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Reminiscências de Sri Ramakrishna1

Por Swami Subodhananda2 

Durante minha primeira visita a ele, Sri Ramakrishna segurou minha mão e me
fez sentar sobre sua cama. O Mestre disse, “Você é alguém muito íntimo para mim”.
Então ele me atraiu como uma pessoa pega algo que é seu. Então o Mestre entrou em
êxtase e começou a rir. Tivemos uma longa conversa.

 
Swami Subodhananda 
 
                                                            
1
  Tradução  de  artigo  publicado  na  revista  Prabuddha  Bharata  de  Janeiro  de  2008.  Este  artigo  foi 
compilado por Swami Chetanananda, da Vedanta Society of St Louis. 
2
 Swami Subodhananda (1867‐1932) foi um discípulo direto de Sri Ramakrishna e conhecido na Ordem 
Ramakrishna como Khoka (menino) Maharaj. 

 
Primeiro Encontro com Sri Ramakrishna

Subodh3 e seu amigo Kshirod visitaram Sri Ramakrishna em


Dakshineswar pela primeira vez em Agosto de 1885. Eles entraram no quarto e
saudaram Sri Ramakrishna com as mãos juntas. Kshirod se aproximou do
Mestre, que estava sentado em sua cama, mas Subodh permaneceu junto a
porta. ‘De onde vocês vêm?’ perguntou Sri Ramakrishna. ‘De Calcutta,’ Kshirod
respondeu. Apontando para Subodh, o Mestre disse, ‘Porque aquele rapaz está
de pé tão afastado? Venha para mais perto.’ Isto encorajou Subodh à se
aproximar. ‘Você pertence à família de Shankar Ghosh?’ perguntou o Mestre.
Subodh ficou surpreso e disse, ‘Sim senhor, mas como soube disto?’ “Quando
eu estava vivendo em Jhamapukur’, disse o Mestre, ‘eu visitava sua casa
frequentemente, como também o templo de Kali de sua família em Thanthania.
Isso foi antes de você nascer. Eu sabia que você viria. Bem, a Divina Mãe envia
para cá aqueles que atingirão a espiritualidade. Você pertence a este lugar.’
‘Senhor, se eu pertenço a este lugar, porque você não me chamou mais cedo?’
perguntou Subodh. O Mestre respondeu, ‘Olhe, tudo acontece no momento
certo.’
Sri Ramakrishna segurou a mão de Subodh e fechou seus olhos por
alguns minutos. Ao final ele disse: ‘Você atingirá a meta. A Mãe me diz isso.’
Ele pediu que Subodh se sentasse em sua cama. ‘Não senhor’, disse Subodh, ‘eu
não posso me sentar sobre sua cama. Estas são minhas roupas da escola. Elas
não estão limpas. Além disso, eu toquei pessoas pelo caminho até aqui e meus
pés estão empoeirados.’ O Mestre o forçou a sentar-se sobre sua cama, dizendo,
‘Você é alguém muito íntimo para mim. O que importa se suas roupas estão
limpas ou não?’ Depois de algum tempo Subodh sentou-se no chão. O Mestre
então pediu ao seu sobrinho Ramlal que estendesse um tapete para os meninos,
e perguntou, ‘Como vocês vieram a Dakshineswar?’ Como o amoroso cuidado e
afeição do Mestre tinha removido a timidez de Subodh, ele prontamente
respondeu, ‘Nós viemos a pé.’ ‘Meu Deus! Vocês vieram por toda esta distância
a pé?, o Mestre perguntou surpreso. ‘Como vocês souberam sobre mim?’
Subodh respondeu, ‘Eu fiquei impressionado ao ler seus ensinamentos. Eles são
realmente extraordinários. Tu és um grande homem e muito famoso! Por isso
nós viemos vê-lo.’

