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A Paixo da Garoa

Poesia Ilka Maia PLANTA DA PEDRA


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So Paulo, minha cidade ! Por que me expulsas ? Por que me enjeitas ? Tudo me negas ! Na verdade, No tens mais nada para mim ! Esto desfeitas Todas as derradeiras esperanas... Tu me enjeitas ! E eu, longe de ti, morrerei de saudade... Amei-te tanto ! Eras o mundo ! A Ptria ! A casa ! Quando sofria, Saa Pela rua, molhando a fronte em brasa Na garoa fria ! Saa ! Embriagava o corao e a vista Na grandeza tua ! Minha alma se erguia ao teu prdio mais alto, Gloriosa de ser Paulista ! Somente Paulista, no meio da rua ! Paulista do cho de pedra ! Do cho de asfalto ! Devo dizer-te adeus, todavia... E, estranha em toda parte, Cumprir meu fado errante ! S de pensar que vou deixar-te, Sinto-me foragida, expatriada, expulsa ! J me parece que estas distante... E, dentro desta dor, toda a cidade pulsa ! Sempre sonhei morrer no planalto nativo, Como planta agarrada ao punhado De terra... Sonho fugitivo !... Talvez nem volte, nunca mais, do exlio... Mas, se nada alcancei, nem me foi dado Honrar-te o que mereces, pelo menos tive um filho Paulista ! Dei-te um soldado ! Devo dizer-te adeus... Terras de cada canto, Em que lugar do mundo hei de esconder meu pranto ? Deixa que eu fuja, estrangeiro !

Quem conhece, Pelo mundo inteiro, O lugar de onde a alma se atordoa ?... Onde fica o lugar onde se esquece A cidade Paulista na garoa ?...

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