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SRIMAD BHAGAVAD-GITA

(Canto do Senhor)

Traduzido do original (com notas) para o espanhol por Swami


Vijoyananda, monge da Ordem Ramakrishna

Edição em espanhol de responsabilidade do


Hogar Espiritual Ramakrishna (Ramakrishna Ashrama)
Buenos Aires - Argentina

Traduzido da versão em espanhol para o português por um estudante dos ensinamentos de


Sri Ramakrishna-Vivekananda-Vedanta
PREFÁCIO

O Bhagavad-Gita, ou Canto do Senhor, pertence à grande epopéia


Mahabharata dos hindus. Este texto sagrado tem dezoito capítulos (25 a
42) do Bhisma-Parva desta epopéia. Também o chamam Gita ou Canto
porque é um diálogo em verso entre Sri Krishna, a Encarnação Divina e
Arjuna.
O Gita é um dos mais importantes textos espirituais do mundo. O
hindu instruído, culto e de temperamento espiritual lê este texto com
profunda reverência e encontra através de seus versos sua pergunta
respondida, sua dúvida dissipada, recobrado o seu ânimo e claro e
iluminado o seu caminho; e assim prossegue com passos seguros sua
marcha ao seu Ideal de vida.
Sri Krishna, o instrutor do Gita, é o amigo ideal, o sábio preceptor,
o grande yogui, o guerreiro invencível, o conhecedor perfeito, o estadista
consumado da época; em sua pessoa todas as belas qualidades humanas
estão harmonizadas.
O fato de que este texto muito sagrado tenha como marco o campo
de batalha, chama a atenção de muitos leitores, especialmente
ocidentais, que sincera, mas desfavoravelmente, criticam a personalidade
de Sri Krishna como Encarnação Divina. Dizem: Como é possível que a
Encarnação de Deus instigue a seu melhor amigo a levantar seu arco e
matar as pessoas? Como Deus, o misericordioso, pode ser a causa direta
ou instrumental da matança? Isto necessita certo esclarecimento. Antes
de tudo compreendamos uma coisa com toda claridade: Sri Krishna
jamais disse à Arjuna que matasse a todos inimigos por algum fim
pessoal; Ele o fez recordar seu dever de kshatriya, o guerreiro que
protege a causa da retidão e justiça. Os adversários de Arjuna eram
adictos de seu primo, que havia usurpado o trono de seu irmão mais
velho. Esse primo havia tentado matá-los e lhes havia dito que teriam
que reconquistar o trono no campo de batalha. Assim que não era o
momento de demonstrar sua compaixão a estes injustos e ser morto por
eles, dando-lhes a oportunidade de propagar a injustiça e a
irreligiosidade.
Muito diferentemente do que professam os crentes ocidentais,
especialmente os cristãos, o hindu acha muito razoável a idéia de que
Deus se encarne no corpo humano tantas vezes como sinta ser
necessário. No Gita lemos: “Toda vez que declina a religião e prevalece a
irreligião, Me encarno de novo.”
Sem nos perdermos nas infrutíferas discussões dogmáticas das
diferentes escolas de teologia, nas quais a lógica e o bom senso estão
subordinados às opiniões sectárias, vamos ouvir o que diz o hindu em
apoio de seu conceito sobre a Encarnação. Diz: Deus impessoal e sem
qualidades é um conceito tão sumamente elevado que a maioria dos
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seres humanos não podem nem compreendes nem sentir. Só
pouquíssimos seres, que se liberaram de todo tipo de desejos e
necessidades, que superaram a vida objetiva, que pela absoluta pureza
de coração e pela devoção, dedicando seu corpo, mente e alma a Deus,
puderam apagar completamente a diferença entre eles e seu Bem-amado
Deus e assim gozar da suprema bem-aventurança do estado da
beatitude, só eles podem dizer, por sua realização, que Deus é
Impessoal; porque neste estado já não existe o conceito de
personalidade, nem subjetiva nem objetivamente. Mesmo estes bem-
aventurados seres, ao baixar de seu elevado estado de supra-consciência,
aceitam que Deus Impessoal é também pessoal como Ser Universal. Ele é
tudo, o que existe objetivamente é Sua manifestação; Ele está em todos
os seres animados e inanimados. O resto da humanidade, os que vivem a
vida de necessidades e sua satisfação, para quem a individualidade é a
realidade, necessitam de um exemplo objetivo, um ser humano que com
sua vida pura e absolutamente abnegada e por sua realização espiritual
se uma definitivamente com o Princípio Divino e viva como a própria
figura da misericórdia e declare, com sua autoridade, a existência de
Deus. Essa personificação humana da divindade é a Encarnação, que vive
de época em época “para proteger aos bons, destruir aos maus e
restabelecer a Eterna Religião.”
Ninguém sabe a data exata da criação deste mundo ou de sua
aparição como um processo evolutivo da natureza, a qual nada faz
mecanicamente. A natureza é inteligente e todas as suas modificações
levam a marca desta inteligência. O hindu diz que a natureza, individual e
coletiva, é deus em manifestação; a natureza é parte do Onipresente.
Tampouco conhecemos exatamente quando apareceu pela primeira vez o
homem sobre esta terra. Todas as datas que propõem os antropólogos e
outros homens de ciência são aproximadas, são conjecturas. Hoje é muito
arriscado opinar que nossos irmãos de sete ou oito mil anos atrás eram
menos avançados que nós em conceitos morais e espirituais. Os
Upanishads, os textos de yoga, o sistema do samkhya, demonstram que
os seres humanos daquela época, ainda que vivessem com menos artigos
de luxo, tinham conceitos espirituais muito elevados. Alguns deles já
sabiam que Deus é Universal, que Deus é Existência-Conhecimento-Bem-
aventurança Absoluta, que Deus é Pessoal e Impessoal; sabiam que o
homem, pelo caminho do controle interno e externo pode gozar da Bem-
aventurança eterna pela misericórdia divina; sabiam que todo o
sofrimento humano é devido a que o homem ignora sua própria natureza
divina. De maneira que não podemos dizer que o homem, antes da era
cristã, não necessitou nem teve a benção da presença das Encarnações. É
ilógico, insensato e dogmático dizer que antes da aparição de Jesus Cristo
a raça humana não recebia a graça divina e que com a Encarnação de
Deus no corpo de Jesus se abriu, pela primeira vez, a porta da salvação.
Salvação é ser consciente da eterna presença de Deus. Além disso, o
hindu diz que, como todas as idéias e normas, as da Religião prosperam
também, durante certo tempo e depois decaem, as pessoas afastadas de

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seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à
Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e
competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da
Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes
e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico,
esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro.
Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião
consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o
ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é
bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um
povo é velar com zelo pelo bem-estar físico, moral e espiritual de cada
pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o
governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado
por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for
necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu
dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou
governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através
do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive
uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais
apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes
aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a
felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o
homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito
puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada,
quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou
parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais
pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem
subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível
da Divindade.
As pessoas comuns têm muitas idéias confusas sobre o conceito do
dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida
objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de
receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o
medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos.
Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal
impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da
opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os
familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória
individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos
criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Freqüentemente
vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor,
compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos
fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e,
justamente por isso, Sri Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o
dever, o yoga, a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação.
O Bhagavad-Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de
orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este

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sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara
os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença
entre o amor e o apego, a ciência da yoga, a prática da devoção e do
difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o
conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência-Conhecimento-
Bem-aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha
inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas,
senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que
certas respostas de Sri Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo
e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e
fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas
desapareceram. Cumprirei Tua ordem.”
Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual,
sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro
significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis
requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de
discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de
renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle
dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber
retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual,
fé inquebrantável na própria capacidade e na existência divina,
concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência
objetiva, deste conjunto de idéias e formas transitórias. Sem tais
requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso
leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra
flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida
de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que
unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se
compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou
religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais
não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é
levantar ao homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazê-
lo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver
uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus,
seu verdadeiro Ser.
Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os
chamam de “yogas”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga
da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga,
ou yoga da devoção e Jñana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo.
Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que
yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os
grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão
yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades
humanas com a divindade universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as
limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos
são universais; através de sua personalidade transparente a Divindade
chega a nós diretamente. Por natureza um yogui é equânime,

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desapegado, misericordioso, sempre ativo e vive fazendo o bem a todos.
Conhecedor do segredo da vida e da morte, unido definitivamente com
Deus, sua presença santifica tudo. Só o verdadeiro yogui sabe que a vida
e a morte são como borbulhas, flutuando no eterno oceano da
imortalidade.
O Gita é conhecido também como Brahma Vidia, o conhecimento do
Supremo e como Moksha-Shastra, o tratado sobre a emancipação final.
Ainda que o texto comece com a persuasão de Arjuna, para que cumpra
com seu dever de liderar a causa da retidão, vemos em seguida que a
mensagem de Sri Krishna é a Suprema Verdade. Os problemas tratados
neste sagrado texto são essencialmente espirituais e as soluções dadas
pelo Senhor nos preparam para a Verdade, só pela qual poderemos
liberar-nos de nossa errônea identificação com o mundo relativo e
transitório e recuperar nossa esquecida divindade. Sri Krishna responde
claramente as perguntas de Arjuna sobre Deus, o ser individual, a vida ou
a existência após a morte, a evolução, a matéria, a alma, o dever, etc.,
etc. Aqui o homem foi tratado como uma entidade integral; suas ações e
seus pensamentos não podem ser separados de sua existência. Seu
pensamento fugaz ou sua ação trivial não podem ser avaliados se não
conhecemos a base de sua existência. Como qualquer ação sua, seu
pensamento, expressado ou não, produz o efeito correspondente e se é
egoísta o ata ainda mais a esta roda de nascimento, sofrimento e morte;
o contrário o conduz à liberação. O propósito dos ensinamentos de Sri
Krishna é eliminar as dúvidas e idéias ilusórias que oprimem ao homem
em sua vida diária. Estas dúvidas, estas ilusões, irão só pela realização da
Verdade; então o homem sentindo intimamente a presença de Deus em
seu coração afrontará todos os problemas relacionados ao dever.
O Gita declara que Deus é universal, que o universo é Sua
manifestação. Disse Sri Krishna: “Suas mãos e pernas estão em toda
parte; Seus olhos, cabeças e rostos estão em toda parte; Seus ouvidos
estão em todos os pontos; Sua existência interpenetra e cobre tudo o que
existe”. Ao mesmo tempo, para o necessitado que pede socorro, Deus é a
misericórdia, a meta e o suporte; Ele é o Senhor e a eterna Testemunha
de Sua própria manifestação; Ele é a morada de todos, o refúgio
acolhedor e o Amigo. Disse Sri Krishna: “Sou a origem e o fim”. Deus é a
força impessoal por trás do universo; Ele é a luz das luzes; é Sua a luz
que está no sol, na lua e no fogo; é Ele o que ilumina o universo. Ele está
no coração do homem como conhecedor e como o conhecimento; só à Ele
conhece o homem em diversas formas e idéias. Ele suporta ao
macrocosmo e ao microcosmo. Mas Sua verdadeira natureza é
transcendental e está além da compreensão humana; só uma fração Sua
está manifestada como o universo. Esta Suprema Consciência, esta
existência transcendental, por Sua própria vontade aparece diante do
homem e lhe diz: “Ó Kounteya, declara ao mundo que Meu devoto jamais
perece”. Ele diz ao Seu devoto: “Aceito tudo o que Me ofereces com
devoção, seja uma folha, uma flor, uma fruta ou ainda uma gota de
água”. É a pura devoção que leva ao homem primeiro à Deus Pessoal e

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em seguida, purificando-o de toda limitação individual, o une com Deus
Impessoal e o libera definitivamente da ignorância, do medo e da morte.
Existem intelectuais que opinam que religião atua como ópio, que
adormece ao homem e o faz esquecer a realidade da vida. À eles
aconselhamos a cuidadosa leitura do Bhagavad-Gita sem idéias pré-
concebidas. Aqui o instruído encontrará que o Senhor recomenda ao
aspirante espiritual a aço abnegada, contínua e incessantemente; esta
ação é a que purifica o coração de um homem e ao mesmo tempo o salva
de mais apegos. Somente as ações abnegadas produzem resultados bons
e duradouros. A advertência de Sri Krishna para aqueles que confundem a
vida espiritual com a inércia é: “Teu motivo para trabalhar não deve ser a
ansiedade de obter o fruto da ação, nem dever aderir-te à inação”. A vida
religiosa separada da vida diária é uma coisa estéril, algo sem sentido,
talvez um adorno vistoso, uma ação sobreposta, um gesto de ostentação.
Se o significado de ‘ser religioso’ é pertencer nominalmente a uma
instituição religiosa, sem fazer o esforço de sentir a viva presença de
Deus no coração, então toda sua ida aos templos foi em vão, toda sua
leitura das escrituras sagradas foi inútil e sua vida de “parecer” teve
muitas complicações. Freqüentemente estes religiosos, em seu afã de
apresentar sua doutrina particular, se tornam fanáticos e
inconscientemente causam a ruína e fazem sofrer aos demais. Apesar de
tanta prédica religiosa, a maioria dos religiosos, vivendo uma vida
afastada de Deus, não sentem a fraternidade humana porque não
compreendem nem aceitam que Deus Pessoal ou Impessoal é sempre
Universal e que todos os seres humanos são Sua manifestação.
A inércia, a indolência e a inadvertência são os três inimigos mais
poderosos do ser humano. São mais daninhos que a maioria dos atos
pecaminosos. Sri Krishna queria salvar à Arjuna de seu desejo encoberto
de escapar de seus deveres, com o pretexto de levar a vida pacifica de
um ermitão. Como todos os homens estão convencidos da limitada idéia
de individualidade, também o grande Arjuna pensava que não lutando
poderia transformar imediatamente seu caráter de guerreiro e apagar de
sua mente todas as impressões passadas. Com paciência Sri Krishna
convenceu à Arjuna de que cumprindo desapegadamente com seu dever
imediato de destruir aos inimigos que representavam a injustiça,
entenderia melhor o ideal humano e para isso era melhor enfrentar a crua
e desapiedada realidade. Ensinando à Arjuna o poder das ações passadas,
Sri Krishna lhe diz: “Ó Kounteya, alucinado, o que não queres fazer
agora, depois o farás mesmo assim, pois estás atado ao teu karma
(impulso da vida passada), nascido de tua natureza”. Atuar ou cumprir
desapegadamente o dever de cada um, segundo o ambiente em que
nasceu, não é contraproducente na vida espiritual. Se o instrutor
espiritual, cumprindo desapegadamente seu dever de ensinar se
emancipa, o açougueiro que serve ao povo matando animais, cumprindo
com seu dever sem apego, logrará idêntica emancipação. O verdadeiro
inimigo da vida espiritual é a ignorância que nos fez esquecer que somos
seres sempre livres e nos fez acreditar que somos limitados e mortais.

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Essa ignorância é a mãe do apego, do medo, da ilusão, da debilidade, da
dependência e de todos os tipos de limitações.
O dilema principal de Arjuna se apresentou com respeito ao dever.
Quando no campo de batalha viu com seus próprios olhos, que entre os
inimigos estavam seus parentes e amigos, até seu próprio instrutor, lhe
surgiram as seguintes idéias: É necessário e benéfico cumprir com os
deveres mundanos, quando produzem pesar e sofrimento à si mesmo e
aos demais? Não seria melhor abandonar estes deveres e seguir o
caminho da renúncia? Um momento antes, decidido, Arjuna havia ido
disposto a lutar; um momento antes ele sabia muito bem quem eram
seus adversários que, segundo ele, eram representantes da injustiça e
colaboradores de seu primo havia usurpado o trono de seu irmão mais
velho. Mas quando os viu frente a frente, Arjuna esqueceu seu dever, seu
coração se encheu de medo e falsa compaixão e muito deprimido
começou a falar com muita emoção, sentimento e raciocínio adequado.
Através de suas palavras, aparentemente sábias, mas realmente egoístas,
demonstrando seu grande apego, confusão e ilusão, Arjuna queria
convencer Sri Krishna de que ele preferia a morte a matar aos seus
inimigos. Mas o onisciente Sri Krishna viu a momentânea debilidade de
Arjuna e por isso, quando este se sentou no carro de guerra e soluçando
disse: “Ó Govinda, não vou lutar”, Sri Krishna lhe respondeu com
firmeza: “De onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e
contrária ao logro da vida celestial? Você está lamentando-se pelos que
não o merecem, no entanto falas como um sábio. Os verdadeiros sábios
não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.”
Sri Krishna não predicou à Arjuna o ideal dos estóicos, cumprir o
dever só pelo dever; porém predicou que o cumprimento do dever tem
um só propósito: purificar o coração para desfrutar da infinita bem-
aventurança da Presença Divina. Deus é imanente no universo, como a
alma de todos os seres e objetos. Cumprir o dever equivale à adoração de
Deus. Ao que considera o dever desta forma, pouco lhe molestam as
idéias de êxito ou fracasso, ele desfruta como um instrumento vivente
nas mãos de Deus e não sofre nem se desespera pensando de antemão
em sua própria morte e na dos demais; seu conhecimento por estar em
contato com Deus é uma ditosa percepção permanente.
Ainda que o Gita seja um compendio de todos os yogas, no entanto
Sri Krishna recomenda como disciplina espiritual o Karma yoga, o
caminho da ação. Para o aspirante espiritual a ação deve ser abnegada,
desapegada e sem esperar os frutos. Este tipo de ação destrói
radicalmente todas as limitações do Ser. Viver significa atuar, pensar é
atuar; pela ação o homem expressa a si mesmo. Sri Krishna disse: “Ó
Partha, Eu não tenho nenhum dever que cumprir, não há nada nos três
mundos que não haja logrado ou que Me falte lograr, no entanto, atuo
constantemente”. Talvez seja possível para o egoísta retirar-se da ação,
cobiçando o estado de inércia, mas para aquele que ama a humanidade
não há descanso possível e por isso vemos que as Encarnações jamais
deixam de atuar. Como não têm nenhum motivo pessoal, a ação para as