                                                            
3
 Nome de Swami Subodhananda antes de se tornar um monge. 

 
Estas palavras causaram uma súbita mudança no estado de
Ramakrishna. Com uma humildade que espantou os meninos, ele disse: ‘Ah, eu
sou mais baixo que um verme. Nome e fama! Ridículo! Realmente, eu sou mais
insignificante do que um verme.’ Em seguida o Mestre disse a Subodh, ‘A Mãe
envia para cá aqueles que receberão Sua graça. Venha aqui as Terças e Sábados.
Muitas pessoas de sua parte da cidade vêm aqui nestes dias. Venha com eles.’
Subodh disse, ‘Não senhor, isto não dará certo. Meus parentes descobrirão que
eu estou vindo aqui. Por favor, me diga agora o que você quer me dizer.’ Eu
não posso retirar minhas palavras, meu filho,’ disse o Mestre. ‘Se eu digo que
irei a certo lugar em tal ou qual dia, eu devo fazê-lo a despeito da chuva e da
tempestade. Mesmo que eu não goste disso, a Mãe me arrasta para lá. Eu falei
estas palavras, portanto você deve vir as Terças e aos Sábados.’
Subodh concordou e notando que estava ficando tarde, pediu permissão
para voltar para casa. ‘Tome alguns refrescos,’ disse o Mestre. ‘Não é
necessário, senhor. Nós o faremos em casa,’ Subodh respondeu. Não, coma
alguns doces e água e depois vá,’ disse o Mestre, e pediu a Latu4 que os
servisse. Quando eles terminaram seus refrescos, o Mestre disse novamente:
‘Sua casa é muito longe daqui; além disso, vocês são muito jovens para andar.
Por que não vão de barco ou alugam uma carruagem? Eu darei a vocês a
quantia.’
Subodh: ‘Eu não sei nadar. Não podemos ir de barco.’
Ramakrishna: ‘Então vão de carruagem.’
Subodh: ‘Não senhor, nós caminharemos.’
Ramakrishna: ‘Olhe, meu filho, seus pés ficarão cansados ao andar tal
distância.’
Subodh: ‘Senhor, nós somos jovens [ele tinha então dezessete anos]. Se
nós não andarmos agora, quando andaremos? Além disso, o senhor é um
homem santo, onde conseguirá dinheiro?’
Ramakrishna (com um sorriso): ‘Algumas pessoas dão dinheiro para este
lugar. Você não precisa se preocupar com isto. Por favor, pegue algum dinheiro
e vá de carruagem.’
Como Subodh estava inexorável, o Mestre disse a Kshirod, ‘Pegue você o
dinheiro e vão de carruagem.’ Mas Subodh interrompeu e disse a seu amigo,
‘Não aceite o dinheiro. Nós iremos a pé.’ Sem insistir mais o Mestre disse,
‘Venham de novo na Terça ou no Sábado.’ Ambos tocaram os pés do Mestre e
partiram para suas casas.

                                                            
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 Latu foi um  discípulo direto de Sri Ramakrishna, mais tarde conhecido como Swami Adbhutananda. 

 
Swami Subodhananda se Recorda

Um dia enquanto fazia uma caminhada matinal, muito tempo após o


falecimento de Sri Ramakrishna, Swami Subodhananda compartilhou uma de
suas lembranças com Sharat Chakrabarty: ‘Olhe, que belíssimo nascer do sol!’
‘Sim, Swami, é realmente belo!’ disse Sharat.

