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(Canto do Senhor)
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seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à
Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e
competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da
Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes
e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico,
esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro.
Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião
consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o
ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é
bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um
povo é velar com zelo pelo bem-estar físico, moral e espiritual de cada
pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o
governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado
por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for
necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu
dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou
governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através
do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive
uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais
apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes
aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a
felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o
homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito
puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada,
quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou
parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais
pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem
subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível
da Divindade.
As pessoas comuns têm muitas idéias confusas sobre o conceito do
dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida
objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de
receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o
medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos.
Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal
impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da
opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os
familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória
individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos
criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Freqüentemente
vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor,
compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos
fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e,
justamente por isso, Sri Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o
dever, o yoga, a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação.
O Bhagavad-Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de
orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este
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sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara
os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença
entre o amor e o apego, a ciência da yoga, a prática da devoção e do
difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o
conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência-Conhecimento-
Bem-aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha
inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas,
senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que
certas respostas de Sri Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo
e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e
fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas
desapareceram. Cumprirei Tua ordem.”
Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual,
sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro
significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis
requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de
discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de
renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle
dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber
retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual,
fé inquebrantável na própria capacidade e na existência divina,
concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência
objetiva, deste conjunto de idéias e formas transitórias. Sem tais
requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso
leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra
flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida
de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que
unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se
compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou
religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais
não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é
levantar ao homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazê-
lo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver
uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus,
seu verdadeiro Ser.
Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os
chamam de “yogas”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga
da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga,
ou yoga da devoção e Jñana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo.
Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que
yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os
grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão
yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades
humanas com a divindade universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as
limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos
são universais; através de sua personalidade transparente a Divindade
chega a nós diretamente. Por natureza um yogui é equânime,
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desapegado, misericordioso, sempre ativo e vive fazendo o bem a todos.
Conhecedor do segredo da vida e da morte, unido definitivamente com
Deus, sua presença santifica tudo. Só o verdadeiro yogui sabe que a vida
e a morte são como borbulhas, flutuando no eterno oceano da
imortalidade.
O Gita é conhecido também como Brahma Vidia, o conhecimento do
Supremo e como Moksha-Shastra, o tratado sobre a emancipação final.
Ainda que o texto comece com a persuasão de Arjuna, para que cumpra
com seu dever de liderar a causa da retidão, vemos em seguida que a
mensagem de Sri Krishna é a Suprema Verdade. Os problemas tratados
neste sagrado texto são essencialmente espirituais e as soluções dadas
pelo Senhor nos preparam para a Verdade, só pela qual poderemos
liberar-nos de nossa errônea identificação com o mundo relativo e
transitório e recuperar nossa esquecida divindade. Sri Krishna responde
claramente as perguntas de Arjuna sobre Deus, o ser individual, a vida ou
a existência após a morte, a evolução, a matéria, a alma, o dever, etc.,
etc. Aqui o homem foi tratado como uma entidade integral; suas ações e
seus pensamentos não podem ser separados de sua existência. Seu
pensamento fugaz ou sua ação trivial não podem ser avaliados se não
conhecemos a base de sua existência. Como qualquer ação sua, seu
pensamento, expressado ou não, produz o efeito correspondente e se é
egoísta o ata ainda mais a esta roda de nascimento, sofrimento e morte;
o contrário o conduz à liberação. O propósito dos ensinamentos de Sri
Krishna é eliminar as dúvidas e idéias ilusórias que oprimem ao homem
em sua vida diária. Estas dúvidas, estas ilusões, irão só pela realização da
Verdade; então o homem sentindo intimamente a presença de Deus em
seu coração afrontará todos os problemas relacionados ao dever.
O Gita declara que Deus é universal, que o universo é Sua
manifestação. Disse Sri Krishna: “Suas mãos e pernas estão em toda
parte; Seus olhos, cabeças e rostos estão em toda parte; Seus ouvidos
estão em todos os pontos; Sua existência interpenetra e cobre tudo o que
existe”. Ao mesmo tempo, para o necessitado que pede socorro, Deus é a
misericórdia, a meta e o suporte; Ele é o Senhor e a eterna Testemunha
de Sua própria manifestação; Ele é a morada de todos, o refúgio
acolhedor e o Amigo. Disse Sri Krishna: “Sou a origem e o fim”. Deus é a
força impessoal por trás do universo; Ele é a luz das luzes; é Sua a luz
que está no sol, na lua e no fogo; é Ele o que ilumina o universo. Ele está
no coração do homem como conhecedor e como o conhecimento; só à Ele
conhece o homem em diversas formas e idéias. Ele suporta ao
macrocosmo e ao microcosmo. Mas Sua verdadeira natureza é
transcendental e está além da compreensão humana; só uma fração Sua
está manifestada como o universo. Esta Suprema Consciência, esta
existência transcendental, por Sua própria vontade aparece diante do
homem e lhe diz: “Ó Kounteya, declara ao mundo que Meu devoto jamais
perece”. Ele diz ao Seu devoto: “Aceito tudo o que Me ofereces com
devoção, seja uma folha, uma flor, uma fruta ou ainda uma gota de
água”. É a pura devoção que leva ao homem primeiro à Deus Pessoal e
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em seguida, purificando-o de toda limitação individual, o une com Deus
Impessoal e o libera definitivamente da ignorância, do medo e da morte.
Existem intelectuais que opinam que religião atua como ópio, que
adormece ao homem e o faz esquecer a realidade da vida. À eles
aconselhamos a cuidadosa leitura do Bhagavad-Gita sem idéias pré-
concebidas. Aqui o instruído encontrará que o Senhor recomenda ao
aspirante espiritual a aço abnegada, contínua e incessantemente; esta
ação é a que purifica o coração de um homem e ao mesmo tempo o salva
de mais apegos. Somente as ações abnegadas produzem resultados bons
e duradouros. A advertência de Sri Krishna para aqueles que confundem a
vida espiritual com a inércia é: “Teu motivo para trabalhar não deve ser a
ansiedade de obter o fruto da ação, nem dever aderir-te à inação”. A vida
religiosa separada da vida diária é uma coisa estéril, algo sem sentido,
talvez um adorno vistoso, uma ação sobreposta, um gesto de ostentação.