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Encarnações é dar curso à misericórdia que às vezes nos alenta e outras
vezes nos corrige com severidade. Em troca o homem comum tem
diferentes motivos. Segundo o motivo progride ou retrocede; quando
trabalha para sua auto-satisfação, robustece seu egoísmo e
inconscientemente retrocede, de modo gradual, à animalidade. Em troca,
quando atua de forma abnegada, como instrumento de Deus, sabendo
muito bem que o único ator é Deus, então todo sua ação é para agradar à
Deus, seu Bem-amado. Toda ação ou pensamento egoísta forja um novo
elo na grande corrente com que estamos atados à dolorosa existência
deste mundo de nascimento e morte e todo ação ou pensamento
dedicado a Deus, como uma ininterrupta adoração, rompe esta corrente,
nos conduz à emancipação final, à ditosa união com Deus. O Karma yogui
conhece o segredo da ação, é equânime, desapegado, não espera, nem
aceita, nem rechaça o fruto da ação. Sri Krishna ensinou à Arjuna que
qualquer ação pode ser feita como yoga, mesmo a ação de matar que
objetivamente parece cruel, violenta e desapiedada, sempre que se faça
como uma prática de yoga, sentindo-se como um instrumento de Deus,
sem temor, sem esperar a vitória para si mesmo ou para uma
comunidade particular e atuando só para estabelecer a Verdade, a
retidão; estão, esta ação, em lugar de produzir demérito, purifica ao
homem e o conduz à emancipação.
Este mundo transitório de aparência, nome e forma está constituído
de pares de opostos: bem e mal, prazer e dor, virtude e vício, calor e frio,
vida e morte. Como a frente e o verso de uma mesma medalha, cada
parte depende de sua contraparte. Nosso conhecimento ou percepção de
qualquer idéia ou objeto deste mundo é indireto e comparativo;
conhecemos ao homem comparando-o aos outros seres, sentimos o frio
comparando-o com o calor. Não há dúvida de que o mundo é imperfeito.
O muito desejado mundo perfeito é ilógico porque chegando à perfeição,
o mundo se diluirá em sua origem: Deus. Tudo que é objetivo é
imperfeito, só Deus, o Eterno Sujeito, é perfeito. Progresso significa a
transformação do objeto no sujeito. Deus, o eterno imã, está nos atraindo
continuamente, nosso dever é purificar-nos. O sábio hindu diz que nossa
origem é Deus e que existimos em Deus. Deus, em seu estado
manifestado, não perde Sua Divindade.
No Bhagavad-Gita, Sri Krishna reforça a idéia do swa dharma, o
dharma de cada um. A palavra dharma é difícil de traduzir. A religião, a
retidão e o dever, nos dão certa idéia aproximada de seu significado.
Dharma é o que suporta ao homem na vida e ao mesmo tempo o ajuda a
realizar sua verdadeira natureza: a Divindade. O grande erro do homem é
continuar considerando-se como um objeto composto de aspectos ou
entes biológicos, fisiológicos e psicológicos. Para corrigir este grande erro,
o homem necessita praticar o swa dharma. As tendências atuais de cada
homem são o resultado de seus próprios pensamentos e ações em vidas
passadas. Cada pensamento ou ação produz uma impressão que forma
parte da natureza subconsciente do homem. Este estado subconsciente
não se destrói com a morte física, este estado é o “eu” do homem. A

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atual encarnação do homem foi causada pelo impulso dessas impressões;
são elas que determinam seu caráter, seu dever, sua idéia de religião,
seu critério de bom e de mal, do correto e do injusto. Nenhum homem
nasce com a mente absolutamente pura, mesmo o nascimento das
encarnações demonstra que Elas, voluntariamente aceitam certa
impureza. A diferença entre a individualidade da Encarnação e a de
qualquer homem é que a Encarnação é sempre consciente de Seu estado
universal e de Seu voluntário e momentâneo estado individual. Em troca,
o homem comum é inconsciente de ambos estados. Terminada a missão
com que vem ao mundo, a encarnação deixa Sua individualidade. Ao
homem comum, ao princípio, custa muito desfazer-se de sua
individualidade, mas logo o faz pela misericórdia Divina, que age como o
grande destruidor da ignorância. A educação ou o impacto do ambiente
ajuda ao homem a desenvolver as qualidades que ele mesmo fabricou e
com as quais veio ao mundo. Seus pais são causas instrumentais, que lhe
proporcionam o meio físico para dar curso ao seu dharma. Eles são como
os ceramistas e a roda que dá forma ao vaso. Assim que o dharma de
cada ser humano é a base de seu pensamento e ação; ele não pode
desfazê-lo. Ir contra este dharma é criar confusão. Arjuna ficou
confundido quando quis deixar o swa dharma do kshatriya, cujo dever é
proteger aos corretos e destruir aos injustos. Sua confusão surgiu,
quando esquecendo seu dharma, quis levar vida de ermitão. Tampouco
devemos esquecer o outro aspecto do dharma, o que nos ajuda a realizar
nossa Divindade, senão dharma significaria desapiedada fatalidade.
A lição de Sri Krishna é que ninguém deve agir contra o swa
dharma, o dever do ambiente em que nasceu. Cumprindo abnegadamente
com o dever, o homem gasta o impulso com que nasceu e dedicando toda
sua ação a Deus, não cria novos impulsos. Então compreende que o
supremo dever é adorar a Deus. Diz Sri Krishna: “Renunciando a todos os
deveres, refugie-se em Mim unicamente. Não te aflijas, Eu o salvarei de
todos os pecados.”

Swami Vijoyananda

Ramakrishna Ashrama
Gaspar Campos 1149
Bella Vista
Buenos Aires
República Argentina

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Capítulo I

O PESAR DE ARJUNA

1 – Disse Dhritarashtra:
Diga-me Sanjaya, que fizeram meus filhos e os de Pandu reunidos, no
sagrado campo de Kurukshetra, com o desejo de lutar?

2 – Disse Sanjaya:
Vendo ao exército bem formado dos filhos de Pandu, o rei Duryodhana se
aproximou do mestre (Drona, instrutor de guerra) e disse o seguinte:

3-6 – Contemple, mestre, ao grande exército dos Pandavas (filhos de


Pandu), bem formado por teu talentoso discípulo, o filho de Drupada. Aqui
estão os heróicos e grandes arqueiros Yuyudhana, Virata e o valente
guerreiro Drupada, todos eles iguais a Bhima e Arjuna na guerra.
Também estão Dhristaketu, Chekitana, o valoroso rei de Kashi, Purujit,
Kuntiboja e o verdadeiro príncipe entre os homens, o rei de Shibi, o forte
Yudhamanyu, o valente Uttamouja e os grandes guerreiros filhos de
Subhadra e Droupadi.

7-9 – Ó Tu, o melhor dos nascidos duas vezes (Brahmins), para informar-
te vou mencionar os nomes dos distintos condutores de meu exército. Tu,
Bhisma, Karna, Kripa, todos vitoriosos na guerra. Também estão Ashvat-
thama, Vikarna, o filho de Somadatta e muitos outros heróis que
manejam com habilidade distintas armas, todos dispostos a sacrificar
suas vidas por minha causa.

10 – Este exército deles, sob o comando de Bhima, é suficiente para a


vitória, em troca aquele, o nosso, capitaneado por Bhisma, não o é.

11 – Assim que vós, segundo vossa posição no exército, deveis proteger


só a Bhisma.

12 – Alegrando o coração de Duryodhana, Bhisma, o tio-avô deles, o mais


velho e mais forte dos Kurús, rugiu como um leão e soprou com força sua
concha (que os indo-arianos utilizam como um clarim).

13 – Então, simultaneamente por todos os lados soaram as conchas,


tambores, timbales e chifres, produzindo um ruído aterrador.

14-18 – Então, sentados no grande carro da guerra, ao qual estavam


atados cavalos brancos, Madhava (Sri Krishna) soprou a panchajania
(concha celestial), Dhananjaya (Arjuna) a devadatta; Vrikodara (Bhima),
de ações terríveis, soprou a grande concha poundra, o rei Yudhistira

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soprou a anantavijaia, Nakula e Sahadeva as sughosa e manispuspaka. Ó
dono do mundo, o hábil arqueiro, o rei de Kashi, o grande guerreiro
Shikandi, Dhristadyumma, Virata, o invencível Satyaki, Drupada, os filhos
de Droupadi e o valente filho de Subhadra, todos tocaram suas
respectivas conchas.

19 – Aquele ruído aterrador ressoou no céu e na terra e partiu os


corações de teus filhos, ó Rei!

20-23 – Então, ó Rei, Arjuna, o filho de Pandu, cujo carro leva a figura do
macaco, quando viu aos Dharta-rashtras (a teus filhos) formados em
posição de batalha, com as diferentes armas prontas para serem usadas,
levantou seu arco e disse o seguinte a Hrishikesha: ‘Achyuta (Sri
Krishna), coloque meu carro entre os dois exércitos para que eu veja aos
que vieram preparados para lutar e contemple antes que comece a guerra
a quem devo combater. Quero ver aos que vieram para lutar ao lado de
Duryodhana, o filho de Dhritarastra, para causar-lhe prazer’.

24-25 – Disse Sanjaya:


Ó descendente de Bhárata, a esse pedido de Arjuna, Sri Krishna colocou o
excelente carro entre os dois exércitos, em frente à Bhisma, Drona e
outros reis e disse: ‘Olha, Partha (Arjuna) aos Kurus reunidos’.

26 – Então Arjuna viu aos seus tios, tios-avós, instrutores, tios maternos,
sobrinhos, sobrinhos-netos, sogros, amigos e camaradas.

27 – Vendo aos parentes e amigos reunidos ali, Arjuna sentiu grande


compaixão e muito entristecido, disse o seguinte:

28-30 – Disse Arjuna:


Ó Krishna, vendo a estes parentes desejosos de lutar, me falham os
membros do corpo, minha boca está seca, estou tremendo, com o corpo
estremecido, minha pele arde, não posso sustentar ao gandiva (seu arco).
Não consigo ficar de pé, minha mente está em um turbilhão. Ó Keshava
(Sri Krishna), vejo sinais de mau-agouro.

31-34 – Não vejo que bem posso lograr matando aos meus parentes na
guerra. Ó Krishna, eu não desejo a vitória nem a soberania nem os
prazeres. Ó Govinda (Krishna), de que nos servirão a soberania, os
prazeres, mesmo a própria vida, quando meus instrutores, tios, filhos,
tios-avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e demais parentes,
para quem desejamos essas felicidades, estão reunidos aqui para lutar,
tendo renunciado a seus bens e mesmo a suas vidas?

35 – Ó Madhusudana (Krishna), ainda que eles me matem, eu não quero


matá-los, nem para reinar neste mundo, nem para a soberania dos três
mundos.

12
36-37 – Ó Janardana (Krishna), que prazer teríamos matando aos
Dharta-rashtras? Seria um ato pecaminoso matar a estes agressores. Por
isso, não devemos destruir aos nossos parentes, os Dharta-rashtras. Ó
Madhava (Krishna), como poderíamos ser felizes matando a nossos
próprios parentes?

38-39 – Ainda que eles, com a mente dominada pela cobiça, não vêem
nenhum mal em destruir aos parentes, nem pecado em serem hostis aos
amigos, por que, Ó Janardana, nós que vemos ao grande mal que nasce
da destruição dos parentes, não desistimos de cometer este pecado?

40-42 – Ao destruir-se a família morrem seus cultos de tempos


imemoriais e assim, perdendo a espiritualidade, a família inteira se torna
ímpia. Ao prevalecer a imoralidade, as mulheres se corrompem e disto, Ó
Varshneya (Krishna), nascem os mestiços, o que é um verdadeiro inferno
para uma família, que logo se destrói. Os antepassados caem de sua
morada celestial, porque não recebem as oferendas de água e tortas de
arroz.

43 – Por estas más ações dos destruidores da família que criam os


mestiços, se destroem os cultos religiosos e da casta.

44 – Temos ouvido, Ó Janardana, que aqueles cujos cultos religiosos da


família são destruídos, levam uma vida permanentemente infernal.

45 – Ai! Estamos envolvidos em grande pecado. Cobiçando o prazer de


reinar, nos preparamos para aniquilar aos nossos parentes.

46 – Seria melhor que me matem os bem armados filhos de


Dhartarashtra, quando não esteja armado nem lhes resista na guerra.

47 - Disse Sanjaya:
Dizendo isto, Arjuna jogou fora seu arco e flechas e com o coração muito
dolorido, permaneceu sentado em seu carro.

Capítulo II

O CAMINHO DO DISCERNIMENTO

1 - Disse Sanjaya:
A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos
cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse
o seguinte:

13
2 – Disse o BENDITO SENHOR:
Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna
debilidade, não ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial?

3 – Não te portes como um eunuco (carente de masculinidade), ó Partha,


isto é indigno de ti, afasta esta debilidade de coração e ergue-te, ó
destruidor dos inimigos!

4 – Disse Arjuna:
Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que
combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a
veneração?

5 – Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a
estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os
nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu
sangue.

6 – Não sabemos o que seria melhor, vencer ou ser vencidos. Estes filhos
de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão
diante de nós.

7 – Minha própria natureza está esmagada pela compaixão; a mente está


perplexa com respeito ao dever. Diga-me, te suplico, o que seria
definitivamente bom para mim; tomei refúgio em Ti, sou teu discípulo,
instrua-me.

8 – Ainda que eu fosse um rei próspero neste mundo, sem rivais e


dominasse os seres celestiais, não vejo realmente o que poderia quitar
este pesar que está consumindo meus sentidos.

9 – Disse Sanjaya:
Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono:
Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou
lutar” e ficou em silêncio.

10 – Ó Bhárata, então Hrishikesha, sorrindo, disse o seguinte ao que se


lamentava entre ambos os exércitos.

11 – Disse o BENDITO SENHOR:


Estás te lamentando pelos que não o merecem e, no entanto, falas como
um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem
pelos mortos.

12 – Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem esses
reis, nem deixaremos de existir no futuro.

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13 – Assim como o ser encarnado tem sua infância, juventude e velhice,
assim também ele toma outro corpo. Os sábios jamais se confundem
sobre este ponto.

14 – Ó Kounteya (Arjuna), as noções de calor e frio, de prazer e dor,


nascem do contato dos sentidos com os objetos; tem origem e fim e são
transitórias. Suportá-las, Ó Bhárata!

15 – Ó tu, o melhor dos homens, só aquele que não se aflige por estas
modificações e é equânime no prazer e na dor, logra a imortalidade.

16 – O irreal jamais existe, o real nunca é inexistente. Os sábios


conhecem esta verdade.

17 – Saiba que é imortal Aquele que interpenetra tudo isto (o universo).


Ninguém pode destruir este princípio imutável.

18 – Estes corpos, em que mora o eterno, imortal e incomensurável Ser,


têm fim, portanto luta, ó Bhárata!

19 – Aquele que pensa que este Ser mata e aquele que pensa que este
Ser morre, os dois são ignorantes; o Ser não mata nem morre.

20 – O Ser não nasce, nem morre, nem se reencarna, não tem origem, é
eterno, imutável, o primeiro de todos e não morre quando matam o
corpo.

21 – Aquele que sabe que o Ser é imortal, eterno, sem nascimento e


imutável, como pode matar ou ser morto?

22 – Como alguém deixa suas vestes gastas e coloca outras novas, assim
o Ser corpóreo, deixa seu corpo gasto e entra em outros novos.

23 – As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e


o vento não o seca.

24 – A este Ser não se pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem
secar, é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.

25 – Se diz que este Ser é não-manifestável, impensável e imutável;


sabendo que é assim, não deves lamentar-te.

26-27 – Mas, ó tu de braços poderosos, se pensas que este Ser sempre


nasce e morre, ainda assim não deves afligir-te por ele, porque o que
nasce, morre e o que morre, renasce com certeza. Portanto não deves
sofrer pelo inevitável.

15
28 – Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se
manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que
te afliges por eles?

29 – Ao Ser, alguém o considera como algo maravilhoso, outro fala dele


maravilhado; um terceiro ouve dele com maravilha, e há quem mesmo
ouvindo sobre ele, o desconhece.

30 – Ó Bhárata! Este Ser que mora em todos os corpos é sempre


indestrutível, portanto não deves lamentar-te por nenhuma criatura.

31 – Considerando teu dever, tampouco deverias vacilar, porque para um


kshatriya (da casta guerreira) não há melhor sorte que lutar por uma
causa justa.

32 – Ó Partha! (Arjuna), são realmente afortunados aqueles kshatriyas, a


quem se apresenta a grande oportunidade de lutar em uma guerra
semelhante, que lhes abre as portas do céu.

33 – Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua
reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado.

34 – Além disso, as pessoas falarão de tua eterna desgraça, o que para


um fidalgo é pior que a morte.

35-36 – Estes grandes guerreiros que estão em seus carros, considerarão


que tu, por medo, te retiraste da batalha; eles te estimam muito e agora
cairás em desgraça. Teus inimigos falarão de ti em termos pouco
lisonjeiros. Há algo mais lamentável que isto?

37 – Se morres na batalha ganharás o céu; se consegues a vitória,


desfrutarás da terra. Assim que, levanta-te, decidido a lutar.

38 – Considerando igual ao prazer e a dor, a vitória e a derrota, prepara-


te para lutar e assim não pecarás.

39 – Já te ensinei a atitude necessária com relação ao conhecimento do


Ser; agora ouve sobre a atitude com relação ao caminho da ação, dotado
da qual, ó Partha, te libertarás das amarras.

40 – Neste (caminho da ação) não se perde nenhum esforço por mais


incompleto que seja, nem se produzem resultados contraditórios. Mesmo
um pouco desta disciplina salva a uma pessoa de grande risco.

16
41 – Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só
determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos
são inumeráveis e de formas diversas.

42-44 – Ó Partha, os néscios, cujas mentes estão cheias de desejos, que


consideram a vida celestial como sua meta mais elevada, que estão
enamorados pelos panegíricos védicos, que consideram como algo muito
superior, estes ignorantes falam em conhecidos termos floridos com
relação a diversos tipos de cultos védicos que originam os nascimentos,
ações e seus resultados, como meios para o prazer e o poder. Aqueles
que estão atados a eles e se deixam levar por estas frases floridas, jamais
logram a determinação única, que conduz o homem ao samadhi
(absorção espiritual).

45 – Os Vedas tratam os temas relacionados aos três gunas (aspectos ou


qualidades). São a pureza, a ação e a inércia (componentes da natureza
psicofísica). Mantendo-te equilibrado, ó Arjuna, libera-te da trindade dos
gunas, dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor, etc.), de adquirir
e conservar e estabelece-te no Atman (Ser).

46 – Como o propósito de regar por várias fontes torna-se sem efeito


quando chega a inundação, assim se alcança o propósito de estudar os
Vedas pela realização íntima do Ser.

47 – Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos
jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação.

48 – Ó Dhananjaia, estabelece-te neste yoga, renuncia ao apego, seja


indiferente ao êxito e ao fracasso e assim faz tudo. Esta equanimidade é a
yoga.

49 - Ó Dhananjaia, qualquer trabalho que se faz motivado pelo desejo é


muito inferior ao que se faz com a mente não perturbada pelos resultados
esperados. Refugia-te nesta tranqüilidade. Infelizes são os que trabalham
ansiando os resultados.

50 – Quando se tem esta tranqüilidade mental se libera, mesmo nesta


mesma vida, do bem e do mal. Assim que, dedica-te a prática de este
yoga. Karma Yoga significa a habilidade na ação.

51 – O sábio que possui esta tranqüilidade e se afasta dos frutos de suas


ações, se libera das amarras do nascimento, crescimento, etc., e alcança
um estado no qual não existe nenhum mal.

52 – Quando tua compreensão ultrapassar os conceitos ilusórios, irás


adquirir a indiferença com relação ao que ouviste e ao que deves ouvir.

17
53 – Quando se aclarar tua compreensão perplexa por causa das
diferentes opiniões e te estabeleças no samadhi (absorção espiritual),
então lograrás o yoga.

54 – Disse Arjuna:
Ó Keshava, como defines ao homem de conhecimento firme e
estabelecido no samadhi? Como fala, como caminha, como se senta o
homem de conhecimento firme?

55 - Disse o BENDITO SENHOR:


Ó Partha, aquele que renuncia a todos os desejos e permanece satisfeito
em seu próprio Ser, é considerado um homem de conhecimento firme.

56 – Aquele que permanece imperturbável na adversidade e não anela a


felicidade, que não tem apego, nem medo, nem ira, é um muni de
sabedoria firme. (Muni significa: sábio que guarda silêncio.)

57 – É permanente a sabedoria daquele que se mantêm desapegado em


todas as situações, que não se regozija no bem-estar, nem se sente
molestado no mal-estar.

58 – E quando ele retira completamente os sentidos dos respectivos


objetos, como a tartaruga oculta os membros do corpo em sua carapaça,
então seu conhecimento se consolida.

59 – Os objetos se desprendem do abstinente, porém não o desejo de


gozo. Aquele que realiza o Ser Supremo se libera até deste desejo.

60 – Ó Kouteya, os turbulentos sentidos forçam a ir pelo mau caminho, a


mente daquele que está lutando para chegar à perfeição.

61 – Controlando-os, o homem de conhecimento firme deve meditar em


Mim. Sem dúvida, a sabedoria daquele que controlou seus sentidos não
vacila mais.

62-63 – Naquele que pensa nos objetos, nasce o apego, do apego nasce o
desejo, do desejo (frustrado) nasce a ira, da ira nasce a ofuscação, da
ofuscação nasce a confusão da memória, em seguida a vontade se destrói
e então o homem perece.

64 – Mas o homem controlado, com seus sentidos restringidos, livre da


atração e aversão, ainda que se mova entre os objetos, alcança a paz.

65 – Ao alcançar a paz, todos seus pesares desaparecem. Na verdade,


logo se manifesta a sabedoria do homem sereno.

18
66 – Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a
meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se
pode lograr a felicidade?

67 – Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a
consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos.

68 – Por isso, ó tu de poderosos braços, aquele cujos sentidos diante dos


objetos são bem controlados, alcançou o conhecimento firme.

69 – O que é noite para os seres comuns, é dia para o homem de


autocontrole e o que é dia para aqueles é noite para o conhecedor do Ser.
(O homem comum é ignorante do supremo conhecimento, o qual é
logrado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum,
que está sempre intranqüila, é puramente sensória; o sábio é indiferente
a este tipo de consciência.)

70 - Só alcança a paz o muni (sábio silencioso ou quem sempre pensa em


Deus) em quem entram os desejos do mesmo modo que os rios no pleno
e plácido oceano, sem perturbá-lo e não aquele que deseja os prazeres.

71 – Aquele que vive desapegado, que abandona todos os desejos e que


não tem noção alguma de ‘eu’ e ‘meu’, alcança a paz.

72 – Ó Partha, este é o estado de estabelecer-se em Brahman,


alcançando o qual não permanecem mais as ilusões. Mesmo que se
consiga este estado no momento da morte, o homem alcança Brahma-
Nirvana e se identifica com o Supremo.

Capítulo III

O CAMINHO DA AÇÃO

1 – Disse Arjuna:
Ó Janardana, se segundo tua opinião, o conhecimento é superior à ação,
então por que me conduzir a esta terrível ação?

2 – Com palavras aparentemente contraditórias, pareces confundir minha


compreensão. Diga-me algo que com certeza me ajude a lograr o
Supremo.

3 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ó Impecável, ao principio (antes), para os homens, Eu havia declarado
dois cominhos espirituais: o gñana yoga, ou caminho do conhecimento
para os contemplativos e o karma yoga, ou caminho da ação para os
ativos.

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4 – O não trabalhar não conduz ao estado da inação, nem pela mera
renúncia da ação se logra a perfeição. (O estado da inação é aquele onde
todo motivo pessoal para atuar está ausente.)

5 – Na verdade, ninguém pode estar inativo nem por um momento,


porque os gunas ou qualidades nascidas da prakriti (a natureza
psicofísica) o obrigam a atuar.

6 – O néscio que, controlando externamente os órgãos da ação, segue


mentalmente aos objetos dos sentidos é um hipócrita.

7 – Pelo contrário, ó Arjuna, se distingue aquele que controlando com a


mente seus órgãos de ação, os dirige sem apego ao karma yoga (a ação
que conduz à liberação).

8 – Cumpre com os deveres prescritos, porque a ação é superior a


indolência e, além disso, se não atuas nem sequer poderás manter teu
corpo.

9 – Este mundo (as pessoas) está atado por ações distintas das de yagña
(culto, sacrifício, Vishnu ou Deus mesmo), de maneira que, ó Kouteya,
atua sem apego, somente para o yagña.

10–12 - Ao principio quando Prajapati, o Criador, criou os seres


juntamente com o yagña disse: “Por este yagña vos multiplicareis, que
este yagña outorgue tudo o que desejais. Pelo yagña nutrireis aos devas
(seres celestiais) e eles vos nutrirão. Nutrindo-se mutuamente ambos
alcançareis ao bem supremo. Sendo nutridos pelo yagña (pelas
oferendas), os devas vos darão os objetos desejados. É um verdadeiro
ladrão aquele que desfruta dos objetos outorgados pelos devas, sem fazer
as oferendas a eles”.

13 – As pessoas boas que comem as sobras das oferendas se liberam de


todos os pecados, em troca os que cozinham para si mesmos, comem
pecados.

14 – Os seres corpóreos nascem do alimento, o alimento vem da chuva, a


chuva vem do yagña e o yagña vem do karma ou ação.

15 – Sabe que as ações têm sua origem nos Vedas (são motivadas pelos
ditos védicos) e os Vedas procedem do Imortal. Por isso, o onipresente
Veda (Conhecimento) sempre está nos yagñas.

16 – Ó Partha, aquele que não segue aqui a esta roda que foi posta em
movimento e está satisfeito com a vida sensória e pecaminosa, vive em
vão.

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17 – Ao contrário, aquele que se deleita somente no Atman (Ser), está
satisfeito com o Atman e está plenamente contente com o Atman, não
tem nenhum dever.

18 – Neste mundo ele não tem nada que ganhar pela ação, nada perde se
não atua, nem necessita depender de ninguém para lograr seu propósito.

19 – Assim que, mantendo-se desapegado, cumpra com seu dever. Na


verdade, atuando sem apego o homem alcança o Supremo.

20 – O Rei Janaka e outros conseguiram a perfeição, apenas pela ação.


Deves atuar, ainda que seja só para servir de exemplo às pessoas.

21 – O que o homem superior faz é copiado pelas pessoas; o que ele


mostra em sua ação é seguido pelo povo.

22 – Ó Partha, Eu não tenho nenhum dever a cumprir, não há nada nos


três mundos que não haja logrado ou que tenha que lograr, no entanto
continuo atuando.

23 – Ó Partha, se alguma vez Eu deixasse de atuar, o que faço sem


descanso, as pessoas seguiriam meus passos.

24 – Se deixasse de trabalhar, estes mundos pereceriam, Eu seria


responsável pela mistura das raças e pela destruição destes seres.

25 – Ó Bhárata, com o mesmo zelo com que os ignorantes trabalham


para si mesmos, os sábios desapegados devem trabalhar para os demais.

26 – O sábio não deve perturbar a fé do ignorante que está apegado à


ação; no entanto trabalhando ele mesmo assiduamente, deve ocupar ao
ignorante na ação. (O conhecimento se purifica pela ação abnegada. O
egoísmo, o maior obstáculo ao progresso espiritual, cresce mais na
indolência.)

27 – Em todos os casos são os gunas (as qualidades) da prakriti que


atuam, aquele cuja mente está iludida pelo egoísmo pensa: eu sou aquele
que age (ator).

28 – Mas, ó tu de braços poderosos, saiba que os sábios conhecem a


verdade sobre a distinção dos gunas e suas ações, e que os gunas, como
sentidos, descansam sobre os gunas como objetos e assim não têm
apego.

29 – Alucinadas pelos gunas que constituem a prakriti, as pessoas se


apegam aos sentidos e suas funções. O sábio, que conhece tudo, não

21
deve perturbar as pessoas de pouca inteligência e conhecimento
imperfeito. (O processo da evolução mental deve ser contínuo, mas
jamais deve ser forçado e ir contra a tendência natural de cada aspirante
espiritual. Nem todos têm o mesmo grau de compreensão nem a mesma
capacidade de transformação, por isso as instruções espirituais devem ser
aplicadas com muito carinho e paciência, individualmente para cada caso.
Cada homem vê, interpreta e compreende a Verdade segundo seu
ambiente e conceitos anteriores. Só pela contínua ação abnegada
crescem no homem os conceitos universais da eterna Existência –
Consciência – Bem-aventurança. O pensamento e a ação abnegada
formam a base de todo progresso.)

30 – Dedicando a Mim todas as tuas ações e seus resultados, com a


mente estabelecida no Atman e abandonando a esperança e o egoísmo,
luta sem febre mental.

31 – Também, aqueles que sem reclamar e cheios de shraddha, praticam


constantemente este Meu ensinamento, se liberam das ações e seus
resultados. (shraddha é a atitude mental composta de sinceridade,
humildade e fé.)

32 – Mas os que não praticam e desprezam este Meu ensinamento, estes


néscios, muito ignorantes, vão à ruína.

33 – Mesmo o sábio trabalha segundo sua própria natureza; todos os


seres seguem sua natureza. Que pode fazer o mero controle? (Nossa
natureza está formada dos resultados de nossas ações e pensamentos
anteriores, de maneira que o mero controle dos órgãos de ação não muda
a atitude mental; este controle deve ser acompanhado pelo controle dos
pensamentos e desejos.)

34 – Natural é a atração e aversão dos sentidos pelos objetos


correspondentes; não se deve cair sob seu domínio porque eles (os
objetos) são seus inimigos.

35 – Sempre é melhor cumprir o próprio dever, ainda que seja mal, que
cumprir bem o dever que não lhe corresponde. E preferível morrer
cumprindo o próprio dever; o dever alheio encerra temor (por ser
desconhecido).

36 – Disse Arjuna:
Ó Varsneya (descendente dos Vrisnis, Krishna), o que impele ao homem a
cometer o pecado, contra sua própria natureza e obrigado pela força?

37 – Disse o BENDITO SENHOR:

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É o desejo, é a ira, nascido da qualidade rajásica (ativa) da prakriti; é
como uma fome insaciável e muito pecaminoso. Considera-o neste mundo
como teu inimigo.

38-39 – Como o fogo está coberto pela fumaça, o espelho pela poeira e o
feto pela placenta, assim este (o conhecimento) está coberto por aquele
(o desejo). O Kouteya, o conhecimento está coberto pelo desejo, que é
como um voraz incêndio e constante inimigo do homem.

40 – Se diz que suas moradas são: os sentidos, a mente e o intelecto.


Agindo por eles, o desejo alucina ao homem, cobrindo seu conhecimento.

41 – Por isso, ó tu o melhor dos Bháratas, antes de tudo controla teus


sentidos e em seguida mata-o (o desejo), ele é o pecaminoso destruidor
do conhecimento e da Suprema realização espiritual.

42 – Se diz que os sentidos são superiores ao corpo; a mente é superior


aos sentidos; o intelecto é superior a mente e o Atman é superior ao
intelecto.

43 – Ó tu de braços poderosos, restringindo assim a mente mediante o


intelecto e conhecendo Aquele que está além do intelecto, destrua ao
desejo, este inimigo difícil de vencer.

Capítulo IV

O CAMINHO DO CONHECIMENTO

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Eu ensinei este eterno yoga à Vivaswata. Vivaswata o ensinou à Manú e
Manú a Ikshvaku.

2 – Assim, os reis sábios aprenderam este yoga de seus respectivos


preceptores. Ó destruidor de teus inimigos, este yoga, depois de um
longo período de tempo, foi esquecido.

3 – Como tu és Meu devoto e amigo, hoje lhe falei sobre este antigo
yoga. Em verdade, este é um grande segredo.

4 – Disse Arjuna:
Tu nasceste muito depois de Vivaswata, como, portanto, entenderei que
falaste deste yoga no remoto passado?

5 – Disse o BENDITO SENHOR:

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Ó destruidor de teus inimigos, você e Eu já nos encarnamos muitas
vezes; Eu conheço todas estas encarnações, você não as conhece.

6 – Ainda que (em realidade) não tenho nascimento, sou imutável e


Senhor das criaturas, dominando Minha prakriti, me encarno, servindo-
me de Minha própria maia ( a inescrutável força divina).

7-8 – Ó Bhárata, toda vez que declina a religião (a retidão) e prevalece a


irreligião, Me encarno de novo. Para proteger aos bons, destruir aos maus
e estabelecer a (eterna) religião, Me encarno em diferentes épocas.

9 – Aquele que assim conhece realmente Minha divina encarnação e


Minha obra, quando deixa este corpo não renasce mais; ele chega a Mim,
ó Arjuna.

10 – Livres do apego, do medo e da ira, absortos em Mim, refugiando-se


em Mim, purificados pela austeridade e pelo discernimento, muitos
alcançaram Meu Ser.

11 – Seja qual for a maneira em que os homens Me adorem, Eu satisfaço


seus desejos. Ó Partha, de todas as maneiras, é o Meu caminho que os
homens seguem.

12 – Desejando êxito na ação neste mundo, as pessoas adoram aos


devas (seres celestiais). Neste mundo dos homens o êxito na ação chega
logo.

13 – As quatro castas foram criadas por Mim, segundo a atitude e as


ações dos homens. Ainda que seja seu autor, (em realidade) saiba que
sou imutável e não-ator.

14 – As ações não Me mancham, nem desejo seus frutos; aquele que


assim Me conhece não é aprisionado pelas ações.

15 – Sabendo isto, os antigos aspirantes à liberação cumpriram seus


deveres. Tu também atues como eles o fizeram no passado.

16 – Até os sábios (às vezes) tem confusão com relação ao que é a ação
e o que é a inação. Eu te direi o que é a ação, sabendo-o te libertarás do
mal.

17 – É necessário saber bem quais são as ações prescritas e quais as


proibidas e também o que é a inação, porque é difícil saber qual é o modo
adequado de atuar.

18 – Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, é um sábio entre


os homens, é um yogui e pode executar todas as ações. (Os resultados

24
das ações que produzem todo tipo de momentâneas alegrias e pesares
não afetam ao que trabalha sem egoísmo ou ao que se sente como um
instrumento de Deus, de modo que toda sua ação é como a inação. Em
troca, a inação de um egoísta ou irreligioso é pura indolência e lhe causa
sofrimento e escravidão. Também se pode dizer que o ignorante pensa
que o Ser atua, enquanto que o sábio vê ao corpo e aos órgãos atuar e
sabe que para o Ser não há ação.)

19 – Aquele cujas ações não são motivadas por algum plano prévio ou
por desejo, cujas ações são purificadas pelo fogo do conhecimento, a ele
os sábios chamam conhecedor.

20 – Renunciando ao apego à ação e aos seus frutos, sempre satisfeito,


sem depender de ninguém, o conhecedor, ainda que esteja ocupado na
ação, em realidade não faz nada (que o possa prender).

21 – Sem desejos, com a mente e o corpo controlados, abandonando


todos os bens, ainda que leve a cabo as ações físicas, (o sábio) não fica
manchado por elas.

22 – Satisfeito com o que recai sobre ele, transcendendo os pares de


opostos (como o calor e o frio, o agradável e o desagradável, etc.) livre
da inveja, equânime diante do êxito e do fracasso, o sábio não se prende
ainda que atue.

23 – Desapegado, emancipado, com a mente estabelecida no supremo


conhecimento, o que faz tudo como yagña (sacrifício), toda ação se
dissolve (não produz nenhum efeito que o possa atar).

24 – A concha (usada para as oferendas) é Brahman, a oferenda é


Brahman, aquele que faz o culto é Brahman e o fogo é Brahman; aquele
que vê ao único Brahman na ação alcança ao próprio Brahman.

25 – Outros yoguis fazem cultos aos devas e há outros que oferecem a


seu próprio ser como oferenda no fogo de Brahman.

26 – Alguns oferecem a audição ou outros sentidos no fogo do controle e


outros oferecem os objetos no fogo dos sentidos.

27 – Há quem ofereça as funções orgânicas e os pranas (as forças vitais)


no fogo da yoga do autocontrole, aceso pelo conhecimento.

28 – Também há outros que fazem os cultos da caridade, da austeridade


e da yoga, enquanto que, há quem considere como yagñas ao voto
severo, ao discernimento e a diária leitura das escrituras.

25
29 – Há outros que praticam o pranayama (controle dos pranas ou forças
vitais), oferecendo ao prana (a exalação) no apana (a inalação) e o apana
no prana, depois de restringir a saída e a entrada dessas duas forças.
Enquanto outros que regulam sua alimentação, oferecem as funções dos
pranas nos pranas dos sentidos. (Depois de dominar a um dos cinco
pranas, o yogui o concebe como fogo sagrado e nele oferece como
oferenda aos quatro pranas restantes. O yogui perfeito controla aos cinco
pranas ou ao corpo psicofísico.)

30-31 – Todos eles conhecem o yagña que consome seus pecados e eles
absorvendo o néctar, as sobras da oferenda, alcançam ao eterno
Brahman. (Qualquer ação feita sem egoísmo ou como uma oferenda à
Deus purifica a mente do homem e o libera.) Ao que não faz o yagña não
lhe pertence este mundo, muito menos o outro, ó tu, o melhor dos Kurus.

32 – Assim, os Vedas prescrevem diversos yagñas. Saiba que todos eles


nascem da ação, com este conhecimento te libertarás.

33 – Ó destruidor dos inimigos, o yagña feito pelo conhecimento é melhor


ao que se faz com objetos. Ó Partha, todas as ações chegam a sua
consumação no conhecimento.

34 – Adquira-o (o conhecimento) prosternando-se, perguntando e


servindo ao mestre; os sábios, conhecedores da suprema Verdade, lhe
instruirão sobre esta sabedoria.

35-36 – Adquirindo-o, ó Pandava, não cairás de novo na ignorância e


verás a todos em teu Ser e em Mim também. Mesmo se fosses o pior dos
pecadores, cruzarás o mar dos pecados apenas na balsa deste
conhecimento.

37 – Como um voraz incêndio reduz a cinzas todo o combustível, assim o


fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as ações.

38 – Em verdade, neste mundo não há melhor purificador da mente do


que o conhecimento. O perfeito yogui, com o tempo, o logra
automaticamente.

39 – O homem de shraddha, dedicação e autocontrole, adquire este


conhecimento e em seguida, imediatamente alcança a suprema Paz.

40 – O ignorante, o homem sem shraddha (fé em si mesmo), o que


duvida, vai à ruína. Para aquele que duvida, não há este mundo, nem o
outro, nem felicidade.

26
41 – Ó Dhananjaia, aquele que pela yoga renunciou aos frutos das ações,
cuja dúvida foi destruída pelo conhecimento e que repousa em seu Ser,
não é atado pelas ações.

42 – Por isso, despedaçando com a espada do conhecimento a esta


dúvida sobre o Ser, nascida da ignorância e que tomou posse de seu
coração, refugie-se no yoga. Erga-se, ó Bhárata!

Capítulo V

A RENÚNCIA DA AÇÃO

1 – Disse Arjuna:
Ó Krishna, tu elogias a renúncia da ação e também o cumprimento da
ação. Por favor, diga-me definitivamente o que é melhor para mim.

2 – Disse o BENDITO SENHOR;


A renúncia e a ação abnegada, ambas conduzem à liberação, mas entre
elas, o karma yoga ou ação abnegada, é superior à renúncia da ação.

3 – Ó tu de poderosos braços, aquele que não sente gosto nem desgosto,


deve ser considerado como um homem de constante renúncia, porque
estando livre dos pares de opostos, se libera muito facilmente.

4 – As pessoas de mentalidade infantil e não o sábio, dizem que o


conhecimento é diferente da ação abnegada. Praticando qualquer deles se
logra o fruto de ambos.

5 – O estado que alcança o gñani é alcançado também pelo karmayogui.


Aquele que vê a identidade entre o conhecimento e a ação abnegada, vê
corretamente.

6 - Ó tu de poderosos braços, é muito difícil lograr a renúncia da ação


sem haver cumprido a ação abnegada; o sábio dedicado à ação abnegada
alcança logo à Brahman (Deus Impessoal e sem qualidades).

7 – Aquele que está dedicado à ação abnegada e de mente pura, que


controlou seu corpo e seus sentidos e cujo Ser é o Ser de todos, ainda
que atue não se mancha.

8-9 – O abnegado, conhecedor da Realidade, pensa: ‘Eu não faço nada’,


ainda que vê, ouve, toca, cheira, come, caminha, dorme, respira, fala,
evacua, pega os objetos, abre e fecha os olhos, porque sabe que são os
diferentes sentidos que funcionam com relação aos seus respectivos
objetos.

27
10 – Aquele que dedica sem apego todas suas ações à Brahman, não é
umedecido pelo pecado, assemelhando-se à folha de lótus (que sempre
está na água, sem molhar-se).

11 – O homem abnegado, que renuncia ao apego, atua com o corpo, a


mente, o intelecto e os sentidos para purificar sua mente.

12 – O homem equilibrado, renunciando ao fruto da ação, logra a


suprema paz; em troca, o que carece de equilíbrio e cuja ação é impelida
pelo desejo, permanece atado por seu apego ao fruto da ação.

13 – Aquele que controlou seus sentidos, quando renuncia a toda ação


pelo discernimento se sente feliz na cidade de nove portas (o corpo) e
não atua nem faz atuar a ninguém.

14 – O Senhor não cria para as pessoas o conceito de agente nem a união


com os frutos das ações. Tudo isto é obra da natureza.

15 – O onipresente Senhor não aceita o pecado nem a virtude de


ninguém. O conhecimento está envolvido pela ignorância, por isso os
seres caem na ilusão.

16 - Mas aqueles cuja ignorância foi destruída pelo conhecimento do


Atman (Ser), este conhecimento, como o sol, lhes revela o Supremo.

17 – Os seres, cujos intelectos estão impregnados Daquele (o Supremo),


que se identificaram com Aquele, que tomaram refúgio Naquele e cujas
impurezas foram limpas pelo conhecimento, alcançam o estado de não-
retorno (a liberação).

18 – Com a mesma equanimidade o sábio considera a um erudito


brahmin, a uma vaca, a um elefante, a um cão e a um selvagem.

19 – Os homens equânimes, mesmo nesta vida, conquistam a existência


relativa e como Brahman é perfeito e idêntico com todos, eles se
estabelecem em Brahman.

20 – Aquele que conhece a Brahman e está estabelecido Nele, cuja mente


não tem mais ilusões e nem dúvidas, não se regozija ao receber objetos
agradáveis nem se aflige quando recebe objetos desagradáveis.

21 – Aquele cuja mente não tem mais apego aos objetos externos dos
sentidos, alcança a bem-aventurança do Atman e se identifica com
Brahman; e estando absorto Nele, goza a bem-aventurança eterna.

28
22 – Os prazeres que nascem dos objetos sensórios e que têm princípio e
fim são em realidade a causa do sofrimento. Por isso, ó Kounteya, os
sábios não se regozijam neles.

23 – Nesta mesma vida, antes de deixar o corpo, aquele que resiste aos
impulsos do desejo e da ira, está estabelecido na yoga e é bem-
aventurado.

24 – Aquele yogui cuja felicidade é interna, cujo regozijo é interno, cuja


luz (conhecimento) é interna, se identifica com Brahman e alcança a
liberação absoluta.

25 – Os rishis (sábios espirituais) cujas imperfeições se esgotaram, cujas


dúvidas se desvaneceram, que lograram o controle mental e estão
dedicados ao bem-estar de todos, vivem absortos em Brahman.

26 – Os yatis (dedicados à vida espiritual) que estão livres da paixão e


ira, cuja mente está controlada, que realizaram ao Atman, permanecem
absortos em Brahman aqui e no além.

27-28 – Afastando a percepção dos objetos externos, fixando o olhar


entre as sobrancelhas e restringindo dentro das fossas nasais ao prana e
apana (as forças que regem a exalação e inalação), controlando os
sentidos, a mente e o intelecto, estando livre do desejo, medo e ira,
libera-se pra sempre.

29 – Aquele que conhece a Mim, que sou o dispensador dos frutos do


yagña e das austeridades, o Grande Senhor dos mundos e o amigo de
todos os seres, obtém a Paz.

Capítulo VI

O CAMINHO DA MEDITAÇÃO

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Aquele que cumpre com seu dever e não deseja o fruto de suas ações é
um monge e também um karmayogui e não aquele que não trabalha nem
cuida do sagrado fogo (O símbolo da Divindade, com o qual antigamente
todo indo-ariano fazia seu culto).

2 – Sabe, ó Arjuna, o que é chamado renúncia é idêntico à yoga porque


ninguém pode ser um yogui sem renunciar ao desejo pelo fruto da ação.

29
3 – Para o sábio que quer ser um yogui, a ação é o meio e para aquele
estabelecido na yoga, a inação é o meio (para permanecer absorto no
Supremo).

4 – Quando já não se tem apego aos objetos sensórios e nem às ações,


se diz que se alcançou a yoga.

5 – Uma pessoa deve erguer-se por si mesmo e nunca rebaixar-se,


porque é (pode ser) amigo de si mesmo e também inimigo de si mesmo.

6 – Para aquele que conquistou a si mesmo, seu ser é seu amigo, em


troca para aquele sem controle, seu próprio ser é seu inimigo.

7 – O homem sereno e de autocontrole, sempre está absorto no Supremo


e se mantém igual no calor e no frio, no prazer e na dor, na honra e na
desgraça.

8 – É um yogui bem estabelecido aquele que logrou a satisfação pelo


conhecimento e pela realização, que é firme em sua convicção, que tem
seus sentidos controlados e considera de igual valor a um torrão de terra,
a uma pedra e a uma peça de ouro.

9 – Sobressai aquele que tem igual consideração para o amigo, o


benfeitor, o inimigo, o neutro, o árbitro, o odioso, o parente, o bom e o
mau.

10 – Com seu corpo e mente dominados, livre de desejos e de bens e


vivendo sozinho, retirado de todos, o yogui deve praticar constantemente
a concentração mental.

11-12 – Em um lugar limpo deve preparar um assento firme, nem muito


alto nem muito baixo e depois de cobri-lo com erva kusha, uma pele de
cervo e um lenço, deve sentar-se sobre ele. Em seguida, controlando as
atividades sensórias e mentais mediante a concentração, deve praticar a
yoga para lograr a purificação mental.

13-14 – Mantendo as costas, o pescoço e a cabeça bem firmes e


endireitados, deve fixar o olhar na ponta do nariz sem olhar em outra
direção; em seguida, bem sereno e sem medo, praticando continência e
disciplina mental e pensando sempre em Mim como sua suprema meta,
deve permanecer absorto em Mim.

15 – Desta maneira, pela constante concentração, o yogui logra absoluto


domínio sobre sua mente e sua paz culmina na beatitude final, na união
comigo.

30
16 – Ó Arjuna, aquele que come muito ou come muito pouco, aquele que
dorme muito ou dorme muito pouco, não logra o yoga.

17 – Aquele que é moderado na comida, na diversão, na ação, no sono e


quando está desperto, alcança o yoga que destrói o sofrimento.

18 – Quando a mente bem controlada descansa só no Atman e se está


livre do desejo pelos prazeres, então se diz que logrou o yoga.

19 – A chama fixa de uma vela em um lugar sem vento é o exemplo da


mente controlada de um yogui que praticou a concentração no Atman.

20-23 – O estado no qual a mente, controlada pela prática da


concentração, permanece quieta, no qual se goza de seu próprio Ser
vendo-o com a mente pura e no qual, mediante o intelecto, realiza a
bem-aventurança infinita que está além de toda percepção sensória, se
chama yoga. Estabelecendo-se Nele, não se afasta da Realidade;
alcançando-o, todo o resto parece ínfimo. Quando se está firme neste
estado, mesmo os maiores sofrimentos não podem comovê-lo. Este yoga,
que não tem nenhum contacto com o pesar, deve ser praticada com
ânimo e convicção.

24-25 – Abandonando completamente todos os desejos nascidos da


fantasia e impedindo, só com a mente, que os sentidos se dirijam aos
objetos em todas as direções e com o intelecto regulado pela
concentração, pouco a pouco, deve-se lograr a quietude e assim
estabelecendo a mente no Atman, não se deve pensar em outra coisa
(deve praticar a absorção total no Supremo).

26-27 – Em qualquer parte que encontre vagando a esta intranqüila e


vacilante mente, freando seus movimentos, se deve trazê-la sob o
domínio do Ser. A bem-aventurança suprema chega ao yogui identificado
com Brahman, cuja atividade se aquietou, cuja mente está tranqüilizada e
cujas paixões estão sossegadas.

28 – O yogui que é completamente livre das manchas do apego e que


constantemente controla a mente dessa maneira, com facilidade alcança
a bem-aventurança infinita do contacto com Brahman.

29 – Aquele cuja mente está absorta pela prática do yoga e é equânime,


vê ao Atman em todos os seres e a todos os seres em seu próprio Ser.

30 – Aquele que Me vê em tudo e vê tudo em Mim, não me perde nunca e


Eu não o abandono jamais.

31 – Aquele que estando unido com todos adora a Mim que resido em
todos os seres, qualquer que seja sua ocupação, este yogui vive em Mim.

31
32 – Ó Arjuna, o melhor yogui é aquele que considera ao prazer e a dor
de todos os seres como se fossem seus.

33 – Disse Arjuna:
Ó Madhusudana (Krishna), esta yoga que tu descreves como
equanimidade, eu não vejo como pode ser permanente, devido à
intranqüilidade da mente.

34 – Pois a mente, Ó Krishna, é intranqüila, turbulenta, poderosa e


obstinada. Parece-me que é tão difícil de controlar como o vento.

35 – Disse o BENDITO SENHOR:


Sem dúvida, ó tu de braços poderosos, a mente é intranqüila e difícil de
controlar, no entanto, ó Kounteya, pode ser controlada mediante a
repetida prática e o desapego.

36 – Minha opinião é de que a pessoa cuja mente não está controlada,


dificilmente logra esta yoga, em troca, o homem de autocontrole, que faz
o esforço segundo os meios (aconselhados) pode lográ-la.

37 – Disse Arjuna:
O que acontece a uma pessoa que tem shraddha (fé), mas carece de
determinação e não consegue lograr a perfeição na yoga (antes de
morrer), devido à que sua mente vaga por toda parte?

38 – Ó Krishna, Tu de poderosos braços, (este homem) perdido no


caminho de Brahman, caindo de ambos (conhecimento e karmayoga) e
sem suporte, não perecerá como uma pequena nuvem desprendida (de
uma grande massa de nuvens).

39 – Ó Krishna, Tu deves tirar de mim esta dúvida completamente,


porque ninguém além de Ti pode fazê-lo.

40 – Disse o BENDITO SENHOR:


Realmente, ó Partha, não há destruição para este homem nem aqui e
nem no além, porque, meu filho, o benfeitor jamais termina mal.

41-42 – Aquele que caiu do yoga (que não alcançou a perfeição) vai à
esfera dos justos; depois de viver ali durante longo tempo, renasce em
uma família de pessoas puras e prósperas ou renasce em uma família de
sábios karmayoguis. Na realidade um nascimento assim é muito difícil de
conseguir.

43 – Então entra em contacto com o conhecimento adquirido na vida


passada e se esforça mais do que antes para lograr a perfeição, ó
Kourava!

32
44 – Este homem, ainda assim, é levado à sua meta só pela força de suas
práticas anteriores. Mesmo um mero investigador sobre a yoga é superior
aos que fazem cultos.

45 – Certamente, o yogui que pratica assiduamente, se purifica de suas


faltas e aperfeiçoando-se durante várias vidas, ao final logra a meta
suprema.

46 – O yogui (karmayogui) é considerado superior aos ascetas, aos


homens de conhecimento e às pessoas de ação; por isso seja um yogui.

47 – Segundo Minha opinião, de todos os yoguis, sobressai aquele que


com fé Me adora com toda sua mente absorta em Mim.

Capítulo VII

O CAMINHO DO CONHECIMENTO
E DE SUA REALIZAÇÃO

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ouve, Partha, com a mente dedicada a Mim, tomando refúgio em Mim e
praticando a yoga, poderás conhecer-Me plenamente, sem dúvida
alguma.

2 – Te falarei sem reserva sobre este conhecimento e o método de sua


realização; conhecendo-os, nada mais existe por conhecer neste mundo.

3 – Entre milhares de homens, talvez um tenta chegar à perfeição; entre


os que tentam, possivelmente, um logra a perfeição e entre os perfeitos,
talvez um Me conheça perfeitamente.

4 – A terra, a água, o fogo, o ar, o espaço, a mente, o intelecto e o ego


são as oito categorias em que está dividida a Minha praktiti (natureza
objetiva).

5 – Esta é Minha prakriti inferior. Distinta dela, ó tu de poderosos braços,


conheça a Minha prakriti superior, ao Ser interno, que sustém a este
universo.

6 – Saiba que elas (as duas prakritis) são como as matrizes de todos os
seres; Eu sou a origem e a dissolução do universo inteiro.

7 – Ó Dhananjaia, nada existe além de Mim. Tudo isto existe em Mim,


como as gemas unidas por um cordão.

33
8 – Ó Kounteya, Eu sou o sabor das águas, o esplendor da lua e do sol;
sou o sagrado OM dos Vedas, o som do espaço e o valor do homem.

9 – Sou a fragrância da terra, o brilho no fogo, a vida de todos os seres e


a austeridade dos ascetas.

10 – Saiba, ó Partha, que sou a semente eterna de todos os seres; sou a


inteligência dos inteligentes e a valentia dos valentes.

11 – Ó tu, o melhor dos Bháratas, Eu sou a força dos fortes sem desejo
nem apego e sou aquele desejo dos homens que não é antagônico ao seu
dever.

12 – E saiba que unicamente de Mim se originam os estados serenos,


ativos e inertes, mas Eu não estou neles, ainda que eles estejam em Mim
(Deus é onipresente e contém a todos).

13 – Todo este mundo iludido por estes três estados, está composto dos
gunas (qualidades primárias que constituem a prakriti, a natureza
psicofísica). Este mundo não Me conhece; estou além dos gunas e sou
Imutável.

14 – Esta Minha divina ilusão, constituída pelos gunas, é realmente difícil


de transcender; só os que se refugiam em Mim podem fazê-lo.

15 – Desprovidos de discernimento devido à força de maia (divina ilusão)


e seguindo o caminho demoníaco, os mais ignorantes e malvados entre os
homens não tomam refúgio em Mim.

16 – Ó Arjuna, quatro tipos de pessoas que fizeram boas ações Me


adoram. Eles são: o aflito, o que busca riquezas (prazeres), o aspirante
ao conhecimento e o homem de sabedoria, ó tu, o melhor dos Bháratas!

17 – Entre eles sobressai o sábio constante e de devoção única. Sou


muito querido por este sábio e Eu o quero muito.

18 – Realmente todos eles são muito nobres, mas considero ao sábio


como Meu próprio Ser, porque ele Me escolheu como sua única meta e
com a mente firme, se refugiou em Mim.

19 – Ao final de muitas vidas o sábio se refugia em Mim, realizando que


tudo isto é Vasudeva (o Ser universal). Mas, raramente se encontra um
sábio assim.

34
20 – Existem outros, que carentes de discernimento, devido a diversos
desejos e seguindo distintos cultos, adoram aos devas (seres celestiais),
impelidos por sua própria natureza.

21-22 – Qualquer que seja a forma (do deva) que o devoto quer adorar
com fé, Eu faço constante a esta fé. Dotado dessa fé, o devoto adora ao
seu deva preferido, que lhe outorga os dons. Mas em realidade, sou Eu
quem os dou.

23 – Mas o dom que logra estas pessoas de pouco entendimento, tem


fim. Os que adoram aos devas vão a eles, mas Meus devotos vêm a Mim.

24-25 – Sem conhecer Minha suprema natureza que é imutável,


transcendental e que não se manifesta, os ignorantes Me consideram
como manifestado (igual a qualquer mortal). Como estou coberto pelo
véu de yogamaia (divina ilusão), não sou cognoscível para todos. O
ignorante não sabe que sou imutável e sem nascimento.

26 – Eu conheço, ó Arjuna, a todos os seres do passado, presente e


futuro; mas ninguém conhece a Mim.

27 – Ó Bhárata, destruidor dos inimigos, todos os seres ao nascer, ficam


iludidos pelos pares de opostos (percepções de calor e frio, etc.), que
surgem do desejo e da aversão.

28 – Mas as pessoas de atos meritórios, cujos pecados terminaram e que


estão livres dos pares de opostos, com boa resolução, Me adoram.

29 – Aqueles que lutam para liberar-se de velhice e da morte se refugiam


em Mim; eles conhecem à Brahman, a tudo que é relativo ao ser
individual e às ações (com seus resultados).

30 – Aqueles que Me conhecem juntamente com tudo que se relaciona


com os seres, os devas e os cultos, fixam sua mente em Mim e mesmo no
momento do desenlace final, mantêm este conhecimento.

Capítulo VIII

O CAMINHO A BRAHMAN, O IMPERECEDOURO

1-2 – Disse Arjuna:


Ó Tu, o melhor dos homens, o que é Brahman? O que é o Ser individual?
O que é a ação? O que é o adhibhuta (o substrato dos elementos)? O que
é o adhideiva (o que sustém aos devas)? Ó Madhusudana, quem é o
adhiyagña no corpo e como atua? Quem sustém aos diversos cultos e
outorga seus respectivos frutos? Além disso, como Te conhecem os
homens de autocontrole no momento de morrer?

35
3 – Disse o BENDITO SENHOR:
Brahman é o Imperecedouro e o Supremo, quando mora em cada corpo é
chamado Ser individual. A ação é a oferenda, que é a origem e o
desenvolvimento de todos os seres.

4 - Ó tu, o melhor dos homens, adhibhuta é a entidade mortal; adhideiva


é o Ser cósmico e Eu sou o adhiyagña no corpo.

5 – Aquele que momento da morte, recorda somente a Mim, quando


deixa o corpo alcança Meu Ser, sobre isto não há nenhuma dúvida.

6 – Ó Kounteya, se um homem no momento da morte pensa em qualquer


coisa (objeto, pessoa ou deva), por estar constantemente absorto nela
(durante a vida), vai a ela quando deixa o corpo.

7 – Portanto pensa constantemente em Mim e luta. Mantendo tua mente


e intelecto absortos em Mim, sem dúvida Me alcançarás.

8 – Ó Partha, aquele que mediante a yoga da prática constante, sem


permitir que a mente continue vagando, medita no Supremo Ser Divino,
chega a Ele.

9-10 – Aquele que no momento da morte, com a mente firme e cheia de


devoção, fixa ao prana entre as sobrancelhas pelo poder da yoga, medita
sobre o onisciente e primordial Ser, o governador e dispensador de tudo,
mais sutil que o átomo e o suporte de todos, cuja forma é inconcebível e
resplandecente como o sol, que está além da ignorância, depois de deixar
o corpo, chega ao Supremo e luminoso Ser.

11 – Agora te descreverei em poucas palavras o princípio chamado o


Imperecedouro pelos conhecedores dos Vedas, no qual entram os yatis
(dedicados) auto-controlados e livres do apego. Para lograr este princípio
os aspirantes levam uma vida de continência.

12-13 – Aquele que controla as portas dos sentidos (aos órgãos), que
confina a mente no coração, que fixa ao prana na cabeça e assim se
dedica à prática da yoga repetindo o sagrado OM, símbolo de Brahman e
medita em Mim, quando deixa seu corpo alcança a Meta Suprema.

14 – Ó Partha, sou facilmente acessível ao yogui constante em suas


práticas, que recorda a Mim continuamente todos os dias, sem pensar em
outras coisas.

15 – As grandes almas, depois de chegar a Mim, não estão mais sujeitas


ao renascimento, que é a morada do pesar e de tudo que é transitório,
pois já lograram a mais alta perfeição.

36
16 – Os seres de todos os mundos, ó Arjuna, incluindo a esfera de
Brahma (o Criador) estão sujeitos ao renascimento. Mas, ó Kounteya, não
renascem mais os que chegam a Mim.

17 – Os conhecedores do dia e da noite (os períodos de evolução e


dissolução do universo) sabem que um dia ou uma noite de Brahma é
equivalente a mil yugas nossos. (Segundo a mitologia hindu um yuga
equivale à 4.320.000 dos nossos anos e o dobro deste período equivale a
24 horas de Brahma, que vive cem anos.)

18 – Quando amanhece o dia de Brahma todos os seres se manifestam


provenientes da não-manifestada prakriti; e no ocaso desaparecem na
mesma.

19 – Ó Partha, esta multidão de seres que nasce e renasce é absorvida


quando chega a noite de Brahma e ao amanhecer aparece de novo
inexoravelmente.

20 – Por trás desta existência não-manifestada existe outro Ser não-


manifestado e eterno que não perece quando perecem os seres.

21 – Este último não-manifestado é o Imperecedouro, a Meta Suprema;


alcançando-O não há mais renascimento. Esta é Minha suprema morada
(existência ou Ser).

22 – Aquele Supremo Ser, ó Partha, em Quem estão todos os seres e por


Quem tudo isto está interpenetrado, é realizado mediante a total e
exclusiva devoção.

23 – Te falarei, ó melhor dos Bháratas, com relação ao tempo (ou


caminho) em que os yoguis deixando seus corpos, logram a emancipação
ou nascem novamente.

24 – Ao deixar o corpo, tomando o caminho do fogo, da luz, do dia, da


quinzena luminosa da lua e do solstício setentrional (acompanhados pelos
correspondentes devas), os conhecedores de Brahman vão a Brahman (se
liberam).

25 – O yogui que ao morrer, segue pelo caminho da fumaça, da quinzena


escura da lua e do solstício meridional, chega à esfera lunar e em seguida
renasce.

26 – Estes dois caminhos, o luminoso e o escuro, são considerados


permanentes. Pelo primeiro se emancipa e pelo segundo há o
renascimento.

37
27 – Conhecendo estes caminhos, ó Partha, nenhum yogui continua
iludido. Por isso, ó Arjuna, estabelece-te na yoga.

28 – O Yogui que conhece isto transcende os méritos declarados nos


Vedas, com relação aos yagñas, ao ascetismo e a caridade, e logra a
morada Suprema e Primordial (ao eterno Brahman).

Capítulo IX

O CAMINHO DA SABEDORIA REAL


E DO MISTICISMO REAL

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


A ti, Ó Arjuna, que não Me contrarias, revelarei este grande mistério do
conhecimento e sua realização; conhecendo-o, te libertarás do mal.

2 – Este é o rei do conhecimento e do segredo; é a santidade suprema; é


percebido diretamente, fácil de praticar, é a espiritualidade e é
imperecedouro.

3 – Ó destruidor dos inimigos, as pessoas que carecem de fé nesta


doutrina não chegam a Mim e retornam a este mundo mortal.

4 – Todo este mundo está interpenetrado por Mim em Meu estado não-
manifestado. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles
(como sou inconexo, não tenho nenhuma relação com eles).

5 – Nem os seres estão em Mim; observa Meu divino mistério. Ainda que
seja o sustém e o protetor dos seres, no entanto, Meu Ser não está neles.
(Como não tenho nenhum conceito de ego pessoal, não tenho apego a
nada, como têm os seres encarnados.)

6 – Como o grande vento que se move por todas as partes está sempre
no espaço, saiba que assim todos os seres estão em Mim.

7 – Ao final de um ciclo, ó Kounteya, todos os seres voltam à Minha


prakriti (se transformam nos princípios dos gunas: sattva, serenidade,
rajas, atividade e tamas, inércia). Ao princípio de outro ciclo, de novo Eu
os projeto.

8 – Dominando a Minha prakriti, projeto inúmeras vezes a estes seres


sem autodomínio, de acordo com sua própria natureza. (Este verso é a
resposta de uma possível pergunta: como o Senhor que é inconexo e
imutável pode criar? A criação é a obra da prakriti, a natureza psicofísica,
que começa a funcionar pela mera proximidade do Senhor.)

38
9 – E estes atos, ó Dhananjaia, não Me atam, porque permaneço
desapegado como uma pessoa indiferente.

10 – Dirigida por Mim, a prakriti produz o mundo dos objetos inanimados


e animados e assim, ó Kounteya, o mundo segue seu rumo.

11 – Quando Eu tomo forma humana, os ignorantes, os inconscientes de


Minha natureza superior como Supremo Senhor de todos, Me
menosprezam.

12 – Estes ignorantes, de natureza demoníaca, ambiciosos e cruéis,


mantêm esperanças vãs, trabalham em vão e perseguem vãos
conhecimentos, pois são insensatos.

13 – Mas as grandes almas, de natureza divina, Me adoram, sabendo que


sou imutável e a origem de tudo.

14 – Esforçando-se com firme determinação, prosternando-se diante de


Mim com devoção e glorificando-Me sempre, eles Me adoram.

15 – Outros, pelo yagña do Ser (considerando a existência do Ser em


tudo), adoram a Mim, o Oniforme; mas quando se consideram diferentes
de Mim, Me adoram identificando-Me com o multiforme.

16 – Eu sou o kratu (um culto védico). Eu sou o yagña (culto


recomendado pelos textos sagrados), sou a svadhá (oferendas aos
espíritos), sou os cereais e as plantas medicinais, sou o mantram
(fórmula sagrada utilizada nas orações), sou a manteiga derretida para a
oferenda, sou o fogo sagrado e sou a oferenda.

17 – Eu sou o pai deste mundo, sou a mãe, o avô, o dispensador, o


purificador, o que há de conhecer-se; sou o OM e os Vedas: Rik, Sáman e
Yajus.

18 – Eu sou o Ideal, o sustém, o Senhor, a Testemunha, a morada, o


refúgio, o amigo, a origem, a dissolução, o substrato, o depósito de
valores e a semente eterna.

19 – Eu dou o calor (pelo sol), faço chover e paro a chuva; sou a


imortalidade e também sou a morte, sou o manifestado e o não-
manifestado, ó Arjuna.

20 – Os conhecedores dos Vedas, purificados de seus pecados, bebendo o


santificado suco das folhas do soma, Me adoram para ir ao céu; chegando
à esta esfera de méritos de Indra, o rei dos seres celestiais, desfrutam
dos gozos.

39
21 – Ao terminar o período de mérito, pelo qual gozam no vasto céu,
entram de novo neste mundo dos mortais. Assim vão e vêm os que
cumprem com os mandamentos dos três Vedas.

22 – As pessoas que, identificando-se comigo, constantemente meditam


em Mim, Eu lhes levo tudo o que necessitam e preservo o que já têm.

23 – Mesmo aqueles que adoram com fé aos devas, na realidade, ó


Arjuna, adoram a Mim, ainda que equivocadamente (porque buscam
prazeres e não a liberação).

24 – Eu sou o único Senhor e desfrutador dos yagñas, mas eles não Me


conhecem realmente, por isso regressam a este mundo.

25 – Os devotos dos devas vão aos devas, os adoradores dos espíritos


vão aos espíritos, os adoradores de outros espíritos inferiores vão a eles;
também Meus devotos vêm a Mim.

26 – Se alguém com devoção Me oferece uma folha, uma flor ou um


pouco de água, Eu aceito estas oferendas que vêm de pessoas puras.

27 – Qualquer coisa que faças, comas, sacrifiques ou dês a alguém,


qualquer austeridade que pratiques, ofereça-o a Mim, ó Kounteya.

28 – Assim te libertarás das ataduras dos frutos das ações boas ou más e
estando emancipado e firmemente estabelecido na yoga da renúncia,
virás a Mim.

29 – Eu sou equânime com todos os seres, não tenho preferências, nem


desprezo a ninguém, mas os que Me adoram estão em Mim e Eu neles.

30 - Se um malvado adora a Mim somente, deve ser considerado como


uma pessoa boa porque tomou uma boa determinação.

31 – Logo sua mente se torna espiritual e logra a Paz. Ó Kounteya,


proclama ao mundo que Meus devotos jamais perecem.

32 – Mesmo aqueles que nasceram em ambientes inferiores, as mulheres,


os comerciantes, os trabalhadores (todos sem instrução espiritual),
quando se refugiam em Mim, ó Partha, todos logram a Meta Suprema
(liberação).

33 – E o que se dirá dos religiosos brahmins e dos reis sábios! Já que


encarnaste neste corpo infeliz e transitório, adora a Mim.

40
34 – Fixe tua mente em Mim, seja Meu devoto, ofereça-Me os yagñas,
prosterne-te a Mim e assim, com o coração dedicado a Mim e
considerando-Me como o Supremo Ideal, virás a Mim.

Capítulo X

AS MANIFESTAÇÕES DIVINAS

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ó tu de braços poderosos, ouve de novo Minha palavra suprema. Como te
deleita ouvi-la, Eu a direi para teu bem.

2 – Os devas e os rishis (sábios espirituais) não conhecem Minha origem,


pois Eu sou a fonte de todos eles.

3 – Entre os homens, aquele que sabe que Eu não tenho origem ou


princípio e sou o Senhor dos mundos, se libera de todos os pecados.

4-5 – O discernimento, o conhecimento, não ficar iludido, o perdão, a


veracidade, o controle dos órgãos internos e externos, a felicidade, a
infelicidade, a existência, a inexistência, o medo, a intrepidez, não causar
dano, a equanimidade, a satisfação, a austeridade, a caridade, a fama e a
má fama; todas estas qualidades nascem de Mim somente.

6 – Os sete grandes rishis e os quatro manús nasceram de Mim; todos


eles estão dotados de Meu poder. Todas as criaturas do mundo procedem
deles.

7 – Aqueles que em realidade conhecem estas Minhas divinas


manifestações e Meu poder yóguico, se estabelecem firmemente na yoga;
não existe nenhuma dúvida a respeito disto.

8 – Sou a origem de tudo, tudo evolucionou de Mim; conhecendo isto, os


sábios Me adoram com amor e conhecimento.

9 – Com a mente e os sentidos absortos em Mim, instruindo-se


mutuamente a respeito de Mim, conversando sobre Mim, eles estão
sempre felizes e satisfeitos.

10 – A eles, que estão assim dedicados a Mim e Me adoram com devoção


total, Eu lhes dou a yoga da compreensão, pela qual vêm a Mim.

41
11 – Para fazê-los bem-aventurados, morando em seu intelecto, destruo
a escuridão da ignorância mediante a resplandecente luz do
conhecimento.

12-13 – Disse Arjuna:


Tu és o Supremo Brahman, a Suprema Morada e o Supremo Purificador,
Todos os rishis humanos e Nárada, o rishi entre os devas e também Asita,
Devala e Vyasa Te chamam de o Eterno, Luminoso Ser, a Divindade
Primordial e Tu mesmo o estás dizendo.

14 – Ó Keshava, tudo isto que me disse eu considero como a verdade. É


certo, ó Senhor, que nem os devas, nem os asuras (demônios) conhecem
Tuas manifestações.

15 – Só Tu conheces a Ti mesmo, Ó Suprema Pessoa, Ó Criador e Senhor


dos seres, Ó Deus dos deuses, Ó Amo dos mundos!

16 – Na verdade só Tu podes falar extensamente de Tuas divinas glórias,


pelas quais, interpenetrando todos estes mundos, Tu existes.

17 – Ó Yoguin, como devo meditar para conhecer-Te? Ó Senhor, em


quais objetos particulares devo meditar sobre Ti?

18 – Ó Janardana, fale-me de novo amplamente de Teus poderes


yóguicos e Teus atributos. Jamais me sacio de ouvir Tuas palavras de
néctar.

19 – Disse O BENDITO SENHOR:


Bem, de novo te falarei sobre Minhas principais glórias divinas, ó melhor
do Kurús, porque são infinitas Minhas manifestações.

20 – Ó Gudakesha (Arjuna, o vencedor do sono), Eu sou o Atman no


coração de todos os seres. Sou o princípio, o meio e o fim de todos.

21 – Sou Vishnú entre os adityas (um grupo de doze divindades), sou o


brilhante sol entre os astros, sou Marichi dos ventos e a lua dos planetas.

22-23 – Dos Vedas sou o Sama Veda, dos devas sou Indra, dos sentidos
sou a mente e sou a consciência dos seres. Dos rudras sou Shankara, dos
yakshas e rakshashas sou Kubera, dos vasus sou Pávaka, o fogo, e das
montanhas sou Meru.

24-25 – Ó Partha, saiba que sou Brihaspati entre os sacerdotes, sou


Skanda entre os generais, sou o oceano entre os lugares aquáticos. Sou
Bhrigú entre os rishis, dos verbos sou OM, sou o japam (repetição do
santo nome de Deus) entre os yagñas e sou o Himalaya dos objetos
imóveis.

42
26-27 – Entre as árvores sou o ashvattha (fícus índica), dos rishis entre
os devas sou Nárada, sou Chitraratha entre os gandharvas, sou Kapila
Muni entre os perfeitos. Entre os cavalos sou Uchchasravas, nascido do
néctar, entre os nobres elefantes sou Airavata e sou o rei entre os
homens.

28-29 – Sou o raio entre as armas, sou kamadhuka entre as vacas, sou a
paixão geradora entre as paixões, sou Vasuki entre as serpentes
venenosas, sou Ananta entre as cobras, sou Varuna entre os seres
aquáticos, sou Aryamana entre os espíritos e sou Yama entre os seres de
autocontrole.

30-31 – Dos filhos de Diti, sou Prahlada, entre as medidas sou o tempo,
entre as bestas sou o leão e dos pássaros sou Garuda. Dos que se movem
rápido sou o vento, sou Rama entre os guerreiros, dos peixes sou o
tubarão Makara e entre os rios sou o Ganges.

32-33 – Das manifestações, ó Arjuna, sou o princípio, o meio e o fim; da


sabedoria sou o conhecimento do Ser e das controvérsias sou vada
(argumento construtivo). Do alfabeto sou o “A”, sou dvandva entre os
que juntam as palavras, sou o tempo eterno e o dispensador universal.

34 – Sou a morte, a destruidora de tudo; sou a prosperidade dos futuros


ricos e entre as qualidades femininas sou a fama, a abundância e beleza,
a clara dicção, a memória, a inteligência, a fortaleza e a clemência.

35 – Da lírica védica sou a grande sama; da métrica, na poesia, sou a


gayatri; dos meses sou o agrahayana (Outubro-Novembro) e das
estações sou a primavera.

36 – Dos atos fraudulentos sou o jogo; sou a proeza dos valentes, sou a
vitória, o empenho e a bondade dos bons.

37 – Sou Vásudeva entre os Vrishnis; sou Dhananjaia entre os Pandavas;


sou Vyasa entre os sábios e sou Ushanas entre os poetas místicos.

38 - Sou o látego dos que castigam; sou a tática dos conquistadores; sou
o silêncio dos segredos e sou o conhecimento dos conhecedores.

39 – Sou, ó Arjuna, a semente de tudo; não há nenhum ser móvel ou


imóvel que possa existir sem Mim.

40 - Ó destruidor dos inimigos, não têm fim Meus atributos divinos.


Somente em forma breve detalhei a ti Minhas glórias.

43
41 - Na realidade tudo que é glorioso, excelente e poderoso, saiba que é
produzido de uma fração de Minha divina glória.

42 - Ó Arjuna, de que te servirá conhecer todos estes detalhes? Saiba que


Eu existo interpenetrando este universo inteiro com apenas uma parte de
Minha existência.

Capítulo XI

A VISÃO DA FORMA UNIVERSAL

1 – Disse Arjuna:
A minha ilusão se desvaneceu pelas profundas palavras sobre o
discernimento do Ser, que Tu me disseste por compaixão.

2 - Ó Tu, de olhos de lótus, eu te ouvi falar extensamente sobre a origem


e a dissolução dos seres e também sobre Tua glória.

3 - Ó grande Senhor, tudo o que disseste é certo. Ó Suprema Pessoa,


tenho o desejo de ver Tua Forma Divina.

4 – Se Te pareces bem, ó Senhor, que eu possa ver-Te então, ó Senhor


dos yoguis, mostra-me Teu Ser eterno.

5 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ó Partha, veja Minhas centenas e milhares de formas divinas, de diversas
cores e figuras.

6 – Veja aos adyitas, aos vasus, aos gêmeos ashwins e aos maruts; veja,
ó Bhárata, as diferentes e maravilhosas figuras que jamais foram vistas
antes.

7 – Ó Gudakesha, veja hoje ao universo inteiro, com o conjunto de todos


os objetos móveis e imóveis, e qualquer outra coisa que queiras ver.

8 – Como não poderás ver-Me com estes teus olhos, te darei o olho
divino. Agora, olha Meu supremo poder yóguico.

9 – Disse Sanjaya:
Ó rei, depois de dizer estas palavras, Hari, o grande Senhor da yoga,
revelou Sua Suprema Forma Divina à Partha.

10-11 – Com muitas bocas e olhos, apresentando diversos e maravilhosos


aspectos, adornado com jóias celestiais, com numerosas armas celestiais

44
em Suas mãos, vestido com trajes e guirlandas celestiais, ungido de
aromáticos ungüentos celestiais, estava o todo-maravilhoso,
resplandecente e infinito Senhor, com rostos em todas as direções.

12 – Se a refulgência de mil sóis aparecesse simultaneamente no céu,


isto não poderia comparar-se com o esplendor daquela extraordinária
forma.

13 – Então, no corpo do Supremo Senhor de tudo, o Pandava viu em


conjunto ao universo inteiro, manifestado em múltiplas formas.

14 – Estupefato e estremecido, Dhananjaia juntou as palmas de suas


mãos e saudando ao Senhor com uma inclinação de cabeça, disse o
seguinte:

15 - Disse Arjuna:
Vejo em Seu corpo todos os seres celestiais e inumeráveis seres de
diferentes classes; vejo também à Brahma, o Criador, em Seu assento de
lótus e aos rishis (sábios) e as serpentes celestiais.

16 – Te vejo com inumeráveis formas em todas as direções, com


múltiplos braços, estômagos, rostos e olhos. Ó Senhor do universo, Ó
Oniforme, não vejo nem o fim, nem o meio, nem o princípio de Ti.

17 – Vejo-Te em todas as direções, com Teu diadema, maça e disco,


como uma massa de luz resplandecente, deslumbrante, incomensurável e
com a refulgência do fogo e do sol.

18 – Tu és o Imperecedouro, o Supremo, o que há de conhecer-se; Tu és


a Suprema Meta deste universo; Tu és o imortal guardião da religião
eterna; considero-Te como o Ser Primordial.

19 – Vejo que não tens nem princípio, nem meio, nem fim; Tua proeza é
infinita, Teus braços são inumeráveis, o sol e a lua são Teus olhos; vejo o
fogo ardente em Tua boca e Teu esplendor queima ao universo inteiro.

20 – O espaço entre o céu e a terra está interpenetrado por Ti em todas


as direções e olhando esta Tua maravilhosa e terrível forma, estão
tremendo de medo todos os seres dos três mundos.

21 – Na verdade em Ti estão entrando todos os devas; alguns deles pelo


temor Te estão adorando, juntando suas mãos, enquanto que os grandes
sábios e seres perfeitos estão cantando Tua glória com diversos hinos.

22 – Os rudras, adityas, vasus, sádhyas, visvadevas, os gêmeos ashwin,


os maruts, manes, gandharvas, yakshas, asuras e siddhas (diferentes
classes de seres celestiais), todos estão contemplando com estupefação.

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23 – Ó Tu de poderosos braços, vendo Tua incomensurável forma de
inumeráveis bocas, olhos, braços, músculos, pés, estômagos e de
enormes caninos, todos e eu também estamos aterrorizados.

24 – Ó Vishnu, vendo-Te tocar ao céu e brilhar com diversas cores, com


bocas abertas e com grandes olhos de fogo, sinto medo em meu coração,
já não tenho paz nem fortaleza.

25 – Vendo Tuas terríveis bocas, com caninos que ardem como o fogo da
dissolução do universo, perdi a noção dos pontos cardeais e não tenho
paz. Ó Senhor dos devas, Ó refúgio do universo, tenha piedade.

26-27 – Todos os filhos de Dhritarashtra, com hostes de reis, Bhisma,


Drona, Karna, o filho do construtor de carruagens e os nossos principais
guerreiros, todos estão entrando vertiginosamente em Tuas mandíbulas
com terríveis dentes; a alguns deles eu vejo pendurados entre Teus
dentes, com suas cabeças trituradas.

28 – Como os caudalosos rios fluem até o oceano, assim estes heróis


estão entrando em Tua temível e ardente boca. Ó Vishnu, Teus terríveis
raios cobriram com sua radiação ao universo inteiro e o estão queimando.

29 – Como as mariposas se lançam precipitadamente ao fogo só para


perecer, assim estes seres estão arrojando-se em Tuas bocas só para
serem destruídos.

30 – Devorando a todos em todas as direções com tuas bocas ardentes,


Tu estás lambendo os lábios.

31 – Diga-me, quem és Tu, de forma aterradora? Saúdo-te, ó grande


Deus, seja propício. Quero conhecer-Te, ó Ser Primordial! Realmente não
sei Teu propósito.

32 – Disse o BENDITO SENHOR:


Sou o poderoso Tempo, o destruidor do mundo, aqui estou manifestado
para destruí-lo. Mesmo sem ti, nenhum destes guerreiros, formados no
campo de batalha, viverão.

33 – Assim que se levante e adquira fama, conquiste à teus inimigos e


desfrute de um reino florescente. Todos eles já foram mortos apenas por
Mim, ó Savyasachin (que maneja ao arco com as duas mãos, Arjuna),
seja simplesmente Meu instrumento.

34 – Mate à Bhisma, Drona, Karna, Jayadratha e aos outros; todos eles


foram mortos por Mim, não te aflijas, ganharás de teus inimigos na
batalha.

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35 – Disse Sanjaya:
Ouvindo estas palavras de Keshava, Arjuna saudou tremendo a Sri
Krishna juntando suas mãos e inclinando-se de novo, disse o seguinte:

36 – Disse Arjuna:
É muito apropriado, ó Hrishikesha, que o mundo se deleite em Tua glória
e que seja atraído por Ti; também é apropriado que os demônios se
espantem em todas as direções e que todos os seres perfeitos se
ajoelhem diante de Ti.

37 – E porque não iriam saudar-Te, ó Grande Alma, superior à Brahma, o


criador? Ó Ser infinito, Senhor dos devas, Morada do universo; Tu és o
Imperecedouro; Tu és o manifestado, o não-manifestado e o que está
além de ambos.

38 – Tu és o Deus Primordial, o Ser Primário; Tu és o supremo repositório


do universo. Tu és o conhecedor, o que deve ser conhecido e a Meta
Suprema. Ó Oniforme, este universo está interpenetrado por Ti.

39 – Tu és o Deus do ar, da morte, do fogo, da água e da lua; Tu és o


protetor dos seres; Tu és o bisavô de todos. Saúdo-Te, saúdo-Te
repetidas vezes, milhares de saudações a Ti.

40 – Ó Tudo! Saúdo-Te de frente, por trás, de todos os lados. Tu, de


infinito poder e valor, interpenetras tudo, por isso Tu és tudo.

41-42 – Tudo o que Te disse como um presunçoso, por descuido ou por


carinho, chamando-Te de Krishna, Yadava ou amigo, qualquer ofensa que
tenha cometido, ó Achyuta (imperecedouro), de brincadeira ou jogando,
enquanto caminhava, descansava, estava sentado ou na mesa na hora de
comer, sozinho ou em companhia de outros, Te imploro, Ó
Incomensurável, que me perdoes.

43 – Tu és o pai dos seres móveis e imóveis deste mundo; Tu és o


Adorável, superior aos superiores, nos três mundos não há ninguém igual
a Ti ou que Te possa superar, ó Tu, de poder incomparável!

44 – Por isso, prosternando-me em adoração Te peço perdão, ó Senhor


Adorável! Como o pai perdoa ao filho, o amigo ao seu amigo, o que ama
ao seu amado, assim, ó Senhor, Tu deves perdoar-me.

45 – Estou repleto de felicidade por haver visto o que jamais havia visto
antes, no entanto minha mente continua agitada pelo medo. Mostra-me
a Tua outra forma. Ó Deus dos deuses! Ó Morada do universo! Tenha
piedade.

47
46 – Ó Oniforme, com milhares de braços, toma de novo Tua forma de
quatro braços, quero Te ver com o diadema, a maça e o disco.

47 – Disse o BENDITO SENHOR:


Por Minha graça te mostrei, através de Meu poder yóguico, ó Arjuna, esta
Minha forma, resplandecente, universal, infinita e primordial. Esta forma
jamais foi vista por ninguém antes de ti.

48 – Neste mundo dos mortais, nem pelo estudo dos Vedas, nem pelos
yagñas, nem por caridades ou cultos, nem pelas práticas de austeridades,
é possível ver esta Minha forma. Só tu a viste, ó grande herói dos Kurús!

49 – Vendo esta Minha terrível forma, não temas nem fiques aturdido.
Abandone o medo e com a mente alegre, veja-Me agora como Eu era
antes.

50 – Disse Sanjaya:
Dizendo à Arjuna estas palavras, Vasudeva (Sri Krishna) de novo lhe
mostrou Sua antiga forma. O Grande Ser, tomando de novo Sua bendita
forma, alegrou ao atemorizado Arjuna.

51 – Disse Arjuna:
Ó Janardana, vendo esta Tua benigna e humana forma, me sinto bem
agora e voltei ao meu estado normal.

52 – Disse o BENDITO SENHOR:


Realmente é muito difícil ver esta Minha forma que tu viste. Mesmo os
devas anseiam ver esta forma.

53 – Nem pelo intermédio dos Vedas, nem pelas austeridades, nem pelos
cultos, é possível ver-Me na forma em que tu Me viste.

54 – Mas, ó fulminador dos inimigos, ó Arjuna, só pela firme devoção é


possível conhecer-Me, ver-Me realmente e submergir-Se em Mim.

55 – Ó Pandava, aquele que trabalha para Mim, que Me tem como sua
Meta Suprema, que está dedicado a Mim, que é desapegado e não é
inimigo de ninguém, chega a Mim.

Capítulo XII

O CAMINHO DA DEVOÇÃO

1 – Disse Arjuna:

48
Entre os devotos que Te adoram com devoção constante e aqueles que
adoram ao Imperecedouro, ao Não-manifestado, quem são mais versados
na yoga?

2 – Disse o BENDITO SENHOR:


Considero melhores yoguis a aqueles que Me adoram com a mente fixa
em Mim, firmes em sua devoção e dotados de suprema fé.

3-4 – Mas aqueles que controlando seus sentidos, sendo equânimes e


fazendo bem a todos, adoram ao Imperecedouro, Não-manifestado,
Indefinível, Onipresente, Inconcebível, Imutável e Eterno, também
chegam a Mim.

5 – É maior a dificuldade dos que são adictos do Não-manifestado, porque


para os encarnados o caminho ao Não-manifestado é muito difícil de
alcançar.

6-7 – Em troca, ó Partha, os que Me oferecem todas suas ações, que


estão entregues a Mim, que Me adoram e meditam em Mim com devoção
firme, a eles que estão concentrados em Mim, Eu os liberto logo deste
oceano de existência transmigratória.

8 – Fixa tua mente somente em Mim, coloca teu intelecto em Mim e sem
dúvida viverás em Mim.

9 – Se não podes fixar tua mente firmemente em Mim, então, ó


Dhananjaia, trata de chegar a Mim pelo abhyasa yoga (prática diária da
constante recordação).

10 – Se não consegues fazer o abhyasa, então dedique a Mim tuas ações


e assim atuando para Mim, te libertarás.

11 – Se mesmo isto for difícil para ti, refugia-te em Mim e dominando-te


renuncia ao fruto de todas tuas ações.

12 – Sem dúvida, o conhecimento é superior ao mero abhyasa; a


meditação é superior ao conhecimento e a renúncia ao fruto da ação é
melhor que a meditação, porque pela renúncia logra-se imediatamente a
Paz.

13-14 – Aquele que não inveja a ninguém, o amigo e compassivo por


todos, aquele que não é possessivo nem egoísta, que simpatiza com
todos no prazer e na dor, o clemente, o sempre satisfeito, contemplativo,
auto-dominado, aquele que tem convicção firme e Me dedicou seu
intelecto e sua mente, este Meu devoto, é Meu querido.

49
15 – Aquele que não perturba ao mundo e a quem o mundo não pode
perturbar, que está livre do prazer, da inveja, do medo e da ansiedade, é
Meu querido.

16 – O devoto que é independente, puro, indiferente, tranqüilo e renuncia


a toda nova empresa, é Meu querido.

17 – Aquele que não se regozija nem se desgosta, nem se lamenta, nem


tem desejos, que renuncia ao bem e ao mal e é muito devotado, é Meu
querido.

18-19 – Aquele que é igual com o amigo e o inimigo, na honra e na


desonra, no calor e no frio, na alegria e na tristeza, no elogio e na
censura, que é desapegado e silencioso, que está satisfeito com qualquer
coisa, que não tem lar e tem a mente firme, é Meu querido.

20 – Aqueles que praticam com fé esta religião imortal e Me consideram


como a Meta Suprema, estes devotos são Meus queridos.

Capítulo XIII

O DISCERNIMENTO ENTRE
A NATUREZA E A ALMA

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Este corpo é chamado kshetra (literalmente, a terra; nele brotam todos
os conceitos, bons e maus) e os sábios chamam kshetragña ao
conhecedor deste kshetra.

2 – Ó Bhárata, saiba que Eu sou o kshetragña de todos os corpos.


Segundo Minha opinião, o conhecimento a respeito do kshetra e
kshetragña é o verdadeiro conhecimento.

3 – O que é o kshetra? Como ele é? Quais são suas modificações? De


onde ele surge e que formas tem? E também, o que é o kshetragña e
quais são os seus poderes? Ouve o que direi sobre eles, em forma breve.

4 – Esta verdade foi cantada, de diversas maneiras, pelos rishis (sábios)


em diferentes hinos védicos e também nas passagens referentes à
Brahman e que estão cheias de frases razoáveis e convincentes.

5-6 – Os cinco grandes elementos, o ego, o intelecto, a natureza não-


manifestada, os dez órgãos, a mente, os cinco objetos dos sentidos, o
desejo, a aversão, a alegria, o sofrimento, o corpo, a inteligência e a
fortaleza, tudo isto, em forma breve, é o kshetra com suas modificações.

50
7-11 – A humildade, a não-ostentação, o não causar dano, a clemência, a
retidão, o serviço ao guru (mestre espiritual), a pureza, a firmeza, o
autodomínio, o desapego aos objetos dos sentidos, a ausência de
egoísmo, a reflexão sobre os males do nascimento, da morte, da velhice,
da enfermidade e da dor, o desapego e a não-identificação com o filho,
com a esposa, com o lar, etc., o constante equilíbrio mental na felicidade
e no sofrimento, a firme devoção por Mim, mediante a yoga da
continuidade, a vida em solidão, a aversão à sociedade, a constante
dedicação ao conhecimento espiritual e à percepção da suprema verdade;
tudo isto é conhecimento e o seu contrário é ignorância.

12 – Eu lhe falarei sobre o que deve ser conhecido, conhecendo o qual se


torna imortal: é o Supremo Brahman, que não tem princípio e não é
chamado de Ser ou de não-Ser.

13 – Aquele existe interpenetrando tudo; Suas mãos, pés, olhos, cabeças,


bocas e ouvidos estão em toda parte.

14 – Está manifestado nas funções dos sentidos, no entanto, não tem


órgãos dos sentidos; é inconexo, mas suporta a tudo e apesar de não ter
atributos, os experimenta.

15 – Está dentro e fora de todos os seres, é móvel e imóvel, sendo sutil é


incompreensível e ainda que esteja longe, é o mais próximo.

16 – É indivisível, mas parece estar individualmente em todos os seres;


se deve conhecê-Lo como o suporte de todos os seres e também como o
que dá origem e o devorador de todos eles.

17 – É a luz das luzes e se diz que está além das trevas. É o


conhecimento, o que deve ser conhecido, a meta dos conhecimentos e
está no coração de todos os seres.

18 – Eu lhe falei brevemente sobre o kshetra, o conhecimento, o que


deve ser conhecido. Conhecendo isto Meu devoto se prepara para chegar
ao Meu Ser.

19 – Saiba que a prakriti (a natureza psicofísica) e o Purusha (o Ser),


ambos são sem princípio e também saiba que todas as modificações e
qualidades nascem da prakriti.

20 – Se diz que a prakriti é a causa do corpo e dos sentidos e que o


Purusha é a causa da experiência do prazer e da dor. (O Purusha e a
prakriti, em conjunto causam a existência fenomenal. A prakriti se
transforma no corpo, sentidos, prazeres, dores, etc. Esta união, feita é
claro, na ignorância por parte do Purusha, faz possível a existência

51
relativa; o Purusha, na realidade, jamais perde sua natureza pura e
imutável.)

21 – O Purusha, encarnado na prakriti, experimenta os gunas


(qualidades) nascidos dela. O apego a estes gunas é a causa dos
nascimentos do Purusha em ambientes bons ou maus.

22 – O Supremo Purusha neste corpo é denominado de Testemunha,


Aprovador, Suporte, Experimentador, Soberano Senhor e Supremo Ser.

23 – Aquele que assim conhece ao Purusha e a prakriti com seus gunas,


não nasce de novo (nem sofre as conseqüências), qualquer que seja seu
modo de vida.

24 – Existem aqueles que pela meditação percebem intimamente ao Ser;


outros O percebem pela prática do discernimento (entre o Real e o
relativo); outros pela yoga e outros pela karmayoga (ação abnegada).

25 – Enquanto que outros, sem ter direto conhecimento desses caminhos,


fazem a adoração segundo o que ouvem de outras pessoas (sábias);
também eles vão além da morte (se libertam) porque escutam com
devoção (e em seguida praticam o que escutaram).

26 – Ó tu, o melhor dos Bháratas, saiba que todo ser, animado e


inanimado, procede da união do kshetra e do kshetragña.

27 – Aquele que vê ao Supremo Senhor residindo igualmente em todos os


seres, que vê ao Imperecedouro nos objetos perecedouros, só ele vê
corretamente.

28 – Porque vendo que o Senhor mora igualmente em toda parte, ele não
causa dano a seu próprio Ser e logra a Meta Suprema. (Causar dano
significa ignorar a existência do Ser.)

29 – Aquele que vê (conhece) que só a prakriti age e que o Purusha não


faz nada, só ele vê corretamente.

30 – Quando vê que os diversos seres evolucionam da prakriti, que é


única, e que eles residem nela, se identifica com Brahman.

31 - Este Supremo Ser que não tem nem princípios, nem atributos, é o
Imutável. Ainda que more no corpo, ó Kounteya, Ele não atua nem tem
apego.

32 – Como o onipresente espaço é sutil e não se contamina, assim o Ser


que está em todos os corpos, não é contaminado por eles.

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33 – Como o sol, que é único, ilumina ao universo inteiro, assim o Ser,
ainda que esteja encarnado, ilumina todos os corpos.

34 – Aqueles que, com o olho do conhecimento, percebem a diferença


entre o kshetra e o kshetragña e também conhecem o modo de liberar-se
da prakriti, alcançam o Supremo.

Capítulo XIV

O DISCERNIMENTO SOBRE OS TRÊS GUNAS

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Falarei a ti de novo sobre o Conhecimento Supremo, conhecendo o qual,
os sábios lograram a perfeição depois da morte.

2 – Os sábios dedicados a este conhecimento, quando chegam ao Meu


Ser, não renascem no momento da criação, nem sofrem no momento da
dissolução.

3 – A grande prakriti é Minha matriz, nela eu coloco o germe e dela, ó


Bhárata, nascem todos os seres.

4 – Ó Kounteya, a prakriti é a verdadeira matriz de todas as coisas que


nascem de distintas matrizes e Eu sou o germinador paterno.

5 – Sattva, rajas e tamas, estes três gunas (aspectos ou qualidades)


nascidos da prakriti, ó tu de poderosos braços, atam fortemente o ser
encarnado ao corpo.

6 – Deles, sattva que é puro, luminoso (ajuda ao conhecimento) e bom,


ata ao ser encarnado, ó impecável, mediante o apego à felicidade e ao
conhecimento.

7 – Ó Kounteya, saiba que rajas é de natureza passional e é a fonte do


desejo e do apego; este guna ata fortemente o ser encarnado à ação.

8 – Ó Bhárata, saiba que tamas nasce da ignorância e alucina a todos os


seres; ele ata ao ser encarnado mediante a negligência, preguiça e sono.

9 – Ó Bhárata, sattva o ata à felicidade, rajas à ação, enquanto que


tamas, cobrindo ao conhecimento, o ata pela falta de compreensão.

10 – Ó Bhárata, sattva predomina, às vezes, sobre rajas e tamas; outras


vezes rajas predomina sobre tamas e sattva; e também tamas se destaca
quando domina à sattva e rajas.

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11 – Quando o conhecimento brilha através dos sentidos, deve-se
considerar que sattva predomina.

12 - Quando prevalece a cobiça, a atividade, o conceito de novos


empreendimentos, a intranqüilidade e o desejo então, ó Bhárata, rajas
predomina.

13 – E quando tamas predomina, ó Kounteya, prevalece a escuridão


mental, a inércia, a negligência e a alucinação.

14 – Se o ser encarnado morre quando sattva predomina, então vai às


esferas dos devotos que ao Mais Elevado (Deus em Seu aspecto cósmico).

15 – Se no momento de morrer predomina o rajas, ele nasce entre as


pessoas adictas à ação e se tamas predomina, nasce entre os seres que
não raciocinam.

16 – Se diz que o fruto da boa ação é sáttvico e puro; o de rajas é


sofrimento e o de tamas é ignorância.

17 – De sattva nasce a sabedoria; de rajas a cobiça e de tamas a


incompreensão, a ilusão e a ignorância.

18 – Os seres de temperamento sáttvico se elevam (às esferas


superiores; se liberam progressivamente); os rajásicos ficam no meio
(renascem em corpo humano) e os tamásicos vão abaixo (nascem como
seres inferiores).

19 – Quando o sábio vê (conhece) que só os gunas atuam e conhece


Aquele que está além dos gunas, então chega ao Meu Ser.

20 – Transcendendo aos três gunas que causam este corpo, o ser


encarnado se libera do nascimento, da morte, da velhice e do sofrimento
e torna-se imortal.

21 – Disse Arjuna:
Ó Senhor, quais são os sinais pelos quais é conhecido aquele que
transcendeu aos gunas? Qual é sua conduta e como transcende aos três
gunas?

22 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ó Pandava, aquele que não se opõe ao surgimento de conhecimento, da
atividade ou da alucinação e tampouco os deseja quando não surgem;

23 – Aquele que permanece indiferente e não é perturbado pelos gunas,


que realizou que só os gunas funcionam e permanece firme, sem vacilar;

54
24-25 – Aquele que se sente igual no prazer e na dor, que mora em seu
próprio Ser, que dá valor igual a um pedaço de argila, a uma pedrinha ou
a uma pepita de ouro; que se mantêm equânime diante do agradável e do
desagradável, diante da censura ou do elogio, na honra ou na desonra,
diante do amigo ou do inimigo e que renunciou a todo novo
empreendimento, transcendeu aos gunas.

26 – Aquele que serve apenas a Mim, com a firme yoga da devoção,


transcende aos gunas e é digno do estado de Brahman.

27 – Porque Eu sou a personificação de Brahman, do Imortal, do


Imutável, da Religião Eterna e da Bem-aventurança Absoluta.

Capítulo XV

O CAMINHO À SUPREMA PESSOA

1 – Disse o BENDITO SENHOR:


Falam da eterna árvore ashvattha, cujas raízes vão para cima e seus
ramos vão para baixo; suas folhas são os Vedas. Aquele que conhece isto
é o conhecedor dos Vedas. (Krishna está falando em forma alegórica
sobre este mundo, comparando-o com a árvore ashvattha que
literalmente significa transitória. A raiz, que vai para cima, é a Suprema
Pessoa e o resto da árvore, que se dirige para baixo, é o nosso universo
de nascimento e morte. Os Vedas, que com seus mandamentos e
proibições protegem aos homens, são comparados com as folhas.)

2 – Nutridas pelos gunas, seus ramos se estendem para cima e para


baixo, os objetos dos sentidos são os brotos e as finas raízes, que se
dirigem para baixo, originam as ações no mundo.

3-4 – Aqui neste mundo não se percebe sua forma (desta árvore eterna),
nem seu princípio, nem seu fim, nem sua continuidade. Depois de cortar
esta árvore, que está profundamente enraizada, com o machado do
desapego e dizendo: “Tomo refúgio naquele primordial Ser, de Quem
surgiu este processo eterno”, deve-se buscar a Meta, logrando a qual,
cessa o renascimento.

5 – Livre da vaidade e ilusão, vencendo o mal do apego, sempre dedicado


às coisas espirituais, completamente afastado dos desejos e dos pares de
opostos, chamados de prazer e dor, o sábio, livre da ilusão, alcança a
eterna Meta.

55
6 – Nem o sol, nem a lua, nem o fogo podem iluminar a esta Meta que é
Meu Supremo Estado; quando é alcançado não se regressa mais (não
renasce).

7 – Na realidade uma parte de Mim se transformou no ser encarnado, o


qual atrai para si mesmo aos cinco sentidos e à mente, o sexto; todos
eles permanecem na prakriti.

8 – Quando o Senhor (o Ser) toma um corpo ou o deixa, Ele se associa


com os seis sentidos ou os abandona e se vai como a brisa que leva
consigo o perfume das flores.

9 – Dirigindo os ouvidos, os olhos, os órgãos do tato, gosto e olfato e


também a mente, Ele experimenta aos objetos dos sentidos.

10 – Os ignorantes, alucinados, não O vêem quando Ele toma um corpo,


o deixa ou faz as experiências associando-se com os gunas; em troca os
que têm os olhos da sabedoria, O vêem.

11 – Os yoguis que se esforçam para lograr a perfeição O vêem morando


em seu coração, em troca, os descuidados homens sem controle, apesar
de seus esforços, não O vêem.

12 – Saiba que a luz do sol que ilumina ao universo, a luz da lua e do


fogo, é Minha luz.

13 – Transformando-Me na lua aquática, com Minha energia entro na


terra e assim sustento a todos os seres e nutro as ervas. (Se diz que a
lua é o repositório de todos os fluidos vitais.)

14 – Residindo nos corpos dos seres como vaishvánara (fogo digestivo),


associado com o prana e apana, digiro os quatro tipos de comida (que se
mastigam, chupam, lambem e bebem).

15 – Eu resido no coração de todos os seres, de Mim se originam a


memória, a percepção e também a perda delas. Eu sou o único que deve
conhecer-se dos Vedas; sou o autor do sistema Vedanta e sou o
conhecedor dos Vedas.

16 – Neste mundo há duas classes de purushas (seres): perecedouros e


imperecedouros; todos os seres são perecedouros, só o Imutável é o
Imperecedouro.

17 – Distinto de ambos é o Supremo ser, conhecido como o Paramátman,


o Imutável, que entrando nos três mundos os sustenta.

56
18 – Como Eu transcendo ao perecedouro e supero ao Imperecedouro,
sou chamado neste mundo e nos Vedas como Purushottama (a Suprema
Pessoa).

19 – Ó Bhárata, aquele que estando livre da ilusão, conhece a Mim deste


modo, como o Supremo Ser, e Me adora de todas as maneiras se torna
onisciente.

20 – Ó impecável, assim foi exposta por Mim esta profunda doutrina;


conhecendo-a torna-se sábio e um bom cumpridor dos deveres.

Capítulo XVI

OS ATRIBUTOS DIVINOS E DEMONÍACOS

1-3 – Disse o BENDITO SENHOR:


Ó Bhárata, pertencem a aquele que nasce com a natureza divina os
seguintes atributos: mente sem medo, pureza de coração, constância nas
práticas de yoga e conhecimento, caridade, autodomínio, inclinação para
fazer os atos de sacrifício, estudo dos textos sagrados, austeridade,
retidão, não ferir ninguém, veracidade, não ter raiva, abnegação, calma,
não caluniar, compaixão, não cobiçar, delicadeza, modéstia, firmeza de
propósito, intrepidez, fortaleza, pureza e ausência de ódio e presunção.

4 – Ó Partha, os atributos seguintes: ostentação, arrogância, vaidade, ira,


vulgaridade e ignorância, pertencem ao homem de temperamento
demoníaco.

5 – Os atributos divinos conduzem ao homem à liberação e os


demoníacos à escravidão. Não te lamentes, ó Pandava, tu nasceste com
natureza divina.

6 – Existem dois tipos de seres neste mundo: os divinos e os asuras


(demoníacos). Os divinos já foram descritos amplamente. Agora Me ouça,
ó Partha, sobre os asuras.

7 – Os homens asurícos não sabem o que devem fazer nem o que não
devem fazer; neles não se encontra nem a pureza, nem a boa conduta,
nem a verdade.

8 – Eles opinam que neste universo não há verdade, nem moralidade,


nem Deus; o mundo, segundo eles, é o produto da união carnal.

57
9 – Sustentando este conceito, estas pessoas ruins, de pouca inteligência
e de ações ferozes, vivem como inimigas do mundo, só para a destruição.

10 - Cheias de desejos insaciáveis, de hipocrisia e arrogância, como


ignorantes, estas pessoas de idéias daninhas, trabalham por objetivos
impuros.

11-12 – Impelidos por profundas preocupações que só terminam com a


morte, considerando ao gozo sexual como o máximo e convencidos de
que este é tudo, atados por centenas de correntes de esperança,
dedicados à luxuria e presa fácil da ira, estes seres se esforçam por lograr
grandes fortunas por meios ilícitos, só para o gozo sensório.

13 – “Isto eu ganhei hoje; agora eu irei conseguir este objeto de meu


desejo; esta fortuna é minha e aquela será minha também.”

14 – “Matei a este inimigo, matarei a outros também; sou o senhor;


desfruto, tenho êxito, poder e felicidade.”

15-16 – “Sou rico e bem nascido. Quem pode se igualar a mim? Farei
cultos e caridade; regozijarei-me.” Assim alucinadas pela ignorância,
aturdidas por fantasias, cobertas por uma rede de ilusões, adictas do
prazer sexual, estas pessoas caem no impuro inferno.

17 – Envaidecidos, arrogantes, vaidosos, embriagados de riqueza, estes


seres fazem os cultos só por aparência, por pura ostentação e não fazem
caso dos mandamentos.

18 – Possuídos pelo egotismo, poderio, insolência, concupiscência e


cólera, estes seres malignos Me odeiam em suas pessoas e nas outras.

19 – Lanço perpetuamente a eles, os malvados, cruéis e degradados, aos


ventres asúricos, para que nasçam nestes mundos.

20 – Ó Kounteya, essas pessoas alucinadas vão para as matrizes


demoníacas durante muitas vidas e continuam a cair em corpos cada vez
mais inferiores.

21 – Tríplice é a porta deste inferno destruidor, está feita de luxúria, ira e


cobiça, por isso devem ser abandonadas.

22 – Ó Kounteya, aquele que foi além destas portas escuras e pratica o


que é bom para si mesmo, alcança a Meta Suprema.

23 – Aquele que desobedece aos mandamentos dos textos sagrados e


atua pelo impulso dos desejos, não logra a perfeição, nem a felicidade,
nem a Meta Suprema.

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24 – Assim que, certifique-se pelos textos sagrados sobre os deveres e
proibições. Conhecendo bem seu significado, atue neste mundo conforme
os mandamentos.

Capítulo XVII

AS TRÊS CLASSES DE SHRADDHA

1 – Disse Arjuna:
Ó Krishna, a shraddha daqueles que fazem os cultos e adorações sem
obedecer aos mandamentos é sáttvica, rajásica ou tamásica? (Shraddha é
a atitude mental composta de sinceridade, reverência, humildade e fé)

2 – Disse o BENDITO SENHOR:


A shraddha que trazem, segundo sua natureza, os seres encarnados é
tríplice: sáttvica, rajásica e tamásica. Ouve o que te direi sobre isto.

3 – Ó Bhárata, a shraddha de cada pessoa é de acordo com sua


constituição; o homem é o produto de sua shraddha, ele reflete sua
shraddha.

4 – Os homens sáttvicos adoram aos devas (seres celestiais), os rajásicos


aos yakshas e rakshasas (seres com poderes sobrenaturais) e os
tamásicos aos espíritos e aos elementos.

5-6 – Os homens que praticam severas austeridades não recomendadas


pelas escrituras, só por ostentação e egoísmo, estes apegados e
concupiscentes, desprovidos de sensatez, torturam a todos os órgãos do
corpo e a Mim também, que moro dentro do corpo. Conheça-os, são de
propósitos demoníacos.

7 – Também é tríplice sua alimentação, cultos, caridades e austeridades.


Ouve de Mim quais são suas diferenças.

8 – Os sáttvicos gostam dos alimentos que aumentam a vitalidade,


energia, força, saúde, felicidade, apetite e que são saborosos,
oleaginosos, que sustentam e agradáveis.

9 – Os alimentos preferidos pelos rajásicos são os amargos, ácidos,


salgados, muito quentes, picantes, secos e ardentes; os que produzem
pesar, sofrimento e enfermidade.

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10 – Os alimentos preferidos pelos tamásicos são os insossos, quase
decompostos, mal-cheirosos, restos do dia anterior, comida fria e
alimentos impuros.

11 – O yagña sáttvico é feito segundo os mandamentos, concentrando-se


no culto, só pelo culto, por homens que não desejam o resultado.

12 – Ó tu, o melhor dos Bháratas, o yagña rajásico é feito por ostentação


e desejando os frutos (o mérito).

13 – O yagña tamásico é feito contra os mandamentos, sem fé, sem os


mantras (fórmulas religiosas), sem repartir alimentos (aos pobres) e sem
oferecer seu óbolo (aos sacerdotes).

14 – A austeridade corpórea consiste na adoração dos devas, dos


brahmins, dos preceptores espirituais e dos sábios; na pureza, retidão,
continência e em não ferir a ninguém.

15 – A austeridade verbal consiste em falar claramente, que não produz


nenhuma preocupação, na veracidade, no modo agradável e benéfico de
falar e na leitura diária dos textos sagrados.

16 – A austeridade mental consiste na serenidade, piedade, silêncio,


autocontrole e pureza de coração.

17 – Esta tríplice austeridade, praticada com fé pelo homem que não


deseja mérito, é considerada como sáttvica.

18 – A austeridade rajásica é passageira, pouco durável, é a que as


pessoas praticam por ostentação, para ganhar respeito, honra e
reverência.

19 – A austeridade tamásica é que é feita de forma ignorante, causando


sofrimento ou com o desejo de ferir ao próximo.

20 – A caridade sáttvica se faz como um dever, sem a idéia de


retribuição, no devido momento e lugar, a uma pessoa que a merece.

21 – A caridade rajásica se faz esperando recompensa, mérito ou de má


vontade.

22 – A caridade tamásica se faz no momento inoportuno, no lugar


indevido, a uma pessoa que não a merece e com desdém.

23 – “OM TAT SAT” (OM, Aquilo existe) foi declarado como a tríplice
denominação de Brahman (O Supremo). Desta fórmula surgiram os

60
Brahmanas (explicações dos cultos védicos), os Vedas e os yagñas, no
remoto passado.

24 – Por isso, os que seguem os mandamentos védicos, pronunciam “OM”


antes de começar seus yagñas, caridades e austeridades.

25 – Os que buscam moksha (emancipação espiritual) pronunciam “TAT”


(Aquilo), antes de fazer os yagñas, caridades e austeridades; eles não
desejam nenhum mérito por estas ações.

26 – A palavra “SAT”, ó Partha, é usada no sentido da Realidade, da


bondade e também para os atos auspiciosos.

27 – Também se pronuncia a palavra “SAT” para lograr constância no


yagña, nas austeridades, na caridade e em todos os atos feitos
indiretamente para o Senhor.

28 – Qualquer ato, ó Partha, seja o yagña, a caridade ou a austeridade,


se é feito sem shraddha (a fé) é considerado como “Asat” (inexistente,
não foi corretamente feito) e não dá fruto aqui nem no além.

Capítulo XVIII

O CAMINHO DA RENÚNCIA

1 – Disse Arjuna:
Ó Hrishikesha! Ó destruidor do demônio Keshi! Ó tu de poderosos braços!
Quero saber a verdadeira natureza do sannyasa e do tyaga também.

2 – Disse o BENDITO SENHOR:


Os sábios opinam que sannyasa significa a renúncia aos atos que se
fazem buscando o mérito e tyaga, segundo eles, é renunciar aos frutos de
todo tipo de ação.

3 – Certos pensadores declaram que, como todas as ações são más, se


deve abandoná-las, enquanto que outros opinam que não se deve
renunciar aos cultos e às práticas de caridade e austeridade.

4 – Ó melhor dos Bháratas, ouve de Mim a última verdade sobre a


renúncia aos frutos das ações, porque, ó melhor dos homens, se diz que
esta renúncia é de três tipos.

5 – Não se deve renunciar ao culto, à caridade e à austeridade, porque


estes atos purificam o coração do sábio.

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6 – No entanto estes atos devem ser feitos sem apego aos frutos, esta é
Minha definitiva e correta opinião.

7 – Tampouco é correta a renúncia dos atos obrigatórios (recomendados


pelas escrituras). Este tipo de renúncia feito pela confusão mental é
considerado com tamásico.

8 – Considerando-o incômodo e temendo ao sofrimento físico, se alguém


abandona os atos recomendados, então, por esta renúncia rajásica, não
logra seu fruto (a emancipação final).

9 – Ó Arjuna, a renúncia é sáttvica quando se cumpre o ato obrigatório


como um dever, com desapego e sem desejar seu fruto.

10 – O homem de renúncia dotado de sattva (serenidade), de


compreensão firme e cujas dúvidas desapareceram, não se aborrece com
o trabalho desagradável nem anseia ao agradável.

11 – O ser corpóreo não pode abandonar todas as ações, mas aquele que
renuncia ao fruto da ação é considerado como homem de renúncia.

12 – Os frutos das ações são de três tipos: desagradáveis, agradáveis e


uma mistura de ambos. Estes frutos se aderem, após a morte, a aquele
que não os renunciou, mas não ao homem de renúncia.

13 – Aprende de Mim, ó tu de poderosos braços, sobre estas cinco causas


relacionadas com o cumprimento das ações, segundo a mais alta
sabedoria, que é o fim de toda ação.

14 – O corpo, o ego, os órgãos, as funções e as deidades que presidem os


órgãos, estas são as cinco causas. (Aditya, ou sol, preside os olhos,
Indra, os braços, etc.)

15 – Qualquer ato devido ou indevido, seja físico, verbal ou mental, tem


essas cinco causas.

16 – Sendo assim o caso, aquele que pela defeituosa compreensão


considera ao Atman (o Ser), ao Absoluto como agente, este néscio não vê
a realidade.

17 – Aquele que está livre do conceito do ego, cujo entendimento não


está afetado (pelo apego), ainda que mate aos seres, na realidade não
mata à ninguém e não fica ligado (pelo resultado da ação).

62
18 – O conhecimento, o que há para conhecer-se e o conhecedor formam
o tríplice impulso da ação; o instrumento (os órgãos), o objeto e o agente
formam a base tríplice da ação.

19 – Sobre a ciência dos gunas (qualidades), o sistema samkhya declara


que segundo o guna, diferem os conhecimentos, as ações e os agentes.
Ouve com atenção.

20 – Pelo conhecimento sáttvico se percebe (finalmente) em todos os


seres (manifestados) que estão separados, à única substância imutável e
imperecedoura.

21 – Pelo conhecimento rajásico vê-se que os distintos seres são


entidades separadas.

22 – O conhecimento tamásico é irracional, trivial e não está baseado na


verdade; esse conhecimento está limitado a um só efeito, ao qual
apresenta como a totalidade do fato.

23 – A ação sáttvica é a recomendada pelas escrituras, que se faz sem


apego, nem atração, repulsão ou ansiedade pelo fruto.

24 – A ação rajásica se faz desejando o fruto, por ostentação e com


demasiado esforço.

25 – A ação tamásica se faz sob ilusão, descuidando da conseqüência, da


perda, da capacidade e do dano que possa causar.

26 – O agente sáttvico é aquele que não tem apego ou egoísmo, que


possui fortaleza e entusiasmo e que não é afetado pelo êxito ou pelo
fracasso.

27 – O agente rajásico é interesseiro, ansioso pelo fruto da ação,


ambicioso, malicioso, impuro e sujeito à súbita alegria ou tristeza.

28 – O agente tamásico é inconstante, vulgar, arrogante, desonesto,


malévolo, indolente, sem ânimo e preguiçoso.

29 – Ó Dhananjaia, ouve sobre a tríplice distinção, segundo os gunas,


sobre o intelecto e a firmeza, a qual lhe explicarei separada e
amplamente.

30 – Ó Partha, o intelecto sáttvico conhece os caminhos recomendados e


proibidos da ação e da renúncia, conhece ao medo e também ao estado
sem medo, a escravidão e a liberação.

63
31 – Ó Partha, o intelecto rajásico não tem conceito claro sobre a retidão,
a perversidade, a ação recomendada e a ação proibida.

32 – O intelecto tamásico, ó Partha, está coberto pela ignorância;


considera a perversidade como retidão e interpreta ao contrário todos os
conceitos.

33 – A firmeza sáttvica, ó Partha, é apoiada pelo yoga e controla as


funções da mente, dos pranas (forças vitais) e dos órgãos dos sentidos.

34 – A firmeza rajásica, ó Partha, regula a mente a respeito do dever, do


prazer, da riqueza e do desejo de lograr o fruto da ação pelo apego.

35 - A firmeza tamásica, ó Partha, não permite ao néscio afastar-se do


sono, do medo, do pesar, do desalento e da soberba.

36-37 – Agora ouve de Mim, ó melhor dos Bháratas, sobre a tríplice


felicidade. A felicidade sáttvica é a que se desfruta por longa prática, que
acaba com todo o pesar; essa felicidade nasce do entendimento e da
serenidade, é desagradável ao princípio como veneno (fel) e ao final é
como um néctar.

38 – A felicidade rajásica surge do contato entre o objeto e o órgão do


sentido; no princípio é agradável como néctar, mas ao final se torna
desagradável como veneno.

39 – A felicidade tamásica decepciona ao homem do princípio ao fim e


surge do sono, da torpeza e da negligência.

40 – Não existe ser no mundo ou deva no céu que esteja livre destes três
gunas que nascem da prakriti.

41 – Ó destruidor dos inimigos, os deveres dos brahmins, kshatriyas


(guerreiros), vaishyas (comerciantes) e sudras (trabalhadores) são
distribuídos segundo os gunas nascidos de suas respectivas naturezas.

42 – Os deveres naturais dos brahmins são: controle da mente e dos


sentidos, austeridade, pureza, clemência, retidão, conhecimento das
escrituras, realização da verdade e a crença na existência divina.

43 – Os deveres naturais dos kshatriyas são: heroísmo, intrepidez,


firmeza de caráter, destreza, não fugir ao combate, generosidade e
fidalguia.

44 – Os naturais do vaishya são: agricultura, criação de gado e comércio;


os do sudra são: trabalho manual e servidão.

64
45 – O homem alcança a mais alta perfeição quando se dedica a cumprir
com o dever que lhe corresponde. Agora ouve de Mim como se logra esta
perfeição.

46 – Se atinge a perfeição quando, cumprindo com seu dever, adora a


Aquele de quem se originou a atividade de todos os seres e que
interpenetra tudo isto (o universo).

47 – Ainda que seja de forma deficiente, é melhor cumprir o próprio


dever que o dever alheio. Cumprindo seu próprio dever ninguém comete
pecado.

48 – Ó Kounteya, ainda que esteja associado com defeitos, ninguém deve


abandonar o dever que lhe corresponde por seu nascimento. Toda ação
está coberta por algum defeito, como o fogo pela fumaça.

49 – Aquele cuja compreensão está sempre desapegada, cuja mente está


controlada, que pela renúncia se liberou dos desejos, logra o supremo
estado da inação (a ação abnegada).

50 – Ó Kounteya, de forma concisa lhe direi como, alcançando esta


perfeição, o homem realiza à Brahman, a suprema consumação do
conhecimento.

51-53 – Dotado de intelecto puro, dominando a mente com firmeza,


abandonando ao som e outros objetos dos sentidos, afastando-se da
atração e da aversão, vivendo em solidão, comendo pouco, controlando
ao corpo, fala e mente, sempre ocupado na meditação e contemplação,
cultivando o desapego, renunciando ao egoísmo, poderio, vaidade,
luxúria, ira e posse; livre da noção de “meu” e levando uma vida de
tranqüilidade, o homem alcança ao Supremo Brahman.

54 – Transformando-se em Brahman e estabelecendo-se na Paz, ele não


deseja nem lamenta nada e sendo equânime com todos, logra a suprema
devoção por Mim.

55 – Conhecendo, pela devoção, Minha verdadeira natureza e Meu poder


de manifestação, imediatamente entra em Mim.

56 – Tomando refúgio em Mim, ainda que atue constantemente, por


Minha graça logra o eterno estado imutável.

57 – Oferecendo-Me todas as suas ações, considerando-Me como tua


suprema meta, praticando o yoga do intelecto (veracidade e decisão),
sempre concentre tua mente em Mim.

65
58 – Fixando tua mente em Mim, por Minha graça vencerás todos os
obstáculos, mas, se pela presunção não Me ouves, estarás perdido.

59 – Se pela soberba pensas “não lutarei”, em vão será teu propósito,


porque tua natureza te obrigará (a lutar).

60 – Ó Kounteya, o que não queres fazer agora por estar ofuscado, farás
depois mesmo assim, porque estás atado ao teu karma (impulso da vida
passada) nascido de tua natureza.

61 – Ó Arjuna, o Senhor mora no coração de todos os seres e por Sua


maia (poder divino) os faz girar como se estivessem presos a uma roda.

62 – Ó Bhárata, toma refúgio somente Nele e por Sua graça lograrás a


Suprema Paz e a eterna morada (emancipação final).

63 – Assim, declarei a você o conhecimento que é o segredo dos


segredos. Reflexiona amplamente sobre isto e em seguida faça o que
quiser.

64 – Ouve de novo Meu supremo evangelho, o mais profundo de tudo.


Como te quero muito, falarei sobre o que é bom para ti.

65 – Que tua mente se ocupe de Mim, seja Meu devoto, faça cultos para
Mim e Me reverencie, assim tu Me alcançarás. De verdade dou Minha
palavra, porque já sabes que tu és muito querido por Mim.

66 – Renunciando a todos os deveres, toma refúgio em Mim unicamente.


Não te aflijas, Eu te salvarei de todos os pecados.

67 – Jamais deves transmitir isto (este segredo) ao que não fez


austeridade, ao que não tem devoção, ao que não quer ouvir ou ao que
está contra Mim.

68 – Aquele que com profunda devoção por Mim, instrui aos Meus
devotos sobre esta grande doutrina, com segurança, se libertará de todas
as dúvidas e chegará a Mim.

69 – Entre os homens não há e nem haverá, ninguém que Me sirva


melhor que ele e neste mundo ele é Meu mais querido.

70 – Segundo Minha opinião, estudar este nosso sagrado diálogo é igual a


fazer o culto do conhecimento por Mim.

71 - A pessoa que simplesmente o ouça com devoção, sem estar contra


Mim, também se emancipará e alcançará a esfera das pessoas corretas.

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72 – Ó Partha, ouviste isto com atenção? Ó Dhananjaia, foi destruída a
ilusão de tua ignorância?

73 – Disse Arjuna:
Minha ilusão está destruída, ó Achyuta, por tua graça recobrei a memória
(sobre minhas promessas anteriores), me sinto firme, minhas dúvidas
desapareceram. Cumprirei Tua ordem.

74 – Disse Sanjaya:
Assim, arrepiado de emoção, ouvi este maravilhoso diálogo entre
Vasudeva e o nobre Partha.

75 – Pela graça de Vyasa ouvi este supremo e muito profundo yoga,


diretamente de Krishna, o Senhor do Yoga, que o expôs pessoalmente.

76 – Ó rei, quanto mais recordo este santo e assombroso diálogo entre


Keshava e Arjuna, mais me regozijo.

77 – Ó rei, quanto mais recordo a maravilhosa forma de Harí, mais me


extasio e mais aumenta minha felicidade.

78 – Aonde quer que estejam Krishna, o Senhor do yoga, e Partha, o


notável arqueiro, lá estará a prosperidade, a vitória, o sucesso e o dom
de governar; esta é minha convicção.

Revisão II

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