Swami Subodhananda: Este nascer do sol que você vê não é nada. O dia
em que o Mestre me tocou eu vi muitos como esse. Eu não posso descrever
quantos grandes sistemas solares, planetas e estrelas eu passei até que eu
finalmente atingi o céu. Lá eu encontrei o Rio Mandakini e peguei um pouco de
água na minha mão e joguei sobre minha cabeça. Eu vi muitos seres divinos e a
linguagem de sua conversação era um pouco articulada. Seus corpos brilhavam
como pérolas. Eles me perguntaram, ‘Olá, como é possível para você vir aqui
como um ser humano?’ Eu respondi, ‘Eu sou um filho daquela pessoa por cuja
graça vocês são deuses.’ Estes deuses começaram a rir. Então eu desci, mas não
tinha nenhum desejo de entrar em meu corpo. O Mestre disse, ‘Por favor, entre.’
Eu disse, ‘Senhor, este corpo cheira. Eu estou relutante em entrar nele.’ Então o
Mestre pegou a minha alma e a empurrou para dentro do corpo pelo alto da
cabeça.
Quando eu era jovem, eu tinha medo. Mas quando o Mestre me tocou,
todo meu medo desapareceu.
O Mestre disse que sabia quem seus devotos eram antes que eles
chegassem a ele. Quando o Mestre fazia a adoração da Divina Mãe Kali, ele
ficava em um estado intoxicado de Deus. Enquanto estava em êxtase ele
chamava, ‘Oh devotos, por favor, venham logo.’ Ele costumava então rezar,
‘Mãe, eu quero ver devotos de todas as seitas religiosas que atingiram um
estado exaltado.’ Eventualmente muitas almas iluminadas de diferentes seitas
religiosas vieram ao Mestre. Em seguida seus próprios devotos chegaram. Ele
ficou feliz ao ver seus próprios devotos e ficava deleitado ao conversar com
eles. O Mestre disse, ‘No futuro muitos devotos virão e se espalharão por todo o
mundo.’ Ele também disse, ‘Para aqueles que forem inspirados pela vida e
mensagem deste lugar [significando ele mesmo], será seu último nascimento.’
Eu aprendi esta canção do Mestre:

Oh Mãe, seu nome é ‘o removedor do sofrimento mundano.’


Seu filho aflito está te chamando, mas estás te escondendo em algum lugar.
Mãe, tu podes me dizer que maldade eu fiz?

 
O Mestre rezava: ‘Oh bendita Mãe, salvadora dos humildes! Seus filhos
não te vêem, mas, por favor, cuide deles. Por favor, volte seu olhar gracioso
para eles. Oh Mãe, esta é minha oração que vem do coração: Que tudo que não
é auspicioso possa se tornar auspicioso para seus filhos por sua graça.’
Em seus dias de antigamente em Dakshineswar, o Mestre praticava
sadhana no Panchavati e adorava a Divina Mãe no templo de Kali. Após
terminar a adoração, ele retornava a seu quarto e se deitava, cobrindo-se com
um chadar. Ele não conversava com ninguém. Ele apenas chorava em profusão,
dizendo, ‘Mãe, revele-se a mim.’ Então um dia a Divina Mãe disse a ele: ‘Por
que estás tão preocupado? Olhe, aqui estou eu. Eu estou com você e unida com
você.’ Dizendo isto a Divina Mãe uniu-se com o Mestre.
Hriday, o sobrinho do Mestre, nos contou: ‘Uma vez, durante a oferenda
de comida a Divina Mãe no templo de Kali, eu secretamente fiquei no interior
do templo. Eu vi o Mestre conversando com a Mãe e segurando a comida
próximo a sua boca, como se ela estivesse comendo. Então ele disse, “Você quer
comer através de minha boca.” [E ele comeu um pouco da comida.] Quando o
Mestre fazia o serviço vespertino [arati], ele algumas vezes parava e permanecia
imóvel segurando a lamparina. Então eu pegava a lamparina das mãos do
Mestre e terminava o serviço vespertino. O Mestre permanecia lá imóvel em
samadhi.’
Uma vez o servente de Mathur estava carregando tabaco em uma taça
com carvão aceso na parte de cima. O Mestre estava deitado no chão em êxtase.
Um pedaço daquele carvão acidentalmente caiu sobre as costas do Mestre. Ele
queimou através de sua pele e entro profundamente dentro da carne. Depois de
recobrar a consciência externa, o Mestre disse para alguém, ‘Veja o que está aí.
Talvez uma formiga esteja me picando.’ Este é o real samadhi, quando se perde
a consciência do corpo como alguém que está totalmente embriagado. Depois
de visitar o Mestre, nós aprendemos o que é êxtase ou samadhi real. Mais tarde,
se alguém fingia estar em samadhi, eu costumava picá-lo com uma agulha e
isso terminava com seu samadhi.
O Mestre casou-se quando tinha vinte quatro anos. A maior parte do
tempo ele estava em um estado intoxicado de Deus, e as pessoas o
consideravam como louco. Um dia ele foi à casa de seu sogro em Jayrambati.
Diz-se que ele aproximou-se da casa e então se sentou. Um vizinho que passava
pensou que ele fosse insano. Mais tarde, a Santa Mãe e outros o levaram para
dentro da casa. Após o jantar o Mestre foi para a cama. A Santa Mãe terminou
os seus afazeres domésticos e então foi para o quarto, mas ela não viu ninguém
na cama. Ao invés do Mestre, ela viu uma luz brilhante. A Santa Mãe
permaneceu imóvel com as mãos juntas. Quando o sol apareceu, o Mestre
emergiu daquela luz e disse a Santa Mãe, ‘Tu apareceste nesta forma – muito