Se o significado de ‘ser religioso’ é pertencer nominalmente a uma
instituição religiosa, sem fazer o esforço de sentir a viva presença de
Deus no coração, então toda sua ida aos templos foi em vão, toda sua
leitura das escrituras sagradas foi inútil e sua vida de “parecer” teve
muitas complicações. Freqüentemente estes religiosos, em seu afã de
apresentar sua doutrina particular, se tornam fanáticos e
inconscientemente causam a ruína e fazem sofrer aos demais. Apesar de
tanta prédica religiosa, a maioria dos religiosos, vivendo uma vida
afastada de Deus, não sentem a fraternidade humana porque não
compreendem nem aceitam que Deus Pessoal ou Impessoal é sempre
Universal e que todos os seres humanos são Sua manifestação.
A inércia, a indolência e a inadvertência são os três inimigos mais
poderosos do ser humano. São mais daninhos que a maioria dos atos
pecaminosos. Sri Krishna queria salvar à Arjuna de seu desejo encoberto
de escapar de seus deveres, com o pretexto de levar a vida pacifica de
um ermitão. Como todos os homens estão convencidos da limitada idéia
de individualidade, também o grande Arjuna pensava que não lutando
poderia transformar imediatamente seu caráter de guerreiro e apagar de
sua mente todas as impressões passadas. Com paciência Sri Krishna
convenceu à Arjuna de que cumprindo desapegadamente com seu dever
imediato de destruir aos inimigos que representavam a injustiça,
entenderia melhor o ideal humano e para isso era melhor enfrentar a crua
e desapiedada realidade. Ensinando à Arjuna o poder das ações passadas,
Sri Krishna lhe diz: “Ó Kounteya, alucinado, o que não queres fazer
agora, depois o farás mesmo assim, pois estás atado ao teu karma
(impulso da vida passada), nascido de tua natureza”. Atuar ou cumprir
desapegadamente o dever de cada um, segundo o ambiente em que
nasceu, não é contraproducente na vida espiritual. Se o instrutor
espiritual, cumprindo desapegadamente seu dever de ensinar se
emancipa, o açougueiro que serve ao povo matando animais, cumprindo
com seu dever sem apego, logrará idêntica emancipação. O verdadeiro
inimigo da vida espiritual é a ignorância que nos fez esquecer que somos
seres sempre livres e nos fez acreditar que somos limitados e mortais.
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Essa ignorância é a mãe do apego, do medo, da ilusão, da debilidade, da
dependência e de todos os tipos de limitações.
O dilema principal de Arjuna se apresentou com respeito ao dever.
Quando no campo de batalha viu com seus próprios olhos, que entre os
inimigos estavam seus parentes e amigos, até seu próprio instrutor, lhe
surgiram as seguintes idéias: É necessário e benéfico cumprir com os
deveres mundanos, quando produzem pesar e sofrimento à si mesmo e
aos demais? Não seria melhor abandonar estes deveres e seguir o
caminho da renúncia? Um momento antes, decidido, Arjuna havia ido
disposto a lutar; um momento antes ele sabia muito bem quem eram
seus adversários que, segundo ele, eram representantes da injustiça e
colaboradores de seu primo havia usurpado o trono de seu irmão mais
velho. Mas quando os viu frente a frente, Arjuna esqueceu seu dever, seu
coração se encheu de medo e falsa compaixão e muito deprimido
começou a falar com muita emoção, sentimento e raciocínio adequado.
Através de suas palavras, aparentemente sábias, mas realmente egoístas,
demonstrando seu grande apego, confusão e ilusão, Arjuna queria
convencer Sri Krishna de que ele preferia a morte a matar aos seus
inimigos. Mas o onisciente Sri Krishna viu a momentânea debilidade de
Arjuna e por isso, quando este se sentou no carro de guerra e soluçando
disse: “Ó Govinda, não vou lutar”, Sri Krishna lhe respondeu com
firmeza: “De onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e
contrária ao logro da vida celestial? Você está lamentando-se pelos que
não o merecem, no entanto falas como um sábio. Os verdadeiros sábios
não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.”
Sri Krishna não predicou à Arjuna o ideal dos estóicos, cumprir o
dever só pelo dever; porém predicou que o cumprimento do dever tem
um só propósito: purificar o coração para desfrutar da infinita bem-
aventurança da Presença Divina. Deus é imanente no universo, como a
alma de todos os seres e objetos. Cumprir o dever equivale à adoração de
Deus. Ao que considera o dever desta forma, pouco lhe molestam as
idéias de êxito ou fracasso, ele desfruta como um instrumento vivente
nas mãos de Deus e não sofre nem se desespera pensando de antemão
em sua própria morte e na dos demais; seu conhecimento por estar em
contato com Deus é uma ditosa percepção permanente.
