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Conversas ntimas

- Meu apelido de infncia era Bule. - Bule! que estranho! - Bule de caf menino! Por ser escurinha acabei ganhando esse apelido. Sofri muito na escola. Depois que ela disse isso seu olhar fixou-se ao cho, e sua mente parecia viajar no tempo. - Impiedosamente ri pra caramba. Comecei a chama-lhe de Bule e dizer coisas bobas como: - oh, Bule desencosta um pouquinho, voc estar muito quente, h, h. - A ! dizia ela - Pois agora a sua vez. Qual seu apelido de infncia gostoso? Ela perguntava com uma cara debochada. Daquelas caras que no aceitaria fugas e desconversas. - E agora! O meu mundo havia cado. No poderia fugir. Ela me encurralou na parede. Eu no havia perguntando nada, at ento fora ela que se abrira sobre sua infncia. Passei a vida inteira escondendo essa parte negra da minha histria, e, de repente, quando menos se espera, somos obrigados a soltar nossos monstros. No tinha sada. Baixei a cabea, e disse: - P-Pblico!. - P o que menino? - P P-BLI-CO! repetia com a voz subserviente, s que bem mais alto. - R, r, r... Mas por qu?

- Na minha rua existia um lindo e frondoso p de manga. Todo dia, religiosamente, trepava at olho da mangueira e ficava ali durante horas e horas. Quando fazia alguma estripulia, era l que me escondia. Por isso, crie um carinho especial pelo p de manga; e tinha muita raiva quando os meninos da rua jogavam pedras para derrubar as mangas maduras. Odiava quando eles balanavam seus galhos. Reclamava, brigava, expulsava, xingava. E eles diziam assim: - Tu no s dono de nada no, o p pblico! E a, acabei ganhando o apelido de P-Pblico. - R, r, r... ela ria de maneira rasgada , mas veja, no um dos piores apelidos do mundo, o seu at que fofinho. - Por isso mesmo; respondia-lhe os meus amiguinhos de infncia tinham apelidos imponentes. Existia o Barro da Delta, o Barruca ,o Chico Rola. Tinha tambm o Z Prquito e o Pausudo. E eu, coitado, no meio de todos esses apelidos msculos, robustos, era apenas um P-Pblico.

Em/31/07/2013 Daniel Souza

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