder, que nao ¢ imanente 20 mundo, s6 pode ser trans- mute; portanto, € Deus, A causa extramundo é eriada on Se ineriada, € Deus; se ¢ criada, postula auto- ‘amenie uma outra causa que também seria, afinal, nfo ay portanto, Deus. ores a éste argumento apontam as sesuintes ra ‘nfo se pode afirmar que a energia seja pro ‘A tal razio alezam os que defendem éste tem forgosamente de ser Sinita, por- ia de ser energia, Outro argumento, io se pode afirmar a irrevel de do mo avirma a entropin, 0 ‘acel- 0 HOMM PERANTE 0 INFINITO 151 tam os que defendem o argumento, fundando-se na experi 0 , fundando-se na expariéneia cientifica. Tereeiro, nada impediria que um poder espiritual 5 nao impli é provar a existéncia de Deus, mas, apenas, ao defeito da sua formalagio. Como quarto argu nam, a ia de gravitasfo, de airagio universal, a @ compensa a petda que se verifica. pela nao se convertem em ealor int, Nex x ate equillbria,¢ o arsumen- oem ver de provar nfo provaria nada, negando, desta forma, qualquer fora probativa ao mesmo. * mn _.. Como tais factos implicam ainda uma ditima palavra da cigncla, éste argumento tem de permanecer em stispenso, espe- rando outros factos que o eoreaborem ou nao. TEMA W ARTIGO 15 AS PROVAS DE DUNS SCOT Jé nao resta diivida, que o objecto primeiro do nosso co- nhecimento é 0 ser ¢ no o nada, como bem o compreenderam 08 escolasticns, e, entre os arabes, Avicena. Poderiamos aeres- centar, ante o$ estudos da Noologia, que 86 conhecemos 0 que se revela com unidade, sdmente 0 que é um ser, porque todo ser éum, © que no forma uma unidade é nada, pois se é alguma coisa, € surge aos nossos olhos como tal, é5se alguma coisa é um. 'O ser é, portanto, um, ¢ todas as eoisas tém uma tn ‘io, como objectos do conhec idades ora de sim- lade, ora substanciais, ora ac is, ora de mera agre- 0, ete, $6 podemos conhecer o que & possivel de tornar-se um; melhor diriamos, 0 que aleuma coisa. Rectamente compre- io éste pensamento, vé-se com clareza que razdo tinham antigos ao dizer, como 0 disse com tanta énfase Duns Scot, prova mo cligéncia dos teélogos, e exige a dadoza unélise dos filésofos. Para estabelecorem-se as provas da existéncia de um ser ie antemfo, que se esclareea 0 sontritrio, nfio teriam surgido di . Nenhum filésofo, entretanto, que nfo tenha caido 0 HOMPM PERANTE 0 INFINITO © ser comum, que a n6s se aprosenta, 6 ffcll earacteriza- -lo nam conjunto de coneeitos, em que todes estariam de pleno acdrdo, pois traduziria, com seguranca, a caracteristica comum do ser, aceita por todos. 14 alguma coisa, ¢ Gase alguma coisa € ser, ¢ tem aptidéo de existir. Aproveitamos aqui o enuncin= do de Suarez, comm pode ser compreendido como icluindo, désse modo, o ser actual, que iio para existir, como o ser poten ‘a um puro'nada, e que, sends ‘tem ou teve naturalmente aptiddo pata exis que nfo se pode ima coisa, ada pelo n eos, Que avmiten © que @ negato pelos grandes tedlogos, pois tal experienc ia 0 estado de Deatitude, desproporeionada & nossa gio e ao nosso estado de queda nesta existénci, Haveria assim necessidade de: 1.9) provar a procedéneia do conecito de ser infinito; 22) que o ser in : 3.) que o ser Consaqiientemente, infinito, rneia. A pergunta, por- iro Tugar 6 esta: a que se entende nao podemos justificar a st tanto, que se coloca em pl per ser infinito? Depeis de respondida esta pergunta, devemos mostrar a sua validez, Hm terceiro lugar, provar, 'inequivoca e apodie- ticamente, i ‘nite. ' Finalmente, demons- te ser infinito, do- las a compendiar ns grandes Ao tom, mas teve aptidso para existir (gor exemplo, srado de Napoledo) nfo é um puro nada. Pertenes idades mio setualizadae do que J8 h filosofia indy, encontramos ce tema ias por Duns Scot, néo seguindo as vias por ‘mas einginde-nog apenas aos argument oferece, deixando nossas argumentagdes para o livre ia Conereta”, pois, ali, sezui 2, mte das usualmente empre ‘Em noseas obras anteriores, estudamos 0 coneeito de in- wstramos suficientemente que nfo se pode conceber 0 em sentido extensista, quantitativamente, é mais vulgar de ser entendido. ser in intensidade absoluta, como 0 enuncla Duns Scot. de tdda a proporeion: ‘Todo ser finito é um ser er ‘iro para ser, e nao tem em si a razdo suficiente de ser. O intinito niio tem limites, porque é todo ser, e tem em si jelecer: 0 ser finito, nas suas tende para algo que The 6 ex- ir, t6das as suas partes tendam lade intrinseea da sa totalidade tensional. tende para um fim, outro que éle, 20 buscar ‘Jes que Ihe faltam, ao “querer ser mais” do que & Mas tem sua intensidade absoluta, portanto, nfo 6 care! de nenhuma perfeigio. 0 MOMEM PERANTE 0 INFINITO 155 ante intrinseeo, o que o distingue su- to. id foi suficientemonte just res. O que A preocupagio fundamental de tédas as provas de Tomés de Aquino consiste em demonstrar que 0 Ser Supreme, a Di- vindade, € um ser, nfo apenas simples, mas absolufaments iwles. & idéia de ser infinito impliea’a presonga de todas des, tomadas absolutamente em grau supremo, Vé-se, que 0 conceito de ser infinito adequa-se perfeita” Deus. Todos os e@res finitos, a geral, sto compostos de ser e de uma forma espec cetermina como éste ou agudle ser, e nfo apenas © ito, na expressio sor nao é um atributo nem uma deter é como tal. #0 ser enquanto ser. Ser infinito nfo é algo que acontece ao ser enquanto ser, nao é um grat definido de per- como as perfeigoes qué encontramos nus criaturas, ‘Ser é 0 conceito mais si modalidade; € o mais perfeito, tualmente todos os outros. Sei ‘omiis de Aquino, vvimos que a sua demonstraglo parti dos efeitos criados. Mas Duns Scot quer aleancar o sor infinito, pax ém do ser, mas do ser comum, como © estudsmos ni © segue outras vias que em algo diferem das de Tomés de Aquino, sem desprezi-las, mas, na verdade, eorroborando-as. © pont de partida prévio para o estudo das provas de Dung Soot é estabelecer, de antemfo, a inevidéncia da existén- cia de Deus, pois se ain existéncia’ Fosse de per si para nés desnecessarias st s provas, O homem religioso, que tem uma experiéneia mfstica da divindade, ou apenas por 46, pode afirmar a evidéncia da existéneia de Deus. Nao pode, porsm, negar que ésse conhecimento € eonfuso e, por ossa Ta: zo, impo fo eselarees-lo, Des 156 MARIO FERREIRA DOS SANTOS modo de captar 0 objecto, enauanto a segunda referese ao proprio objecto. Ao conhecermos uma expécie, temos um €0- nhecimento confuso, porque incluimos as suas partes subjec- tivas, eonfusas no ser especifico, no ser que tem 0 ser que pertence a essa espécie, A especulagio filosétiea levaré a distinguir essas partes subjectivas, separando mentalmente o que ests fundido no eon Portanto, impde-se demonstrar a existéneia de um sev ito, 0 que exige duas providéncias: provar de Di ino. Duns Seot divide a s : primirianente, a coisa pode ser dividida em coisa isa de per si ou por outro (a se ef ab possivel e finito, As providéneias que usa Dung Seot para a prova do ser primeiro, cingem-se & idéia de dependéncia Um ser efectivel ile), isto 6, produsivel, nio pode tala no ser: nada; b) Ou por si; ¢) ou por nada, porque o nada ndo pode ser + nfo pode ser por si, porque néo ha portanto, 0 & por tie ps serd efeito de uma causa. Desta maneira, entretanto, alguns filésofos que admitiram uma infi- causas aecidentalmente ordenadas, unto a sua existineia, nfo © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 157 Como x causalidade decorre da natureza da coisa, 6 pre- ciso necesshriamente recorrer a uma natureza mais alla para compreender-se uma causilidade também mais alta, Apresenta-se ainda outra diferenga entre éstes dois tipos de causa, que 6 a segui das, impde-se a presenca simultinea de thdns as causas para que o efeito seja proditzide, como se dé, por exemplo, entre 08 séres vivos, pois 0s sucessivos dependem dos precedentes, um rompimento, uma lacuna na cadeia das causas, seria su! ficiente para tornar impossivel a existéneia do efeito, Estas distingdes, feitas por Duns Scot, so important{ssi. mas, ¢ em breve veremos 0 seu aleance, Dispbe-se Seot a provar que: 19) @ impossivel uma infinidade de causas essencialmente ordenadas; 2.9) 6 impossivel uma i ‘te ordenadas; 8°) mesmo anando se {0a ordom essen: das causas, a regressio ao infinite 6 ainda impossfvel. Provadas estas trés proposigées, 0 pri de causalida. de, como fundamento da existéncia de Deus, estaré sdlidamente construido, e, désse modo, Scot traria novos argumentos para corroborar as provas de Tomas de Aquino. Vejamos como prova Scot: 1°) Impossibilidade de wma infinidade de causas essen. cialmente orden Os séres ordenados essencialmente sia tos; portanto, causados. finidade de causas accidentalmen. ‘A sua causa no pode fazer parte déste eonjunto de efeitos, porque teriamos a causa causando 2 si mesma, Consegilente. mente, a causa de uma universalidade de efeitos, essencialmens te ordenados, Ihe ¢ exterior, e como éle se refere & totalidade do ser causado, essa causa € primeira, Viu-se que nas causas essencintmente ordenadas, a tota. Ndade delas deve ser colocada simultancamente. Se nfo hom vesse uma primeira, clas veriam em nimero infinite. Neste caso, terfamos um infi 158 MANIO PEREIRA DOS SANTOS causa primefra Jevaria & aceitagho de um infinite quantitative fm acto, Outro argumento é de que a prépria nogio de anterior se verifica mais préximo do primeiro, Se nio houvesse uma causa primeira, no poderia haver esgencialmento anteriores ‘ou posteriores.” Ademiais, uma causa superior, na ordem da cautalidade, € mais perfeta, Se houveswe ama sénie infinita de eausas éssoncialmente ordenadas, sua causa seria infinita- mente superior a cla, infinitamente mais perfeita que cla, se- portanto, eapaz de causar por si sé, sem o concurso de ver outra eausa, em suma, seria a primeira, o que se que- ria provar, Finalmente sintetiza Gilson: “O caréeter de ser capaz de causar (ser um effectiowm), nao implica necessiiria- mente de per si nenhuma imperfeigéo; portanto, ésse carécter ado em algum lugar, sem nenhuma imperfei- ‘S se nao se encontra em nenhum sex, sem depender le de alguma coi ior, ndo se encontra em nenhum sem mperfeigao; portanto, pode encontrar-se em alguma parte sem mperfeigdo, e, 1é, onde esta, é absolutamente primeiro em vir~ ie de sua propr jancia, Se @ assim, 0 poder causal absolutamente primeiro 6 posstvel Dung Scot provaré, posteriormente, que se 6 possivel, simples facto de ser possivel, é bastante para coneluir que oxiste na realidade. sstvel wma infinidade de casas accidentalmen- .. Neste caso, se houvesse uma infinidade de cau- ordenadas, x eavsalidade de eada uma das causas nfo dependeria na eausalidade das que as precedem, Numa série déste genero, uma causa posterior pode, portanto, existir e agiz, até quando a causa anterior J4 deixou de agir e de existir, "Ora, haveria, neste caso, succssdo de causas, @ téda sucesso pressupde uma permanéneia, A permangneia nao pode ser uma causa proxima, pois, do contrario, estaria nna sucessiio, e como a sucesso depende dela por esséueia, ela rente, esta forma, uma ex ‘essencialmente anterior, como expie G ‘Duns Scot coloca-se dentro de uma linha genuinamente a eingir a prova do primeiro ser, quo & na qual is tal prova seria de © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 159 vida ao sew argumento, Duns Seot quer prové-lo na ordem da necessifiade, Portanto, para éle, se hd uma natureza que é efectivel, ha alguma natureza que 6 efectiva. Em outras pa lavras, se hd uma natureza produzivel, ha alguma natureza produtiva, Mig uma causa eficiente, absolutamente primeira, ¢ ela é ineausivel, 0 que decorre de’ ser pri Por ser primeira, ela nao pode depender de nenhuma outra, nem em stia exis téncia, nem em sua causalidade. Se nio fr accita esta pro teremos de cair na regressio 20 infinito, no eireuilo vicioso, em uma série de causas fi causando umas As outras, 0 jo da causa primeira tera de ser vélido, nfo 36 quanto 4 eficiente, mas também quanto hs outras casas. E causa final, por exemplo, 9 que move a causa e a exercer a sua eausalidade; que a "move"; 0 mover, a iente © fim ao qual ela se destina, a € metaforieamente tomado. Ors, 0 primeiro efieiente nao depende de nada (nenhum outro) em su eficiéneia, portanto, nao depende de um fim © que ndo tem causa extrinseca, nao tem, ademais, causa intrinseea, pois esta, enquanto intyin- seca, 6 parte do efcito causado. Se o primeira eficiente nao tem causa extrinseea em sua acco, nio a tem em seu ser, 0 que Ihe exclui uma eausa material ‘ow uma causa formal, "0 primeiro eficiente é portanto, incaus 'A terceira conclusio sObre 0 primum effectioum & est primum effectioum est actu existens (0 primo efectivo € cto) © uma certa natureza aelualmente existente 6 primeira. Demonstragio: 0 que é essineia de wente contraditério ser por outrem; se pode ser, pode ser por si: ora, & absolutamente contraditério & éncia do eficionte primeiro, ser por outrem, como decorre iii, e ésse eficiente primeizo ¢ p como cecorre da quinta razfio em favor da primeira conelusin, razio que nao parece concluir, mas que conclui tal coisa... uma causa eficiente absolutamente primeira pode, portanto, exist: por si, Logo, ela existe por si, pois 0 que nao pode existir por si varia alguna coisa a s mesma coisa criavia a si mest totalmente incausavel” (Duns Seot "De primo principio”) 1 compreensio nitida desta prova de & genuinamente Por i 160 ‘MARIO FERREIRA DOS SANTOS ser uma prova « priori e néo « posteriori, ou como diziam os escoldsticos, nfo uma prova propter q ‘im, uma prova ova, Convém nfo esquecer cortos aspectos importantes da de- monstragio de Duns Scot. © que caracteriza a criatura é ser causavel, € sor produzivel. J& se havie demonstrado que o primum’ effect e hd uma causa ‘ficiente primeira. A csséncia da causa eficiente primeira, do i absolutamente ¢on- isso nfo haveria a me- io pode existir por si. Se o primeiro eficiente néo existe por si, éle, entio, existiria por outro, e, éste outro, 36 poderia ser o nada, o que & impos- wl. Portanto, o primeiro eficiente deve existir por si. Se fosse eriado’ por si mesmo, éle deixaria de ser um ser in- ois seria caustvel, © que o tornaria efectivel, por- ra, ser eausado, € nko 0 primeiro eficiente. ‘nda, de uma maneita mais simples, expor bastaria responder as persuntas que ‘causivel, 8 possi wiamente, porque, do. contra ficou refutado, ou produzido pelo nada, o que sbaurdo, ou eriado por si mesmo, 0 quue’o {ornaria num sor rusdvel ¢, portanto, por outrem. Desta maneira, Duns Scot prova defi ia actual de Deus, que é 0 Primum Kffectivu lidade que nés podemos observar (1). (0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 161 Duns Scot, entre Averroes e Avicena, escolheu a éste tle ¢, ante_a’gintese de Platao ¢ Aris vada a cabo por Tomas de Aquino, é tendentemente platénico, refiectindo em seu pensamento a fomada de posigéo genuinamente pitagé- rica, de terceiro grau (2) ‘As provas da existéncia de Deus, fundadas na apreciagio das coisas fisicas, ¢ fundamentadas na fisiea aristotéliea, po- deria néo dar provas de ordem necesséria, mas apenas de or- dern eontingente. Seguindo a linha da méthesis pitagériea que procira ma- tematizar © conhecimento, em vex de fazé-lo com a causa ¢ 9 feito fisieos, prefere especular com o effeotiowm e 0 effects Bilis, com 0 produtiva © o producivel, como j& vimos. orismo, conclui-se que ‘a humana a'eancar a maxima per- para seria impossivel o ‘em todos 08 tempos, os granies real’zadores xo campo cientifico, foram, de um modo ou de outro, pitagé= rleos, ou sezuiram, nha pitagériea lo medieval um grande tra jo conhecimento, empreen- 0 campo dos ecneeitos, ees, aparentemente supérfluas para os que ignoram 0 estudo escoldstien, correspondem, no eampo da ta temitica, as subtis distingoes realizadas na andlise, Nao se Julgue, porém, que matemitica tivesse para os. pitagéricos 0 Sentido da matematica comum, de efleulo, que éles chamavam

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