Ainda que o Gita seja um compendio de todos os yogas, no entanto
Sri Krishna recomenda como disciplina espiritual o Karma yoga, o
caminho da ação. Para o aspirante espiritual a ação deve ser abnegada,
desapegada e sem esperar os frutos. Este tipo de ação destrói
radicalmente todas as limitações do Ser. Viver significa atuar, pensar é
atuar; pela ação o homem expressa a si mesmo. Sri Krishna disse: “Ó
Partha, Eu não tenho nenhum dever que cumprir, não há nada nos três
mundos que não haja logrado ou que Me falte lograr, no entanto, atuo
constantemente”. Talvez seja possível para o egoísta retirar-se da ação,
cobiçando o estado de inércia, mas para aquele que ama a humanidade
não há descanso possível e por isso vemos que as Encarnações jamais
deixam de atuar. Como não têm nenhum motivo pessoal, a ação para as
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Encarnações é dar curso à misericórdia que às vezes nos alenta e outras
vezes nos corrige com severidade. Em troca o homem comum tem
diferentes motivos. Segundo o motivo progride ou retrocede; quando
trabalha para sua auto-satisfação, robustece seu egoísmo e
inconscientemente retrocede, de modo gradual, à animalidade. Em troca,
quando atua de forma abnegada, como instrumento de Deus, sabendo
muito bem que o único ator é Deus, então todo sua ação é para agradar à
Deus, seu Bem-amado. Toda ação ou pensamento egoísta forja um novo
elo na grande corrente com que estamos atados à dolorosa existência
deste mundo de nascimento e morte e todo ação ou pensamento
dedicado a Deus, como uma ininterrupta adoração, rompe esta corrente,
nos conduz à emancipação final, à ditosa união com Deus. O Karma yogui
conhece o segredo da ação, é equânime, desapegado, não espera, nem
aceita, nem rechaça o fruto da ação. Sri Krishna ensinou à Arjuna que
qualquer ação pode ser feita como yoga, mesmo a ação de matar que
objetivamente parece cruel, violenta e desapiedada, sempre que se faça
como uma prática de yoga, sentindo-se como um instrumento de Deus,
sem temor, sem esperar a vitória para si mesmo ou para uma
comunidade particular e atuando só para estabelecer a Verdade, a
retidão; estão, esta ação, em lugar de produzir demérito, purifica ao
homem e o conduz à emancipação.
Este mundo transitório de aparência, nome e forma está constituído
de pares de opostos: bem e mal, prazer e dor, virtude e vício, calor e frio,
vida e morte. Como a frente e o verso de uma mesma medalha, cada
parte depende de sua contraparte. Nosso conhecimento ou percepção de
qualquer idéia ou objeto deste mundo é indireto e comparativo;
conhecemos ao homem comparando-o aos outros seres, sentimos o frio
comparando-o com o calor. Não há dúvida de que o mundo é imperfeito.
O muito desejado mundo perfeito é ilógico porque chegando à perfeição,
o mundo se diluirá em sua origem: Deus. Tudo que é objetivo é
imperfeito, só Deus, o Eterno Sujeito, é perfeito. Progresso significa a
transformação do objeto no sujeito. Deus, o eterno imã, está nos atraindo
continuamente, nosso dever é purificar-nos. O sábio hindu diz que nossa
origem é Deus e que existimos em Deus. Deus, em seu estado
manifestado, não perde Sua Divindade.
No Bhagavad-Gita, Sri Krishna reforça a idéia do swa dharma, o
dharma de cada um. A palavra dharma é difícil de traduzir. A religião, a
retidão e o dever, nos dão certa idéia aproximada de seu significado.
Dharma é o que suporta ao homem na vida e ao mesmo tempo o ajuda a
realizar sua verdadeira natureza: a Divindade. O grande erro do homem é
continuar considerando-se como um objeto composto de aspectos ou
entes biológicos, fisiológicos e psicológicos. Para corrigir este grande erro,
o homem necessita praticar o swa dharma. As tendências atuais de cada
homem são o resultado de seus próprios pensamentos e ações em vidas
passadas. Cada pensamento ou ação produz uma impressão que forma
parte da natureza subconsciente do homem. Este estado subconsciente
não se destrói com a morte física, este estado é o “eu” do homem. A
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atual encarnação do homem foi causada pelo impulso dessas impressões;
são elas que determinam seu caráter, seu dever, sua idéia de religião,
seu critério de bom e de mal, do correto e do injusto. Nenhum homem
nasce com a mente absolutamente pura, mesmo o nascimento das
encarnações demonstra que Elas, voluntariamente aceitam certa
impureza. A diferença entre a individualidade da Encarnação e a de
qualquer homem é que a Encarnação é sempre consciente de Seu estado
universal e de Seu voluntário e momentâneo estado individual. Em troca,
o homem comum é inconsciente de ambos estados. Terminada a missão
com que vem ao mundo, a encarnação deixa Sua individualidade. Ao
homem comum, ao princípio, custa muito desfazer-se de sua
individualidade, mas logo o faz pela misericórdia Divina, que age como o
grande destruidor da ignorância. A educação ou o impacto do ambiente
ajuda ao homem a desenvolver as qualidades que ele mesmo fabricou e
com as quais veio ao mundo. Seus pais são causas instrumentais, que lhe
proporcionam o meio físico para dar curso ao seu dharma. Eles são como
os ceramistas e a roda que dá forma ao vaso. Assim que o dharma de
cada ser humano é a base de seu pensamento e ação; ele não pode
desfazê-lo. Ir contra este dharma é criar confusão. Arjuna ficou
confundido quando quis deixar o swa dharma do kshatriya, cujo dever é
proteger aos corretos e destruir aos injustos. Sua confusão surgiu,
quando esquecendo seu dharma, quis levar vida de ermitão. Tampouco
devemos esquecer o outro aspecto do dharma, o que nos ajuda a realizar
nossa Divindade, senão dharma significaria desapiedada fatalidade.
A lição de Sri Krishna é que ninguém deve agir contra o swa
dharma, o dever do ambiente em que nasceu. Cumprindo abnegadamente
com o dever, o homem gasta o impulso com que nasceu e dedicando toda
sua ação a Deus, não cria novos impulsos. Então compreende que o
supremo dever é adorar a Deus. Diz Sri Krishna: “Renunciando a todos os
deveres, refugie-se em Mim unicamente. Não te aflijas, Eu o salvarei de
todos os pecados.”
Swami Vijoyananda
Ramakrishna Ashrama
Gaspar Campos 1149
Bella Vista
Buenos Aires
República Argentina
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Capítulo I
O PESAR DE ARJUNA
1 – Disse Dhritarashtra:
Diga-me Sanjaya, que fizeram meus filhos e os de Pandu reunidos, no
sagrado campo de Kurukshetra, com o desejo de lutar?
