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[Poema] Na suave estao do grato estio Quando as campinas vestem-se de flores, E os passarinhos sacudindo as plumas A natureza pejam de cantigas;

Quando os pomares vergam-se rangendo Ao doce peso de dourados frutos, Vi-os deixar o turbilho das turbas Para perder-se alm das serranias Como um casal de cndidas rolinhas. Ele jovem romntico, deixava Correr a vida como o ndio noite O lenho errante ao deslizar do rio; Ela meiga e amorosa, ao brao dele, Como a andorinha que da torre emigra, Ia pedir aos ares do deserto Sopro de vida a seus pulmes enfermos. Ele era louro e belo como a imagem De um deus erguido nos altares gregos; Ela era como a rosa linda e plida Que em noites de luar a fronte encosta Na haste umedecida pelo orvalho. Ele tinha no rosto o vio e a vida, Ela na face lnguida e saudosa De mrbido palor o vu sentido. Foram; e a brisa de esperanas doces, De seu batel arredondava as velas Como de Esmirna a virao cheirosa Toca o navio do malts pirata Carregado de cnfora e de incenso. Foram; s Deus, a noite, o cu e os astros Poderiam contar os rseos planos Que eles tinham na mente, e os sonhos de ouro Que lhes passavam pelas frontes puras. s brilhantes canes das aves meigas, Aos eflvios das flores campesinas Na margem da floresta, em choa amiga, Um ms passaram de inefveis gozos. No leito mole de sombria relva Dormiam juntos ao calor da sesta Entre o sussurro de indolente arroio E o perpassar de forasteiras brisas; Cantavam junto porta luz da tarde, N'aurora erravam pelos campos midos Relendo a histria de um amor nascente. E no entanto no ebriar do gozo, De dia em dia ela pendia a fronte Como o salgueiro margem das lagoas! Amaram-se e viveram como os anjos. Das harpas da ventura as cordas todas Em doces cantos desferiram rindo, At que um dia ao despontar d'aurora Ele nos braos a sentiu gelada! Ento ergueu-se lvido, sem prantos, Sem uma queixa ao menos e um suspiro, E do sumo de plantas venenosas Encheu a taa e a devorou de um trago. Depois beijando-a sobre os lbios roxos

E unindo-se ao seio num enlevo fnebre, Como um noivo deitou-se ao lado dela. Vi-os partir ardentes de esperana; Tinham sonhos sem fim na mente ocultos E um mundo inteiro de esperanas n'alma! E no entanto os esperei debalde! O outono, a primavera, o estio, o inverno Passaram sonolentos sobre a terra Mas eles no voltaram!... Na romagem, Pude apenas, buscando-os, com meu pranto Regar a lousa fria de seus tmulos!

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