 
bom.’ Dizendo isto o Mestre se prosternou a ela. Quando ela tinha dezoito anos,
o Mestre a adorou como a Deusa Shodashi.
O Mestre tinha uma especial devoção pela Mãe Ganges. Ele costumava
dizer, ‘Ganga-vari brahma-vari, a água do Ganges é tão pura quanto Brahman.’ Se
alguém estivesse mergulhado na aflição, no sofrimento ou na ilusão, ele
costumava dizer a esta pessoa, ‘Vá e beba um pouco de água do Ganges; você
ficará bem.’ Espantosamente, então a pessoa ficava bem.
Os pés do Mestre eram extremamente suaves e delicados. Ele não podia
calçar sapatos comuns. Nós tínhamos que colocar palmilhas de algodão dentro
de seus sapatos para que ele pudesse calçá-los... Em um tempo passado de sua
vida o Mestre usava um amuleto de ouro, mas mais tarde ele não conseguia
tocar nada metálico. Alguém tinha até que levar seu pote de água para que se
lavasse.
Eu vi algo maravilhoso no Mestre. Seu quarto ficava cheio de gente, e
eles tinham muitas perguntas em suas mentes. Mesmo assim, em uma simples
conversa ele respondia a todas as suas questões que não tinham sido colocadas.
Uma vez Keshab Chandra Sen convidou o Mestre para ir a sua casa e
secretamente ofereceu flores e pasta de sândalo aos seus pés. Então ele disse,
‘Senhor, por favor, não diga isto a ninguém ou as pessoas dirão que eu adorei
um ser humano.’ Mas a natureza do Mestre era como a de um menino. Ele
contou a Vijay Krishna Goswami e a um funcionário do templo, ‘Olhe, Keshab
ofereceu flores aos meus pés e me pediu que não dissesse a ninguém. Por favor,
não contem isto a outros.’
Algumas vezes o Mestre costumava dizer, ‘A própria Divina Mãe veio
visitar o mundo em uma forma humana [significando a si mesmo]. Quando as
pessoas de todas as seitas se reunirem aqui, este corpo não irá durar.’
Um dia enquanto andava pelo Panchavati em Dakshineswar, o Mestre
entrou em êxtase. Então, olhando para o noroeste, ele apontou para si mesmo e
disse, ‘Olhe, a Mãe está dizendo que quanto mais uma pessoa pensar em mim,
mais rapidamente compreenderá as supremas verdades da religião.’ E
apontando para o noroeste, ele disse, ‘Nascerei de novo naquela direção. Então
muitas pessoas alcançarão o conhecimento.’
Em outra ocasião o Mestre me disse sobre si mesmo: ‘Este corpo é uma
gaiola de carne e osso, mas a Mãe está jogando dentro dele... Aquele que foi
Rama e aquele que foi Krishna está vivendo neste corpo.’
O Mestre uma vez me disse, ‘Eu estava possuído então pela divina
loucura. Um dia eu estava tirando ervas daninhas do Panchavati. Eu não estava
consciente de que uma bela jovem estava de pé atrás de mim. Irritada ela disse
para mim, ‘Olá, sadhu! Estou atrás de você por um longo tempo e você não
olhou para mim ou conversou comigo! Eu visitei muitos ashramas e todas as

 
pessoas ficaram ansiosas de conversar comigo e queriam que eu vivesse lá. Mas
você nem mesmo se importou de olhar para mim. Tu és um verdadeiro sadhu.’

Até Suas Reprimendas São Doces 

Sri Ramakrishna foi acomodado então pelos devotos em uma chácara em Kashipur perto 
de Chitpur para o tratamento de seu câncer na garganta. Subodh freqüentemente faltava à 
escola  e  o  visitava.  Ele  costumava  passar  o  dia  inteiro  lá  e  voltava  para  casa  um  pouco 
antes  do  anoitecer.  Um  dia  Sri  Ramakrishna  pediu  a  Subodh  que  escrevesse  um  verso 
específico da  canção “Sitapati Ramachandra”; ele o precisava. Subodh  se recusou a fazer 
isso, dizendo que sua letra era muito feia. Sri Ramakrishna insistiu, ‘Por pior que seja sua 
letra,  apenas  escreva;  se  estiver  mal  escrito,  que  esteja.’  Mas  Subodh  simplesmente  se 
recusou a fazê‐lo. Sri Ramakrishna então disse, ‘Fora, seu tolo, você parece ter passado sua 
vida  apenas  brincando.’  Subodh  começou  a  rir  com  esta  reprimenda.  Vendo  isto,  Sri 
Ramakrishna  também  começou  a  rir  e  disse  a  ele,  ‘Eu  te  dei  uma  bronca,  você  não  fica 
zangado?’  ‘Senhor,’  respondeu  prontamente  Subodh,  ‘mesmo  suas  broncas  são  doces.’ 
Muito  satisfeito,  Sri  Ramakrishna  chamou  os  outros  dizendo,  ‘Oh,  escutem,  escutem, 
escutem o que ele diz. Ele diz que mesmo as broncas são doces.’ Ele então tocou Subodh 
no queixo da maneira que as amorosas mães acariciam seus filhos. 

‐ Udbodhan, 34/12 (Janeiro/Fevereiro, 1932) 

Kedar Nath Chattopadhyay era um devoto do Mestre. Ele trabalhava


como um funcionário do governo indiano e seu supervisor era um homem
inglês. Um dia Kedar conversou com este inglês sobre o Mestre e disse, ‘Sri
Ramakrishna é Deus.’
O inglês ficou ansioso para se encontrar com o Mestre, pensando, ‘Se
Ramakrishna é Deus, então ele pertence a todos.’ Um dia ele decidiu visitar
Dakshineswar e pediu à Kedar que o acompanhasse. Após a chegada lá, Kedar
disse ao seu supervisor cristão, ‘Você pode não ter a permissão de entrar no
complexo do templo onde o quarto do Mestre se encontra, portanto, por favor,
espere aqui fora.’ Kedar foi ao quarto do Mestre mas ele não estava lá. O inglês
estava esperando perto do ghat Bakultala na margem do Ganges. Neste
momento o Mestre estava retornando do bosque de pinheiros ao seu quarto.
Vendo o Mestre no caminho do jardim, o inglês correu para ele e tocou seus
pés. Ele então exclamou, ‘Aqui está meu Jesus! Aqui está meu Jesus!’ O Mestre
o abençoou carinhosamente, tocando sua cabeça, e deu a ele alguma instrução.

 
O inglês compreendeu o que o Mestre disse a ele: Ele abandonou seu emprego e
renunciou ao mundo, em seguida mudou-se para Mathura-Vrindaban. Ele
tornou-se um mendicante e vivia de esmolas e ao final morreu lá.
Um dia eu fui à casa-jardim de Cossipore para ver o Mestre e o encontrei
sozinho em seu quarto. O Mestre me aconselhou a praticar meditação. Eu disse
a ele, ‘Senhor, eu não posso praticar disciplinas espirituais, tais como fazer
pranayama pressionando as narinas, japa e meditação sentando-se em certas
posturas. Por favor, me abençoe para que eu possa ter a realização de Deus
rapidamente. Se eu tiver que praticar meditação, por que eu viria a você? Eu
poderia ir até outro guru.’ Sorrindo, o Mestre disse, ‘Está bem, você não terá
que fazer todas estas coisas. Mas pense em mim de manhã e de noite.’ Eu
respondi, ‘Eu tentarei. Eu penso em ti como a verdadeira manifestação de Deus.
Por favor, me abençoe para que eu possa ter a experiência direta.’ Sorrindo, o
Mestre bateu em minhas costas três vezes e disse, ‘Sim, sim, você realizará a
Deus. E mais tarde, muitas pessoas aprenderão vendo você.’

