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ARTIGO Antonio Semeraro Rito Cardoso

Modelos de gestão

O
s modelos de gestão, criados in- se tem escrito sobre os acontecimentos no com pessoas, recursos em geral e coi-
dutivamente através da observa- que arrastam todos e tudo para um abis- sas. Há de se preservar valores acima do
ção do real e do concreto a fim mo de que, aparentemente, não se pode individual. O coletivo, o cooperativo, o
de conduzir a generalizações fugir, já que os modelos até agora consi- solidário tem de emergir no dia-a-dia.
lógicas sobre o mundo e as empresas, ou derados conducentes a êxitos e sucessos, É preciso o olhar e são necessários esfor-
dedutivamente, para, através de princí- pelo menos se pensarmos na área de ges- ços dirigidos à reconstrução de valores
pios supostamente irretocáveis, aplicá-los tão organizacional, apresentam-se frágeis humanos e societários.
a situações concretas e específicas com e em escombros. Assim, modelos de gestão persisten-
capacidade até mesmo de predição, têm tes no tradicionalismo mesmo com a
servido a gestores em busca de maior efi- Trabalhar com valores incorporação de ingredientes moderni-
ciência em seus empreendimentos. Essa zantes, mas afastados de ética e da moral
éticos e morais é fator
tem sido a contribuição importante de como valores a se preservar em extensão
teóricos e profissionais quando pautam crítico de sucesso para e profundidade, estarão fadados a ex-
decisões e ações de gestão seguindo tais uma gestão onde o termínio e implosão de si mesmos e de
modelos desde os de visão mais tradicio- nada servirão a gestores responsáveis e
coletivo se sobrepõe ao
nal e conservadora até os mais contem- competentes.
porâneos, que pregam a adequação das individual Por fim, esse olhar pode ser lançado,
práticas gerenciais às características da também, quando da implantação de pro-
ambiência externa.  Desenvolvimento e inovação tecno- cessos modernizantes na gestão das ins-
Inquietante, porém, o que se pode ob- lógica superam em ritmo alucinante tituições públicas, na busca da tão pro-
servar neste inicio do novo milênio, prin- a própria capacidade humana de ab- palada gestão profissional, onde de nada
cipalmente em 2008, e neste começo de sorvê-los em sua plenitude. Os instru- valem as modernas técnicas de gestão se
2009, quando empresas multinacionais e mentos administrativos e de gestão se os valores que norteiam as decisões do
nacionais consideradas modelares em ter- requintam. Os modelos de gestão in- coletivo não estiverem colimadas com os
mos de seu funcionamento eficiente fali- corporam variáveis abrangentes e uni- valores humanos e societários, tão cla-
ram, desmoronaram e se transformaram versais. Tudo se desequilibra, porém, se ros em nossa Constituição. Dessa forma,
rapidamente em carcaças que passarão à destruindo em cacos. podemos entender o porquê do fracasso
história como exemplos de contradição, Essa descrição não quer ser pessimis- de tantos projetos modernizantes e do
incerteza de futuro, insegurança organi- ta ou derrotista, porque há algo que se patrimonialismo, tão explícito, em mui-
zacional e humana e falência múltipla de vislumbra como capaz de reerguer o que tas instituições públicas.
tudo que sempre se considerou compe- já se demoliu por si mesmo. Essa algu-
tente, funcional, inquestionável, teórica e ma coisa se verbaliza de forma simples, Antonio Semeraro Rito Cardoso

politicamente correto. embora de extrema complexidade em Ouvidor do Ipea e de sua Comissão de Ética

Há de se buscar explicações para essa sua natureza. Trata-se de reconstruir e e técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea e ouvidor do

visão perturbadora do mundo. Muito já garantir valores éticos no trato cotidia- Instituto e da Comissão de Ética.

Desenvolvimento
Desenvolvimento junho
junho dede 2009
2009 83

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