2 – Disse Sanjaya:
Vendo ao exército bem formado dos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se
aproximou do mestre (Drona, instrutor de guerra) e disse o seguinte:
7-9 – Ó Tu, o melhor dos nascidos duas vezes (Brahmins), para informar-
te vou mencionar os nomes dos distintos condutores de meu exército. Tu,
Bhisma, Karna, Kripa, todos vitoriosos na guerra. Também estão Ashvat-
thama, Vikarna, o filho de Somadatta e muitos outros heróis que
manejam com habilidade distintas armas, todos dispostos a sacrificar
suas vidas por minha causa.
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soprou a anantavijaia, Nakula e Sahadeva as sughosa e manispuspaka. Ó
dono do mundo, o hábil arqueiro, o rei de Kashi, o grande guerreiro
Shikandi, Dhristadyumma, Virata, o invencível Satyaki, Drupada, os filhos
de Droupadi e o valente filho de Subhadra, todos tocaram suas
respectivas conchas.
20-23 – Então, ó Rei, Arjuna, o filho de Pandu, cujo carro leva a figura do
macaco, quando viu aos Dharta-rashtras (a teus filhos) formados em
posição de batalha, com as diferentes armas prontas para serem usadas,
levantou seu arco e disse o seguinte a Hrishikesha: ‘Achyuta (Sri
Krishna), coloque meu carro entre os dois exércitos para que eu veja aos
que vieram preparados para lutar e contemple antes que comece a guerra
a quem devo combater. Quero ver aos que vieram para lutar ao lado de
Duryodhana, o filho de Dhritarastra, para causar-lhe prazer’.
26 – Então Arjuna viu aos seus tios, tios-avós, instrutores, tios maternos,
sobrinhos, sobrinhos-netos, sogros, amigos e camaradas.
31-34 – Não vejo que bem posso lograr matando aos meus parentes na
guerra. Ó Krishna, eu não desejo a vitória nem a soberania nem os
prazeres. Ó Govinda (Krishna), de que nos servirão a soberania, os
prazeres, mesmo a própria vida, quando meus instrutores, tios, filhos,
tios-avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e demais parentes,
para quem desejamos essas felicidades, estão reunidos aqui para lutar,
tendo renunciado a seus bens e mesmo a suas vidas?
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36-37 – Ó Janardana (Krishna), que prazer teríamos matando aos
Dharta-rashtras? Seria um ato pecaminoso matar a estes agressores. Por
isso, não devemos destruir aos nossos parentes, os Dharta-rashtras. Ó
Madhava (Krishna), como poderíamos ser felizes matando a nossos
próprios parentes?
38-39 – Ainda que eles, com a mente dominada pela cobiça, não vêem
nenhum mal em destruir aos parentes, nem pecado em serem hostis aos
amigos, por que, Ó Janardana, nós que vemos ao grande mal que nasce
da destruição dos parentes, não desistimos de cometer este pecado?
47 - Disse Sanjaya:
Dizendo isto, Arjuna jogou fora seu arco e flechas e com o coração muito
dolorido, permaneceu sentado em seu carro.
Capítulo II
O CAMINHO DO DISCERNIMENTO
1 - Disse Sanjaya:
A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos
cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse
o seguinte:
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2 – Disse o BENDITO SENHOR:
Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna
debilidade, não ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial?
4 – Disse Arjuna:
Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que
combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a
veneração?
5 – Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a
estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os
nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu
sangue.
6 – Não sabemos o que seria melhor, vencer ou ser vencidos. Estes filhos
de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão
diante de nós.
9 – Disse Sanjaya:
Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono:
Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou
lutar” e ficou em silêncio.
12 – Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem esses
reis, nem deixaremos de existir no futuro.
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13 – Assim como o ser encarnado tem sua infância, juventude e velhice,
assim também ele toma outro corpo. Os sábios jamais se confundem
sobre este ponto.
15 – Ó tu, o melhor dos homens, só aquele que não se aflige por estas
modificações e é equânime no prazer e na dor, logra a imortalidade.
19 – Aquele que pensa que este Ser mata e aquele que pensa que este
Ser morre, os dois são ignorantes; o Ser não mata nem morre.
20 – O Ser não nasce, nem morre, nem se reencarna, não tem origem, é
eterno, imutável, o primeiro de todos e não morre quando matam o
corpo.
22 – Como alguém deixa suas vestes gastas e coloca outras novas, assim
o Ser corpóreo, deixa seu corpo gasto e entra em outros novos.
24 – A este Ser não se pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem
secar, é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.
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28 – Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se
manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que
te afliges por eles?
33 – Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua
reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado.
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41 – Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só
determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos
são inumeráveis e de formas diversas.
47 – Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos
jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação.
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53 – Quando se aclarar tua compreensão perplexa por causa das
diferentes opiniões e te estabeleças no samadhi (absorção espiritual),
então lograrás o yoga.
54 – Disse Arjuna:
Ó Keshava, como defines ao homem de conhecimento firme e
estabelecido no samadhi? Como fala, como caminha, como se senta o
homem de conhecimento firme?
62-63 – Naquele que pensa nos objetos, nasce o apego, do apego nasce o
desejo, do desejo (frustrado) nasce a ira, da ira nasce a ofuscação, da
ofuscação nasce a confusão da memória, em seguida a vontade se destrói
e então o homem perece.
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66 – Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a
meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se
pode lograr a felicidade?
67 – Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a
consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos.
Capítulo III
O CAMINHO DA AÇÃO
1 – Disse Arjuna:
Ó Janardana, se segundo tua opinião, o conhecimento é superior à ação,
então por que me conduzir a esta terrível ação?
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4 – O não trabalhar não conduz ao estado da inação, nem pela mera
renúncia da ação se logra a perfeição. (O estado da inação é aquele onde
todo motivo pessoal para atuar está ausente.)
9 – Este mundo (as pessoas) está atado por ações distintas das de yagña
(culto, sacrifício, Vishnu ou Deus mesmo), de maneira que, ó Kouteya,
atua sem apego, somente para o yagña.
15 – Sabe que as ações têm sua origem nos Vedas (são motivadas pelos
ditos védicos) e os Vedas procedem do Imortal. Por isso, o onipresente
Veda (Conhecimento) sempre está nos yagñas.