O incidente seguinte aconteceu após o falecimento de Sri Ramakrishna. Swami


Subodhananda estava então praticando austeridades em Hardwar, aos pés dos
Himalayas.
Eu estava sofrendo com febre por dois meses. Eu estava tão fraco que
não conseguia levantar meu pote de água para colocá-la em minha boca. Uma
noite quando me aproximei do pote de água para matar minha sede, eu caí no
solo inconsciente. Quando recobrei a consciência, meus sentimentos estavam
feridos e eu rezei, ‘Mestre, estou sofrendo terrivelmente. Não há ninguém para
cuidar de mim. Você não me deu força suficiente nem para beber um pouco de
água por mim mesmo.’ Pensando deste modo, eu adormeci. Então eu vi [em um
sonho ou visão] o Mestre esfregando meu corpo com sua mão; e ele disse, ‘Por
que está tão preocupado? Não vê que eu estou sempre perto de você? O que
você quer – atendentes ou dinheiro?’ Eu respondi, ‘Eu não quero nenhuma
destas coisas. Eu não posso evitar a doença enquanto eu tiver um corpo. Que eu
jamais possa esquecê-lo – isto é o que eu quero. Esteja comigo onde quer que eu
vá.’
Cedo pela manhã eu escutei uma voz chamando de fora, ‘Swami, por
favor, abra a porta.’ Eu me levantei e abri a porta. Um jovem monge me disse,
‘Por favor, me diga o que você precisa. Eu buscarei, esmolando, comida para
você.’ Eu disse a ele, ‘Eu não quero nada.’ Quando eu perguntei como ele soube
sobre mim, ele disse que tinha chegado lá alguns dias antes para executar um
rito religioso no Brahmakunda [em Hardwar]. Na noite anterior a Mãe Durga
apareceu a ele em uma visão e disse, ‘Você terá mais virtudes servindo aquele

 
monge doente na cabana do que executando este rito religioso.’ Por isso pela
manhã ele veio até minha cabana e constatou que sua visão era verdadeira.
Lágrimas caíram de meus olhos. Eu me controlei e pedi ao jovem monge que
me deixasse viver sozinho.
No mesmo dia outro monge recebeu cinqüenta rúpias. Ele veio a mim e
disse, ‘Você está sofrendo com febre. Precisa de comida e remédios. Por favor,
use este dinheiro.’ Eu recusei esta oferta. Cedo, na manhã seguinte, o jovem
monge veio novamente e me disse que na noite anterior a Mãe Durga de novo o
exortou a servir-me. Então eu disse a ele polidamente que eu realmente não
precisava de qualquer serviço e que talvez a Mãe Durga tivesse pedido a ele
que servisse algum outro. O jovem monge partiu. Então eu rezei ao Mestre: ‘Por
favor, não me tente mais. Eu estou feliz que tenha destruído minha irritação.’ O
jovem monge veio outra vez no terceiro dia, mas nunca mais.

Como um jovem Swami Subodhananda foi inspirado pela radiante renúncia de seu
guru, Sri Ramakrishna, e também pela sua mensagem da harmonia das religiões. Em
1897 ele deu uma palestra sobre “Sannyasa e Brahmacharya” na ‘Young Men’s Hindu
Association’ em Madras e incluiu algumas reminiscências de seu guru. A seguir estão
alguns trechos:

