Você está na página 1de 1

Paradoxo-Mergulho

As imagens são como escolhas e acho que também somos escolhidos por elas. Tenho
uma lembrança que escolhi fazer imagens em conjunto em 2006, para experimentar um
tempo de diluição das minhas “sólidas” escolhas através de uma incerteza esteticamente
compartilhada entre meus amigos artistas. E deste paradoxo de certeza nasceu uma
estética incerta do grupo Mergulho como forma de ser aquosa e como tentativa de
inventar-se ao longo destes anos, através da realização crítica de uma série de
proposições experimentais.

Pelo menos é assim que me lembro geralmente, sobre um elo que manteve nossas
dúvidas juntas acerca da arte que fazíamos – ao redor da Arte sobre a qual refletíamos
como duvidosa. Pois uma dúvida é boa a mim, quando revela uma desmedida de ordem.
E acho que esta imagem de dúvida das ordenações da vida é uma das minhas escolhas
mais incômodas ou imagem compelida a ser escolhida. Algo que me aproxima de um
mundo tipicamente kafkiano. Aquele onde nos perdemos entre as administrações das
coisas, nas invenções do homem como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez, cujas
peças seriam jogadas por nós sem que tomássemos parte de suas regras.

Parto então dizendo paradoxo-Mergulho enquanto expressão de certeza sobre uma


incerteza artística que tentamos materializar em elo coletivo: um jeito contemporâneo
de agir ao redor da Arte que concentra controversamente distintas culturas. Pois ela
revela balizas tornadas certa matéria liquefeita no ar e borradas por nós via download,
para qualquer um ver.

Lembro ainda do meu desejo de estar junto ao Mergulho, duvidando do espetáculo das
imagens que víamos e produzíamos em contexto de A maiúsculo. E do meu desejo atual
por lugares mais silenciosos reservados para um tempo de repensar as invenções.
Tempo de nadar contra a corrente, de condensar os paradoxos mais recentes. E
finalmente, um tempo de registro privado e solitário para uma situação pública a devir:
num tempo particular e ampliado.

Desse modo, sigo numa intimidade eremita que não à penitência, mas a uma
investigação que se constrói sozinha ao longo do tempo, como às vezes é necessário.
Reaver o deserto da cidade. Eis o meu mergulho. Elo que se mantém através da amizade
à distância, e que resiste às pressões de um tempo que precisa da palavra real para
tornar-se agora.

Jorge Soledar / inverno de 2009.

Você também pode gostar