16 – Ó Partha, aquele que não segue aqui a esta roda que foi posta em
movimento e está satisfeito com a vida sensória e pecaminosa, vive em
vão.
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17 – Ao contrário, aquele que se deleita somente no Atman (Ser), está
satisfeito com o Atman e está plenamente contente com o Atman, não
tem nenhum dever.
18 – Neste mundo ele não tem nada que ganhar pela ação, nada perde se
não atua, nem necessita depender de ninguém para lograr seu propósito.
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deve perturbar as pessoas de pouca inteligência e conhecimento
imperfeito. (O processo da evolução mental deve ser contínuo, mas
jamais deve ser forçado e ir contra a tendência natural de cada aspirante
espiritual. Nem todos têm o mesmo grau de compreensão nem a mesma
capacidade de transformação, por isso as instruções espirituais devem ser
aplicadas com muito carinho e paciência, individualmente para cada caso.
Cada homem vê, interpreta e compreende a Verdade segundo seu
ambiente e conceitos anteriores. Só pela contínua ação abnegada
crescem no homem os conceitos universais da eterna Existência –
Consciência – Bem-aventurança. O pensamento e a ação abnegada
formam a base de todo progresso.)
35 – Sempre é melhor cumprir o próprio dever, ainda que seja mal, que
cumprir bem o dever que não lhe corresponde. E preferível morrer
cumprindo o próprio dever; o dever alheio encerra temor (por ser
desconhecido).
36 – Disse Arjuna:
Ó Varsneya (descendente dos Vrisnis, Krishna), o que impele ao homem a
cometer o pecado, contra sua própria natureza e obrigado pela força?
22
É o desejo, é a ira, nascido da qualidade rajásica (ativa) da prakriti; é
como uma fome insaciável e muito pecaminoso. Considera-o neste mundo
como teu inimigo.
38-39 – Como o fogo está coberto pela fumaça, o espelho pela poeira e o
feto pela placenta, assim este (o conhecimento) está coberto por aquele
(o desejo). O Kouteya, o conhecimento está coberto pelo desejo, que é
como um voraz incêndio e constante inimigo do homem.
Capítulo IV
O CAMINHO DO CONHECIMENTO
3 – Como tu és Meu devoto e amigo, hoje lhe falei sobre este antigo
yoga. Em verdade, este é um grande segredo.
4 – Disse Arjuna:
Tu nasceste muito depois de Vivaswata, como, portanto, entenderei que
falaste deste yoga no remoto passado?
23
Ó destruidor de teus inimigos, você e Eu já nos encarnamos muitas
vezes; Eu conheço todas estas encarnações, você não as conhece.
16 – Até os sábios (às vezes) tem confusão com relação ao que é a ação
e o que é a inação. Eu te direi o que é a ação, sabendo-o te libertarás do
mal.
24
das ações que produzem todo tipo de momentâneas alegrias e pesares
não afetam ao que trabalha sem egoísmo ou ao que se sente como um
instrumento de Deus, de modo que toda sua ação é como a inação. Em
troca, a inação de um egoísta ou irreligioso é pura indolência e lhe causa
sofrimento e escravidão. Também se pode dizer que o ignorante pensa
que o Ser atua, enquanto que o sábio vê ao corpo e aos órgãos atuar e
sabe que para o Ser não há ação.)
19 – Aquele cujas ações não são motivadas por algum plano prévio ou
por desejo, cujas ações são purificadas pelo fogo do conhecimento, a ele
os sábios chamam conhecedor.
25
29 – Há outros que praticam o pranayama (controle dos pranas ou forças
vitais), oferecendo ao prana (a exalação) no apana (a inalação) e o apana
no prana, depois de restringir a saída e a entrada dessas duas forças.
Enquanto outros que regulam sua alimentação, oferecem as funções dos
pranas nos pranas dos sentidos. (Depois de dominar a um dos cinco
pranas, o yogui o concebe como fogo sagrado e nele oferece como
oferenda aos quatro pranas restantes. O yogui perfeito controla aos cinco
pranas ou ao corpo psicofísico.)
30-31 – Todos eles conhecem o yagña que consome seus pecados e eles
absorvendo o néctar, as sobras da oferenda, alcançam ao eterno
Brahman. (Qualquer ação feita sem egoísmo ou como uma oferenda à
Deus purifica a mente do homem e o libera.) Ao que não faz o yagña não
lhe pertence este mundo, muito menos o outro, ó tu, o melhor dos Kurus.
26
41 – Ó Dhananjaia, aquele que pela yoga renunciou aos frutos das ações,
cuja dúvida foi destruída pelo conhecimento e que repousa em seu Ser,
não é atado pelas ações.
Capítulo V
A RENÚNCIA DA AÇÃO
1 – Disse Arjuna:
Ó Krishna, tu elogias a renúncia da ação e também o cumprimento da
ação. Por favor, diga-me definitivamente o que é melhor para mim.
27
10 – Aquele que dedica sem apego todas suas ações à Brahman, não é
umedecido pelo pecado, assemelhando-se à folha de lótus (que sempre
está na água, sem molhar-se).
21 – Aquele cuja mente não tem mais apego aos objetos externos dos
sentidos, alcança a bem-aventurança do Atman e se identifica com
Brahman; e estando absorto Nele, goza a bem-aventurança eterna.
28
22 – Os prazeres que nascem dos objetos sensórios e que têm princípio e
fim são em realidade a causa do sofrimento. Por isso, ó Kounteya, os
sábios não se regozijam neles.
23 – Nesta mesma vida, antes de deixar o corpo, aquele que resiste aos
impulsos do desejo e da ira, está estabelecido na yoga e é bem-
aventurado.
Capítulo VI
O CAMINHO DA MEDITAÇÃO
29
3 – Para o sábio que quer ser um yogui, a ação é o meio e para aquele
estabelecido na yoga, a inação é o meio (para permanecer absorto no
Supremo).
30
16 – Ó Arjuna, aquele que come muito ou come muito pouco, aquele que
dorme muito ou dorme muito pouco, não logra o yoga.