Sannyasa é a renúncia de todos os motivos e desejos egoístas. Antes de


explicar o que é sannyasa, eu devo falar a vocês sobre brahmacharya; pois a
menos que esta última seja realizada, sannyasa ou renúncia não é possível. A
prática da brahmacharya requer rígido controle de sua dieta, hábitos e
pensamentos. De todas as instruções prescritas para este estágio, a maior ênfase
é dada pelas escrituras sobre o completo domínio do instinto sexual. Nada
deveria ser pensado ou feito pelo aspirante que pudesse direta ou
indiretamente tender a despertar o animal nele ou nela. Deste modo se é
dirigido para trazer a mente até o controle total. É um verdadeiro brahmacharin
aquele que não é um escravo de seus sentidos e mente, mas pelo contrário,
tornou-os seus escravos. Todas as religiões do mundo predicam esta
brahmacharya e sannyasa, ambas tem uma única finalidade e meta: elevar a
mente da sensualidade até Deus. Quando a mente atinge a Deus ela goza de
divina bem-aventurança...
Nosso Mestre costumava dizer que se nós quisermos passar uma linha
pelo furo de uma agulha, todas as fibras espalhadas deveriam ser juntadas em
um ponto. Somente então poderíamos passá-la pelo furo; se as fibras ficarem
espalhadas em todas as direções, elas impedirão a linha de passar pelo furo. Da
mesma forma, se nós quisermos elevar nossa mente até Deus, devemos retirá-la
de todas as coisas externas e concentrá-la em um único ponto...

 
Nosso Mestre disse que da mesma forma que a água da chuva não se
junta no solo elevado e sempre busca o nível mais baixo, similarmente aqueles
que estão cheios de vaidade não podem reter qualquer fé dentro de si mesmos,
pois a fé sempre busca os corações dos humildes e simples.
Enquanto houver conflitos entre diferentes indivíduos e seitas, eles não
podem se elevar para realizar a suprema verdade. Quando a verdade brilhar, a
escuridão da ignorância e seus acompanhantes, a estreiteza mental, intolerância
e fanatismo que inundam a terra com assassinato e derramamento de sangue,
desaparecerão totalmente. ‘Meu Deus é o verdadeiro Deus, o seu Deus é falso’
são as palavras daqueles que tateiam na escuridão da ignorância. Uma vez
Keshab Chandra Sen, o líder do Brahmo Samaj, perguntou ao nosso Mestre, ‘Já
que existe apenas um Deus, por que existem tantas seitas brigando umas com as
outras?’ O Mestre respondeu, ‘Veja, as pessoas brigam por sua terra,
propriedades e outras coisas do mundo, dizendo, “Esta terra é minha e aquela é
sua.” Deste modo eles dividem esta terra de vários modos fazendo demarcações
para separar suas respectivas propriedades. Mas ninguém jamais brigou sobre o
espaço aberto que está acima da terra, pois este não pertence a ninguém e
nenhuma demarcação pode ser feita nele. Da mesma forma quando a mente se
eleva acima das preocupações mundanas, não há ocasião para briga, pois então
se atinge certo ponto que é a meta comum de todos.’ Quando um homem
realiza Deus, ele não pode brigar, mas quando ele está abaixo do alvo – ou seja,
quando ele está distante de Deus – ele costuma discutir. Contudo, apesar de
que você possa ter muitas ocasiões para isto, você pode ao final terminar todas
as discordâncias realizando a concordância e harmonia universal, que só pode
ser encontrada em Deus, que está dentro e fora de você.

Os  humanos  podem  ver  a  Deus  se  abandonarem  o  egoísmo, 


pensarem e invocarem a Ele. 
  Sri  Ramakrishna  me  disse,  ‘Os  humanos  podem  ver  a  Deus  da 
maneira  de  duas  pessoas  sentadas  e  conversando  ou  duas  pessoas 
caminhando.’ É necessário invocar a Deus sem nenhum motivo. 
  Através  do  Seu  nome  o  não‐auspicioso  se  torna  auspicioso  e  a  paz 
vem do conflito. É preciso apenas ter fé. 
  Todas as grandes almas realizadas, onde quer que estejam enfatizam 
a importância do nome de Deus. Sri Ramakrishna também enfatizou o [poder 
do] nome de Deus e dizia – tenha certeza ‐ tudo terminará bem pelo [poder 
do Divino] nome. 
 
‐Swami Subodhananda 

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