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zerohora.com
` Cristine Kist
Resumo: O crescimento constante da internet tem aberto portas para uma conexão cada vez
maior entre público e veículos de comunicação. A facilidade de acesso da audiência aos meios
resultou em um inevitável aumento da participação das pessoas no processo de produção de
conteúdo. As ferramentas que convidam o leitor a publicar notícias de seu interesse e que não
seriam divulgadas pelos grandes veículos se multiplicam. No Rio Grande do Sul a representante
desse fenômeno é a seção Leitor-Repórter, de zerohora.com.
1. INTRODUÇÃO
Desde a popularização da Internet, no final dos anos 90, Web e jornalismo mantém uma
relação estreita, e não são poucos os que acreditam estar na rede o futuro dos veículos de
comunicação. Para Matias Molina¹, jornalista e autor de Os Melhores Jornais do Mundo (2007),
“para os jornais a internet pode ser um problema ou um desafio”. O desafio decorre do fato de
que ainda não foi encontrada a forma ideal de fazer jornalismo na Web. Segundo Marcelo
Träsel², “estamos vivendo atualmente um momento de transição profunda em relação ao suporte,
e ainda não surgiu uma forma adequada para o jornalismo online” (2008).
Uma das questões inerentes ao agora chamado webjornalismo é a participação do leitor
na produção da notícia. Na maioria dos sites ditos jornalísticos - que em geral representam uma
marca já estabelecida em outros meios - há espaço para que o leitor contribua de alguma
maneira. Essa contribuição pode se dar através de canais que incluem desde envio de fotos e
comentários em blogs até o dito jornalismo cidadão, termo criado para definir as áreas dos sites
cujas notícias são feitas exclusivamente pelo público.
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¹ MOLINA, Matías, em declaração durante palestra na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2008.
² TRÄSEL, Marcelo, em declaração durante palestra na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2008.
Mas o conteúdo produzido pelos usuários nem sempre é visto com bons olhos. David
Coimbra, cronista e editor de Zero Hora, escreveu em coluna publicada no dia 14 de março de
2008:
É inegável, no entanto, que o jornalismo cidadão ganha cada vez mais espaço e
credibilidade. Dan Gillmor³, em seu livro We the Media (2004), afirma que “pela primeira vez na
história moderna, o usuário está realmente no comando, como consumidor e como produtor” (Pg.
137). Prova disso é o site da própria Zero Hora, que além de oferecer diversas alternativas para
participação através do tradicional envio de fotos e da liberação de comentários, convida o leitor
a mandar as notícias de seu interesse para a seção Leitor-Repórter, único canal destinado a esse
tipo de conteúdo no Estado.
2. PARTICIPE
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³ GILLMOR, Dan – We, the media. Editora O’Reilly, 2004
O sucesso desse tipo de “promoção” evidencia a necessidade do público de “se ver” nos
veículos. A ferramenta de envio de fotos não é mais popular que as de produção de conteúdo
simplesmente por ser mais simples ou exigir menos recursos, mas também porque é a que gera
mais visibilidade ao participante. O sucesso do jornalismo colaborativo, portanto, não se dá
apenas pela necessidade do leitor de ver destacados aspectos cotidianos que o dizem respeito e
que por um motivo ou outro não são veiculados pelos grandes meios, mas também pela
motivação gerada pelo reconhecimento de terceiros.
3. O LEITOR-REPÓRTER
O site de Zero Hora em seu formato atual é relativamente novo. Ele foi criado em 2007,
quando a Internet já estava extremamente difundida no País e eram incontáveis os grandes jornais
que já detinham seus espaços na rede. Foi fácil, portanto, perceber as tendências e adequar o site
para que se encaixasse nos padrões até então bem-sucedidos.
Para Bárbara Nickel4, editora e principal responsável pelas mídias sociais do site, a
ferramenta objetiva “dar espaço para os leitores verem notícias de interesse específico das suas
comunidades”. O Leitor-Repórter segue, portanto, o estilo de outros canais que oferecem ao
público a oportunidade de produzir conteúdo. Seu principal diferencial é a possibilidade que o
internauta tem de verificar em que estágio se encontra a notícia enviada por ele. É possível
descobrir se a notícia está em revisão, em edição ou se foi reprovada. Em caso de reprovação, o
leitor recebe um e-mail comunicando-o da decisão e justificando a recusa.
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4
Bárbara Nickel, em entrevista concedida no dia 30 de junho de 2009.
Quando a notícia é considerada adequada, no entanto, o trabalho de averiguação da
veracidade dos fatos relatados é imprescindível. Essa verificação pode ser feita tanto pelos
editores do site quanto pela Agência RBS, responsável pela averiguação de notícias de todos os
veículos do grupo. E é justamente essa a função do jornalista enquanto personagem do jornalismo
participativo: verificar os fatos e transmiti-los ao restante do público da melhor maneira possível.
Essa verificação é facilitada pelos contatos do profissional e por sua posição. A
necessidade de investigar relatos é inerente ao jornalismo, e é por isso que a profissão
sobreviverá por maior que seja a contribuição da audiência. Para Marcelo Träsel, “a informação
verificada, objetiva e com credibilidade vai ser ainda mais importante do que é agora”. E quanto
maior for a participação das pessoas e consequentemente a quantidade de informação disponível,
mais necessária a credibilidade dos veículos e de seus profissionais.
E não é só o leitor o beneficiado por ver exposto o que considera notícia e que o afeta
diretamente. Muitas vezes o internauta exerce através da ferramenta a função de “pauteiro” do
site. Não são raros os casos de relatos enviados por leitores que resultaram em matérias para o
jornal impresso. Para Bárbara, “ao mesmo tempo que [a ferramenta] serve para os leitores
enxergarem seus problemas ou fatos de interesse no jornal, serve também para o jornal receber
informações que de outra forma não teria como, já que não tem como o jornal ter jornalistas em
todos os lugares todo o tempo” (2009).
3.2 A PARTICIPAÇÃO
A participação dos leitores ainda é relativamente pequena. São enviadas em média apenas
duas notícias por dia. A tendência, no entanto, é quanto mais credibilidade a rede oferecer, maior
seja o número de contribuições. A qualidade dos relatos enviados também é deficitária, mesmo
considerando a absoluta falta de obrigação do público em conhecer quaisquer normas de escrita
ou edição. Com grande frequencia são enviados para o Leitor-Repórter conteúdos que nada tem a
ver com o objetivo da seção.
Em alguns casos o leitor cumpre rigorosamente a função de pauteiro: manda uma única
frase relatando um acidente de carro ou a queda de uma árvore, por exemplo. Quando isso
acontece, é feita a verificação pelo profissional responsável e o material enviado é
complementado com novas informações. Esse tipo de participação é válido e contribui para uma
cobertura qualificada por parte do veículo, mas não necessariamente requer a utilização da
ferramenta, já que sugestões de pauta sempre foram bem-vindas, mesmo por telefone.
Há, no entanto, aqueles que se inserem perfeitamente no considerado ideal. Mandam a
notícia, ainda que com pequenos erros, e a incrementam com fotografias e vídeos. E não são
apenas as pequenas pautas locais e interiorianas que são exploradas por esse espaço. A
mobilidade característica da Internet permite que relatos sobre manifestações no Canadá, por
exemplo, virem destaque na capa do site.
4. OS MEIOS TRADICIONAIS
5. CONCLUSÃO
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5
TRÄSEL, Marcelo. Post publicado em blog pessoal no dia 17 de março de 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS