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Marcos Airton de Sousa Freitas Prof. @ Coord. do Grupo de Pesquisas em Recur- 08 Hidricos, Meio ‘Ambiente @ Computagao ‘Auvente Ua Cniversivade de Fortaleza - UNIFOR ANALISE ESTATISTICA DOS PARAMETROS DE SECAS E DE CHEIAS HIDROLOGICAS EM RIOS INTERMITENTES DO SEMI-ARIDO BRASILEIRO RESUMO Na gestdo de recursos hidricos em regides semi-dridas um proble- ma de vital relevancia é 0 projeto e otimizagita de sistemas de reserva. ‘6rios multiusos. Para isso, faz-se necessrio 0 uso de modelos de ge- ragdo de vazdo sintética, bem como o gerenciamento da vazéo escoa- rnotadamente no que concerne aos pertodos de secas e de cheias. Pretendeu-se neste artigo, a partir da abordagem da propria definigdo de seca hidrolégica, assim como de seus pardmetros caracte- risticos (duragdo, severidade ¢ magnitude), proceder a uma anélise estatistica em trés séries de rios no Estado do Ceard, a qual pudesse servir de base na formulagdo de um novo modelo de gerayiio de vaca sintética para rios intermitentes. du nos rivs ABSTRACT By the water resources management in semiarid regions a main problem, which for a long time has been recognized, is the design and optimization of multipurpose reservoirs systems, particularly by generating streamflows for intermittent rivers in those regions. In this study it is presented diverse statistical tests that are applied to three annual flows series of semiarid basins 1 the State of Ceara in order to analyze the relationships of the droughts and floods characteristics (duration, severity and magnitude) of the pseudo-historical series. This makes possible the development of a model that is able to preserve not only the statistical parameters of the historical time series, but also to reproduce the persistence (i.0. long periods of low flows) encountered in the historical series, which is fundamental to the reservoir design and operation. 1- INTRODUGAO Na formulagao de diversos modelos aulureyressivos apresentados na literatura para ‘a geracao de vazées sintéticas, utilizadas no projeto e na otimizagao da operagao de reser- vatorios superficiais, os parémetros caracter ticos dos periodos de secas e cheias, isto é a durago, a severidade e a magnitude, ndo sao, via de regra, considerades. Talvez devide a iooo, esses modelos nao conseguem reproduzir, de maneira satisfatéria, as caracteristicas tipicas de intermiténoia doo rice do rogidee comi-é das. FREITAS (1995), por exemplo, modificoue aplicou nove modelos autoregressivos, em ni- vol meneal, ae quatro bacias de regides ser ridas. A maioria dos modelos analisados apre- sentaram, contudo, problema de cuperestimago da vazie média mensal, devi- do provavelmente ao carater markoviano dos mesmos, conforme atestado também por ASKEWet al. (1971) e STEDINGER & TAYLOR (1982). FREITAS (1995) demonstrou ainda que, para a andlise do desempenho de modelos de geracdo de vazdo no semi-arido trés critérios so fundamentais, quais sejam: (1) compara- ‘40 dos parametros estatisticas (média, desvio padrao, coeficiente de variag&o, assimetria, co- eficiente de correlagao e de autocorrelagao) das séries geradas com os da série histérica: (2) analise do resultado da simulag4o da operagao do reservatério para cada série gerada, isto é, dave sar faita \ima analise de Monte Carlo e (3) andlise das caracteristicas (duracao, severida- de e magnitude) dos periodos de cheias e de secas gerados, Procurou-se, destarte, neste estudo ve- rificar a partir de trés séries de vaz6es de rios intormitantas partancantes ao Estado do Cea- 14, a inter-relagao entre os parametros caracte- risticos dos periodos de cheias e secas obser- vados nas séries historicas, de modo a forne- cer subsidios na elaboragao de um modelo de geracdo de vazo ao nivel anual para rios inter- mitentes, considerando-se tais inter-relagdes entre os parémetros. 2 - Parametros Caracteristicos dos Periodos de Seca e de Cheia Para a realicayau Uae anialises estatisti- cas foram empregadas séries de vazao pseudo- 32 histéricas, isto é, séries geradas a partir do um modelo chuva-vazao MODHAC (LANNA & SCHWARZBACH, 1989) ajustado as bacias hidrograficas estudades, devido a inexisténcia de diversas séries de vazo, sem falhas, com comprimento maiores do que trinta anos. Es- sas séries representam séries tipicas de rios intermitentes do semi-arido brasileiro, Devido ao aspecto anual dos eventos de seca no Nordeste do Brasil, adotou-se neste estudo, um intervalo de tempo de 1 (um) ano. O so de um intervalo de tempo menor, como, por ‘exemplo, de um mes, implicana num numero maior de valores na amostra e num elevado va- lor para 0 coeficiente de correlag&o. Ao contra- rio, 0 uso de um intervalo de tempo mais allata- do (um ano, por exemplo) gera um reduzido numero de valores na amostra e um coeficiente de correlagao pequeno. Os parametros caracteristicos dos peri- codos de cheias e secas so ainda influenciados pela escolha da vazo-patamar na série de tem- po, para distingdo entre um evento de cheia e de um de seca. O uso do valor mediano, por ‘exemplo, resultaria no mesmo valor para a du- ragdo média dos periodos de seca e de cheia Jd a utilizacdo da vazdo média como patamar, resulta em uma mesma severidade média para 0 periodos de cheia e de seca, quando de um ciclo completo do proceso de alternancia (LEE etal., 1986) A curva de freqléncia da duragdo de uma acca para oérioe anusic aprecenta, devide a0 reduzido numero da amostra, uma forma nfo suave. Quando da aplicagio de uma Tegionalizagao, parte-se uo pressupusiy que um evento de seca hidrolégica em uma regio homogénea ocorre para cada rio, ao mesmo tempo. Um procedimento de normalizagao, jun- tamente com um procedimento denominado decimacdo, pode, neste caso, ser perfeitamen- te empregado (BLOOMFIELD, 1976; FREITAS, 1997). Uma seca hidrolégica pode ser caracte- rizada como um ou uma sequéncia de mais anos, onde a vazéio média anual permanece abaixo da vazao anual média a longo prazo, con- siderando-se toda a série existente (YEVJEVICH, 1967; DRACUP et al, 1980a). Um ‘evento de 2c0a (ou cheia) pode, destarte, ser caracterizada por meio de trés parametros: a Revista Tecnologia/Fortaleza/N? 18/P, 31-37/De2.1997 duragéo D, em anus, @ severidaue uu Uefivit acumulado S e a magnitude M, a qual represen- ta 0 déficit médio acumulado abaixo de um de- terminado valor X, (por exemplo, amiéia anual, um percentual da média anual ou ainda um quantil com uma dada probabilidade) vardo im's) tempo {ano} Figura 1: Parametros Caracteristicos dos Eventos de ‘Secas e Cheias (LEE etal. 1986) De um modo geral, a severidade S de uma seca (ou cheia) pode ser expressa da se- guinte forma = far o sendo Y(t) = deficit (excesso) no ano tde uma seca (cheia) de D-anos de duragao. Fm aa tratanda de seca hidrolégica, cto 6, vazo, tem-se, para um periodo seco: s= f'-oma GQ Q(t) = vaz4o nao regularizavel no ano t de uma seca de L-anos ae curagao; @ = vazdo média anual ou percentual desta Amagnitude M pode ser estimada como a seguir: frwar °) ou M=S/D (4) ‘A magnitude é, portanto, um parametro secundario, ja que pode ser expresso como fun- yu Ua Uurayav e da severidade, Esses UltImos so denominados parametros primarios. De Revista Tecnologia/Fortaleza/N® 18/P. 31-37/Dez. 1997 avoluy cumtt KENDALL & DRAGUP (1992), a severidade de uma seca de D-anos de duragao Pode ser descrita através de: PEM tte? ©) D_ = duragao da seca (anos); déficit no ano n de uma seca de od " duragaa D Na tabela 1 encontram-se os valores desses parametros para a série do Posto Faz. Cajazeirae no rio Acarad, ne Eotado do Ccard, Timers | dvagle] eo. soverdede | magne eee (tel seal vena ner rE 3 1914 | 244.465 81.489 2 2 1010 | 144.950 Tear ~ 3 1 1922 “10.132 10.132 ra rae ela et oe 6 4 1936 | 190.788 ‘47697 7 [oe | wo | easce [za 3] 8 | west) 70886 | ores 9 3 1958 | 224.272 ‘74.757 wo [77 | 1082 | soca | socee 11] 1 | 1960 [0210 | snare 2 | 4 | tes9 | 200025 | 60205 8 [4 [e768 | meos | sa7e1 14 ” 3 1981 | 190.646 63.549 a “er Poser [sere [ann Tabela 1: Secas hidrologicas da série pseudo-hist6- rica do Posto Faz. Cajazeiras (1911-1988) no Rio Acarad, 3. TESTES ESTATisTICOS Foram, entéo, realizadas as seguintes analises estatisticas dos eventos de cheias secas: I) Teste de estacionariedade (tendéncia); Il) Teste de estocasticidade (coeticiente de correlagao lag-1), 33

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