31 – Aquele que estando unido com todos adora a Mim que resido em
todos os seres, qualquer que seja sua ocupação, este yogui vive em Mim.
31
32 – Ó Arjuna, o melhor yogui é aquele que considera ao prazer e a dor
de todos os seres como se fossem seus.
33 – Disse Arjuna:
Ó Madhusudana (Krishna), esta yoga que tu descreves como
equanimidade, eu não vejo como pode ser permanente, devido à
intranqüilidade da mente.
37 – Disse Arjuna:
O que acontece a uma pessoa que tem shraddha (fé), mas carece de
determinação e não consegue lograr a perfeição na yoga (antes de
morrer), devido à que sua mente vaga por toda parte?
41-42 – Aquele que caiu do yoga (que não alcançou a perfeição) vai à
esfera dos justos; depois de viver ali durante longo tempo, renasce em
uma família de pessoas puras e prósperas ou renasce em uma família de
sábios karmayoguis. Na realidade um nascimento assim é muito difícil de
conseguir.
32
44 – Este homem, ainda assim, é levado à sua meta só pela força de suas
práticas anteriores. Mesmo um mero investigador sobre a yoga é superior
aos que fazem cultos.
Capítulo VII
O CAMINHO DO CONHECIMENTO
E DE SUA REALIZAÇÃO
6 – Saiba que elas (as duas prakritis) são como as matrizes de todos os
seres; Eu sou a origem e a dissolução do universo inteiro.
33
8 – Ó Kounteya, Eu sou o sabor das águas, o esplendor da lua e do sol;
sou o sagrado OM dos Vedas, o som do espaço e o valor do homem.
11 – Ó tu, o melhor dos Bháratas, Eu sou a força dos fortes sem desejo
nem apego e sou aquele desejo dos homens que não é antagônico ao seu
dever.
13 – Todo este mundo iludido por estes três estados, está composto dos
gunas (qualidades primárias que constituem a prakriti, a natureza
psicofísica). Este mundo não Me conhece; estou além dos gunas e sou
Imutável.
34
20 – Existem outros, que carentes de discernimento, devido a diversos
desejos e seguindo distintos cultos, adoram aos devas (seres celestiais),
impelidos por sua própria natureza.
21-22 – Qualquer que seja a forma (do deva) que o devoto quer adorar
com fé, Eu faço constante a esta fé. Dotado dessa fé, o devoto adora ao
seu deva preferido, que lhe outorga os dons. Mas em realidade, sou Eu
quem os dou.
Capítulo VIII
35
3 – Disse o BENDITO SENHOR:
Brahman é o Imperecedouro e o Supremo, quando mora em cada corpo é
chamado Ser individual. A ação é a oferenda, que é a origem e o
desenvolvimento de todos os seres.
12-13 – Aquele que controla as portas dos sentidos (aos órgãos), que
confina a mente no coração, que fixa ao prana na cabeça e assim se
dedica à prática da yoga repetindo o sagrado OM, símbolo de Brahman e
medita em Mim, quando deixa seu corpo alcança a Meta Suprema.
36
16 – Os seres de todos os mundos, ó Arjuna, incluindo a esfera de
Brahma (o Criador) estão sujeitos ao renascimento. Mas, ó Kounteya, não
renascem mais os que chegam a Mim.
37
27 – Conhecendo estes caminhos, ó Partha, nenhum yogui continua
iludido. Por isso, ó Arjuna, estabelece-te na yoga.
Capítulo IX
4 – Todo este mundo está interpenetrado por Mim em Meu estado não-
manifestado. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles
(como sou inconexo, não tenho nenhuma relação com eles).
5 – Nem os seres estão em Mim; observa Meu divino mistério. Ainda que
seja o sustém e o protetor dos seres, no entanto, Meu Ser não está neles.
(Como não tenho nenhum conceito de ego pessoal, não tenho apego a
nada, como têm os seres encarnados.)
6 – Como o grande vento que se move por todas as partes está sempre
no espaço, saiba que assim todos os seres estão em Mim.
38
9 – E estes atos, ó Dhananjaia, não Me atam, porque permaneço
desapegado como uma pessoa indiferente.
39
21 – Ao terminar o período de mérito, pelo qual gozam no vasto céu,
entram de novo neste mundo dos mortais. Assim vão e vêm os que
cumprem com os mandamentos dos três Vedas.
28 – Assim te libertarás das ataduras dos frutos das ações boas ou más e
estando emancipado e firmemente estabelecido na yoga da renúncia,
virás a Mim.
40
34 – Fixe tua mente em Mim, seja Meu devoto, ofereça-Me os yagñas,
prosterne-te a Mim e assim, com o coração dedicado a Mim e
considerando-Me como o Supremo Ideal, virás a Mim.
Capítulo X
AS MANIFESTAÇÕES DIVINAS
41
11 – Para fazê-los bem-aventurados, morando em seu intelecto, destruo
a escuridão da ignorância mediante a resplandecente luz do
conhecimento.
22-23 – Dos Vedas sou o Sama Veda, dos devas sou Indra, dos sentidos
sou a mente e sou a consciência dos seres. Dos rudras sou Shankara, dos
yakshas e rakshashas sou Kubera, dos vasus sou Pávaka, o fogo, e das
montanhas sou Meru.
42
26-27 – Entre as árvores sou o ashvattha (fícus índica), dos rishis entre
os devas sou Nárada, sou Chitraratha entre os gandharvas, sou Kapila
Muni entre os perfeitos. Entre os cavalos sou Uchchasravas, nascido do
néctar, entre os nobres elefantes sou Airavata e sou o rei entre os
homens.
28-29 – Sou o raio entre as armas, sou kamadhuka entre as vacas, sou a
paixão geradora entre as paixões, sou Vasuki entre as serpentes
venenosas, sou Ananta entre as cobras, sou Varuna entre os seres
aquáticos, sou Aryamana entre os espíritos e sou Yama entre os seres de
autocontrole.
30-31 – Dos filhos de Diti, sou Prahlada, entre as medidas sou o tempo,
entre as bestas sou o leão e dos pássaros sou Garuda. Dos que se movem
rápido sou o vento, sou Rama entre os guerreiros, dos peixes sou o
tubarão Makara e entre os rios sou o Ganges.
36 – Dos atos fraudulentos sou o jogo; sou a proeza dos valentes, sou a
vitória, o empenho e a bondade dos bons.
38 - Sou o látego dos que castigam; sou a tática dos conquistadores; sou
o silêncio dos segredos e sou o conhecimento dos conhecedores.
43
41 - Na realidade tudo que é glorioso, excelente e poderoso, saiba que é
produzido de uma fração de Minha divina glória.
Capítulo XI
1 – Disse Arjuna:
A minha ilusão se desvaneceu pelas profundas palavras sobre o
discernimento do Ser, que Tu me disseste por compaixão.
6 – Veja aos adyitas, aos vasus, aos gêmeos ashwins e aos maruts; veja,
ó Bhárata, as diferentes e maravilhosas figuras que jamais foram vistas
antes.
8 – Como não poderás ver-Me com estes teus olhos, te darei o olho
divino. Agora, olha Meu supremo poder yóguico.
9 – Disse Sanjaya:
Ó rei, depois de dizer estas palavras, Hari, o grande Senhor da yoga,
revelou Sua Suprema Forma Divina à Partha.
44
em Suas mãos, vestido com trajes e guirlandas celestiais, ungido de
aromáticos ungüentos celestiais, estava o todo-maravilhoso,
resplandecente e infinito Senhor, com rostos em todas as direções.
15 - Disse Arjuna:
Vejo em Seu corpo todos os seres celestiais e inumeráveis seres de
diferentes classes; vejo também à Brahma, o Criador, em Seu assento de
lótus e aos rishis (sábios) e as serpentes celestiais.
19 – Vejo que não tens nem princípio, nem meio, nem fim; Tua proeza é
infinita, Teus braços são inumeráveis, o sol e a lua são Teus olhos; vejo o
fogo ardente em Tua boca e Teu esplendor queima ao universo inteiro.
45
23 – Ó Tu de poderosos braços, vendo Tua incomensurável forma de
inumeráveis bocas, olhos, braços, músculos, pés, estômagos e de
enormes caninos, todos e eu também estamos aterrorizados.
25 – Vendo Tuas terríveis bocas, com caninos que ardem como o fogo da
dissolução do universo, perdi a noção dos pontos cardeais e não tenho
paz. Ó Senhor dos devas, Ó refúgio do universo, tenha piedade.
46
35 – Disse Sanjaya:
Ouvindo estas palavras de Keshava, Arjuna saudou tremendo a Sri
Krishna juntando suas mãos e inclinando-se de novo, disse o seguinte:
36 – Disse Arjuna:
É muito apropriado, ó Hrishikesha, que o mundo se deleite em Tua glória
e que seja atraído por Ti; também é apropriado que os demônios se
espantem em todas as direções e que todos os seres perfeitos se
ajoelhem diante de Ti.
45 – Estou repleto de felicidade por haver visto o que jamais havia visto
antes, no entanto minha mente continua agitada pelo medo. Mostra-me
a Tua outra forma. Ó Deus dos deuses! Ó Morada do universo! Tenha
piedade.
47
46 – Ó Oniforme, com milhares de braços, toma de novo Tua forma de
quatro braços, quero Te ver com o diadema, a maça e o disco.
48 – Neste mundo dos mortais, nem pelo estudo dos Vedas, nem pelos
yagñas, nem por caridades ou cultos, nem pelas práticas de austeridades,
é possível ver esta Minha forma. Só tu a viste, ó grande herói dos Kurús!
49 – Vendo esta Minha terrível forma, não temas nem fiques aturdido.
Abandone o medo e com a mente alegre, veja-Me agora como Eu era
antes.
50 – Disse Sanjaya:
Dizendo à Arjuna estas palavras, Vasudeva (Sri Krishna) de novo lhe
mostrou Sua antiga forma. O Grande Ser, tomando de novo Sua bendita
forma, alegrou ao atemorizado Arjuna.
51 – Disse Arjuna:
Ó Janardana, vendo esta Tua benigna e humana forma, me sinto bem
agora e voltei ao meu estado normal.
53 – Nem pelo intermédio dos Vedas, nem pelas austeridades, nem pelos
cultos, é possível ver-Me na forma em que tu Me viste.
55 – Ó Pandava, aquele que trabalha para Mim, que Me tem como sua
Meta Suprema, que está dedicado a Mim, que é desapegado e não é
inimigo de ninguém, chega a Mim.
Capítulo XII
O CAMINHO DA DEVOÇÃO
1 – Disse Arjuna:
48
Entre os devotos que Te adoram com devoção constante e aqueles que
adoram ao Imperecedouro, ao Não-manifestado, quem são mais versados
na yoga?
8 – Fixa tua mente somente em Mim, coloca teu intelecto em Mim e sem
dúvida viverás em Mim.
49
15 – Aquele que não perturba ao mundo e a quem o mundo não pode
perturbar, que está livre do prazer, da inveja, do medo e da ansiedade, é
Meu querido.
Capítulo XIII
O DISCERNIMENTO ENTRE
A NATUREZA E A ALMA
50
7-11 – A humildade, a não-ostentação, o não causar dano, a clemência, a
retidão, o serviço ao guru (mestre espiritual), a pureza, a firmeza, o
autodomínio, o desapego aos objetos dos sentidos, a ausência de
egoísmo, a reflexão sobre os males do nascimento, da morte, da velhice,
da enfermidade e da dor, o desapego e a não-identificação com o filho,
com a esposa, com o lar, etc., o constante equilíbrio mental na felicidade
e no sofrimento, a firme devoção por Mim, mediante a yoga da
continuidade, a vida em solidão, a aversão à sociedade, a constante
dedicação ao conhecimento espiritual e à percepção da suprema verdade;
tudo isto é conhecimento e o seu contrário é ignorância.
51
relativa; o Purusha, na realidade, jamais perde sua natureza pura e
imutável.)
28 – Porque vendo que o Senhor mora igualmente em toda parte, ele não
causa dano a seu próprio Ser e logra a Meta Suprema. (Causar dano
significa ignorar a existência do Ser.)
31 - Este Supremo Ser que não tem nem princípios, nem atributos, é o
Imutável. Ainda que more no corpo, ó Kounteya, Ele não atua nem tem
apego.
52
33 – Como o sol, que é único, ilumina ao universo inteiro, assim o Ser,
ainda que esteja encarnado, ilumina todos os corpos.
Capítulo XIV
53
11 – Quando o conhecimento brilha através dos sentidos, deve-se
considerar que sattva predomina.
21 – Disse Arjuna:
Ó Senhor, quais são os sinais pelos quais é conhecido aquele que
transcendeu aos gunas? Qual é sua conduta e como transcende aos três
gunas?
54
24-25 – Aquele que se sente igual no prazer e na dor, que mora em seu
próprio Ser, que dá valor igual a um pedaço de argila, a uma pedrinha ou
a uma pepita de ouro; que se mantêm equânime diante do agradável e do
desagradável, diante da censura ou do elogio, na honra ou na desonra,
diante do amigo ou do inimigo e que renunciou a todo novo
empreendimento, transcendeu aos gunas.
Capítulo XV
3-4 – Aqui neste mundo não se percebe sua forma (desta árvore eterna),
nem seu princípio, nem seu fim, nem sua continuidade. Depois de cortar
esta árvore, que está profundamente enraizada, com o machado do
desapego e dizendo: “Tomo refúgio naquele primordial Ser, de Quem
surgiu este processo eterno”, deve-se buscar a Meta, logrando a qual,
cessa o renascimento.
55
6 – Nem o sol, nem a lua, nem o fogo podem iluminar a esta Meta que é
Meu Supremo Estado; quando é alcançado não se regressa mais (não
renasce).
56
18 – Como Eu transcendo ao perecedouro e supero ao Imperecedouro,
sou chamado neste mundo e nos Vedas como Purushottama (a Suprema
Pessoa).
Capítulo XVI
7 – Os homens asurícos não sabem o que devem fazer nem o que não
devem fazer; neles não se encontra nem a pureza, nem a boa conduta,
nem a verdade.
57
9 – Sustentando este conceito, estas pessoas ruins, de pouca inteligência
e de ações ferozes, vivem como inimigas do mundo, só para a destruição.
15-16 – “Sou rico e bem nascido. Quem pode se igualar a mim? Farei
cultos e caridade; regozijarei-me.” Assim alucinadas pela ignorância,
aturdidas por fantasias, cobertas por uma rede de ilusões, adictas do
prazer sexual, estas pessoas caem no impuro inferno.
58
24 – Assim que, certifique-se pelos textos sagrados sobre os deveres e
proibições. Conhecendo bem seu significado, atue neste mundo conforme
os mandamentos.
Capítulo XVII
1 – Disse Arjuna:
Ó Krishna, a shraddha daqueles que fazem os cultos e adorações sem
obedecer aos mandamentos é sáttvica, rajásica ou tamásica? (Shraddha é
a atitude mental composta de sinceridade, reverência, humildade e fé)
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10 – Os alimentos preferidos pelos tamásicos são os insossos, quase
decompostos, mal-cheirosos, restos do dia anterior, comida fria e
alimentos impuros.
23 – “OM TAT SAT” (OM, Aquilo existe) foi declarado como a tríplice
denominação de Brahman (O Supremo). Desta fórmula surgiram os
60
Brahmanas (explicações dos cultos védicos), os Vedas e os yagñas, no
remoto passado.
Capítulo XVIII
O CAMINHO DA RENÚNCIA
1 – Disse Arjuna:
Ó Hrishikesha! Ó destruidor do demônio Keshi! Ó tu de poderosos braços!
Quero saber a verdadeira natureza do sannyasa e do tyaga também.
61
6 – No entanto estes atos devem ser feitos sem apego aos frutos, esta é
Minha definitiva e correta opinião.
11 – O ser corpóreo não pode abandonar todas as ações, mas aquele que
renuncia ao fruto da ação é considerado como homem de renúncia.
62
18 – O conhecimento, o que há para conhecer-se e o conhecedor formam
o tríplice impulso da ação; o instrumento (os órgãos), o objeto e o agente
formam a base tríplice da ação.
63
31 – Ó Partha, o intelecto rajásico não tem conceito claro sobre a retidão,
a perversidade, a ação recomendada e a ação proibida.
40 – Não existe ser no mundo ou deva no céu que esteja livre destes três
gunas que nascem da prakriti.
64
45 – O homem alcança a mais alta perfeição quando se dedica a cumprir
com o dever que lhe corresponde. Agora ouve de Mim como se logra esta
perfeição.
65
58 – Fixando tua mente em Mim, por Minha graça vencerás todos os
obstáculos, mas, se pela presunção não Me ouves, estarás perdido.
60 – Ó Kounteya, o que não queres fazer agora por estar ofuscado, farás
depois mesmo assim, porque estás atado ao teu karma (impulso da vida
passada) nascido de tua natureza.
65 – Que tua mente se ocupe de Mim, seja Meu devoto, faça cultos para
Mim e Me reverencie, assim tu Me alcançarás. De verdade dou Minha
palavra, porque já sabes que tu és muito querido por Mim.
68 – Aquele que com profunda devoção por Mim, instrui aos Meus
devotos sobre esta grande doutrina, com segurança, se libertará de todas
as dúvidas e chegará a Mim.
66
72 – Ó Partha, ouviste isto com atenção? Ó Dhananjaia, foi destruída a
ilusão de tua ignorância?
73 – Disse Arjuna:
Minha ilusão está destruída, ó Achyuta, por tua graça recobrei a memória
(sobre minhas promessas anteriores), me sinto firme, minhas dúvidas
desapareceram. Cumprirei Tua ordem.
74 – Disse Sanjaya:
Assim, arrepiado de emoção, ouvi este maravilhoso diálogo entre
Vasudeva e o nobre Partha.
Revisão II
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